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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA

DE CUIABÁ

Necessita de Medida URGENTE

MATHEUS TAVARES HORÁCIO, brasileiro, solteiro, estudante,


portador da RG nº; 2642472-0, inscrito no CPF nº. 073.341.911-96, residente e
domiciliado no Condomínio San Marino, Rua E, nº. 53, Bairro Jardim Flamboyant,
Cuiabá/MT, CEP 78.035-400, por intermédio de seu por intermédio de seu
advogado in fine assinado, com escritório profissional localizado sito rodapé da
página, local onde recebe intimações e avisos, vem perante Vossa Excelência,
ajuizar a presente

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO


DOS EFEITOS DA TUTELA

em face da UNIC- UNIVERSIDADE DE CUIABÁ, pessoa jurídica de direito privado,


inscrita no 14.793.478/0002-01, com sede na Avenida Beira Rio, nº. 3.100, Bairro
Jardim Europa, Cuiabá/MT, CEP 78.065-900, devendo ser citado na pessoa de seu
representante legal, e o fazendo pelos fatos e motivos adiante elencados:
1. DA ASSISTENCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

Primeiramente, Autor é vestibulando e afirma não possuir condições


de arcar com as custas processuais e honorários advocatícios sem prejuízos do
sustento próprio, bem como de sua família, razão pela qual faz jus ao benefício da
gratuidade de justiça.

2. DOS FATOS

O Requerente prestou vestibular no dia 15/08/2020, para o curso de


medicina ministrado pela instituição de ensino Ré.

Em razão da pandemia do COVID-19, e em atenção ao 3º Aditivo e


Edital – Adoção da Modalidade de Processo Seletivo Prova Online de Seleção ao
Curso de Graduação de Medicina/2020.2, o vestibular foi realizado de forma
Online, em um ambiente virtual de avaliação, disponível no sítio eletrônico -
www.consultec.com.br.

Para formalização da inscrição, o Autor recolheu a taxa de R$ 300,00


(trezentos reais).

Conforme § 5º do mencionado edital, o ambiente virtual deveria ser


acessado no dia 15 de agosto de 2020, às 13h45, com início da Prova Online às
14h, com duração de 4 horas.

Também, conforme §11º do edital:

Durante a realização da Prova será utilizado software de Reconhecimento


Facial, recurso de monitoramento online, assegurando a identificação do
candidato, com captura de imagens. Recomenda-se que sejam
disponibilizados no computador os seguintes navegadores: Google
Chrome, Mozilla Firefox ou Microsoft Edge.

Dessa maneira, o Requerente, munido de um computador e um


navegador COMPATÍVEIS com o disposto no §11º do edital, tentou acessar o
ambiente virtual às 13h45, em atenção ao §5º, contudo, SEM SUCESSO, por
circunstância alheias à sua vontade.

A plataforma digital apresentou problemas antes mesmo do início do


certame, e foram documentadas pelo Autor, conforme vídeos em anexo:

 Às 14h00, horário em que deveria ser o início da prova, a


plataforma virtual ainda não havia possibilitado o início dos
testes, constando apenas que “não há provas disponíveis”,
mesmo diante do comando de atualizar a página – “F5”.

 Às 14h00, a plataforma virtual ainda não havia disponibilizado a


prova, mostrando apenas uma tela em branco, mesmo diante
do comando de atualizar a página – “F5”;

 Ás 14h40, o Autor finalmente conseguiu acessar a prova por


meio da plataforma virtual, o que só aconteceu após contato
com a assistência técnica da “Consultec”;

 Ás 15h30, o software de reconhecimento facial deu problemas,


impossibilitando a realização do teste;

 Às 16h00, o software de reconhecimento facial já falhava


constantemente, “bloqueando” o acesso do Autor ao teste;

 O prazo do Autor para realizar a parte da redação foi diminuído


em 40 (quarenta) minutos, de maneira que não foi possível
finalizar a “conclusão” da redação;

 O prazo do Requerente para realizar a parte de questões


discursivas também foi prejudicado de maneira que das 20
(vinte) questões, o Autor conseguiu responder apenas 11
(onze.

Assim, não obstante o descumprimento do §5º do edital, quando não


iniciou a prova no prazo previsto, a plataforma virtual prejudicou o acesso do Autor
ao conteúdo dos testes, tomando-lhe o tempo necessário e prejudicando o seu
raciocínio com frequentes interrupções.

Obviamente, considerando o prazo para realização das provas, 04


(quatro) horas, o Autor não teve sucesso em realizar as provas, REPROVANDO
NO CERTAME.

Anota-se que a principal razão foi a falta de tempo para a realização


das etapas, visto que o sistema não interrompia seu tempo de prova quando dava
problemas, e simplesmente passava para a etapa seguinte, desconsiderando
completamente as interrupções e falhas técnicas, fazendo com que diversas
respostas e parte da redação ficassem “em branco”.

Também, o Requerente era, por vezes, assistido pela assistência


técnica da plataforma, que tentavam fazer com que o Autor tivesse o devido
acesso, mas não lhe repunham o tempo perdido.

Dessa forma, se trataram de circunstância alheias a vontade do Autor,


sendo certo que ocorreu ERRO ÚNICO E EXCLUSIVO DA INSTITUIÇÃO DE
ENSINO RÉ e de seu software utilizado para a realização dos testes.

Conforme exposto, o Autor utilizou equipamento e navegador


compatíveis com o software de reconhecimento facial, dessa maneira, a plataforma
virtual utilizada não prestou o serviço de forma adequada, prejudicando o Autor
quando da realização do vestibular.

Assim, é patente que deverá a Ré permitir que o Autor realize


novamente a prova de vestibular, disponibilizando nova data e garantindo o correto
e adequado funcionamento do software de maneira que não venha a prejudicar
novamente o Requerente e terceiros.

Anota-se, também, que o Requerente, por diversas vezes, tentou


contato com a instituição de ensino para explicar o ocorrido, no entanto, a mesma
se evadia de respostas, limitando-se a transferir a culpa para a empresa
proprietária do software, não sobrando ao Autor outra alternativa a não ser ajuizar a
presente demanda.

3. DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

a) Da aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor

A presente Lide está sob a Égide do Código de Defesa do


Consumidor, pois o Requerente figura como destinatário final do produto/serviço
prestado pela Requerida, enquadrando-se na disposição contida no art. 2º do
diploma legal mencionado.

Ressalta-se que todo aquele que se disponha a exercer atividades


nos campos de fornecimento de bens ou serviços responde civilmente pelos danos
resultantes do vício de empreendimento. Quem quer que pratique qualquer ato,
omissivo ou comissivo, de que resulte prejuízo, deve suportar as consequências de
seu procedimento. É regra elementar de equilíbrio social.

A justa reparação é obrigação que a lei impõe a quem cause dano


injustamente a outrem, o Código de Defesa do Consumidor em seu art. 14o
mostra-nos claramente a obrigação de reparo:

Art.14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
risco.

Dos acontecimentos relacionados ao caso em tela, mostram-nos que


o Requerente foi prejudicado pela plataforma virtual da instituição Ré, não podendo
realizar a prova de vestibular devidamente, vindo a reprovar no certame.

Assim, considerando a realização semestral das provas, o


Requerente está extremamente angustiado pelo tempo que eventualmente será
perdido, pois terá que aguardar até o ano de 2021 para realizar novas provas, o
que tem lhe tomado completamente o sossego, afligindo e perturbando seus
pensamentos.

Ademais, a prática do ato ilícito mencionado é repudiada pelo Código


Civil em seu art. 186, sendo garantido o direito de reparação do dano, ainda que,
exclusivamente moral. É o que versa a lei:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Com sapiência Maria Helena Diniz leciona o seguinte: "(...) o


comportamento do agente será reprovado ou censurado, quando, ante
circunstâncias concretas do caso, se entende que ele poderia ou deveria ter agido
de modo diferente"1

Por fim, também não há que se falar em isenção de responsabilidade


da Ré por se tratar de software não pertencente à mesma, visto que o CDC adotou
a responsabilidade objetiva do fornecedor (artigos 12 e 18), assim entendido como
aquele que disponibiliza produto ou serviço com habitualidade mediante
remuneração.

1
in Curso de Direito Civil, vol. 7, ed. Saraiva, 1984
Na hipótese, por auferir lucro com a atividade, o Réu deve responder
pelos prejuízos causados ao Autor, independentemente da existência de culpa, já
que devidamente demonstrado e comprovado o dano – consistente na
reprovação sem culpa do Autor - e nexo de causalidade – em razão de
plataforma virtual viciada, defeituosa.

b) Do Dano Moral

Os danos morais são aqueles que acabam por abalar a honra, a


boa-fé subjetiva ou a dignidade das pessoas físicas ou jurídicas. 

A garantia da reparabilidade do dano moral é absolutamente pacífica


tanto na doutrina quanto na jurisprudência. Tamanha é sua importância, que
ganhou texto na Carta Magna, no rol do artigo 5º, incisos V e X, dos direito e
garantias fundamentais. Faz-se oportuna transcrição: 

V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da


indenização por dano material, moral ou à imagem.

X- são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação.

Conforme restou comprovado, o serviço prestado estava viciado, visto


que impossibilitou o Requerente de realizar a prova de vestibular na plataforma
virtual, tendo vindo o mesmo a reprovar no certame – sem culpa, ensejando, na
hipótese, indenização por danos morais.

A respeito do assunto, vemos a lição doutrinária de Carlos Alberto


Bittar:

"Na prática, cumpre demonstrar-se que pelo estado da pessoa, ou por


desequilíbrio, em sua situação jurídica, moral, econômica, emocional ou
outras, suportou ela conseqüências negativas, advindas do fato lesivo. A
experiência tem mostrado, na realidade fática, que certos fenômenos
atingem a personalidade humana, lesando os aspectos referidos, de sorte
que a questão se reduz, no fundo, a simples prova do fato lesivo.
Realmente, não se cogita, em verdade, pela melhor técnica, em prova de
dó, ou aflição ou de constrangimento, porque são fenômenos ínsitos na
alma humana como reações naturais a agressões do meio social.
Dispensam, pois, comprovação, bastando, no caso concreto, a
demonstração do resultado lesivo e a conexão com o fato causador, para
responsabilização do agente".2

2
"Reparação Civil por Danos Morais", 2ª ed., São Paulo-RJ, 1994, pág. 130
A reparação do dano causado ao Requerente é indiscutível, e é um
direito básico do consumidor, como nos assegura o Código de Defesa do
Consumidor em seu art. 6o inciso IV:

Art. 6o São direitos básicos do consumidor: IV- a efetiva prevenção e


reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos.

Portanto, é evidente que a requerente suportou danos morais em


virtude da conduta da Ré, tendo seus direitos violados, em virtude do vício na
prestação de serviço.

4. DOS REQUISITOS AUTORIZADORES E DO PEDIDO DE


ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

O renomado autor sobre as disposições relativas à antecipação de


tutela, o Mestre Luiz Guilherme Marinoni, com sapiência leciona:

“Se o processo é um instrumento ético, que não pode impor um dano à


parte que tem razão, beneficiando a parte que não tem, é inevitável que
ele seja dotado de um mecanismo de antecipação de tutela, que nada
mais é do que a técnica que permite a distribuição racional do tempo do
processo.” 3

Dispõe o art. 300 do Novo Código de Processo Civil, adiante


transcrito:
A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.

A questão versada nos autos e posta à apreciação do poder


Judiciário, diz respeito à preocupação dos processualistas, por se relacionar com a
efetividade do processo.

O fumus boni iuris, no caso sub examen, resulta de toda a


argumentação deduzida nesta peça, assim como de todos os documentos que
foram coligidos aos autos. A ilegalidade do ato perpetrado pela Ré – de prestar um
serviço viciado, utilizando-se de uma plataforma virtual defeituosa para realização
do vestibular, pelos diversos argumentos aqui aduzidos, caracteriza a
plausibilidade do direito.

O periculum in mora reside no fato de que as aulas do segundo


semestre de 2020 já estão para começar, e caso o Autor não realize nova prova de

3
Tutela antecipatória e Julgamento antecipado e Execução Imediata de Sentença, p. 23, Revista dos Tribunais.
vestibular, terá de aguardar até 2021 para retomar o curso regular de sua vida
novamente. Seriam 06 (seis) meses de vida inertes, improdutivos.

Há, assim, ostensivo risco de ineficácia de eventual provimento


final caso a liminar não seja concedida, uma vez que as aulas se iniciarão no
segundo semestre de 2020, de maneira que a realização da prova de vestibular
somente após o trânsito em julgado se mostrar inócua, visto o transcurso de tempo.

Importante ressaltar, ainda, que a concessão da liminar não é uma


faculdade do Magistrado. De fato, presentes os seus pressupostos deverá ser
necessariamente deferida. Nesse sentido:

"A liminar não é uma liberdade da Justiça: é medida acauteladora do


direito do Autor, que não pode ser negada quando ocorrerem os seus
pressupostos (grifo nosso) como, também, não deve ser concedida
quando ausentes os requisitos de sua admissibilidade" 4

Consigne-se, outrossim, que não há ocorrência do periculum in


mora inverso, isto é, nenhum prejuízo advirá para a Ré com a concessão da
liminar, visto que a taxa de matrícula já foi paga, e o serviço não foi prestado
adequadamente.

5. DO PEDIDO

Ante o exposto, requer a Vossa Excelência:

a) A concessão dos benefícios da gratuidade de justiça;

b) A antecipação dos efeitos da tutela para determinar à


Requerida possibilite ao Requerente a realização de nova prova de vestibular EM
DATA ANTERIOR AO ÍNÍCIO DAS AULAS DO CURSO DE MEDICINA,
certificando-se do correto funcionamento dos softwares empregados no ambiente
virtual;

c) A citação da Ré, na pessoa de seu representante, para


querendo, apresentar resposta, no prazo legal, ficando advertido de que os fatos
articulados e não contrariados especificadamente serão considerados verdadeiros,
aplicando-lhes os efeitos da revelia e confissão;

4
MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de segurança. 26. ed. atual e ampl. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 77.
d) No mérito, seja julgado integralmente procedente o pedido,
com a manutenção da liminar, confirmando em seus termos a antecipação de tutela
requerida;

e) A condenação da Ré a indenizar o Requerente à títulos de


danos morais, pela pratica de ato ilícito, cabalmente comprovados nesta peça
exordial, no montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais) dada a extensão e gravidade
do ato ilícito;
f) A condenação da Requerida ao pagamento de custas e
honorários advocatícios;

Protesta e requer provar o alegado mediante prova documental e


demais meios de provas em direito admitidas.

Atribui-se a causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Nesses termos, pede deferimento.

Brasília, 01 de setembro de 2020.

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