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AO JUÍZO DA 9° VARA CÍVEL DA COMARCA DE CUIABÁ – MT.

AUTOS Nº: 1000048-69.2019.8.11.0041


RECORRENTE: UNIC EDUCACIONAL LTDA
RECORRIDA: MONICA MUNHOZ DE OLIVEIRA

IUNI UNIC EDUCACIONAL LTDA, já qualificada nos autos em epígrafe, por


seus advogados que esta subscrevem, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, ante a r. sentença publicada no ID nº 96492888, interpor, tempestivamente, o
presente

RECURSO DE APELAÇÃO

com supedâneo nos artigos 1.009 e ss do Código de Processo Civil, postulando a reforma da
r. sentença proferida nos referidos autos, pelas razões a seguir fundamentadas. Requer,
outrossim, seja o presente recurso admitido e recebido em seus jurídicos e legais efeitos,
com a respectiva guia e comprovante de recolhimento do preparo recursal, determinando,
assim, sejam remetidos os autos ao e. Tribunal de Justiça de Mato Grosso para a devida
apreciação e julgamento, na forma e para os fins de direito.

Nestes termos, pede deferimento.


Cuiabá – MT, 26 de outubro de 2022.

HARLY KAROLINY FERREIRA DE MELO MIRANDA


OAB/MT 31.263

KAMILA MICHIKO TEISCHMANN


OAB/MT 16.962

Av. Historiador Rubens de Mendonça, 1856 – cj. 702/705, Ed. Cuiabá Office Tower – Cuiabá/MT – CEP 78050-000 - Fone: (65) 3616-3000 –
Fax (65) 3616-3009 – Email: mstabile@terra.com.br – spsadvocacia@spsadvocacia.com.br
RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL

ORIGEM: 9ª Vara Cível de Cuiabá-MT


Numeração Única: 1000048-69.2019.8.11.0041
Apelante: UNIC EDUCACIONAL LTDA
Apelada: MONICA MUNHOZ DE OLIVEIRA

RAZÕES DA APELAÇÃO CÍVEL

E. Tribunal de Justiça,
D. Desembargadores,
N. Relator(a),

Na oportunidade em que vos cumprimenta, vem a recorrente apresentar os


motivos pelos quais a sentença deve ser reformada in totum, vez que esta restou
equivocada quando determinou que a Universidade restituísse a autora o percentual de
25% das mensalidades correspondentes aos semestres do curso de graduação cobertos
pelo FIES, estando a decisão contrária à realidade fática da lide, à legislação, doutrina e
melhor jurisprudência sobre o tema, conforme se passará a delinear.

Registra-se que o recurso é tempestivo e que o preparo fora devidamente


recolhido, consoante se infere da guia e comprovante de pagamento, anexos.

I. SÍNTESE DOS AUTOS E DA SENTENÇA RECORRIDA.

Ajuizada ação por restituição de quantia paga c/c com reparação de danos
materiais e morais c/c ação de repetição de indébito pela aluna sob a alegação da existência
de desconto de 25% do valor da mensalidade para alunos não beneficiados pelo FIES, fora
pleiteada a restituição em dobro do valor que pagou a maior referente ao desconto de 25%
que não fora concedido, ou não sendo este concedido que seja determinada a restituição
simples, bem como o pagamento de indenização a título de danos morais no valor de 40
salários mínimos.

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Triangularizada a relação processual, com a apresentação da defesa e
respectiva impugnação, foi considerado saneado o processo, dispensando-se a produção de
outras provas.

Imposto o julgamento antecipado da lide, fora proferida sentença, cujos


trechos se colaciona abaixo:

Verifica-se que a parte autora colacionou diversos documentos que


comprovam a existência da citada bolsa incentivo, além disso, é de
conhecimento desse magistrado a existência do citado desconto e
que em caso semelhante a ré afirmou que a concessão do benefício
de 25% (vinte e cinco por cento) era para aqueles alunos que
ingressaram no campus a partir do ano de 2016, conforme julgados
na Décima Vara Cível nos processos de números 1043896-
43.2019.8.11.0041, 1001944-50.2019.8.11.0041, 1003726-
92.2019.8.11.0041, etc.
Também não são poucas as notícias vinculadas acerca da
irregularidade praticada pelas instituições de ensino, ou seja,
desigualdade no tratamento entre os alunos, em contrapartida há
medidas tomadas pelo MEC para que não haja tal discriminação,
confira-se (Portaria MEC nº 209/2018): “Art. 33. São passíveis de
financiamento estudantil os encargos educacionais cobrados dos
estudantes pelas IES mantidas pelas entidades com adesão ao Fies e
que atuem na modalidade PFies, observados os limites máximos e
mínimos de financiamento estabelecidos em normativo próprio, nos
termos do art. 4º-B e 15-E da Lei nº 10.260, de 2001.
Não obstante as alegações trazidas na peça contestatória, caberia a
parte requerida, ao menos, apresentar documentos acerca da
alegada distinção/autonomia das unidades, e comprovar por perícia
contábil que nas mensalidades dos alunos pagantes integrantes da
turma da parte autora, os quais não eram beneficiários do FIES, não
havia a incidência do discutido benefício, ônus do qual não se
desincumbiu (art. 373, II, CPC).
Também não prospera a alegação da ré de que o desconto não se
aplica, já que o pagamento não ocorre antecipadamente, seja pelos
prazos de aditamento do FIES ou por receber títulos da dívida
pública da União, pois, vejamos o que dispõe a portaria normativa do
MEC nº 209/2018: “Art. 34 - § 2º A incidência de desconto de
pontualidade sobre a parcela financiada do encargo educacional

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independe da data do repasse dos valores correspondentes às
mantenedoras das IES”.
Assim, não há justificativa da ré em não conceder o desconto da bolsa
incentivo à parte autora, tão somente por ser beneficiária do FIES,
restando demonstrada a falha na prestação do serviço educacional.
[...] Posto isso, com fundamento no art. 487, I, do NCPC, JULGO
PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos deduzidos na inicial por
Bruno Gomes Fernandes em desfavor do IUNI UNIC Educacional
Ltda., para condenar a parte requerida a restituir a parte autora, o
percentual de 25% (vinte e cinco por cento) das mensalidades
correspondentes aos semestres do curso de graduação cobertos pelo
FIES, corrigidos monetariamente pelo INPC e acrescido de juros de
mora de 1% ao mês, ambos a partir da data do recebimento dos
valores pela ré do FIES, que deverá ser apurado em sede de
liquidação de sentença. Considerando a sucumbência recíproca,
condeno as partes igualmente (50% para cada) ao pagamento das
custas, despesas processuais e honorários advocatícios, este que
arbitro 10% sobre o valor da condenação, nos termos do art. 85, § 2º,
do Novo Código de Processo Civil, contudo, fica a exigibilidade
suspensa quanto a cota da parte autora, por ser beneficiária da
gratuidade da justiça. Transitada em julgado, arquive-se o processo,
após as baixas e anotações pertinentes. Publique-se.

Excelências, considerando os argumentos trazidos em sede de contestação


acerca da inexistência do desconto e da necessidade de observação das condições
particulares de cada acadêmico, curso, unidade e período, ademais dos repasses não
antecipados do FIES, bem como pela utilização de prova emprestada sem o crivo do
contraditório e ampla defesa, resta evidente que subsistem vícios na sentença e erros no
julgamento dos fatos.

Ainda, vislumbra-se que, apesar de tratar de relação contratual, foram


fixados juros a partir do evento danoso, ao invés de seguir a inteligência do art. 405 (juros a
partir da citação), do CC/02, com a incorreta aplicação da súmula 362 do STJ.

Entretanto, a referida decisão se deu sem considerar a data limite para o


pagamento, isto é, se este era um dos critérios e, além disso, quais eram as normas
estabelecidas para que fosse concedido o desconto aduzido para que somente após isso
fosse analisado se a autora se enquadrava nos fundamentos ou não.

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Por essas razões, revela-se necessária a reforma da sentença, julgando
totalmente improcedentes os pedidos da parte autora referentes à restituição do
percentual de 25% do valor das semestralidades da aluna e/ou acolhendo as preliminares
a seguir.

II. DA PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA PARA


RESTITUIÇÃO DE VALORES.

Primeiramente, antes de adentrar ao mérito da demanda, importante


registrar que a parte autora sequer detém legitimidade ativa para postular, para si,
restituição de qualquer valor eventualmente cobrado indevidamente, vez que, tratando- se
de valores decorrentes de contrato de financiamento estudantil (FIES), não cabe ao
estudante a restituição direta de qualquer valor, o qual estaria assim enriquecendo-se
ilicitamente.

Nesse sentido, a Lei nº 10.260/2001, que dispõe sobre o Fundo de


Financiamento ao estudante do Ensino Superior (FIES), assim preconiza expressamente, in
verbis:

Art. 4º São passíveis de financiamento pelo Fies até 100% (cem por
cento) dos encargos educacionais cobrados dos estudantes no âmbito
do Fundo pelas instituições de ensino devidamente cadastradas para
esse fim pelo Ministério da Educação, em contraprestação aos cursos
referidos no art. 1o em que estejam regularmente matriculados,
vedada a cobrança de qualquer valor ou taxa adicional e observado o
disposto no art. 4º-B. (Redação dada pela Lei nº 13.366, de 2016) (...) §
4º Para os efeitos do disposto nesta Lei, os encargos educacionais
referidos no caput deste artigo considerarão todos os descontos
aplicados pela instituição, regulares ou temporários, de caráter
coletivo, conforme regulamento, ou decorrentes de convênios com
instituições públicas ou privadas, incluídos os descontos concedidos
devido ao seu pagamento pontual, respeitada a proporcionalidade da
carga horária. (Redação dada pela Lei nº 13.530, de 2017). § 5º O
descumprimento das obrigações assumidas nos termos de adesão ao
Fies e de participação nos processos seletivos conduzidos pelo
Ministério da Educação sujeita as instituições de ensino às seguintes
penalidades: (Redação dada pela Lei nº 13.366, de 2016) (...) II –

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ressarcimento ao Fies dos encargos educacionais indevidamente
cobrados, conforme o disposto no § 4º deste artigo, bem como dos
custos efetivamente incorridos pelo agente operador e pelos agentes
financeiros na correção dos saldos e fluxos financeiros,
retroativamente à data da infração, sem prejuízo do previsto no inciso
I deste parágrafo; (Redação dada pela Lei nº 13.366, de 2016).

Isso posto, salta aos olhos que a devolução de valor pecuniário conforme
pretendido pela parte autora implica na deformação jurídica do instituto do FIES, inclusive
tolhendo a manifestação de outras partes envolvidas no programa educacional,
notadamente o interesse jurídico de ente público federal (FNDE) e acarretando, ainda, por
corolário lógico, o enriquecimento ilícito do estudante, enquanto parte ilegítima a receber
quaisquer eventuais ressarcimentos por cobranças indevidas.

Nesse sentido é o entendimento nos autos do processo de n. 1006144-


03.2019.8.11.0041, de Junho de 2020:

Com efeito, o pagamento das mensalidades e realizado pela instituicao


financeira, de modo que o estudante deve arcar com o pagamento das
prestacoes em momento posterior em favor do agente operador do
FIES. No caso, em que pese a parte autora questionar o suposto
enriquecimento ilicito da re (o que deve ser pleiteado por quem detem
a legitimidade para a restituicao dos valores), a consequencia de
eventual procedencia do pedido seria o enriquecimento ilicito da
parte autora, eis que receberia determinada quantia em virtude
do "reembolso" de um valor que sequer pagou, uma vez que nao
comprovou neste processo a quitacao do FIES junto ao agente
financeiro. Assim, o autor nao e legitimo para pleitear o
ressarcimento decorrente de eventual desconto que tenha sido
ofertado a outros estudantes. Nesse sentido: " (...) 4. A recorrente
nao possui legitimidade para pretender a restituicao de
R$4.170,00, uma vez que o valor nao foi desembolsado por ela,
mas sim repassado pelo FIES, em favor da instituicao de ensino.
(Acordao n.1017619, 07083526620168070003,
Relator: EDUARDO HENRIQUE ROSAS 3ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais do Distrito Federal, Data de Julgamento: 18/05/2017,
Publicado no DJE: 23/05/2017. Pag.: Sem Pagina Cadastrada.)".
Portanto, nao sendo o autor responsavel imediato pelo pagamento dos

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valores os quais pleiteia a restituicao, acolho a preliminar de
ilegitimidade ativa ad causam.

O que, portanto, notoriamente não se pode admitir. Destarte, é medida que se


impõe o acolhimento da presente preliminar para reconhecer a ilegitimidade ativa da parte
autora para postular o recebimento de ressarcimento de valores de interesse da União, sob
pena de se coadunar com o desvirtuamento do instituto do financiamento estudantil,
cerceamento da manifestação do ente público federal interessado (FNDE) e, ainda,
locupletamento ilícito do autor.

Pelo que, requer, desde já, a extinção do feito sem resolução de mérito, com
fulcro no art. 330, incisos II e III, do Código de Processo Civil, porquanto manifestamente
ilegítima a parte autora, carecendo inclusive de interesse processual a justificar o pleito de
restituição de valores à qual não faz jus.

III. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL:


VERBA ORIUNDA DE PROGRAMA DO GOVERNO FEDERAL.

Inicialmente, é preciso observar que o pedido do autor, ora Recorrido, se


refere à devolução de valores atinentes ao Financiamento Estudantil – FIES, programa de
benefício custeado pelo Governo Federal.

A parte autora, ora discente da instituição ré, pleiteia o direito em receber em


moeda corrente valor conferido pelo Fundo Nacional da Educação pelo programa FIES,
dinheiro este de origem Federal, conforme demonstrado anteriormente.

Nesta senda, as verbas aqui requeridas possuem natureza Federal,


incidindo interesse direto da União, in casu, uma vez que a verba pretendida é oriunda
do Governo Federal.

O art. 109, da Constituição Federal prevê que:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa


pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés,
assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidente de
trabalho e as sujeitas à justiça Eleitoral e a Justiça do Trabalho.

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Do mencionado artigo, extrai-se que, cabe à Justiça Federal julgar todas as
ações nas quais incida interesse da União, seja na condição de autora ou ré, como no
presente caso.

Não sem propósito, é de conhecimento geral que os recursos federais,


concedidos pelo FNDE/MEC, culminando na configuração do FIES é de interesse direto da
União, atraindo a competência de esfera federal para apreciar e processar os casos dessa
temática.

Portanto, verifica-se inafastável e indiscutível a competência da Justiça


Federal para o processamento e julgamento da causa, eis que a matéria em discussão
envolve interesse direto da União, conforme explicitado alhures. Ademais, a recorrente,
como entidade educacional privada, apresenta-se como agente do Poder Público, agindo
por delegação federal.

Neste contexto decidiu o SUPREMO TRIBUNAL FEDERA, vejamos:

Demora na expedição de diploma de conclusão de curso superior em


instituição privada de ensino. Competência da Justiça Federal (art.
109, I, da CF). Existência de interesse da União. (...) As instituições de
ensino superior, ainda que privadas, integram o Sistema Federal
de Ensino, nos termos do que determina a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (Lei 9.394/1996). (...) a Faculdade Vizinhança
Vale do Iguaçu integra o Sistema Federal de Educação, patente é a
existência de interesse da União, razão pela qual a competência para
julgar e processar o feito é da Justiça Federal.” (RE 698.440-AgR, rel.
min. Luiz Fux, julgamento em 18-9-2012, Primeira Turma, DJE de 2-
10-2012.).

Este entendimento também é observado consolidado na jurisprudência dos


Tribunais Federais pátrios:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FUNDO DE


FINANCIAMENTO AO ESTUDANTE DO ENSINO SUPERIOR (FIES).
LEGITIMIDADE ATIVA DO MPF E PASSIVA DA UNIÃO. PRESTAÇÃO
DE GARANTIA. COMPROVAÇÃO DE IDONEIDADE CADASTRAL DO
ESTUDANTE E DO FIADOR. LEGALIDADE. 1. O Ministério Público é
parte legítima para defender, por meio de ação civil pública, os

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interesses relacionados ao acesso à educação, direito fundamental
social, indispensável à construção da cidadania. A legitimidade ativa,
in casu, afirma-se não por se tratar de tutela de direitos individuais
homogêneos, mas por se tratar de interesses sociais
constitucionalmente tutelados. Precedente do STJ. 2. A União detém
legitimidade passiva ad causam, ex vi do art. 3º da Lei
10.260/2001, que instituiu o FIES, estabeleceu a competência do
Ministério da Educação, órgão da Administração Pública Federal,
para a sua gestão e a regulamentação do processo seletivo para a
concessão do respectivo financiamento. 3. Segundo jurisprudência
do STJ não há ilegalidade na exigência de comprovação da idoneidade
cadastral do estudante e do respectivo fiador para a celebração de
contrato de financiamento estudantil vinculado ao FIES, conforme
disposto no art. 5º, VII, da Lei 10.260/2001. Precedente: REsp
1.155.684/RN (submetido ao procedimento do art. 543-C do CPC). 4. A
exigência de comprovação de idoneidade cadastral do fiador se
coaduna com a natureza social do programa de financiamento, à
medida que reforça a certeza de que os valores emprestados serão
recebidos e revertidos para o custeio de outros financiamentos,
beneficiando, assim, mais estudantes. A prestação de garantia
fidejussória não implica nenhum ônus financeiro ao estudante que
objetiva o financiamento. 5. Não há que se falar na impossibilidade de
exigência de renda mínima pelo fiador, isso porque a prestação de
garantia pessoal consiste em assumir o cumprimento de obrigação
alheia, caso o devedor não o faça. Para fazê-lo o fiador deve ter
condições financeiras para isso. Caso sua renda seja insuficiente, há
previsão na legislação que trata do FIES permitindo a figura do fiador
solidário (artigo 5º, § 9º). 6. Apelação do Ministério Público Federal
improvida. 7. Apelações da Caixa Econômica Federal e da União
parcialmente providas. Sentença reformada para julgar improcedente
a pretensão do Ministério Público Federal. 8. Prejudicada a remessa
oficial tida por interposta.
(TRF-1 - AC: 7724320054013000 AC 0000772-43.2005.4.01.3000,
Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE
ALMEIDA, Data de Julgamento: 01/07/2013, QUINTA TURMA, Data
de Publicação: e-DJF1 p.104 de 01/08/2013).

ADMINISTRATIVO. CONTRATO DE FINANCIAMENTO ESTUDANTIL.


LEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO FEDERAL. ADITAMENTO.

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MEDIDA PROVISÓRIA 2.094-22/2000. PORTARIA 1.234/MEC. 1. A
União tem interesse processual na lide. A Medida Provisória n.º
2.094-22/2000 estabelece que cabe ao Ministério da Educação a
gestão do FIES, como também determina que deverão ser
mantidos os seus depósitos na conta única do Tesouro Nacional. 2.
A Medida Provisória n.º 2.094-22, de 27 de dezembro de 2000, que
dispõe sobre o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino
Superior, cinge-se a estipular o pagamento trimestral de juros
incidentes sobre o financiamento. 3. A Portaria n.º 1.234 do MEC cria
uma limitação aos direitos da autora, invadindo campo exclusivo de
lei. Assim, a não prorrogação automática do contrato firmado entre as
partes mostra-se ilegal, vez que fundamentada em ato normativo que
exorbita de sua competência. 4. Apelações e remessa oficial
improvidas.
(TRF-4 - AC: 2295 PR 2001.70.04.002295-5, Relator: JAIRO GILBERTO
SCHAFER, Data de Julgamento: 31/10/2007, QUARTA TURMA, Data de
Publicação: D.E. 12/11/2007).

Aliás, a própria TURMA RECURSAL ÚNICA DO ESTADO DE MATO


GROSSO, em análise de caso semelhante, reconheceu a incompetência da Justiça
Estadual para julgamento do feito:

RECURSO CÍVEL INOMINADO ? DEMANDA INDENIZATÓRIA POR


DANOS MORAIS E MATERIAIS ? RESTITUICAO DE VALORES DE
CONTRATO UNIVERSITARIO ? INCOMPETENCIA ABSOLUTA DOS
JUIZADOS ESPECIAIS ? PROCESSO EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DO
MÉRITO ? RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
Fazse necessário reconhecer a incompetência absoluta dos Juizados
Especiais, quando há interesse de ente público federal.
(Recurso inominado n. 006801924.2013.811.0001. Relator:
SEBASTIÃO DE ARRUDA ALMEIDA. Julgamento: 24/03/2015).

Diante de todo exposto, mostra-se necessário o reconhecimento da


incompetência da Justiça Estadual para o processamento e julgamento da demanda,
declinando da competência em favor de uma das Varas da Justiça Federal da Seção
Judiciária de Mato Grosso.

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IV. DA PRESCRIÇÃO – aplicação do artigo 206, §3º, IV e V do
Código Civil:

De mais a mais, é certo que os valores que aponta a incidir desconto remetem
a partir de 2013/1, estando, portanto, prescrita qualquer pretensão relativa aos 02 anos
anteriores ao ajuizamento desta ação, no caso, a contar de Fevereiro de 2019 para trás,
nos termos do artigo 206, §3º, IV e V do C.C, in verbis:

Art. 206. Prescreve:


[...].
§ 3o Em três anos:
[...].
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
V - a pretensão de reparação civil;

O pedido da autora consubstancia-se, justamente, no ressarcimento por


alegado enriquecimento ilícito, pretendendo ainda a reparação civil, em perfeita sintonia
com os incisos supratranscritos.

Deste modo, não há como reconhecer direitos relativos aos períodos


anteriores a Fevereiro de 2019, prescrita está sua pretensão.

V. DOS ESCLARECIMENTOS FÁTICO-PROBATÓRIOS:

a) NOVAS PROVAS JUNTADAS APÓS CONTESTAÇÃO E


APRECIADAS PELO JUÍZO. USO DE PROVA EMPRESTADA PARA FORMULAÇÃO
DA SENTENÇA. CERCEAMENTO DE DEFESA E OFENSA AO CONTRADITÓRIO E
AMPLA DEFESA.

Preliminarmente, é necessário observar que, após contestação apresentada


pela Apelante, a parte autora colacionou aos autos novos documentos, não apresentados
anteriormente, junto a sua impugnação.

Todavia, não fora concedida a oportunidade de manifestação à reclamada,


desde já cabendo indicar a ocorrência do fenômeno da preclusão, tornando-se inaceitável e
não razoável a juntada e a apreciação de documentos após contestação, ainda mais

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quando não demonstrada situação excepcional que os impediu de serem juntados em
momento cabível.

Ademais, infere-se dos novos documentos colacionados que não se tratam de


prova nova, tampouco fato novo, de modo que não se aplica à espécie o art. 435, caput, do
CPC/2015. Igualmente, o parágrafo único do referido artigo também não se adequa ao caso,
uma vez que não há a demonstração do motivo que impediu a juntada do documento no
momento oportuno.

Logo, é evidente que as declarações, assim como os demais documentos


juntados pela parte autora, deveriam ter sido rejeitados e não apreciados para
formação do convencimento do julgador, por serem temerários e desrespeitarem a
preclusão probatória sem justificar a tentativa de juntada tardia, o que não ocorreu.

A validação de tais provas é extremamente temerária e estas apenas trazem


alegações unilaterais que nada comprovam acerca de qualquer postura danosa adotada
pela universidade.

Por outro lado, destaca-se a utilização de prova emprestada para


fundamentação da sentença no que tange à comprovação da concessão de desconto para
alunos que ingressaram a partir do ano de 2016:

Verifica-se que a parte autora colacionou diversos documentos que


comprovam a existência da citada bolsa incentivo, além disso, é de
conhecimento desse magistrado a existência do citado desconto e que
em caso semelhante a ré afirmou que a concessão do benefício de 25%
(vinte e cinco por cento) era para aqueles alunos que ingressaram no
campus a partir do ano de 2016, conforme julgados na Décima Vara
Cível nos processos de números 1043896-43.2019.8.11.0041, 1001944-
50.2019.8.11.0041, 1003726- 92.2019.8.11.0041, etc.

Pois bem, as referidas provas mencionadas na sentença se tratam de provas


emprestadas de processos julgados em anos seguintes a sua propositura.

Outrossim, para restar devidamente esclarecidos os fatos narrados de forma


distorcida pela autora, cumpre informar que os autos das peças emprestadas se referiam à
situação, ano, aluno, curso e demais variáveis diversas da parte autora deste
processo, fato este que já havia sido alertado pela defesa anteriormente.

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Nesse sentido, Arruda Alvim reconhece como requisito para admissão de
prova emprestada o seguinte:

Enfim, é possível afirmar que para a admissão da prova emprestada,


dois são os requisitos: (a) a identidade da relação fática e (b) a
identidade de partes.1

Em igual sentido continua Nelson Nery Júnior:

A condição mais importante para que se dê validade e eficácia à prova


emprestada é a sua sujeição às pessoas dos litigantes, cuja
consequência primordial é a obediência ao contraditório. Vê-se,
portanto, que a prova emprestada do processo realizado entre
terceitos é res inter alios e não produz nenhum efeito para aquelas
partes.2

Novamente, a autora busca comprovar seu direito baseando-se em fatos


alheios à sua realidade fática, reforçando o apontamento feito pela Apelante referente ao
esforço hercúleo do autor em ilustrar situação individual baseada em situações alheias e
sem qualquer vinculação com a sua própria.

De fato, a parte autora não consegue comprovar os fatos de direito que alega,
não cabendo a Reclamada fornecer provas diabólicas e impossíveis (argumento também
esposado em contestação).

A utilização de provas emprestadas, apesar de legal em determinados casos e


situações, deve ser efetuada de forma cautelosa, evitando incorrer em generalizações de
decisões formuladas de acordo com fatos específicos.

Ainda mais em questão que envolve todo o universo de particularidades da


vida acadêmica de um aluno dentro de uma Instituição de Ensino Superior, bem como a
complexidade do Programa de Financiamento Estudantil, é certo que não se deve
fundamentar decisões baseando-se apenas em peças soltas e recortes fáticos apresentados
pela parte autora em favor de suas alegações.

1
ALVIM, Arruda. Prova emprestada. Revista de Processo. Ano36. vol. 202.
dez/2011. Editora Revista dos Tribunais.
2
NERY Júnior, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil
comentado e legislação processual civil extravagante em vigor. 6. ed. São
Paulo: RT, 2002. p. 693.

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É esse o entendimento dos Tribunais no país:

RECURSO INOMINADO. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE


TRÂNSITO. COLISÃO POR TRÁS EM RODOVIA. TEORIA DO CORPO
NEUTRO. INADMISSIBILIDADE DE PROVA EMPRESTADA. CÓPIAS
DE AUTOS OUTROS, DE PROCESSO DE QUE NÃO PARTICIPOU A
AUTORA. PRESUNÇÃO DE CULPA DE QUEM BATE POR TRÁS.
VEROSSIMILHANÇA DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA POLICIAL, TIRADO
AO CALOR DOS FATOS. ÔNUS DA PROVA DO RÉU, DE QUE NÃO SE
DESINCUMBIU. DANOS MATERIAIS DEVIDOS. DANOS MORAIS
INOCORRENTES. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.(Recurso Cível,
Nº 71002533511, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais,
Relator: Fabio Vieira Heerdt, Julgado em: 04-05-2011)

Resta, portanto, integralmente refutada a prova emprestada trazida pela


autora e utilizada como fundamentação da sentença proferida pelo Juízo a quo, devendo ser
esta inadmitida ante o fato de que não provêm de caso onde figuraram ambas as partes,
bem como pelo fato de não se assimilar ao quadro fático do autor deste processo.

b) NÃO COMPROVAÇÃO DA POLÍTICA DE DESCONTOS E DE SUA


APLICABILIDADE. TABELAS UTILIZADAS NA SENTENÇA QUE DIVERGEM DA
REALIDADE ACADÊMICA DA PARTE AUTORA.

Em relação ao primeiro trecho destacado da sentença, denota-se que o


entendimento foi construído baseando-se nas supostas provas da existência de Bolsa
Incentivo, vejamos:

“Verifica-se que a parte autora colacionou diversos documentos que


comprovam a existência da citada bolsa incentivo[...]”

No entanto, as planilhas anexadas aos autos pela autora não comprovam a


aplicação de desconto para a aluna, uma vez que esta foi acadêmica ingressante no ano de
2013/1, no curso de ODONTOLOGIA e:

a) Os documentos acostados ao ID. 21790188 mencionados na decisão


como comprovantes do desconto se refere a unidade, cursos e períodos de ingresso
distintos, vejamos:

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b) Já o documento abaixo também mencionado para fins de comprovação
da existência do desconto à aluna, apesar de se referir à unidade Beira Rio, de forma
expressa destaca que se dá em relação aos alunos ingressantes de 2018/2:

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c) Os documentos de pag. 4 e 5, do ID. 21790188, além de juntados
tardiamente, informam UNIDADES PANTANAL e BARÃO, isto é, diversas da unidade do
curso da Requerente, bem como não possuem qualquer indício de veracidade da sua
proveniência da IES, questionando-se condições e momento de obtenção de referidas
planilhas:

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A autora, reiteradamente, intentou alegar a existência de suposto desconto
de pontualidade, sem, no entanto, fornecer informações básicas sobre a existência e
aplicabilidade deste benefício, tornando as alegações infundadas e desprovidas de
qualquer base sólida de comprovação.

Afirmou que ocorre a concessão de um desconto de 25% sobre o valor da


mensalidade quando pagas em dia, sem ao menos mencionar uma data limite para o
referido pagamento evidenciando a validade vazia de sua alegação.

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Desta forma, questiona-se qual a prova da existência de tal desconto e
quais os critérios para incidência, e ainda, SE EXISTENTES, qual a prova de que a
autora se encaixaria nos critérios?!

Infere-se das alegações contidas na inicial a afirmação da existência de


política de desconto de 25% do valor da mensalidade. Contudo, não traz qualquer
comprovação de tal política. Mesmo porque inexistente. Reitera-se, não há veiculação de
qualquer espécie comprovada.

Quando afirma repetitivamente que o desconto incide para todos os


acadêmicos, sendo a parte autora excluída injustamente de tal desconto, sua
alegação não sai do campo de elucubração, visto que não existe qualquer documento
que comprove tal alegação.

Ora, Excelência, seria muito simples e fácil, para alunos/ex-alunos de uma


Instituição de Ensino Superior alegarem serem merecedores de quaisquer descontos que
surjam ao longo do funcionamento de um Grupo de Ensino, ainda mais por se tratar de um
grupo econômico de grande porte, com diversas unidades autônomas em gestão
organizacional e financeira, motivo pelo qual comum a variação do valor de
mensalidades de uma unidade para outra e terreno fértil para proliferação de ações que
buscam enganar o Judiciário com alegações de falsos descontos e lesões a discentes das
mencionadas universidades.

É de se destacar que, SE existente tal política em outra instituição do


grupo, é evidente que nada tem a ver com a da requerente, já que as Unidades
educacionais são autônomas em gestão organizacional e financeira, motivo pelo
qual, volto a repetir, até o valor das mensalidades variam de uma unidade para a
outra.

Compete à autora fazer prova de que na UNIC BEIRA RIO existia tal política
de desconto de pontualidade e que a si e ao seu curso se aplicaria na data em que era aluna
da IES.

A autora sequer acostou aos autos documentos que comprovem suas


alegações, restringindo-se a apresentar fotos de planilhas, as quais tampouco serviam para
fins comprobatórios de seu direito, mas que foram incorretamente acolhidas pelo Juízo a
quo como comprovantes da existência e pertinência do desconto ao aluno.

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Cumpre esclarecer, que a autora aduziu vínculo com a requerida com
ingresso em 2013/1 e pretende aplicação de alegadas tabelas de desconto dos anos
de 2018 e 2019?! Ora, no mínimo, deveria comprovar que no período em que frequentava
a universidade supostamente existia a política que afirma o que, reitera-se, não ocorre.

Mais uma vez, ao contrário do entendimento formulado na sentença, TODOS


OS DOCUMENTOS DA PARTE AUTORA CARECEM DE INFORMAÇÕES BÁSICAS QUE
PUDESSEM SUSTENTAR SUAS ALEGAÇÕES.

Esclareça-se que a ideia de que todas as Unidades do Grupo Educacional


trabalhem com mensalidades idênticas, tabeladas e engessadas por anos, é utópica.

Saliente-se que as unidades do grupo realizam, de tempos em tempos,


campanhas sazonais para captar clientela, ofertando determinados descontos APLICÁVEIS
APENAS AOS INGRESSANTES EM DETERMINADOS SEMESTRES E SOB DETERMINADAS
CONDIÇÕES. Não é possível visualizar dos documentos anexos se a pessoa a qual se refere:
i) recebeu desconto e se é de pontualidade, ii) qual o valor do desconto ou percentual, iii) se
foi inserida em campanha, iv) se cumpre as condições da campanha, v) se o desconto incidiu
durante todo o curso ou apenas em determina ocasião, vi) se a parte autora preencheria as
mesmas condições.

Ante todo o exposto, é certo que as alegações infundadas da autora não


mereciam e não merecem prosperar, inexistindo qualquer ato ilícito praticado pela IES.

c) DA NÃO CONCRETUDE DAS PROVAS TRAZIDAS PELA PARTE


AUTORA.

Caso não seja acolhida a tese acima aventada, cabe ainda destacar que a r.
sentença também se encontra viciada por patente contradição, quando assim fundamentou
e decidiu o feito:

Verifica-se que a parte autora colacionou diversos documentos que


comprovam a existência da citada bolsa incentivo, além disso, é de
conhecimento desse magistrado a existência do citado desconto e que
em caso semelhante a ré afirmou que a concessão do benefício de
25% (vinte e cinco por cento) era para aqueles alunos que
ingressaram no campus a partir do ano de 2016[...]

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E, em outro trecho da sentença, continuou:

Não obstante as alegações trazidas na peca contestatória, caberia a


parte requerida, ao menos, apresentar documentos acerca da alegada
distincao/autonomia das unidades, e comprovar por pericia contabil
que nas mensalidades dos alunos pagantes integrantes da turma da
parte autora, os quais nao eram beneficiarios do FIES, nao havia a
incidencia do discutido beneficio, onus do qual nao se desincumbiu
(art. 373, II, CPC).

Pois bem, quando inicialmente alega que a documentação trazida pela parte
autora se encontra apta e suficiente para comprovar a existência da suposta bolsa
incentivo, crê-se, por interpretação literal/gramatical, que os fatos restaram integralmente
provados, ao ver da Julgadora.

No entanto, logo em seguida, ao apontar suposta falha na defesa da IES, o


Juízo a quo menciona uma série de documentos que, se acostados aos autos, poderiam
demonstrar a inexistência e inaplicabilidade do desconto à aluna.

Em outras palavras, o fato da existência inconteste da bolsa incentivo


constante no início do teor da sentença, em outro momento deixa de ser inconteste se
confrontada por perícia contábil e extratos financeiros de outros alunos da universidade.

Além disso, menciona o seguinte: “[...] em caso semelhante a ré afirmou que a


concessão do benefício de 25% (vinte e cinco por cento) era para aqueles alunos que
ingressaram no campus a partir do ano de 2016 [...]”, sendo que a autora ingressou anos
antes do mencionado, vez que o seu ingresso se deu em 2013.

Dessa forma, questiona-se: o desconto da referida bolsa incentivo alegado


pelo autor restou devidamente comprovado pelas provas de indicadas na sentença ou
ainda quedaram dúvidas acerca de sua existência devido à não-juntada da documentação
mencionada na sentença (perícia contábil e extratos financeiros de discentes)?

Tais discrepâncias e dissonâncias da sentença demonstram a fragilidade da


afirmação acerca da existência do fantasioso desconto aludido pela parte autora, sendo
certa a necessidade de sua reforma.

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d) DA INEXISTÊNCIA DE ANTECIPAÇÃO DE REPASSAES E DO
PEDIDO DE APLICAÇÃO DE SUPOSTA BOLSA POR PONTUALIDADE DE
PAGAMENTO.

Com efeito, no que tange à alegação de que fez o pagamento das


mensalidades de forma antecipada por ser aluna beneficiária do FIES, cabe esclarecer que à
Universidade recebe títulos da dívida pública da União, conforme Lei n° 10.260 de 12 de
Julho de 2010, que dispõe sobre o Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino
Superior, em seu artigo 7º, que inicia o Capítulo III “Dos Títulos da Dívida Pública”,
asseverando que a União emitirá títulos da dívida pública em favor do FIES, e os artigos
subsequentes, por sua vez, esclarecem que serão utilizados exclusivamente para
abatimento da dívida pública, vejamos:

Art. 7o Fica a União autorizada a emitir títulos da dívida pública em


favor do FIES.
§ 1o Os títulos a que se referem o caput serão representados por
certificados de emissão do Tesouro Nacional, com características
definidas em ato do Poder Executivo.
§ 2o Os certificados a que se refere o parágrafo anterior serão emitidos
sob a forma de colocação direta, ao par, mediante solicitação expressa
do FIES à Secretaria do Tesouro Nacional.
§ 3o Os recursos em moeda corrente entregues pelo FIES em
contrapartida à colocação direta dos certificados serão utilizados
exclusivamente para abatimento da dívida pública de
responsabilidade do Tesouro Nacional.

Dessa forma, restou demonstrada a existência de concessão de títulos da


União.

Ademais, sobre a errônea afirmação de repasses antecipados e explicado o


funcionamento do financiamento aqui discutido, é mesmo até incoerente a pretensão da
autora, uma vez que os prazos para aditar o FIES vão para além do início do semestre,
sendo que os aditamento são realizados até depois do meio do semestre, de modo que,
além de sequer haver repasse em moeda corrente, tampouco seria feito antecipadamente.

Assim, questiona-se: inexistindo repasse em moeda corrente e havendo a


possibilidade do aditamento ocorrer até após o meio do semestre, indicando a não

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antecipação de qualquer verba direcionada pelo programa, como pode-se falar em
desconto de pontualidade, como pretende a parte autora?

A própria sentença reconheceu a não antecipação dos repasses do FIES à


Instituição de Ensino! Contudo, ainda que reconhecida pelo Juízo a veracidade da premissa
da Apelante acerca da inexistência de repasses antecipados, contrariamente às afirmações
da parte autora, este deixou de considerar, o que se daria por decorrência lógica, as
questões derivadas do pagamento não antecipado e da incoerência com pedido de desconto
de pontualidade (pagamento em dia das mensalidades) alegadas na defesa.

Assim, compreendido o funcionamento do financiamento, com a verificação


de prazos para aditamento que vão além do início do semestre, refutando a tese de
repasses antecipados levantada pelo aluno, não apenas se revelou contraditório afirmar
que a alegação da Universidade não prospera já que o pagamento ocorre da forma como a
própria Universidade informa, como também restou omissa em enfrentar a questão da
antecipação como óbice ao desconto de pontualidade fantasiado e pretendido pela aluna.

Novamente, o fato é que a parte autora, além de não comprovar a existência


da política de descontos no percentual apontado, nem que se aplicaria a si caso existente,
deixa de se incumbir do ônus que lhe compete, já que a Instituição nega tal afirmação e,
sendo a prova positiva, é impossível a produção de prova negativa.

Inexiste, mais uma vez, qualquer ato ilícito, in casu, a ensejar no dever de
indenizar por qualquer motivo que seja.

e) DAS DEMAIS PROVAS TARDIAS JUNTADAS PELA PARTE


AUTORA.

Em nome do princípio da eventualidade, impende, ainda, elucidar aos


Julgadores deste recurso, como as demais provas juntadas pela parte autora se desviam
inteiramente dos fatos discutidos nesta ação e como os apontamentos de defesa foram
desconsiderados sem a mínima fundamentação.

Em relação ao conjunto de julgados colacionados aos autos todos se referem


a processos apreciados entre os anos de 2017 e 2018, tratando-se de fatos e alunos com
condições inteiramente distintos da parte autora em questão, apenas discutindo
semelhante matéria acerca de eventual desconto de pontualidade.

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Impende ressaltar que foram acostadas aos autos, junto à contestação, uma
série de julgados RECENTES referentes a casos IDÊNTICOS (interpostos pelo mesmo
advogado da presente lide), no qual todos foram uníssonos em entender pela assertividade
das questões levantadas pela defesa.

Deste modo, resta claro que apresentar julgados anteriores, de partes e


condições diversas a do caso em questão não servem para comprovar os fatos de direito
alegados pela autora e tampouco funcionam como meios de impugnação de julgados
recentes e idênticos apresentados pela defesa.

Revela-se, em verdade, a inexistência de força impugnatória da parte autora


em relação aos documentos apresentados pela defesa, buscando se valer de julgados
anteriores e diversos, sem, de fato, contrariar o esposado em sede de contestação.

Sobre a validação apenas de provas favoráveis à pretensão da autora, cumpre


destacar que se deve ter cautela para:

(...) evita que, escolhendo-se a priori uma versão dos fatos, leve-se em
consideração somente o que lhe é favorável, desconsiderando-se tudo o
que lhe é adverso.3

A força de julgados anteriores pode servir de norte orientativo para


elucidações de casos semelhantes ocorridos após referido julgamento. No entanto, é certo
que as decisões que dele sucedem devem ser marcadas pelo desenvolvimento do
conhecimento da matéria, não se restringindo a mera reprodução de entendimento pré-
formulado.

Nesse sentido, ao discorrer sobre a discricionariedade judicial, Aline Terra


aponta que:

Desse modo, tendo em vista que o magistrado efetua valorações não


apenas quando interpreta a lei, mas também quando decide sobre as
provas apresentadas, a motivação deve fornecer a justificativa
racional sobre a individuação da norma aplicada ao caso concreto,
calcada em argumentos idôneos, bem como sobre o acerto dos fatos,

3
TERRA, Aline de Miranda Valverde. A discricionariedade judicial na metodologia civil-constitucional. Revista da
Faculdade de Direito. UFPR, Curitiba, vol. 60, n. 3, set./dez 2015, p. 367-382.

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por meio de referências específicas aos elementos de prova e às razões
pelas quais o juiz os reputou relevantes.4

Deste modo, os julgados juntados tardiamente pela parte autora não


possuem qualquer valor probatório dos direitos suscitados pela reclamante e, muito menos
invalidam os julgados recentes e apresentados em tempo oportuno pela defesa.

Com relação às reportagens, equivocadamente também utilizadas como


fundamentação da sentença, reitera-se que publicações jornalísticas referentes a
universidades distintas, em períodos, cursos e alunos totalmente diversos não possuem
condão algum de comprovar os fatos alegados pela autora.

Em verdade, apenas revelam o esforço hercúleo dispendido pela aluna em


tentar provar a existência de desconto fantasioso, conforme já debatido em sede de
contestação.

Ademais, em relação à suposta conversa com agente financeiro da


universidade, novamente se destaca que não há qualquer informação acerca da data, bem
como da veracidade da conversa.

Destaca-se que é indiscutível a indução do interlocutor sobre quem responde,


sendo verdadeiramente questionáveis os meios e condições que tal conversa foi obtida e
apenas juntada em momento posterior à apresentação da defesa da reclamada.

De igual forma, poderia ter colhido declarações sobre supostas


irregularidades causadas pela universidade no momento em que era aluna da IES ou
quando, em tese, tomou conhecimento da situação em Janeiro, apresentando junto à inicial,
algo que não o fez.

Nesse sentido, vejamos entendimento sobre fragilidade de provas, inclusive


derivadas de conversas de whatsapp, desacompanhadas de demais provas que a
sustentem:

AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. REFORMA


DO PRÉDIO EM QUE RESIDE O AUTOR. QUEBRA DOS VIDROS DO
BANHEIRO. FALTA DE PROVA NO SENTIDO DE QUE OS DANOS

4
TERRA, Aline de Miranda Valverde. A discricionariedade judicial na metodologia civil-constitucional. Revista da
Faculdade de Direito. UFPR, Curitiba, vol. 60, n. 3, set./dez 2015, p. 367-382.

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FORAM PRATICADOS PELA EMPRESA CONTRATADA PELO
CONDOMÍNIO NO DECORRER DA EXECUÇÃO DOS SERVIÇOS.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. DESCABIMENTO. 1-
Alega o autor que em março de 2017 foi iniciada reforma em seu
prédio, sendo que em setembro notou que os vidros da janela do
banheiro do seu apartamento estavam quebrados, acreditando ser
decorrência dos serviços realizados pela empresa contratada pelo
condomínio. Por não ter solucionado a questão com a síndica, vem a
juízo pleitear o conserto da janela ou o pagamento da quantia prevista
em orçamento, além de indenização por danos morais. 2-Da prova
produzida consistente em conversas de whatsapp, fls.07/08,
fotografias, fl.6 e prova oral, fls.54/55 não é possível aferir, de
maneira segura, que os empregados contratados pelo
condomínio sejam os autores dos danos reclamados pelo
recorrente. 3- A síndica do prédio nega veementemente que a empresa
terceirizada seja causadora dos vidros quebrados, não se extraindo em
nenhum momento do diálogo das fls.07/08 admissão de culpa por
parte do condomínio ou de sua contratada. 4- Já as fotografias, por si
só, são incapazes de imputar culpa a qualquer pessoa, caso não se
faça acompanhar de outros elementos contundentes de prova. 5-
Outrossim, das declarações das testemunhas ouvidas em audiência,
constata-se que os trabalhadores apoiavam os pés nas paredes para
realização da pintura do prédio, fl.55, firmados por cinto de segurança.
Todavia, não se pode presumir que tenham provocado os estragos, pelo
simples fato de colocarem os pés nas paredes, como dito em
depoimento pessoal pelo autor à fl. 54. 6-Desse modo, pela fragilidade
da prova carreada aos autos, não há como dar suporte à
pretensão autoral, sendo corolário lógico a improcedência da a
ação. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO.(Recurso Cível,
Nº 71007466261, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais,
Relator: José Ricardo de Bem Sanhudo, Julgado em: 08-08-2018)

Deste modo, resta evidente como tal artifício utilizado pela autora não serve
para fins de comprovação de suas infundadas alegações, devendo, portanto, não ser
consideradas.

VI. DO DIREITO.

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A) DA AUSÊNCIA DE ATO ILÍCITO.

Verifica-se que não se encontram preenchidos todos os requisitos


autorizadores ao pleito de indenização disposto no artigo 186 do Código Civil, in verbis:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

A doutrina e a jurisprudência pátria assentam que somente na presença dos


pressupostos da responsabilidade civil é que alguém poderia postular indenização. Os
pressupostos para o pedido de indenização, na preciosa lição do jurista SILVIO
RODRIGUES são os seguintes:

Pressupostos da responsabilidade civil: a) ação ou omissão do agente; b)


culpa do agente; c) relação de causalidade. d) dano experimentado pela vítima. (in Direito
Civil. Vol. 4. São Paulo, Saraiva, 13ª edição, 1993).

Os fatos alegados pela requerente não ensejam o direito à indenização. Olvida


que, em se tratando de responsabilidade civil, sem a presença de todos os pressupostos,
não há qualquer direito à indenização.

Não há ação ou omissão contrária ao direito.

Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves: "O dano só pode gerar


responsabilidade quando seja possível estabelecer um nexo causal entre ele e o seu autor, ou,
como diz Savatier,"um dano só produz responsabilidade, quando ele tem por causa uma falta
cometida ou um risco legalmente sancionado"(Traité, cit., v. 2, n. 456)." ( Responsabilidade
civil . 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.536).

B) DANO MATERIAL– DESCABIMENTO.

O dano material, calcado em suposto indébito, do artigo 42, p. único do CDC,


não pode ser admitido.

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Nos termos do CDC, não é qualquer cobrança indevida que gera o direito à
repetição em dobro do que foi cobrado. Vale a pena transcrever o que enuncia o parágrafo
único do art. 42, para se possa divagar a posteriori sobre alcance e aplicação da norma, in
verbis:

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem


direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou
em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável.

A redação é, como se vê, clara e autoexplicativa. Notase que não basta apenas
a ocorrência da cobrança indevida por parte do fornecedor para que venha a existir o
direito à repetição do indébito, é necessário, também e indispensavelmente, o pagamento
indevido pelo consumidor e a existência de máfé.

In casu, não comprova nem, nem outro.

Não houve nenhuma cobrança indevida, bem pelo contrário. Ademais, não é
de comprovação inconteste o alegado dano emergente, deixando de preencher os
elementos do artigo 402 do C.C., in verbis:

“Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as


perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”.
(grifamos).

Tal expressão: “efetivamente perdeu”, traduzse na necessidade de


comprovação cabal de perdas, in casu, financeira.

O Direito pátrio não comporta presunção de dano material, pois que esse
exige inconteste comprovação da lesão sofrida em seu patrimônio.

Nesse sentido, já assentou o Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSO CIVIL. DECISÃO MONOCRÁTICA. EMBARGOS


DECLARATÓRIOS. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. AGRAVO
REGIMENTAL. CONTRARIEDADE AOS ARTIGOS 159 DO CPC E 1.539
DO CC. DANOS MATERIAIS NÃOCOMPROVADOS. IMPOSSIBILIDADE DE
REVISÃO NO STJ. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA N. 7/STJ. 1.
Admitemse como agravo regimental embargos de declaração opostos

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a decisão monocrática proferida pelo relator do feito no Tribunal, em
nome dos princípios da economia processual e da fungibilidade. 2. Em
sede de reparação por danos materiais, exige-se que haja comprovação
de perda de patrimônio, seja de danos emergentes ou de lucros
cessantes, não bastando alegações genéricas de perda salarial 3.
Aplicase a Súmula n. 7 do STJ na hipótese em que a tese versada no
recurso especial reclama a análise dos elementos probatórios
produzidos ao longo da demanda. 4. Embargos de declaração
recebidos como agravo regimental, ao qual se nega provimento. (STJ
EDcl no REsp: 809594 PR 2006/00048463, Relator: Ministro JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA, Data de Julgamento: 23/02/2010, T4 QUARTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 08/03/2010).

Coadunando do mesmo entendimento, aliás, pacífico em toda a


jurisprudência nacional e doutrina, o Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso decidiu:

APELAÇÃO – INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS


PRELIMINAR DE INADMISSIBILIDADE DO RECURSO – REJEITADA –
DANO MATERIAL – NÃO DEMONSTRADO – INDENIZAÇÃO NÃO
DEVIDA – DANO MORAL – AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO ABALO
AO NOME, IMAGEM OU REPUTAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA – RECURSO
DESPROVIDO. Não fere o princípio da dialeticidade das razões
recursais, capaz de provocar a inadmissibilidade do recurso, a peça
que traz ao conhecimento do Tribunal matéria que foi o cerne do
fundamento da sentença recorrida. Para caracterizar o dano material
é necessário demonstrar de forma inconteste o prejuízo sofrido, não
sendo possível presumi-los pela juntada de recibos e fotos dos produtos
perecíveis que se encontravam nas dependências do supermercado
quando ocorreu a falta de energia elétrica. Em que pese ser possível
que o dano moral atinja a pessoa jurídica, este não pode ser presumido
pela simples interrupção no fornecimento de energia elétrica,
porquanto dever restar comprovado o abalo ao nome, imagem ou
reputação desta. (Ap, 127406/2013, DES.GUIOMAR TEODORO
BORGES, SEXTA CÂMARA CÍVEL, Data do Julgamento 29/01/2014,
Data da publicação no DJE 03/02/2014).

Não como, portanto, acolher o pedido autoral.

C) LIMITAÇÃO DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA –


IMPOSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVA NEGATIVA:

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A regra insculpida no Código de Defesa do Consumidor não quer significar
que a defesa tem que provar o extraordinário.

Quando a autora atribuiu fato positivo, ou seja, de qual situação existe no


mundo fático e o réu nega, cabe a quem faz a afirmação comprová-la.

O fato de pessoa física demandar contra pessoa jurídica, por si só, não
autoriza que haja a inversão do ônus da prova automaticamente.

Para que haja a inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, do CDC) é
necessário que o juiz analise as peculiaridades do caso concreto e, no
contexto, facilite a atuação da defesa do consumidor. A inversão não é
automática, devendo o juiz justificar devidamente se presentes os
pressupostos da referida norma, para, aí sim, deferir a inversão da
prova (STJ, REsp 284.995-SE, Rel. Min. Fernando Vasconcelos, julgado
em 26/10/2004, Informativo 226).

A doutrina mais abalizada argumenta, ainda, no sentido de que a


hipossuficiência tratada pelo CDC traduz-se na hipossuficiência técnica:

Essa pobreza de conhecimentos técnicos ou científicos sobre o produto


ou serviço, transforma o consumidor no elo mais frágil da corrente da
comercialização. Mas, este Código, em vários pontos, deixa claro que a
vulnerabilidade do consumidor deriva precisamente dessa insuficiência
de conhecimentos sobre o produto que adquire ou sobre o serviço que
contrata, o que responde por sua incapacidade de produzir, de modo
eficiente, as provas do que alega.
Estamos inclinados a aceitar essa tese da hipossuficiencia técnica, não
só pelas razões expostas, mas também porque, o mencionado inciso
VIII do artigo sob comento, declara que o juiz deve identificar essa
condição do consumidor à luz “das regras ordinárias da experiência”.5

In casu, os fatos não demandam conhecimentos técnicos que possam fazer


com que incidam a hipossuficiência tratada pelo CDC.

Necessário apreciar com acurada cautela situações como esta, pois:

5
SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, 5ª Ed., São Paulo: Editora LTR,
2002, p. 195 e 196.

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A experiência internacional revela que não é apenas o fornecedor que
usa de artifícios engenhosos para fraudar o consumidor em seus
direitos. Sabe-se, também, que há casos em que o adquirente de um
bem faz argüições mentirosas ao fornecedor para obter reparações
pecuniárias indevidas. Esse dado justifica a conduta cautelosa do juiz
na aplicação do que se contém no inciso VIII do art. 6º do Código de
Defesa do Consumidor. 6

Irrefutavelmente os fatos aduzidos em sede de defesa comprovam a


inexistência de realidade fática e o devido amparo pelo direito.

O consumidor não é dispensado de produzir provas tão somente por


demandar contra fornecedor. Pode e deve colaborar na produção de provas. Nesse sentido:

Como, nas demandas que tenham por base o CDC, o objetivo básico é a
proteção ao consumidor, procura-se facilitar a sua atuação em juízo.
Apesar disso, o consumidor não fica dispensado de produzir
provas. Pelo contrário, a regra continua a mesma, ou seja, o
consumidor, como autor da ação de indenização, deverá
comprovar os fatos constitutivos do seu direito. (...) Deve ficar
claro, porém, que o ônus de comprovar a ocorrência dos danos e da sua
relação de causalidade com determinado produto ou serviço é do
consumidor. Em relação a esses dois pressupostos da responsabilidade
civil do fornecedor (dano e nexo causal), não houve alteração da
norma de distribuição do encargo probatório do artigo 333 do CPC.
Ministro Paulo de Tarso Vieira Sanseverino. (grifamos).

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE


INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL E TUTELA ANTECIPADA.
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. REFORMA. INVEROSSÍMEIS AS
ALEGAÇÕES DO AUTOR COM RELAÇÃO À COBRANÇA
EXORBITANTE. A residência do apelado é monitorada pelo antigo
sistema de medição e não pela medição eletrônica via chip. Ainda
que a sistemática do CDC imponha interpretação mais favorável
ao consumidor, ante sua hipossuficiência, a prova documental
6
SAAD, Eduardo Gabriel. Idem, p. 196.

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trazida pelo próprio autor não demonstra que ele possui o
melhor direito e, mesmo em sendo invertido o ônus da prova, este
benefício não pode vendar os olhos do juiz para que este, ao
apreciar a prova dos autos, decida de forma desfavorável ao réu,
quando as provas são inconscientes em relação ao fato contra ele
alegado. Inexistência de ato ilícito que enseje a obrigação de
indenizar. Recurso provido (Ap. 0096506-80.2007.8.19.0004, 4ª Câm.
Cív. TJRJ, Rel. Monica Tolledo de Oliveira. j. 23.03.2010)" (grifo nosso).

O Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso não é diferente:

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE COBRANÇA – CONTRATO DE COMPRA


E VENDA DE GADO – REVELIA NÃO COMPROVADA – SUPOSTO
CONTRATO DE ALUGUEL DE IMÓVEL RURAL – GADO
REMANESCENTE APÓS TÉRMINO CONTRATUAL – ÔNUS DA PARTE
AUTORA EM COMPROVAR FATO CONSTITUTIVO DO SEU
DIREITO – PROVA SOBRE FATO NEGATIVO – IMPOSSIBILIDADE -
TRANSFERIR O ÔNUS DA PROVA PARA O RÉU – PROVA
DIABÓLICA - SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO.1. A
revelia não produz seus efeitos quando, havendo pluralidade de réus,
algum deles contestar a ação. Inteligência do art. 345, inciso I, do
Código de Processo Civil.2. Cabe ao autor trazer prova mínima do
fato constitutivo do seu direito, conforme dispõe o art. 373, inciso II,
do Novo Código de Processo Civil, sendo que o ônus do réu de
comprovar a existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor (CPC, art. 373, II) só é exigível após
o autor ter se desincumbido do seu encargo. 3. Não há como
exigir do requerido a prova de fato negativo, uma vez que seria
equivalente a prescrever a produção de prova diabólica,
justamente pela impossibilidade ou extrema dificuldade de
realização. (Ap 51571/2017, DESA. SERLY MARCONDES ALVES,
QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Julgado em 12/07/2017,
Publicado no DJE 14/07/2017).

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E


MORAL – SUPOSTO COMPROMISSO FIRMADO PELO BANCO PARA
CONCESSÃO DE EMPRESTIMO FINANCEIRO AO AUTOR – NÃO
CUMPRIMENTO DO COMPROMISSO - FALHA NA PRESTAÇÃO DE

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SERVIÇO – PREJUÍZOS CAUSADOS AO AUTOR – ÔNUS DO AUTOR
EM PROVAR FATO CONSTITUTIVO DE SEU DIREITO –
IMPOSSIBILIDADE DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – PROVA
DIABÓLICA – ATO ILÍCITO NÃO CONFIGURADO – SENTENÇA
MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. 1. Cabe ao autor trazer prova
cabal do fato constitutivo do seu direito, principalmente quando, pela
natureza da situação fático-processual, a inversão do ônus da prova
se tornar impossível, por ensejar a prescrição de prova diabólica,
que nada mais é do que a produção de fato negativo.2. Inexistindo
provas concretas da conduta ilícita e/ou da falha na prestação do
serviço, não há que se falar em responsabilidade civil e, por
conseguinte, em indenização por danos morais e materiais.

(Ap 433/2017, DESA. SERLY MARCONDES ALVES, QUARTA CÂMARA


DE DIREITO PRIVADO, Julgado em 08/03/2017, Publicado no DJE
10/03/2017).

APELAÇÃO CÍVEL – EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO - SOLICITAÇÃO DE


FITAS DE VÍDEO DE CIRCUITO INTERNO DE SEGURANÇA DE AGÊNCIA
BANCÁRIA - AUSÊNCIA DE OBRIGAÇÃO LEGAL DE GUARDA DA
GRAVAÇÃO POR TEMPO INDETERMINADO E INEXISTÊNCIA DO
DEVER DE EXIBIÇÃO - LEI Nº 7.102/83 - JUSTA CAUSA NA RECUSA DE
APRESENTAÇÃO - AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE - REGULAR
EXERCÍCIO DE DIREITO - RECONHECIMENTO ÔNUS DA PROVA
RELATIVA A VERACIDADE DA AFIRMAÇÃO AO AUTOR -
IMPOSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVA NEGATIVA PELO RÉU
– INVERSÃO DO ÔNUS SUCUMBENCIAL - RECURSO PROVIDO.
Consoante a lei 7.102/83 inexiste dever legal das instituições
financeiras quanto ao armazenamento durante determinado período
das imagens captadas pelo circuito interno de filmagem, até porque e
quanto a isso, a questão está relacionada com a conveniência do
próprio banco, pois é sabido que as fitas, após determinado tempo, são
reaproveitadas para novas filmagens, não sendo lógico exigir do banco
a utilização de fitas novas para cada novo período de filmagem.
Período mínimo exigido de 30 dias. Decorrido o prazo até a intimação
da agência bancária, negando o réu ainda existência da filmagem,
legítima a recusa na apresentação das fitas, ausente responsabilidade,
por estar no regular exercício de direito.? Não se pode admitir como

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verdadeiros os fatos alegados pelo autor se este não se
desincumbir de demonstrar que a declaração réu não
corresponde à verdade. Não o fazendo, impõe-se a improcedência
do seu pedido inicial com a inversão do ônus sucumbencial.(Ap
37395/2015, DESA. NILZA MARIA PÔSSAS DE CARVALHO, PRIMEIRA
CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Julgado em 05/04/2016, Publicado no
DJE 13/04/2016).

O Novo Código de Processo Civil, atento a isso, previu:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor.
§ 1o Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o
encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da
prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de
modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em
que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que
lhe foi atribuído.
§ 2o A decisão prevista no § 1o deste artigo não pode gerar
situação em que a desincumbência do encargo pela parte seja
impossível ou excessivamente difícil.
§ 3o A distribuição diversa do ônus da prova também pode
ocorrer por convenção das partes, salvo quando:
I - recair sobre direito indisponível da parte;
II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do
direito.

In casu¸ a inversão do ônus da prova não pode trazer ao demandado


obrigação excessiva, pois que se desvirtuaria de sua essência, já que veio para equilibrar as
relações, e não transferir ao réu toda a responsabilidade de maneira irrestrita, ocorrendo
verdadeiro desequilíbrio entre as partes, não suprindo eventual a responsabilidade
objetiva e inversão do ônus probante tal dever.

D) DOS JUROS DE MORA A PARTIR DA CITAÇÃO – INTELIGÊNCIA


DO ART. 405, CC/02.

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Por fim, na remota hipótese de não serem acolhidas nenhuma das teses
acima dispostas, ainda que se entenda pela procedência parcial dos pedidos da exordial,
deve ser modificado o dispositivo da sentença referente à erro material constante na
correção monetária e juros incidentes a partir da data de recebimento dos valores do FIES
pela IES.

Isso porque, tratando-se de reconhecimento de relação contratual, o termo


inicial deve obedecer à inteligência do art. 405, do CC/02, isto é, a partir da citação.

Nesse sentido, vejamos:

CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ACIDENTE


FERROVIÁRIO COM VÍTIMA FATAL. ACÓRDÃO ESTADUAL. NULIDADE
NÃO IDENTIFICADA. DANO MORAL. VALOR FIXADO. RAZOABILIDADE.
JUROS DE MORA. ILÍCITO CONTRATUAL. TERMO INICIAL. CITAÇÃO.
HONORÁRIOS. BASE DE CÁLCULO. CONDENAÇÃO. I. Não padece de
nulidade o acórdão estadual que enfrenta as questões essenciais ao
deslinde da controvérsia, apenas por contrariar as pretensões da parte
recorrente. II. Dano moral devido como compensação pela dor da
perda de convivente e pai em patamar que se considera razoável e
condizente com a gravidade do dano. Precedentes. III. No caso de ilícito
contratual, os juros de mora são devidos a contar da citação. IV.
Honorários advocatícios incidentes sobre a condenação, assim
consideradas as verbas vencidas e doze das prestações vincendas. V.
Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, parcialmente
provido. (REsp 1022960/SP, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR,
QUARTA TURMA, julgado em 10/11/2009, DJe 07/12/2009)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESTITUIÇÃO - TERMO


INICIAL DE INCIDÊNCIA DA CORREÇÃO MONETÁRIA - AUSÊNCIA DE
INTERESSE RECURSAL - NÃO CONHECIMENTO DE PARTE DO
RECURSO - CONTRATO BANCÁRIO - VALOR DO AJUSTE DE PRAZO -
DECRETAÇÃO DE ILEGALIDADE - INCIDÊNCIA DE JUROS
REMUNERATÓRIOS - RESTITUIÇÃO DEVIDA - CORREÇÃO MONETÁRIA
E JUROS DE MORA – TERMO INICIAL DE INCIDÊNCIA – HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS - CRITÉRIO DE FIXAÇÃO. - Nos termos do art. 996 do
CPC, para a interposição de recurso, a parte deve ter efetivo interesse,
expresso pelo prejuízo que a decisão possa lhe ter causado. - A

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decretação de abusividade de tarifa cobrada enseja a restituição dos
valores pagos a título de juros remuneratórios sobre elas incidentes. -
Tratando-se de responsabilidade civil decorrente da relação
contratual, deve ser considerada a data da citação como termo inicial
para a contagem dos juros de mora, nos termos do art. 405 do Código
Civil. - O arbitramento dos honorários advocatícios jamais poderá ser
em valor irrisório ou insignificante a ponto de atentar contra a
nobreza do trabalho desenvolvido pelos advogados, em atenção ao
disposto no art. 85, §§2º e 8º, do Código de Processo Civil/15. (TJMG –
Apelação Cível 1.0236.16.003518-4/002, Relator(a): Des.(a) Valdez
Leite Machado , 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 20/02/0020,
publicação da súmula em 04/03/2020)

RECURSO INOMINADO. ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. MILITAR


INATIVO INTEGRANTE DO CVMI. RESTITUIÇÃO DE VALORES. JUROS
DE MORA.TERMO INICIAL. Consoante o artigo 1º-F da Lei Federal nº
9.494/1997, com a redação dada pela Lei Federal nº 11.960/2009 ,
estes devem ser calculados com base nos juros aplicados à caderneta
de poupança, e, contados a partir da citação, nos termos em que
estabelecem os artigos 219 do Código de Processo Civil e 405 do Código
Civil. Sentença reformada nesse ponto. RECURSO PROVIDO.
UNÂNIME.(Recurso Cível, Nº 71008949984, Segunda Turma Recursal
da Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator: Mauro Caum
Gonçalves, Julgado em: 27-11- 2019)

No caso, a incidência dos juros e correção monetária a partir da data do


evento danoso, apenas seria aplicável na hipótese de condenação por danos morais
(súmula 362 do STJ), o que não ocorreu.

Posto isso, em nome do princípio da eventualidade, caso se mantenha a


procedência do pedido de restituição dos valores, devem ser fixados a correção monetária
e os juros de mora com termo inicial da citação, e não da data de recebimento dos valores
do FIES.

VII. DOS PEDIDOS.

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Em face do exposto, requer a Vossas Excelências que se dignem em conhecer
e PROVER a presente APELAÇÃO para:

A) REFORMAR a sentença recorrida para afastar a condenação imposta e


julgar totalmente improcedente a presente demanda, condenando a apelada ao ônus da
sucumbência em sua integralidade.

Nestes termos, pede deferimento.


Cuiabá-MT, 26 de outubro de 2022.

HARLY KAROLINY FERREIRA DE MELO MIRANDA


OAB/MT 31.263

KAMILA MICHIKO TEISCHMANN


OAB/MT 16.962

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