Você está na página 1de 33

WBA0430_v1.

Direito empresarial e direito


aplicado ao comércio
Direito do consumidor e sua
repercussão no comércio
Bloco 1

Renato Traldi Dias


Responsabilidade civil do fornecedor por defeito

- Art. 12, CDC. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou


estrangeiro, e o importador respondem [de forma objetiva] (...) por defeitos,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
utilização e riscos.
§1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele
legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias
relevantes, entre as quais:
Responsabilidade civil do fornecedor por defeito

I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será
responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
Responsabilidade civil do fornecedor por defeito

II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito


inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
- Riscos do desenvolvimento: “aqueles que não são conhecidos pelas ciências
quando da colocação do produto no mercado, vindo a ser descobertos
posteriormente, após a utilização do produto e diante dos avanços
científicos”, segundo Neves e Tartuce (p. 260).
Responsabilidade civil do fornecedor por defeito

- Apesar dos incisos II e III do art. 12, §1º, parecerem sugerir que a ideia de
risco do desenvolvimento descaracteriza a existência de defeito
(consequentemente, a responsabilidade do fornecedor), isto, geralmente,
não ocorre.
- Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto
ou serviço que sabe, ou deveria saber, apresentar alto grau de nocividade ou
periculosidade à saúde ou segurança.
Responsabilidade civil do fornecedor por defeito

- Apesar de se tratar da responsabilidade do fornecedor, pelo defeito ser de


caráter objetivo e só excluída pela culpa exclusiva do consumidor, a
existência de culpa concorrente ainda pode ser relevante na fixação do valor
de indenização.
- Art. 945, Código Civil. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o
evento danoso, sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade
de sua culpa em confronto com a do autor do dano.
Responsabilidade civil do fornecedor por defeito

- A lei deixa dúvida quanto a saber se aquele artigo do CC se aplica no caso


de relação consumerista, que é tratada por lei específica (CDC), mas tanto
Neves e Tartuce (2018) como Theodoro Jr. (2017) acreditam que a regra se
aplica.
- Ademais, jurisprudência aponta para entendimento igual do STJ, como no
Resp 1.349.894/SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3ª Turma; que afirma
explicitamente que a responsabilidade concorrente é admissível mesmo no
caso de responsabilidade objetiva.
Responsabilidade civil do fornecedor por defeito

- Caso fortuito ou força maior como excludente:


- Caso fortuito: evento imprevisível, não meramente imprevisto e,
portanto, inevitável.
- Força maior: evento previsível, porém, ainda inevitável. Geralmente,
deriva de atividade humana.
- Caso fortuito ou força maior externa, segundo Neves e Tartuce
(2018): não relacionados com o fornecimento do produto ou prestação do
serviço. Aceitos como excludentes pela jurisprudência.
Responsabilidade civil do fornecedor por defeito

- Caso fortuito ou força maior interna, de acordo com Neves e Tartuce


(2018): relacionados com o fornecimento do produto ou prestação do
serviço. Não aceitos como excludentes pela jurisprudência, já que estão
incluídos na ideia do risco que o fornecedor ou prestador aceitou quando do
ingresso na atividade.
Direito do consumidor e sua
repercussão no comércio
Bloco 2

Renato Traldi Dias


Desconsideração da personalidade jurídica e questões relacionadas

- Cf. art. 28, CDC, o juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da


sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver:
- Abuso de direito ou excesso de poder.
- Infração da lei ou fato ou ato ilícito.
- Violação dos estatutos ou contrato social.
- Falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da
pessoa jurídica provocados por má administração.
Desconsideração da personalidade jurídica e questões relacionadas

§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que


sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de
prejuízos causados aos consumidores.
- De modo geral, portanto, permite-se a desconsideração por motivos além
daqueles listados no caput, de modo que aquele rol é considerado
exemplificativo (que aceita outras hipóteses), não taxativo (que não aceita
outras hipóteses).
Desconsideração da personalidade jurídica e questões relacionadas

§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades


controladas são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes
deste código.
§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis
pelas obrigações decorrentes deste código.
§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.
Desconsideração da personalidade jurídica no CDC

- Art. 243 da Lei n. 6.404/76:


- Sociedade controlada: aquela na qual a controladora, direta ou
indiretamente, é titular de direitos de sócio que permitem que tenha
preponderância em deliberações sociais e na eleição da maioria dos
administradores da controlada.
- Sociedade coligada: aquela na qual a pessoa investidora tem
influência significativa, ou seja, detém ou exerce poder de participar em
decisões políticas financeiras ou operacionais, sem ter controle.
Desconsideração da personalidade jurídica no CDC

- Art. 278 e 279 da Lei n. 6.404/76:


- Sociedade consorciada: aquela que, junto a outras sociedades,
constituiu-se na forma de consórcio para executar um determinado
empreendimento.
Direito do consumidor e sua
repercussão no comércio
Bloco 3

Renato Traldi Dias


Práticas comerciais

- Art. 32. Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de


componentes e peças de reposição, enquanto não cessar a fabricação ou
importação do produto.
Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, a oferta deverá
ser mantida por período razoável de tempo, na forma da lei.
- O dito período razoável varia conforme o tipo de produto, por isso, que o
legislador deixou em aberto.
Práticas comerciais

- Art. 30, CDC. A informação/ publicidade, suficientemente precisa, veiculada


por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e
serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular
ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.
- Elementos essenciais: publicidade, precisão suficiente e veiculação por
qualquer meio.
- Obrigação só não ocorre em casos extremos, como de preço errado que
geraria prejuízo absurdo.
Práticas comerciais

- Caso o fornecedor se recuse a cumprir o disposto no art. 30, o consumidor


pode, cf. art. 35, escolher entre:
- Exigência forçada do cumprimento.
- Aceitação de outro produto ou serviço equivalente.
- Rescisão de contrato, com direito à restituição de qualquer quantia
que já tenha pago, com correção monetária e eventuais perdas e danos.
Práticas comerciais

- Publicidade enganosa: cf. art. 37, §1º, é a que apresenta informação inteira
ou parcialmente falsa, ainda que a falsidade se dê por meio de omissão,
capaz de induzir o consumidor a erro, ou seja, não precisa necessariamente
ocorrer quanto ao produto ou serviço.
- Publicidade abusiva: cf. art. 37, §2º, é a que incita violência ou prejuízo, é
discriminatória, desrespeita valores ambientais, explora medo ou
superstição, ou tira proveito da inexperiência de crianças.
Práticas comerciais

- O artigo 39 traz rol de práticas abusivas ,que é meramente exemplificativo,


ou seja, não são as únicas que podem assim ser consideradas. Entre elas
estão:
- A venda casada ou a venda, sem justa causa, condicionada a certa
quantidade de produto. Exemplo: vender várias batatas fritas juntas em um
pacote não é prática abusiva, mas vender carros só em grupos de três seria.
Práticas comerciais

- Recusar demanda do consumidor só por ela corresponder à exata


medida da disponibilidade do estoque.
- Enviar produtos ou serviços não solicitados ao consumidor ,
especialmente se for algo que vai gerar incômodo para o consumidor
devolver.
- Tirar proveito da condição do consumidor em razão de idade, saúde,
conhecimento ou condição social.
Práticas comerciais

- Via de regra, executar serviços sem elaborar orçamento e sem obter


autorização expressa do consumidor para proceder.
- Via de regra, recusar a venda de produto ou prestação de serviço a
quem queira adquiri-los e tenha condição de pagamento, com atenção para
o fato de que o pagamento deve corresponder à oferta. Exemplo: recusa em
razão do consumidor querer pagar com cartão de crédito, quando há placa
dizendo que só se aceita dinheiro não constitui prática abusiva.
Práticas comerciais

- Deixar de estipular prazo para o cumprimento de obrigação. É


exigido um mínimo grau de precisão, mas não precisão absoluta. Exemplo:
dizer que se prestará um serviço no período da tarde da terça-feira seguinte
não constitui prática abusiva, mas dizer que aquilo será feito em algum dia
da semana seguinte, sem maior clarificação posterior, é abusivo.
- Permitir ingresso em estabelecimento comercial de número maior
de consumidores do que o máximo fixado pela autoridade administrativa.
Teoria em Prática
Bloco 4
Renato Traldi Dias
Reflita sobre a seguinte situação

Você é um comerciante microempreendedor individual com uma loja que vende


produtos diversos. Um dia, o cliente João vem à sua loja reclamar que a placa de
vídeo que você vendeu a ele, um mês antes, tem especificação mais fraca do que a
da embalagem. Este problema se verifica em todas as outras disponíveis em sua
loja, que você adquiriu da sociedade empresária multinacional PCMAX.
João demanda não só a restituição do preço pago, mas valor adicional, e afirma ter
perdido prazo de entrega de um serviço que demandava uma placa de vídeo mais
potente. Posto isto, pode João cobrar a restituição da quantia paga e ainda
reparação por danos adicionais diretamente de você? Em caso positivo, você pode
buscar, depois, reparação da PCMAX? A relação entre você e a PCMAX pode ser
considerada como relação de consumo?
Norte para a resolução...

- Trata-se de vício, então responsabilidade é solidária.


- Teorias maximalista e finalista mitigada: relação é de consumo. Pode se
considerar que há vulnerabilidade fática (MEI x multinacional), ou até técnica
(loja não é especializada em eletrônicos).
- Você pode cobrar metade da PCMAX, ou até tudo, se arguir que você não
tem culpa nenhuma (mais restituição/ substituição das outras placas
erradas).
- O ideal seria João cobrar da PCMAX diretamente.
Dica do Professor
Bloco 5
Renato Traldi Dias
Dica do professor

Infográficos e indicadores do site consumidor.gov.br:


- Contém dados que permitem saber quais são as empresas com maior:
índice de satisfação do consumidor, índice de solução após ser apontado
problema, prazo médio de resposta (em dias) etc.
- Pode ser feita pesquisa pelo nome específico de cada empresa.
- Infográficos permitem visualizar, com clareza, as informações.
Referências

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei
n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm. Acesso em: 07 abr. 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei
n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 07 abr.
2020.
NEVES, Daniel; TARTUCE, Flávio. Manual de direito do consumidor: direito
material e processual. 7. ed. Rio de Janeiro: São Paulo, Método, 2018.
Referências

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Recurso Especial: REsp 1.349.894/SP. Rel. Min.


Sidnei Beneti, 3ª Turma. Disponível no site do STJ.
THEODORO JR., Humberto. Direitos do consumidor. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2017.
Bons estudos!

Você também pode gostar