Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MONTEIRO/ES
1. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA
2. DA PRELIMINAR
Preliminarmente, Excelência, esclareça-se que, dada a natureza desta ação, não há todos
os números do CPF do segundo requerido em sua integralidade, somente seis dígitos,
somados às chaves PIX, a qual permitem a identificação das contas destinatárias, bem
como seu detentor.
No caso em tela, como será abordado abaixo, trata-se de golpe de PIX aplicado por meio
da internet, de modo que a Autora não possui as ferramentas necessárias para
identificações do golpistas e a consequente e necessária qualificação no presente
processo, motivo pelo qual também se arrola as empresas detentora das plataformas
utilizadas.
Desta forma, requer que seja realizadas buscas nas bases de dados do poder
judiciário para localização do endereço do segundo requerido.
Para tanto, faz-se necessário que este Juízo oficie, preliminarmente, a terceira requerida
para que informe, neste processo, os dados necessários para o prosseguimento do feito.
6. DA COMPETÊNCIA
Trata-se de relação de consumo, com base no art. 3º da lei 8.078 de 1990, sendo, portanto,
aplicável o art. 101, I do CDC que autoriza a propositura da presente ação demandada no
foro do domicílio da parte autora.
7. DOS FATOS
Sendo assim, a requerente entrou em contato com a loja informando que possui interesse
em adquirir 01 (um) iphone 11, 128 GB, na cor lilás, pelo valor de R$1.999,00 (mil
novecentos e noventa e nove reais).
Ocorre que, foi informado para a requerente, para expedição da nota fiscal bem como a
realização da entrega do produto (que seria através de motoboy), deveria ser realizado o
pix para a seguinte chave: financeiro28ltda@gmail.com, sob titularidade de NICOLAS
BERNARDES SANTOS, na instituição financeira ONBANK.
Quando foi 14h:16min a requerente começou a desconfiar que poderia ter sido vítima de
um golpe, pois ainda não havia sido lhe enviado a nota fiscal conforme ficou acordado.
Sendo assim, enviou uma mensagem solicitando o número do WhatsApp e ainda
questionou o porquê da demora em ser enviado a nota fiscal, tendo tido a seguinte
resposta: “Estou só organizando um envio e em 5 minutos te encaminho”.
Após esta mensagem a requerente não mais foi respondida e procurou imediatamente o
Banco do Banestes, agência de Jerônimo Monteiro, sendo atendida pela Senhora Brendha
Lilian, para informar que havia sido vítima de um golpe pelo Instagram e solicitar o
cancelamento do PIX no valor de R$ 1.920,00 (mil novecentos e vinte reais).
No dia 23/11/2023, após decorrer o prazo solicitado, a requerente ligou novamente para
o canal de atendimento – protocolo nº 3164852- e solicitou informações acerca do
cancelamento do pix, sendo atendida pela Sra Natália que lhe passou informações de que
o protocolo anterior havia sido encaminhado para o setor responsável, mas que ela não
tinha nenhuma resposta, motivo pelo qual informou para a requerente procurar um gerente
da sua agência.
No mesmo dia, por volta de 13:30, a requerente se locomoveu até a agência de Jerônimo
Monteiro e lá foi atendida pela Sra. Estefanea, que informou que se o valor não foi
devolvido até a presente data, significa que não foi bloqueado nenhum valor no banco
receptor e por isso não teria mais o que fazer.
Assim, basta a autora comprovar a existência do dano e do nexo de causalidade entre esta
e a conduta do prestador de serviços, para que surja a obrigação legal de responsabilizar-
se pela reparação dos danos causados, uma vez, que sua responsabilidade é objetiva.
Sobre o tema, Vidal Serrano Nunes Junior e Yolanda Alves Pinto Serrano ensina que [...]
com a massificação do mercado e sua consequente despersonalização, restou
impossibilitado, no referente à aferição da responsabilidade, o socorro nas regras de
direito civil, visto que extremamente embasada no componente anímico dos sujeitos da
relação. Descartada, portanto, pela realidade, em princípio, e depois pela própria lei a
responsabilização subjetiva, calcada no tríplice elemento: imprudência, negligência e
imperícia. Abraçou o ordenamento, então, mais uma hipótese de responsabilidade
objetiva, que, na lição de Maria Helena Diniz, é aquela “fundada no risco, sendo
irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador do dano, uma vez que bastará
a existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido pela vítima e a ação do agente
para que surja o dever de indenizar”. O sujeito da relação, portanto, perde importância
para efeito de responsabilidade, passando a figurar como ponto central da análise o
produto ou serviço, cujas características vão definir a existência ou não do dever de
indenizar.
Nesse passo, mister ressaltar que a garantia da segurança prevista no art. 12 é de natureza
extracontratual, constituindo verdadeiro dever do fornecedor, ao qual, por óbvio, gera um
direito ao consumidor, que se alicerça, outrossim, nos princípios gerais do Código,
concernentes à boa-fé e à confiança.” (In. Código de Defesa do Consumidor Interpretado.
2ª. ed. Saraiva: São Paulo, 2005, pp. 64/65).
Ademais, as partes requeridas também poderiam ter elencado quais medidas de segurança
são tomadas pelo banco para evitar possíveis fraudes e danos ao consumidor e a
efetividade de cada uma delas, mas não o fez, violando, dessa forma, a boa-fé e a
confiança que devem orientar as relações de consumo.
O que houve foi uma grave falha na prestação do serviço, sem as devidas precauções
e medidas de segurança, que garantissem a idoneidade de tal transação.
Muito embora seja constatada a fraude, esta é de responsabilidade dos Bancos réus, em
decorrência dos próprios riscos da atividade, que jamais pode ser repassada aos
consumidores, parte mais frágil da relação de consumo.
Ainda, logo que houve a percepção do golpe pela parte autora, esta, entrou imediatamente
em contato com a primeira requerida, afim de que pudesse informar a instituição que
havia caído em golpe, no intuito do Banco Réu tentar utilizar algum mecanismo de
bloqueio ou algo do tipo.
O grande problema é que, a primeira requerida abriu o protocolo, mencionou que haveria
um retorno dentro de 11 dias, e a única informação que a autora teve foi de que o valor
de R$ 1.947,04 (mil novecentos e quarenta e sete reais e quatro centavos) não seria
estornado, uma vez que a instituição recebedora do PIX não possuía saldo disponível para
que o valor fosse devolvido.
Além disso, nada mais lhe foi informado, se houve ou não o bloqueio dos demais valores,
se foi realizado o cancelamento do empréstimo, ou qualquer retorno plausível, afim de
orientar e comunicar sobre a presente situação.
Porém nada disso foi feito, indo em total dissonância da Resolução supracitada.
Foi percebível um certo descaso da primeira requerida para com a situação da Autora,
não realizando o bloqueio cautelar de transação suspeita, a não realização de tentativa de
bloqueio, a possibilidade de reversão da transação fraudulenta e a falta de retorno efetiva
sobre o caso em comento.
Insta dizer que ficou evidente que o dano sofrido pela autora, que se concretizou devido
a INÉRCIA e DESINTERESSE apresentado pelo Nubank em resolver a presente
demanda via extrajudicial, que em momento oportuno nenhuma medida que estava ao seu
alcance foi adotada.
Além disso, o CDC prevê a incidência, nos casos de fato do produto ou serviço, dos artigo
12 a artigo 17 e, no caso de vício, artigos 18 a 25, sendo a regra a responsabilização
objetiva independente de culpa.
Nessa toada, a prestação dos serviços pelas redes sociais deve atender a padrões
adequados de qualidade, assim como de segurança. Contudo, não é o que se tem
observado em grande medida na prática, de modo que se torna necessário o
desenvolvimento de meios de segurança eficazes a obstar que farsantes se aproveitem da
boa-fé de terceiros e apliquem, nas redes sociais, golpes a bel prazer, fazendo disso um
meio de vida.
Trata-se de fortuito interno a situação rotineira de prática de golpes a usuários das redes
sociais, consumidoras do serviço prestado pelos provedores, não pode ser ignorada e
considerada como um fator alheio à administração da sociedade empresária, como se esta
não devesse considerar a segurança de seus clientes em sua organização.
A requerente tem o conhecimento de que não foi a única vítima do golpe aplicado,
vejamos:
O cometimento de ato ilícito está previsto no Código Civil, a partir de ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, mesmo que
exclusivamente moral. Preconizam o art. 186 e 927 do Código Civil:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Logo, tem-se a obrigação de reparar o dano, conforme previsão do art. 927 do Código
Civil.
A culpa genérica se apresenta pelo dolo, como violação intencional do dever jurídico com
o objetivo de prejudicar outrem, especificamente pela ação intencional do segundo
requerido em obter vantagem financeira frente à autora.
Deve-se esclarecer, por fim, que o segundo requerido foi identificado parcialmente por
meio de seis dígitos do número do CPF, vinculado à chave aleatória para onde o PIX foi
enviado, o que comprova seu envolvimento no golpe, uma vez que recebeu o valor
transferido pela Autora.
Revela-se no presente caso a necessidade de indenização por danos materiais, vez que
fora esclarecido o dever de indenizar pelos requeridos.
Conforme doutrina de Flávio Tartuce, os danos materiais ou patrimoniais constituem
prejuízos, perdas que atingem o patrimônio corpóreo de uma pessoa natural, pessoa
jurídica ou ente despersonalizado. No caso em tela, o dano material se revela na perda
financeira que a parte autora teve que arcar, no montante de R$ 1.920,00 (mil novecentos
e vinte).
Diante do exposto, pugna pela condenação das requeridas ao ressarcimento por danos
materiais à autora, no montante de R$ 1.920,00 (mil novecentos e vinte), valor que deverá
ser devidamente atualizado desde a data da transferência.
Não há dúvidas quanto à configuração do dano material. Por conseguinte, atrelado a este,
está a efetiva caracterização do dano moral.
A indenização por dano moral pressupõe a existência de dano, ato ilícito e nexo de
causalidade entre aqueles, como explanado acima. No caso, o dano moral se apresenta
por todo o sofrimento, angústia e humilhação que foi causado à parte autora pela aplicação
do golpe.
É inegável que a situação pela qual passou e passa a requerente lhe causa dano moral, eis
que foi enganada, tendo sua expectativa frustrada.
Além disso, a situação vivenciada pela autora não se traduz em mero dissabor ou
aborrecimento. O dano moral está configurado eis que evidente a angústia e perturbação
suportadas por ela ao perder o montante R$ 1.920,00 (mil novecentos e vinte), valor que
era relevante para seu orçamento, e por está sem poder utilizar o produto adquirido, o que
lhe vêm causou diversos transtornos em seu ambiente de trabalho.
Conforme entendimento dos Tribunais:
A perda de tempo de vida útil da autora não constitui mero aborrecimento do cotidiano,
mas verdadeiro impacto negativo em sua vida, devendo ser indenizado nesse sentido.
Ademais, Excelência, é justamente nestes casos que o dano moral deve ser aplicado, pois
possui caráter tanto punitivo quanto compensatório. O primeiro caráter faz com que o
causador do dano arque com o que causou, de modo a não estimular novas práticas lesivas
da mesma espécie. Por sua vez, o segundo caráter satisfaz a vítima de forma a minimizar
seu sofrimento.
Logo, comprovado o dano, merece a fixação do valor da indenização ser realizada com
razoabilidade, considerando-se as peculiaridades do caso vez que a autora teve seu
rendimento lesado, proporcionando adequada compensação a ofensa, para que não seja
elevada a ponto de ensejar aumento patrimonial indevido e tampouco inexpressivo.
Sobre o valor da indenização por dano moral, não é razoável o arbitramento que importe
em uma indenização irrisória, de pouco significado para a ofendida, nem uma indenização
excessiva, de gravame demasiado ao ofensor.
Opera-se, in casu, o Enriquecimento Ilícito, previsto no artigo 884 do Código Civil, veja-
se:
Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será
obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores
monetários. A restituição é devida, não só quando não tenha havido causa que
justifique o enriquecimento, mas também se esta deixou de existir.
Conforme a letra legal, o golpista está obrigado a restituir o valor de R$ 1.920,00 (mil
novecentos e vinte reais), uma vez que este valor não lhe é devido.
Por fim, a inversão do ônus da prova tem como fundamento a situação de desvantagem
entre o consumidor e fornecedor de serviço, conforme art. 6, VIII, do CDC, em que houve
a comprovação de mais que o mínimo de lastro probatório.
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VIII - a facilitação da defesa de
seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
É necessário que a primeira ré, demonstre que buscou contato com a terceira ré,
bem como a terceira ré demonstrar que agiu com o bloqueio. Além disso, é
necessário que a quarta requerida, demonstre que tomou todas as medidas cabíveis
para que o perfil “fake” fosse cancelado, para não gerar mais vítimas assim como a
requerente.
Portanto, a inversão do ônus da prova ocorre com objetivo de facilitar a defesa dos direitos
do consumidor e, por via reflexa, garantir a efetividade dos direitos do indivíduo e da
coletividade na forma dos artigos 5º, inciso XXXII e 170, inciso IV, ambos da CF/88.
O artigo Código de Processo Civil, eu seu art. 300 estabelece que, quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo, será concedida a tutela de urgência. Há no presente caso os
dois requisitos para acautelar o direito pleiteado pela autora: o Periculum in mora (risco
da demora) e o Fumus boni iuris.
Quanto ao Fumus boni iuris, não há dúvidas de que o alegado direito é plausível. Ainda,
o Periculum in mora está evidenciado pela probabilidade do segundo requerido se utilizar
de seus recursos para não comparecer ao processo, além de nem mesmo devolver o
dinheiro, ou desviar os recursos para outra conta, resultando na falta de liquidez para
ressarcimento da requerente.
Dessa forma, busca-se o arresto de dinheiro na conta bancária do segundo requerido, no
montante de R$ 1.920,00 (mil novecentos e vinte reais), a fim de garantir o crédito da
autora e possibilitar futura penhora, protegendo-se da possibilidade da parte ré
estelionatária esvaziar sua conta ou mesmo não comparecer nos autos.
Além disso, requer ainda, a concessão da tutela de urgência cautelar, para que a quarta
requerida proceda a imediata suspensão da conta @kaxuoficial, sob pena de multa
diária no importe de R$ 1.000,00 (mil reais) em caso de descumprimento.
b) Que seja realizadas buscas nas bases de dados do poder judiciário para localização
do endereço do segundo requerido;
c) A concessão da gratuidade da justiça para a requerente;
h) A produção de todas as provas admitidas em direito, nos termos do art. 369 do CPC;
j) Seja determinado a expedição de ofício à terceira requerida para que esta informe,
neste processo, os dados necessários para o prosseguimento do feito.
Nestes Termos,
OAB/ES 9.494