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2ª Avaliação – CIVIL IV.

QUESTÕES

1) (3,5 pontos) Discorra sobre o tipo de obrigação assumida pelo transportador, nos
contratos de transporte, bem como quais as repercussões na responsabilidade civil em
se tratando de passageiros clandestinos ou gratuitos.

O Transportador tem obrigação de resultado, já que o art. 17 do Decreto n. 2.681/1912


contém, de maneira implícita, a chamada “Cláusula de Incolumidade”, segundo a qual o
transportador tem a obrigação de transportar o passageiro ileso e as bagagens sem avarias
até o local de destino. Posicionamento normativo este confirmado, de forma a conferir
responsabilidade civil objetiva, pelo art. 734 do atual Código Civil, que dispõe que o
“transportador é responsável por eventuais perdas e danos causados às pessoas
transportadas e suas bagagens...” e pelo chamado “acidente de consumo”, disciplinado
pelo art. 17 do Código de Defesa do Consumidor, que atualizou a tal cláusula para
responsabilização por vício ou defeito do serviço, ratificado também em seu art. 14. Tais
dispositivos legais dispõem, ainda, que só se exclui a responsabilidade se o fato ocorrer
devido a caso fortuito, força maior, por culpa exclusiva da vítima e, ainda, por fato
exclusivo de terceiro. A esta última hipótese cabe o art. 735, CC/2012, segundo o qual a
responsabilidade contratual não se dispensa por culpa de terceiros, contra o qual o
transportador tem direito de regresso. Há diferença no transporte aéreo doméstico que só
admite exclusão da responsabilidade nas hipóteses de culpa exclusiva da vítima e de
doença de saúde preexistente como causa do fato e no transporte aéreo internacional,
que a dota a responsabilidade subjetiva, conforme convenção de Varsóvia de 1929.

Todavia, em se tratando de passageiros clandestinos ou gratuitos inexistem as relações


contratual e de consumo, implicando que a responsabilidade é extracontratual e depende
da prova de culpa, sendo a responsabilidade subjetiva. Assim afirma a Súmula 145 do STJ.
Todavia, se o transportador afere alguma vantagem indireta no transporte, não se
considera gratuito, nos termos do art. 736 do Código Civil, implicando numa
responsabilidade objetiva.

2) (3,5 pontos) Explique como se caracteriza a responsabilidade dos profissionais da área


da saúde, especificando em quais situações se configura a obrigação de resultado e em
quais hipóteses estamos diante de obrigação de meio, identificando e esclarecendo
quais as consequências para a responsabilidade civil do profissional.
Em regra, a responsabilidade do profissional liberal é subjetiva, ou seja, deve ser provada a
culpa. Nesse sentido, no caso do médico, incidem o art. 951 do Código Civil e o art. 14, §4º do
CDC, porém o mesmo diploma legal permite ao magistrado inverter o ônus da prova, conforme
art. 6º, III, CDC, o que tem sido o entendimento das cortes principalmente nos casos de
cirurgia plástica com caráter estético. Em geral, o médico tem a obrigação de meio, já que não
pode garantir a cura, mas tem o dever de prestar o serviço da melhor maneira possível.
Apenas nos casos de cirurgia plástica com finalidade estética (não as de correção e reparação)
é que há a obrigação de resultado, sendo excluída a responsabilidade no caso em que o
resultado indesejado decorre de condição fisiológica do próprio paciente, excluindo a culpa do
profissional. O médico responde também por danos cometidos por profissionais que estão sob
suas ordens, como enfermeiros e técnicos, por exemplo. Se um eventual erro médico ocorre
em hospital público, a responsabilidade será do estado, conforme art. 37, §6º da Constituição
Federal. No caso dos dentistas a obrigação é de resultado, uma vez que as intervenções
estéticas tem o resultado como razão de ser (da mesma forma que no caso dos médicos) da
própria prestação e os casos terapêuticos e de tratamento tem a possibilidade de cura mais
definidos e previsíveis, comprometendo o odontólogo com o resultado. Dessa forma, aplicam-
se também ao dentista as hipóteses de responsabilidade civil previstas ao médico em casos de
obrigação de resultado.

3) (3,0 pontos) No caso dos estacionamentos, oficinas, hotéis, entre outros, podemos ter
a configuração de um contrato de depósito, estando o depositário obrigado a zelar
pela coisa deixada em sua confiança. Explique, de modo fundamentado, como os
tribunais têm entendido que deve ser interpretada a responsabilidade civil dessas
pessoas e quais os critérios utilizados para analisar se há responsabilidade objetiva ou
subjetiva.

Aos proprietários dos estabelecimentos como os mencionados na questão cabe o risco


da modalidade de negócio que assumem e, por tanto as devidas responsabilizações
legais. Posto isto, cabe a responsabilidade objetiva, o que de fato é o entendimento
dos tribunais, ensejando o dever de segurança ao objeto, o que não exclui a
responsabilidade em casos de roubo e furto, além dos danos. O contrato de depósito
pressupõe um dever de guarda, vigilância e de segurança, em que se conclui com a
entrega da coisa ao final, o que difere de um contrato apenas de guarda, no qual o
proprietário não entrega as chaves e, portanto, não há a tradição. O que não inclui
danos causados à pessoa, mas sim ao objeto guardado. Em casos de estacionamentos
e shopping center e em mecânicas, não se exime a responsabilidade pelo fato de não
ser entregue as chaves, mas hotéis, restaurantes que apenas fornecem o espaço sem
receber as chaves, se analisa o caso concreto.

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