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AO DOUTO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE JERÔNIMO

MONTEIRO/ES

LAILA OLIVEIRA RUBIM, brasileira, solteira, estagiária, inscrita no CPF sob o nº


135.420.267-86, portadora do RG sob o nº 3998565, residente na Rua Projetada, s/n,
Paraná, Jerônimo Monteiro/ES, por seus advogados JOSÉ ROCHA JÚNIOR,
brasileiro, divorciado, advogado, inscrito na OAB/ES 9494, telefone: (28) 99968-9188 e
CASSIO PORTELLA DE ALMEIDA, brasileiro, casado, advogado, inscrito na
OAB/ES 16.507, telefone: (28) 99921-0703 e DÉBORA BAZANI DE SOUZA
RODRIGUES, brasileira, solteira, advogada, inscrita na OAB/ES 32.127, telefone: (28)
99901-5019, patronos com endereço profissional à Av. Gov. Lindemberg, nº 1.213,
Jerônimo Monteiro/ES, CEP 29.550-000, telefone: (28) 3558-2060, onde recebem
intimações e notificações, vem, à presença de Vossa Excelência, propor

AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALORES COM PEDIDO DE TUTELA


ANTECIPADA c/c OBRIGAÇÃO DE FAZER c/c INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS E MATERIAIS

em face de BANESTES AS BANCO DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO,


sociedade de economia mista, inscrita no CNPJ n° 28.127.603/0001-78, com sede na
Avenida Princesa Isabel, nº 574, Edifício Palas Center, bloco B, andar 9, Centro,
Vitória/ES, CEP nº 29.010-930, endereço eletrônico: secre@banestes.com.br, telefone nº
(27) 3383-1588; NICOLAS BERNARDES SANTOS, inscrito no CPF sob o nº
***.349.416-**, residente em local incerto e não sabido; ONBANK INSTITUIÇÃO DE
PAGAMENTO S.A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº
32.914.717/0001-35, com sede na Avenida Luis Viana Filho, nº 006462, Edif Manhattan
Square Wall, Street West, sala 1301, bloco B, Patamares/BA, CEP nº 41680-400,
endereço eletrônico: administacao@onbank.com.br, telefone nº (71) 3032-0717, e
FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ sob o nº 13.347.016/0001-17, com sede na Avenida Brig Faria
Lima, nº 3732, andar 1 A 4 6 A 12 14 E 15, Itaim Bibi, São Paulo/SP, CEP nº 04.538-
132, endereço eletrônico: taxcompliancebr@fb.com, neste ato responsável pela operação
e funcionamento do aplicativo INSTAGRAM, pelas razões de fato e de direito a seguir
aduzidas.

1. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

A requerente é hipossuficiente economicamente na acepção jurídica do termo, não


dispondo de recursos financeiros suficientes para arcar com as custas processuais sem
desfalque da sua mantença, preenchendo, portanto, os requisitos para que lhe seja deferido
os benefícios da Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da Lei 1.060/500 e art. 98 do
CPC.

2. DA PRELIMINAR

Preliminarmente, Excelência, esclareça-se que, dada a natureza desta ação, não há todos
os números do CPF do segundo requerido em sua integralidade, somente seis dígitos,
somados às chaves PIX, a qual permitem a identificação das contas destinatárias, bem
como seu detentor.

Para tanto, utiliza-se o Princípio da Cooperação das partes, observado no artigo 6º do


Código de Processo Civil, o qual atribui aos sujeitos do processo o dever de cooperar,
principalmente diante da insuficiência de recursos de determinada parte, para que obtenha
todas as informações necessárias afim de que pleitear seus direitos, de modo que se
obtenha de decisão de mérito justa e efetiva, em tempo razoável.

No caso em tela, como será abordado abaixo, trata-se de golpe de PIX aplicado por meio
da internet, de modo que a Autora não possui as ferramentas necessárias para
identificações do golpistas e a consequente e necessária qualificação no presente
processo, motivo pelo qual também se arrola as empresas detentora das plataformas
utilizadas.

É entendimento do Juiz de Direito de Vargem Alta, o Doutor JOSE PEDRO DE SOUZA


NETTO, vejamos:
[...] No caso em comento, vislumbra-se o preenchimento dos requisitos acima
explanados. A probabilidade do direito resta evidenciada pela verossimilhança
das alegações da parte autora bem como pelo teor dos documentos juntados,
especialmente pela demonstração do ocorrido com o boletim de ocorrência
tipificando o crime de estelionato (id n° 21204069), bem como detalhes dos
pix's realizados com o prints dos comprovantes (id n° 21204066).
Quanto ao perigo de dano, caso não seja deferida a medida requerida, a parte
requerente poderá sofrer prejuízos de difícil reparação, visto que o valor
retirado de sua conta prejudicará com a sua atividade econômica, gerando
consequência em outras áreas como ser negativada ou descumprir com
obrigações trabalhistas, visto ser um elevado valor.
Por outro lado, o indeferimento da medida vindicada poderá causar prejuízos
de difícil reparação, porquanto correndo risco de não ser ressarcido do valor,
um verdadeiro capitis diminutio, o que não se pode conceber, estando a questão
sub judice.
[...]
Diante do exposto, defiro o pedido liminar, pelo que determino a penhora
on-line via SISBAJUD do montante corresponde ao valor transferido a
cada um dos Requeridos (Bruno – R$ 686,37 / Emerson - R$ 814,89),
consoante id n° 21204066 . [...]

Desta forma, requer que seja realizadas buscas nas bases de dados do poder
judiciário para localização do endereço do segundo requerido.

3. DO OFICIAMENTO À TERCEIRA REQUERIDA

A parte requerente se encontra com insuficiência de informações do segundo requerido


e, por isso, necessita das informações que foram prestadas para o cadastro na instituição
bancária da terceira requerida.

Para tanto, faz-se necessário que este Juízo oficie, preliminarmente, a terceira requerida
para que informe, neste processo, os dados necessários para o prosseguimento do feito.

4. DA INTIMAÇÃO E CITAÇÃO POR E-MAIL

A intimação/citação dos requeridos por intermédio de e-mail, conforme artigos 246 e


269, ambos do CPC, e, em não conseguindo, por carta com aviso de recebimento (AR),
para que conteste a presente ação, sob pena de confissão e serem reputados como
verdadeiros os fatos alegados na inicial, nos termos do artigo 319 do Código de Processo
Civil;

5. DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


No que se refere ao caso em questão, a autora encontra-se na posição de consumidora,
uma vez que adquire a prestação de serviço com base no art. 3º da lei 8.078 de 1990 e
utiliza do serviço como destinatário final, conforme art. 2º da mesma lei, possuindo todas
as características de vulnerabilidade, tais como a técnica, econômica e jurídica.

Ainda, tratando-se de instituição financeira aplica-se de modo conjunto a Sumula 297 do


STJ, que rege:

“O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


instituições financeiras”

Desta forma, totalmente aplicável tais disposições legislativas

6. DA COMPETÊNCIA

Trata-se de relação de consumo, com base no art. 3º da lei 8.078 de 1990, sendo, portanto,
aplicável o art. 101, I do CDC que autoriza a propositura da presente ação demandada no
foro do domicílio da parte autora.

7. DOS FATOS

No dia 13/11/2023 a requerente recebeu um anuncio do Instagram da Loja Kaxu Imports,


no qual constava a venda de celulares Iphones, vejamos:
Ao acessar a plataforma e pesquisar por “KAXU IMPORTS” fora fornecido um perfil
com 112 mil seguidores, 140 publicações, com destaques de clientes conhecidos pela
requerente, post com as imagens/vídeos de alta qualidade, localização e demais
informações que parecia se tratar de um perfil verdadeiro. (prints em anexo)

Sendo assim, a requerente entrou em contato com a loja informando que possui interesse
em adquirir 01 (um) iphone 11, 128 GB, na cor lilás, pelo valor de R$1.999,00 (mil
novecentos e noventa e nove reais).

Ato contínuo, a requerente combinou a forma de pagamento, local/hora de entrega do


produto, passou suas informações para a expedição da nota fiscal.

Ocorre que, foi informado para a requerente, para expedição da nota fiscal bem como a
realização da entrega do produto (que seria através de motoboy), deveria ser realizado o
pix para a seguinte chave: financeiro28ltda@gmail.com, sob titularidade de NICOLAS
BERNARDES SANTOS, na instituição financeira ONBANK.

A requerente realizou o pix e mandou o comprovante para o referido perfil, às 13:00h,


tendo este informado a ela que iria encaminhar para o financeiro e após o faturamento iria
encaminhar a nota fiscal e liberar o aparelho para o envio.

Quando foi 14h:16min a requerente começou a desconfiar que poderia ter sido vítima de
um golpe, pois ainda não havia sido lhe enviado a nota fiscal conforme ficou acordado.
Sendo assim, enviou uma mensagem solicitando o número do WhatsApp e ainda
questionou o porquê da demora em ser enviado a nota fiscal, tendo tido a seguinte
resposta: “Estou só organizando um envio e em 5 minutos te encaminho”.

Após esta mensagem a requerente não mais foi respondida e procurou imediatamente o
Banco do Banestes, agência de Jerônimo Monteiro, sendo atendida pela Senhora Brendha
Lilian, para informar que havia sido vítima de um golpe pelo Instagram e solicitar o
cancelamento do PIX no valor de R$ 1.920,00 (mil novecentos e vinte reais).

Após a funcionária da primeira requerida realizar o procedimento necessário, foi


informado para a requerente que não seria possível cancelar o pix, mas que ela havia
registrado o ocorrido e que então seria enviado uma comunicação ao banco de destino
(terceira requerida) e que para a devolução do valor dependeria da possibilidade de existir
saldo no banco que foi recebido o pix.
Além disso, no mesmo dia a requerente ligou para o canal de atendimento do Banestes –
protocolo nº 3156999-, através do nº 0800 727 0474, e relatou que havia sido vítima de
um golpe e solicitou o cancelamento do pix, mas foi informada pelo atendente que o
sistema estava apresentando algumas falhas, mas que já havia sido feito registro no
sistema e era para aguardar o seu retorno no prazo de 07 (sete) dias.

No dia 23/11/2023, após decorrer o prazo solicitado, a requerente ligou novamente para
o canal de atendimento – protocolo nº 3164852- e solicitou informações acerca do
cancelamento do pix, sendo atendida pela Sra Natália que lhe passou informações de que
o protocolo anterior havia sido encaminhado para o setor responsável, mas que ela não
tinha nenhuma resposta, motivo pelo qual informou para a requerente procurar um gerente
da sua agência.

No mesmo dia, por volta de 13:30, a requerente se locomoveu até a agência de Jerônimo
Monteiro e lá foi atendida pela Sra. Estefanea, que informou que se o valor não foi
devolvido até a presente data, significa que não foi bloqueado nenhum valor no banco
receptor e por isso não teria mais o que fazer.

Diante de total descaso e inconformada com o constrangimento infundado, a parte


requerente busca por meio desta ação a indenização por danos morais e materiais
decorrente das condutas dos requeridos.
8. DOS FUNDAMENTOS

8.1 DA RESPONSABILIDADE DOS BANCOS REQUERIDOS

Aplica-se, às relações de consumo, a teoria da responsabilidade objetiva, segundo


determina o Código de Defesa do Consumidor, in verbis:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. [...]

§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando


provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

O Código de Defesa do Consumidor também adotou a teoria da responsabilidade objetiva


às relações de consumo, consoante a qual, para caracterização do dever de indenizar,
basta a comprovação da existência do ato ilícito e do nexo de causalidade entre este
e o dano sofrido pelo consumidor, sendo desnecessária qualquer averiguação acerca
da ocorrência de culpa ou dolo do fornecedor de serviços.

Assim, basta a autora comprovar a existência do dano e do nexo de causalidade entre esta
e a conduta do prestador de serviços, para que surja a obrigação legal de responsabilizar-
se pela reparação dos danos causados, uma vez, que sua responsabilidade é objetiva.

Ademais os requisitos necessários para configurar tal responsabilidade encontram-se


cabalmente comprovados.

Veja-se que a responsabilidade objetiva em virtude do risco da atividade é tendência


seguida tanto no Código de Defesa do Consumidor quanto no próprio Código Civil (art.
927, parágrafo único).

Sobre o tema, Vidal Serrano Nunes Junior e Yolanda Alves Pinto Serrano ensina que [...]
com a massificação do mercado e sua consequente despersonalização, restou
impossibilitado, no referente à aferição da responsabilidade, o socorro nas regras de
direito civil, visto que extremamente embasada no componente anímico dos sujeitos da
relação. Descartada, portanto, pela realidade, em princípio, e depois pela própria lei a
responsabilização subjetiva, calcada no tríplice elemento: imprudência, negligência e
imperícia. Abraçou o ordenamento, então, mais uma hipótese de responsabilidade
objetiva, que, na lição de Maria Helena Diniz, é aquela “fundada no risco, sendo
irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador do dano, uma vez que bastará
a existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido pela vítima e a ação do agente
para que surja o dever de indenizar”. O sujeito da relação, portanto, perde importância
para efeito de responsabilidade, passando a figurar como ponto central da análise o
produto ou serviço, cujas características vão definir a existência ou não do dever de
indenizar.

Nesse passo, mister ressaltar que a garantia da segurança prevista no art. 12 é de natureza
extracontratual, constituindo verdadeiro dever do fornecedor, ao qual, por óbvio, gera um
direito ao consumidor, que se alicerça, outrossim, nos princípios gerais do Código,
concernentes à boa-fé e à confiança.” (In. Código de Defesa do Consumidor Interpretado.
2ª. ed. Saraiva: São Paulo, 2005, pp. 64/65).

Realmente, com a evolução da sociedade e consequentemente das relações jurídicas nela


estabelecidas, por vezes, torna-se muito difícil ou até mesmo inviável à vítima perquirir,
averiguar e muito menos provar em juízo eventual conduta culposa do agente lesante.

As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito


interno, relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias, conforme Súmula 479 STJ. Referida responsabilidade somente seria afastada
caso as requeridas comprovassem que mesmo prestando o serviço, o defeito inexiste ou
a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, conforme estipulado no artigo 14, §3º,
da mencionada norma protetiva, o que não aconteceu no caso em tela.

Ademais, as partes requeridas também poderiam ter elencado quais medidas de segurança
são tomadas pelo banco para evitar possíveis fraudes e danos ao consumidor e a
efetividade de cada uma delas, mas não o fez, violando, dessa forma, a boa-fé e a
confiança que devem orientar as relações de consumo.

O que houve foi uma grave falha na prestação do serviço, sem as devidas precauções
e medidas de segurança, que garantissem a idoneidade de tal transação.
Muito embora seja constatada a fraude, esta é de responsabilidade dos Bancos réus, em
decorrência dos próprios riscos da atividade, que jamais pode ser repassada aos
consumidores, parte mais frágil da relação de consumo.

Desse modo, vislumbra-se caracterizada a CONDUTA ILÍCITA, ensejando o dever de


reparação moral, pela falha na prestação do serviço causando transtornos ao consumidor,
que refogem aos aborrecimentos habituais e corriqueiros, importando em violação aos
direitos integrantes da personalidade.

Encontram-se, portanto, evidenciados os elementos caracterizadores da responsabilidade


civil objetiva das empresas fornecedoras de serviços bancários e, por conseguinte, resta
caracterizado o dever das requeridas em ressarcir os prejuízos suportados pela
demandante.

8.2 DA RESOLUÇÃO Nº 147, DE 28 DE SETEMBRO DE 2021 DO BANCO


CENTRAL DO BRASIL

Diante da instantaneidade trazida por meio da implementação do PIX, o Banco Central


do Brasil, trouxe consigo, normativas aplicáveis que visam trazer maior segurança, e
proteção aos usuários, segurança essa, que deve ser exercida pelas instituições
financeiras.

Rege de modo claro a resolução 147 de 28 de Setembro de 2021 do Banco Central do


Brasil:

"Art. 39-B. Os recursos oriundos de uma transação no âmbito do Pix


deverão ser bloqueados cautelarmente pelo participante prestador de
serviço de pagamento do usuário recebedor quando houver suspeita de
fraude.

§ 1º A avaliação de suspeita de fraude deve incluir:

I - a quantidade de notificações de infração vinculadas ao usuário recebedor, à


sua chave Pix e ao número da sua conta transacional;

II - o tempo decorrido desde a abertura da conta transacional pelo usuário


recebedor;

III - o horário e o dia da realização da transação;

IV - o perfil do usuário pagador, inclusive em relação à recorrência de


transações entre os usuários; e

V - outros fatores, a critério de cada participante.


§ 2º O bloqueio cautelar deve ser efetivado simultaneamente ao crédito na
conta transacional do usuário recebedor.

§ 3º O participante prestador de serviço de pagamento deverá comunicar


imediatamente ao usuário recebedor a efetivação do bloqueio cautelar.

§ 4º O bloqueio cautelar durará no máximo 72 horas.

§ 5º Durante o período em que os recursos estiverem bloqueados


cautelarmente, o participante prestador de serviço de pagamento do
usuário recebedor deve avaliar se existem indícios que confiram
embasamento à suspeita de fraude.

§ 6º Concluída a avaliação de que trata o § 5º:

I - os recursos serão devolvidos ao usuário pagador, nos termos do


Mecanismo Especial de Devolução, de que trata a Seção II do Capítulo XI,
caso se identifique fundada suspeita de fraude na transação; ou

II - cessará imediatamente o bloqueio cautelar dos recursos,


comunicando-se prontamente o usuário recebedor, nas hipóteses em que
não forem identificados indícios de fraude na transação.

§ 7º O bloqueio cautelar pode ser efetivado somente em contas


transacionais de usuários pessoa natural, excluídos os empresários
individuais.

§ 8º A possibilidade de realização do bloqueio cautelar de que trata este artigo


deverá constar do contrato firmado entre o usuário recebedor e o
correspondente prestador de serviço de pagamento, mediante cláusula em
destaque no corpo do instrumento contratual, ou por outro instrumento jurídico
válido.

§ 9º O usuário recebedor poderá solicitar a devolução do Pix em montante


correspondente ao valor da transação original enquanto os recursos estiverem
cautelarmente bloqueados.”

Ou seja, conforme a tal Resolução, a instituição deve bloquear cautelarmente os valores,


quando houve suspeita de fraude, ou algo do tipo, a autora, realizando tal transação em
tal valor não é comum ou rotineiro, deste modo, já deveria haver algum mecanismo.

Ainda, logo que houve a percepção do golpe pela parte autora, esta, entrou imediatamente
em contato com a primeira requerida, afim de que pudesse informar a instituição que
havia caído em golpe, no intuito do Banco Réu tentar utilizar algum mecanismo de
bloqueio ou algo do tipo.

O grande problema é que, a primeira requerida abriu o protocolo, mencionou que haveria
um retorno dentro de 11 dias, e a única informação que a autora teve foi de que o valor
de R$ 1.947,04 (mil novecentos e quarenta e sete reais e quatro centavos) não seria
estornado, uma vez que a instituição recebedora do PIX não possuía saldo disponível para
que o valor fosse devolvido.
Além disso, nada mais lhe foi informado, se houve ou não o bloqueio dos demais valores,
se foi realizado o cancelamento do empréstimo, ou qualquer retorno plausível, afim de
orientar e comunicar sobre a presente situação.

Porém nada disso foi feito, indo em total dissonância da Resolução supracitada.

Foi percebível um certo descaso da primeira requerida para com a situação da Autora,
não realizando o bloqueio cautelar de transação suspeita, a não realização de tentativa de
bloqueio, a possibilidade de reversão da transação fraudulenta e a falta de retorno efetiva
sobre o caso em comento.

Insta dizer que ficou evidente que o dano sofrido pela autora, que se concretizou devido
a INÉRCIA e DESINTERESSE apresentado pelo Nubank em resolver a presente
demanda via extrajudicial, que em momento oportuno nenhuma medida que estava ao seu
alcance foi adotada.

8.3 DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA PLATAFORMA


INSTAGRAM

As plataformas efetivamente detêm de responsabilidade objetiva e solidária, nos termos


do Parágrafo Único do artigo 7º do CDC.

Além disso, o CDC prevê a incidência, nos casos de fato do produto ou serviço, dos artigo
12 a artigo 17 e, no caso de vício, artigos 18 a 25, sendo a regra a responsabilização
objetiva independente de culpa.

Nessa toada, a prestação dos serviços pelas redes sociais deve atender a padrões
adequados de qualidade, assim como de segurança. Contudo, não é o que se tem
observado em grande medida na prática, de modo que se torna necessário o
desenvolvimento de meios de segurança eficazes a obstar que farsantes se aproveitem da
boa-fé de terceiros e apliquem, nas redes sociais, golpes a bel prazer, fazendo disso um
meio de vida.

De acordo com o artigo 14 do CDC e seus respectivos incisos, o serviço é defeituoso


quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais, o modo de seu fornecimento, o
resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam, e a época em que foi fornecido.
As falhas estratégias no combate à fraude fomentam a clonagem de perfis, o roubo de
contas e a aplicação de golpes, situações que configuram falha relevante de segurança,
demonstrando que o serviço poderá ser considerado defeituoso, ensejando
responsabilidade objetiva da plataforma.

Trata-se de fortuito interno a situação rotineira de prática de golpes a usuários das redes
sociais, consumidoras do serviço prestado pelos provedores, não pode ser ignorada e
considerada como um fator alheio à administração da sociedade empresária, como se esta
não devesse considerar a segurança de seus clientes em sua organização.

É entendimento dos Tribunais de Justiça:

APELAÇÃO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.


INSTAGRAM. PERFIL FALSO. Criminosos criaram perfil falso na
plataforma do INSTAGRAN, utilizando-se de dados da conta do autor (fotos,
nome e marca) e passaram a oferecer produtos, sem que houvesse a entrega.
Denúncias na órbita administrativa apresentadas pelo autor e por clientes
lesados. Letargia do FACEBOOK em solucionar o impasse. Conta desativada
somente após ajuizamento da demanda e concessão de tutela de urgência.
Sentença de procedência parcial. Inconformismo do autor. FORTUITO
INTERNO. Aplicação do CDC à casuística. Autor que tomou conhecimento
do perfil falso e, a despeito da comunicação, o réu que não apresentou solução.
Não lhe socorre a assertiva de que estaria impedido de agir diante da legislação
em vigor, notadamente o Marco Civil da Internet . Inteligência do art. 7º ,
incisos I e XIII , da Lei n. 12.965 /2014 Obrigação de fazer mantida. DANOS
MORAIS. Ocorrência. Situação que superou o mero dissabor. O autor teve sua
marca maculado, havendo descrédito na sua atuação profissional. Angústia
diante da inércia do apelante. Seguidores que foram enganados pelos
criminosos. Os contratempos daí advindos que não podem ser imputados como
meros transtornos. Condenação arbitrada em R$ 10.000,00. SUCUMBÊNCIA.
Inversão. RECURSO PROVIDO.
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. DIREITO
CIVIL. CONTA EM REDE SOCIAL. INSTAGRAM. APROPRIAÇÃO
POR TERCEIROS (HACKER) DE CONTA DE USUÁRIO EM REDE
SOCIAL. FALHA NA PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DOS
FORNECEDORES DE SERVIÇOS (ART. 14 , CDC ). FORTUITO
INTERNO (TEORIA DO RISCO DA ATIVIDADE). INEXISTÊNCIA DE
CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR. RESTABELECIMENTO
DA CONTA. DANOS MORAIS. QUANTUM. PROPORCIONALIDADE E
RAZOABILIDADE. SENTENÇA MANTIDA. 1. O caso dos autos envolve
questão de responsabilidade civil em que se afigura necessária a identificação
de eventual defeito na prestação dos serviços, uma vez sujeita a relação jurídica
às regras de proteção ao Código de Defesa do Consumidor (artigo 14 , CDC ),
bem como a observância, pela prestadora de serviços, das regras sobre o uso
da internet no país (Lei nº 12.965 /2014 - Marco Civil da Internet ). 2. As
provas coligidas apontam que a autora se utiliza do seu perfil na rede social
para finalidades comerciais, bem como demonstram a possibilidade de
prejuízo em virtude de sua inativação. Restou comprovado, também, que não
houve violação, por parte a demandante, aos termos de uso e à política de
privacidade da rede social, razão pela qual, diante do insucesso do retorno do
perfil pela via administrativa, se fez necessária a busca pela tutela jurisdicional,
direcionada ao restabelecimento da conta. 3. A responsabilidade civil dos
fornecedores de serviços é objetiva, conforme arts. 14 do CDC e 186 , 187 e
927 do CC , não se fazendo necessário perquirir acerca da existência de culpa.
A culpa exclusiva de terceiros capaz de elidir a responsabilidade objetiva do
fornecedor de produtos ou serviços é somente aquela que se enquadra no
gênero de fortuito externo (evento que não tem relação de causalidade com a
atividade do fornecedor). Nesse viés, a atuação indevida de terceiro (fraude)
não rompe o nexo causal entre a conduta do fornecedor e os danos suportados
pelos consumidores, porquanto trata-se de fortuito interno (teoria do risco da
atividade), relacionado os riscos inerentes ao exercício da atividade
desempenhada pela empresa (art. 14 , § 3º , II , CDC ). 4. No que concerne ao
dano extrapatrimonial, verifica-se que, no caso concreto, a situação vivenciada
pela autora ultrapassa a esfera do mero aborrecimento a ponto de afetar a
integridade moral (honra objetiva) da personalidade da parte requerente. Em
relação ao quantum, deve-se manter a estimativa razoavelmente fixada (R$
3.000,00), uma vez que guardou correspondência com o gravame sofrido, além
de sopesar as circunstâncias do fato, a capacidade econômica das partes, a
extensão e gravidade do dano, bem como o caráter punitivo-pedagógico da
medida, tudo, com esteio no princípio da proporcionalidade. 5. Apelo
conhecido e desprovido. Honorários recursais fixados.

A requerente tem o conhecimento de que não foi a única vítima do golpe aplicado,
vejamos:

A requerente e seus familiares, bem como as outras vítimas do mesmo golpe,


denunciaram e restringiram por diversas vezes a conta sob o @kaxuoficial, mas nada
adiantou, pois até a presente data o referido perfil está ativo e fazendo postagens de
produtos. (vídeo em anexo).

Destarte, é notória a responsabilidade objetiva da quarta requerida, a qual independe do


seu grau de culpabilidade, uma vez que incorreu em uma lamentável falha, gerando o
dever de indenizar, pois houve defeito relativo à prestação de serviços.

8.4 DO DEVER DE INDENIZAR

O cometimento de ato ilícito está previsto no Código Civil, a partir de ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, mesmo que
exclusivamente moral. Preconizam o art. 186 e 927 do Código Civil:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Logo, tem-se a obrigação de reparar o dano, conforme previsão do art. 927 do Código
Civil.

Para configuração da responsabilidade civil com o dever de indenizar, leva-se em conta


três pressupostos essenciais: existência de dano, nexo causal e a culpa genérica (culpa
lato sensu).

Não há dúvidas de que, no caso em tela, há existência do dano material de R$ 1.920,00


(mil novecentos e vinte reais), pela parte autora, bem como dano moral, explanado melhor
em tópico específico abaixo.

O nexo de causalidade se caracterizou como o envio do anúncio do Instagram, relação de


causa e efeito entre conduta e resultado, perceptível no caso na medida em que a ação do
segundo requerido em aplicar o golpe na parte autora causou os danos.

A culpa genérica se apresenta pelo dolo, como violação intencional do dever jurídico com
o objetivo de prejudicar outrem, especificamente pela ação intencional do segundo
requerido em obter vantagem financeira frente à autora.

Resta demonstrado, portanto, a responsabilidade do segundo requerido no presente caso,


com o consequente dever de indenizar.

Deve-se esclarecer, por fim, que o segundo requerido foi identificado parcialmente por
meio de seis dígitos do número do CPF, vinculado à chave aleatória para onde o PIX foi
enviado, o que comprova seu envolvimento no golpe, uma vez que recebeu o valor
transferido pela Autora.

8.5 DO DANO MATERIAL

Revela-se no presente caso a necessidade de indenização por danos materiais, vez que
fora esclarecido o dever de indenizar pelos requeridos.
Conforme doutrina de Flávio Tartuce, os danos materiais ou patrimoniais constituem
prejuízos, perdas que atingem o patrimônio corpóreo de uma pessoa natural, pessoa
jurídica ou ente despersonalizado. No caso em tela, o dano material se revela na perda
financeira que a parte autora teve que arcar, no montante de R$ 1.920,00 (mil novecentos
e vinte).

Diante do exposto, pugna pela condenação das requeridas ao ressarcimento por danos
materiais à autora, no montante de R$ 1.920,00 (mil novecentos e vinte), valor que deverá
ser devidamente atualizado desde a data da transferência.

8.6 DO DANO MORAL

Não há dúvidas quanto à configuração do dano material. Por conseguinte, atrelado a este,
está a efetiva caracterização do dano moral.

A indenização por dano moral pressupõe a existência de dano, ato ilícito e nexo de
causalidade entre aqueles, como explanado acima. No caso, o dano moral se apresenta
por todo o sofrimento, angústia e humilhação que foi causado à parte autora pela aplicação
do golpe.

A requerente labora como estagiária no escritório de advocacia, atendendo clientes,


respondendo mensagem e ligações, digitalizando documentos, e por isso utilizou de suas
economias financeiras para adquirir um celular melhor, uma vez que o seu não encontra-
se em ótimas condições.

É inegável que a situação pela qual passou e passa a requerente lhe causa dano moral, eis
que foi enganada, tendo sua expectativa frustrada.

Além disso, a situação vivenciada pela autora não se traduz em mero dissabor ou
aborrecimento. O dano moral está configurado eis que evidente a angústia e perturbação
suportadas por ela ao perder o montante R$ 1.920,00 (mil novecentos e vinte), valor que
era relevante para seu orçamento, e por está sem poder utilizar o produto adquirido, o que
lhe vêm causou diversos transtornos em seu ambiente de trabalho.
Conforme entendimento dos Tribunais:

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DECLARATÓRIA C/C INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS E MATERIAIS – INEXISTÊNCIA DA
COMPROVAÇÃO DE BOA-FÉ – EMPRÉSTIMO DE DADOS
BANCÁRIOS PARA A TRANSFERÊNCIA DE QUANTIA ADVINDA DE
GOLPE – DANO MORAL CONFIGURADO – QUANTUM MANTIDO –
SENTENÇA MANTIDA – RECURSO IMPROVIDO. O apelante, ao
disponibilizar seus dados bancários para que terceiros pudessem fazer uso de
forma irrestrita, passou a assumir os riscos que tal prática ocasionaria.
Outrossim, apesar de lhe ter sido oportunizado, não trouxe aos autos quaisquer
provas de que agiu de boa-fé quanto ao suposto empréstimo da sua conta
bancária para terceiros, ônus que lhe incumbia, nos exatos termos do art. 373,
II, do CPC, não podendo se eximir da responsabilidade pelos atos ilícitos
praticados mediante o uso indevido de seus dados pessoais. À luz de tais
considerações, atento às peculiaridades do caso concreto, entendo o montante
de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), é quantia razoável e hábil para atender as
finalidades da reparação civil na hipótese em questão, especialmente ao caráter
pedagógico de reprimenda pecuniária. (AC 0800825- 72.2017.8.12.0011,
Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul, Relator:
Des. Divoncir Schreiner Maran, Julgado em 10/01/2021). (grifo nosso)

Ademais, não obstante do dano material e moral devidamente comprovados, importante


que seja considerado ainda o transtorno involuntário sofrido pela Autora, ao que a
doutrina denomina de dano pela perda do tempo útil, pois afeta diretamente a rotina do
indivíduo gerando um desvio produtivo involuntário, que obviamente causam angústia e
stress.

A perda de tempo de vida útil da autora não constitui mero aborrecimento do cotidiano,
mas verdadeiro impacto negativo em sua vida, devendo ser indenizado nesse sentido.

Ademais, Excelência, é justamente nestes casos que o dano moral deve ser aplicado, pois
possui caráter tanto punitivo quanto compensatório. O primeiro caráter faz com que o
causador do dano arque com o que causou, de modo a não estimular novas práticas lesivas
da mesma espécie. Por sua vez, o segundo caráter satisfaz a vítima de forma a minimizar
seu sofrimento.

Além disso, é manifesto o entendimento dos Tribunais do País de que o arbitramento do


dano moral é de certa forma, medida coercitiva, e tem como principal intuito a reparação
do dano sofrido pela requerente, bem como, é forma de coibir a reiteração do ilícito pelas
rés.

Logo, comprovado o dano, merece a fixação do valor da indenização ser realizada com
razoabilidade, considerando-se as peculiaridades do caso vez que a autora teve seu
rendimento lesado, proporcionando adequada compensação a ofensa, para que não seja
elevada a ponto de ensejar aumento patrimonial indevido e tampouco inexpressivo.

Sobre o valor da indenização por dano moral, não é razoável o arbitramento que importe
em uma indenização irrisória, de pouco significado para a ofendida, nem uma indenização
excessiva, de gravame demasiado ao ofensor.

Portanto, requer a condenação das requeridas ao pagamento de reparação dos danos


morais sugerindo-se como quantum indenizatório o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais),
montante que deverá ser atualizado monetariamente.

8.7 DO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO

Opera-se, in casu, o Enriquecimento Ilícito, previsto no artigo 884 do Código Civil, veja-
se:

Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será
obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores
monetários. A restituição é devida, não só quando não tenha havido causa que
justifique o enriquecimento, mas também se esta deixou de existir.

Conforme a letra legal, o golpista está obrigado a restituir o valor de R$ 1.920,00 (mil
novecentos e vinte reais), uma vez que este valor não lhe é devido.

Neste sentido, tem-se que "Enriquecimento sem causa, enriquecimento ilícito ou


locupletamento ilícito é o acréscimo de bens que se verifica no patrimônio de um sujeito,
em detrimento de outrem, sem que para isso tenha um fundamento jurídico" (LIMONGI-
FRANÇA, 1987).

8.8 DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Por fim, a inversão do ônus da prova tem como fundamento a situação de desvantagem
entre o consumidor e fornecedor de serviço, conforme art. 6, VIII, do CDC, em que houve
a comprovação de mais que o mínimo de lastro probatório.
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VIII - a facilitação da defesa de
seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

Pelo exposto, é de conhecimento geral de todos os operadores do direito que a regra do


ônus da prova cabe a quem alega, porém, em decorrência da reconhecida
vulnerabilidade e hipossuficiência do consumidor frente à capacidade técnica e
econômica do fornecedor de serviço ou produto, a regra sofre uma “flexibilização”,
com o objetivo de criar uma igualdade no plano jurídico.

A inversão, para o caso concreto em discussão, se torna EXTREMAMENTE essencial,


uma vez que a autora possui todos os protocolos anotados, demonstrando o mínimo de
lastro probatório.

É necessário que a primeira ré, demonstre que buscou contato com a terceira ré,
bem como a terceira ré demonstrar que agiu com o bloqueio. Além disso, é
necessário que a quarta requerida, demonstre que tomou todas as medidas cabíveis
para que o perfil “fake” fosse cancelado, para não gerar mais vítimas assim como a
requerente.

Portanto, a inversão do ônus da prova ocorre com objetivo de facilitar a defesa dos direitos
do consumidor e, por via reflexa, garantir a efetividade dos direitos do indivíduo e da
coletividade na forma dos artigos 5º, inciso XXXII e 170, inciso IV, ambos da CF/88.

9. DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

O artigo Código de Processo Civil, eu seu art. 300 estabelece que, quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo, será concedida a tutela de urgência. Há no presente caso os
dois requisitos para acautelar o direito pleiteado pela autora: o Periculum in mora (risco
da demora) e o Fumus boni iuris.

Quanto ao Fumus boni iuris, não há dúvidas de que o alegado direito é plausível. Ainda,
o Periculum in mora está evidenciado pela probabilidade do segundo requerido se utilizar
de seus recursos para não comparecer ao processo, além de nem mesmo devolver o
dinheiro, ou desviar os recursos para outra conta, resultando na falta de liquidez para
ressarcimento da requerente.
Dessa forma, busca-se o arresto de dinheiro na conta bancária do segundo requerido, no
montante de R$ 1.920,00 (mil novecentos e vinte reais), a fim de garantir o crédito da
autora e possibilitar futura penhora, protegendo-se da possibilidade da parte ré
estelionatária esvaziar sua conta ou mesmo não comparecer nos autos.

Conforme jurisprudência dos Tribunais Superiores:

MATÉRIAS ALHEIAS À ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO. AGRAVO DE


INSTRUMENTO. RESCISÃO DE CONTRATO C/C INDENIZAÇÃO POR
DANO MORAL E MATERIAL. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. TRADER
QUE JÁ É ALVO DE NOTICIÁRIO NACIONAL E INÚMERAS AÇÕES
CÍVEIS E CRIMINAIS, SEM CITAÇÃO EFETIVADA, EM QUE SE
DISCUTE A EXISTÊNCIA DE GOLPES FINANCEIROS À
INVESTIDORES QUE LHE CONFIAVAM SOMAS EM DINHEIRO PARA
INVESTIMENTO. ARRESTO. POSSIBILIDADE. PREENCHIMENTO
DOS REQUISITOS DO ART. 300 DO CPC. Recurso provido. (TJPR - AI:
0009667- 57.2021.8.16.0000, Relator: DESEMBARGADOR RUY CUNHA
SOBRINHO, Data de Julgamento: 31/05/2021, 1ª Câmara cível, Data de
Publicação: 07/06/2021) (grifo nosso).

Resta evidenciado, portanto, o direito da autora de ter concedida a tutela de urgência,


requerendo, para tanto, a concessão da tutela de urgência cautelar, de forma liminar, para
que seja determinado o arresto de valores na conta bancária do segundo requerido,
no montante de R$ 1.920,00 (mil novecentos e vinte reais), a fim de garantir o
recebimento do crédito da autora.

Além disso, requer ainda, a concessão da tutela de urgência cautelar, para que a quarta
requerida proceda a imediata suspensão da conta @kaxuoficial, sob pena de multa
diária no importe de R$ 1.000,00 (mil reais) em caso de descumprimento.

10. DOS PEDIDOS

Ante ao exposto, requer de Vossa Excelência:

a) A concessão da tutela de urgência pleiteada para conceder o arresto na conta


bancária do segundo requerido, no montante R$ 1.920,00 (mil novecentos e vinte
reais), bem como seja determinado que a quarta requerida proceda a imediata
suspensão da conta @kaxuoficial, sob pena de multa diária no importe de R$
1.000,00 (mil reais) em caso de descumprimento.

b) Que seja realizadas buscas nas bases de dados do poder judiciário para localização
do endereço do segundo requerido;
c) A concessão da gratuidade da justiça para a requerente;

d) A citação dos requeridos para apresentarem contestação, sob pena de revelia;

e) A procedência da ação condenando dos requeridos à indenização por danos


materiais, no montante R$ 1.920,00 (mil novecentos e vinte reais), o qual deverá
ser devidamente atualizado desde a data do fato;

f) Seja determinado o cancelamento da conta @kaxuoficial de forma definitiva;

g) A procedência da ação condenando os requeridos à reparação por danos morais em


montante não inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais), considerando as condições
das partes, principalmente o potencial econômico-social da lesante, a gravidade da
lesão, sua repercussão e as circunstâncias fáticas;

h) A produção de todas as provas admitidas em direito, nos termos do art. 369 do CPC;

i) Inversão do ônus da prova (art. 6, VIII, do CPC);

j) Seja determinado a expedição de ofício à terceira requerida para que esta informe,
neste processo, os dados necessários para o prosseguimento do feito.

k) Ao final seja declarada TOTALMENTE PROCEDENTE a presente ação, com a


concessão de todos os pedidos formulados.

Dá-se a causa o valor de R$ 11.920,00 (onze mil novecentos e vinte reais).

Nestes Termos,

pede e aguarda deferimento.

Jerônimo Monteiro-ES, 23 de novembro de 2023.

JOSÉ ROCHA JUNIOR

OAB/ES 9.494

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