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DESPACHO

Compulsando os autos, verifica-se que o reclamante, por meio de correspondência eletrônica,


manifesta pessoalmente o seu inconformismo a esse órgão judicial nos seguintes termos: “que
reconsidere a decisão que mando eu ir na justiça do Estado cobra o que o advogado me deve
ainda, porque Exa, não tenho como paga um advogado e o advogado desse processo não pode me
cobra 40%,isso é abuso dele, venho pedi q o senhor mande ele me paga o que falta que é 9.000,00,
porque ele dice que eu ia paga 30% do que eu ganhace na justiça. Meu número de telefone 99350-
8039. Ele tem a minha conta” (textuais – Doc. Id. 382Aed7).

Sobre a situação em questão, observa-se que a controvérsia entre o reclamante e seu patrono
decorrem da decisão judicial proferida nesse processo, motivo pelo qual, a teor do art. 114, da
Constituição Federal, chamo o processo a ordem para tornar sem efeito o despacho de Id. c9efb39
para reconhecer a competência para apreciar a controvérsia ainda existente nos presentes autos.

Nesse aspecto, cabe destacar que, compulsando os autos, verifica-se que o reclamante no dia
21/01/2021 apresentou correspondência eletrônica (Id. 279b11d) manifestando o seu
inconformismo sobre a cobrança de honorários advocatícios que entende abusiva, haja visto que foi
pactuado com o seu patrono o percentual de 30% (trinta por cento), porém foi retido o percentual de
40% (quarenta por cento).

Sendo apreciado pelo Juízo, na oportunidade, foi determinado que fosse dado ciência ao respectivo
patrono para que apresentasse manifestação no prazo de 05 (cinco) dias sobre os questionamentos
do reclamante, consoante r. decisão de Id. C892271.

O patrono do reclamante, então, foi cientificado para que se manifestasse nos autos sobre os
questionamentos do reclamante, conforme documento de Id. 43Fa1a5, em 14 de abril de 2021,
permanecendo o patrono do reclamante inerte até a presente data.

Em face a inércia do patrono do reclamante, presume-se como incontroverso nos autos que as partes
entabularam honorários no percentual de 30% (trinta por cento), porém foi retido o percentual de
40% (quarenta por cento).

Sobre o percentual dos honorários advocatícios, ressalta-se que a Resolução nº 09, de 27 de


fevereiro de 2018, da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará, que dispõe sobre a Tabela de
Honorários Mínimos de Serviços Advocatícios e dá outras providências, expressamente estabelece
na sua tabela anexa que “os honorários contratados pelo êxito na demanda trabalhista serão de até
30% (trinta por cento), percentual que não poderá ser excedido em qualquer hipótese”.
Nesse aspecto, verifica-se também que a que Ordem dos Advogados do Brasil – Seção São Paulo,
ao dispor sobre os Honorários Mínimos de Serviços Advocatícios, estabelece que sobre o
“patrocínio de reclamante: sobre o valor econômico da questão ou da condenação, ou do acordo” os
percentuais dos honorários devem variar entre os percentuais de “20% a 30%” (Disponível em:
https://www.oabsp.org.br/servicos/tabelas/tabela-de-honorarios - Acesso em 11/06/2021).

Analisando essa temática na órbita da ética profissional, o Tribunal de Ética da Ordem dos
Advogados do Brasil – Seção São Paulo, consolidou entendimento no sentido de que a fixação de
honorários para ações trabalhistas e previdenciárias em percentual superior ao da vigente tabela de
honorários, que é no limite máximo de 30% sobre o proveito econômico advindo ao cliente, é
considerado imoderado, consoante demonstram as ementas abaixo transcritas:

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - FIXAÇÃO EM PERCENTUAL DE 40% SOBRE O VALOR


A SER RECEBIDO PELO CLIENTE - IMODERAÇÃO. Segundo preceitua o art. 36 do CED, os
honorários advocatícios devem ser fixados com moderação. Seja qual for a natureza da prestação
dos serviços, em regra não deve o montante da honorária exceder a percentagem de 30% (trinta por
cento) do valor líquido percebido pelo cliente, em se tratando de ações trabalhistas e
previdenciárias. Mesmo diante da estipulação da cláusula ‘quota litis’, jamais o valor dos
honorários poderá ultrapassar o proveito auferido pelo cliente. Precedentes: proc. E-2990/2004 e E-
3.025/2004. Proc. E-3.317/2006 - v.u., em 18/05/2006, do parecer e ementa do Rel. Dr. LUIZ
FRANCISCO TORQUATO AVÓLIO - Rev. Dr. LUIZ ANTÔNIO GAMBELLI - Presidente Dr.
JOÃO TEIXEIRA GRANDE.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - CONTRATO COM A CLÁUSULA - QUOTA LITIS - (art. 38


CED) - FIXAÇÃO EM PERCENTUAL DE 50% SOBRE O VALOR A SER RECEBIDO PELO
CLIENTE - IMODERAÇÃO. Honorários fixados em percentual superior a 30% (trinta por cento)
do valor auferido pelo cliente, incluindo os honorários sucumbenciais, qualquer que seja a natureza
da causa, são considerados imoderados diante dos preceitos profissionais que exigem moderação
em sua fixação por parte do advogado. Exegese dos arts. 1º., 2º., 36 e 38 do CDE, juntamente com
as diretrizes oferecidas pela Tabela de Honorários da OAB e dos precedentes deste Tribunal E-
3.490/2007, E-3.317/2006, E-3.312/2006, E-3.025/2004, E-2.841/03. Proc. E-3.574/2008 - v.u., em
21/02/2008, do parecer e ementa do Rel.ª Dr.ª MARY GRÜN - Rev. Dr. JOSÉ EDUARDO
HADDAD - Presidente Dr. CARLOS ROBERTO F. MATEUCCI.

Deste modo, considerando os termos da Resolução nº 09, de 27 de fevereiro de 2018, da Ordem dos
Advogados do Brasil – Seção Pará, na qual expressamente estabelece que “os honorários
contratados pelo êxito na demanda trabalhista serão de até 30% (trinta por cento), percentual que
não poderá ser excedido em qualquer hipótese”, acolhe-se o requerimento do reclamante,
determinando-se que o patrono da parte autora proceda, no prazo de 05 (cinco) dias, a comprovação
da retenção de 30% (trinta por cento) incidente sobre o crédito trabalhista a título de honorários
advocatícios e do respectivo repasse do valor restante ao trabalhador, sob pena de bloqueio de suas
contas bancárias no valor correspondente a 10% (dez por cento) do crédito trabalhista objetivando
regularizar o correto pagamento do autor da ação.

Em face da presente situação já ter se ter repetido em outros processos, remeta-se cópia da presente
decisão, como também das peças processuais pertinentes ao Ministério Público do Trabalho, ao
Ministério Público Estadual e à Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará, para adotarem as
providências que entenderem cabíveis.

Dê-se ciência e cumpra-se.

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