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DIREITO OBRIGACIONAL

PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DAS OBRIGAÇÕES


Código Civil: artigos 233 ao 251
Código Civil: artigos 252 ao 256; 264 ao 285 + doutrina
Código Civil: artigos 257 ao 263
Não possui previsão legal, mas apenas doutrinária e jurisprudencial
OBRIGAÇÃO DE MEIO OU DE DILIGÊNCIA

Conceito: “é aquela em que o devedor só é obrigado a empenhar-se para perseguir um


resultado, mesmo que este não seja alcançado” (Flávio Tartuce); “o devedor não estaria
obrigado à obtenção do resultado, mas apenas a atuar com a diligência necessária para que
tal resultado seja obtido” (Cristiano Chaves).

Consequência: aqueles obrigados em obrigação de meio serão responsabilizados, apenas, se


provada a culpa lato sensu (genérica). Portanto, na obrigação de meio, haverá
responsabilidade civil subjetiva.

Dolo Dolo
Direito Penal Direito Civil
Culpa Culpa genérica ou culpa estrita
OBRIGAÇÃO DE MEIO OU DE DILIGÊNCIA

Previsão legal de responsabilidade por obrigação de meio: a responsabilidade dos profissionais


liberais é subjetiva, assim como a dos profissionais da área da saúde, salvo se assumiram o risco
da falta de tal resultado.

Art. 14, CDC. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos Art. 951, CC. O disposto nos arts. 948, 949 e
consumidores por defeitos relativos à prestação 950 aplica-se ainda no caso de indenização
dos serviços, bem como por informações devida por aquele que, no exercício de
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e atividade profissional, por negligência,
riscos. imprudência ou imperícia, causar a morte do
paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.
liberais será apurada mediante a verificação de
culpa.
OBRIGAÇÃO DE MEIO OU DE DILIGÊNCIA
"EMENTA: INDENIZAÇÃO - RESPONSABILIDADE MÉDICA - INOCORRÊNCIA - SENTENÇA MANTIDA. 1. "A
prestação de serviços médicos, via de regra, afigura-se como obrigação de meio e não de resultado, haja
vista que o profissional não pode assegurar, salvo raras exceções, o sucesso do tratamento a que se
submete o paciente, não se eximindo, todavia, do dever de vigilância aos cuidados mínimos de sua
atividade técnica." (RJTAMG 63/384)

“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. MANDATOS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ÔNUS DA PROVA,
CASO CONCRETO. ALEGAÇÃO DE MÁ CONDUÇÃO NO EXERCÍCIO DO MANDATO CAUSADORA DE DANOS
MORAIS E DA "PERDA DE UMA CHANCE". AUSÊNCIA DE PROVA DO DANO QUE, "IN CASU", NÃO É "IN RE IPSA".
A OBRIGAÇÃO DO ADVOGADO É DE MEIO E NÃO DE RESULTADO. CASO CONCRETO NO QUAL NÃO RESTOU
COMPROVADO QUE A CONDUTA DO RÉU TENHA SIDO CAUSADORA DO DANO, O QUE AFASTA A
POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL. NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME.” (TJ-RS -
AC: 70049956584)
OBRIGAÇÃO DE RESULTADO OU DE FIM

Conceito: “a prestação só é cumprida com a obtenção de um resultado, geralmente oferecido


pelo devedor previamente” (Flávio Tartuce); “o devedor se obriga a alcançar determinada
finalidade, sem a qual não será adimplente” (Cristiano Chaves).

Consequência: aqueles obrigados em obrigação de resultado serão responsabilizados


independentemente de culpa ou por culpa presumida. Portanto, na obrigação de resultado,
haverá responsabilidade civil objetiva.
OBRIGAÇÃO DE RESULTADO OU DE FIM
“EMENTA: RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO INDENIZATÓRIA. COMPANHIA AÉREA.
CONTRATO DE TRANSPORTE. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANOS MORAIS.
ATRASO DE VOO. SUPERIOR A QUATRO HORAS. PASSAGEIRO DESAMPARADO. PERNOITE NO AEROPORTO.
ABALO PSÍQUICO. CONFIGURAÇÃO. CAOS AÉREO. FORTUITO INTERNO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. 1. Cuida-se
de ação por danos morais proposta por consumidor desamparado pela companhia aérea transportadora
que, ao atrasar desarrazoadamente o voo, submeteu o passageiro a toda sorte de humilhações e
angústias em aeroporto, no qual ficou sem assistência ou informação quanto às razões do atraso durante
toda a noite. 2. O contrato de transporte consiste em obrigação de resultado, configurando o atraso
manifesta prestação inadequada. 3. A postergação da viagem superior a quatro horas constitui falha no
serviço de transporte aéreo contratado e gera o direito à devida assistência material e informacional ao
consumidor lesado, independentemente da causa originária do atraso. 4. O dano moral decorrente de
atraso de voo prescinde de prova e a responsabilidade de seu causador opera-se in re ipsa em virtude do
desconforto, da aflição e dos transtornos suportados pelo passageiro. 6. Recurso especial provido.”
(STJ - REsp: 1280372)
OBRIGAÇÃO DE RESULTADO OU DE FIM

“EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC.
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. RENOVAÇÃO DO PEDIDO NA VIA ESPECIAL. DESNECESSIDADE. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. CIRURGIA PLÁSTICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO.
PROFISSIONAL QUE DEVE AFASTAR SUA CULPA MEDIANTE PROVA DE CAUSAS DE EXCLUDENTE. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. Nos termos da jurisprudência mais recente desta Corte, não há mais
necessidade de o recorrente renovar o pedido de concessão do benefício da assistência judiciária
gratuita na interposição do recurso especial se ele já vem litigando sob o pálio da justiça gratuita. 2.
Possuindo a cirurgia estética a natureza de obrigação de resultado cuja responsabilidade do médico é
presumida, cabe a este demonstrar existir alguma excludente de sua responsabilização apta a afastar o
direito ao ressarcimento do paciente. 3. Agravo regimental não provido.” (AgRg no REsp 1468756)
OBRIGAÇÃO DE RESULTADO OU DE FIM

Cirurgia plástica estética x Cirurgia plástica reparadora

“EMENTA: Apelação cível. Responsabilidade civil. Erro médico. Cirurgia plástica reparadora. Obrigação de
meio. Responsabilidade subjetiva. Não configuração do dever de indenizar. 1. A obrigação decorrente de
procedimento cirúrgico plástico reparador é de meio, sendo atribuída ao médico, portanto, nestes casos,
responsabilidade civil subjetiva, em atenção ao disposto no artigo 14, § 4.o, do Código de Defesa do
Consumidor. 2. Considerando que o procedimento adotado pelo demandado foi correto, e inexistindo
elementos probatórios capazes de corroborar a tese da parte autora de que o serviço não tenha sido
realizado, pelo contrário, tem-se que o demandado não agiu culposamente ao prestar seus serviços
médico-profissionais, afastando-se assim o dever de indenizar” (TJRS, Apelação Cível 70037995644)
OBRIGAÇÃO DE RESULTADO OU DE FIM
“EMENTA: Cirurgia estética e reparadora. Na espécie, trata-se de ação de indenização por danos morais e
materiais ajuizada pela recorrida em desfavor dos recorrentes. É que a recorrida, portadora de hipertrofia
mamária bilateral, foi submetida à cirurgia para redução dos seios – operação realizada no hospital e pelo
médico, ora recorrentes. Ocorre que, após a cirurgia, as mamas ficaram com tamanho desigual, com
grosseiras e visíveis cicatrizes, além de ter havido retração do mamilo direito. O acórdão recorrido deixa
claro que, no caso, o objetivo da cirurgia não era apenas livrar a paciente de incômodos físicos ligados à
postura, mas também de resolver problemas de autoestima relacionados à sua insatisfação com a
aparência. Assim, cinge-se a lide a determinar a extensão da obrigação do médico em cirurgia de
natureza mista – estética e reparadora. Este Superior Tribunal já se manifestou acerca da relação médico-
paciente, concluindo tratar-se de obrigação de meio, e não de resultado, salvo na hipótese de cirurgias
estéticas. No entanto, no caso, trata-se de cirurgia de natureza mista – estética e reparadora – em que a
responsabilidade do médico não pode ser generalizada, devendo ser analisada de forma fracionada,
conforme cada finalidade da intervenção. Numa cirurgia assim, a responsabilidade do médico será de
resultado em relação à parte estética da intervenção e de meio em relação à sua parte reparadora”. (STJ,
REsp 1.097.955/MG)
OBRIGAÇÃO DE GARANTIA

Conceito: “o seu objetivo é uma garantia pessoal, oferecida por força de um instituto contratual,
como ocorre na fiança (caução fidejussória)” (Flávio Tartuce); “consiste na função atribuída ao
devedor de eliminar um risco que pesa sobre o credor ou as suas consequências, propiciando-
lhe maior segurança” (Cristiano Chaves).

Consequência: o garante não assume a totalidade dos riscos relativos à frustação das
expectativas do garante, mas apenas aqueles que resultarem dos eventos abrangidos pelo
acordo. Portanto, não havendo nenhum risco assumido pelo garante, a recusa da prestação
será lícita
OBRIGAÇÃO DE GARANTIA

Art. 831, CC. O fiador que pagar integralmente


a dívida fica sub-rogado nos direitos do credor;
mas só poderá demandar a cada um dos
outros fiadores pela respectiva quota.

Parágrafo único. A parte do fiador insolvente


distribuir-se-á pelos outros.
Possui regulação específica no Código de Processo Civil
OBRIGAÇÃO LÍQUIDA E ILÍQUIDA
Líquida: “é aquela certa quanto à existência e determinada quanto ao objeto e valor” (Flávio
Tartuce). De modo expresso, nela estão especificadas a qualidade, quantidade e natureza do
objeto devido.

Consequência: o inadimplemento de obrigação positiva e líquida no exato vencimento constitui


o devedor em mora automaticamente.

Convencional: ocorre com a transação ou conciliação;


Espécies de liquidação
Legal: a lei traz os próprios parâmetros;

Judicial: é feita pelo juiz, pois não existe acordo e nem previsão
legal;

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida
da vítima.
OBRIGAÇÃO LÍQUIDA E ILÍQUIDA

Ilíquida: “é aquela incerta quanto à existência e indeterminada quanto ao conteúdo e valor”


(Flávio Tartuce). De modo expresso, nela estão especificadas a qualidade. Para o seu
cumprimento, precisa ser tornada líquida.

Consequência: sendo a obrigação ilíquida, não é possível constituir em mora o devedor, pois
não é certa a quantia devida, sendo contados somente a partir da citação inicial para ação de
cobrança. Além disso, é impossível compensar dívidas.

Obrigação de dar coisa incerta x Obrigação ilíquida -> confundem-se?


A condição, o termo e o encargo estão dispostos na parte geral do
Código Civil
OBRIGAÇÃO PURA, CONDICIONAL, A TERMO OU MODAL
Elementos acidentais: “são aqueles que não são essenciais ao ato em regra: a condição, o
termo e o encargo” (Flávio Tartuce). Tais elementos, de acordo com a escola Ponteana, estão
no plano da eficácia obrigacional.

Obrigação pura: é aquela que não está sujeita a condição, termo ou encargo. Ex: doação
pura, pois apenas existe a intenção de doar.

Obrigação condicional: é aquela que contém cláusula que subordina o seu efeito a um evento
futuro e incerto. Pode ser uma condição suspensiva (se) ou resolutiva (enquanto). Ex: doação
feita ao nascituro.

Obrigação a termo: é aquela que contém cláusula que subordina o seu efeito a um evento
futuro e certo (quando). Ex: locação de casa para o período de férias.

Obrigação modal ou com encargo: é aquela onerada por um encargo, ou seja, um ônus à
pessoa contemplada (para que). Ex: doação com encargo.
É analisada objetivamente
OBRIGAÇÃO PRINCIPAL E ACESSÓRIA

Principal: “é aquela que independe de qualquer outra para ter existência, validade ou eficácia”
(Flávio Tartuce).

Acessória: “tem sua existência, validade ou eficácia subordinada a outra relação jurídica
obrigacional” (Flávio Tartuce).

Reflexão de efeitos: a extinção, nulidade, anulabilidade ou prescrição da obrigação principal


reflete na acessória, mas a recíproca não é verdadeira. Incidência do princípio da gravitação
jurídica.
Código Civil: artigo 327, caput
OBRIGAÇÃO QUESÍVEL E PORTÁVEL
Quesível (ir buscar): “silente a relação obrigacional sobre o local do pagamento, permanecerá
o negócio jurídico válido, suprida a omissão pelo art. 327 do CC, preceituando que o
pagamento far-se-á no domicílio do devedor” (Cristiano Chaves). Nesse caso, mesmo havendo
data certa para o pagamento, o devedor aguardará a provocação do credor e só será
constituído em mora após este tomar a iniciativa de perseguir o seu interesse.

Portável (de levar): “convencionado que o pagamento será realizado no domicílio do credor, a
dívida será portável” (Cristiano Chaves). Nesse caso, a entrega da prestação faz parte da
própria relação obrigacional, incidindo o devedor em mora se o pagamento não chegar ao
credor no local por ele indicado.

Dívidas mistas: “estão no meio termo entre as portáveis e quesíveis, pois as partes estipulam um
local de pagamento que demandará o deslocamento de ambos” (Cristiano Chaves).
Complemento doutrinário
OBRIGAÇÃO INSTATÂNEA, DIFERIDA E CONTINUADA
Obrigação instantânea com cumprimento imediato “é aquela cumprida imediatamente após a
sua constituição” (Flávio Tartuce). Em regra, não se pode rever judicialmente por fato
superveniente. Ex: compra e venda à vista.

Obrigação de execução diferida “é aquela cujo cumprimento deverá ocorrer de uma vez só,
no futuro” (Flávio Tartuce). Existe a possibilidade de aplicação da revisão contratual por fato
superveniente. Ex: as partes combinam de entregar o objeto em determinada data futura, assim
como receber o pagamento integral.

Obrigação de execução continuada, execução periódica ou obrigação de trato sucessivo: “é


aquela cujo cumprimento se dá por meio de subvenções periódicas” (Flávio Tartuce). Existe a
possibilidade de aplicação da revisão contratual por fato superveniente. Ex: compra e venda a
prazo.
Conceitos importantes
OBRIGAÇÃO PROPTER REM E NATURAL

Obrigação propter rem, ob rem ou ambulatória “aquela de determinada pessoa, por força de
um direito real, pela relação que a mesma tem com um bem móvel ou imóvel” (Flávio Tartuce).
Ex: IPTU, IPVA, taxa condominial e dano ambiental (jurisprudência do STJ).

Obrigação natural, imperfeita ou incompleta “é aquela em que o credor não pode exigir a
prestação do devedor, já que não há pretensão para tanto” (Flávio Tartuce). Ex: dívidas de
jogos não legalizados e dívidas prescritas.

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