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20/03/2024, 15:41 Evento 91 - SENT1

Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Rio de Janeiro
2ª Vara Federal de Duque de Caxias
Rua Ailton da Costa, 115, 8º Andar - Bairro: Jardim Vinte e Cinco de Agosto - CEP: 25071-160 - Fone: (21) 3218-5054 - Whatsapp: (21) 99613-7798
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PROCEDIMENTO COMUM Nº 5008216-33.2023.4.02.5118/RJ


AUTOR: LETICIA MATIAS MATA LANDEIRA
RÉU: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
RÉU: COMPANHIA NILZA CORDEIRO HERDY DE EDUCACAO E CULTURA - UNIGRANRIO
RÉU: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF
RÉU: FNDE - FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCACAO

SENTENÇA

TIPO B2

LETICIA MATIAS MATA LANDEIRA ajuizou a presente ação em face do F.N.D.E. FUNDO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCACAO E OUTROS.

Com a inicial foram juntados os documentos do Evento 1.

Deferida a gratuidade de justiça, indeferida a tutela de natureza antecipada e determinada a citação da


parte ré no Evento 3.

Contestação da União Federal no Evento 10.

Contestação do FNDE no Evento 14.

Réplica no Evento 17.

Contestação da CEF no Evento 18.

Contestação da COMPANHIA NILZA CORDEIRO HERDY DE EDUCAÇÃO E CULTURA no


Evento 21.

Réplica no Evento 26.

Decisão em saneamento do feito no Evento 28.

Embargos de Declaração opostos no Evento 40.

Decisão proferida em Embargos de Declaração no Evento 52.

Agravo de instrumento no Evento 66.

É o relatório.

DECIDO.

Cumpre salientar, de plano, que a responsabilidade civil do Estado, em nosso ordenamento jurídico,
está delineada no art. 37, § 6º da CRFB, que estabelece:

"As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros (...)".

Trata-se, conforme a doutrina, da consagração da responsabilidade objetiva do Estado, ante a adoção


da teoria do risco administrativo. Dessa maneira, para o reconhecimento do dever de indenizar do Estado, é
necessária apenas que reste configurado a ocorrência do dano, da conduta estatal, e do nexo causalidade entre um e
outro, sendo despicienda a discussão a respeito de culpa ou dolo.

Deveras, consoante doutrina José dos Santos Carvalho Filho: “A marca da responsabilidade objetiva
é a desnecessidade de o lesado pela conduta estatal provar a existência da culpa do agente ou do serviço. O fator
culpa, então, fica desconsiderado com pressupostos da responsabilidade objetiva (...)”, sendo certo que a
caracterização da responsabilidade objetiva requer, apenas, a ocorrência de três pressupostos: a) fato
administrativo: assim considerado qualquer forma de conduta comissiva ou omissiva, legítima ou ilegítima,
singular ou coletiva, atribuída ao Poder Público; b) ocorrência de dano: tendo em vista que a responsabilidade civil
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reclama a ocorrência de dano decorrente de ato estatal, latu sensu; c) nexo causal: também denominado nexo de
causalidade entre o fato administrativo e o dano, consectariamente, incumbe ao lesado, apenas, demonstrar que o
prejuízo sofrido adveio da conduta estatal, sendo despiciendo tecer considerações sobre o dolo ou a culpa.

É possível concluir que a responsabilização do Estado, ainda que ostente natureza objetiva (art. 37, §
6º, da CRFB), pressupõe a ocorrência de efetivo e relevante prejuízo, em decorrência da ação ou omissão estatal
(art. 5º, inciso V e X, da CRFB).

No presente caso, afirma o requerente que “a nota obtida no ENEM é de 640,76 no ENEM do ano de
2022. Obteve nota na redação de 960 pontos.” não conseguindo atingir a pontuação para conseguir o
financiamento do curso de medicina, mesmo atingindo uma excelente pontuação.

Posteriormente, reasseverou que “MEC cria restrições ao direito ao financiamento por meio de
Portarias, conforme se argumentará em tópico específico, criando normas que estão sobrepondo a LEI FEDERAL
de regência do financiamento. Não se pode admitir tamanha irregularidade e que o MEC inove no ordenamento
jurídico, com a restrição a Direito por meio de um ato secundário, portaria.”.

Pugnou pela “concessão da tutela antecipada de urgência inaudita altera pars : a.1) Para suspender
os efeitos das portarias que limitam o acesso ao aluno ao financiamento, mencionadas anteriormente; a.2) Para
que a parte ré proceda com todos os atos necessários a levar a assinatura do contrato do FIES, isso é, à matricula
do aluno no programa de financiamento estudantil – FIES, com a firmação de um contrato de financiamento que
ampare todo o período acadêmico, isso é, de agora até a colação de grau do aluno ora parte Requerente, sob pena
de multa diária a ser arbitrada por este D. Juízo. Nesse pedido, requer o envio do link de inscrição feito pelo
Fundo Nacional; a emissão da DRI pela faculdade ora Ré; pela emissão e assinatura do contrato pela CEF e,
desde a decisão até a colação de grau, que as Rés procedam com todos os atos de aditamento do contrato a serem
feitos de forma semestral; a.2.1) No caso de deferimento quando já tiver se iniciado o semestre letivo, isso é, esse
estiver no meio do período, requer a aplicação do seguinte raciocínio: o FIES quando a inscrição no programa de
financiamento possibilita aos alunos que coloquem como semestre letivo o número "0", que indica que o aluno irá
começar na instituição de destino do financiamento no semestre seguinte. De igual forma, requer seja aplicado o
mesmo raciocínio com a demanda, no caso de deferimento, que proporcione a parte Requerente começar no
próximo período letivo.”.

Importante observar que o Fundo de Financiamento Estudantil ( FIES) trata-se de um programa do


Governo Federal regulamentado pelas normas da Lei n. 10.260/2001, com a finalidade precípua de beneficiar
estudantes regularmente matriculados em cursos de cursos superiores não gratuitos e com a avaliação positiva nos
processos conduzidos pelo do Ministério da Educação (MEC), de acordo com regulamentação própria e mediante a
existência de disponibilidade orçamentária (art. 1º).

Com efeito, nos termos do art. 3º da Lei n. 10.260/2001, ao Ministério da Educação (MEC) foi
atribuída a competência para formular a política de oferta de financiamento e de supervisionar a execução das
operações do Fundo, sendo-lhe autorizada a edição de regulamento que disporá, inclusive, sobre as regras de
seleção de estudantes a serem beneficiados pelo FIES.

Na mesma senda, referida norma também atribuiu ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da


Educação a qualidade de agente operador e de administrador dos ativos e passivos do Fundo e, de acordo com os
limites de crédito por ele estabelecido, este autoriza que as instituições financeiras poderão, na qualidade de agente
financeiro, conceder financiamentos com recursos do FIES (art. 3º, § 3º).

As regras e os procedimentos referentes ao processo seletivo do Fundo de Financiamento Estudantil


referente ao segundo semestre de 2021 foram estabelecidas pela Portaria MEC nº38 de 22 de janeiro de 2021.

A referida Portaria Normativa MEC nº 38 manteve a regra da nota de corte no Exame Nacional
do Ensino Médico (ENEM) como sendo a média aritmética das notas nele obtidas em cuja edição o
candidato tenha obtido a maior média (arts. 17 e 18).

Art. 17. Encerrado o período de inscrição, em cumprimento ao disposto no § 6º do art. 1º da Lei nº 10.260, de 2001, e
os limites de vagas, os candidatos serão classificados nos termos informados no Edital SESu, observada a seguinte
sequência:

I - candidatos que não tenham concluído o ensino superior e não tenham sido beneficiados pelo financiamento
estudantil;

II - candidatos que não tenham concluído o ensino superior, mas já tenham sido beneficiados pelo financiamento
estudantil e o tenham quitado;

III - candidatos que já tenham concluído o ensino superior e não tenham sido beneficiados pelo financiamento
estudantil;

e IV - candidatos que já tenham concluído o ensino superior e tenham sido beneficiados pelo financiamento estudantil e
o tenham quitado.

§ 1º A nota de que trata o caput considerará a média aritmética das notas obtidas nas provas do Enem em cuja edição o
candidato tenha obtido a maior média.

§ 2º No caso de notas idênticas, calculadas segundo o disposto no § 1º, o desempate entre os candidatos será
determinado de acordo com a seguinte ordem de critérios: I - maior nota na redação;

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II - maior nota na prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias;

III - maior nota na prova de Matemática e suas Tecnologias;

IV - maior nota na prova de Ciências da Natureza e suas Tecnologias;

e V - maior nota na prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias.

§ 3º Será vedada a concessão de novo financiamento do Fies, nos termos do art. 1º, § 6º da Lei nº 10.260, de 2001, a
candidato:

I - que não tenha quitado o financiamento anterior pelo Fies ou pelo Programa de Crédito Educativo de que trata a Lei
nº 8.436, de 25 de junho de 1992; ou

II - que se encontre em período de utilização do financiamento.

Art. 18. O candidato será pré-selecionado na ordem de sua classificação, nos termos do art. 17, observado o limite de
vagas disponíveis, conforme as definições, os procedimentos e os prazos previstos no Edital SESu.

Saliento que tal regra da nota de corte não é nova, tratando-se de critério notoriamente conhecido
desde 2014 e a sua legalidade já foi confirmada pelo STF na ADPF nº 341 , que assim dispôs, verbis :

DIREITO ADMINISTRATIVO. ADPF. NOVAS REGRAS REFERENTES AO FUNDO DE FINANCIAMENTO AO


ESTUDANTE DO ENSINO SUPERIOR - FIES. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO RETROATIVA. LIMINAR
REFERENDADA.

1. O art. 3º da Portaria Normativa MEC nº 21/2014 alterou a redação do art. 19 da Portaria Normativa MEC nº
10/2010, passando a exigir média superior a 450 pontos e nota superior a zero nas redações do ENEM, como condição
para a obtenção de financiamento de curso superior junto ao Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino Superior
- FIES.

2. O art. 12 da Portaria Normativa MEC nº 21/2014 previu que as novas exigências entrariam em vigor apenas em
30.03.2015, muito embora as inscrições para o FIES tenham se iniciado em 23.02.2015, conforme Portaria Normativa
nº 2/2015. Previu-se, portanto, uma norma de transição entre o antigo e o novo regime jurídico aplicável ao FIES,
possibilitando-se que, durante o prazo da vacatio legis, os estudantes se inscrevessem no sistema com base nas normas
antigas.

3. Plausibilidade jurídica da alegação de violação à segurança jurídica configurada pela possibilidade de ter ocorrido
aplicação retroativa da norma nova, no que respeita aos estudantes que: (i) já dispunham de contratos celebrados com
o FIES e pretendiam renová-los; (ii) requereram e não obtiveram sua inscrição no FIES, durante o prazo da vacatio
legis, com base nas regras antigas. Perigo na demora configurado, tendo em vista o transcurso do prazo para
renovação dos contratos, bem como em razão do avanço do semestre letivo.

4. Cautelar referendada para determinar a não aplicação da exigência de desempenho mínimo no ENEM em caso de:
(i) renovações de contratos de financiamento; (ii) novas inscrições requeridas até 29.03.2015 .

5. Indeferimento da cautelar no que respeita aos demais estudantes que requereram seu ingresso no FIES em 2015,
após 29.03.2015, aos quais devem ser aplicadas as novas normas . (destacou-se)

A própria Portaria MEC nº 209, de 07/03/2018, já adotava esse critério de classificação de acordo
com a nota de corte do Enem, sendo essa nota a média aritmética das notas obtidas nas provas do Enem em cuja
edição o candidato tenha obtido a maior média. Transcrevo:

Art. 37. As inscrições para participação no processo seletivo do Fies e do P- Fies serão efetuadas exclusivamente pela
internet, em endereço eletrônico, e em período a ser especificado no Edital SESu, devendo o
estudante, cumulativamente , atender as condições de obtenção de média aritmética das notas no Enem e de renda
familiar mensal bruta per capita a serem definidas na Portaria Normativa do MEC a cada processo seletivo.

Art. 38. Encerrado o período de inscrição, os estudantes serão classificados em ordem decrescente de acordo com as
notas obtidas no Enem , na opção de vaga para a qual se inscreveram, na sequência a ser especificada
em Portaria Normativa a cada processo seletivo, nos termos do art. 1º, § 6º, da Lei nº 10.260, de 2001.

§ 1º A nota de que trata o caput considerará a média aritmética das notas obtidas nas provas do Enem em cuja edição o
candidato tenha obtido a maior média.

§ 2º No caso de notas idênticas, calculadas segundo o disposto no § 1º deste artigo, o desempate entre os candidatos
será determinado de acordo com a ordem de critérios a ser especificada na Portaria Normativa do MEC.

Art. 39. O estudante será pré-selecionado na ordem de sua classificação , nos termos do
art. 38 desta Portaria, observado o limite de vagas disponíveis no curso e turno para o qual se inscreveu , conforme os
procedimentos e prazos previstos no Edital SESu.

Parágrafo único. A pré-seleção do estudante assegura apenas a expectativa de direito à vaga para a qual se inscreveu
no processo seletivo do Fies e do P- Fies, estando a contratação do financiamento condicionada à conclusão da
inscrição no FiesSeleção no caso da modalidade Fies, à pré-aprovação de algum agente financeiro operador de crédito
na modalidade P- Fies e, em ambas modalidades, ao cumprimento das demais regras e procedimentos constantes
desta Portaria e da Portaria Normativa que regulamenta cada processo seletivo - nosso destaque

Ademais, a seleção para o FIES pressupõe que cada grupo de preferência possui um número de vagas
disponíveis e para classificar os candidatos, o sistema verifica a prioridade indicada entre as três opções de curso,
de turno e de local de oferta escolhidos.

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Nesse contexto, tem mais chances de conseguir o financiamento aqueles candidatos com maiores
notas, os que ainda não tenham terminado o ensino superior e os que ainda não foram beneficiados pelo
financiamento estudantil.

Destaca-se que a regra imposta é decorrência natural dos próprios limites orçamentários dos recursos
destinados a essa política pública, além de configurar previsão razoável e alinhada aos ditames estudantis.

De todo modo, é oportuno destacar, por fim, que a Primeira Seção do egrégio STJ, apreciando caso
análogo ao dos autos, firmou entendimento no sentido de que "o estabelecimento de condições para a concessão
do financiamento do FIES insere-se no âmbito da conveniência e oportunidade da Administração, e, portanto, não
podem ser modificados ou afastados pelo Judiciário, sendo reservado a este Poder apenas o exame da legalidade
do ato administrativo, sendo-lhe defeso qualquer incursão no mérito administrativo" (STJ, MS nº 20.074/DF, Rel.
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe de 1º/07/2013).

Assim, a celebração do Contrato do FIES somente pode ocorrer se o estudante houver obtido,
no ENEM, na pontuação utilizada para admissão no financiamento, nota igual ou superior àquela obtida
pelo último estudante selecionado para as vagas do FIES na instituição de ensino superior que deseja cursar,
sob pena de ofensa ao princípio da isonomia em relação aos interessados que concorreram para as vagas
destinadas ao FIES e não obtiveram nota de aprovação nas vagas destinadas para o curso de Medicina.

Nesse sentido, o seguinte precedente do Egrégio TRF1 cuja linha intelectiva, mutatis mutandis ,
aplica-se ao caso concreto:

ENSINO SUPERIOR. FINANCIAMENTO ESTUDANTIL. FIES. TRANSFERÊNCIA DE CURSO. PORTARIAS MEC N.


25/2011 E 535/2020. PONTUAÇÃO DO ENEM. NOVA REGULAMENTAÇÃO. APLICAÇÃO .

1. Trata-se de ação ordinária em que a autora pretende transferência do contrato de financiamento estudantil ( FIES)
do curso de Odontologia do Ensino Superior Centro Universitário - UNIFTC para o curso de Medicina na mesma IES.

2. A Lei n. 10.260/2001, que dispõe sobre o Fundo de Financiamento ao Ensino Superior ( FIES), estabelece: Art. 3º A
gestão do Fies caberá: (...) § 1º O Ministério da Educação, nos termos do que for aprovado pelo CG- Fies, editará
regulamento sobre: (...) II - os casos de transferência de curso ou instituição, de renovação, de suspensão temporária e
de dilação e encerramento do período de utilização do financiamento.

3. Dispõe a Portaria n. 25, de 22 de dezembro de 2011, do Ministério da Educação: Art. 2º O estudante poderá
transferir de curso uma única vez na mesma instituição de ensino, desde que o período transcorrido entre o mês de
início da utilização do financiamento e o mês de desligamento do estudante do curso de origem não seja superior a 18
(dezoito) meses.

4. Posteriormente, o FIES passou a ser regulamentado pela Portaria n. 209, de 07/03/2018, que, após alteração
promovida pela Portaria MEC n. 535, de 12/06/2020, estabelece que a transferência somente será permitida nos casos
em que a média aritmética das notas obtidas pelo estudante no Enem, utilizadas para sua admissão no Fies, for igual ou

superior à média aritmética do último estudante pré-selecionado para o curso de destino no processo seletivo mais
recente do programa em que houver estudante pré-selecionado para o financiamento estudantil.

5. Fundamentos da sentença: a) plenamente aplicável a alteração indicada ao caso da autora, uma vez que o pedido da
transferência deu-se já na vigência das novas regras. Referida regulamentação é cogente e se aplica indistintamente a
todos os beneficiários do FIES, de sorte que acaso atendido o pleito da demandante de afastamento da referida norma
estar- se-ia violando o princípio da legalidade e da isonomia; b) embora a autora narre uma cronologia anterior à
Resolução, acostando comprovante de matrícula no curso de medicina para o semestre de 2020.01, o referido
documento teve emissão em agosto de 2020, o que se coaduna com a tese de que seu pedido de transferência
do FIES deu-se, em verdade, no semestre de 2020.2, já na vigência da nova norma. Ainda, o contrato de financiamento
para o curso de odontologia foi firmado em 07.05.2020, ID n. 355874346, o que também robustece que o pedido de
transferência do financiamento para o curso de medicina deu-se no segundo semestre de 2020.

6. Já decidiu este Tribunal em caso semelhante: A transferência do FIES somente pode ocorrer se o estudante houver
obtido, no ENEM, na pontuação utilizada para admissão no financiamento, nota igual ou superior àquela obtida pelo
último estudante selecionado para as vagas do FIES na instituição de ensino de destino, sob pena de ofensa ao
princípio da isonomia em relação aos interessados que concorreram para as vagas destinadas ao FIES e não obtiveram
nota de aprovação nas vagas destinadas para o curso de Medicina. Acrescente-se que a Portaria MEC n. 535/2020
também prevê a necessidade de anuência da Instituição de Ensino Superior de destino com a transferência solicitada
pelo estudante (art. 84-A). Portanto, mesmo no caso de o contrato de FIES celebrado pela parte agravante não conter
cláusula de exigência de nota mínima no ENEM, deve ser aplicado o novo regramento no aditamento de transferência
que se pretende fazer ao contrato original (TRF1, AG 1014213-91.2021.4.01.0000, Desembargador Federal Jamil Rosa
De Jesus Oliveira, 6T, PJe 04/08/2021).

7. Negado provimento à apelação.

8. Majorada a condenação da apelante em honorários advocatícios, de 10% para 12% sobre o valor da causa, nos
termos do art. 85, § 11º, do Código de Processo Civil. Suspensa a exigibilidade, nos termos do
art. 98 do CPC (beneficiária de justiça gratuita).

( AC 1047650-54.2020.4.01.3300, DESEMBARGADOR FEDERAL JOAO BATISTA GOMES MOREIRA, TRF1 - SEXTA


TURMA, PJe 22/02/2022 PAG.)

No mais:

DIREITO ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO. FNDE. LEGITIMIDADE. FIES. ENSINO SUPERIOR. MATRÍCULA.


ESTUDANTE PRÉ-SELECIONADA PELO FIES. INSTITUIÇÃO DE ENSINO. PROCESSO SELETIVO PRÓPRIO.
DESNECESSIDADE. MEC. PORTARIA NORMATIVA Nº 13/2015. UTILIZAÇÃO DA NOTA OBTIDA NO ENEM.
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CLASSIFICAÇÃO. DIREITO À MATRÍCULA. DANO MORAL. INEXISTENTE. 1. Mantém-se a sentença que assegurou
à autora, a despeito da ausência de aprovação no Concurso Vestibular 2016/1, o direito ao financiamento estudantil
pelo FNDE e à matricula no 1º semestre de 2016, no curso de Medicina - Campus João Uchoa, da Universidade
Estácio de Sá, no Rio de Janeiro/RJ, mas negou-lhe indenização por danos morais. 2. A autora/apelante, submetida ao
ENEM/2015 para concorrer a uma das vagas de Medicina oferecidas pelo FIES, obteve a nota média de 721.50 e,
escolhendo a Universidade Estácio de Sá, passou em 20º lugar, dentro das 41 vagas reservadas ao FIES, do total de 68
vagas de Medicina oferecidas pela Universidade para o primeiro semestre de 2016. 3. A União é parte legítima para
responder às ações em que se discutem aspectos relativos ao FIES, pois cabe ao Ministério da Educação, órgão da
Administração Pública Federal, a gestão e regulamentação do processo seletivo para a concessão do respectivo
financiamento. Precedente do STJ. 4. O FNDE tem legitimidade passiva, porquanto o contrato foi celebrado com a
parte autora e a instituição, responsável por manter regularizados os registros de dados necessários à execução e
cumprimento das cláusulas do acordo celebrado. 5. A Lei 12.202/10 especificou as atribuições do FNDE, autarquia
federal dotada de personalidade jurídica própria, conferindo-lhe a qualidade de agente operador e administrador do
FIES. Ainda, o Ministério da Educação emitiu a Portaria Normativa nº 1, de 22/01/2010, incumbindo ao FNDE manter
e gerenciar o Sistema Informatizado FIES - SisFIES, para fins de concessão de financiamento ou de aditamento. 6. O
art. 207 da Constituição e o art. 53 da Lei nº 9.394/1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, asseguram às
universidades autonomia didático-científica e, nesta, a atribuição de organizar cursos e programas de educação
superior; e o art. 44, II, da Lei nº 9394/96, preconiza que "A educação superior abrangerá os seguintes cursos e
programas: de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido
classificados em processo seletivo". 1 7. O Edital da Universidade Estácio de Sá, nº 3/2015, de 10/12/2015, subitem
1.2, previu a obrigatoriedade de aprovação em vestibular para provimento das 68 vagas oferecidas para o Curso de
Medicina, inclusive das 41 vagas reservadas ao FIES, mas a Portaria nº 13/2015, do Ministério da Educação, art. 6º,
II, destina o FIES a estudantes pré-selecionados em processos conduzidos pelo Ministério, no caso o ENEM, não em
processo seletivo da instituição de ensino que aderiu ao programa de financiamento. Precedentes deste Tribunal. 8.
Correta a sentença, ainda, quanto à inexistência de danos morais, pois, a despeito de a autora não ter conseguido
realizar, de imediato, a matrícula no curso de medicina no 1º semestre de 2016, os meros dissabores são simples
aborrecimentos ou contrariedades que não chegam a alterar o aspecto psicológico ou emocional do indivíduo, sendo
transtornos normais da vida em sociedade que, embora desagradáveis, não têm relevância para configurar dano moral,
pelo que não geram a indenização. 9. A Universidade, intimada da liminar em 17/2/2016, matriculou a estudante no
Curso de Medicina, e logo promoveu sua inclusão no FIES, antes de 25/2/2016, data limite para a contratação, o que
demonstra não ter a aluna sofrido prejuízo acadêmico, vez que iniciou regularmente o semestre e não perdeu aulas. 10.
Apelações desprovidas.(TRF-2 - AC: 00125928820164025120 RJ 0012592-88.2016.4.02.5120, Relator: NIZETE
LOBATO CARMO, Data de Julgamento: 26/06/2020, 7ª TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação: 02/07/2020)

No caso em análise, a prova documental nos autos evidencia que, no ano de 2023, a autora se
inscreveu para os cursos de medicina na Universidade do Grande Rio Prof. José de Souza Herdy UNIGRANRIO e
que a nota obtida pela candidata não seria suficiente para a seleção pelo FIES nos cursos escolhidos ( Evento 1,
ANEXO13).

Ademais, nos termos dos arts. 2º, § 2º e 6º, § 6º, da Portaria MEC n. 1.435/2018, a inscrição na pré-
seleção no SisFIES constitui mera expectativa do direito à vaga, não configurando direito adquirido à contratação
do financiamento estudantil. Portanto, não tendo alcançado nota suficiente para obter vaga via FIES no curso
pretendido, a autora não faz jus ao financiamento pugnado.

Oportuno reasseverar que é defeso ao Judiciário imiscuir-se nos atos levados a efeito no âmbito
interno da Administração, quando inseridos no campo que lhe confere o ordenamento jurídico, cabendo-lhe
unicamente examiná-los sob o aspecto da legalidade, isto é, se foi praticado conforme ou contrariamente à lei.

Considerando que a requerente optou por fazer seu curso superior em uma universidade
privada e por intermédio do FIES, deve, desse modo, se submeter às regras para obtenção do financiamento
estudantil pretendido.

Logo, não vislumbro erro administrativo ou violação ao direito do Autor na presente hipótese.

Assim, não devem prosperar as pretensões da parte autora.

Por todo o exposto, JULGO IMPROCEDENTE O PEDIDO, e RESOLVO O MÉRITO, nos


termos do artigo 487, inciso I, do CPC/15.

Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, que
arbitro em 10% sobre o valor da causa, nos termos do art. 85, § 3º, do CPC/15, ficando suspenso o pagamento em
virtude da gratuidade de justiça deferida, nos termos do art. 98, §3º, do CPC/15.

Transcorrido o prazo recursal in albis, após o transito em julgado, dê-se baixa e arquivem-se os autos.

Apresentado o recurso de apelação, intime(m)-se o(s) Apelado(s) para contrarrazões, no prazo de 15


(quinze) dias (artigo 1.010, §1º, do CPC/2015).

Sendo suscitadas, em contrarrazões, questões referentes a decisões que não comportam agravo de
instrumento, intime-se o(a) recorrente para, no prazo de 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito delas, nos termos
do art. 1.009, §2º, do CPC/2015.

Apresentada(s) resposta(s) ao recurso, bem como no caso de ausência de manifestação, certificada


pela Secretaria, ao recurso/contrarrazões, remetam-se os autos ao Egrégio Tribunal Regional Federal da 2ª Região,
com as cautelas de praxe e as homenagens deste Juízo.

P.R.I.

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20/03/2024, 15:41 Evento 91 - SENT1
JRJ14724

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19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 2ª Região nº 17, de 26 de março de 2018. A conferência da autenticidade do documento está disponível
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