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Direito Médico CIRINO PRADO ADVOGADOS

Direito da Saúde Direito do Cooperativismo


Direito do Trabalho Direito Regulatório
Direito do Consumidor Cobrança

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA


CÍVEL DA COMARCA DE MANAUS/AM

KEDSON NUNES FERREIRA, brasileiro, viúvo, policial, inscrito no RG nº.


25003 SSP/AM, e CPF nº. 790.441.742-15, residente e domiciliado na Rua Amazonas,
Beco Hércules, nº. 256, Santo Agostinho - CEP 69036770, Manaus/AM; KALEB
MIGUEL DA SILVA FERREIRA, menor impúbere, inscrito no CPF nº. 103178862-
07, neste ato representado por seu genitor acima qualificado, e MIRACI FIRMINO
DA SILVA, brasileira, solteira, confeiteira, inscrita no RG nº. 1171407-7 SSP/AM, e
CPF nº. 562.198.492-72, residente e domiciliada na Rua Virgílio Ramos 145 são
Raimundo - CEP  69027-060, Manaus/AM, por meio de sua procuradora que esta
subscreve, Dra. ANA CAROLINA JANSEN PEREIRA CIRINO PRADO,
brasileira, casada, advogada inscrita na OAB/AM sob o nº. 7.510, correio eletrônico
anaprado@cirinopradoadvogados.com.br, com escritório na Capital de Manaus/AM, na
Rua Rio Javari, 361, Conjunto Vieiralves – Nossa Senhora das Graças – CEP 69.053-
110 vem perante Vossa Excelência, propor a presente
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. NEGLIGÊNCIA
MÉDICA. FALECIMENTO. TUTELA ANTECIPADA.ALIMENTOS
PROVISÓRIOS.
Em face da HAPVIDA ASSISTENCIA MÉDICA S.A, pessoa jurídica de
Direito Privado inscrita no CNPJ nº. 63.554.067/0001-98, na qualidade de operadora de
planos de assistência à saúde com registro ANS nº. 368253, com sede na Rua São Luís,
nº. 262, CEP 69053-470, Manaus/AM, correio eletrônico:
atendimento@hapvida.com.br.
1. DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA
In casu, os Autores não possuem condições de pagar as custas e despesas do
processo sem prejuízo do próprio ou de sua família, conforme consta nas declarações de
hipossuficiência anexas. Ademais, há previsão no artigo 5º, LXXIV e LXXVII da
CFRB/88 e art. 98 e 99, CPC/2015, estabelece normas para a concessão da assistência

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judiciária aos legalmente necessitados, autorizando a concessão do benefício da


gratuidade judiciária frente à mera alegação de necessidade, que goza de presunção juris
tantum – de veracidade, milita em seu favor a presunção de veracidade das declarações
de pobreza por elas firmado.
Aqui vale um adendo, a ação possui três requerentes, um menor impúbere,
nascido em 08/05/2022, e, portanto, não tem condições de sustento próprio, seu pai e
representante, policial militar, que por conta do falecimento de sua esposa será o único
provedor do lar, e por último a senhora Miraci, terceira requerente, que é confeiteira,
vive de fazer doces.
Pelo exposto, com base na garantia jurídica que a lei oferece, postulam os
Autores a concessão do benefício da justiça gratuita, em todos os seus termos, a fim que
sejam isentas de quaisquer ônus decorrentes do presente feito.
2. DOS FATOS
A ação é ajuizada pelos familiares de Pamela Mikaely da Silva Pantoja que era
consumidora dos serviços por meio do convênio 4022, plano empresarial com
acomodação em apartamento e carteirinha nº. 051BD000368008018, conforme
informação extraída do prontuário.

A senhora Pâmela deu entrada no Hospital Rio Negro - Hapvida, onde são
atendidas as urgências e emergências em 05.11.2022 por volta das 11h21 com dores na
garganta, dores no corpo, secretiva e com febre, tendo como diagnóstico inicial COVID,
seguido de amigdalite e após medicação, recebeu alta na mesma data às 15h00 e
prescrição medicamentosa para tratamento de sinusite bacteriana.
Em 01.02.2023, por volta das 07h30 deu entrada novamente no Pronto Socorro
da Requerida com dor abdominal, náuseas, com diagnóstico inicial de “dor abdominal e
pélvica” e ao ser tateada (apalpada) foi verificado que o abdômen estava globoso, ou

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seja, apresentando aumento do diâmetro anteroposterior, oportunidade em que foi


medicada, fez exames laboratoriais, incluindo o Beta HCG, ultrassom abdominal.
O laudo do exame de ultrassom abdominal concluiu pelo discreto aumento
difuso de ecogenicidade hepática, podendo corresponder a esteatose de classificação
ecográfica (grau I) e Lama Biliar1.
Diagnóstico de lama biliar confirmado pela avaliação do cirurgião. Após
realização de tomografia da pelve, o cirurgião plantonista concluiu pelo diagnóstico de
litíase vesicular2, ou seja, pedra na vesícula.
Excelência, chama-se atenção para o fato de a paciente estava no pronto socorro
há horas, com quadro de dor intensa e vômito, já havia sido diagnosticada com “pedra
na vesícula”, em 01.02.2023, mas a conduta do médico plantonista da Requerida foi
“não há indicação de cirurgia, contrariando a melhor literatura médica.
A cirurgia de colecistectomia, que é a retirada toda a vesícula biliar, em regra é
procedimento eletivo em caso de pacientes assintomáticos, o que não era o caso da
senhora Pamela Mikaely.
A boa literatura afirma que a colecistectomia torna-se de urgência quando a
paciente apresentar sintomas, como dores abdominais intensas e vômitos, quando
apresentado pela Pamela Mikaely.
Ao receber alta às 19h00 do mesmo dia, foi orientada procurar cirurgião para
realização do procedimento, oportunidade em que, já no UBER, entrou em contato com
a Requerida e conseguiu consulta com o referido profissional apenas para o dia
14.02.2023, mas sem saber o que lhe esperava, agendou.
No dia 03.02.2023 por volta das 22h00 deu entrada novamente no Hospital de
urgências e emergências da Requerida apresentando dor abdominal aguda intensa e
diagnóstico de pedra na vesícula, sendo medicada com analgésicos, e após certo tempo,

1
A lama biliar é o resultado de uma alteração da bile. Esse líquido, produzido pelo fígado e excretado pela vesícula,
se torna mais denso assumindo uma textura pegajosa, o que dificulta sua liberação para o intestino e pode
desencadear cálculos biliares. https://profluizcarneiro.com.br/lama-biliar-quais-sao-os-sintomas-e-o
tratamento/#:~:text=A%20lama%20biliar%20%C3%A9%20o,e%20pode%20desencadear%20c%C3%A1lculos
%20biliares.
2
Chama-se litíase da vesícula à presença de um ou mais cálculos (vulgarmente conhecidos por "pedras")
no seu interior. A vesícula é um pequeno saco que se localiza na face inferior do fígado. É onde fica
armazenada a bílis que é produzida no fígado. https://www.cuf.pt/saude-a-z/litiase-da-vesicula-
biliar#:~:text=Chama%2Dse%20lit%C3%ADase%20da%20ves%C3%ADcula,que
%20%C3%A9%20produzida%20no%20f%C3%ADgado.

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na reavaliação ainda continuava com bastante dor, conforme print extraído do


prontuário do dia abaixo transcrito.

Como visto, paciente mesmo após as medicações ainda continuava com muita
dor, e lhe foram prescritos mais analgésicos, dentre eles, dipirona e buscopan. Já no dia
04/03/2023 aproximadamente às 06h03 da manhã recebeu alta novamente, sendo
orientada a retornar ao pronto socorro em caso de cólica biliar ou sintomas de alerta.
Excelência, se o quadro de dor intensa persistia mesmo após administração de
diversos medicamentos, por que a paciente era liberada para sofrer em casa? Por que a
Requerida não a internou logo e providenciou a cirurgia de emergência?
Vale ressaltar, que a paciente não tinha conhecimento técnico sobre a conduta
dos profissionais vinculados a Requerida, não é comum o paciente conhecer afundo o
seu quadro de saúde, as especificidades de sua doença e tampouco de eventuais riscos
impostos pelo tratamento proposto.
Em momento algum, a equipe de profissionais prepostos da Requerida informou
as justificativas pelas quais o procedimento cirúrgico indicado não era realizado.

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Também não lhe foram informadas as consequências da realização ou não do


tratamento.
Conforme consta em prontuário, a paciente apresentava histórico de dor
abdominal aguda irradiando para o dorso, associada a náuseas há seis dias, e no dia
05/03/2023 aproximadamente às 00h quando retornou ao pronto socorro da requerida já
estava com quadro agravado, com fezes esbranquiçadas e colúria 3, vide trecho extraído
do prontuário abaixo colacionado.

Mesmo após seis dias de intensa dor, já com o quadro agravado, conforme faz
prova o laudo do novo exame de ultrassom abdominal realizado pela paciente, abaixo
transcrito:

3
Colúria. É a coloração escura da urina devido à eliminação de bilirrubina (substância que compõe a bile
e que dá a coloração amarelada à pele). Está associada a doenças do fígado, como a colestase.
https://edisciplinas.usp.br/mod/glossary/showentry.php?eid=27308#:~:text=Col%C3%BAria,do%20f
%C3%ADgado%2C%20como%20a%20colestase.

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Trecho extraído do prontuário datado de 05/03/2023 – fls.6 (1 de 2), já com data


do dia 06/03/2023.
Como se pode verificar, o quadro já havia evoluído para “grau II”, por que a
Requerida deixou agravar a situação ao invés de realizar o procedimento cirúrgico?
Somente em 06/03/2023 após as 3h48 da manhã é que o plantonista foi
“discutir” a conduta com o cirurgião geral, ou seja, apesar do estado grave da paciente,
de todo o sofrimento experimentado, e do período decorrido ainda demoraram para
tomar as condutas cabíveis.
Desde a primeira entrada, a conduta da requerida, mesmo após o diagnóstico de
pedra na vesícula, foi ministrar analgésicos, fazer inúmeros exames e dar alta
aconselhando retornar se houvesse dor. Vale ressaltar, que em todas as idas e vindas, os
exames eram novamente realizados, mas o principal não foi feito: a cirurgia.
Ainda no dia 06/03/2023 só que às 06h09min já com diagnóstico de colangite 4 e
colelitíase5, além das dores intensas, com fezes esbranquiçadas a paciente estava há
mais de 24h sem conseguir comer, inclusive foi colocada em dieta zero pelo plantonista
e encaminhada para a cirurgiã.
Na evolução de enfermagem, fls.14 (1 de 1) do prontuário do dia 06/02/2023 às
05h20min consta a informação de que a paciente vinha oriunda da EMERGÊNCIA, e
aguardava o pedido de cirurgia, porém, às 07h00 quando da troca de plantão, ainda
permanecia aguardando. Registro feito pela técnica de enfermagem, Adriana Viana de
Aquino.
Por volta das 09h52min do mesmo dia, a médica cirurgiã descreveu o quadro
como “paciente portadora de colelitíase evoluindo com dor abdominal, sintomas

4
A colangite é uma infecção da árvore biliar que requer diagnóstico e tratamento imediatos.
https://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br/345#:~:text=A%20colangite%20%C3%A9%20uma%20infec%C3%A7%C3%A3o,direito
%20(tr%C3%ADade%20de%20Charcot).

5
Presença ou formação de cálculos nas vias biliares; litíase biliar. https://www.esadi.com.br/aparelho-
digestivo/doenca/colelitiase/

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colestáticos e elevação de bilirrubina e enzimas cananiculares, oportunidade em que


solicitou amilase, lipase e colangioressonancia, abaixo colacionado.

Excelência, o quadro era grave, mas foi tratado com negligência e descaso, como
situação extremamente corriqueira por parte da Requerida, isso fica claro, pois o próprio
prontuário, documento unilateralmente produzido pela Hapvida consta como
emergência clínica.

Além da conduta negligente, a Requerida agiu com descaso, com desrespeito à


vida e a dignidade da paciente, pois como se não bastasse a falta de assistência marcada
pela sucessiva inercia quanto ao atendimento, a colocaram em leito de “observação
masculina”, ou seja, a deixaram em qualquer lugar, infringindo a sua própria intimidade,
vide observação no prontuário datado do dia 06.02.2023 às 06h30.

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Em vários pontos do prontuário resta demonstrada a emergência e o descaso, a


paciente ficou dias em dieta zero, com dor intensa, fazendo e refazendo os exames, com
seu quadro sendo agravado, porém, nada de ser providenciada a cirurgia, que nos termos
do que dispõe o inciso XVII do art.3º da Resolução Normativa – RN 566/2022 o prazo
para autorização e realização para atendimento de urgência e emergência é IMEDIATO.
De acordo com os registros de enfermagem, referentes ao prontuário do dia
07.02.2023 a paciente estava desde às 20h00 aguardando avaliação da médica cirurgiã,
que sendo o mesmo documento, foi feita apenas após às 22h45min. Ressalta-se,
conforme consta em prontuário desta data, que a paciente, do sexo feminino continuava
na observação masculina e em dieta zero.
A cirurgiã Dra. Ranielli orientou em 06.02.2023 a realização de cirurgia, que
não foi realizada no ato. Somente em 07.02.2023 foi realizada a
Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE)6, porém, se este era o
procedimento correto, por que não foi feito na primeira admissão de internação?

6
ttps://pebmed.com.br/o-que-e-e-qual-a-finalidade-da-colangiopancreatografia-retrograda-
endoscopica-cpre/

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Se a Requerida tinha o diagnóstico correto, sabia da gravidade do quadro da


paciente, por que esperou tanto tempo para internar e realizar o procedimento julgado
correto?
Se observarmos a primeira entrada da paciente no hospital foi dia 01.02.2023,
sendo internada apenas no dia 05.02.2023 e o procedimento foi realizado somente em
07.02.2023, lapso temporal suficiente para agravar o estado dela e até mesmo produzir o
efeito morte.
No dia que foi realizada a CPRE a paciente com quadro grave, já ictérica, ou
seja, amarela, apresentou – se com hipotensão, hipoglicêmica, com taquicardia e
rebaixamento de consciência.
Em razão da negligência da Requerida, posto que mesmo tendo realizado vários
exames não conseguiu identificar cedo a dilatação do colédoco (um ducto que transporta
a bílis), o que só foi percebido quando a paciente já estava ictérica, o que por derradeiro
levou-a um quadro infeccioso grave de sepsie, caracterizando uma colangite.
Como se pode verificar, a paciente buscou atendimento junto a Requerida desde
05.11.2022, no início de fevereiro de 2023, ela foi duas vezes ao pronto socorro e
mesmo tendo da gravidade do estado dela, a Requerida procedeu com duas altas,
somente na terceira vez é que a paciente foi internada e mesmo assim passou por todos
os percalços narrados nesta exordial. Apesar do atendimento de urgência e emergência
da operadora, era medicada e liberada para casa, já havia sido diagnosticada com pedra
na vesícula, apresentava quadro de dor intensa, suas fezes já estavam esbranquiçadas e
urina escura, mas ao invés de realizar o procedimento cirúrgico de colecistectomia
imediatamente como determina a legislação vigente, postergaram tanto que ela veio a
falecer.
Em razão do exposto, e por todos os percalços enfrentados, não viu outra
alternativa, senão buscar o judiciário visando a reparação dos danos causados pela
Requerida, além de tentar evitar que condutas como esta se perpetuem.
3. DA INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
A relação é claramente de consumo, seja pela relação da Autora com a Ré
operadora de planos de saúde, quanto na condição de Hospital.
A tese já foi pacificada pela Súmula 608 do Superior Tribunal de Justiça – STJ,
nos termos abaixo:

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Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde,


salvo os administrados por entidades de autogestão.
4. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

É sabido que a regra processual da distribuição do ônus da prova está prevista no


artigo 373, inciso I e II do Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015), onde se observa
que o ônus da prova incube ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito e ao réu
quanto a existência de fato modificativo, impeditivo e extintivo do direito do autor
(regra geral).
Insta salientar, ademais, dentro do caso narrado nessa Exordial, o cabimento da
inversão do ônus probatório, prevista no art. 6º, inciso VIII do CDC, tendo como
requisitos a hipossuficiência das partes Requerentes junto à verossimilhança dos fatos
alegados, conforme depreende-se do dispositivo a seguir:
Art. 6º. (...).
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus
da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;
No que tange à hipossuficiência das partes Autoras, o próprio Código de Defesa
do Consumidor traz explicitamente em seu art. 4º, inciso I, que o consumidor é parte
vulnerável dentro da relação de consumo.
Ocorre que não é fácil, na prática, aferir a ocorrência do erro profissional, já que
os profissionais da saúde trabalham com uma matéria-prima imponderável, que é a
natureza humana.
A inversão do ônus da prova nestes casos é medida de razoabilidade do gestor
das provas - o magistrado -, pois como assevera Nome, em sua obra Curso de Direito
Processual Civil 2, 8º edição, a saber:
[...] Pauta-se o magistrado em critérios abertos e dinâmicos, decorrentes das
regras de experiência e do senso comum, para verificar quem tem mais
facilidade de prova, impondo-lhe, assim, o ônus probatório. Explora a dinâmica
fática e axiológica presente no caso concreto, para atribuir a carga probatória
àquele que pode melhor suportá-la .
(sem grifos no original)

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Cumpre destacar, neste sentido, a opinião do Professor Samir José Caetano


Martins, onde a possibilidade de inversão do ônus da prova não estaria restrita às
relações de consumo:
"O aplicador da lei é levado a pensar que o ônus da prova será do paciente,
demandante em ação de responsabilidade civil, por força do art. 333 do CPC,
ressalvados os casos de relação de consumo em que o juiz determine a inversão
do ônus da prova, por considerar que o consumidor é hipossuficiente e que sua
alegação é verossímil, nos termos do art. 6º, VIII, CDC. Mas, na prática, deve-
se aplicar a chamada" teoria da carga dinâmica da prova", segundo a qual, em
apertada síntese, o ônus da prova deve recair sobre a parte que tiver melhores
condições de comprovar a veracidade ou falsidade da alegação fática. Convém
lembrar, ainda, que o juiz pode lançar mão do seu poder instrutório para
proceder, de ofício, à coleta das provas (art. 130, CPC).".
Com efeito, no que tange à prova na área médica, as situações fáticas são difíceis
de serem provadas pelo leigo.
Sendo assim, se levarmos em consideração os efeitos práticos da distribuição do
ônus probatório neste tipo de ação, fácil se faz constatar que a relação Paciente e
Médico não se encontra em equivalente igualdade ao competir-se a parte hipossuficiente
todo o dever de provar o erro médico praticado, ainda mais se tal prova não depende de
qualquer ato seu ou documento em seu poder.
Outrossim, a verossimilhança das alegações é aqui comprovada através dos
documentos probatórios acostados a essa peça Inicial. Contiguamente, tem defendido o
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo o cabimento da inversão do ônus
probatórios em casos semelhantes, como aqui transcrito, ipsis litteris:
EMENTA: ÔNUS DA PROVA. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO
MÉDICO. HOSPITAL. Conduta imputada a méo. Responsabilidade solidária.
Necessidade de comprovação da culpa do profissional. Possibilidade de inversão
do ônus da prova. Artigos 6º, VIII, 12, § 3º, e art. 14, § 3º do CDC, e artigo 373,
§ 1º, do CPC. Decisão fundamentada. Recurso improvido. (TJSP - AI:
21441380220188260000, Relator: AUGUSTO REZENDE, PRIMEIRA
CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Data de Publicação: 27/11/2018).
EMENTA: ÔNUS DA PROVA. CUSTEIO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ERRO
MÉDICO. RELAÇÃO TIDA POR CONSUMO. INVERSÃO DO ÔNUS
PROBANDI COM FUNDAMENTO NO ART. 6º, VIII, CDC.
MANUTENÇÃO. Deve ser mantida a aplicação da inversão do ônus da prova,
art. 6º, VIII do CDC. No caso dos profissionais liberais, mesmo que o CDC
excepcione a regra geral no art. 14, § 4º, tal circunstância não elide a

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determinação da inversão do ônus da prova. Decisão mantida. Agravo


desprovido. (TJSP - AI: 20672185520168260000, Relator: PERCIVAL
NOGUEIRA, SEXTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Data de
Publicação: 28/07/2016).
EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. ERRO MÉDICO.
Ainda que se cuide de hipótese de culpa subjetiva, há a inversão ope legis do
ônus da prova, em demanda que trata da responsabilidade pelo fato do produto
ou do serviço (arts. 12 e 14 do CDC). Prontuário médico incompleto que
inviabiliza a aferição da ausência de culpa dos médicos que trataram
genitora/esposa dos coautores. Endereço desincumbir do ônus de comprovar a
adequada conduta médica aplicada ao caso. Ocorrência de erro médico. Dever de
indenizar. Presume-se o dano moral pela morte de parentes próximos. Dano
reflexo ou por ricochete pela perda da vida por uma pessoa próxima, considerada
direito essencial, ligada por parentesco, casamento ou afeição particular. Nos
prejuízos daffection, considerase essa pessoa, ela própria uma vítima, fazendo
jus a uma reparação integral por direito autônomo, desde que conexo com o da
vítima direta. Dano moral reduzido para R$ 00.000,00para todo o grupo familiar
(R$ 00.000,00) para cada coautor. Pensão mensal por conta da morte da
provedora de alimentos devida até o filho mais novo completar 25 anos de idade.
Inteligência dos arts. 948, II, C.C. 951 do CC. Recurso provido em parte. (TJSP
- AC: 10125856820168260564, Relator: ALCIDES LEOPOLDO E SILVA
JÚNIOR, QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Data de Publicação:
05/12/2019).
Vale ressaltar que em decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça no
julgamento do Recurso Especial 1.540.580/DF, data de 02/08/2018, de Relatoria do
Exmo. Ministro Lázaro Guimarães (Desembargador convocado do TRF 5ª Região)
restou fixada tese de que a prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o
consentimento informado do paciente é do médico ou do hospital e já que o caso
também trata da falha no dever de informar, cabe a inversão do ônus.
Portanto, requer a Vossa Excelência que o ônus probatório recaia sobre a parte
Requerida visando a melhor defesa das partes Requerentes, mediante sua
vulnerabilidade na relação consumerista.
5. DO DIREITO
5.1 DA FALHA DO DEVER INFORMACIONAL. CONSENTIMENTO
GENÉRICO. LIMITAÇÃO DA AUTONOMIA DA PACIENTE
Atualmente o erro médico é subdividido em: erro de diagnóstico (erro da
doença), erro terapêutico (erro de tratamento), erro de procedimento (negligência,

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imperícia e imprudência) e o erro informacional (falha no dever de informar,


informação incompleta, negligência informacional).
No caso ora em discussão, a requerida, apresentou termo de consentimento livre
e esclarecido genérico, sem considerar as especificidades do caso concreto, ou seja, do
quadro da paciente, de suas características pessoais, e nem sua fragilidade clínica
naquele momento. O documento também não descreve o diagnóstico, tampouco o
prognóstico e nem as consequências que podem surgir com a realização ou não da
CPRE, não possui espaço para manifestação ou questionamentos da paciente, limitando
assim, a sua autonomia.
Atualmente a relação entre médico e paciente é regida pela autonomia e
autodeterminação. A relação médico-paciente é uma interação que envolve confiança e
responsabilidade. Caracteriza-se pelos compromissos e deveres de ambos os atores,
permeados pela sinceridade e pelo amor. 
O princípio de autonomia do paciente é um dos pilares da bioética. Segundo este
conceito, ao paciente deve ser dado o poder de tomar as decisões relacionadas ao seu
tratamento. Trata-se de um componente importante da ética médica moderna, que tem
recebido bastante interesse na literatura atual.
A forma como foi apresentado o documento, ou seja, de forma genérica, não
comprova que houve de fato o esclarecimento necessário para que pudesse decidir.
Além disso, a Requerida tenta jogar sua responsabilidade para a paciente quando
entrega termo de responsabilidade sobre risco de queda, já que estando nas
dependências de um hospital, sob os cuidados de uma equipe técnica, a responsabilidade
é integralmente da Requerida e seus prepostos.
No âmbito jurídico, o Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 6º, inciso
III, artigo 8º e artigo 9º, trazem como imperativo legal a obrigatoriedade da prestação de
informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços e riscos que
apresentam.
O Código Civil Brasileiro, Lei 10.406/2002, em seu artigo 15 reza: “Ninguém
pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a
intervenção cirúrgica”.
O artigo 422 da mesma legislação civil, prevê: “Os contratantes são obrigados a
guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé”.

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A Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos adaptada por


aclamação no dia 19 de outubro de 2005 pela 33ª sessão da Conferência Geral da
Unesco traz em seu artigo 6º: Artigo 6 – Consentimento a) “Qualquer intervenção
médica preventiva, diagnóstica e terapêutica só deve ser realizada com o consentimento
prévio, livre e esclarecido do indivíduo envolvido, baseado em informação adequada. O
consentimento deve, quando apropriado, ser manifesto e poder ser retirado pelo
indivíduo envolvido a qualquer momento e por qualquer razão, sem acarretar
desvantagem ou preconceito.”
A informação clara, objetiva e de qualidade a respeito de qualquer tratamento de
saúde é um direito do paciente e um dever do profissional sob pena de violação à
autodeterminação do paciente acarretado de ordem moral.
O termo de consentimento informado é um documento de extrema importância
cujo objetivo primordial é o respeito ao Princípio Bioético da Autonomia e respeito ao
Princípio da Dignidade Humana.
Como é possível aferir se o médico antes de realizar a CPRE prestou todos os
esclarecimentos à paciente e sua responsável?
Como é possível saber, se eventuais dúvidas da paciente ou sua responsável
foram respondidas?
É tão clara a falta de profissionalismo da Requerida que ao utilizar um termo
genérico, trata a todos de forma igual, sem considerar as características pessoais e
clínicas de cada paciente.
Ora, fica de fato evidente que não houve qualquer esclarecimento, se analisado o
relato escrito a próprio punho pelos requerentes, pelo relato da responsável da paciente
que até o momento não sabe que procedimento foi esse realizado.
Além da violação à autodeterminação da paciente ao não oportunizar
conhecimento prévio sobre os riscos do tratamento ao qual foi submetida
impossibilitou-a de exercer a auto governabilidade sobre o seu corpo.
A responsabilidade civil do profissional de saúde é consequência natural da não
observância do dever informacional, caso não fosse este o entendimento, estaria o Poder
Judiciário contribuindo para tornar inócua a Declaração Universal sobre Bioética e
Direitos Humanos – 2005, artigo 6º, Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa
Humana e Princípio da Constitucional do Direito à Informação, dentre vários outros
princípios infraconstitucionais previstos no Código Civil Brasileiro (artigo 15 e artigo
422), Código de Defesa do Consumidor (artigo 6º, inciso III, inciso 8º e inciso 9º).

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Essa falha não viola apenas um direito da paciente, mas também o próprio dever
médico, que deve informar ao paciente o seu quadro clínico, as possibilidades de
tratamento, os riscos, as consequências da realização ou não, e os objetivos de cada
tratamento proposto, para que possa após esclarecido, decidir, vide artigos 22 e 34 da
Resolução CFM nº. 2.217/2018 – Código de Ética Médica que vedam ao médico:

Art. 22. Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante


legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de
risco iminente de morte.
Art. 34. Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e
os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe
provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu representante
legal.
Vale ressaltar ainda, que o código veda a limitação da autodeterminação do
paciente, vide o disposto no art. 24 da Resolução CFM nº. 2.217/2018.
Art. 24. Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir
livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua autoridade para
limitá-lo.
O tema é tratado com tanta relevância que se encontra disposto no capítulo
intitulado Direitos Humanos na supramencionada resolução, direitos estes, que como
sabemos são constitucionalmente protegidos.
Pelo exposto, resta cristalina a falha no dever informacional, gerando o dever de
indenizar.
5.2 - DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL QUANTO À
FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
O ilustre Professor Carlos Roberto Gonçalves, ao lecionar acerca da
responsabilidade objetiva, aduz que:
A lei impõe, entretanto, a certas pessoas, em determinadas situações, a
reparação de um dano cometido sem culpa. Quando isto acontece, diz-se que a
responsabilidade é legal ou "objetiva", porque prescinde da culpa e se satisfaz
apenas com o dano e o nexo de causalidade. Esta teoria, dita objetiva, ou do
risco, tem como postulado que todo dano é indenizável, e deve ser reparado por
quem a ele se liga por um nexo de causalidade, independentemente de culpa.
(GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. Ed. Saraiva. p 21, 22).

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A responsabilidade civil objetiva do Réu, fundamenta-se na Teoria do Risco


Administrativo, que é adotada no Direito Brasileiro, onde o dever de ressarcir independe
da necessidade da parte lesada provar a existência de culpa ou dolo.
Na presente situação, é nítida a responsabilidade civil objetiva da Requerida.
Ademais, os elementos necessários à imputação da responsabilidade objetiva, quais
sejam, a ação, a relação de causalidade e o dano suportado, restam demonstrados nos
fatos narrados e provas acostadas.
Por sua vez, o Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 14, estabelece
como sendo objetiva a responsabilidade do estabelecimento dos hospitais pelos danos
causados em decorrência da prestação defeituosa de serviços médicos, in verbis:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1º. O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor
dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes,
entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º. O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3º. O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4º. A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada
mediante a verificação de culpa.
O defeito na prestação dos serviços médicos, que não apresentaram a segurança
legitimamente esperada pela paciente, está evidenciado, já que pelo despreparo da
equipe no atendimento de um setor de emergência que recebeu a senhora Pamela
Mikaely várias vezes, medicava e mandava para casa.
A jurisprudência pátria é inclusive uníssona quanto a responsabilidade da
operadora, do hospital e do médico em casos similares.

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AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO DECORRENTE DE ERRO MÉDICO. ALTA MÉDICA QUE
CONTRIBUIU DE FORMA IMPORTANTE PARA
O FALECIMENTO DA PACIENTE. DANO MORAL CONFIGURADO.
VALOR DA INDENIZAÇÃO. SÚMULA 7 DO STJ. RECURSO NÃO
PROVIDO. 1. A responsabilidade do hospital é objetiva quanto à atividade de
seu profissional plantonista ( CDC , art. 14 ), de modo que dispensada
demonstração da culpa do hospital relativamente a atos lesivos decorrentes de
culpa de médico integrante de seu corpo clínico no atendimento. 2. A
responsabilidade de médico atendente em hospital é subjetiva, necessitando de
demonstração pelo lesado, mas aplicável a regra de inversão do ônus da prova
( CDC . art. 6º , VIII ). 3. A verificação da culpa de médico demanda
necessariamente o revolvimento do conjunto fático-probatório da causa, de
modo que não pode ser objeto de análise por este Tribunal (Súmula 7 /STJ). 4. O
valor fixado a título de danos morais somente comporta revisão nesta sede nas
hipóteses em que se mostrar ínfimo ou excessivo, o que não restou configurado
na espécie. 5. Agravo interno não provido.
A morte de paciente causada pela falha na prestação de serviço de hospital
caracteriza responsabilidade civil objetiva, fundada na inobservância do dever de
cuidado do profissional médico - por imprudência, imperícia ou negligência - gera
indenização por danos morais.
Nessa mesma linha, a mesma C. Terceira Turma também reconheceu a
responsabilidade civil objetiva de uma clínica prestadora de serviços médico
hospitalares para responder por atos de seus médicos/prepostos, destacando que a
exceção do parágrafo 4.º do artigo 14 do CDC é restrita aos profissionais liberais, não se
estendendo aos prestadores de serviços, ipsis litteris :
RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO MOVIDA CONTRA CLÍNICA MÉDICA. ALEGAÇÃO DE
DEFEITO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. INTELIGÊNCIA DO ART. 14 DO CDC. 1. Demanda indenizatória
proposta pelo marido de paciente morta em clínica médica, alegando defeito na
prestação dos serviços médicos.2. A regra geral do art. 14, "caput", do CDC, é
a responsabilidade objetiva dos fornecedores pelos danos causados aos
consumidores. 3. A exceção prevista no parágrafo 4º do art. 14 do CDC,
imputando-lhes responsabilidade subjetiva, é restrita aos profissionais liberais.
4. Impossibilidade de interpretação extensiva de regra de exceção. 5. O ônus da

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prova da inexistência de defeito na prestação dos serviços médicos é da clínica


recorrida por imposição legal (inversão 'ope legis'). Inteligência do art. 14, §
3º, I, do CDC. 6. Precedentes jurisprudenciais desta Corte. 7. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO. (REsp 00.000 OAB/UF, Rel. Ministro PAULO DE
TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/05/2011, DJe
02/03/2012).
Referente à responsabilidade ética do médico, deve-se destacar a disciplina do
Código de Ética Médica. O Código impõe uma série de deveres aos médicos, a fim de
viabilizar os Direitos Humanos do paciente, e, na violação destes deveres é possível
identificar condutas que se ajustam ao conceito de violência obstétrica. São eles:
Art. 23. Tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua
dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob qualquer pretexto.
Art. 24. Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir
livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua
autoridade para limitá-lo.
Art. 25. Deixar de denunciar prática de tortura ou de procedimentos
degradantes, desumanos ou cruéis, praticá-las, bem como ser conivente com
quem as realize ou fornecer meios, instrumentos, substâncias ou conhecimentos
que as facilitem
Art. 27. Desrespeitar a integridade física e mental do paciente ou utilizar-se de
meio que possa alterar sua personalidade ou sua consciência em investigação
policial ou de qualquer outra natureza.
Art. 28. Desrespeitar o interesse e a integridade do paciente em qualquer
instituição na qual esteja recolhido, independentemente da própria vontade.
Na mesma definição, os profissionais de enfermagem, que acompanham desde a
admissão do paciente no hospital até a sua alta, possuem responsabilidade direta e
subjetiva, assim como os médicos, ou seja, é necessário provar a culpa.
Ambos, ao descumprirem tais dispositivos, estarão sujeitos às sanções
disciplinares que vão desde uma advertência até uma possível cassação do exercício
profissional, pois, a relação médico-paciente deve se basear no princípio da dignidade
humana.
A fim de ilidir tais práticas e condutas ilícitas, a melhor jurisprudência tem se
posicionado brilhantemente, senão vejamos:

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CONSUMIDOR. PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE


OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO PELOS DANOS MORAIS E
ESTÉTICOS. ERRO DE DIAGNÓSTICO EVIDENCIADO. AUSÊNCIA DE
DEVER DE CUIDADO MÉDICO. DESÍDIA. DEVER DE INDENIZAR
EXISTENTE. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM FIXADO COM
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. LITIGÂNCIA DE MÁ- FÉ.
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO DISPOSTO NO ART. 80 DO CPC/15.
RECURSOS A QUE SE NEGAM PROVIMENTO. 1. Sabe-se que no caso de
responsabilidade subjetiva é necessária a comprovação de culpa (negligência,
imperícia ou imprudência) do agente na prestação do serviço para que haja o
dever de indenizar. 2. In casu, restou nítido o ato ilícito perpetrado pelo médico
consubstanciado na ausência do dever de zelo, comprometimento e cuidado
exigidos em função de sua atividade salutar que desempenha. Logo, vê-se que o
médico réu não agiu corretamente na condução do caso clínico, cometendo erro
grave o que acarretou riscos à saúde e à vida do autor. 3. A falha na prestação
de serviço do médico responsável pela sua conduta desidiosa ultrapassa o
âmbito do mero aborrecimento cotidiano, acarretando desgastes de ordem
emocional e psicológica pelos diversos transtornos, angústia e aflição ao
apelado/autor, configurando, assim, dano moral indenizável 4. A indenização
serve a propósito punitivo e preventivo, não podendo, porém, exorbitar da
compensação efetivamente devida, para não restar configurado o
enriquecimento sem causa. Assim, dadas as nuances do caso concreto, o valor
de R$ 00.000,00a título de danos morais, satisfaz os parâmetros da
razoabilidade e da proporcionalidade. 5. Não há que se falar em litigância de
má-fé, posto que o apelante/réu não incorreu em nenhuma das hipóteses
previstas no artigo 80 do CPC/15. 6. Em razão da sucumbência dos
apelantes/réus, com fulcro no art. 85, § 11º do CPC/15, majoro os honorários
advocatícios recursais fixados em 10% (dez por cento) para 15% (quinze por
cento). 7. Recursos a que se negam provimento. (TJPE - APL:
00748805820138170001, Relator: JOSÉ FERNANDES DE LEMOS, QUINTA
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 13/01/2020).
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. ERRO MÉDICO. Ainda que se
cuide de hipótese de culpa subjetiva, há a inversão ope legis do ônus da prova,
em demanda que trata da responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço
(arts. 12 e 14 do CDC). Prontuário médico incompleto que inviabiliza a
aferição da ausência de culpa dos médicos que trataram genitora/esposa dos
coautores. Endereço desincumbir do ônus de comprovar a adequada conduta

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médica aplicada ao caso. Ocorrência de erro médico. Dever de indenizar.


Presume-se o dano moral pela morte de parentes próximos. Dano reflexo ou por
ricochete pela perda da vida por uma pessoa próxima, considerada direito
essencial, ligada por parentesco, casamento ou afeição particular. Nos
prejuízos daffection, considera- se essa pessoa, ela própria uma vítima, fazendo
jus a uma reparação integral por direito autônomo, desde que conexo com o da
vítima direta. Dano moral reduzido para R$ 00.000,00para todo o grupo
familiar (R$ 00.000,00) para cada coautor. Pensão mensal por conta da morte
da provedora de alimentos devida até o filho mais novo completar 25 anos de
idade. Inteligência dos arts. 948, II, C.C. 951 do CC. Recurso provido em parte.
(TJSP - AC: 10125856820168260564, Relator: ALCIDES LEOPOLDO E
SILVA JÚNIOR, QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Data de
Publicação: 05/12/2019).
Como resta cristalino, deverá a ré responder por todos os danos e sofrimentos
causados aos Requerentes, por se tratar de caso típico de responsabilidade civil objetiva,
ou seja, a culpa da requerida, independente de comprovação, mas tão somente pela
existência do dano, da ação ou omissão e da demonstração do nexo de causalidade entre
elas.
5.3 DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA OPERADORA DE PLANOS
QUANTO À FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
Os planos de saúde, caracterizam-se pela prestação contínua de serviços de
assistência à saúde mediante uma contraprestação em pecúnia. De acordo com Schaefer
(2012, p.51), temos:
Os planos de saúde caracterizam-se pela prestação do serviço de assistência
médico-hospitalar mediante uma contraprestação pecuniária, com atendimento
em rede própria ou conveniada/credenciada, facultando-se a possibilidade de
oferecer reembolso em determinadas circunstâncias de atendimento.
A principal característica desses contratos é a bilateralidade do contrato e a
reciprocidade das obrigações, ou seja, a operadora deve cobrir os eventos contratados e
o consumidor/usuário deve pagar em dia as prestações acordadas. Conforme Schaefer
(2012, p. 55), trata-se de contratos de massa, adesivos, aleatórios e de execução
continuada, que oferecem, pelo menos, a cobertura mínima de serviços definida em lei
(Lei 9.656/98).
As operadoras de planos e seguros são pessoas jurídicas de direito privado,
consideradas pelo ordenamento como fornecedoras ou prestadoras de serviços

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típicas que desenvolvem atividade subordinada à tutela do Código de Defesa do


Consumidor (colocação no mercado de produtos e serviços de assistência privada à
saúde, em consonância com o disposto na Lei 9.656/98).
Sob esse prisma, cabe destacar que dentre os bens mais relevantes resguardados
pelo Direito e a Medicina, temos o direito à vida, a saúde e a integridade psicofísica das
pessoas. Por esse motivo, a atuação do médico pode afetar diretamente a vida de várias
pessoas, o que torna a análise da responsabilidade civil das operadoras de planos de
saúde decorrentes de um erro médico de especial relevância.
O plano de saúde, caracterizada a responsabilidade objetiva, responde pela
escolha de seus profissionais, independentemente da constatação de culpa. A lei
consumerista determina que o fornecedor é responsável pela qualidade do serviço que
coloca à disposição do mercado de consumo.
A ideia de responsabilidade civil deixa, gradativamente, de se vincular à punição
do agente ofensor, e passa a se relacionar ao princípio elementar de que o dano injusto,
assim entendida a lesão a interesse jurídico merecedor de tutela, deve ser reparado,
consagrando a função precípua que se passou a atribuir ao instituto: a reparação
patrimonial do dano sofrido.
No caso em tela, a responsabilidade objetiva se mostra mais evidente, posto que
a rede de atendimento em que ocorreu o dano é própria da operadora.
Assim, fica clara a responsabilidade objetiva da Requerida pelo ato de seus
prepostos e o seu dever de indenizar.

6. DA INCIDÊNCIA DE DADOS MORAIS


A presente ação tem como objetivo restaurar um equilíbrio moral que fora objeto
de violação. Nesse sentido, a nossa Constituição Cidadã garante e assegura de modo
inquestionável a reparação dos danos causados a outrem, sejam morais ou materiais,
causados por omissão ou comissão, assim encartados no art. 5.º, incisos V e X, in
verbis:
Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantido-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(omissis)

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V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da


indenização por dano material, moral ou à imagem; (omissis)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
O Código Civil também determina que ações e abstenções que firam o direito
alheio e causem danos, sejam coibidas, vide artigos 186 e 927, abaixo transcritos:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
EXCELÊNCIA, UMA VIDA FOI PERDIDA POR NEGLIGÊNCIA, PELA
IRRESPONSABILIDADE DA REQUERIDA E SEUS PREPOSTOS. UMA
CRIANÇA COM APENAS NOVE MESES DE IDADE, AINDA SENDO
AMAMENTADO PERDEU SUA MÃE.
Assim, havendo nexo causal entre a conduta e o dano, com lesão física e a dor a
um indivíduo que confiou a vida a profissionais da saúde, é inegável a caracterização da
ofensa moral porque a integridade física, a honra, a imagem e a privacidade fazem parte
dos direitos da personalidade, que goza de proteção legal conforme art. 12 do Código
Civil.
Ora, Excelência, a paciente foi diversas vezes ao hospital da Requerida, era
medicada e liberada para casa. Se o quadro de dor intensa não era aferível peles exames
realizados, a Requerida no mínimo deveria ter deixado a paciente internada em
observação.
Nesse contexto, a reparação a este dano reside no pagamento de soma
pecuniária, arbitrada seguindo critérios de razoabilidade e proporcionalidade, que
possibilite aos lesados uma satisfação compensatória da sua dor íntima, em virtude da
ação ilícita da Requerida.

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Ressalta-se que as modernas relações contratuais de consumo têm como


princípio basilar a boa-fé objetiva na formação e execução das obrigações, que também
é fonte de deveres de conduta conexas.
Dever ser esclarecido mais uma vez que o dano pleiteado é caracterizado
também em decorrência da violação à autodeterminação da paciente ao não
oportunizar conhecimento prévio sobre os riscos do tratamento ao qual foi
submetida impossibilitando-a de exercer a auto governabilidade sobre o seu corpo.
A responsabilidade civil do profissional de saúde é consequência natural da
não observância do dever informacional, caso não fosse este o entendimento,
estaria o Poder Judiciário contribuindo para tornar inócua a Declaração Universal
sobre Bioética e Direitos Humanos – 2005, artigo 6º, Princípio Constitucional da
Dignidade da Pessoa Humana e Princípio da Constitucional do Direito à
Informação, dentre vários outros princípios infraconstitucionais previstos no
Código Civil Brasileiro (artigo 15 e artigo 422), Código de Defesa do Consumidor
(artigo 6º, inciso III, inciso 8º e inciso 9º).
6.1 DO ABALO MORAL CAUSADO AO ESPOSO. REQUERENTE
KEDSON FERREIRA. PRIMEIRO REQUERENTE.
Como dito em tópicos anteriores, a presente ação discute o direito a indenização
causado pela falha no dever prestação de serviços que ocasionou a morte de uma
pessoa.
O primeiro Requerente era casado com a paciente falecida e da relação nasceu
um filho, segundo requerente.
A relação conjugal, conforme o próprio termo sugere, é espécie singular de
relação entre pessoas que se unem uma à outra, com propósito de vida mútua em
comum, que fazem planos, realizam sonhos e são dependentes financeira e
psicologicamente um do outro.
Casados a aproximadamente seis anos, com um filho recém-nascido, dividindo
as responsabilidades de cuidar, garantir a segurança e sustentar a criança estavam
apenas iniciando a realização de seus sonhos, quando por uma atitude irresponsável da
Requerida, teve sua vida negativamente modificada. Sua esposa faleceu.
O improvável aconteceu, sua esposa, farmacêutica, 31 anos, lactante, que
buscava cuidar de sua saúde e do filho, tanto é verdade que pagava mensalmente por um
plano de saúde veio a falecer justamente pela falta do devido atendimento.

Dra. Ana Carolina Jansen Pereira Cirino Prado - OAB/AM 7.510 Talissa Pereira Cirino Prado - OAB/AM 7.635
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Ora, para que pagar um plano de saúde, se na hora que precisar, o atendimento
será feito de qualquer forma?
O dano aqui não é somente moral, as despesas do lar eram divididas, ambos
trabalhavam e sustentavam o núcleo familiar. O filho menor, ainda bebê era dependente
de sua mãe no plano de saúde, que como era empresarial já foi cancelado. Sendo assim,
a responsabilidade financeira, recairá totalmente sobre o pai, ora primeiro requerente.
Além disso, a atitude da Requerida tirou o principal, o seu direito a convivência,
o direito de dividir a vida juntos, de sonhar juntos e executar planos.
De fato, casamentos são desfeitos pelo divórcio a todo momento, porém, este
aqui, possuía uma relação consolidada em que havia companheirismo, mutualidade,
amor e a vontade de passar a vida juntos.
E esse direito lhe foi retirado, motivo pelo qual, resta configurado o abalo moral
e psicológico que caracterizam o dever de indenizar.
6.2 DO DANO MORAL E PSICOLÓGICO CAUSADO AO MENOR
KALEB MIGUEL. SEGUNDO REQUERENTE.
O requerente Kaleb Miguel é menor impúbere, que contando com apenas nove
meses, e ainda sendo amamentado perdeu sua mãe por conta da atitude irresponsável e
negligente da Requerida, prejudicando permanentemente a sua vida.
Um bebê é uma criatura frágil, que exige muitos cuidados, exposta a todos os
riscos da vida humana, posto que sua imunidade é baixa, devendo consumir o leite
materno para resguardar a sua vida.
O leite materno é importante fonte de energia, proteína e outros nutrientes, como
vitamina A e ferro. Ele ajuda a prevenir doenças enquanto for consumido. 
É o único alimento que fornece nutrientes importantes para o desenvolvimento
cerebral, que combate infecções, protege a criança contra bactérias e vírus, e evita
diarreias7.
E em razão da atitude irresponsável, foi desmamado de forma abrupta, sem a
necessária e gradativa inserção de outros alimentos em sua vida.
Como se não bastasse isso, ele nunca mais terá o colo de sua mãe, não poderá
ser amamentado na segurança do abraço materno.
7
http://hospitalsaomatheus.com.br/blog/amamentacao-conheca-a-importancia-e-os-beneficios-do-leite-
materno/#:~:text=O%20leite%20materno%20%C3%A9%20o,e%20v%C3%ADrus%2C%20e%20evita%20diarreias.

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O período inicial do desenvolvimento infantil é fortemente marcado pela


presença materna, de tal modo que uma criança não chega a se desenvolver
satisfatoriamente sem estabelecer um vínculo com a mãe. A saúde mental do indivíduo
é construída pela mãe, que proporciona um ambiente facilitador para que os processos
evolutivos do bebê se desenvolvam, assentando as bases para o desenvolvimento físico
e emocional do filho (Winnicott, 1999)8.
Nesse contexto de cuidados iniciais, destaca-se a experiência de amamentação, a
qual pode possibilitar a construção de um vínculo saudável entre a mãe e o bebê,
estabelecido a partir da sensibilidade materna.
Na amamentação, além do alimento, o bebê busca o olhar da mãe (Bowlby,
2002; Winnicott, 1999). Para Winnicott (1999), em termos vitais, o ato de a mãe segurar
e manipular o bebê é mais importante, por exemplo, que a experiência concreta da
amamentação. Dessa forma, o ato de sucção teria duas funções (uma nutritiva e outra
não nutritiva), e provavelmente a função não nutritiva, a qual mantém um contato
próximo do bebê com a mãe, teria uma importância maior (Bowlby, 2002).
O bebê tem um aparato inato para responder a estímulos sociais, e se utiliza dele
para garantir a proximidade com a mãe, desde o início da vida. A partir dos três meses,
a maioria dos infantes responde à mãe de um modo diferente se comparado com outras
pessoas. Ele sorri e vocaliza quando vê a mãe, seguindo esta com os olhos, com a
finalidade de manter proximidade com ela (Bowlby, 2002).
Excelência, lhe foi tirado o direito a conviver com a sua mãe, a participar das
festas escolares na presença dela, de poder homenageá-la no dia das mães, de poder
compartilhar os momentos bons e ruis ao lado dela.
Então resta absurdamente claro o abalo sofrido, que terá efeitos permanentes em
sua vida, seja por conta de questões biológicas já citadas, seja por conta da forma como
sua mãe foi tirada de sua vida.
6.3 DO DANO MORAL CAUSADO À GENITORA. MIRACI FIRMINO
DA SILVA. TERCEIRA REQUERENTE.
Como anteriormente afirmado, a ação é fundada no dever de reparar o dano
causado em razão de negligência e falha na prestação de serviços médico hospitalares
que levou à morte de uma filha.

8
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682015000200008#:~:text=A%20sa
%C3%BAde%20mental%20do%20indiv%C3%ADduo,filho%20(Winnicott%2C%201999).

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Já foi demonstrado também a importância da relação entre mãe e filhos, como é


o caso. Assim como uma mãe possui vital importância no desenvolvimento dos filhos,
um filho também é responsável por proporcionar o amadurecimento pessoal e
psicológico de uma mãe.
É importante salientar que ascendentes têm legitimidade para ajuizar demanda
indenizatória por morte da sua prole ainda quando esta já tenha constituído o seu grupo
familiar imediato, é o entendimento pacificado dos tribunais pátrios, vejamos:
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
LEGITIMIDADE DA GENITORA PARA O AJUIZAMENTO DE AÇÃO
INDENIZATÓRIA DE DANOS MORAIS POR MORTE DE FILHO MAIOR E
COM FAMÍLIA CONSTITUÍDA. NÚCLEO FAMILIAR INEXTINGUÍVEL
FORMADO POR ASCENDENTES E SEUS FILHOS. VIOLAÇÃO AO ART.
535 DO CPC NÃO CONFIGURADA.
1. Inexiste violação ao arts. 535 do CPC quando o Tribunal de origem, embora
sucintamente, pronuncia-se de forma suficiente sobre a questão posta nos autos,
sendo certo que o magistrado não está obrigado a rebater um a um os
argumentos trazidos pela parte quando os fundamentos utilizados tenham sido
suficientes para embasar a decisão.
2. A Quarta Turma desta Corte Superior, por ocasião do julgamento do REsp
1.076.160/AM (publicado no DJ de 21/6/2012), ressalvando expressamente
eventuais particularidades de casos concretos, concluiu que a regra mais
consentânea com o ordenamento jurídico pátrio é a de que a legitimidade para
propositura de ação indenizatória por dano moral em razão de morte deve
alinhar-se, mutatis mutandis, à ordem de vocação hereditária, com as devidas
adaptações. Interpretação sistemática e teleológica dos arts. 12 e 948, inciso I, do
Código Civil de 2002; art. 63 do Código de Processo Penal e art. 76 do Código
Civil de 1916.
3. Consoante a ordem de vocação hereditária, os ascendentes somente têm seus
direitos sucessórios reconhecidos na hipótese de inexistência de descendentes
(art. 1.829 do CC), o que poderia levar à ideia de sua ilegitimidade ativa ad
causam para a demanda que visa à percepção de indenização por danos morais
em razão do óbito de filho com família constituída.
4. Não obstante a formação de um novo grupo familiar com o casamento e a
concepção de filhos, o poderoso laço afetivo que une mãe e filho não se
extingue, de modo que o que se observa é a coexistência de dois núcleos
familiares, em que o filho é seu elemento interseccional, sendo correto afirmar
que os ascendentes e sua prole integram um núcleo familiar inextinguível para
fins de demanda indenizatória por morte. Assim, tem-se um núcleo familiar em
sentido estrito, constituído pela família imediata formada com a contração do

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matrimônio, e um núcleo familiar em sentido amplo, de que fazem parte os


ascendentes e seu filho, o qual desponta como elemento comum e agregador
dessas células familiares.
5. Nessa linha de intelecção, os ascendentes têm legitimidade para a demanda
indenizatória por morte da sua prole ainda quando esta já tenha constituído o seu
grupo familiar imediato, o que deve ser balizado apenas pelo valor global da
indenização devida, ou seja, pela limitação quantitativa da indenização.
6. No caso concreto, constata-se que o falecido era casado e deixou descendentes
que receberam extrajudicialmente, a título de compensação por danos morais, o
valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), o qual, diga-se de passagem, mostra-se
deveras inferior ao que normalmente é concedido em Juízo, apontando para a
existência de um valor residual apto a compensar a recorrente pelos danos
morais sofridos com o falecimento de seu filho.
7. Recurso especial provido.
(REsp 1095762/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 21/02/2013, DJe 11/03/2013)
Assim, por qualquer dos lados que se analise, não há como negar a legitimidade
e o direito da genitora da falecida em relação ao dano sofrido e o dever de indenizar por
parte da Requerida.

6.4 DO QUANTUM INDENIZATÓRIO


Pois bem, superada toda essa questão, nesse momento é imprescindível a
discussão a respeito de outro assunto de extrema relevância nesta demanda: o
"quantum" a ser fixado, devendo sopesar em cada caso concreto todas as circunstâncias
que possam influenciar na fixação do "quantum" indenizatório, levando em
consideração que o dano moral abrange, além das perdas valorativas internas, as
exteriorizadas no relacionamento diário pessoal, familiar, profissional e social do
ofendido.
No que tange ao valor da indenização a ser fixado temos ainda, o que disciplina
o Código Civil Brasileiro, ex vi do art. 944:
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa
e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.
Ora, no caso em analise se mostra presente todos os requisitos à indenização, ou
seja, comprovada a responsabilidade objetiva dos agentes causadores do dano o efetivo
dano causado aos Requerentes e o nexo de causalidade entra a ação e o dano.

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Vale ressaltar que o dano moral aqui debatido possui três vertentes, uma de
caráter meramente objetivo, pela falha na prestação de serviços, falha no dever de
informar, pela negligência e falta no dever de cuidado que causaram a morte de uma
filha, esposa e mãe.
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabeleceu indenização
por danos morais de R$ 600 mil à família de uma mulher que faleceu em razão de
imperícia médica no pós-parto cesariano9, cujo número do processo foi suprimido em
razão do segredo de justiça.
De fato, não há completa subsunção do caso analisado pelo STJ, porém,
analogicamente, aqui, uma criança com nove meses à época do fato ainda sendo
amamentada perdeu a mãe de forma abrupta em razão de negligência médica, e não
apenas isso, um esposo perdeu sua consorte, e uma mãe perdeu a filha pela total falha na
prestação de serviços da Requerida. Aqui, o caso se mostra ainda mais grave, pois no
caso analisado pelo STJ, o bebê ainda não tinha tido contato com a sua genitora, os
lanços mais intensos ainda não haviam sido criados, e no caso concreto, a relação já era
intensa, o bebê já era amamentado, já havia sentido o calor materno e isso lhe foi tirado.
Assim, considerando que se trata de prática reiterada e o caráter pedagógico que
se propõe, requer o arbitramento do dano moral no montante de R$ 200.000,00
(duzentos mil para cada requerente, totalizando R$ 600.000,00 (seiscentos mil
reais), acrescidos de juros e correção monetária a partir o evento danoso como valor
indenizatório razoável, considerando as condições do ofensor, do ofendido e do bem
jurídico lesado, assim como a duração do sofrimento e a reprovação da conduta do
agressor, não se olvidando, contudo, que o ressarcimento da lesão ao patrimônio moral
deve ser suficiente para amenizar os prejuízos suportados.
Assim, para que não ocorra a impunidade ao flagrante ilícito em curso, de modo
a perseguir o patrimônio da Requerida com o intuito de satisfazer o direito assegurado
aos Autores, tendo como fundamento do jus puniendi do Estado.
7. DA INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL ALIMENTOS
INDENIZATÓRIOS. TUTELA ANTECIPADA ANTECEDENTE

9
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/21062021-STJ-fixa-indenizacao-
de-R--600-mil-para-familia-de-mae-que-faleceu-por-hemorragia-pos-
parto.aspx#:~:text=2021%2019%3A47-,STJ%20fixa%20indeniza%C3%A7%C3%A3o%20de%20R
%24%20600%20mil%20para%20fam%C3%ADlia%20de,faleceu%20por%20hemorragia%20p%C3%B3s
%2Dparto&text=A%20Terceira%20Turma%20do%20Superior,m%C3%A9dica%20no%20p%C3%B3s
%2Dparto%20cesariano.

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Como exaustivamente narrado, o segundo requerente é menor impúbere, conta


com apenas dez meses de idade, e por conta da atitude negligente da Requerida perdeu
sua genitora e provedora, assim faz-se necessária a concessão da tutela antecipada não
apenas para preservar o direito, mas principalmente quanto ao risco de aumento do
prejuízo sofrido.
Em razão disso, vislumbra- se de modo inequívoco, a presença dos requisitos
que ensejam a medida antecipatória, de acordo com o art. 300, do NCPC, vejamos:
Art. 300 – A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil ao processo.
Levando-se em consideração que a genitora do segundo requerente, Sra. Pamela
Mikaelly era farmacêutica, laborava na empresa _________________, pelo qual
percebia mensalmente a quantia de R$ ______________, cuja destinação era o seu
próprio sustento e de seu filho, portanto, é cristalina a presença do periculum in mora.
De maneira cotidiana, utiliza-se a expressão “alimentos” como forma de se
referir a tudo aquilo que os seres vivos comem e bebem para manter a sua subsistência,
porém, para o direito a expressão “alimentos” tem extensão muito mais ampla, e
significam um conjunto global das prestações necessárias para a manutenção da vida
digna do indivíduo.
A morte da genitora do segundo requerente, causada pela atitude negligente dos
prepostos da Requerida além de ter interrompido prematura e abruptamente a relação
“mãe e filho”, rompeu o laço alimentar, a amamentação, e agora, o requerente terá que
utilizar-se de produtos industrializados, que serão por demais dispendiosos.
O objetivo das prestações alimentares, em linhas gerais, é conceder a pessoa que
delas necessita uma vida digna e adequada, inclusive lhe conceder o direito a educação.
Os alimentos devem ser pagos para o fim de viabilizar para o credor uma vida digna,
compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua
educação, de uma vida adequada e minimamente confortável.
Os doutrinadores Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, ensinam
que “o fundamento da “prestação alimentar” encontra assento nos princípios
da dignidade da pessoa humana, vetor básico do ordenamento jurídico como
um todo, e, especialmente, no da solidariedade familiar”

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É sabido que o sustento de uma criança não é responsabilidade apenas do pai,


mas também da mãe, que pagava inclusive o seu plano de saúde, as vacinas
obrigatórias, comprava roupas, fraldas, medicamentos, entre outros itens.
A probabilidade do direito fica evidenciada com o falecimento de sua genitora, o
pequeno Kaleb foi excluído do plano de saúde, posto que era vinculado ao plano
empresarial da mãe, e para que ingresse em um plano de saúde individual, o valor é
mais caro e terá que enfrentar todas as carências previstas no art.12 da Lei 9.656/98.
O menor era dependente psicológica, econômica e financeiramente de sua mãe,
falecida pela irresponsabilidade dos prepostos da Requerida. Nesse sentido, vale
lembrar que as pessoas jurídicas respondem pelos atos de seus representantes e
prepostos, nos exatos termos do art.932, III do Código Civil, devendo arcar com a
responsabilidade pela conduta de seus profissionais plantonistas:
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos,
no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
Ainda no que tange a responsabilidade da Requerida, o inciso II art.948 do
Código Civil dispõe sobre o dever de prestar alimentos à quem o morto devia, e no caso
em tela, a senhora Pamela Mikaelly sustentava seu filho menor, de apenas 10 meses.
Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras
reparações:
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se
em conta a duração provável da vida da vítima.
Assim, imperioso que a Requerida preste mensalmente alimentos indenizatórios
na ordem de seis salários-mínimos vigentes até ao menos os 24 (vinte e quatro) anos
completos do segundo Requerente KALEB MIGUEL DA SILVA FERREIRA ou
enquanto cursar ensino superior, aplicação analógica do art.949 do Código Civil.
Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o
ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da
convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver
sofrido.
Posto isto, está demonstrado o fumus boni iuris e o periculum in mora, para a
concessão da tutela pretendida, seguindo a orientação jurisprudencial, deverá ser
determinada nos seguintes termos:

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Que a Requerida seja compelida a prestar alimentos indenizatórios provisórios


em sede de tutela antecipada antecedente inaudita altera pars em patamar equivalente à
6 (seis) salários-mínimos vigentes, haja vista que este valor se aproxima dos
vencimentos mensais de sua genitora, conforme faz prova documento anexo, sob pena
de multa diária de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais).

7. DOS PEDIDOS

Pelo exposto, Requer:


a. O deferimento da justiça gratuita, em razão de que os Autores não possuem
condições de pagar as custas e despesas do processo sem prejuízo do próprio ou de sua
família, nos termos do artigo 98 do CPC, conforme exposto em tópico específico.
b. A concessão da tutela antecipada antecedente inaudita altera pars para
determinar que a Requerida seja compelida a prestar alimentos indenizatórios
provisórios em sede de tutela antecipada antecedente inaudita altera pars em patamar
equivalente à 6 (seis) salários-mínimos vigentes, sob pena de multa diária de R$
2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), tudo nos moldes do art.84 da Lei 8.078/90, dada
a verossimilhança da alegação e o receio de dano irreparável ao menor.

c. A citação da Requerida através de seus representantes legais, no endereço


constante na qualificação desta para, querendo, apresentar contestação no prazo legal,
sob pena de revelia;
d. A não realização de audiência de conciliação em razão da total quebra de
confiança entre os requerentes e a Requerida, assim como a sensibilidade que o caso
requer.
e. A inversão do ônus da prova, em virtude da hipossuficiência técnica e
informacional;
f. A TOTAL PROCEDÊNCIA da presente ação, condenando a Requerida
ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 200.000,00 (duzentos
mil para cada requerente, totalizando R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais), valor
este que atende aos princípios da proporcionalidade, equidade e razoabilidade, em
caráter compensatório, e pedagógico punitivo em razão do dano irreparável sofrido e
negligência informacional, assim como seja ratificada a tutela antecedente concedida,
tornando-se definitivo os alimentos provisórios no patamar de seis salários mínimos

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vigentes, até que o segundo requerente complete 24 anos, ou enquanto cursar ensino
superior.
g. A condenação da Requerido ao pagamento de custas e honorários de
sucumbência no importe de 20% sobre o valor da condenação.

8. DAS PROVAS

Pretende-se provar o alegado por meio de prova documental, precipuamente


o depoimento pessoal do representante legal da ré, oitiva de testemunhas documentos,
perícia se caso necessário e demais em Direito admitidas. Declara-se autênticas as
cópias por ventura apresentadas.

9. DO VALOR DA CAUSA

Dá-se à causa o valor de R$ 693.744,00 (seiscentos e noventa e três mil


setecentos e quarenta e quatro reais).

Termos em que,
Pede Deferimento.

Manaus, 13 de março de 2023.

Ana Carolina Jansen P. C. Prado


OAB/AM 7.510

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