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RESPONSABILIDADE MÉDICO-ODONTOLÓGICA
● Pesquise: “iatrogenia”
Responsabilidade subjetiva
A responsabilidade civil do médico assenta-se, em regra, na teoria da responsabilidade
subjetiva, adotando-se o princípio da culpa provada. “Em sede de culpa provada, cabe ao
autor da demanda (vítima do dano) demonstrar a conduta imprópria do agente (causador do
dano) para obrigá-lo à indenização”. Avalia-se, portanto, a conduta do agente com vistas ao
resultado ocorrido – é o caráter punitivo pela imperícia, imprudência, negligência ou abuso de
poder do causador.
A Constituição Federal, em seu art. 37, parágrafo 6º, e o Código de Defesa do Consumidor,
em seu art. 14, destacam a responsabilidade objetiva para as pessoas jurídicas de direito
público e as de direito privado, prestadoras de serviço público, assim como para os
prestadores de serviço em geral. Os dispositivos mencionados enquadram hospitais, clínicas,
casas de saúde, laboratórios, dentre outros, como responsáveis, independente da
comprovação de culpa, pelos danos alegados por aqueles que usaram os seus serviços.
Natureza da responsabilidade civil do médico Reconhece-se, quase unanimemente, a
responsabilidade civil do médico como de natureza contratual. Em alguns casos poderá ser
extracontratual, quando, por exemplo, do atendimento de um acidentado desfalecido, na rua.
Será também extracontratual quando cometer um ilícito penal ou descumprir normas
regulamentares da profissão, tais como fornecer atestado falso, não impedir que pessoa não
habilitada exerça a profissão ou lançar mão de tratamento cientificamente condenado ou de
atitudes charlatanescas, vindo a causar dano ao paciente. Natureza da obrigação médica A
obrigação médica é, em geral, de meio e não de resultado, ou seja, implica no dever de
prudência e diligência no exercício de sua arte, utilizando os melhores meios disponíveis para
tentar a cura do paciente sem, entretanto, prometer ou garantir o resultado esperado.
Reconhece-se, contudo, que em algumas especialidades – como a cirurgia plástica estética,
anatomopatologia, análises clínicas e radiologia – a obrigação médica será de resultado.
Tanto os erros médicos quanto as práticas criminosas comuns são tipificadas pelo Código
Penal Brasileiro. Dessa forma, caso um médico atue com imprudência, negligência ou
imperícia, causando prejuízos ao seu paciente, poderá ser responsabilizado
administrativa/eticamente, civilmente e criminalmente/penalmente. Como qualquer outra
pessoa, os médicos têm a obrigação de responder pelos danos causados a terceiros.
A seguir, apresentamos as possíveis sanções aplicáveis aos médicos que praticam crimes
contra pacientes:
Sanções Administrativas ou Éticas
1. Essas sanções estão relacionadas aos processos disciplinares conduzidos pelo
Conselho Regional de Medicina. A análise ética ou administrativa se baseia no Código
de Ética Médica, sendo que a conduta profissional do médico será avaliada pelo CRM.
Inicialmente, as sanções disciplinares podem ser confidenciais, em aviso reservado,
incluindo advertência confidencial ou censura confidencial, sem publicação oficial.
Entretanto, as possíveis sanções decorrentes desses processos disciplinares incluem:
censura pública, com publicação oficial, suspensão do exercício profissional por até 30
dias e cassação do exercício profissional pelo Conselho Federal.
A prática médica envolve a responsabilidade pela vida e saúde de outras pessoas, o que
pode levar à ocorrência de condutas ilícitas. Alguns dos crimes mais comuns na área médica
são:
1. Homicídio culposo: ocorre quando um paciente morre em decorrência de negligência,
imprudência ou imperícia do médico. Isso pode acontecer, por exemplo, quando o
profissional não realiza o diagnóstico correto ou não prescreve o tratamento adequado.
2. Lesão corporal: é a ofensa à integridade física de uma pessoa. Na área médica, pode
ocorrer quando o profissional realiza um procedimento cirúrgico de forma inadequada,
causando danos ao paciente.
3. Omissão de socorro: é a recusa em prestar assistência à uma pessoa que está em
perigo de morte ou com risco iminente de lesão grave. Na área médica, pode ocorrer
quando o profissional se recusa a atender um paciente que precisa de atendimento de
emergência.
4. Erro médico: é a conduta médica que não segue os padrões estabelecidos pela
medicina, causando danos ao paciente. Isso pode acontecer, por exemplo, quando o
médico prescreve um medicamento inapropriado ou realiza um procedimento sem as
devidas precauções.
5. Falsificação de documentos: é a criação ou alteração de documentos para fins ilícitos.
Na área médica, pode ocorrer quando o profissional altera prontuários ou receitas
médicas para obter vantagem indevida.
Em todos esses casos, é importante destacar que a conduta deve ser tipificada como ilícita,
culpável e ter causado danos ao paciente. Além disso, a penalidade criminal pode resultar em
sanções como prisão, multa, suspensão do exercício profissional e perda de licença médica.
O erro médico técnico é uma conduta médica que foge dos padrões adequados de
segurança e eficácia, resultando em prejuízos à saúde do paciente. Infelizmente, esse tipo de
situação pode ocorrer em qualquer área da medicina, e as consequências podem ser graves,
inclusive levando à morte do paciente.
Um caso emblemático de erro médico técnico foi julgado pelo Superior Tribunal de Justiça
(STJ) em 2015, envolvendo um paciente que teve o seu estado de saúde agravado após uma
cirurgia para retirada da vesícula biliar. Durante o procedimento cirúrgico, uma lesão no canal
biliar foi causada, o que levou o paciente a ficar internado por mais de um mês em estado
grave, precisando ser submetido a várias outras cirurgias para corrigir os danos.
O STJ entendeu que houve erro médico técnico por parte do cirurgião responsável, e o
condenou a pagar uma indenização por danos morais e materiais ao paciente e à sua família.
O tribunal ressaltou que o erro foi causado por falta de cautela e de habilidade técnica do
profissional, que deveria ter agido com mais cuidado e atenção durante a cirurgia.
Jurisprudências:
Odontologia:
1. TJSP - Apelação 1039056-26.2015.8.26.0576: Decisão de 2020 que condenou um dentista a
indenizar um paciente por falha no tratamento de canal, que resultou na perda de um dente.
2. STJ - REsp 1845792/RS: Decisão de 2019 que determinou que a responsabilidade civil do
dentista é objetiva nos casos em que há falha na prestação de serviços e que resulta em dano ao
paciente.
3. TJSP - Apelação 1015692-10.2017.8.26.0566: Decisão de 2021 que condenou um dentista a
indenizar um paciente por falta de informação adequada sobre o tratamento e por negligência na
realização do procedimento.
4. TJRJ - Apelação 0145147-78.2016.8.19.0001: Decisão de 2019 que condenou uma clínica
odontológica a indenizar uma paciente por erro durante a cirurgia de implante dentário, que resultou
em danos estéticos e funcionais.
5. TJSP - Apelação 1028322-43.2019.8.26.0564: Decisão de 2021 que condenou um dentista a
indenizar um paciente por falha na prestação de serviço e por não obter o consentimento informado
para o tratamento.
6. TJSP - Apelação nº 1010906-44.2017.8.26.0320: Decisão de 2020 que definiu que o dentista é
responsável por orientar o paciente sobre os riscos e benefícios do tratamento proposto, bem como
obter seu consentimento informado.
7. TJRS - Apelação nº 70078520945: Decisão de 2019 que condenou um dentista por negligência
ao deixar um instrumento odontológico dentro da boca do paciente durante uma cirurgia de extração
de dente, causando complicações.
8. TJMG - Apelação Cível nº 1.0024.15.143230-3/001: Decisão de 2019 que negou o pedido de
indenização de um paciente que alegou ter recebido tratamento odontológico inadequado, pois não
ficou comprovada a culpa do dentista.
9. TJSC - Apelação nº 0300233-34.2017.8.24.0061: Decisão de 2018 que condenou um dentista
por erro na colocação de implantes dentários, causando prejuízos estéticos e funcionais ao paciente.
10. Jurisprudência nº 5011830-55.2016.4.04.7108 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região):
Profissional que realizou cirurgia de implante dentário em paciente com histórico de doença cardíaca
sem avaliação cardiológica prévia pode ser responsabilizado por erro odontológico em caso de
complicações decorrentes da cirurgia.
LEGISLAÇÃO:
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA
https://portal.cfm.org.br/images/PDF/cem2019.pdf
https://site.crosp.org.br/uploads/etica/6ac4d2e1ab8cf02b189238519d74fd45.pdf
Art. 1º. O Código de Ética Odontológica regula os direitos e deveres do cirurgião-dentista, profissionais
técnicos e auxiliares, e pessoas jurídicas que exerçam atividades na área da Odontologia, em âmbito
público e/ou privado, com a obrigação de inscrição nos Conselhos de Odontologia, segundo suas atribuições
específicas.
Art. 2º. A Odontologia é uma profissão que se exerce em benefício da saúde do ser humano, da coletividade e
do meio ambiente, sem discriminação de qualquer forma ou pretexto.
Art. 3º. O objetivo de toda a atenção odontológica é a saúde do ser humano. Caberá aos profissionais da
Odontologia, como integrantes da equipe de saúde, dirigir ações que visem satisfazer as necessidades de
saúde da população e da defesa dos princípios das políticas públicas de saúde e ambientais, que garantam a
universalidade de acesso aos serviços de saúde, integralidade da assistência à saúde, preservação da
autonomia dos indivíduos, participação da comunidade, hierarquização e descentralização político-
administrativa dos serviços de saúde.
Art. 4º. A natureza personalíssima da relação paciente/profissional na atividade odontológica visa demonstrar e
reafirmar, através do cumprimento dos pressupostos estabelecidos por este Código de Ética, a peculiaridade
que reveste a prestação de tais serviços, diversos, portanto, das demais prestações, bem como de atividade
mercantil.
Art. 5º. Constituem direitos fundamentais dos profissionais inscritos, segundo suas atribuições específicas:
I - diagnosticar, planejar e executar tratamentos, com liberdade de convicção, nos limites de suas atribuições,
observados o estado atual da Ciência e sua dignidade profissional;
II - guardar sigilo a respeito das informações adquiridas no desempenho de suas funções;
III - contratar serviços de outros profissionais da Odontologia, por escrito, de acordo com os preceitos deste
Código e demais legislações em vigor;
IV - recusar-se a exercer a profissão em âmbito público ou privado onde as condições de trabalho não sejam
dignas, seguras e salubres;
V - renunciar ao atendimento do paciente, durante o tratamento, quando da constatação de fatos que, a critério
do profissional, prejudiquem o bom relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho profissional.
Nestes casos tem o profissional o dever de comunicar previamente, por escrito, ao paciente ou seu
responsável legal, fornecendo ao cirurgião-dentista que lhe suceder todas as informações necessárias para a
continuidade do tratamento;
VI - recusar qualquer disposição estatutária, regimental, de instituição pública ou privada, que limite a escolha
dos meios a serem postos em prática para o estabelecimento do diagnóstico e para a execução do tratamento,
bem como recusar-se a executar atividades que não sejam de sua competência legal; e,
VII - decidir, em qualquer circunstância, levando em consideração sua experiência e capacidade profissional, o
tempo a ser dedicado ao paciente ou periciado, evitando que o acúmulo de encargos, consultas, perícias ou
outras avaliações venham prejudicar o exercício pleno da Odontologia.
Art. 6º. Constitui direito fundamental das categorias técnicas e auxiliares recusarem-se a executar
atividades que não sejam de sua competência técnica, ética e legal, ainda que sob supervisão do cirurgião-
dentista.
Art. 7º. Constituem direitos fundamentais dos técnicos em saúde bucal e auxiliares em saúde bucal:
I - executar, sob a supervisão do cirurgião-dentista, os procedimentos constantes na Lei nº 11.889/2008 e nas
Resoluções do Conselho Federal;
II - resguardar o segredo profissional; e,
III - recusar-se a exercer a profissão em âmbito público ou privado onde as condições de trabalho não sejam
dignas, seguras e salubres