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UNEF - UNIDADE DE ENSINO DE FEIRA DE SANTANA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

RENÊ ANDRÉS CARMONA

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C PEDIDO DE TUTELA URGÊNCIA

Feira de Santana – Bahia


2022
UNEF – UNIDADE DE ENSINO DE FEIRA DE SANTANA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C PEDIDO DE TUTELA URGÊNCIA

Atividade avaliativa apresentada à


disciplina de Tópicos Especiais Em Direito
ministrada pela prof.ª Daiane Veronese como
requisito parcial para a aprovação na disciplina.

Feira de Santana – Bahia


2022
EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA
VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FEIRA DE SANTANA-BA.

RCT, nacionalidade XXX, diarista, estado civil XXX, inscrita no RG de número


XXX e CPF de número XXX, com endereço eletrônico XXX, Tel. XXX,
residente e domiciliada na rua XXX, número XXX, bairro XXX, CEP XXX, Feira
de Santana-BA, respeitosamente, vem, mediante seu advogado devidamente
constituído, procuração em anexo, à presença de Vossa Excelência, propor

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C PEDIDO DE TUTELA URGÊNCIA

Em face do ESTADO DA BAHIA, pessoa jurídica de direito público, inscrita no


CNPJ sob o nº 13.937.032/0001-60, com sede na Avenida 03, Plataforma IV
Ala Sul n° 390, terceiro andar, Centro Administrativo da Bahia, Salvador -
Bahia, CEP 41745- 003, pelos fatos e direitos que se seguem.
I. DAS INTIMAÇÕES

Requer, a parte Autora, que sejam as publicações e intimações efetuadas


exclusivamente em nome do Advogado XXX, OAB XXX, na forma do art. 272, §
2º do NCPC, sob pena de nulidade processual.

II. DO INTERESSE EM AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E


MEDIAÇÃO

Nos termos do art. 319, inciso VII e art. 334, § 5º, ambos do CPC/2015, informa
a parte autora que de início, tem interesse em audiência prévia para tentativa
de conciliação ou mediação.

III. DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA

Inicialmente, declara a Requerente, bem como anexa declaração de


hipossuficiência, que não possui condições de suportar as despesas
processuais decorrentes desta demanda sem gerar prejuízo ao próprio
sustento e de sua família, de modo que, faz jus aos benefícios da gratuidade
da justiça, previstos nos Art. 5º, inciso LXXIV da CF c/c Arts. 98 e 99 do CPC.
Ademais, a parte Autora também anexa aos autos, carteira de trabalho, na qual
se observa sua condição de autônoma, de modo que, a Sra. RCT, trabalhava
como diarista. Nesse seguimento, é fundamental salientar que, após o quadro
de saúde da Autora ter se agravado, atualmente, a Requerente teve que se
afastar de seu trabalho, fato que compromete em muito o seu sustento familiar.
Nessa acepção, a título de fundamentar o pleito da gratuidade do acesso à
Justiça, ilustra-se o entendimento já pacificado nos Tribunais Pátrios, conforme
se vê do julgado abaixo:
"Para se obter o benefício da assistência judiciária
gratuita, basta que seu beneficiário a requeira mediante
simples afirmação do estado de miserabilidade, sendo
desnecessária a sua comprovação." (STJ - 6ª Turma -
RESP 121799/RS, rel. min. HAMILTON CARVALHIDO,
julg: 02.05.2000, DJ: 26.06.2000, p. 00198)
Desta feita, pugna pelo deferimento da Assistência Judiciária Gratuita, nos
termos da fundamentação supra.
1. DOS FATOS

Conforme se extrai de relatório médico em anexo, bem como respectivos


exames, recebeu, a parte Autora, diagnóstico mediante o qual se evidência sua
condição como portadora da Síndrome do Túnel do Carpo. Nesse sentido, a
Requerente apresenta, desde o mês de agosto, sintomas de quadro de dores
intensas em seu membro superior direito, bem como formigamentos, fraqueza,
claudicação antálgica, com ansiedade e insônia associados ao quadro.

Diante disso, a Requerente passou a utilizar medicamentos como o diprospan,


flancox, prebictal, dozemast, insit complexo b, predsin, alginac e condres,
dentre outros recomendados por médicos competentes. Contudo, conforme
disposto em seu relatório médico, a autora apresentou refratariedade clínica,
uma condição pela qual o corpo humano apresenta certa resistência à ação de
determinados medicamentos, de forma a impor dificuldades em seu tratamento.

Nesse seguimento, dada a pouca eficácia dos medicamentos supra, o quadro


da parte Autora continuou a avançar de forma negativa, tendo, inclusive, por
conta das fortes dores que sente, que se afastar de seu trabalho como diarista,
o qual levantava sustento familiar. Diante dessa situação, a Autora consultou
um cirurgião da mão, o qual, após realizar exame eletroneuromiografia (anexo),
recomendou-lhe procedimento cirúrgico.

Nesse giro, antes que pudesse realizar a referida cirurgia, a Autora fora
informada sofre a eficácia de medicamentos à base de Canabidiol e após
receber uma doação autônoma, fez uso da referida substancia medicinal,
através da utilização de pomada local e óleo sublingual, e obteve, melhoras
significativas em seu quadro, das quais jamais foram alcançadas com a
polifamácia da qual fazia uso.

Diante da melhora, a Autora fora submetida a novos exames, dos quais se


constataram que não seria mais necessário procedimento cirúrgico, enquanto
lhes foram prescritos novos medicamentos a base de Canabidiol, identificados
como “Revivid Whole Full Spectrum CBD 1000mg/30ml (24 frascos/ano) ” e
“Revivid Topical 500mg Pomada Full Spectrum CBD (1 frasco/mės) ”, por
tempo indeterminado, contendo as devidas informações de uso na receita em
anexo.

Diante do exposto, salienta-se a importância atribuída por profissional


competente em relatório médico, cuja ressalta a necessidade de importação
dos referidos medicamentos através de empresas fornecedoras primárias, de
modo que a não autorização do fornecimento dos medicamentos supra põe em
risco o direito à liberdade da Autora, agrando ainda mais seu estado de saúde
física e mental, bem como a de seus familiares, além de ameaçar a
continuidade do efetivo tratamento, podendo, inclusive, comprometer sua vida.

Nesse viés, conforme restou nítido no corpo do presente instrumento jurídico,


bem como, mediante os documentos em anexo, a Sra. RCT não possui
recursos o suficiente para arcar com as despesas de um plano de saúde
particular, e depende do SUS para prosseguir com seu tratamento. Dessa
forma, é constitucional o dever do Estado de fornecer as políticas necessárias
para os cidadãos possam gozar dos direitos da vida, saúde e dignidade da
pessoa, de modo que, a parte Autora, pleiteia a devida efetivação de seus
direitos sociais, qual seja a responsabilização do Estado pelo fornecimento de
medicamentos prescritos, pelos fundamentos que se seguem.

2. DOS FUNDAMENTOS DE DIREITO

2.1 DAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS

Em paralelo com o caso narrado, a Constituição Federal, em seu artigo 6º,


prevê a saúde como um dos direitos sociais do ser humano, tendo, no art.196,
estabelecido que ela é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas, que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação, assim como se observa:

“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a


alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade
e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição. ”
“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação. “

“Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços


de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos
da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita diretamente ou através
de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de
direito privado. ”

Em continuidade, ressalta-se o direito à vida, como um direito fundamental,


inerente a todo cidadão, cabendo ao Estado, o deve prover as condições
indispensáveis ao seu pleno exercício, lhes disponibilizando serviços de saúde
adequados, eficientes e seguros, de modo que, o devido fornecimento de
medicamentos, nesse sentido, se faz essencial.

Assim, assevera o art.5º, III da CF, cuja atua em consonância com o art. 3º do
CPC:

“CF/88- Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (…)

XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder


Judiciário lesão ou ameaça a direito. “

“CPC/15- Art. 3º Não se excluirá da apreciação


jurisdicional ameaça ou lesão a direito. “

Desse modo, conforme o caso em tela, extrai-se a extrema dificuldade


enfrentada pela parte autora, cuja tamanhas são as suas dores que a mesma
já não consegue mais realizar os serviços dos quais provia o sustento de sua
família.

Dessa forma, há muito o que se falar em dignidade da pessoa humana, uma


vez que se trata do bem-estar e autonomia da Requerente, de modo que sua
previsão constitucional se encontra no art. 1º, III, da CF/88, na forma que se
segue:

“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela


união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos: (…)

III – a dignidade da pessoa humana; ”

Sendo assim, tem-se que a saúde se tipifica como um bem jurídico


indissociável do direito à vida, é certo que o Estado tem o dever de tutelá-la.
Sendo assim, extraísse que o legislador constitucional impõe ao Estado o a
obrigação de zelar pela saúde de seus cidadãos, através do dever de gerar
políticas públicas e implementar normas e ações destinadas à concretização e
exercício dos referidos direitos.

Nesse mesmo sentido, tem-se o entendimento:

MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO


CONSTITUCIONAL À DIGNIDADE, À VIDA E À SAÚDE
(ARTIGOS 1º, III, 3º, IV, 5º, CAPUT, 6º, CAPUT, E 196).
MEDICAMENTO NÃO FORNECIDO PELO SUS.
PRESENÇA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. PARECER
DA CÂMARA DE AVALIAÇÃO TÉCNICA EM SAÚDE –
CATS DO MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE
ATIVA. TEMA 766, STJ. LEGITIMIDADE PASSIVA.
SÚMULA 35, TJGO. SUBSUNÇÃO AO TEMA 106, STJ.
INCONTROVÉRSIA SOBRE A EXISTÊNCIA DA
DOENÇA E SOBRE A NECESSIDADE DO
MEDICAMENTO. SEGURANÇA CONCEDIDA. I -E
desnecessário e improducente o julgamento do agravo
interno interposto contra a decisão deferida a do pedido
liminar (tutela provisória de urgência de natureza
antecipada), se o processo já se encontra maduro ao
julgamento definitivo de mérito. II- Por prova pré-
constituída, termo jurídico indeterminado disposto nos
artigos 5º, LXIX, Constituição Federal, e 1º, Lei federal nº
12.016/2009, entende-se questão processual pautada na
incontroversa fática (documental) em torno das razões da
impetração, sem a qual seria necessária a dilação
probatória. Fundamentos de mérito, respeitantes à tese
jurídica desenhada pelo impetrante (procedência ou
improcedência dos pedidos iniciais), não se enquadram
dentre as condições e pressupostos processuais da ação
constitucional e, portanto, não rendem a extinção do
processo sem resolução de mérito. III – Considerando que
a petição inicial é instruída com documentos que
comprovam a doença e a necessidade do medicamento, é
induvidosa a existência de coação e de prova pré-
constituída a dispensar o manejo das vias ordinárias para
satisfação do direito invocado. Os relatórios, assinados
por médico conveniado ao Sistema Único de Saúde –
SUS e integrante da Câmara de Avaliação Técnica em
Saúde – CATS do Ministério Público Estadual, são
substanciosos quanto à descrição da enfermidade e à
indicação técnica do medicamento. Pelo mesmo motivo,
mostra-se desnecessária a prévia oitiva do Núcleo de
Apoio Técnico do Poder Judiciário – NATJUS. IV – Não
há questionar a legitimidade do Ministério Público para a
impetração do mandado de segurança, recentemente
reafirmada nos recursos especiais repetitivos n.º
1682836/SP e 1110552/CE (tema nº 766, Superior
Tribunal de Justiça). A pertinência subjetiva da autoridade
coatora, Secretário de Estado da Saúde, e a legitimidade
passiva da pessoa jurídica interessada, Estado de Goiás,
outrossim, emergem da própria omissão coatora e da
solidariedade extraída dos artigos 23, II, Constituição
Federal, 9º e 15, Lei federal nº 8.080/1990, e da Súmula
nº 35, Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. O
interesse de agir é evidenciado pela conjugação dos
elementos probatórios relacionados à doença e à
prescrição do medicamento. V – A hipótese atende aos
requisitos traçados pelo Superior Tribunal de Justiça no
julgamento dos recursos especiais repetitivos n.º
1657156/RJ e 1102457/RJ, correlatos ao tema nº 106. Os
relatórios médicos e pareceres da Câmara de Avaliação
Técnica em Saúde – CATS do Ministério Público atestam
a moléstia – MIELOMA MÚLTIPLO DSIIIB – (CID C90),
anteriores terapias intentadas sem êxito e confirmam a
prescrição de BORTEZOMIBE, droga cujo registro na
ANVISA é válido e atual. A hipossuficiência da substituída
é incontroversa, por ser ela aposentado, com proventos
estimados em 1 (um) salário-mínimo, naturalmente
sacrificados por gastos e restrições laborais imprimidos
pela doença. VI – A concessão da segurança prende-se a
fundamento e objetivo republicanos (artigos 1º, III, e 3º,
IV, Constituição Federal) e à garantia de direito
fundamental e social (artigos 5º, caput, e 6º caput,
Constituição Federal). A regra afina-se aos postulados da
segunda dimensão dos direitos fundamentais (direito de
prestação), segundo a clássica definição de Paulo
Bonavides, sendo a inércia governamental inadmissível,
sob pena da grave o comprometimento político-jurídico
nacional. A concepção dessa norma como programática
cede espaço à locução do artigo 5º, § 1º, Constituição
Federal, sendo certa a impostergabilidade e
indisponibilidade da missão de o Poder Público proteger a
vida, a dignidade e a saúde de todos os cidadãos. VII –
Segurança concedida. Agravo interno prejudicado.
(TJGO, Mandado de Segurança (CF, Lei
12016/2009)539809114.2018.8.09.0000, Rel. BEATRIZ
FIGUEIREDO FRANCO, 4ª Câmara Cível, julgado em
14/03/2019, DJe de 14/03/2019) “(…). 2. Como se
observa, comprovadas a eficácia e a necessidade de uso
do medicamento solicitado para o controle da doença e na
ausência de alternativa terapêutica, é inafastável o
reconhecimento do direito à tutela requerida, de forma
que, para analisar o inconformismo nesse ponto, seria
imprescindível o reexame das provas constantes dos
autos, o que é defeso em Recurso Especial, ante o óbice
previsto na Súmula 7/STJ. (…).” (STJ, AgInt nos EDcl no
AREsp 879749/SP, 2ª Turma, rel. Min.Herman Benjamin,
in DJe 03/03/2017).

2.2 DA LEI Nº 8.080/90 E CONSTITUIÇÃO BAIANA (SUS)

Desta feita, em consonância com o que prescreve a Constituição Federal, a Lei


n.º 8.080/90, que cuida do Sistema Único de Saúde, estabelece também
projeção do direito à assistência social, destinando-se, ainda, a resguardar a
saúde dos cidadãos que não tenham condições econômicas de custear seu
tratamento. Dessa forma, salienta o supradito dispositivo jurídico:

“Art. 2º. A saúde é um direito fundamental do ser humano,


devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao
seu pleno exercício.

§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na


formulação e execução de políticas econômicas e sociais
que visem à redução de riscos de doenças e de outros
agravos e no estabelecimento de condições que
assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos
serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. ”

Nessa continuidade, A Lei 8.080/90, em seu art. 6°, inciso I, inclui também, de
modo peremptório, no campo de atuação do SUS a execução de ações de
assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica, na forma que se segue:
“Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do
Sistema Único de Saúde (SUS):

I – a execução de ações:

d) de assistência terapêutica integral, inclusive


farmacêutica. ”

Assim sendo, diante de toda a demonstrada estrutura jurídica, não se pode


interpretar a Constituição Federal e a Lei 8.080/90 de outra forma que não,
extensivamente, para reconhecer o direito líquido e certo da Requerente.

Outrossim, a Constituição do Estado da Bahia, circunscreveu o dever do


Estado em promover a saúde, mediante políticas sociais e econômicas, com
dignidade, gratuidade e boa qualidade. Conforme se extrai da leitura dos
dispositivos do art. 233 a 243. Destacando no art. 233 que "o direito a saúde
deve ser assegurado a todos, sendo dever do Estado garanti-lo mediante
políticas sociais, econômicas e ambientais".

Nesse seguimento, a constituição baiana, em seu art. 238, assevera a


competência do Sistema Único de saúde no Estado, assegurar a assistência
farmacêutica e promover o desenvolvimento de novas tecnologias e a
produção de medicamentos, matérias-primas, insumos imunobiológicos.

Dessa forma, por tratar, o presente pleito, da concessão de medicamentos não


incorporados ao Sistema Único de Saúde, o Superior Tribunal de Justiça (STJ),
em julgamento de Recurso Especial, aduziu:

“A concessão dos medicamentos não incorporados em


atos normativos do SUS exige a presença cumulativa dos
seguintes requisitos:

i) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado


e circunstanciado expedido por médico que assiste o
paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do
medicamento, assim como da ineficácia, para o
tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo
SUS;
ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do
medicamento prescrito;

iii) existência de registro do medicamento na ANVISA,


observados os usos autorizados pela agência.”

Ante o escandido, faz-se imprescindível ressaltar que a parte Autora da


presente ação, cumpre todos os requisitos estabelecidos, tendo em vista,
inicialmente, os exames, bem como relatório médico cuja aduz a extrema
necessidade de concessão do fornecimento do referido medicamento, na forma
que se segue:

“Tal medicação não é encontrada em farmácias e está


fora do alcance das finanças da paciente a importação por
meios próprios para continuar o tratamento, devendo o
Estado arcar com tal custo.

O extrato é uma medicação imprescindível para o


tratamento do paciente e não há no SUS nem na rede
privada nenhuma outra com risco e custo-benefício e
eficácia comparável. Entende-se que as medicações a
base de Cannabis tem pouco ou nenhum efeito colateral
relatado em concordância com a necessidade do
paciente.

(...) determina um prognóstico mais favorável,


possibilitando melhor controle do quadro no longo prazo e
consequentemente aumentando a sobrevida da paciente
e diminuindo os custos da família e do Estado com
serviços secundários e terciários de Saúde Pública, onde
necessariamente incidiriam custos multiplicados (maiores
do que os do tratamento com o óleo) às fontes de
financiamento e pouca resolutividade conforme já
demonstrado no caso clínico refratário a tratamentos
convencionais. “

Nessa continuidade, resta comprovado o cumprimento do segundo requisito,


mediante o acostamento de carteira de trabalho da parte Autora, bem como
declaração de hipossuficiência. Por fim, os medicamentos disponíveis na
receita médica se encontram devidamente registrados e autorizados pela
Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), conforme comprovante de
consulta em anexo.

Nesses termos, tem-se o entendimento jurisprudencial:

“APELAÇÃO CÍVEL. REEXAME NECESSÁRIO. DIREITO


ADMINISTRATIVO. DIREITO CONSTITUCIONAL.
DIREITO FUNDAMENTAL. DIREITO À SAÚDE.
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. CANABIDIOL.
FORNECIMENTO PELO ESTADO. AUSÊNCIA DE
RECURSOS DO PACIENTE. AUSÊNCIA DE REGISTRO
DO PRODUTO NA ANVISA. DIREITO PROCESSUAL
CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE
SUCUMBÊNCIA. AÇÃO PATROCINADA PELA
DEFENSORIA PÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE DE
CONDENAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL. SÚMULA
421/STJ. RE 1140005/RJ. REPERCUSSÃO GERAL.
SUSPENSÃO NÃO DETERMINADA. MANUTENÇÃO DA
SENTENÇA RECORRIDA. RECURSOS DESPROVIDOS.
(…)

3. O princípio da dignidade da pessoa humana, disposto


no Art. 1º, inciso III, da Constituição Federal (CF/88),
alçado a fundamento da República Brasileira, constitui-se
no arcabouço dos direitos e das garantias fundamentais,
entre eles os direitos sociais, previstos no Art. 6º da
CF/88, que assegura a todos, entre outros direitos, o
direito à saúde.

4. O acolhimento do pedido do Recorrente – que remonta


originariamente dos fundamentos da própria República
(CF, art. 1º, III), como antes visto, na r. sentença de
primeiro grau, e que ora se confirma integralmente, longe
está de configurar uma imaginada interferência do Poder
Judiciário na condução política da saúde. Na verdade,
trata-se, sim, de efetiva aplicação e tutela jurisdicional dos
direitos e das garantias constitucionais e legais
concedidas a todos os indivíduos, entre eles o recorrido,
na preservação de sua saúde e bem estar.

5. Ainda que o medicamento de que o recorrido necessita


– CANABIDIOL EVR 22% – não se encontre
especificamente estabelecido pela rede pública,
organizada no Sistema Único de Saúde (SUS), na relação
(RENAME) que orienta a prestação do serviço público de
saúde, tal fato, de forma alguma exonera os entes
públicos da sua responsabilidade pelo fornecimento do
produto de que o recorrido comprovadamente precisa.

6. Tendo sido o tratamento indicado pelo profissional


médico que acompanha o paciente, em razão do
insucesso na utilização de outras alternativas
terapêuticas, e restando demonstrado que a própria
ANVISA já reconheceu a eficiência da substância para o
controle da enfermidade que acomete o autor, está
caracterizado o dever do Estado de tomar as providências
necessárias à proteção da saúde do menor, devendo
fornecer o medicamento pleiteado. (…) (“RESP
1657156/RJ Neste julgamento realizado pela 1ª Turma
Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ/DF)). ”

Desse modo, salienta-se, ainda, que o Supremo Tribunal Federal atribui ao


direito à saúde o aspecto de essencialidade, tendo em vista seu teor
indisponível e inerente à vida humana. Ilustre-se, a seguir, com julgado
paradigmático nesse sentido:

PACIENTES COM ESQUIZOFRENIA PARANÓID E


DOENÇA MANÍACO-DEPRESSIVA CRÔNICA,
COM EPISÓDIOS DE TENTATIVA DE SUICÍDIO.
PESSOAS DESTITUÍDAS DE RECURSOS
FINANCEIROS. DIREITO À VIDA E À SAÚDE.
NECESSIDADE IMPERIOSA DE SE PRESERVAR,
POR RAZÕES DE CARÁTER ÉTICO-JURÍDICO, A
INTEGRIDADE DESSE DIREITO ESSENCIAL.
FORNECIMENTO GRATUITO DE
MEDICAMENTOS INDISPENSÁVEIS EM FAVOR
DE PESSOAS CARENTES. DEVER
CONSTITUCIONAL DO ESTADO (CF,
ARTS. 5º,”CAPUT”, E 196). PRECEDENTES (STF).
RECONHECIDO E PROVIDO.

Ante o escandido, tem-se que o Poder Público, qualquer que seja a esfera
institucional de sua atuação no plano da organização federativa brasileira, não
pode mostrar-se indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de
incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento
inconstitucional. Nesse sentido, o sistema único de saúde, integrado a uma
rede regionalizada e hierarquizada de ações e serviços de saúde, constitui o
meio pelo qual o Poder Público cumpre seu dever na relação jurídica de saúde
que tem no polo ativo qualquer pessoa e a comunidade.

Portanto, diante de toda a fundamentação supra, infere-se a extrema


necessidade do deferimento da presente demanda, haja vista que trata
matérias de cunhos sociais e fundamentais, os quais, se não observados,
poderão, inclusive, comprometer a vida da parte autora.

3. DA TUTELA DE URGÊNCIA INAUDITA ALTERA PARS.

O ordenamento jurídico brasileiro possibilita a concessão de tutela de urgência,


em caráter cautelar/liminar, afim de que a parte Requerente, em face de um
fundado receio, não venha a ter seu direito lesionado de maneira grave ou até
mesmo de modo irreparável conforme prescreve os arts.300 do CPC e 84, §3º
do CDC:

“art.300- A tutela de urgência será concedida quando


houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo do dano ou o risco ao resultado útil do
processo”

“art.84- Na ação que tenha por objeto o cumprimento da


obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação, ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do
adimplemento.

§3º- Sendo relevante o fundamento da demanda e


havendo justificado receio e ineficácia do provimento final,
é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após
justificação prévia, citado o réu”.

Tais dispositivos legais acima, dispõe sobre os elementos caracterizadores da


medida em apreço quer seja o fumus boni juris (fumaça do bom direito) e o
periculum in mora (perigo da demora). Assim sendo, quanto ao perigo da
demora, faz-se fundamental ressaltar atualmente a parte Autora se contra
sofrendo fortes dores, sendo ineficazes o tratamento mediante a polifarmácia,
de modo que, sem o uso do canabidiol, lhe fora, inclusive, recomentado
procedimento cirúrgico. Ademais, devido ao avanço negativo do caso, a Autora
teve que se afastar de seu trabalho, por se tratar de função que necessita de
uso de força braçal, estando, atualmente, com o sustento familiar
comprometido.

Em continuidade, o fumus boni juris, se destaca no caso em tela, diante do


fato de que, é responsabilidade do Estado dispor das condições necessárias
para o gozo dos direitos constitucionais sociais e fundamentais. Nessa
acepção, tem-se que o fornecimento de medicamentos se faz imprescindível
para o alcance de tais direitos, quais sejam, a saúde, vida e dignidade da
pessoa humana.

Nesse sentido, decisões judiciais têm reforçado o direito de pessoas portadoras


de doenças, que não podem custear o tratamento, a receber remédios do
Estado, fixando o favorecimento à proteção da vida, havendo, ainda, a
concessão de medida liminar inaudita autera par, na forma que se segue:
“MANDADO DE SEGURANÇA. FORNECIMENTO DE
MEDICAMENTO. CANNABI-DIOL. LIMINAR INAUDITA
ALTERA PARS. POSSIBILIDADE. EFICÁCIA DA
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. IMPOSSIBILIDADE
JURÍDICA DO PEDIDO. MEDICAMENTO PROSCRITO.
INEXISTÊNCIA. IMPORTAÇÃO E UTILIZAÇÃO
REGULAMENTADAS PELA ANVISA. ILEGITIMI-DADE
PASSIVA AFASTADA. ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.
GARANTIA CONSTITUCIONAL À SAÚDE. PROVA PRÉ-
CONSTITUÍDA. ATO OMISSIVO DAS AUTORIDADES
IMPETRADAS. POTENCIAL OFENSA A DIREITO
LÍQUIDO E CERTO. BLOQUEIO DE VERBA PÚBLICA.
POSSIBILIDADE. MEDIDA EXCEPCIONAL.
FORNECIMENTO DE REMÉDIOS. ASTREINTES.
NECESSIDADE. URGÊNCIA DA SEGURANÇA. 1. As
medidas liminares pertinentes ao fornecimento de
medicamentos deferidas inaudita altera par visam
assegurar a eficácia e o resultado útil da pretensão
jurisdicional. (...). (TJGO, MANDADO DE SEGURANÇA
318098-46.2014.8.09.0000, Rel. DES. ITAMAR DE LIMA,
3A CÂMARA CIVEL, julgado em 27/01/2015, DJe 1721 de
04/02/2015) ”

Nessa forma, diante da fundamentação ora exposta, bem como o asseverado


em relatório médico em anexo, tem-se que mesmo que submetida a
procedimentos cirúrgicos, além dos gastos adicionais ao Sistema Único de
Saúde, indubitável será o fato de que haverá sequelas acompanharam a parte
autora por toda a vida e, inclusive, impedir que continue seu trabalho e
provento do sustento familiar.

Desse modo, presentes os requisitos legais, é medida justa, necessária e


urgente, a concessão da liminar inaudita altera pars, de modo que a Requerida
torne pleno o exercício do direito constitucionais da Requerente quanto ao
recebimento de medicamentos fornecidos pelo Estado, em prol de sua saúde,
vida e dignidade.
4. DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, requer à Vossa Excelência:

a) A concessão da gratuidade de justiça, nos arts. 98 e 99, do CPC, bem


como o Art. 5º, inciso LXXIV, da CF, conforme acima dissertado, em
caso de interposição de recurso;

b) A concessão da TUTELA DE URGÊNCIA, inaudita altera pars, a fim de


ordenar a Requerida, mediante ato de Sistema Único de Saúde, que
realize o fornecimento dos medicamentos da prescrição anexa, como
única de efetivar os direitos constitucionais supra;

c) Que a citação e comunicação de concessão da tutela de urgência seja


feita na pessoa do representante legal da Requerida, em caráter de
urgência, mediante oficial de justiça ou mediante Diário Oficial, face os
riscos aos quais está exposta a Requerida pela falta da medicação e
querendo, ofereça resposta dentro do prazo legal, sob pena de revelia;

d) A condenação da Requerida ao pagamento de custas processuais e


honorários advocatícios de sucumbência, a serem arbitrados seguindo-
se os critérios delineados no art. 85, §§ 2º e 3º, do NCPC;

e) A citação da Requerida, na pessoa de seu representante legal para,


querendo, compareça à Audiência de conciliação/mediação a ser
designada e apresente defesa no prazo legal, sob pena de revelia;

f) Requer a produção de todas as provas em direito admitidas, na


amplitude dos arts. 369 e seguintes do NCPC, em especial a prova
documental, a prova pericial, a testemunhal.

Dar-se a causa o valor de R$ XXX, mormente para efeitos fiscais.


Nesses termos,

Pede deferimento.

Feira de Santana- BA- DATA XXX

ADVOGADO

OAB/UF
RESENHA CRÍTICA: “ILEGAL: A VIDA NÃO ESPERA”

O filme “Ilegal: a vida não espera”, o cotidiano afligente de diversas famílias


cuja, embora haja laudos médicos, lutam contra todo preconceito social e
entraves impostos pelo Estado, para promover a qualidade de vida e até
mesmo a sobrevivência de seus familiares. Dessa forma, inicialmente, é
apresentado o relato doloroso da família de Anny, portadora de síndrome rara
que faz com que a criança tenha crises convulsivas que não cessam com os
medicamentos nacionais. Entretanto, o quadro da menor que apresentava
cerca de oitenta convulsões mensais, passou a ser zero com a utilização do
óleo a base de substancias medicinais da Maconha Sativa, momento em que
se abre uma enorme discussão entre os preceitos sociais e o valor da vida.

Assim, com o decorrer do filme, é possível concluir que a proibição da


fabricação, venda e até mesmo importação de medicamentos à base de
derivados da Cannabis Sativa, é extremamente influenciada pelo preconceito,
interesse empresarial, acompanhados de um falso discurso moralista e
conservador, de modo que até mesmo médicos, apesar de asseverar sua
eficácia, hesitam ou se abstém de receitar medicamentos que contenham THC
E CBD. Como prova, além dos diversos casos clínicos publicados no exterior,
países como os Estados Unidos da América, Holanda, Uruguai, Canadá,
Inglaterra, Espanha e Portugal, são grandes exemplos de país desenvolvidos
que permitem a legalização da Cannabis para usos medicinais.

Nessa acepção, o Brasil se faz-se um país que regulamenta o referido uso, de


forma extremamente burocrática e prejudicial e, mesmo diante de tantas
revoluções jurídicas expostas na obra “Ilegal: a vida não espera”, tais como a
marcha da maconha e votações, ainda se trata de um processo extremamente
lendo e custoso. Nesse sentido, resolução RDC Nº 660, de 30 de março de
2022, estabelece condições sobre os procedimentos para a concessão da
Autorização Sanitária para a fabricação e a importação, requisitos para a
comercialização, prescrição, a dispensação, monitoramento e a fiscalização de
produtos de produtos aferidos à medicina canabinoide.

Outrossim, tem sido motivo de grandes discussões nas comunidades sócio-


políticas, a possibilidade de aprovação do projeto de Lei 399/2015, cuja prevê a
regulamentação do cultivo da Cannabis para fins médicos e industriais no
Brasil. Em continuidade, cumpre destacar que o referido projeto de lei fora
escolhido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, como
prioridade para ser aprovado ainda para este ano, mesmo faltando um mês
para o final do ano e a expectativa de profissionais da saúde, bem como
pacientes se faz imensa.

Destarte, infere-se a extrema importância de divulgação da obra, que se faz


altamente recomendável para a devida disseminação de informações corretas,
com fundamentos medicinais e sociais que implicam na quebra do tabu
presente no país e novas iniciativas para a desburocratização do uso dos
referidos medicamentos. Desse modo, projetos de leis como o n° 399/2015,
terão mais visibilidade e consequentemente não poderão mais ser ignorados,
haja vista o grande benefício social advindo da medicina canabinoide.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, T.; ERICHSEN, R. ILEGAL: A vida não espera. BRASILRevista


Superinteressante, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=c-jhJY6Q3ro> Acesso em: 12 dez. 2022.
CFM - Conselho Federal de Medicina. Disponível em:
<https://portal.cfm.org.br/canabidiol/motivos.php>. Acesso em: 12 dez. 2022.

BAHIA RECÔNCAVO. Uso da Cannabis Medicinal movimenta a economia e


mercado pode avançar em 2023. Disponível em: Uso da Cannabis Medicinal
movimenta a economia e mercado pode avançar em 2023 – Bahia Recôncavo
(bahiareconcavo.com.br). >. Acesso em: 12 dez. 2022.

FIALHO, M. J. A Maconha e os motivos de ser proibida no Brasil.


Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GOgdOXERf5g>. Acesso
em: Acesso em: 12 dez. 2022.

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