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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA 20ª VARA DO

TRABALHO DA COMARCA DA SALVADOR/BA

NOME DA EXECUTADA, devidamente qualificada nos autos, por meio da sua patrona
(procuração anexa), vem perante Vossa Excelência requerer a sua HABILITAÇÃO NOS
AUTOS, bem como apresentar EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE, pelas razões de fato
e de direito a seguir expostas:

I – DO REQUERIMENTO PRÉVIO:

Ab initio, requer a Executada que todas as publicações sejam expedidas em nome da Bel.ª
THAÍS LIMA ANDRADE MENEZES, inscrita na OAB/BA 61.727, independentemente da
indicação de outros advogados em procuração, com fulcro no artigo 272, §5º do CPC/2015, sob
pena de nulidade.

II – DA EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. PENHORA DE SALÁRIO.

Este MM. Juízo determinou a penhora de ativos financeiros da parte Executada até o limite
de R$ 11.971,70 (onze mil e novecentos e setenta e um reais e setenta centavos), conforme
consta no ID nº 4da9014, SEM INCIDÊNCIA DE BLOQUEIO EM CONTA SALÁRIO.
Ocorre que a parte Executada foi surpreendida com o bloqueio judicial da sua conta salário, de
maneira que o único valor que a Executada tinha disponível em conta foi integralmente constrito,
no importe de R$ 7.102,75 (sete mil e cento e dois reais e setenta e cinco centavos).

A Exequente ficou desesperada, tendo em vista que está em OUTRO ESTADO, não possui
nenhum familiar próximo e o valor bloqueado foi oriundo do pagamento do seu salário.

Sem saber como agir, suplicou a um amigo o depósito de um valor de R$ 600,00 (seiscentos
reais) para que a mesma pudesse comprar alimentação básica e pagar transporte, mas
infelizmente a referida quantia também foi bloqueada, conforme mostram os extratos
bancários anexos.

Ocorre que tais quantias são referentes ao pagamento de verba salarial, a qual é
impenhorável. O próprio extrato bancário identifica a transação como “remuneração/salário”.

A impenhorabilidade do salário está amparada pelo Código de Processo Civil, através do


art. 833, que assim dispõe:

Art. 833. São impenhoráveis:


[...]
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as
quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do
devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de
profissional liberal, ressalvado o § 2º ;
[...]
X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40
(quarenta) salários-mínimos;
[...]

Note-se, portanto, que o valor penhorado diz respeito às verbas alimentares da Executada,
conforme faz prova através dos documentos que estão colacionados aos autos, pois através dos
extratos anexos é possível identificar que o valor diz respeito ao salário/remuneração da
Executada.
Conforme os documentos anexos, a Executada prova que os valores foram recebidos à título
de RESCISÃO CONTRATUAL, conforme TRCT anexo, razão pela qual as verbas
possuem natureza alimentar e não podem ser objeto de bloqueio judicial.

Em 25 de novembro de 2020 a Executada recebeu em sua conta valores relativos à sua rescisão
contratual, conforme extrato anexo, p. 02.

Os valores dizem respeito ao pagamento das verbas discriminadas no TRCT anexo, quais
sejam: saldo de salário, horas extras, 13º salário, férias proporcionais e terço constitucional
de férias e aviso prévio.

Portanto, todas as verbas discriminadas acima possuem natureza salarial, inexistindo qualquer
parcela de natureza indenizatória.

Observe-se, ainda, Excelência, que a empresa está localizada em BELO HORIZONTE/MG, o


que prova que a Executada não se encontra no seu estado natural de moradia e residência,
encontrando-se longe da família, precisando de tais quantias para prover a sua subsistência.

Necessário salientar, ainda, a desnecessidade de comprovação dos gastos da Executada, tendo em


vista que toda pessoa precisa de valores mínimos para prover a sua subsistência, como
pagamento de aluguel, água, luz, telefone, saúde e alimentação, o que não seria diferente em
relação à Executada.

Portanto, resta configurada a ILEGALIDADE, razão pela qual os valores devem ser
IMEDIATAMENTE DESBLOQUEADOS, nos termos do art. 805 do CPC, que assim dispõe:

Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o
juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado.

Tal disposição visa proteger e garantir a subsistência e manutenção de um mínimo de dignidade


da pessoa executada e, ainda que a impenhorabilidade do salário tenha sido flexibilizada pela
doutrina e jurisprudência, não se pode admitir que TODO O MONTANTE SEJA
BLOQUEADO.

No caso dos autos, a situação é ainda mais grave, já que a Executada comprova a origem do
dinheiro, demonstrando que agora ESTÁ DESEMPREGADA é o momento em que mais precisa
de tais valores, até a efetivação de um novo emprego, o que ocorrerá em breve.

Dessa forma, o salário da Executada é verba IMPENHORÁVEL, direito esse reconhecido


amplamente pela jurisprudência pátria, conforme entendimentos a seguir expostos:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - IMPENHORABILIDADE


ABSOLUTA DO SALÁRIO - ARTIGO 833, IV, CPC - PRECEDENTE DO
STJ. - O salário é absolutamente impenhorável, a teor do disposto no artigo
833, IV, do Código de Processo Civil, exceto no caso expressamente
previsto na própria codificação (§2º do artigo citado). E não abarcando o
processo caso de excepcionalidade, impõe-se o afastamento da penhora
determinada sobre o salário. Precedente do STJ. - V.V. (1º VOGAL) - o
bloqueio mensal de parte da remuneração recebida pela agravante, no
percentual de 10%, tal como decidido pelo douto Juiz de primeiro grau, não irá
comprometer a subsistência digna dela, agravante, e irá atender ao direito do
exequente/agravado de receber o seu crédito. (TJ-MG - AI:
10024111020566002 Belo Horizonte, Relator: Luiz Carlos Gomes da Mata,
Data de Julgamento: 24/01/2019, Câmaras Cíveis / 13ª CÂMARA CÍVEL,
Data de Publicação: 24/01/2019)

IMPENHORABILIDADE ABSOLUTA DE SALÁRIOS. CRITÉRIO


OBJETIVO. O artigo 833 do CPC/15, no inciso IV, é claro e expresso ao
determinar que os salários são impenhoráveis, ressalvando apenas a penhora
para pagamento de prestação alimentícia e as importâncias superiores a 50
(cinquenta) salários mínimos mensais, exceções que não são verificadas no caso
dos autos. Embora alimentar, o crédito trabalhista não constitui prestação
alimentícia em sentido estrito, não se amoldando à exceção de
impenhorabilidade prevista no artigo 833, §2º, do CPC/15. Esse é o
entendimento contido na OJ nº 153 da SDI-2 do TST e da OJ nº 8 da 1ª SDI
deste Eg. TRT da 3ª Região. (TRT-3 - AP: 01784199911403001 MG 0178400-
16.1999.5.03.0114, Relator: Vitor Salino de Moura Eca, Terceira Turma, Data
de Publicação: 17/07/2017).
IMPENHORABILIDADE ABSOLUTA DE SALÁRIOS. CRITÉRIO
OBJETIVO. O artigo 833 do CPC, no inciso IV, é claro e expresso ao
determinar que os salários são impenhoráveis, ressalvando apenas a penhora
para pagamento de prestação alimentícia e as importâncias superiores a 50
(cinquenta) salários mínimos mensais. Embora detenha natureza alimentar, o
crédito trabalhista não constitui prestação alimentícia em sentido estrito, não se
amoldando à exceção de impenhorabilidade prevista no artigo 833, §2º, do
CPC. Esse é o entendimento contido na OJ nº 153 da SDI-2 do TST e da OJ nº
8 da 1ª SDI deste Eg. TRT da 3ª Região. (TRT-3 - AP:
00103648020175030178 MG 0010364-80.2017.5.03.0178, Relator: Vitor
Salino de Moura Eca, Data de Julgamento: 14/03/2018, Decima Turma, Data de
Publicação: 14/03/2018).

Além do mais, os valores recebidos pela Executada a título de rescisão contratual NÃO
ALTERA A SUA CONDIÇÃO ECONÔMICA, tendo em vista o ínfimo valor creditado em
conta, o que representa um montante superior a 40 (quarenta) salários mínimos, por exemplo,
exemplo citado apenas para fins de parâmetro argumentativo, já que a quantia depositada em
caderneta de poupança até 40 salários-mínimos também são impenhoráveis.

Ademais, ainda que permita a penhora do salário, esta deveria estar limitada a 30% dos proventos
a Executada, tendo em vista que esse assunto está pacificado no Superior Tribunal de Justiça,
onde seu entendimento é de que o desconto não pode superar o limite de 30% do liquido
percebido pelo Executado, em face ao princípio constitucional referente à dignidade da pessoa
humana e do mínimo essencial à sobrevivência (art. 1º, III da CF/88).

Observe-se o entendimento da jurisprudência:

EXECUÇÃO. PENHORA DE PARTE DO SALÁRIO E DOS PROVENTOS


PREVIDENCIÁRIOS. RESTRIÇÃO A 30%. POSSIBILIDADE. É válida a
penhora de até 30% do salário e dos proventos previdenciários da devedora para
garantia do crédito alimentar, nos termos do art. 833, IV e seu § 2º, do
CPC/2015, desde que não prejudique o seu sustento e de sua família. (TRT-
1 - AP: 00012436020125010242 RJ, Relator: RILDO ALBUQUERQUE
MOUSINHO DE BRITO, Data de Julgamento: 03/07/2019, Terceira Turma,
Data de Publicação: 11/07/2019)

Mesmo sendo admissível a penhora de ATÉ 30% do salário, a constrição não deve comprometer
o sustento da pessoa executada e sua família, razão pela qual a penhora que recaiu sobre a conta
da Executada é manifestamente ilegal, devendo ser combatida por este MM. Juízo.
III – DO PEDIDO DE SUSPENSÃO DAS ORDENS DE BLOQUEIO:

O Código de Processo Civil determina que existe possibilidade de concessão do efeito suspensivo
às ordens de constrição patrimonial quando verificados os requisitos para a concessão da tutela
provisória e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução (art. 919,
§1º).

No caso dos autos, a probabilidade do direito está demonstrada, tendo em vista que a penhora
recaiu sobre verbas de natureza salarial e alimentar, o que coloca em risco a própria subsistência
da Exequente, tendo em vista que a mesma possui apenas tais valores para prover o seu sustento,
alegação comprovada através do TRCT anexo.

Além do mais, a Executada possui valores para receber em demanda de natureza trabalhista,
conforme informado pela própria Exequente, razão pela qual deixa já consignado o seu manifesto
interesse em quitação da presente execução.

Ocorre que a Executada não possui nenhum valor à sua disposição, nem mesmo para almoçar,
tendo em vista que até mesmo um crédito de pediu emprestado a um amigo foi bloqueado em sua
conta, conforme prova os anexos.

Além do mais, é necessário que a Executada possa pensar e organizar-se melhor para realização
de uma proposta de acordo, que possui total interesse, razão pela qual também requer desde já a
suspensão das ordens de bloqueio e a designação, o mais rápido possível, de audiência
telepresencial para tentativa de conciliação entre as partes.

IV – DOS PEDIDOS:

Ex positis, a Executada requer a Vossa Excelência o atendimento aos seguintes pedidos:

a) O recebimento e processamento da presente exceção de pré-executividade;


b) Seja determinado o DESBLOQUEIO DOS VALORES penhorados na conta da
Executada, tendo em vista tratar-se de verbas de natureza salarial e alimentar, consoante
todo o escopo probatório colacionado aos autos;

c) Alternativa e subsidiariamente, acaso Vossa Excelência entenda de modo diverso, o que


não acredita, a Executada requer seja mantida a penhora dos valores até o limite de 30%,
consoante as jurisprudências colacionadas aos autos, determinando-se o imediato
desbloqueio do valor remanescente;

d) Oportunamente, tendo em vista a indisponibilidade do telefone de contato do patrono das


executadas ou outra forma de contato, como e-mail, requer seja determinada audiência
de conciliação em execução, o mais breve possível, tendo em vista que a Executada
possui interesse em realizar composição amigável e solucionar o conflito ventilado
nos autos;

e) Por fim, a Executada requer, ainda, a SUSPENSÃO das ordens de bloqueio, tendo em
vista que, após tomar conhecimento da referida ação, a Executada pretende solucionar a
controvérsia e também quitar o débito alimentar executado nos autos.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Salvador/BA, 16 de dezembro de 2020.

THAÍS LIMA ANDRADE MENEZES


OAB/BA 61.727

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