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Responsabilidades por fato

de produtos e serviços
Raulino, Catia Regina
SST Responsabilidades por fato de produtos e serviços /
Catia Regina Raulino
Ano: 2020
nº de p.: 8

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Responsabilidades por fato
de produtos e serviços

Apresentação
Neste material, falaremos sobre os tipos de responsabilidades presentes no
Código de Defesa do Consumidor (CDC). Você verá como o CDC dispõe as suas
normas para os fornecedores de produtos e serviços, e entenderá quais são as
responsabilidades que eles têm no caso de um vício ou fato de produto e serviço.

Responsabilidade por fato do produto


e do serviço
O art. 12 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) traz a questão da
responsabilidade civil imputada ao fornecedor, em razão dos danos causados por
defeitos na concepção ou fornecimento de produto ou serviço, tendo em vista que
o fornecedor tem o dever de indenizar pela violação do dever geral de segurança
inerente a sua atuação no mercado de consumo (BRASIL, 1990).

É importante, antes de tudo, entendermos o conceito de defeito. Para Nunes (2009,


p. 181), defeito:

É o vício acrescido de um problema extra, alguma coisa extrínseca ao


produto ou serviço, que causa um dano maior que simplesmente o mau
funcionamento, o não funcionamento, a quantidade errada, a perda do
valor pago – já que o produto ou serviço não cumpriram o fim ao qual se
destinavam.

Exemplificando o que Nunes (2009) descreve, podemos criar duas situações


hipotéticas. Observe os exemplos a seguir.

Exemplo 1

Um consumidor adquire uma caixinha de creme de leite longa vida e, ao


chegar em casa, abre-a e vê que o produto está embolorado, descartando-o
integralmente. Neste caso, trata-se de vício, pura e simplesmente.

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Exemplo 2

Um outro consumidor adquire o mesmo creme de leite e, ao chegar em casa,


faz um corte lateral na caixa e prepara um strogonoff para sua família que,
ao comer o prato, começa a passar mal, tendo que ser hospitalizada com
intoxicação alimentar. Neste caso, ocorreu o defeito, estando presente o
acidente de consumo.

O CDC traz em seu art. 12, §1º a afirmação de que é defeituoso o produto que não
oferece a segurança que dele legitimamente se espera. Vejamos o referido artigo na
íntegra:

[...] Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro,


e o importador respondem, independentemente da existência de culpa,
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas,
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização
e riscos.§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança
que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II -
o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época
em que foi colocado em circulação.§ 2º O produto não é considerado
defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no
mercado.§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não
será responsabilizado quando provar: I - que não colocou o produto no
mercado; II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito
inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro [...]. (BRASIL,
1990).

Observe que, em regra, o CDC adota a teoria da responsabilidade civil objetiva,


ou seja, aquela que independe de culpa. Assim, não há necessidade de provar
que a culpa é do fornecedor, uma vez que a norma que rege a responsabilidade
determina que esta será atribuída ao mesmo “independentemente de culpa”, pois há
verdadeira presunção de culpabilidade do agente (BRASIL, 1990).

O fornecedor só não será responsabilizado se conseguir provar que não colocou


o produto no mercado; caso tenha colocado o produto no mercado e o defeito
inexista; ou caso houve culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (BRASIL,
1990).

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Ao citar a expressão somente no parágrafo 3º dos arts. 12 e 14, o CDC parece criar
um rol taxativo de causas excludentes do dever de indenizar, porém, o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) tem admitido o caso fortuito ou força maior como
excludente, por interpretação analógica do Código Civil.

No caso do precedente, o consumidor deixou seu carro para lavar em uma empresa,
porém o veículo foi roubado. Nesse caso, apesar de ser um fato do serviço já que a
entrega foi defeituosa, foi empregada a excludente por caso fortuito/força maior, já
que não há como o fornecedor arcar com algo que independe de sua vontade.

Figura 1 – Roubo de carro

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

No caso do fornecedor de serviços defeituosos, a dinâmica é exatamente a mesma


e está prevista no art. 14 do CDC. Observe:

[...] Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.§ 1° O serviço é
defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre
as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que
razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. § 2º
O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.§
3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva
do consumidor ou de terceiro. § 4° A responsabilidade pessoal dos
profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa [...].
(BRASIL, 1990)

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Observe que as regras adotadas pelo CDC para o fornecedor de serviço são
praticamente as mesmas.

No caso de danos morais, vale lembrar que a prova da culpa pelo dano
cometido pelo fornecedor de produto e serviço, em sua grande parte às vezes,
é extremamente difícil de ser produzida pelo consumidor, em razão de sua
vulnerabilidade

Todo aquele que acaba por exercer uma atividade no campo do fornecimento
de bens e serviços tem o dever de responder, ainda que não exista culpa, pelos
eventuais vícios, defeitos ou riscos deles resultantes. Significa dizer que, está
obrigado a reparar os danos eventualmente ocasionados que sejam consequentes
das atividades empreendidas.

O art. 14 do CDC diz:

[...] O fornecedor de serviços responde independentemente da existência


de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.§ 1º. O serviço é
defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre
as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que
razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido [...]
(BRASIL, 1990)

A proteção e a segurança são direitos básicos do consumidor e estão previstos no


CDC. Assim, os fornecedores têm responsabilidade em relação aos vícios e defeitos
apresentados na prestação do serviço.

Todavia, não é incomum encontrarmos placas e cartazes que retiram


completamente a responsabilidade dos estacionamentos sobre o veículo e sobre
objetos que estejam dentro dele. No entanto, esses avisos não têm qualquer tipo de
validade jurídica, constituindo cláusula abusiva conforme artigo 51, I do CDC, por
excluir responsabilidade inerente à atividade do fornecedor.

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Figura 2 – Estacionamento

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Mesmo os estacionamentos gratuitos estão sujeitos ao CDC, e o estabelecimento


comercial que oferece estacionamento a seus clientes, ainda que não cobre pelo
serviço e não entregue comprovante, assume a obrigação de guarda do veículo,
podendo ser responsabilizado por eventual furto ou dano.

É importante mencionar que, segundo o art. 14, §1º, inciso II do CDC, serviço
defeituoso é aquele que não fornece a segurança e resultado que, em condições
normais, poderiam ser esperados e razoavelmente aceitos.

Concluímos, então, que os estabelecimentos respondem sim, por todo e qualquer


dano causado ao veículo e aos pertences dos consumidores. Devendo proceder de
acordo com o que está previsto na lei consumerista.

Curiosidade
Uma empresa fabricante de sardinha em lata foi condenada a pagar
indenização a um consumidor que adquiriu o produto e alegou que
continha larvas dentro. Leia na íntegra a decisão do Tribunal de
Justiça do Paraná e reflita sobre os seguintes questionamentos:
Você consegue identificar quais as irregularidades
encontradas no caso? Trata-se de defeito ou vício? Que tipo
de responsabilidade encontramos neste caso? Disponível em:
<https://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/j/2100000001384701/
Ac%C3%B3rd%C3%A3o-0007562-71.2013.8.16.0038/0#>.
Acesso em: 17 jun. 2020

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Fechamento
Neste material, compreendemos dois conceitos importantes presentes no Código
de Defesa do Consumidor (CDC): o vício e o defeito. São instrumentos que garantem
ao consumidor um produto ou um serviço disponibilizado de acordo com a
qualidade divulgada.

Referências
BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção
do consumidor e dá outras providências. Brasília: Congresso Nacional, 1990.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm. Acesso em: 29
jun. 2020.

NUNES, L. A. R. Curso de direito do consumidor: com exercícios. 4. ed. São Paulo:


Saraiva, 2009.

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