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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA

VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE (XXX)

CAMILA, brasileira, solteira, estudante, inscrita no Cadastro


Nacional de Pessoas Físicas (CPF) sob o nº (XXX), portadora
do RG nº (XXX), residente na (XXX), vem respeitosamente à
presença de V. Exa., através de seu advogado e bastante
procurador que esta subscreve (DOC 01), com endereço
profissional na (XXX), local onde receberá intimações, com
fulcro no art. 273, § 7º e art. 461 do Código de Processo Civil e
arts. 186 e 927 do Código Civil, propor a presente
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C PEDIDO DE
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA E DANOS MORAIS

UNIVERSIDADE ESTACIO D SÁ, pessoa jurídica de direito


privado, a ser citada através de seu representante legal, com
domicílio na (XXX), pelos motivos de fato e direito que passa a
expor:

1. PRELIMINARES

1.1 Justiça Gratuita

Preliminarmente, a demandante pleiteia os benefícios da


Justiça Gratuita, com fulcro na Lei 1.060/50 e
artigo 5º LXXIV da Constituição Federal, pois não possui
condições de arcar com os encargos decorrentes do processo,
sem prejuízo de seu próprio sustento e de sua família,
conforme declaração de pobreza em anexo (DOC 03).
2. DOS FATOS

A demandante é estudante do 10º período do curso de


medicina da (XXX), sendo beneficiária do Fundo de
Financiamento Estudantil (FIES) desde o início de sua
faculdade, tendo seu pai como fiador, conforme contrato (DOC
04).
A demandante nunca teve nenhum tipo de problema ao
realizar sua renovação contratual semestral ao longo do curso,
até chegar ao aditamento de 2014.2, semestre no qual,
inclusive, os problemas referentes ao aditamento de diversos
estudantes foram noticiados em escala nacional.

Conforme se depreende da análise da documentação acostada


aos autos, o regulamento do FIES exige que, a cada semestre,
haja, por intermédio de sistema eletrônico do FNDE, agente
operador do FIES, o aditamento dos contratos de
financiamento dos estudantes.
De acordo com o art. 24, VI, da Portaria Normativa nº.
01/2010 (DOC 05), do Ministério da Educação, compete à
Comissão Permanente de Supervisão e Acompanhamento
do FIES (CPSA) de cada entidade de ensino vinculada ao FIES,
dar início aos trâmites para fins de aditamento dos contratos,
mediante a solicitação eletrônica, dentro do prazo fixado pelo
FNDE, dos aditamentos dos financiamentos.
Ato contínuo, assim que há a solicitação, os alunos recebem a
comunicação, através de mensagem eletrônica, sobre o período
dentro do qual devem acessar o sistema para confirmar estes
aditamentos. Finalizado o procedimento, os alunos devem se
dirigir à CPSA para receber o Documento de Regularidade da
Matrícula (DRM), após o que estão regularizados e aptos a
continuarem no financiamento.

No caso dos autos, o prazo para solicitação dos aditamentos do


semestre de 2014.2 pela CPSA encerrava-se em 30 de
novembro de 2014, nos termos do art. 1º, da Portaria nº. 463,
de 30 de outubro de 2014 (DOC 06), sendo feito em tendo
hábil pela CPSA.

Contudo, dentro deste prazo, a demandante tentou inúmeras


vezes realizar a sua renovação contratual sem êxito, pois após
preencher e confirmar os dados das abas “Dados Cadastrais” e
“Curso/Financiamento”, não conseguiu confirmar a aba dos
fiadores, porque apesar da renda do seu único fiador aparecer
no valor correto de R$XXX, o sistema alegava o erro 906, e
dava a seguinte informação: “O valor da renda informada do
(s) fiador (es) é inferior a duas vezes o valor da mensalidade
calculada com base no valor da semestralidade COM desconto.
Revise a renda informada, se for o caso, ou indique novo (s)
fiador (es)”, situação que foi devidamente registrada mediante
“printscreen” das telas do sítio eletrônico do FNDE em anexo
(DOC 07).

Por conta do erro, a demandante não conseguiu efetuar a


confirmação do aditamento 2014.2, ou seja, em razão das
falhas técnicas do sistema eletrônico do FNDE, com isso, não
conseguiu realizar os demais aditamentos subsequentes, pois o
referido sistema sempre acusava o aditamento de 2014.2 como
pendente.

Acontece que a mensalidade da demandante no período de


2014.2, perfazia um montante de R$XXX, não havendo motivo
para a mensagem de erro informada, já que a renda cadastrada
de seu fiador atendia os requisitos do dobro da mensalidade do
período.

Tais falhas, aliás, foram devidamente informadas ao sistema


eletrônico do FNDE, através de abertura das demandas: nº
XXX.

Sendo, que a resposta à demanda de setembro/2014 ocorreu


em outubro daquele ano (DOC 13), solicitando que a
demandante retornasse o contato com o comprovante do fiador
e os seguintes dados: nome, CPF, instituição de ensino
superior, local de oferta e CNPJ, para análise do caso.

Tendo a demandante respondido e enviado todas as


solicitações através da demanda nº XXX de dezembro/2014
(DOC 11), todavia, a referida demanda só foi respondida 7
(sete) meses depois, em julho/2015, de forma genérica, com
argumentos que pareciam não coincidir com a realidade
exposta em seus chamados, tratando-se de uma mera resposta
automática (DOC 14).

De outro giro, na tentativa de solucionar o problema e realizar


seu aditamento, a demandante procurou a instituição de
ensino superior, que informou que entrou em contato por
diversas vezes com o FNDE para solucionar a questão, mas que
foi orientada no sentido de que a estudante deveria aguardar as
respostas das demandas criadas no sistema.

Inclusive, a central de atendimento do FNDE, em resposta


eletrônica a uma das demandas abertas, fez menção a erro no
sistema e à impossibilidade de as instituições de ensino
exigirem pagamento da matrícula e das parcelas da
semestralidade do estudante quando se tratar de erros ou
óbices do sistema (DOC 15).

Insta salientar que a instituição de ensino superior enviou um


e-mail para a demandante com “printscreen” das suas telas de
acesso ao sistema como instituição mantenedora (DOC 16), no
sentindo de que a mesma anexasse o referido e-mail a uma
nova demanda no sistema do FNDE, na tentativa de solucionar
o caso e provar que a problema não estaria relacionado com a
faculdade, já que na referida tela há a informação que houve o
“cancelamento por decurso do prazo do estudante”, quando na
realidade a demandante foi impedida de realizar o aditamento
por um erro do sistema.

Conclui-se que por uma falha do Sistema Fies, gerenciado pelo


FNDE, está sendo a demandante compelida a pagar a quantia
correspondente a 18 (dezoito) meses de uma mensalidade
elevada da noite para o dia, por uma situação não provocada
por ela e que a mesma tentou resolver de todas as formas
possíveis sem sucesso diante do relapso do atendimento do
FNDE em resolver as demandas dos alunos.
Desse modo, se fez necessário o ajuizamento da presente ação
no sentido de reparar as irregularidades cometidas pela
autarquia federal na gestão da plataforma do SisFies, bem
como reconhecer a demandante a possibilidade de continuar
no ensino superior, garantindo seu direito fundamental à
educação.

3. FUNDAMENTAÇÃO

3.1 Da legitimidade passiva dos demandados

No tocante à legitimidade passiva, é de se ressaltar que, de


acordo com o art. 3º, II, da Lei n. 10.260/2001, o FNDE será o
agente operador do FIES:
Art. 3o A gestão do FIES caberá:
II - ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação -
FNDE, na qualidade de agente operador e de administradora
dos ativos e passivos, conforme regulamento e normas
baixadas pelo CMN.

Nesse passo, imputa-se ao FNDE a manutenção irregular do


sistema eletrônico a ser acessado pela demandante para fins de
validação do aditamento de seu financiamento, bem como
conduta negligente ao não atender nem solucionar
adequadamente as diversas demandas registradas, impedindo,
com isto, que estes tivessem acesso pleno ao sistema e
pudessem finalizar o aditamento.

De outro giro, a legitimidade passiva da XXX justifica-se em


razão de competir, na forma do art. 24, VI, da Portaria
Normativa nº. 01/2010, do Ministério da Educação, à sua
Comissão Permanente de Supervisão e Acompanhamento
do FIES (CPSA) dar início aos trâmites para fins de aditamento
dos contratos, mediante a liberação eletrônica, dentro do prazo
fixado pelo FNDE, dos financiamentos dos alunos. Nesse
diapasão, mesmo tendo a instituição de ensino realizado à
liberação eletrônica dentro do prazo, por diversas a mesma
informou a demandante através de ligações que caso a mesma
não realizasse os aditamentos estaria impedida de se
matricular, a não ser que pagasse o débito.
3.2 Do direito à educação
A presente demanda lida diretamente com direito de
indiscutível importância: o direito à educação, consagrado no
art. 205, da Constituição Federal:
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da
família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.

Da mesma forma, o direito à educação encontra-se


resguardado em inúmeros diplomas internacionais, merecendo
destaque o Pacto Internacional dos Direitos

Econômicos, Sociais e Culturais de 1996 e o Protocolo


Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(Protocolo de San Salvador):

Artigo 13 - 1. Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem


o direito de toda pessoa à educação. Concordam em que a
educação deverá visar ao pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do sentido de sua dignidade e a
fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades
fundamentais. Concordam ainda que a educação deverá
capacitar todas as pessoas a participar efetivamente de uma
sociedade livre, favorecer a compreensão, a tolerância e a
amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais,
étnicos ou religiosos e promover as atividades das Nações
Unidas em prol da manutenção da paz.

A proposta da política pública inclusiva do FIES é justamente


permitir que os alunos que não tenham condições de custear a
universidade particular, possam cursá-la mediante
financiamento do Poder Público, e, somente após dezoito
meses da conclusão da graduação, passem a pagar as parcelas
deste financiamento.
Assim dispõe o art. 1º, da Lei n. 10.260/2001:
Art. 1º É instituído, nos termos desta Lei, o Fundo de
Financiamento Estudantil (Fies), de natureza contábil,
destinado à concessão de financiamento a estudantes
regularmente matriculados em cursos superiores não gratuitos
e com avaliação positiva nos processos conduzidos pelo
Ministério da Educação, de acordo com regulamentação
própria.
Mais adiante, a citada norma regulamenta o prazo de carência
e a possibilidade de financiamento total do curso:

Art. 4º São passíveis de financiamento pelo Fies até 100% (cem


por cento) dos encargos educacionais cobrados dos estudantes
por parte das instituições de ensino devidamente cadastradas
para esse fim pelo Ministério da Educação, em contraprestação
aos cursos referidos no art. 1o em que estejam regularmente
matriculados.
Art. 5º Os financiamentos concedidos com recursos
do FIES deverão observar o seguinte: IV – carência: de 18
(dezoito) meses contados a partir do mês imediatamente
subsequente ao da conclusão do curso, mantido o pagamento
dos juros nos termos do § 1º deste artigo.
Desse modo, resta evidente que os alunos que solicitam esse
tipo de financiamento não podem arcar com o custo de uma
faculdade, sobretudo mensalidades altíssimas como são as do
curso da demandante, medicina.

Resta evidente que a demandante não pode ficar prejudicada


em virtude de um erro do Sistema do Fies que a impossibilitou
de realizar o aditamento do semestre 2014.2, e,
consequentemente os demais, até porque se não realizar o
próximo aditamento terá de arcar com o valor elevado de
R$XXX, corresponde a três semestres de mensalidades se
quiser continuar seu curso.
Não podem os estudantes serem prejudicados por omissões e
falhas operacionais atribuídas à demandada, existindo provas
suficientes de que a demandante tentou resolver o ocorrido por
diversas vezes, seja no atendimento do FNDE, seja na
Faculdade.

3.3. Dos atos ilícitos imputados ao demandado


Resta evidente, por conseguinte, que óbices operacionais no
sistema eletrônico do FNDE criaram empecilhos à
confirmação, por parte da demandada, dos aditamentos
solicitados pela (FACULDADE), bem como que o FNDE não
adotou quaisquer medidas hábeis a reverter à situação; pelo
contrário, desconsiderou inúmeras demandas formuladas pela
demandante e até mesmo pela instituição de ensino, o que
acarretou um enorme problema à demandante que não
conseguiu efetivar o seu aditamento, e, desde então, recebe
inúmeros avisos da Faculdade nos quais consta que ela não
poderá se matricular no período seguinte e que terá que arcar
com os custos dos semestres já cursados desde 2014.2, o que
vem lhe gerando uma série de aborrecimento e um enorme
constrangimento, tendo em vista que a Faculdade quis,
inclusive, obrigá-la a se matricular pessoalmente bloqueando
sua matrícula no site, e a orientando a levar algum
comprovante de ajuizamento de ação judicial, o que só não
ocorreu depois de muita insistência da demandante.

3.4. Da regulamentação administrativa do FIES


Insta salientar, ademais, que a própria regulamentação interna
do Ministério da Educação, especificamente o art. 25, da
Portaria Normativa nº. 01/2010, do Ministério da Educação,
prevê a possibilidade de prorrogação do prazo para solicitação
dos aditamentos:

Art. 25. Em caso de erros ou da existência de óbices


operacionais por parte da instituição de ensino, da Comissão
Permanente de Supervisão e Acompanhamento - CPSA, do
agente financeiro e dos gestores do Fies, que resulte na perda
de prazo para validação da inscrição, contratação e aditamento
do financiamento, como também para adesão e renovação da
adesão ao Fies, o agente operador, após o recebimento e
avaliação das justificativas apresentadas pela parte
interessada, deverá adotar as providências necessárias à
prorrogação dos respectivos prazos, observada a
disponibilidade orçamentária do Fundo e a disponibilidade
financeira na respectiva entidade mantenedora, quando for o
caso. (Redação dada pela Portaria Normativa nº 15, de 1º de
julho de 2014). § 1º O disposto no caput deste artigo se aplica
quando o agente operador receber a justificativa do interessado
em até 180 (cento e oitenta) dias contados da data de sua
ocorrência. (Incluído pela Portaria Normativa nº 12, de 06 de
junho de 2011).
Nessa ótica, a Portaria n. 463/2010, que estabeleceu o prazo
final de 30 de novembro de 2014 para solicitação no sistema
eletrônico do aditamento do contrato referente semestre
2014.2, salienta, em seu artigo 2º, que:

Art. 2º – Os impedimentos à realização dos aditamentos de


que trata esta Portaria, decorrentes de óbices operacionais não
motivados pelo estudante financiado serão avaliados por este
agente operador do FIES nos termos do art. 25 da Portaria
Normativa MEC n. 1, de 22 de janeiro de 2010.
Ou seja, a própria regulamentação normativa da matéria, ao
passo que admite a possibilidade da existência de erros e
óbices operacionais à realização dos aditamentos, admite a
prorrogação do prazo originariamente estipulado, a fim de não
prejudicar os

alunos financiados, desde que estes não tenham dado causa a


não-realização, como foi o caso da demandante.

A respeito da não realização do aditamento, já resta


evidenciado que a demandante tentou realizá-lo sem sucesso
por inúmeras vezes, conforme comprova os “printscreen” das
telas no Sistema não deixando dúvidas acerca das diligências
da demandante no sentido de realizar seu aditamento,
diligências essas, inclusive, que foram realizadas através de
telefonemas e abertura de demandas no site do FNDE, ainda
no prazo do aditamento de 2014.2 e também nos seguintes, ou
seja, não cabe de forma alguma qualquer tese que alegue tipo
de lapso ou falta de interesse da demandante.

3.5. Da jurisprudência dos Tribunais Pátrios

Os tribunais pátrios, notadamente o Tribunal Regional Federal


da 5ª Região, já tiveram oportunidade de debruçar-se sobre
casos semelhantes, reconhecendo que os alunos não podem ser
prejudicados por erros ou óbices operacionais do sistema
eletrônico utilizado para confirmação do aditamento dos
contratos. Neste sentido, seguem recentíssimas decisões:

ADMINISTRATIVO. ENSINO SUPERIOR. MANDADO DE


SEGURANÇA. UNIVERSIDADE. PROGRAMA DE
FINANCIAMENTO ESTUDANTIL (FIES). FALHAS NO
SISTEMA INFORMATIZADO. MATRÍCULA.
POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. I.
Hipótese em que a negativa de efetivação de matrícula por
razões falhas no sistema informatizado do próprio FIES se
constitui em ato atentatório ao princípio da razoabilidade -
notadamente tendo em vista o escopo sócio-educacional
daquele programa, bem como o status de dever do Estado de
que se reveste a educação, expressamente previsto
na Constituição Federal (art. 205). II. Remessa oficial a que se
nega provimento. (REOMS 0012202- 29.2014.4.01.3500 / GO,
Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL KASSIO NUNES
MARQUES, SEXTA TURMA, e-DJF1 p.2943 de 05/12/2014)
ADMINISTRATIVO. ENSINO SUPERIOR. AUSÊNCIA DE
ADITAMENTO DE CONTRATO DE CRÉDITO EDUCATIVO -
FIES,
EM VIRTUDE DE FALHA NO SISTEMA DE INFORMÁTICA
DO FNDE. RENOVAÇÃO DE MATRÍCULA. POSSIBILIDADE.
HONORÁRIOS. MANUTENÇÃO. 1. Apelação interposta pelo
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação -FNDE, em
face da sentença que julgou procedente o pedido da Autora,
autorizando que a mesma permanecesse assistindo às aulas e
realizando provas do semestre regularmente, na Faculdade de
Medicina Nova Esperança -FAMENE, até que o FNDE
regularizasse a sua situação junto ao Sistema Informatizado
do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino
Superior (SISFIES). 2. Caso em que a Autora/Apelada alegou
que estava impossibilitada de formalizar o aditamento ao
contrato de concessão de financiamento de encargos
educacionais, para o período de 01/01 a 31/08/2012, em
virtude de um erro existente no SISFIES mantido pelo FNDE,
segundo lhe informou a Comissão Permanente de Supervisão e
Acompanhamento - CPSA da FAMENE, não obstante a CEF
tenha informado que o contrato estaria regular. 3. O indício de
que a pendência apontada decorre de inconsistência do sistema
do Apelante ganha relevo, na medida em que o FNDE retornou
e-mail à Autora/Apelada, informando que a demanda sobre
o FIES teria sido encaminhada para análise da Diretoria de
Tecnologia da Informação do Ministério da Educação, e as
mesmas telas anexadas à inicial dão conta de que a
transferência do financiamento, referente ao 1º semestre de
2013 estaria disponível. 4. Ademais, a Caixa Econômica
Federal informou que o contrato da Autora/Apelada encontra-
se em perfeita normalidade. 5. Dessa forma, conclui-se que a
ausência de aditamento no contrato de financiamento
estudantil se deu por circunstâncias alheias à vontade da
Autora/Apelada, pelo que não deve ela ser prejudicada. 6.
Quanto aos honorários advocatícios, à luz dos princípios da
ponderação e da razoabilidade, devem ser mantidos no valor
de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais), a serem rateados
entre o FNDE e a FAMENE, tal como consignado na sentença.
7. Apelação e Remessa Necessária improvidas.(TRF-5 - REEX:
65237020124058200, Relator: Desembargador Federal
Geraldo Apoliano, Data de Julgamento: 25/02/2014, Terceira
Turma, Data de Publicação: 11/03/2014) CIVIL E
ADMINISTRATIVO. ENSINO SUPERIOR. RENOVAÇÃO DE
MATRÍCULA. INDEFERIMENTO PELA INSTITUIÇÃO DE
ENSINO SUPERIOR. FALTA DE ADITAMENTO DE
CONTRATO DE CRÉDITO EDUCATIVO-FIES. PROBLEMAS
ORIUNDOS DOS SISTEMA SISFIES. PENDÊNCIAS NÃO
IMPUTÁVEIS À PARTE AUTORA. MORA ACCIPIENDI.
PRECEDENTES DESTE E. TRIBUNAL. APELAÇÃO E
REMESSA OFICIAL IMPROVIDAS. 1. Como regra, nos termos
das cláusulas tipo padronizadas para os contratos de abertura
de crédito para financiamento estudantil (FIES), deve haver o
aditamento semestral do pacto, no período estabelecido pelo
agente operador. 2. Inexistindo previsão de renovação
automática dos contratos, é possível o indeferimento da
continuidade da avença quando a nova matrícula é recusada,
por exemplo, diante do inadimplemento financeiro do aluno. 3.
Nada obstante, atento ao fato de que, muitas vezes, não é o
aluno o responsável pelo entrave no aditamento do contrato,
este e. Tribunal vem flexibilizando o rigor da regra apontada,
permitindo a matrícula em relação a eventos que se
caracterizem como mora accipiendi, como ocorre quando não
são feitos os repasses para a Instituição de Ensino pelo agente
financiador, ou quando, como na hipótese, o sistema de
informática por ele criado (SisFIES) não opera de modo
eficiente, gerando pendências que impedem a continuidade da
avença 4. Apelação e remessa oficial improvidas.(TRF-5 -
REEX: 231820134058502, Relator: Desembargador Federal
Bruno Leonardo Câmara Carrá, Data de Julgamento:
04/02/2014, Quarta Turma, Data de Publicação: 13/02/2014)
No mais, cabe ressaltar que o mesmo problema ocorreu com
diversos alunos, inclusive da mesma turma que a demandante,
que eu tiveram “sorte” do problema ser resolvido através de da
abertura de demandas perante do FNDE ou tiveram que
impetrar mandados de segurança ou ajuizar ações ordinárias
com pedido de tutela antecipada para conseguir realizar seus
aditamentos.

3.6 Do Dano Moral

Em decorrência dos erros no Sistema do Fies a demandante


não realizou seu aditamento e, consequentemente, a instituição
de ensino superior não recebeu seu repasse de verba
correspondente aos semestres de 2014.2 e 2015.1.
Por conta desse incidente, a (FACULDADE) passou a ligar
insistentemente para a demandante informando-a que teria de
arcar com os custos dos semestres já cursados desde 2014.2,
tendo por inúmeras vezes dito que a mesma não poderia se
matricular.

Em um desses incidentes, inclusive, a instituição de ensino


informou que a demandante precisaria realizar a matrícula
pessoalmente, excluindo-a da matrícula “normal” que seria
realizada online, nesta mesma oportunidade orientou a
demandante ou a pagar o débito ou trazer algum comprovante
de ajuizamento de ação judicial, caso contrário não realizaria a
matrícula. Só após a demandante insistir de forma vexatória
que não teria condições de arcar com aqueles custos, que não
poderia ficar sem frequentar as aulas e, ainda, só após
encaminhar a resposta de uma das demanda que abriu no
Sistema do FNDE, que fazia menção a erros no sistema (DOC
15), a Faculdade então liberou sua matrícula.

Resta evidenciar que a demandante continua sendo cobrada


pela Faculdade, mesmo tendo informado que não causou o
problema, tendo, inclusive, por diversas vezes aberto
demandas no sítio eletrônico do FNDE com o auxílio dos
funcionários da instituição.

Como se não bastasse, a Faculdade já informou que caso a


demandante não realize o próximo aditamento sobre hipótese
alguma se matriculará sem pagar os débitos.

Deste modo, a demandante experimentou situação


constrangedora, pelas inúmeras cobranças que vem recebendo;
angustiante, pois a cada cobrança é lembrada que caso não
pague a dívida será obrigada a deixar o curso; tendo sua moral
abalada, porque mesmo abrindo inúmeras demandas no
atendimento do FNDE, nenhuma teve uma resposta
satisfatória que condissesse com os fatos que expunha, se
tratando de meras respostas automáticas que não
consideravam o enorme problema pelo qual a demandante
vinha passando por um erro que não deu causa, até porque, a
mesma tentou de todas as formas administrativas possíveis
resolver o problema.

O certo é que até o presente momento, a demandante


permanece sendo cobrada pela instituição de ensino e o FNDE
não tomou nenhum posição acerca dos problemas do sistema.

O FNDE, atualmente, está agindo com manifesta negligência e


evidente descaso com a demandante, pois jamais respondeu de
forma eficaz as demandas abertas.

Sua conduta, sem dúvida, causou enormes danos à


demandante tanto no constrangimento que é ser cobrada
frequentemente ao longo de 18 (dezoito) meses, quanto a
angustia que é tentar resolver uma situação que pode acarretar
na perda de seu curso que, inclusive, já está no final.

Desta forma, não tendo o FNDE buscado resolver os óbices do


Sistema para que a demandante pudesse realizar seu
aditamento, não pode a autarquia se eximir da
responsabilidade pela reparação do dano causado, pelo qual
responde. Neste sentido, a Constituição Federal de 1988, em
seu art. 5º, inciso X, assegura o direito à indenização pelo dano
moral decorrente de violação à intimidade, à vida privada, à
honra e à imagem das pessoas.
Nessa esteira, resta evidenciado que a autarquia demandada,
ao cometer ato negligente, afrontou confessada e
conscientemente o texto constitucional acima transcrito, bem
como a (faculdade), por realizar cobrança de maneira vexatória
seja pessoalmente ou pelos inúmeros telefonemas que fazia
quase sempre para a demandante, sempre alertando a
possibilidade da não realização da matrícula, devendo, por
isso, ambas serem condenadas à respectiva indenização pelo
dano moral sofrido pela demandante.
A demandante foi sujeitada a aguardar indefinidamente para
ver regularizada sua situação e, consequentemente, para
utilizar o financiamento que contratou, ficando impedida de
regularizar sua situação financeira perante a instituição de
ensino superior e sendo cobrada como se inadimplente fosse.

Diante do narrado, fica claramente demonstrado o absurdo


descaso e negligência por parte das demandadas, que
permaneceram inertes mesmo diante das comprovações que a
demandante em nada contribuiu para a não realização dos
aditamentos.

A única conclusão a que se pode chegar é a de que a


reparabilidade do dano moral puro não mais se questiona no
direito brasileiro, porquanto uma série de dispositivos,
constitucionais e infraconstitucionais, garantem sua tutela
legal.

Eis o teor dos seus artigos 186 e 927:


Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Vale destacar o entendimento da sentença proferida na


segunda Vara Federal de Canoas-RS (Processo nº 5002268-
06.2014.4.04.7112):

“(...) Como disse, a situação gerada impõe ao estudante a


angústia que deve ser reparada. Ainda, isso não é caso isolado,
e vem se repetindo periodicamente. Logo, a indenização
pleiteada, além de vir a compensar o dano causado, visa a
reprimir os erros administrativos. Porém, não deve ela ser
elevada, pois, ainda que tenha havido o aludido e presumido
dano, não é tamanho a ponto de gerar vultosa quantia. Dessa
forma, fixo, a título de indenização por danos morais, o valor
de R$ 8.000,00 (oito mil reais) a ser pago pelo FNDE em prol
da Parte Autora.”

Eis a acepção de dano moral na jurisprudência do TRF 5ª


Região:

ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. FIES. CEF.


CONTRATO DE FINANCIAMENTO ESTUDANTIL.
CLAUSULA ILEGAL. ANULAÇÃO. RESTABELECIMENTO DO
CONTRATO. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. - É da
competência, tão-só, do Ministério da Educação e Cultura a
edição de normas regulamentares sobre os casos de
encerramento do contrato e de fixação de exigências de
desempenho acadêmico, para manutenção do financiamento
estudantil criado pela Lei
nº 10.260/2001. - A CEF, em substituição ao ente público, na
qualidade de operadora e administradora dos ativos e passivos
do FIES, não pode fixar condições ao estudante-contratado
quando a lei não as prevê, em respeito a um dos princípios
norteadores da Administração Pública, qual seja, o da
legalidade, consoante preconiza o art. 37 da Constituição
Federal. - É nula, portanto, a cláusula constante do contrato de
financiamento, na qual se estabeleça condição não prevista na
lei de regência, devendo a autora ser readmitida no
mencionado programa de financiamento estudantil. - O dano
moral se encontra devidamente caracterizado, na medida em
que, com o cancelamento ilegal do contrato de financiamento,
ficou a autora praticamente impossibilitada de dar
continuidade aos seus estudos, por falta de condições
financeiras para efetuar o pagamento das mensalidades do
curso em que se achava matriculada. - Apelação provida.(AC
200781000003866, Desembargador Federal Lazaro
Guimarães, TRF5 - Quarta Turma, DJ - Data::16/06/2008 -
Página::301 - Nº::113.)
Diante do exposto, requer a condenação das demandadas no
pagamento da quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título
dos danos morais sofridos pela demandante.

4. DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

De acordo com o artigo 273, CPC, temos que:


Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar,
total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido
inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da
verossimilhança da alegação e:

I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil


reparação;

(...) § 7o Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer


providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando
presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida
cautelar em caráter incidental do processo ajuizado.

A verossimilhança do direito está consubstanciada na


comprovação de que a demandante não conseguiu efetuar a
confirmação dos aditamentos no sistema eletrônico do FNDE
em razão de falhas técnicas, as quais foram devidamente
registradas mediante “print screen” das telas do sítio eletrônico
do Ministério da Educação em anexo. Tais falhas, aliás, além
de expressamente reconhecidas pela instituição de ensino,
foram amplamente divulgadas em todo país (DOC 16).

Noutra banda, o risco de ineficácia da medida é gritante, haja


vista que, em face do não-aditamento do financiamento pela
terceira vez consecutiva, o Fies da demandante será
considerado cancelado e para realizar a matrícula do próximo
semestre terá que pagar a quantia elevada de R$XXX,
correspondente aos de semestres de 2014.2, 2015.1 e 2015.2
(aditamento atual), obrigando a demandante a abandonar o
curso, pois não dispõe dessa quantia.
Tal exigência cria obstáculo intransponível à permanência no
curso e, por conseguinte, a conclusão da graduação, pois além
de pagar a quantia de R$XXX, teria ainda de arcar com uma
mensalidade no valor de R$XXX valor da mensalmente atual.

De outro giro, a tutela específica da obrigação de fazer ou de


não fazer tem previsão no art. 461, do CPC, vejamos:
Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação ou, se procedente o pedido,
determinará providências que assegurem o resultado prático
equivalente ao adimplemento.

Sendo assim, presentes os requisitos legais necessários à


obtenção de medida liminar de antecipação dos efeitos práticos
da tutela, requer:

a) Que seja deferida, inaudita altera pars, medida liminar, no


sentido de antecipar os efeitos da tutela e determinar ao FNDE
que proceda, no prazo de 48h (quarenta e oito horas), à
reabertura do sistema eletrônico necessário ao aditamento do
contrato do FIES da demandante referente ao período de
2014.2 e 2015.1, para que, após realizar os aditamentos citados
possa realizar o aditamento referente ao semestre de 2015.2,
cujo prazo de encerra em 30 de novembro de 2015 (DOC.), sob
pena de multa diária no importe de R$ 1.000,00 (mil reais);
b) Que seja deferida, inaudita altera pars, medida liminar, no
sentido de que a (FACULDADE) se abstenha de negar a
matrícula a demandante e de exigir o pagamento do valor dos
semestres não aditados até decisão final desse Juízo, sob pena
de multa diária no importe de R$ 1.000,00 (mil reais);

5. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, presentes os requisitos legais necessários à


obtenção da medida liminar de antecipação de efeitos da
tutela, REQUER:

a) O deferimento dos benefícios da justiça gratuita;

b) Que seja deferida, inaudita altera pars, medida liminar, no


sentido de antecipar os efeitos da tutela e determinar ao FNDE
que proceda, no prazo de 48h (quarenta e oito horas), à
reabertura do sistema eletrônico necessário ao aditamento do
contrato do FIES da demandante referente ao período de
2014.2 e 2015.1, para que, após realizar os aditamentos citados
possa realizar o aditamento referente ao semestre de 2015.2,
cujo prazo de encerra em 30 de novembro de 2015 (DOC.), sob
pena de multa diária no importe de R$ 1.000,00 (mil reais);
c) Que seja deferida, inaudita altera pars, medida liminar, no
sentido de que a (FACULDADE) se abstenha de negar a
matrícula a demandante e de exigir o pagamento do valor dos
semestres não aditados até decisão final desse Juízo, sob pena
de multa diária no importe de R$ 1.000,00 (mil reais);

d) Após, sejam citados os demandados, na forma da Lei;

e) Quanto ao mérito, requer a confirmação da medida liminar,


julgando procedente a demanda e tornando definitiva a tutela
antecipada no sentido de reabertura do sistema para realização
dos aditamentos de 2014.2 e 2015.1, para que a demandante
possa realizar o aditamento de 2015.2 que se encerra em 30 de
novembro de 2015 (DOC 17), e a efetiva matrícula do semestre
de 2016.1.
f) Que seja deferido o pedido de danos morais no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais);

g) Que as demandadas sejam condenadas ao pagamento de


honorários advocatícios sucumbenciais no montante de 20%
sobre o valor da causa.

Protesta, ademais, pela produção de todas as provas


admissíveis em Direito, notadamente a juntada de novos
documentos, prova pericial, depoimento pessoal e oitiva de
testemunhas.

Dá-se à causa o valor de: R$ XXX, correspondente aos 18


(dezoito) meses de mensalidade em aberto mais o valor do
dano moral.

Nestes termos.

Pede deferimento.

Recife, de novembro de 2015.

Decisão
RECURSO ESPECIAL Nº 1.572.875 - PE (2015/0305718-9)
RELATOR : MINISTRO GURGEL DE FARIA RECORRENTE :
FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA
EDUCAÇÃO RECORRIDO : JAKELINE SANTOS ANGELO DA
SILVA ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
DECISÃO Trata-se de recurso especial interposto pelo FUNDO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO, com
fulcro na alínea a do permissivo constitucional, contra acórdão
do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, assim ementado
(e-STJ fl. 201): ADMINISTRATIVO. FIES. ADITAMENTO DE
RENOVAÇÃO SEMESTRAL DE FINANCIAMENTO.
PORTARIA NORMATIVA 365/2014. PRORROGAÇÃO.
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA CONFIRMADA. 1. Cuida-se
de apelação interposta pelo FNDE contra sentença que
determinou a adoção das providências necessárias à
regularização e conclusão de aditamento de renovação de
contrato do FIES da autora, por considerar que a falta de tal
aditamento não deve ser atribuída exclusivamente à aluna. 2.
Em seu recurso, o FNDE sustenta que competia à interessada
comparecer ao agente financeiro para formalização do
aditamento semestral do contrato, sendo que sua ausência
implicou o cancelamento automático das solicitações
anteriores, conforme normas aplicáveis à espécie. 3. Edição da
Portaria Normativa nº 365/2014, que prorrogou os prazos para
regularização dos aditamentos em questão, de forma que
administrativamente foi dado o devido encaminhamento ao
aditamento de renovação contratual em tela, seguindo-se no
mesmo rumo do comando sentencial que, portanto, não
merece reforma. 4. Entretanto, considerando-se evidenciado
que, embora não integralmente responsável pela falta de
regular aditamento ao indigitado contrato de financiamento,
não se pode elidir a participação da autora na falha verificada,
descabe imputar-se ao FNDE condenação aos honorários
advocatícios da Caixa, que foi excluída da lide por ser parte
ilegítima. 5. PARCIAL PROVIMENTO ao recurso do FNDE,
apenas para excluir sua condenação em honorários
advocatícios, que devem ser imputados à parte autora -
beneficiária, todavia, da gratuidade de justiça (Lei 1050/60).
Os embargos de declaração opostos foram rejeitados. Nas suas
razões, a parte recorrente aponta violação dos arts. 535, II, do
CPC/1973 e 3º, I, da Lei n. 10.260/2001. Alega,
preliminarmente, que houve negativa de prestação
jurisdicional. Sustenta, em síntese, que a estudante não
formalizou tempestivamente o termo de renovação, razão pela
qual foram canceladas as solicitações de aditamento, conforme
expressamente previsto no contrato de financiamento.
Contrarrazões apresentadas. Passo a decidir. Conforme
estabelecido pelo Plenário do STJ, "aos recursos interpostos
com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas
até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de
admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações
dadas até então pela jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça" (Enunciado Administrativo n. 2). Isso considerado, é
deficiente a fundamentação do recurso especial em que se
aponta, genericamente, ofensa ao art. 535 do Código de
Processo Civil/1973, sem a indicação clara e precisa do vício
contido no acórdão acoimado, atraindo, nesse ponto, a
aplicação da Súmula 284 do STF. A propósito, destaco
precedentes: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. ICMS.
IMPORTAÇÃO. NÃO INCIDÊNCIA. ARRENDAMENTO
MERCANTIL. INEXISTÊNCIA DE CIRCULAÇÃO DE
MERCADORIAS. VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVO
CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME NO
RECURSO ESPECIAL. ANÁLISE DE LEI LOCAL. SÚMULA
280/STF. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. DEFICIÊNCIA
NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF. ALÍNEA C. NÃO
DEMONSTRAÇÃO DA DIVERGÊNCIA. 1. [...] 3. Não se
conhece do Recurso Especial em relação à ofensa ao
art. 535 do CPC quando a parte não aponta, de forma clara, o
vício em que teria incorrido o acórdão impugnado. Aplicação,
por analogia, da Súmula 284/STF. 4. É inadmissível Recurso
Especial quanto a questão inapreciada pelo Tribunal de origem
(arts. 2º, § 1º, I, 4º, I, 12, IX, da Lei 87/1996), a despeito da
oposição de Embargos Declaratórios. Incidência da Súmula
211/STJ. [...] 6. Agravo Regimental não provido. (AgRg no
AREsp 779.123/BA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, DJe 05/02/2016). PROCESSUAL CIVIL E
ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO
EM RECURSO ESPECIAL. FORNECIMENTO DE ÁGUA.
ALEGAÇÃO GENÉRICA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC.
DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF.
COBRANÇA POR ESTIMATIVA. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA 83/STJ. AFERIÇÃO ACERCA DA EXISTÊNCIA DE
HIDRÔMETRO. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA. SÚMULA 7/STJ. SUSPENSÃO DO
FORNECIMENTO DE ÁGUA. DÍVIDAS PRETÉRITAS.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 83/STJ. 1. É deficiente a
fundamentação do recurso especial em que a alegação de
ofensa ao art. 535 do CPC se faz de forma genérica, sem a
demonstração exata dos pontos pelos quais o acórdão se fez
omisso, contraditório ou obscuro. Aplica-se, na hipótese, o
óbice da Súmula 284 do STF. [...] 5. Agravo regimental a que se
nega provimento. (AgRg no AREsp 391.884/RJ, Rel. Ministro
SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe 03/09/2015). No
tocante à questão de fundo, extrai-se que o acórdão recorrido,
reportando-se à sentença, reconheceu o direito ao aditamento
do contrato de financiamento estudantil, sob os seguintes
fundamentos (e-STJ fl. 200): Deve ser mantida a sentença que
assegurou à autora o direito à renovação de contrato de FIES,
dado que o próprio recorrente admitiu, em seu apelo, a edição
de Portaria Normativa que prorrogou os prazos para
regularização dos aditamentos em questão, como se destaca in
verbis: "Contudo, em razão da recente Portaria Normativa nº
365, de 28 de agosto de 2014, que prorrogou os prazos para a
regularização dos aditamentos de renovação semestral do
financiamento, 172013 ao 172014, foi possível a estudante
validar o aditamento de renovação para o 1o semestre de 2013,
o qual encontra-se sob o staíus de"enviada ao banco", o que
permitira a estudante comparecer ao Agente Financeiro, após o
recebimento dos arquivos eletrônicos pelo Agente Financeiro."
De se entender, portanto, que administrativamente foi dado o
devido encaminhamento ao aditamento de renovação
contratual em tela, seguindo-se no mesmo rumo do comando
sentenciai que, portanto, não merece reforma. Ve-se, portanto,
que a análise da alegada violação do art. 3º, I, da Lei
n. 10.260/2001 passa, necessariamente, pelo exame da
Portaria Normativa nº 365 de 2014, o que não é possível por
meio da via eleita, porquanto tais atos normativos não se
enquadram no conceito de tratado ou lei federal de que cuida o
artigo 105, III, a, da Constituição Federal de 1988. Nesse
sentido: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO
INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
FERTILIZAÇÃO IN VITRO. DOAÇÃO DE ÓVULOS. ALEGADA
ILEGITIMIDADE ATIVA. FALTA DE IMPUGNAÇÃO, NO
RECURSO ESPECIAL, DE FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO
COMBATIDO, SUFICIENTE PARA A SUA MANUTENÇÃO.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 283/STF. TEORIA DA CAUSA
MADURA. CONTROVÉRSIA RESOLVIDA, PELO TRIBUNAL
DE ORIGEM, À LUZ DAS PROVAS DOS AUTOS.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO, NA VIA ESPECIAL.
SÚMULA 7/STJ. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO ART. 1.565, §
2º, DO CÓDIGO CIVIL. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF.
CONTROVÉRSIA QUE EXIGE ANÁLISE DE RESOLUÇÃO DO
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. ATO NORMATIVO
NÃO INSERIDO NO CONCEITO DE LEI FEDERAL.
ACÓRDÃO RECORRIDO COM BASE EM FUNDAMENTOS
CONSTITUCIONAL E INFRACONSTITUCIONAL. NÃO
INTERPOSIÇÃO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
SÚMULA 126/STJ. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO. [...] VII.
Na forma da jurisprudência, "o apelo nobre não constitui via
adequada para análise de ofensa a resoluções, portarias ou
instruções normativas, por não estarem tais atos normativos
compreendidos na expressão 'lei federal', constante da alínea
'a' do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal" (STJ,
REsp 1.613.147/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, DJe de 13/09/2016). [...] IX. Agravo
interno improvido. (AgInt no AREsp 1042172/SP, Rel. Ministra
ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em
21/03/2018, DJe 27/03/2018) Igualmente, não há como
analisar as disposições previstas no contrato de financiamento
estudantil entabulado por meio da via eleita, tendo em vista a
incidência da Súmula 5 do STJ, in verbis: "A simples
interpretação de cláusula contratual não enseja recurso
especial". Nessa linha de raciocínio: PROCESSUAL CIVIL.
ADMINISTRATIVO. CONTRATO DE FINANCIAMENTO
ESTUDANTIL. FIADOR. CLÁUSULA DE SOLIDARIEDADE.
BENEFÍCIO DE ORDEM. PRETENSÃO DE REAPRECIAÇÃO
DE MATÉRIA FÁTICA E CLÁUSULA CONTRATUAL.
SÚMULAS 5 E 7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO. 1. Recurso especial no qual se questiona se a
cláusula geral de ratificação de contrato poderia contemplar
renúncia expressa ao benefício de ordem. 2. O acórdão
recorrido consignou que a recorrente, ora agravante, ao assinar
o contrato de aditamento se obrigou solidariamente pelas
dívidas da devedora, nos termos do Contrato de Abertura de
Crédito para Financiamento Estudantil. Assim, modificar esse
entendimento demandaria a análise das cláusulas contratuais e
a revisão do conjunto probatório dos autos, o que esbarra nos
óbices das Súmulas 5 e 7 do STJ. Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1293973/PR, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/11/2014, DJe
14/11/2014) Ante o exposto, com base no art. 255, § 4º, I, do
RISTJ, NÃO CONHEÇO do recurso especial. Sem arbitramento
de honorários sucumbenciais recursais (art. 85, § 11,
do CPC/2015), em razão do disposto no Enunciado n. 7 do STJ.
Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 19 de junho de 2018.
MINISTRO GURGEL DE FARIA Relator

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DANOS MORAIS. RENOVAÇÃO DE CONTRATO
ESTUDANTIL. FIES. NEXO CAUSAL E ABALO EMOCIONAL
CARACTERIZADOS. 1. A presente ação foi ajuizada com vistas
à renovação de contrato de financiamento estudantil para o 2º
semestre de 2014, com o pagamento, pelo FNDE, das
mensalidades em atraso e da taxa de matrícula, além da
condenação dos réus ao pagamento de danos morais, causados
pelos dissabores que enfrentou. 2. Para possibilitar a
continuidade de seu curso, foi compelida a pagar a taxa de
matrícula e as mensalidades em atraso. 3. A indenização por
dano moral encontra fundamento constitucional, no art. 5º,
inc. V, e no § 6º do artigo 37, ambos da Constituição Federal.
Dispõe o Código Civil, sobre o tema, nos artigos 186 e 927. 4. O
ressarcimento do dano funda-se na existência de prejuízo ao
agente, que no caso é apontado na lesividade praticada pelo
FNDE na negativa de renovação do contrato de financiamento
estudantil da autora, que, notadamente, resulta em firme
prejuízo causado por atingir os direitos assegurados ao
indivíduo como ser humano. Além de que a indenização moral
revela-se necessária por se tratar de compensação pela
injustiça provocada. 5. Constatada a ofensa à dignidade
humana, justifica-se a condenação em indenização por danos
morais, que acaba por se perfazer mediante recomposição, ou
seja, através da fixação de valor em pecúnia, forma de se tentar
minorar a contrariedade vivenciada, cujo montante há de ser
compatível à extensão do dano causado, ao abalo psíquico
suportado, sem dar ensejo ao enriquecimento sem causa, bem
como ostentar feitio de reprimenda ao responsável pela
ocorrência fática, para que em tal conduta não venha a
reincidir, devendo ser de igual modo ponderada a situação
econômica de ambas as partes. 6. Não basta, para a
configuração dos danos morais, o aborrecimento ordinário,
diuturnamente suportado por todas as pessoas. Impõe-se que o
sofrimento infligido à vítima seja de tal forma grave, invulgar,
justifique a obrigação de indenizar do causador do dano e lhe
fira, intensamente, qualquer direito da personalidade. 7. Tendo
em vista o histórico dos dissabores experimentados pela
autora, que, inclusive, teve que pagar mensalidades para evitar
a descontinuidade de seu curso, sofrendo incertezas acerca de
futuras renovações do contrato de financiamento estudantil,
resta acertada a indenização imposta pela sentença. 8.
Consoante entendimento assente na doutrina e jurisprudência
pátria deve o importe arbitrado observar os critérios de
razoabilidade e proporcionalidade (STJ, AGAREsp 313672). A
indenização fixada pela instância a quo, a saber, no importe de
R$ 10.000,00, atende aos parâmetros da razoabilidade e
proporcionalidade. 9. No tocante aos juros moratórios e
atualização monetária em específico, considerando que ainda
não houve pronunciamento expresso do Egrégio Supremo
Tribunal Federal quanto à constitucionalidade ou não do artigo
1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº
11.960 /09, entendo pela aplicação dos critérios insculpidos no
Manual de Orientação para os Cálculos na Justiça Federal, em
vigor por ocasião do julgado, com as modificações introduzidas
pela Resolução 267/2013-CJF. 10. Assiste parcial razão ao
apelante quanto aos juros moratórios, incidente o art. 1º-F da
Lei n. 9.494, de 10 de setembro de 1997, com a redação dada
pela Lei n. 11.960, de 29 de junho de 2009, combinado com a
Lei n. 8.177, de 1º de março de 1991, com alterações da MP n.
567, de 03 de maio de 2012, convertida na Lei n. 12.703, de 07
de agosto de 2012. 11. Recurso parcialmente provido.
(TRF-3 - ApCiv: 00097884920144036104 SP, Relator:
DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO SARAIVA, Data de
Julgamento: 13/06/2019, QUARTA TURMA, Data de
Publicação: e-DJF3 Judicial 1 DATA:17/07/2019)

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