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UBI

13 de Março de 2020
Roteiro de leitura
• Os diapositivos sem asterisco servem
apenas para enquadramento ou
exemplificação.
• Os diapositivos com asterisco contêm
matéria questionável.
• No final são incluídas duas perguntas-
modelo (com resposta correcta).
Tópicos
• Caracterização sociológico-jurídica
• Bases da responsabilização
– Gerais
• Medicina privada/pública
• Responsabilidade extracontratual/contratual
Características do sistema
português
• Grau de conflitualidade
• Grau de sucesso das queixas
• Instâncias de controlo
• Questões probatórias
• Seguros
• Dificuldades jurídicas
3 casos de responsabilidade
médica
• Wrongful life

• Perda de chance

• Risco cirúrgico
Bases da responsabilidade*
• Medicina privada

– Responsabilidade extracontratual (…danos


por violação de direitos absolutos, como o
direito à vida, à integridade física, etc)

– Responsabilidade contratual(…danos por


violação de direitos relativos)
Diferenças de regime*
• Prova da culpa
RCContratual---o lesante tem que provar que
agiu sem culpa
RCextracontratual----o lesado tem que provar que o
lesante agiu com culpa
• Prescrição
RCContratual---20anos
RC extracontratual----3 anos
Responsabilidade
extracontratual
• Art. 487.º, n.º 1

• É ao lesado que incumbe provar a culpa


do autor da lesão, salvo havendo
presunção legal de culpa
Responsabilidade contratual
• Art. 799 Código civil português

• 1. Incumbe ao devedor provar que a falta


de cumprimento ou cumprimento
defeituoso da obrigação não procede de
culpa sua.
STJ 11.7.2007
• 1 - É de meios, não de resultado, a obrigação a que o cirurgião se vincula
perante a doente com quem contrata a realização duma cirurgia à glândula
tiróide (tiroidectomia) em determinado hospital.
2 - Por se reconhecer que existe então um dever de vigilância no período
pós- operatório, deve entender-se que a obrigação complexa a que o
cirurgião e, reflexamente, o hospital ficaram vinculados perdura para além
do momento da conclusão da cirurgia.
3 - O médico cirurgião e o hospital não respondem civilmente se os danos
morais cuja reparação a doente exige se traduzirem na angústia originada
por uma complicação pós-operatória para cujo surgimento não concorreu
qualquer erro cometido no decurso da operação.
4 - Ainda que a angústia da doente se tenha agravado por se sentir
desacompanhada, subsiste a desresponsabilização do cirurgião e do
hospital se antes de abandonar as instalações deste o cirurgião se tiver
assegurado de que a doente, despertada da anestesia, respondeu com
lógica, clareza e normalidade fonética a perguntas que lhe foram dirigidas
para verificar isso e a correcção do acto cirúrgico, e se, apesar da ausência
do cirurgião, lhe tiver sido facultada no período pós-operatório a assistência
adequada às circunstâncias.
Tipo de contrato*
– Em contrato total (internamento e serviços médicos
assegurados pela clínica)

– Em contrato dividido (internamento a cargo da clínica;


prestação do serviço cirúrgico-médico); tipos análogos
(acompanhamento pós-operatório em clínica de
fisioterapia)

– Em contrato exclusivo de prestação de serviços


(regime de consultas): a clínica é pólo organizacional.
• :
Tipo de contrato*
• Carlos Ferreira de Almeida In “Os
contratos civis de prestação de serviço
médico”, Direito da Saúde e Bioética,
AAFDUL, qualifica como:
• um contrato socialmente típico, inserido na categoria ampla dos contratos
de prestação de serviço do art. 1154º do Código Civil,

• , e simultaneamente um contrato de consumo.


Pressupostos da responsabilidade
civil (médica)*
• Facto
• Ilicitude
• Culpa
• Nexo causal
• Dano
• ARTIGO 483º
• (Princípio geral)
•  
• 1. Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar
ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição
legal destinada a proteger interesses alheios fica
obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes
da violação.
•  
• 2. Só existe obrigação de indemnizar
independentemente de culpa nos casos especificados
na lei.*
FACTO
• Conduta humana controlável pela vontade
ILICITUDE*
• Contrariedade ao direito que resulta:
– Da violação de direitos absolutos
– Da violação de direitos relativos

• FONTE DO DEVER (lei, regulamentos,


directrizes internas de hospitais, protocolos,
boas práticas, etc)
• Pessoa sobre quem recai dever (necessário
identificar)
Caso da Queda de Dentes
• Médico interno
• Anestesiologista
• Médico cirurgião

• Risco cirúrgico v. anestésico


• RL
• Data do Acordão:06-07-2009
• Sumário:I – A responsabilidade penal por negligência no exercício da
medicina de equipa, nomeadamente quando existam relações
hierárquicas no seio da equipa pode fundar-se na violação do dever
de coordenação ou no dever de controlo.
II – Tal não afasta, porém, a vigência, se bem que um pouco mais
limitada do que no caso de relações não hierárquicas, do princípio da
confiança.
III – No caso de um eventual abandono de compressa no campo
operatório, o cirurgião só poderá ser responsabilizado se existirem
indícios suficientes de que não foi feita a conferência das gazes pelo
elemento da equipa responsável por essa tarefa ou de que, tendo ela
sido realizada, o cirurgião decidiu fechar o campo operatório sem que,
em caso de divergência entre o número de gazes entregues e
recolhidas tenha sido realizada nova contagem em que esses
números coincidam ou tenha sido efectuado um exame radiográfico
que elimine a dúvida gerada.
CULPA*
• Noção
– Juízo de censurabilidade sobre a conduta do
agente.
– Censura-se o facto de não ter agido como
poderia e deveria de acordo com o padrão
(critério de apreciação abstracto)
• Critério de apreciação abstracto
– “pessoa sensata, razoável, diligente”
– Atendendo às circunstâncias do caso
SEM CULPA*
• ENSAIOS CLÍNICOS Lei n.º 21//2014

• RESPONSABILIDADE POR DANOS


CAUSADOS POR OUTREM artigos 500.º
e 800.º Código civil português
SEM CULPA
• Audiencia Provincial de Valencia: Sentencia de
30.6.2003
• Formoterol
• Doente com asma bronquial
• Morte (paragem cárdio-respiratória)
• Condenação do laboratório farmacêutico
(promotor) e seu segurador
• Pagamento de 90.000 €
• Prova da relação de causalidade (por presunção
legal)
COM PRESUNÇÃO DE
CULPA*
• Actividades perigosas

• Art. 493, 2 Código Civil


•  2. Quem causar danos a outrem no exercício
de uma actividade, perigosa por sua própria
natureza ou pela natureza dos meios utilizados,
é obrigado a repará-los, excepto se mostrar que
empregou todas as providências exigidas pelas
circunstâncias com o fim de os prevenir.
STJ 2.11.2017
• Estando em causa uma cirurgia de extracção de
um siso incluso efectuada numa clínica dentária
(1.ª ré) por um médico estomatologista (2.º réu),
por conta desta e seu sócio-gerente, era
exigível ao 2.º réu que desse a conhecer à
autora que a extracção a realizar, ainda que
efectuada com observância de todas as leges
artis, podia provocar a lesão do nervo lingual –
como provocou – e quais as consequências
possíveis de tal lesão.
TRPorto 24.2.2011
• VII - Não age com culpa o médico dentista que, após
diagnosticar a causa da dor e a necessidade de
extracção, extrai um dente do siso, tendo para tal
administrado uma anestesia regional, seguida de
duas anestesias locais, por se manter a
sensibilidade à dor, apesar de, durante a prática
desse acto, ter ocorrido a fractura da
correspondente mandíbula, que, por si só, não
significa violação da leges artis.
DOLO/MERA CULPA*
• A distinção é importante uma vez que pode
ocorrer diminuição do montante
indemnizatório (geralmente coincidente com
o dano) se houver mera culpa, a pedido do
lesante (art. 494.º Código Civil).

• Regra geral, a indemnização dos danos


patrimoniais coincide com o valor dos
danos.
NEXO CAUSAL*
• IDEIA DE CAUSALIDADE ADEQUADA
• “UM FACTO É CAUSA SE, EM
ABSTRACTO, SE MOSTRAR IDÓNEO À
PRODUÇÃO DO DANO”
• Exemplo: o neo-nato apresenta problemas
neurológicos e houve atrasos na cesariana.
Há relação de causalidade se daquele
atraso pudesse resultar o dano, em termos
de probabilidade.
CASO CTG/PINAR: STA 5.2.2003
• Asfixia neonatal-bradicárdia---deficiência
profunda---morte de criança (2 anos)
• Atraso de 15 m a chamar médica obstetra
• Feto controlado por PINAR e não
CTG/RCT

– Hospital sem possibilidade de ventilação


assistida
• “Analisada a questão no plano do nexo de
causalidade resultante de tal demora, não se
andará longe da verdade se se estimar que
esses 15 minutos, mais os 15 que se lhe
seguiram até ao nascimento sem a chegada da
médica seriam à mesma consumidos, caso a
médica estivesse dentro do hospital, na
preparação de uma cesariana (preparação da
sala e da doente, chamada do anestesista e
instrumentistas, etc.)”.
• “Dito isto, pode, apesar de tudo,
considerar-se que a falta de registo
cardiotocográfico encerra uma
componente de negligência por parte da
enfermeira que estava a assistir à Autora.
Contudo, sempre ficará por estabelecer a
ligação causal com as lesões sofridas”.
• “Dito isto, pode, apesar de tudo,
considerar-se que a falta de registo
cardiotocográfico encerra uma
componente de negligência por parte da
enfermeira que estava a assistir à Autora.
Contudo, sempre ficará por estabelecer a
ligação causal com as lesões sofridas”.
• III - Não é decisivamente integrador de negligência assistencial, nem causal
relativamente à asfixia neonatal de que resultaram graves lesões cerebrais e, mais
tarde, a morte da criança por paragem cardíaca, o atraso de cerca de 15 minutos em
chamar a médica obstetra de serviço de prevenção, se ao ser detectada uma
bradicárdia fetal as enfermeiras chamaram prontamente uma médica pediatra que
estava no hospital e havia sinais de recuperação da bradicárdia, normalizando após
as contracções, sendo certo que esse tempo seria à mesma consumido na
preparação de uma cesariana, se a dita médica estivesse perto da parturiente.
IV - Também não se pode concluir pela existência de omissão negligente e
respectiva ligação causal àquele resultado por a doente não ter sido monitorizada
pelo cardiotocógrafo (CTG/RCT), se o feto foi sendo controlado pelo método PINAR
(pelo qual foi detectada a bradicárdia), se o aparelho tinha sido anteriormente
retirado dela para o ligar a outra doente (decisão médica cuja bondade não vem
questionada), e se dá também como provado que aquela pode ter outras causas pré-
natais, ficando assim por demonstrar que com a maior probabilidade aquele tipo de
monitorização teria podido evitar tais consequências.
DANO*
• Patrimonial/ não patrimonial
• Dano da perda de chance
• Dano resultante da violação de
– INTEGRIDADE FÍSICA/VIDA
– DEVER DE OBTENÇÃO DE
CONSENTIMENTO INFORMADO/AUTO-
DETERMINAÇÃO INFORMATIVA
– PRIVACIDADE
– ETC
COMPENSAÇÃO DO DANO
NÃO PATRIMONIAL*
• Art. 496, nº 4 do Código Civil Português
• Juízo equitativo
• Atendendo a:
– Grau de culpa do agente
– Situações económicas do lesante e lesado
– Outras circunstâncias
EXERCÍCIO DA MEDICINA NO
Serviço Nacional de Saúde*
• RESPONSABILIDADE
EXTRACONTRATUAL DO HOSPITAL
– (não há contrato com pacientes e hospital,
nem pacientes e médico)

• DL 67/2007, de 31 de Dezembro
Tipos de responsabilidade*
• Responsabilidade indirecta (necessário
individualizar acto de agente-culposo)

• Responsabilidade directa (o hospital


responde sem essa mediação)
TRAVES-MESTRAS*/
responsabilidade indirecta
• PRESSUPOSTO DA CULPA FUNCIONAL
(no exercício da função) DO AGENTE

• RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO
HOSPITAL COM O MÉDICO -EM CASO
DE DOLO/CULPA GRAVE

• RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DO
HOSPITAL EM CASO DE MERA CULPA
Traves mestras
• Direito de regresso*

– Em que CASOS? _se houver DOLO E


CULPA GRAVE do médico
– NATUREZA VINCULATIVA (a Administração
tem que reagir contra o médico)
Responsabilidade por facto ilícito*
• Responsabilidade por facto ilícito
• Artigo 7.º
• Responsabilidade exclusiva do Estado e demais pessoas
• colectivas de direito público
• 1 — O Estado e as demais pessoas colectivas de direito
• público são exclusivamente responsáveis pelos danos que
• resultem de acções ou omissões ilícitas, cometidas com
• culpa leve, pelos titulares dos seus órgãos, funcionários
• ou agentes, no exercício exerício da função administrativa e por
• causa desse exercício.
• 2 — O Estado e as demais pessoas colectivas
de direito
• público são responsáveis de forma solidária
com os respectivos
• titulares de órgãos, funcionários e agentes, se
as
• acções ou omissões referidas no número
anterior tiverem
• sido cometidas por estes no exercício das suas
funções e
• por causa desse exercício.
Casos de responsabilidade
directa*
• Por danos decorrentes do funcionamento
anormal do serviço

• Por danos decorrentes de actividades


perigosas

• Pelo sacrifício
Art. 7.º*
• 3 — O Estado e as demais pessoas colectivas de direito
• público são ainda responsáveis quando os danos não tenham
• resultado do comportamento concreto de um titular
• de órgão, funcionário ou agente determinado, ou não seja
• possível provar a autoria pessoal da acção ou omissão,
• mas devam ser atribuídos a um funcionamento anormal
• do serviço.
• 4 — Existe funcionamento anormal do serviço quando,
• atendendo às circunstâncias e a padrões médios de
resultado,
• fosse razoavelmente exigível ao serviço uma actuação
• susceptível de evitar os danos produzidos.
Responsabilidade pelo risco
*
• Artigo 11.º
• Responsabilidade pelo risco
• 1 — O Estado e as demais pessoas colectivas de direito
• público respondem pelos danos decorrentes de
actividades,
• coisas ou serviços administrativos especialmente
perigosos,
• salvo quando, nos termos gerais, se prove que houve
• força maior ou concorrência de culpa do lesado,
podendo
• o tribunal, neste último caso, tendo em conta todas as
• circunstâncias, reduzir ou excluir a indemnização.
Perigosidade
(transfusão de sangue)
• STA 1.3.2005---era • STA 14.12.2005---
perigosa em 1994 não era perigosa à
data
•   Artigo 16.º
• Indemnização pelo sacrifícioO Estado e as demais
pessoas colectivas de direito público indemnizam os
particulares a quem, por razões de interesse público,
imponham encargos ou causem danos especiais e
anormais, devendo, para o cálculo da indemnização,
atender-se, designadamente, ao grau de afectação do
conteúdo substancial do direito ou interesse violado ou
sacrificado.
súmula
• Traços caracterizadores do regime
• Dificuldades na verificação dos
pressupostos
Exemplo de perguntas
• 1. Um médico que tenha dado origem pela sua conduta a um dano será responsabilizado:
• A) Só se houver contrato.
• B)Em caso de contrato total com a clínica, respondendo o médico contratualmente.
• C) Se o acto for também causal e culposo, como regra.
• D)Se tiver assumido a responsabilidade por dolo.
• E) Se violar simultaneamente direitos absolutos e relativos.

• 2. O direito de regresso da Administração hospitalar existe:


• A) Se há funcionamento anormal dos serviços.
• B) Se o paciente foi informado de que haveria direito de regresso.
• C)Se houver dolo ou culpa grave do médico
• D)Se houver dolo ou negigência consciente do médico
• E) Se aAdministração considerar ter sido grave a conduta do médico.

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