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CONFLITO DIANTE DAS

DISPOSIÇÕES ÉTICAS E
JURÍDICAS SOBRE O
CONSENTIMENTO.

Geraldine Gollo de Oliveira


Advogada Especialista em Direito Médico,
Hospitalar e Odontológico
OAB/RS 66300
geraldine.jus@gmail.com
Mestranda em Filosofia pela Universidade de Caxias do Sul
Orientador: Paulo Cesar Nodari
Coorientador: Dagoberto Godoy
Disposições Éticas
 Código de Ética Médica (CEM):
No CEM/2009 o CFM trocou o a palavra vida por saúde:
“PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
I - A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da
coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza.”
Considerando a busca de melhor relacionamento com o paciente e a
garantia de maior autonomia à sua vontade;
É vedado ao médico:
Art. 22 - Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu
representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser
realizado, salvo em caso de risco iminente de morte.
Art. 24 - Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de
decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem estar, bem como
exercer sua autoridade para limitá-lo.
Art. 26 - Deixar de respeitar a vontade de
qualquer pessoa, considerada capaz física e
mentalmente, em greve de fome, ou alimentá-la
compulsoriamente, devendo cientificá-la das
prováveis complicações do jejum prolongado e,
na hipótese de risco iminente de morte, tratá-la.
Art. 28 - Desrespeitar o interesse e a
integridade do paciente em qualquer instituição
na qual esteja recolhido, independentemente da
própria vontade.
Disposições Jurídicas
ONU – DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE
DIREITOS HUMANOS
Estado possui obrigações respeitar, proteger e
realizar os direitos básicos do ser humano -
disposições essencialmente éticas de grupos
vulneráveis (paciente).
Problema atual = implementação.
Características: universalidade,
indivisibilidade, interdependência,
indisponibilidade e exigibilidade.
Paciente é o elemento central no cuidado em
saúde = sujeito de direitos.
Possui direito de escolha e autodeterminação.
Modelo do cuidado centrado no paciente
(paciente como um todo: situação econômica,
religião, crenças...)
Conceitos centrais: dignidade, respeito,
compartilhamento de informações,
participação, colaboração.
Direito a privacidade (escolha do paciente).
Direito Civil

CDC - Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela reparação dos
danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
CC - Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
CC - Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Direito
 Penal
Art.
 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
        Pena - detenção, de três meses a um ano.
        Lesão corporal de natureza grave
        § 1º Se resulta:
        I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;  IV - aceleração de parto:
        Pena - reclusão, de um a cinco anos.
        § 2° Se resulta:
        I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incuravel;  III perda ou
inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto:
        Pena - reclusão, de dois a oito anos.
        Lesão corporal seguida de morte
        § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado,
nem assumiu o risco de produzí-lo:
        Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
        Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de
       
relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Conclusão a priori: É fundamental a coleta do
consentimento informado prévio do paciente
para a realização de procedimentos de saúde.
(Exceção: emergência).

ÞJurisprudência:
“Numa medida extrema e possivelmente
inédita no país, a Justiça do Rio Grande do Sul
determinou que uma mulher grávida de 42
semanas fosse submetida a uma cesariana
contra a sua vontade, por considerar que mãe e
bebê corriam risco de morte.” (Folha de São
Paulo, 03/04/2014).
HABEAS CORPUS Nº 268.459 - SP (2013/0106116-5)
RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA
... Portanto, não há falar em tipicidade da conduta dos
pais que, tendo levado sua filha para o hospital,
mostrando que com ela se preocupavam, por convicção
religiosa, não ofereceram consentimento para
transfusão de sangue - pois, tal manifestação era
indiferente para os médicos, que, nesse cenário,
tinham o dever de salvar a vida. Contudo, os médicos
do hospital, crendo que se tratava de medida
indispensável para se evitar a morte, não poderiam privar
a adolescente de qualquer procedimento, mas, antes, a
eles cumpria avançar no cumprimento de seu dever
profissional.
 Apelação cível. Responsabilidade civil. Ação de indenização por
danos morais. Gravidez indesejada após procedimento de
laqueadura. Legitimidade passiva do Município de Estação
reconhecida. Atendimento e acompanhamento médico que
ocorreram em posto de saúde municipal. Realização do
procedimento em município diverso em virtude de inexistir
estabelecimento hospitalar no município demandado. Caracterizada
a responsabilidade civil do médico diante da relação direta entre a
ausência de informação suficiente à paciente e a ocorrência do dano.
Atendimento deficiente. Ausência de consentimento livre e
informado. Caso concreto onde demonstrado o nexo de causalidade
entre a falha na informação e o dano sofrido, gerando o dever de
indenizar. Quantum indenizatório arbitrado em valor condizente
com a situação posta nos autos. Termo inicial de incidência dos juros
moratórios alterado. Apelo parcialmente provido. Recurso adesivo
não provido.
APELAÇÃO CÍVEL 
SEXTA CÂMARA CÍVEL Nº 70059895532 (N° CNJ: 0182116-76.2014.8.21.7000)
COMARCA DE GETÚLIO VARGAS
 RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.
INTERVENÇÃO PARA TRATAMENTO DE POLIPOSE NASAL
E DESVIO DE SEPTO. PERFURAÇÃO DA BASE DO CRÂNIO.
ERRO MÉDICO POR AUSÊNCIA DE CUMPRIMENTO DO
DEVER DE INFORMAÇÃO. INDENIZAÇÃO.
APELAÇÃO CÍVEL - DÉCIMA CÂMARA CÍVEL - Nº
70056801855 (N° CNJ: 0404812-59.2013.8.21.7000) COMARCA
DE CAXIAS DO SUL.

 A apreciação do pedido de inclusão de interessado na política pública


de tratamento de doença, no âmbito do SUS, depende da apresentação
dos documentos exigidos no protocolo clínico e diretrizes
terapêuticas. Sem a prova do Termo de Consentimento Informado
exigido na Portaria 200, de 25.02.2013, do Ministério da Saúde não
pode ser deferido o medicamento requerido. Recurso desprovido.
Voto vencido.
AGRAVO - VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL - Nº
70055156764COMARCA DE FREDERICO WESTPHALEN
Conclusão a posteriori: No Brasil, quando o
consentimento do paciente entra em conflito
com o direito à vida o poder judiciário espera
que o profissional aja a fim de salvá-la, a
qualquer custo, mesmo desrespeitando a
vontade do paciente. Exceção: doença
incurável e terminal.
Questionamentos:

Há privação da autonomia e lesão a


dignidade quando envolve risco de morte,
ou quando a doença for terminal e
curável, ou incurável e não terminal?
Vida, um direito ou um dever?
Vida = vida digna?
Vida, um direito absoluto?
Por quê da exigência do consentimento, se
a decisão já está tomada pelo Estado?
Muito
Obrigada!!!

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