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PODER JUDICIÁRIO

INFORMACÕES SOBRE ESTE DOCUMENTO NUM. 18


Nr. do Processo 0505239-34.2021.4.05.8400T Autor Priscila Ferreira da Cunha
Data da Inclusão 19/05/2021 19:54:41 Réu UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Última alteração FABIO LUIZ DE OLIVEIRA BEZERRA às 19/05/2021 19:51:00
Juiz(a) que validou FABIO LUIZ DE OLIVEIRA BEZERRA
Sentença Tipo: Tipo A - Fundamentação Individualizada
Decisão: Parcialmente Procedente
Decisão de Embargos? Não Sim

SENTENÇA

1. Relatório

Trata-se de ação proposta por PRISCILA FERREIRA DA CUNHA contra a UFRP - UNIVERSIDADE FEDERAL
DO PARANÁ, com pedido de indenização por danos materiais e morais.

É o sucinto relatório, que seria até dispensado, nos termos do parágrafo único do art. 38 da Lei nº 9.099/1995,
aplicável subsidiariamente aos Juizados Especiais Federais, em consonância com o art. 1º da Lei nº 10.259/2001.

2. Fundamentação
O instituto da Responsabilidade Civil revela o dever jurídico, em que se coloca a pessoa, seja em virtude de
contrato, seja em face de fato ou omissão que seja imputada para satisfazer a prestação convencionada ou para suportar as
sanções legais que lhes são impostas, tendo por intento a reparação de um dano sofrido, sendo responsável civilmente quem
está obrigado a reparar o dano sofrido por outrem.

Nos termos do art. 927 do Código Civil de 2002, “aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo”, sendo independentemente de culpa nos casos especificados em lei ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar por sua natureza risco para os direitos de outrem (parágrafo único).

A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito público e das de direito privado prestadoras de serviços
públicos é objetiva, independentemente de culpa, e está prevista no art. 37, § 6º, da Constituição Federal:

“§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos


responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.”

Sabe-se que no campo da responsabilidade civil do Estado, responsabilidade objetiva com base no risco
administrativo, mister se conjuguem três elementos para que se configure o dever de indenizar: a conduta atribuída ao poder
público (comissiva ou omissiva, legítima ou ilegítima), o dano ou prejuízo e o nexo de causalidade entre o atuar do ofensor e
o dano sofrido pela vítima.

A teoria do risco administrativo não leva à responsabilidade integral do Poder Público, para indenizar em todo e
qualquer caso, mas sim dispensa a vítima da prova da culpa do agente da Administração, cabendo a esta a demonstração da
culpa total ou parcial do lesado, para que então fique ela total ou parcialmente livre da indenização.
Na realidade, qualquer que seja o fundamento invocado para embasar a responsabilidade objetiva do Estado,
coloca-se como pressuposto primário da determinação daquela responsabilidade a existência de um nexo de causalidade
entre a atuação ou omissão do ente público, ou de seus agentes, e o prejuízo reclamado pelo particular.

Sendo a existência do nexo de causalidade o fundamento da responsabilidade civil do Estado, esta deixará de
existir ou incidirá de forma atenuada quando o serviço público não for a causa do dano ou quando estiver aliado a outras
circunstâncias, ou seja, quando não for a causa única. Conclui-se que o fato de terceiro, o fato da vítima, e o caso fortuito ou
de força maior, excluem o dever de indenizar. Saliente-se inclusive, que o fato da vítima, quando concorrente, reduz a
indenização, da mesma forma que na responsabilidade aquiliana, ao passo que se exclusivo, interrompe o nexo causal.

No caso dos autos, a parte autora alega, em síntese, que sofreu prejuízos materiais e morais em virtude do
adiamento da data de realização de prova de concurso público para o qual estava inscrita, promovido pelo Estado do Paraná
e executado pelo Núcleo de Concursos da Universidade Federal do Paraná.

O concurso em questão é regido pelo Edital nº 02/2020 – Polícia Civil do Estado do Paraná, lançado em
07/04/2020, com data de realização das primeiras provas prevista inicialmente para 26/07/2020, que, em 23/06/2020, foi
adiada por meio do Edital nº 06/2020 – Polícia Civil do Estado do Paraná, com base em previsão editalícia que trata da
possibilidade de adiamento da prova em decorrência das medidas de prevenção estabelecidas pelo Ministério da Saúde para
o enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente da Covid-19.

Em 20/11/2020, foi lançado o Edital nº 16/2020 – Polícia Civil do Estado do Paraná estabelecendo como
21/02/2021 a nova data para a realização das primeiras provas.

No dia 21/02/2021, data prevista para a realização das provas, a Universidade Federal do Paraná publicou às
5h42min comunicado informando sobre a suspensão das provas e o seu adiamento:
“Considerando que, na última checagem realizada na madrugada de 21 de fevereiro de 2021 em observância ao
seu protocolo de integridade, o Núcleo de Concursos da UFPR denotou a ausência de requisitos indispensáveis
de SEGURANÇA para a aplicação das provas do Concurso Público em todos os locais previstos na capital e
nas cidades da Região Metropolitana de Curitiba/PR, o que poderia colocar em risco a integridade das
avaliações e o tratamento isonômico dos candidatos, bem como a saúde e a biossegurança de todos os
envolvidos na realização das provas para o provimento de cargos públicos de Delegado de Polícia, Investigador
de Polícia e Papiloscopista, comunica-se - por cautela e com urgência - a SUSPENSÃO da aplicação de todas
as provas previstas para o dia 21 de fevereiro de 2021 e o seu ADIAMENTO para outra data a ser
oportunamente informada.”

Sobre a possibilidade de adiamento da data de realização das provas, o referido edital nº 02/2020 estabelece
que:

“23.6 A data de realização de qualquer uma das fases ou etapas que compõem o Concurso Público poderá ser
alterada, ou as provas serem reaplicadas em outra data, na ocorrência de fato que inviabilize sua realização ou
que implique a sua anulação, como, por exemplo, decorrentes de medidas de prevenção estabelecidas pelo
Ministério da Saúde para o enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente do Covid-19
(coronavírus). Nesse caso, o NC/UFPR convocará os candidatos por meio de Edital específico para outra data
com antecedência de 72 (setenta e duas) horas.”

Embora o edital preveja expressamente a possibilidade de haver alteração na data de realização das provas, o
adiamento feito no mesmo dia em que se realizaria a prova, poucas horas antes, foge da razoabilidade, pois deve ser
considerado que a parte ré tinha ciência do protocolo de segurança necessário para a realização da prova e teve tempo hábil
para adotá-lo ou alterar a data da realização do exame com a antecedência necessária a evitar a ocorrência de prejuízos
para os candidatos inscritos no concurso, inclusive as provas já haviam sido adiadas uma vez sob a justificativa das
circunstâncias decorrentes da pandemia da Covid-19, com mais de um mês de antecedência, conforme acima relatado.

Durante o quase um ano decorrido entre a data da publicação do primeiro edital do concurso e o dia 21/02/2021,
a situação de pandemia da Covid-19 não se alterou e eram previsíveis todas as medidas de segurança que deveriam ter sido
tomadas para a realização da prova pela entidade organizadora do concurso, o que permitia à banca examinadora ter
decidido com maior antecedência sobre a data em que estaria apta a aplicar as provas.

Portanto, está configurado o erro da parte ré.

Passo a analisar a ocorrência de prejuízos para a parte autora e de nexo de causalidade entre esses e os atos da
parte ré.

A parte autora alega que sofreu os seguintes prejuízos materiais:

- R$ 962,50 e R$ 60,00 gastos com curso para preparação específica para o concurso.

- R$ 200,00 gastos com a inscrição do concurso;

- R$ 1.204,44 gastos com passagens aéreas para deslocamento até a cidade onde se realizariam as provas;

- R$ 165,00 gastos com hospedagem na cidade onde se realizariam as provas;

- R$ 31,86 e R$ 40,32 gastos com deslocamentos entre o aeroporto e o local de hospedagem na cidade na
cidade onde se realizariam as provas.
O valor das passagens aéreas e dos gastos com hospedagem e deslocamentos devem ser suportados pela parte
ré, uma vez que o autor não conseguiu prestar as provas do concurso apesar de ter viajado para o local do exame,
ressaltando-se o fato de que não houve comunicação em tempo hábil aos candidatos sobre o adiamento da prova, de forma
a evitar com que se deslocassem a partir de suas cidades.

Por outro lado, não há que se falar em prejuízo material por causa do valor da inscrição do concurso, visto que o
certame ainda está em andamento, apenas houve o adiamento da data para a realização das provas, continuando a parte
autora inscrita para fazer a prova. O edital previa a possibilidade de adiamento das datas das provas – aqui se reconheceu
apenas o erro na forma em que ocorreu esse adiamento – tendo a parte autora se submetido a essa regra ao se inscrever no
certame.

Também não há que se falar em reparação material em decorrência do valor que a parte autora gastou com
estudos preparatórios para o concurso, pois representa um investimento de caráter pessoal, que não perdeu sua utilidade em
virtude do ocorrido, servindo tais estudos como forma de preparação da parte autora para eventual futura profissão ou até
para outros concursos, não sendo plausível considerar que o conhecimento adquirido tenha sido perdido em virtude do
adiamento das provas do certame.

Considerando-se que estão comprovados nos autos (anexos 9-12) os gastos com passagens aéreas, com
hospedagem e com deslocamentos entre aeroporto e hotel, a parte autora deve ser indenizada materialmente no valor de R$
1.441,62.

Já o dano moral consiste no desgaste psicológico da postulante em razão dos transtornos provocados pelo ato
ilícito. É evidente que a situação vivenciada pela parte demandante lhe causou frustração e sofrimento de ordem emocional,
pois vinha se preparando para o concurso, e estava na expectativa de realizar as provas, já tendo inclusive viajado para o
local onde os testes seriam aplicados.

O nexo de causalidade entre os prejuízos e o ato ilícito é incontestável, pelo que foi dito acima.
Resta, pois, fixar o montante a ser indenizado pela ré como forma de reparação pelos morais gerados por tal
conduta danosa.

A doutrina e a jurisprudência são pacíficas em afirmar que, quanto ao dano moral, vale o arbitramento do juiz,
que, levando em consideração as circunstâncias do caso concreto, arbitra o valor da reparação, o qual não deve ser nem tão
grande que sirva de enriquecimento para o ofendido, nem tão pequeno que não gere no ofensor maior responsabilidade.

Desse modo, levando-se em conta o reconhecimento de que a indenização não deve ser instrumento de
enriquecimento ilícito, mas que também deve penalizar o infrator tenho como razoável o valor da indenização por danos
morais indicada no dispositivo, a ser suportada pelos réus.

3. Dispositivo

Diante do exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO para:

a) condenar a Universidade Federal do Paraná a pagar à parte autora indenização por danos materiais no valor
de R$ 1.441,62, atualizado conforme os parâmetros do Manual de Cálculos da Justiça Federal, aprovado pela Resolução
CJF nº 267, de 02/12/2013.

b) condenar a Universidade Federal do Paraná a pagar à parte autora indenização por danos morais no valor de
R$ 3.000,00, atualizado conforme os parâmetros do Manual de Cálculos da Justiça Federal, aprovado pela Resolução CJF nº
267, de 02/12/2013.
Defiro o benefício de Justiça Gratuita pleiteado. Sem custas e honorários advocatícios (art. 55 da Lei n.º
9.099/95).

Publicação e registro na forma eletrônica.

Intimem-se as partes.

JUIZ(A) FEDERAL DA 7ª VARA/RN


(Assinado eletronicamente por magistrado(a) federal indicado no cabeçalho do presente provimento judicial,
na data especificada, conforme art. 1º, § 2º, III, da Lei 11.419/2006)

http://portal.nc.ufpr.br/PortalNC/PublicacaoDocumento?pub=2247
http://portal.nc.ufpr.br/PortalNC/PublicacaoDocumento?pub=2338
http://portal.nc.ufpr.br/PortalNC/PublicacaoDocumento?pub=2602
http://portal.nc.ufpr.br/PortalNC/PublicacaoDocumento?pub=2860

Visualizado/Impresso em 22 de Maio de 2021 as 00:41:01

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