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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA DE

FAMILIA DA COMARCA DE GOIÂNIA /GO.

Processo n.;

____________________________, menor impúbere, devidamente


representada por sua mãe __________________, ambas já qualificadas no
processo em epígrafe que litigam com ____________________________, vem por
meio de sua advogada (outorga inclusa), respeitosamente, a presença de Vossa
Excelência ratificar e requerer mais uma vez o pedido formulado na inicial de
consulta ao Infojud, Sisbajud e Decred do requerido com a finalidade de identificar
a sua REAL CAPACIDADE FINANCEIRA.

Ora Exa., postulou o demandado em peça interlocutória a suspensão da


determinação de pesquisas bancárias sobre o pífio argumento de que não há no
processo nenhum “comprovante” de gastos com a menor. E ainda pede que antes
da quebra do sigilo seja a autora obrigada a juntar aos autos todas as despesas
inclusive as “já pagas” pelo requerido.

Ocorre que conforme já comprovado a única despesa efetuada pelo


requerido e ratificada por ele mesmo, em sede de contestação, é a mensalidade
escolar. Se nem o requerido constituiu prova a sua defesa, seria a demandante
obrigada a “produzir” prova para a parte contrária, para que esta não tenha o
seu sigilo bancário quebrado?

Data vênia Meritíssimo, não se trata de uma “medida drástica” conforme


dramaticamente relata o requerido, mas sim uma providência necessária para
avaliar as possibilidades do demandado. Uma vez que em tese foi admitida a
pertinência de se discutir a capacidade do alimentante, e o resultado da pesquisa
do Renajud mostrou um veículo restrito judicialmente abriu-se a legitimidade de
se realizar a quebra do sigilo bancário para se aferir os rendimentos atuais.

A despeito dos argumentos do requerido, a garantia de sigilo bancário


pode ser excepcionada em ação de alimentos, sempre que constituir
obstáculo ao conhecimento das reais possibilidades do alimentante, dada a
relevância da matéria, sob o prisma da proporcionalidade.

No caso em apreço, ainda restam dúvidas a respeito de sua real


capacidade, visto que o alimentante exerce atividade autônoma como
empresário, conforme indicado por ele mesmo em sede de contestação (fls.
85/95) e não há, portanto, uma indicação segura dos seus rendimentos. Para
tanto, o acesso aos seus dados bancários deve ser franqueado, a fim de avaliar
sua atual condição financeira.

No que tange à proteção a intimidade do demandado devemos salientar


que tal princípio esbarra na proteção ao menor incapaz, que neste caso, deve
ser tido como prevalecente. Assim, o sigilo bancário é permitido diante da
necessidade de informações concretas para estabelecer a prestação de
alimentos, porquanto é destinada a garantir o necessário à manutenção da menor
incapaz, em especial quando há inconsistência das informações prestadas
pelo requerido sobre sua capacidade financeira.

Quanto a alegação de exposição dos dados, é restrita às partes e seus


representantes, uma vez resguardado o segredo de justiça. E ainda havendo
colisão do princípio da inviolabilidade fiscal e bancária e do direito
alimentar, como corolário da proteção à vida e à sobrevivência digna dos
incapazes, nos termos da Constituição Federal, em ponderação impõe-se a
prevalência da norma fundamental de proteção aos relevantes interesses do
menor.
Devem ser permitidas todas as medidas que possam contribuir para se
levantar informações financeiras do alimentante, a justiça deve estar atenta a
possíveis estratégias de ocultação de renda como ocorre no presente caso.
Conforme informado em impugnação, desde 2006 quando requereu a minoração
da verba alimentar, o requerido esconde patrimônio. Portanto todos os
instrumentos disponíveis para assegurar alimentos dignos ao vulnerável devem ser
utilizados.
Douto Julgador, a quebra do sigilo bancário pode exibir transferências para
e de ‘laranjas’, depósitos em dinheiro não identificados, além de recebimento de
verbas constantes, ademais a fatura de cartão de crédito irá demonstrar o estilo
de vida do titular, e se o valor de pensão que paga atualmente é compatível com o
que gasta consigo.

Ademais Exa., assim dispõe o art. 369 do Código de Processo Civil:

Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os
moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a
verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na
convicção do juiz. (grifo meu).

Ainda o art. 139 do CPC em seu inciso IV, assegura que para uma maior
efetividade e celeridade processual pode o magistrado determinar que:

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,


incumbindo-lhe:
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-
rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial,
inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária. (grifo meu)

Este também vem sendo o entendimento unânime do nosso Tribunal


vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 5108790.69.2020.8.09.0000


COMARCA DE GOIÂNIA 2ª CÂMARA CÍVEL FONTE:DJ de 07/10/2020
AGRAVANTES: WALTER MOTA DOS REIS PESSOA e NEUMARI GONÇALVES
MOTA (avós paternos)
AGRAVADA: A. D. P. M. (23/06/2014) representada pela genitora KAROLLINA
PINHEIRO DA COSTA
RELATOR: DESEMBARGADOR JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ALIMENTOS. QUEBRA DE


SIGILO FISCAL E BANCÁRIO DO ALIMENTANTE. MEDIDA EXCEPCIONAL.
PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DA INTIMIDADE E DA VIDA PRIVADA QUE
DEVE SER RELATIVIZADA EM FACE AO PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DOS
INTERESSES DA CRIANÇA. DECISÃO MANTIDA. 1. Em observância aos incisos
X e XII do art. 5º da Constituição Federal, que garantem proteção constitucional à
preservação da privacidade e à inviolabilidade do sigilo de dados, a
determinação de quebra dos sigilos bancário e fiscal constituem medidas
excepcionais do Juízo, sendo passível de mitigação principalmente porque
nenhum direito, ainda que fundamental, tem natureza absoluta. 2. Tratando-
se de ação revisional de alimentos, e não sendo o conjunto probatório
acostado ao caderno processual suficiente para dimensionar o patrimônio
dos agravantes, de modo que comprove a real possibilidade dos
alimentantes, o que é imprescindível para a fixação dos alimentos (art. 1.694, §1º,
do CC), é cabível a decretação de quebra do sigilo bancário e fiscal para
aferição da real capacidade econômico-financeira, a fim de possibilitar o
sopesamento do binômio necessidade-possibilidade que rege o arbitramento
da prestação alimentícia, primordialmente para fins de satisfação do melhor
interesse da criança. AGRAVO DE INSTRUMENTO PARCIALMENTE
CONHECIDO E DESPROVIDO. (grifo meu).

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 5739600.12.2019.8.09.0000


COMARCA GOIÂNIA 6ª CÂMARA CÍVEL FONTE: DJ de 25/05/2020
AGRAVANTE LML
AGRAVADO LLJM
RELATORA: DESEMBARGADORA SANDRA REGINA TEODORO REIS

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ALIMENTOS. QUEBRA DE


SIGILO FISCAL E BANCÁRIO DO ALIMENTANTE. MEDIDA EXCEPCIONAL.
OBSCURIDADE ENTRE A DECLARAÇÃO DE SITUAÇÃO DE DESEMPREGO
E A REALIDADE FÁTICA VIVENCIADA PELO ALIMENTANTE. QUEBRA DE
SIGILO JUSTIFICADA. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DA INTIMIDADE E DA
VIDA PRIVADA QUE DEVE SER RELATIVIZADA EM FACE AO PRINCÍPIO DA
PRIMAZIA DOS INTERESSES DA CRIANÇA.1. Em observância aos incisos X e
XII do art. 5º da Constituição Federal, que garantem proteção constitucional à
preservação da privacidade e à inviolabilidade do sigilo de dados, a determinação
de quebra dos sigilos bancário e fiscal constituem medidas excepcionais do Juízo,
sendo passível de mitigação principalmente porque nenhum direito, ainda que
fundamental, tem natureza absoluta.2. Tratando-se de ação revisional de
alimentos e diante de incompatibilidade dos sinais exteriores de riqueza do
genitor com a inexistência de renda por ele informada, é cabível a
decretação de quebra do sigilo bancário e fiscal para aferição da sua real
capacidade econômico-financeira, a fim de possibilitar o sopesamento do
binômio necessidade-possibilidade que rege o arbitramento da prestação
alimentícia, primordialmente para fins de satisfação do melhor interesse da
criança. AGRAVO CONHECIDO E DESPROVIDO. (grifo meu).

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 5166740.70.2019.8.09.0000


COMARCA DE GOIÂNIA 1ª CÂMARA CÍVEL FONTE: DJ de 18/10/2019
AGRAVANTE: ISABELA TORMIN SOARES
AGRAVADO: RONILDO LEAL SOARES
RELATOR: DESEMBARGADOR LUIZ EDUARDO DE SOUSA
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REVISIONAL DE ALIMENTOS.
AVERIGUAÇÃO DA CONDIÇÃO DO ALIMENTANTE. QUEBRA DE SIGILO
FISCAL E BANCÁRIO. MEDIDA EXCEPCIONAL. LIMITAÇÃO TEMPORAL.
POSSIBILIDADE. I- A quebra do sigilo bancário e fiscal é medida excepcional
dependendo da constatação de motivos relevantes. II- No caso, as provas
apresentadas se mostraram suficientes para autorizar a ampliação da
investigação bancária e fiscal do alimentante, visto que somente com esta
providência extrema será possível averiguar a sua real capacidade
financeira para suportar ou não a obrigação alimentar anteriormente estabelecida
em favor da alimentanda. III- Ademais, a quebra de sigilo bancário e fiscal, nos
termos requeridos, não ensejará graves prejuízos ao agravado, pois o
processo tramita em segredo de justiça, de modo que seus dados não
estarão disponíveis a qualquer pessoa, mas tão somente às partes
interessadas. Agravo de Instrumento conhecido e provido. (grifo meu).

Cabe salientar Exa., conforme disciplinado também nos julgados


colacionados aos autos, que a quebra de sigilo bancário e fiscal, nos termos
requeridos, não ensejará graves prejuízos ao agravado, pois o processo
tramita em segredo de justiça, de modo que seus dados não estarão disponíveis
a qualquer pessoa, mas tão somente às partes interessadas.

Por todo exposto requer a autora que:

Seja indeferido o pedido de suspensão da quebra de sigilo bancário


do réu bem como seja requisitado as informações constantes no sistema
DECRED, SISBAJUD e DIMOF, bem como todos os mecanismos legalmente
aptos a apurar a real capacidade financeira e transações do requerido nos
últimos 48 (quarenta e oito) meses a fim de se constatar eventual dilapidação ou
ocultação de patrimônio após o protocolo da presente ação.

Nestes Termos,
Pede-se deferimento.

Goiânia, ____ de ______________ de _____.

ADVOGADA
OAB/GO:

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