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Promotoria de Justiça de Bela Vista do Paraíso/PR

Notícia de Fato Eletrônica


Nº MPPR-0017.22.000019-8

Arquivamento

1 – Trata-se de notícia da fato instaurada para apurar notícia de que


o sogro do vereador “Marquinhos Moura”, pai da Chefe de Assistência Social, senhor
Luiz Carlos Brussolo, teria sido beneficiado com um contrato no valor de R$ 42.020,00
(quarenta e dois mil e vinte reais), para fornecimento de cestas básicas ao Município
de Alvorada do Sul, sob justificativa de auxiliar famílias atingidas pelo desastre
ocorrido em 23/10/21.
2 – Asseverou a denúncia que tal contrato teria sido realizado via
dispensa de licitação nº 89/2021, tendo como vigência o período de 29/12/2021 a
28/12/2022.
3 – A fim de aclarar os fatos, o Ministério Público oficiou o Município
de Alvorada do Sul, solicitando esclarecimentos sobre os fatos narrados, bem como
que o município encaminhasse cópia integral do Procedimento de Dispensa nº
89/2021, cópia dos empenhos, notas fiscais e liquidações de pagamentos referente a
tal procedimento de dispensa.
4 – Em resposta, o Município de Alvorada do Sul encaminhou toda a
documentação solicitada (mov. 15 e 17), bem como informou que:
(…)
Em 23/10/2021, o Município de Alvorada do Sul sofreu o maior evento
climá tico de sua histó ria, onde um tornado com ventos estimados em mais de 150
km/hora danificou centenas de casas, prédios pú blicos, á rvores e outras edificaçõ es,
levando o município a ficar sem o fornecimento de energia elétrica e á gua por mais de
50 horas.
A gravidade deste evento foi reconhecida por Decreto Municipal, Estadual e
Federal (anexos 01 a 03).
Além dos danos materiais, houve imenso prejuízo de ordem social, onde
inú meras famílias tiveram seus telhados, mó veis e bens pessoais destruídos pelo
vento e chuva.
Diante do cená rio, o Município de Alvorada do Sul, através da Coordenadoria da
Defesa Civil acionou os mecanismos existentes visando diminuir os impactos da
catá strofe.
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Para tanto, foi requerido através do Ministério de Desenvolvimento Regional,


via Secretaria Nacional de Proteçã o e Defesa Civil a liberaçã o de recursos para a
reconstruçã o de prédios pú blicos, fornecimentos de ajuda com telhas as famílias
lesadas e ainda de cestas bá sicas, visando sanar eventual situaçã o de fome.
O requerimento das cestas bá sicas se deu através do Processo nº
59052.008037/2021-56, na ordem de R$ 41.600,00 (quarenta e um mil e seiscentos
reais), cujos parâ metros sã o definidos por aquele ó rgã o federal.
O pagamento se deu através do empenho de anexo 05, onde consta em suas 10
pá ginas, todas as informaçõ es aqui já mencionadas.
Ainda que o requerimento tenha se dado quando do evento danoso
(23/10/2021), o empenho para o pagamento das cestas bá sicas em questã o ocorreu
somente em 16/12/2021 (quase 60 dias apó s o dano), conforme extrato de anexo 04,
valor que na presente data (14/03/2022), apó s rendimentos de aplicaçã o perfazem
R$ 42.327,47 (quarenta e dois mil, trezentos e vinte e sete reais e quarenta e sete
centavos).
Entre a data do evento e a liberaçã o do recurso/ o município atendeu a
populaçã o em estado de vulnerabilidade com o fornecimento de cestas bá sicas
utilizando recursos pró prios, pois nã o havia como esperar a liberaçã o do recurso
acima descrito. As cestas fornecidas eram objeto de processo licita\tó rio
anteriormente homologado, que tinha como objeto a fornecimento "rotineiro" de
eventuais casos de vulnerabilidade.

5 – Com a juntada da documentação e as informações prestadas,


verifica-se que as irregularidades apontadas na denúncia não procedem.
É o relatório.

6 – Analisando minuciosamente as informações e os documentos


constantes desta Notícia de Fato, verifica-se que o arquivamento é a medida que se
impõe, uma vez que não há como imputar a agente público improbidade
administrativa, fraude ou má-fé que fundamente eventual propositura de ação por
parte do Ministério Público ou necessidade de outro procedimento.
7 – Conforme documentação acostada ao presente procedimento,
verifica-se que não houve as irregularidades apontadas, o procedimento de dispensa
de licitação 89/2021 ocorreu de forma regular, sendo que não foram encontradas
nenhuma ilicitude no referido procedimento, bem como não foi realizado
procedimento de dispensa pela pasta onde sua filha labora.
8 – Destaca-se que o presente procedimento se iniciou a partir de
informações de que o município teria realizado a aquisição de cestas básicas sem a
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realização de procedimento licitatório, o que restou demonstrado nos autos ser


inverídico. Ademais, verifica-se que não houve irregularidades no certame licitatório,
tampouco, no processo de dispensa.
9 – Cabe destacar que, em que pese tenha sido realizado
procedimento de dispensa de licitação, não houve a compra das cestas básicas,
tampouco o pagamento para a empresa vencedora, demonstrando assim que não
ocorreu gasto de dinheiro público. Contudo, mesmo que tivesse sido realizada a
compra, verifica-se que os produtos licitados encontram-se dentro do valor praticado
no mercado, não sendo auferido qualquer superfaturamento ou dano ao erário com a
contratação da empresa.
10 – Obviamente, chama a atenção a questão do parentesco do
responsável pela empresa com vereador e com a chefe da Assistência Social. Nesse
aspecto, tomando-se como base o Decreto Federal 7.203/10 (que dispõe sobre a
vedação do nepotismo no âmbito da administração pública federal), há vedação à
contratação direta, sem licitação, por órgão ou entidade da administração, de pessoa
jurídica na qual haja administrador, ou sócio com poder de direção, que seja familiar
de detentor de cargo em comissão ou função de confiança que atue na área
responsável pela demanda ou contratação ou de autoridade a ele hierarquicamente
superior, no âmbito de cada órgão ou de cada entidade.
11 – Tem-se, portanto, que a vedação do Decreto, que serve de
referência a outras situações e também à doutrina e Jurisprudência pátrias, não
vincula qualquer agente público ocupante de cargo comissionado ou função de
confiança, mas refere-se, tão somente, ao detentor de cargo comissionado e função
de confiança que atue na área responsável pela demanda ou contrato, ou a
autoridade a ele hierarquicamente superior.
12 – No presente caso, a contratação da empresa foi feita pela pasta
da Defesa Civil, não da Assistência Social. Também não há elementos de provas
suficientes de que tenha ocorrido influência indevida do vereador ou da responsável
pela Assistência Social na contratação em questão.
13 – Portanto, diante do contexto probatório constante nos autos,
apesar dos indícios, há de se admitir que as provas não apontam elementos
suficientes para intentar a propositura de qualquer procedimento na esfera cível,
administrativa ou criminal contra quem quer que seja.

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14 – Nesta esteira, ante a minuciosa análise aos documentos


acostados aos autos, não vislumbra esta Promotoria de Justiça qualquer diligência que
possa ser realizada a fim de que se comprove irregularidades.
15 – O Estado se preocupa com a estabilidade das relações jurídicas,
estabelecendo o dever da Lei identificar, com clareza e precisão, os elementos
definidores da conduta delituosa1
16 – Desta forma, resta o arquivamento do presente procedimento
ante a perda do objeto que ensejou a instauração do presente.
17 – Ressalta-se que se houver qualquer indicativo que aponte
eventual irregularidade, o Ministério Público poderá imediatamente instaurar outro
procedimento para investigar tal situação, mesmo que se tratem dos fatos apurados
nesta Notícia de Fato que está sendo encerrada.
18 – Desta forma, após feitas as diligências determinadas, como por
ora não há necessidade de medidas judiciais, bem como não é o caso de instauração
de qualquer outro procedimento, com fundamento no art. 8º, do Ato conjunto
01/2019 PGJ-CGMP, determino o arquivamento desta Notícia de Fato, fazendo-se
as anotações de praxe no Sistema PRO-MP.
19 – Notifique-se o representante.

Bela Vista do Paraíso, 22 de março de 2022.

Pedro Gabriel Hayashi Almeida Machado


Promotor de Justiça

1 STF, Rel. Min. Celso de Mello, Ext. Nº 633/CH, Pleno, DJ 6.04.2001, p. 67.
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Documento assinado digitalmente por PEDRO GABRIEL HAYASHI ALMEIDA
MACHADO, PROMOTOR DE JUSTICA INTERMEDIARIA em 22/03/2022 às
13:08:53, conforme horário oficial de Brasília, com emprego de certificado digital
emitido no âmbito da ICP-Brasil, com fundamento no art. 6º, caput, do Decreto nº
8.539, de 8 de outubro de 2015.

A autenticidade do documento pode ser conferida no site


https://apps.mppr.mp.br/ords/f?p=121:6 informando o código verificador 331178 e o
código CRC 4277425428

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