Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar as principais posições doutrinárias e
jurisprudenciais a respeito das excludentes de reponsabilidade do fornecedor pelo fato ou
defeito dos serviços. Nesse sentido, será abordada a polêmica entre as interpretações taxativas
e exemplificativas sobre o rol do art. 14, §3º do Código de Defesa do Consumidor.
INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988, tendo em vista a hipossuficiência dos
consumidores nas relações de consumo e nas relações contratuais determina, em seu art. 5º,
inciso XXXII, que o Estado, por meio da lei promoverá a defesa do consumidor. Vale
destacar que no art. 5º temos as previsões dos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos,
sendo a proteção nas relações de consumo uma dessas formas, já que, em determinadas
circunstâncias, o abuso de poder, a negligência de fornecedores, comerciantes e produtores
podem comprometer os direitos dos consumidores, como é possível constatar nas numerosas
demandam que se originam de determinados litígios.
A Carta Magna também prevê a necessidade da lei para disciplinar as relações de
consumo para a segurança, desenvolvimento, justiça social e dignidade no andamento da
ordem econômica, tal como disciplina o art. 170, inciso V, da Constituição Federal.
Entretanto, a responsabilidade dos fornecedores pelos serviços não pode constituir
a regra para o bom andamento da economia e da justiça social, uma vez que, os danos
causados aos consumidores podem ser de natureza diversa daquela da prestação de serviços.
Além disso, à época de publicação do CDC e a do Código Civil, contextos e exigências
próprias de seu tempo surgem, se modernizam e se transformam, o que motivou o
aparecimento de polêmicas e controvérsias, sejam doutrinárias ou jurisprudenciais para a
solução de problemas presentes nas relações de consumo. A solução dessas polêmicas é o
tema desse trabalho.
2
Por meio da lei 8078/90, lei que regulamenta o conhecido Código de Defesa do
Consumidor, a proteção se efetivou, mas isso não quer dizer que os problemas nas relações de
consumo acabaram, porque, na verdade, com a publicação da Lei, apenas se constata que o
Estado cumpriu sua promessa prescrita na Constituição. Entretanto, não é fato novo que uma
lei entre em conflito com outras leis, como veremos nas questões acerca da responsabilidade
dos fornecedores, já que, dividindo a doutrina e a jurisprudência , se encontra de um lado,
posições que defendem que o rol do art. 14 do CDC é taxativo. Por outro lado, que se trata
somente de rol exemplificativo, sujeito à aplicação das regras de responsabilidade do Código
Civil.
Quando se fala por responsabilidade por fato do serviço, fato quer dizer defeito e
um serviço é defeituoso quando não se pode espera dele a segurança prevista. Tal conceito se
encontra no §1º, do art. 14, do CDC e, nesse caso, o fornecedor responde independentemente
de culpa, assim como pela reparação dos danos causados aos consumidores e também pelas
informações insuficientes e inadequadas para a sua fruição e risco. Ao ler o dispositivo em
tela, apresenta-se as hipóteses características que objetivam as formas de constatação dos
possíveis defeitos, tais como o modo de fornecimento, o resultado e riscos que se esperam do
serviço e a época em que ele foi fornecido:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos.
§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo
de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a
época em que foi fornecido.
Ocorrendo algumas das hipóteses presentes no §1º, do art. 14, do CDC, a responsabilidade é
do fornecedor. No entanto, quem é o fornecedor? Nas relações de consumo, os consumidores
se envolvem com comerciantes, produtores, importadores, fornecedores, entre outros, como
distinguir o fornecedor sem confundir com os demais figurantes das relações de consumo e
poder demandar de maneira segura com o verdadeiro responsável? Quando se fala em serviço,
de que se fala? O art.3º e seu §2º do CDC, esclarecem os dois conceitos. Com efeito, lê-se:
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
3
Das informações presentes no art. 3º, delimitar-se-á fornecedor como o prestador de serviços,
pois esse é o tema de interesse, ao passo que ficaremos com a íntegra da definição de serviço,
já que as regras de responsabilidade se aplicam sobre todas as suas formas. Vale destacar que,
ocorrendo uma das formas que responsabilizam o fornecedor a reparação deverá ser feita, sob
pena da aplicação do art. 28, do CDC. No entanto, como o fornecedor pode eximir-se da
responsabilidade? Quais são as formas dele evitar uma reparação que não decorre de sua
culpa, mas que seria injusta tal reparação por não estar em conformidade com as hipóteses do
§1º?
O mesmo dispositivo, o art. 14, em seu §2º já traz em si uma possibilidade “§
2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas”, ou seja, se a
técnica empregada à época da prestação do serviço foi superada por uma técnica atual, mais
moderna, menos invasiva, menos arriscada, mais rápida, etc. o fornecedor não pode ser
responsabilizado por prestar um serviço defeituoso, já que tal técnica era inexistente. Porém,
nem sempre os casos são resolvidos dessa maneira até pelo motivo que uma nova técnica, até
chegar ao mercado pode demorar, ou simplesmente não ser formulada.
Nesse sentido, ainda nos termos do art. 14, em seu §3º, temos as hipóteses
excludentes de responsabilidade do fornecedor pelo defeito do serviço. O que deveria
solucionar a questão traz em si mais problemas, porque é exatamente aqui, nesse dispositivo
que encontramos divergências entre rol de hipóteses que, para determinadas correntes
doutrinárias e jurisprudenciais são taxativas e, para outras correntes meramente
exemplificativas. Vejamos o dispositivo:
§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a
verificação de culpa.
É importante ressaltar que os incisos do art. 14, §3º não esgotam as variadas possibilidades de
exclusão do fornecedor da responsabilidade, mas existe divergências doutrinárias sobre isso.
Existem outras formas de se isentar a responsabilidades desses fornecedores que não estão
apontadas no Código do Consumidor, e isso quer dizer que não se trata de rol taxativo no
dispositivo em tela, mas exemplificativo.
Alguns doutrinadores entendem que não caberia aplicar outras possíveis causas
excludentes de responsabilidade do fornecedor, diferentemente de outros que se posicionam
favoráveis à aplicação de outras causas de exclusão de responsabilidade, tais como a culpa
concorrente da vítima e o caso fortuito ou força maior. O dever de indenizar em relação ao
fato de serviço, tem como pressupostos a existência de um “defeito” e a ocorrência de um
“dano” relacionado ao defeito apontado.
A respeito da excludente por caso fortuito ou força maior, grande parte dos
doutrinadores acredita que esses eventos maiores excluem a responsabilidade civil e o dever
5
de indenizar, pois afetam o nexo de causalidade o ato do agente e o dano sofrido pelo
consumidor. O Superior Tribunal de Justiça já pacificou a matéria, admitindo as excludentes
de caso fortuito ou força maior, a partir do voto do relator Eduardo Ribeiro, que assim
decidiu: “O fato de o artigo 14, parágrafo 3º do Código de Defesa do Consumidor não se
referir ao caso fortuito e à força maior, ao arrolar as causas de isenção de responsabilidade do
fornecedor de serviços, não significa que, no sistema por ele instituído, não possam ser
invocadas”.
Em contrapartida, alguns doutrinadores ainda afirmam que o CDC foi taxativo,
não cabendo diferentes hipóteses sobre qualquer outra excludente de responsabilidade do
fornecedor que não as que estão expressamente positivadas nos dispositivos do CDC. A
respeito dessa polêmica, afirma:
O risco do prestador do serviço é mesmo integral, tanto que a lei não prevê como
excludente do dever de indenizar o caso fortuito e a força maior. E, como a norma não
estabelece, não pode o prestador do serviço responsável alegar em sua defesa essas duas
excludentes (NUNES, 2018, p. 245).
Para caracterizar a excludente do evento fortuito externo são necessários a três elementos, a
saber, a inevitabilidade, a irresistibilidade e a externalidade do fato. Nesse sentido, se entende
que a externalidade do caso fortuito é capaz de romper o nexo de causalidade entre a conduta
e o dano elidindo inclusive a responsabilidade objetiva já que o risco neste caso não fora
suportado pela organização e atividade da empresa.
Vale destacar que havendo mais de um causador do dano, todos responderão
solidariamente a teor do que dispõe o art. 7°, parágrafo único e o art. 25, § 1°, do CDC,
cabendo ao consumidor optar se demanda o fornecedor mediato, imediato ou todos
envolvidos na cadeia de produção/circulação. Se for o fornecedor que vier a cumprir com a
obrigação de indenizar, terá direito de regresso contra os demais participantes do fato lesivo
indenizado. Entretanto, se trata de processo autônomo ou ainda que se sirva dos próprios
autos que originou sua condenação, terá que fazê-lo depois de atendida a reivindicação do
consumidor visto que o Código proíbe, expressamente, a denunciação à lide, tal como
disciplina o art. 88, do CDC.
Além disso, se o produto não apresentar nenhum defeito que possa diminuir-lhe as
qualidades ou quantidades, não causando nenhum dano ao consumidor, não se poderá falar
em indenização. No Código de Defesa do Consumidor, principalmente em se tratando de fato
do produto ou do serviço, a responsabilização do fornecedor é objetiva e, nesse caso, o CDC
caminha em conformidade com os arts. 186 e 187 do Código Civil. Porém, mesmo quando se
tratar de responsabilidade objetiva, é cabível arguir o exercício regular de direito como forma
de exoneração da responsabilidade de indenizar, por parte do fornecedor, por exemplo, no
caso do consumidor inadimplente, o credor tem o direito de cobrar seu crédito garantido.
Somente não o poderá fazer com abusividade.
O Código Civil diz que o caso fortuito ou de força maior existe quando uma
determinada ação gera consequências, efeitos imprevisíveis, impossíveis de evitar ou
impedir, isentando o devedor de responsabilidade, nos termos do art. 393. Nas relações de
consumo:
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INTERRUPÇÃO NO
FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. DANO MATERIAL. AVIÁRIO.
APLICABILIDADE DO CDC. FORÇA MAIOR. TEMPESTADES E VENDAVAIS.
EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR. Aplicabilidade do
CDC ao caso concreto.Em que pese a energia elétrica seja utilizada indiretamente na
produção rural do autor, não se afasta a incidência do CDC no caso concreto, ante a
atuação em flagrante condição de vulnerabilidade. Aplicação da Teoria Finalista
Aprofundada. Precedentes da Câmara.Responsabilidade do fornecedor.A
responsabilidade do fornecedor de energia elétrica é objetiva, ante as disposições
constitucionais e legais aplicáveis. A despeito disto, incidentes hipóteses excludentes de
responsabilidade (art. 393 do CC), deve ser julgada improcedente a ação
7
Fatores climáticos são inevitáveis, impossíveis de impedir. A demanda versa sobre pedido de
indenização por dano material decorrente de interrupção injustificada no fornecimento de
energia elétrica, ocasionando perda queima de motores e morte de aproximadamente 4.000
aves dos produtores ora recorrentes. A interrupção do fornecimento de energia elétrica não
configura responsabilidade do fornecedor por se tratar de força maior, tal foi o entendimento
do TJ-RS na Apelação Cível em tela, portanto há que se entender que o rol do art. 14 do CDC
não é taxativo, mas somente exemplificativo, pois não abrange eventuais acontecimentos que
escapam da esfera de responsabilidade do fornecedor pelos seus serviços.
Embora o Código de Defesa do Consumidor não faça nenhuma menção à culpa
concorrente, seja da vítima seja do terceiro, somos de entendimento que é perfeitamente
possível a aplicação de tal preceito com o objetivo de minorar o dever de indenizar por
acidentes de consumo decorrente do fornecimento de produtos ou serviços. A respeito diz
Tartuce: “o fato ou o risco concorrente constitui um argumento para proteção dos vulneráveis
negociais, pela divisão justa dos custos sociais da responsabilidade civil” (TARTUCE, 2014,
p. 170). Tal decorre do fato de que não há nenhuma incompatibilidade com as regras
consumeristas, a aplicação desta atenuante.
Considerações Finais
Referências
Excludentes da responsabilidade em face do Código de Defesa do Consumidor - Boletim
Jurídico.Disponível em
https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/direito-do-consumidor/607/excludentes-
responsabilidade-face-codigo-defesa-consumidor 11/20