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AO DOUTO JUIZO DE DIREITO DA VARA CIVIL DA COMARCA DE SÃO MIGUEL

DO IGUAÇU – PR.

SABRINA ROCHA, Brasileira, solteira, auxiliar de educação infantil, maior de


idade, nascida em 15/03/2003, portadora da cédula de identidade nº 13.476.696-4,e
inscrita no CPF 101.394.899.83, residente e domiciliada na Rua Julia Irma Soares,
na cidade de São Miguel do Iguaçu – Pr. Por intermédio de suas advogadas, Evelin
Pavelski, brasileira, solteira, advogada, inscrita na OAB/PR 44.647, e Laudiceia da
Silva Paludo, brasileira, casada, advogada, inscrita na OAB/PR 114.055, com
endereço comercial na Rua Farroupilha 49, com procuração em anexo à peça, vem
à presença de Vossa Excelência, com amparo legal da Lei12.0166/09. com fulcro
nos artigos 5º, caput, 6º e 196 da Constituição Federal; artigos 6º, inciso I,
alínea de 7º, inciso II da Lei 8.080/90.
Impetrar o presente:
MANDADO DE SEGURANÇA E CONDENAÇÃO EM OBRIGAÇÃO DE
FAZER COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA
Em face da:
DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAUDE, DO MUNICIPIO SAUDE DO
MUNICIPIO DE SÃO MIGUEL DO IGUAÇU, PR, autoridade coatora municipal, que
pode ser encontrado na Secretaria Municipal de Saúde, situada na Rua Duque de
Caxias 722, centro de São Miguel do Iguaçu, Pr, pelas razões de fato e de direito a
seguir expostos.

I. DA AUDIÊNCIA PRELIMINAR DE TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO


Primeiramente, a Requerente informa que NÃO tem interesse na
designação da audiência preliminar de tentativa de conciliação.

II. DA JUSTIÇA GRATUITA


A Requerente não apresenta condições financeiras para arcar com custas
processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo do sustento próprio e da
família, fazendo jus, portanto, ao benefício da Assistência Judiciária Gratuita,
conforme inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal e artigo 98 e seguintes do
Código de Processo Civil.
Para comprovar as alegações, a Requerente junta nesta oportunidade os
comprovantes de renda de todos os componentes da família.

III- DOS FATOS


A autora é uma jovem de 19 anos, portadora de Dermatite Atópica (CID 10:
L20.9), iniciada nos primeiros anos de vida.
Conforme demonstram os laudos anexos, a Impetrante sofre com elevada
sensibilização à ácaros de poeira domiciliar (LgE´s séricas especificas para
Dermatophagoidespteronyssinus, Dermatophagiodes farina superiors a 100 –
Exame de 2020).
A dermatite atópica (DA) é uma doença inflamatória cutânea crônica de
etiologia multifatorial que se manifesta clinicamente sob a forma de eczema. As
pessoas afetadas apresentam em geral grande dificuldade de se manter no trabalho,
uma vez e que produz grave impacto na qualidade de vida, acarreta instabilidade
emocional e a natureza pública dos sintomas pode ser estressante e normalmente
confundida com doenças contagiosas, vês as lacerações são profundas devido a
coceira, o que faz com que se confunda até mesmo com hanseníase, uma doença
contagiosa e muito temida.
Nas suas formas graves, que é o caso da Impetrante, a dermatite pode ser
incapacitante por causar transtornos nas atividades diárias e habilidades
ocupacionais, sociais e psicológicas, principalmente no sono, que tem um profundo
impacto negativo na qualidade de vida relacionada à saúde do paciente, e
principalmente na nossa região por ser um extremamente calor, a impetrante relata
que o calor aliado as roupas de cama (mesmo as hipoalérgicas) fazem com que
tenha coceiras intermináveis causando dilacerações na pele e feridas de repetições.
Além de toda a dor e desconforto a Impetrante tem vivenciado
“discriminação” uma vez que seu trabalho lhe obriga a manter contato físico, pois é
auxiliar de educação infantil em uma creche municipal e muitas vezes ouve as mães
cochichando em relação ao seu estado de saúde, atribuindo sua condição a doenças
infecciosas e transmissíveis, o que lhe causa um desconforto ainda maior.
Outra questão de extrema importância, que não podemos em hipótese
alguma deixar de apontar, é que a Impetrante passou a apresentar um de quadro
de depressão, devido ao enorme constrangimento causado pelas feridas expostas
na sua pele, espalhadas pelo corpo inteiro, razão pela qual, a mesmo praticamente
não tem mais vida social, quase não frequenta lugares públicos, saindo somente
para seu trabalho e deixou de frequentar locais públicos, somente saindo de sua
residência trabalhar e ir à consulta médica.
De modo a resolver o problema de saúde, a Impetrante já recorreu à vários
tratamentos e medicamentos, inicialmente fez uso de imunoterapia
hipossensibilizante para ácaros, entretanto, não teve boa resposta com o tratamento
convencional, motivando sua suspensão desse tratamento no final de 2020,
seguindo até dia de hoje com medicações paliativas, até que consiga a medicação
mencionada.
Conforme laudo detalhado expedido pela Dra. Giuliana Bernardes, que
acompanha o tratamento da Impetrante desde 2020, a única medicação capaz de
proporcionar alivio dos sintomas é DUPIXINT 300gm (2 ampolas) que custa em
média R$ 10.990,00 (dez mil e novecentos e noventa reais) valor MEDIO no
mercado brasileiro, pesquisado pela Impetrante e confirmado por sua medica, esse
valor é a referência PARA UM MÊS (01) de tratamento sendo aplicado uma dose
casa 14 dias, podendo aumentar ou diminuir de acordo a melhora identificada pela
medica que acompanha a Impetrante.
Devido ao alto custo da medicação que ultrapassaria os R$ 130.000, (cento
e trinta mil reais) por ano, motivo qual vem impedindo seu tratamento.
Apesar do alto preço da medicação a médica responsável pelo tratamento da
Impetrante é categórica em ressaltar a necessidade da utilização e da
manutenção na do medicamento DUPIXINT 300gm e ainda que o tratamento será
de uso continuo e de longo prazo.
Sem ter recursos disponível para arcar com o tratamento, a Impetrante
procurou a Secretaria de Saúde do Município de São Miguel do Iguaçu, para solicitar
o medicamento ao órgão público, contudo teve seu pedido negado sob o
argumento Genérico de que o medicamento não faz parte da lista de
medicamentos obrigatório da rede pública.
A Impetrante teve vários pedidos negados, porem à mantiveram
esperançosa, dizendo-lhe que estavam procurando uma forma de lhe atender,
através da 9º Regional de Saúde ou até mesmo pelo município, no entanto no dia
19 de dezembro de 2022 a secretaria de saúde do município acabou por negar,
conforme delação em anexo, assinada pela secretaria de Saúde senhora Eloni
Teresinha Conzatti Queiroz. (em anexo)
Sem condições financeiras de custear seu tratamento e, sem o apoio do ente
público, sua situação tem se agravado e provocado um desgaste muito grande em
toda a família, não restando alternativa, senão ajuizar o presente mandado.
Essa petição segue munida de copias de prontuários médicos, laudos, e
receita com a especificação do tratamento, mostrando a necessidade extrema da
impetrante, para que a mesma possa ter alivio dos sintomas e qualidade de vida.

IV- DO DIREITO

DOS REQUISITOS DO MANDADO DE SEGURANÇA

A Impetrante possui direito líquido e certo não amparado por habeas corpus
ou habeas data, nos termos do art. 1º da Lei 12.016/2009, que consiste no seu
direito de ter a saúde garantida pelo Estado, quando possui doença que necessita
de tratamento com medicamentos de alto custo que não conste no rol de
medicamentos dispensados pelo Poder Público, este direito está relacionado às
funções do Estado e à manutenção de vida digna (consequentemente, com saúde
e acobertada pelo princípio da dignidade da pessoa humana).
Todavia, seu direito foi ilegalmente violado pelas autoridades indicadas no
preâmbulo desta petição, pois requereu junto ao Poder Público os medicamentos,
mas não conseguiu obter os fármacos, estando sem tratamento adequado.
Conforme já mencionado nos fatos, os medicamentos que estavam ao seu
alcance não surtem o efeito (conforme declaração da Médica assistente)
Assim a medica assistente não vê razão em seguir com o tratamento
convencional além de não surtir o efeito desejado, vem prejudicando a saúde já
debilitada da Impetrante, uma vez que a medicação convencional tem como efeito
colateral um sobre carga no fígado.
Sendo a medicação mencionada a última tentativa da Impetrante em busca
de uma vida normal.

DO REQUERIMENTO DE TUTELA ANTECIPADA

O art. 7º, inc. III da Lei nº 12.016/2009, que regulamenta o mandado de


segurança, dispõe que a liminar será concedida, suspendendo-se o ato que deu
motivo ao pedido, quando for relevante o fundamento do pedido e do ato impugnado
puder resultar a ineficácia da medida.
Há relevância do fundamento – bem como probabilidade do direito (fumus
boni iuris) –, está comprovada haja vista que a documentação acostada demonstra
fartamente que a Impetrante está acometida da doença a qual tem paralisado a vida
da jovem e de sua família, impedindo de terem uma vida plena, trabalhar, ter lazer
e conviver com amigos. Uma vez que a Impetrante e sua família sofrem muito com
os comentários direcionados a ela, acreditando que sua alergia é contagiosa.
A Impetrante necessita da medicação. Outrossim, o fumus boni juris está
representado pelo direito constitucional inalienável e irrenunciável à saúde e pela
obrigação do Poder Público em custear o tratamento, previstas na ampla legislação
e jurisprudência trazidas à colação.
Há também perigo de ineficácia da medida, caso não seja deferida de
imediato – ou risco ao resultado útil do processo (periculum in mora) –, porquanto a
demora pode causar o agravamento da saúde da Impetrante de modo a lhe causar
danos irreversíveis, físicos e psicológicos, já que há tempos a impetrante vem
tentando – sem sucesso – obter os medicamentos – o que vem piorando seu estado
de saúde cada vez mais, trazendo diversas formas de mal-estar a impetrante (peço
atenção as fotos que acompanham este ) veja que essa doença além dos
desconforto, coceiras intermináveis, acompanhada de uma dor dilacerante que é
causa pelas fissuras que aparecem no corpo da Impetrante. Todo esse sofrimento
tem acompanhado a Impetrante desde tenra idade, e agora com a nova tecnologia
e medicamentos avançados vem a dá última tentativa para minimizar tanto
sofrimento.
Em outras palavras, o perigo da demora resta evidenciado pelo atual estado
de saúde da impetrante que está muito agravado e vem piorando ( fotos em anexo).
Sendo assim, a Impetrante preenche todos os requisitos para a concessão
deste tipo de tutela.
Logo, requer sejam antecipados os efeitos da tutela jurisdicional,
liminarmente, por restarem consignados os requisitos fumus boni juris e o periculum
in mora.

FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO PEDIDO

O direito à saúde é direito fundamental consagrado pela Constituição


Federal em seu artigo 6º e em toda Seção II do Capítulo II do Título VIII, que se inicia
com o artigo 196.
“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção
e recuperação.
O fato de não estar a despesa prevista no rol de medicamentos fornecidos
pelo estado, é apenas mero trâmite burocrático, que não tem o condão de eximir o
ente público da sua responsabilidade. Ademais, os argumentos apresentados pela
autoridade coatora, em que pese não ser norma constitucional, e que pese se leve
em consideração a reserva do possível, ainda assim este é hierarquicamente inferior
ao direito à vida e à saúde, cláusulas pétreas constitucionais.
Desta forma, percebe-se que não falta arcabouço jurídico para a proteção do
direito à saúde dos cidadãos, bem jurídico da mais alta relevância, intimamente
relacionado ao direito à vida - direito inerente a todo ser humano, portanto, natural,
inalienável, irrenunciável, e impostergável, cuja inviolabilidade está garantida
pela Constituição Federal, em seu art. 5º, caput - e ao princípio da dignidade
humana – fundamento da República Federativa do Brasil, como Estado Democrático
de Direito, conforme consagrado no art. 1º, III, da Constituição, devendo ser
utilizado como parâmetro para orientar a interpretação e compreensão de qualquer
sistema normativo.
Tais direitos quando invocados, por sua grande importância ao se relacionar
com a essência do Estado, devem ser preservados em quaisquer circunstâncias, de
forma que a pretensão da Impetrante em receber os medicamentos que necessita é
resguardada mesmo que estes não estejam descritos no rol de medicamentos
dispensados pelo ente político, e mesmo com a eventual falta de recursos
orçamentários, continuando o ente obrigado a cumprir com suas funções
primordiais, tal como a presente.

DA RESPONSABILIDADE DOS RÉUS EM FORNECER OS


MEDICAMENTOS

Verifica-se a responsabilidade dos réus em fornecer os medicamentos


pleiteados, garantindo o direito à saúde, a inviolabilidade do direito à vida e o
princípio da dignidade humana.
A Impetrante está enferma, conforme revelam os documentos médicos que
acompanham o presente, e não possui condição financeira suficiente para fazer
frente à exigência dos medicamentos de que necessita, cabendo ao ente político
conceder o auxílio necessário para minorar o sofrimento dos cidadãos que
contribuíram para a edificação do Estado, sem que nisso se caracterize medida
desajustada, diante da estrutura jurídica positiva.

DA OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA DOS ENTES DA FEDERAÇÃO PELA


SAÚDE

É dever do Estado, no sentido amplo da palavra, praticar ações visando à


garantia da saúde dos cidadãos, no caso, sendo o Estado e os Municípios entes
federativos, não podem se livrar do dever de garantir a saúde aos cidadãos
Como já dito anteriormente a matéria, ora em debate, já se encontra
delineada na Constituição Federal, em seus artigos 196 e 198:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede
regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo
com as seguintes diretrizes:
I - Descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade. § 1º. O sistema único de saúde será
financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social,
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes.
E ainda, encontra-se delineada na Lei 8.080/90:
Art. 9º A direção do Sistema Único de Saúde (SUS) é única, de acordo com
o inciso I do art. 198 da Constituição Federal, sendo exercida em cada esfera de
governo pelos seguintes órgãos:
I - No âmbito da União, pelo Ministério da Saúde;
II- No âmbito dos Estados e do Distrito Federal, pela respectiva Secretaria de
Saúde ou órgão equivalente; e
III - no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão
equivalente.
Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados
contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são
desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição
Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:
II - Integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e
contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,
exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do Sistema Único de
Saúde (SUS):
I - a execução de ações:

DA ASSISTÊNCIA TERAPÊUTICA INTEGRAL, INCLUSIVE FARMACÊUTICA

Além do mais, o texto do artigo 196 da Constituição Federal, ao falar


genericamente em Estado, tem cunho geral, preconizando que o custeio do Sistema
Único de Saúde se dê por meio de recursos orçamentários da seguridade social
comum a todos os entes federados, regionalização e hierarquização nele referidas
que devem ser compreendidas sempre como intenção de descentralizar e garantir
sua efetividade.
Ademais, vale registrar que não existe subordinação, concorrência ou
subsidiariedade entre as esferas municipal e estadual, aliás, qualquer uma delas
responde autonomamente pela proteção à saúde individual.
Além do que, é dever da Administração garantir o direito à saúde e a
aquisição de medicamentos as pessoas carentes portadoras de doenças, máxime,
quando se trata de direito fundamental, qual seja, a saúde humana.
Vale ressaltar mais uma vez que a Lei nº 8.080/90, que criou o Sistema Único
de Saúde, face às exigências do parágrafo único do art. 198 da Constituição
Federal, reforça a obrigação do Estado à política de gestão de aplicação de recursos
mínimos para as ações e serviços públicos de saúde.
Dessa forma, o dispositivo constitucional não pode significar apenas uma
norma programática, mas deverá surtir seus efeitos concretos, devendo o Estado
implementar políticas públicas capazes de transformar a realidade dos destinatários
da norma, garantindo a todos o direito à saúde digna e eficaz.
Diante disso, figura-se como obrigação de qualquer dos entes da Federação
o fornecimento do medicamento necessário ao tratamento do Requerente.

Vejamos o que diz a Jurisprudência:

DECISÃO: Acordam os integrantes da 4ª Câmara Cível do Tribunal


de Justiça do Estado do Paraná por unanimidade de votos, em conhecer e
negar provimento ao recurso de apelação. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL -
AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA -
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS ELIDEL E CETAPHIL
ADVANCED LOÇÃO HIDRATANTE À PORTADORA DE DERMATITE
ATÓPICA - MEDICAÇÃO NÃO CONSTANTE DO PROTOCOLO CLÍNICO
E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE -
DESNECESSIDADE - AUSÊNCIA DE PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA -
FATO QUE NÃO JUSTIFICA A RECUSA AO FORNECIMENTO DO
FÁRMACO POSTULADO - DEVER DO ESTADO EM FORNECER A
MEDICAÇÃO PRETENDIDA - DIREITO DA SUBSTITUÍDA
DEVIDAMENTE COMPROVADO - PREVALÊNCIA DO DIREITO À SAÚDE
E À VIDA PREVISTO CONSTITUCIONALMENTE - RECURSO DE
APELAÇÃO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJPR - 4ª C.Cível - AC -
1403793-1 - Palotina - Rel.: Hamilton Rafael Marins Schwartz - Unânime -
- J. 24.05.2016)(TJ-PR - APL: 14037931 PR 1403793-1 (Acórdão), Relator:
Hamilton Rafael Marins Schwartz, Data de Julgamento: 24/05/2016, 4ª
Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 1818 13/06/2016)

A INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROGRAMÁTICA NÃO PODE


TRANSFORMÁ-LA EM PROMESSA CONSTITUCIONAL INCONSEQUENTE.

O caráter programático da regra inscrita no art. 196 da Carta Política –que


tem por destinatários todos os entes políticos que compõem, no plano institucional,
a organização federativa do Estado brasileiro – não pode converter-se em
promessa constitucional inconsequente, sob pena de o Poder Público,
fraudando justas expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de
maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto
irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei
Fundamental do Estado.

DA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DE MEDICAMENTOS A PESSOAS


CARENTES.
O reconhecimento judicial da validade jurídica de programas de distribuição
gratuita de medicamentos a pessoas carentes, é dar efetividade a preceitos
fundamentas da Constituição da República (arts. 5º, caput, e 196) e representa, na
concreção do seu alcance, um gesto reverente e solidário de apreço à vida e à saúde
das pessoas, especialmente daquelas não possuem condições de arcar com seus
tratamentos para que possam alcançar a consciência de sua própria humanidade e
o desejo de uma vida normal e digo reconhecimento judicial da validade jurídica de
programas de distribuição gratuita de medicamentos a pessoas carentes, é dar
efetividade a preceitos fundamentas da Constituição da República (arts. 5º, caput, e
196) e representa, na concreção do seu alcance, um gesto reverente e solidário de
apreço à vida e à saúde das pessoas, especialmente daquelas não possuem
condições de arcar com seus tratamentos para que possam alcançar a consciência
de sua própria humanidade e o desejo de uma vida normal e digna.

A jurisprudência é vasta no sentido de determinar a entes políticos o


fornecimento de medicamentos garantindo-se o direito à saúde:

DECISÃO: ACORDAM os integrantes da Quarta Câmara Cível do


Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, em composição integral, por
unanimidade de votos, em conceder a segurança pleiteada, nos termos do
voto da Relatora. EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA.
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO "USTEQUINUMABE (STELARA)
45 MG" AO PORTADOR DE DERMATITE ATÓPICA (CID L-20).
ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. DIREITOS À SAÚDE E À VIDA
PROTEGIDOS PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E ELEVADOS À
CATEGORIA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. DEVER DO ESTADO EM
PROVÊ-LOS CONFORME PRECEITUA A CONSTITUIÇÃO FEDERAL
(ARTS. 6º E 196). COMPETÊNCIA COMUM E RESPONSABILIDADE
LINEAR DOS ENTES PÚBLICOS. MEDICAMENTO DE ALTO CUSTO E
PRESCRITO POR PROFISSIONAL MÉDICO HABILITADO.
HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA PARA ADQUIRIR O FÁRMACO
DEMONSTRADA. ATO COATOR CARACTERIZADO. VIOLAÇÃO A
DIREITO LÍQUIDO E CERTO. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS.
SEGURANÇA CONCEDIDA. ( Mandado de Segurança nº 1.455.109-2) 2
(TJPR - 4ª C.Cível em Composição Integral - MS - 1455109-2 - Curitiba -
Rel.: Lélia Samardã Giacomet - Unânime - - J. 08.03.2016)(TJ-PR - MS:
14551092 PR 1455109-2 (Acórdão), Relator: Lélia Samardã Giacomet,
Data de Julgamento: 08/03/2016, 4ª Câmara Cível em Composição
Integral, Data de Publicação: DJ: 1773 05/04/2016)

Precedentes do STF:
(Agravo no Recurso Especial nº 271.286-8/RS, 2ª Turma. Rel. Min. Celso
de Mello. DJU 24.11.2000)(...) estabelece o artigo 196 da Constituição
Federal que: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação. O mandamento
constitucional não faz qualquer distinção entre União, Estado ou Município
não competindo a atos administrativos inferiores com portarias a repartição
com a obrigação de fornecimento de medicamento. Perante a população,
tanto a União, como Estado ou município são obrigados a atender ao
comando constitucional, o que faz com que a Fazenda do Estado de São
Paulo seja parte absolutamente legítima para figurar no pólo passivo da
presente ação. E, no mérito, patente é a procedência do pedido. Como a
autora não tem recursos para a aquisição do medicamento que é essencial
para preservar a vida e a saúde, compete à coletividade, aqui representada
pelo Estado e pelo Município, suprir tal necessidade, garantindo o
atendimento ao mandamento constitucional. A alegação de falta de
recursos ou, ainda, da não comprovação do atendimento a ‘protocolo’ para
fornecimento de medicamento para tratamento da mesma doença não
afasta a obrigação dos réus em atender ao pedido apresentado, na medida
em que a preservação da vida da autora deve prevalecer sobre outros
interesses. Ademais, a prescrição do medicamento é questão que se refere
ao profissional que atende o autor, que não pode ser obrigado a mudança
do medicamento, para outro que é fornecido pela rede pública. Pelo
exposto e por todo o mais que dos autos consta, JULGO PROCEDENTE a
presente ação para obrigar os réus a fornecer à autora o medicamento
indicado na petição inicial, sempre mediante apresentação do necessário
receituário médico. (...)
STJ – CONSTITUCIONAL – RECURSO ORDINÁRIO – MANDADO DE
SEGURANÇA OBJETIVANDO O FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO
POR ENTE PÚBLICO À PESSOA PORTADORA DE DOENÇA GRAVE –
ILEGALIDADE DA AUTORIDADE COATORA NA EXIGÊNCIA DE
CUMPRIMENTO DE FORMALIDADE BUROCRÁTICA – Recurso ordinário
provido para o fim de compelir o ente público (Estado do Paraná) a
fornecer o medicamento. (STJ, 1ª Turma. Recurso em Mandado de
Segurança nº 11.183/PR [1999/0083884-0]. Julgado em 22/08/2000. Rel.
Min. José Delgado) FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO -
PRESERVAÇÃO DA VIDA - PODER PÚBLICO MUNICIPAL - TUTELA
ANTECIPADA - AGRAVO DE INSTRUMENTO - PROCESSO CIVIL E
CONSTITUCIONAL ANTECIPAÇÃO DA TUTELA PARA FORNECIMENTO
DE MEDICAMENTOS. POSSIBILIDADE. Fornecimento de medicamentos
a paciente em risco de vida e saúde. Verossimilhança presente. Regras
constantes dos artigos 196, da CF e 287, da CE, que tornam verossímil a
tese autoral, de molde a permitir a antecipação dos efeitos práticos da
aguardada decisão final positiva. Decisão interlocutória incensurável.
Improvimento do recurso. Unânime. (TJ-RJ. 3ª Câmara cível. Agravo de
instrumento. Processo nº 2000.002.11367. Data de Registro: 28/05/2001.
Votação: DES. MURILO ANDRADE DE CARVALHO. Julgado em
22/03/2001)

OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA DE TODOS OS ENTES POLÍTICOS

Insta salientar ainda que as obrigações Governamentais decorrentes do


direito à saúde oneram a todos os entes políticos solidariamente, conforme
previsto na Constituição Federal em seu artigo 198, inciso I.
Ademais, consoante se depreende do caput do artigo 196, que prevê que a
saúde é dever do Estado, não há indicação ou distinção a quem cabe essa obrigação
– se ao Município, Estado, União ou Distrito Federal – sendo razoável se concluir
que a incumbência é de todos os entes políticos da Federação de forma igualitária.
Não obstante, também respalda este entendimento o fato de o Sistema Único
de Saúde (SUS) ser composto, indistintamente, por todos os entes políticos.

DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO -OBRIGATORIEDADE E


FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS.

A saúde é direito fundamental de todo ser humano, competindo ao Estado,


em todas as suas esferas de atuação (federal, estadual e municipal) prover os meios
necessários a seu pleno exercício -Aplicabilidade do artigo 23, inciso II da Carta
Magna c/c artigo 2o da Lei 8.080/90.
Paciente com doença crônica e que não dispõe de recursos para custeio do
tratamento tem direito a receber pronto atendimento no fornecimento da medicação
indicada - Irrelevante a arguição de que o medicamento não se encontra
disponibilizado na rede pública.

(TJ-SP. 8ª Câmara de Direito Público. Apelação nº 573041920088260602


SP 0057304-19.2008.8.26.0602. Relator: Cristina Cotrofe. Data de
Julgamento: 16/02/2011. Data de Publicação: 24/02/2011) Trata-se de
apreciar o pedido liminar consistente na obrigação de custeio por parte do
MUNICIPIO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO e da FAZENDA DO
ESTADO DE SÃO PAULO dos medicamentos necessários ao tratamento
de MIGUEL MORENO CABRERA JUNIOR. Acompanhando a petição
inicial foram juntados documentos comprovando que o autor e portador de
diabetes de difícil controle clinico (fls. 27), fazendo-se imprescindível o
emprego dos medicamentos indicados; o custo do medicamento, no
entanto, e inacessível ao paciente, tendo em vista a baixa renda
comprovada. Conforme sustentado na articulação inicial, de fato e dever
dos entes federados que figuram no polo passivo, solidariamente, até
mesmo por garantia constitucional, a prestação do direito a saúde e,
reflexamente, a vida digna. Ha, assim, verossimilhança nas alegações e
fundado receio de dano irreparável. Ante o exposto, CONCEDO a liminar
para que as autoridades coatoras forneçam os medicamentos
indicados a fls. 28, expedindo-se mandado de intimação para
cumprimento no prazo de 30 (trinta) dias, bem como para prestar
informações no prazo de 10 (dez) dias. Autoriza-se a inobservância da
Resolução CMED e de licitações para a compra do medicamento em
questão. Prestadas, ao Ministério Público. (Processo nº
564.01.2010.037113-8 - nº ordem 63128/2010 - Mandado de Segurança -

V- DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Diante da relevância dos fundamentos da demanda, e por todo o exposto,


requer:
a) Inicialmente, pelo receio da consumação de prejuízos irreparáveis à esfera da
saúde da Impetrante, REQUER A CONCESSÃO LIMINAR DA SEGURANÇA
PLEITEADA, com fulcro no art. 7º, III, da Lei 12.016/2009, a fim de ordenar aos
Impetrados, solidariamente, que dispensem ao postulante os medicamentos de que
necessita, por tempo indeterminado e de maneira ininterrupta, enquanto perdurar a
necessidade do tratamento médico, garantindo-se, ainda, o fornecimento do produto
do mesmo fabricante durante toda a duração do tratamento, cumprindo-se, também,
os outros itens da Portaria 863 de 12 de novembro de 2002 do Ministério da Saúde,
como única forma de garantir-lhe o direito à vida.

b) Seja o pedido JULGADO TOTALMENTE PROCEDENTE, com a concessão


definitiva da segurança, reconhecendo-se o direito líquido e certo da Impetrante,
para que os Réus sejam condenados solidariamente ao fornecimento dos
medicamentos de que a Impetrante necessita, sejam aqueles específicos, indicados
nesta inicial (REMÉDIOS) – de modo que se torne definitivo o teor da decisão
antecipatória da tutela jurisdicional – ou outros também indicados
posteriormente ao seu tratamento, e que lhe venham a ser prescritos por seu
médico, e, tudo, por prazo indeterminado e até quando deles necessitar,
sempre, nas quantidades que forem as prescritas pelo profissional médico que
o assiste, garantindo-se, ainda, o fornecimento do produto do mesmo
fabricante durante toda a duração do tratamento, cumprindo-se, também, os
outros itens da Portaria 863 de 12 de novembro de 2002 do Ministério da
Saúde, como única forma de garantir-lhe o direito à vida.
c) Requer que a comunicação de concessão da tutela seja feita aos representantes
legais dos Réus, imediatamente, e em caráter de urgência, em vista dos riscos aos
quais está exposto o autor pela falta da medicação.

d) Requer ainda a condenação dos impetrados, nos termos do art. 297 do Código
de Processo Civil (Lei 13.105/2015), ao pagamento de multa em favor do impetrante
no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais) por dia de atraso no fornecimento dos
medicamentos referidos.
d) Sejam concedidos os benefícios da justiça gratuita, visto que a Impetrante não
tem condições de arcar com as custas processuais sem prejuízo do próprio sustento
e do de sua família, sendo carente de recursos, nos termos dos artigos 98 e
seguintes do Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015).

e) A citação dos Réus, na pessoa de seu representante legal, nos endereços


indicados no preâmbulo desta petição, para que, querendo, apresentem resposta à
presente demanda, sob pena de, não o fazendo, sofrer os efeitos da confissão e
revelia, nos termos do art. 7º da Lei 12.016/2009.

f) A determinação de oitiva do Ministério Público para oferecer parecer (art. 12,


caput, Lei 12.016/2009).

g) Por fim, requer que todas as intimações e publicações sejam encaminhadas no


endereço das advogadas. conforme art. 77, inc. V do CPC/15 – Lei 13.105/2015,
sob pena de nulidade.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) para fins meramente fiscais.
Termos em que,
Respeitosamente,
Pede deferimento.

EVELIN PAVELSKI
OAB/PR 44.647
LAUDICEIA DA Assinado de forma
digital por LAUDICEIA
LAUDICEIA DA SILVA PALUDO SILVA DA SILVA

OAB PR 114055 PALUDO:0227 PALUDO:02272706908


Dados: 2023.02.25
2706908 10:27:54 -03'00'

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