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DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA
INTRODUÇÃO
Esta ação visa obter reparação por danos morais em virtude da morte de
Elisete dos Santos, mãe da autora.
O vínculo formado entre médico e paciente é dotado de peculiaridades que
extrapolam os limites da relação jurídica profissional.
Ao se colocar sob os cuidados de uma equipe médica, o indivíduo e seus
familiares esperam, instintivamente, que o princípio sedimentado por Hipócrates, e
imortalizado em latim, guie o procedimento: primum non nocere (Primeiro, não
prejudicar).
Meritíssimo Juiz, o que restará demonstrado ao final deste processo é que,
agindo em desacordo com a literatura e absoluto consenso médico, o Hospital
Municipal de Barueri, na pessoa de seus representantes, agiu com clara
imprudência, imperícia e negligência, o que levou a óbito a mãe da autora.
Prejudicada restou a vida da senhora Elisete que teve suas chances de
sobrevivência fulminadas pela inatividade dos médicos e enfermeiros responsáveis,
especificamente por não empenharem todos os esforços para garantir que o pior
não ocorresse, como ocorreu. Pois, não tomaram os devidos cuidados para que a
de cujus não contraísse Covid-19 (se é que ela faleceu por esse motivo mesmo),
uma vez que deu entrada no Hospital réu em bom estado de saúde apenas para
efetuar um exame rotineiro que fazia parte do tratamento de seu tumor cerebral
(tumor este que estava controlado e não havia trazido sequelas a de cujus ), mas
saiu de lá morta.
Ademais Excelência, não foi possível anexar os documentos que deveriam
instruir está petição, tais como: prontuários médicos, resultados de exames,
relatórios, receitas e etc., tendo em vista que o hospital réu se negou a entregar os
referidos documentos. Mesmo com um ofício enviado pela Defensoria Pública em
16/06/2021 (documento anexo), o réu NÃO ENTREGOU OS PRONTUÁRIOS e
sequer esclareceu o motivo dessa recusa, contrariando a Lei e sobretudo o artigo
88, do Código de Ética Médica (Resolução CFM nº 1.931/09), causando ainda mais
abalos psicológicos na autora que já estava arrasada e não pôde saber até hoje o
que sua mãe realmente teve para que viesse a óbito. Vale ressaltar que, existem
enunciados do CNJ referentes ao tema do prontuário, um deles diz: “Poderá
constituir quebra de confiança passível de condenação por dano a recusa
imotivada em fornecer cópia do prontuário ao próprio paciente ou seu
representante legal ou contratual, após comprovadamente solicitado, por parte do
profissional de saúde, clínica ou instituições hospitalares públicas ou privados”.
Esse enunciado está baseado em algumas normas em vigor. Segundo o artigo 88
do Código de Ética Médica, por exemplo, é vedado ao médico "negar, ao paciente,
acesso a seu prontuário, deixar de lhe fornecer cópia quando solicitada, bem como
deixar de lhe dar explicações necessárias à sua compreensão, salvo quando
ocasionarem riscos ao próprio paciente ou a terceiros".
O direito do acesso à cópia do prontuário médico está garantido, ainda,
pelo Código de Defesa do Consumidor . Conforme o artigo 72, o prestador de
serviço que “impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre
ele constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros” está sujeito a uma
pena de seis meses a um ano de detenção ou multa.
O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, por sua vez, demonstrando a
alteração no posicionamento do órgão de classe, elaborou parecer posterior, em
2014, qual seja RECOMENDAÇÃO CFM Nº 3/14, que pode ser consultada neste link
https://portal.cfm.org.br/images/Recomendacoes/3_2014.pdf, onde foi chancelada a
posição abaixo:
Dessa forma, está claro que houve erro médico, pois se não houvesse erros a
serem evidenciados o Hospital réu não se negaria a entregar os prontuários. Porém,
como estão a fim de tentar ludibriar a autora se negam para que ela desista e a
situação fique da maneira que está.
Importante destacar que, segundo a autora, no dia que a sua mãe faleceu
vários outros pacientes da mesma ala morreram de maneira suspeita e o réu alegou
ser por Covid.
Quem se submete a tratamentos médicos, dos mais simples aos mais
complexos, tem direito a não suportar riscos desnecessários. Os profissionais da
saúde devem atuar com vistas a proteger a integridade do paciente.
Sempre que houver erro por parte do hospital, que resulte em dano moral,
psicológico ou financeiro para o paciente, a instituição deve arcar com a
indenização.
Erros hospitalares podem causar problemas graves para os pacientes. Não é
incomum que profissionais da área da saúde cometam erros durante a realização
dos procedimentos médicos.
Por meio desta ação o que se persegue é a responsabilização dos réus, em
razão do seu desrespeito aos deveres fundamentais intrínsecos à prática da
medicina, pelos danos advindos de sua atuação. E assim, passamos a demonstrar a
imperativa necessidade de ver manifesta a tutela jurisdicional deste Ilustre Juízo.
DOS FATOS
DO DIREITO
Art. 37 (...)
Artigo 6º, I: O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deverá ser
protegido pela lei. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida.
DO ERRO MÉDICO
A presente demanda traz à apreciação de Vossa Excelência um caso de
patente erro médico pela não adoção das medidas e técnicas necessárias para
permitir ao nascituro as maiores chances de sobrevivência.
O celebrado professor Paulo Nader assim definiu a imperícia médica:
Ad cautelam, por mais que para os indivíduos sujeitos ao dano ora narrado, a
gravidade da falha na prestação médica e a tradição da confiança depositada no
profissional, sejam incomensuráveis, devemos relembrar que a legislação pátria não
prevê gradação da falha para que seja o profissional seja considerado responsável.
Esta é a ressalva de Miguel Kfouri Neto:
“Não é necessário que a culpa do médico seja grave: basta que seja certa.”
Diga-se que a presença de culpa, nos termos que foram expostos, serve
apenas para realçar os contornos dos danos suportados pela autora em decorrência
da atuação dos agentes públicos responsáveis pelo atendimento e servir como
parâmetro para o arbitramento da indenização perseguida.
Independente de culpa, mas havendo dano, surge o dever indenizatório,
conforme assentado pacificamente pela jurisprudência do Egrégio Tribunal de
Justiça Bandeirante:
"O dano simplesmente moral, sem repercussão no patrimônio não há como ser
provado. Ele existe tão-somente pela ofensa, e dela é presumido, sendo o bastante
para justificar a indenização” (TJPR - 4ª C. - Ap. - Rel. Wilson Reback - j. 12.12.90 -
RT 681/163).
"A vítima de uma lesão a algum daqueles direitos sem cunho patrimonial
efetivo, mas ofendida em um bem jurídico que em certos casos pode ser mesmo
mais valioso do que os integrantes de seu patrimônio, deve receber uma soma que
lhe compense a dor ou o sofrimento, a ser arbitrada pelo juiz, atendendo às
circunstâncias de cada caso, e tendo em vista as posses do ofensor e a situação
pessoal do ofendido. Nem tão grande que se converta em fonte de enriquecimento,
nem tão pequena que se torne inexpressiva."(Responsabilidade Civil cit., n.49,
p.67).
Mas não só. Deve-se, ainda, levar em conta a função punitiva do valor da
indenização. Na função ressarcitória, olha-se para a vítima, para a gravidade
objetiva do dano que ela sofreu (Antônio Jeová dos Santos, Dano Moral Indenizável,
Lejus Editora, 1.997, p. 62).
Já na função punitiva, ou de desestímulo do dano moral, olha-se para o agente
causador da lesão, de tal modo que a indenização represente advertência, sinal de
que a sociedade não aceita seu comportamento (Carlos Alberto Bittar, Reparação
Civil por Danos Morais, ps. 220/222; Sérgio Severo, Os Danos Extrapatrimoniais, ps.
186/190).
Nesse sentido:
Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplicam-se ainda no caso de
indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por
negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o
mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.”
DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:
Termos em que,
pede deferimento.
DIEGO R. P. OLIVEIRA
OAB/SP nº 368.134