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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DESEMBARGADOR (A) PRESIDENTE

DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO MARANHÃO

PROCESSO Nº. 1234/2019

AGRAVANTE: ALISSON AZEVEDO

AGRAVADO: AQUINO SOARES

ALISSON AZEVEDO, brasileiro, estado civil, profissão, pessoa física, inscrito


no Cadastro Nacional de Pessoas Físicas sob nº xxxx, portador do RG nº xxxx, residente
e domiciliado no endereço, endereço eletrônico xxxx, por intermédio do seu advogado,
constituído nos autos da presente ação, com fulcro nos artigos 1.015 e seguintes do
Código de Processo Civil, vem respeitosamente, interpor

AGRAVO DE INSTRUMENTO C/C PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO


ATIVO

Contra r. Decisão de fls. nº XXX proferida pelo MM. Juízo da 14ª Vara Cível do
Termo Judiciário de São Luís/MA, nos autos do processo n° 1234/2019 da ação movida
por AQUINO SOARES, brasileiro, estado civil, profissão, inscrito no CPF sob nº xxxx
e portador do RG nº xxxx, residente e domiciliado no endereço xxxx, pelas razões de fato
e de direito a seguir exposto.
I. DA SÍNTESE DOS FATOS

O agravante ingressou com Ação em que obteve julgamento procedente no tocante


a condenar o requerido ao pagamento do valor de R$ 299.428,14 (duzentos e noventa e
nove mil e quatrocentos e vinte e oito reais e quatorze centavos), monetariamente
atualizado.

Ocorre que, a presente demanda encontra-se em fase executória, uma vez que o
agravado permaneceu inerte em relação a intimação para o adimplemento voluntário
conforme determinado na r. Sentença proferida pelo Juízo quo, o que restou seguir com
a penhora das contas do executado.

Desta maneira, foi bloqueado o valor de R$ 15.984,86 (quinze mil e novecentos


oitenta e quarto reais e oitenta e seis centavos) das contas do agravado. Porém, o agravado
requereu, mediante tutela incidental, o desbloqueio do valor mencionado, alegando
referir-se do seu salário, tratando-se de valor impenhorável, que foi deferido pedido de
desbloqueio do valor pelo juízo quo, com fundamento no art. 833, IV, do CPC.

Neste sentido, o agravante, inconformado com a decisão de desbloqueio das


contas, vem perante este douto juízo, suplicar a reforma de tal decisão, primando por seu
não perecimento, pelas razões a seguir expostas.

II. DOS PRESSUPOSTOS FÁTICOS

A) DO PREPARO

Na presente oportunidade, aproveita-se para anexar aos autos o comprovante de


pagamento e a guia de reconhecimento do deposito recursal, visando obedecer ao previsto
no art. 1.007 do Código de Processo Civil.

B) DA TEMPESTIVIDADE

O presente Recurso de Agravo de Instrumento é tempestivo, uma vez que está


sendo interposto dentro do prazo legal de 15 dias úteis, nos termos do art. 1003, § 5º do
CPC, considerando que a decisão foi publicada em 03 de outubro de 2022, e, o fato que
a data da ciência fora no mesmo dia da publicação, além de, o prazo de 15 dias úteis para
a interposição e oferecimento das razões termina em 25/10/2022, haja vista a falta de
expediente forense no feriado nacional dia 12 de outubro.

Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os


advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria
Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão.
§ 5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos
e para responder-lhes é de 15 (quinze) dias.

Desta forma, o recurso se encontra tempestivo.

C) DA FORMAÇÃO DO INSTRUMENTO

Dispensado por força do artigo 1.017, parágrafo 5˚ do CPC. Contudo, o


Peticionante colaciona aos autos cópia integral da demanda originária.

D) DA QUALIFICAÇÃO DOS REPRESENTANTES PROCESSUAIS

Advogado do agravante: nome (sobrenome), inscrito na OAB/UF n° xxxx, com


escritório no endereço comercial xxxx, e endereço eletrônico xxxx;

Advogado do agravado: nome (sobrenome), inscrito na OAB/UF n° xxxx, com


escritório no endereço comercial xxxx, e endereço eletrônico xxxx.

III. DO MÉRITO
A) DAS RAZÕES DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

Inicialmente cumpre ressaltar que é cabível agravo de instrumento como meio de


impugnação de decisões interlocutórias no processo de execução, conforme disposto no
artigo 1.015 do CPC, parágrafo único.

Art. 1.015. Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra


decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de
cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de
inventário.

O agravante, após conhecimento da decisão interlocutória que determinou o


desbloqueio do valor da conta do agravado, se sentiu inconformado e por este motivo,
vem perante esse Tribunal, solicitar que tal decisão seja reformada, visando garantir que
não pereça. Assim, se faz necessário adentrar nas razões do juízo quo que decretou o
desbloqueio da conta do agravado.

B) DA LEGITIMIDADE DA PENHORA

O juízo a qual se recorre, entendeu haver a impenhorabilidade da quantia, por se


tratar de verba salarial, em decorrência do vínculo empregatício do agravado com o
Hospital IDU, nos termos do artigo 833, IV, do CPC.

Art. 833. São impenhoráveis:


IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como
as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do
devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários
de profissional liberal, ressalvado o § 2º.

No Código Civil anterior de 1979, no art. 644, previa a impenhorabilidade


absoluta do salário, ocorre que a própria legislação tratou de alterar tal posição de maneira
expressa no atual código civil, em seu art. 833, inciso IV, retirando a palavra
“absolutamente” utilizada no código anterior.

Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:


IV - Os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de
aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os
ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,
observado o disposto no § 3 o deste artigo (Redação dada pela Lei nº 11.382,
de 2006) grifo nosso.

Art. 833. São impenhoráveis:


IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como
as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do
devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários
de profissional liberal, ressalvado o § 2º.

Veja-se o entendimento da Corte Superior de uma ação ajuizada em 1994, ainda


na vigência do código civil de 1979:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO
EXTRAJUDICIAL. PENHORA DE PERCENTUAL DE SALÁRIO.
DÍVIDA DE CARÁTER NÃO ALIMENTAR. RELATIVIZAÇÃO DA
REGRA DE IMPENHORABILIDADE. POSSIBILIDADE. 1. Ação de
execução de título executivo extrajudicial - nota promissória. 2. Ação ajuizada
em 13/10/1994. Recurso especial interposto em 29/10/2009. Embargos de
divergência opostos em 23/10/2017. Julgamento: CPC/2015. 3. O propósito
recursal é definir sobre a possibilidade de penhora de vencimentos do devedor
para o pagamento de dívida de natureza não alimentar. 4. Em situações
excepcionais, admite-se a relativização da regra de impenhorabilidade das
verbas salariais prevista no art. 649, IV, do CPC/73, a fim de alcançar parte da
remuneração do devedor para a satisfação do crédito não alimentar,
preservando-se o suficiente para garantir a sua subsistência digna e a de sua
família. Precedentes. 5. Na espécie, a moldura fática delineada nos autos - e
inviável de ser analisada por esta Corte ante a incidência da Súmula 7/STJ -
conduz à inevitável conclusão de que a constrição de percentual de salário da
embargante não comprometeria a sua subsistência digna. 6. Embargos de
divergência não providos.

(EREsp 1518169/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, Rel. p/


Acórdão Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em
03/10/2018, DJe 27/02/2019)

Não obstante, é possível identificar no art. 833, § 2º, hipóteses onde a


impenhorabilidade não se aplica, sendo que em uma delas é desde que a importância
ultrapasse o valor de 50 (cinquenta) salários mínimos.

Art. 833. § 2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese


de penhora para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de
sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-
mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528, § 8º,
e no art. 529 (grifo nosso)

Desta forma, haja vista que o valor penhorado se trata de 30% do valor do salário,
é indiscutível que o valor do salário do executado é superior a 50 (cinquenta) salários
mínimos.

De acordo com entendimento jurisprudencial, é possível que ocorra a


penhorabilidade de salário desde quenão ultrapasse o limite que possa comprometer a
subsistência do executado. Neste sentido, a impenhorabilidade não deve ser utilizada
visando que o devedor prolongue a sua inadimplência, pois seria permitir a que o
executado saia impune da condenação, haja vista não possuir outro bem que possa ser
penhorado.

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO MONITÓRIA – PENHORA DE


SALÁRIO – EXECUÇÃO QUE NÃO SE REFERE À VERBA ALIMENTAR
– POSSIBILIDADE DE RELATIVIZAÇÃO DA IMPENHORABILIDADE
DO SALÁRIO, MESMO NESSA SITUAÇÃO – PRECEDENTES DO STJ
(EREsp 1518169/DF) – POSSIBILIDADE ECONÔMICA DO
EXECUTADO DEMONSTRADA – PERCENTUAL DA PENHORA QUE
DEVE OBSERVAR A MANUTENÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA DO
EXECUTADO E SUA FAMÍLIA – CASO DOS AUTOS QUE SE
COADUNA COM A PENHORA DE 15% DOS VENCIMENTOS
LÍQUIDOS – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR - 9ª C. Cível
- 0000609-30.2021.8.16.0000 - Goioerê - Rel.: DESEMBARGADOR
DOMINGOS JOSÉ PERFETTO - J. 15.05.2021)

(TJ-PR - AI: 00006093020218160000 Goioerê 0000609-30.2021.8.16.0000


(Acórdão), Relator: Domingos José Perfetto, Data de Julgamento: 15/05/2021,
9ª Câmara Cível, Data de Publicação: 17/05/2021)

Ademais, o argumento de não ser possível quitar o débito por se tratar de verba
salarial é dispensável, uma vez que o valor em conta é mais do que necessário para a
subsistência do executado, tendo como base que o montante ultrapassa o valor de 50
salários-mínimos, demonstrando que é devido que ocorra a realização do bloqueio de no
mínimo 30% (trinta por cento), haja vista que é mais do que possível e necessário para a
satisfação parcial do quantum devido.

Conforme Fredie Didier, et al, 2011, “a impenhorabilidade de certos bens é uma


restrição ao direito fundamental à tutela executiva. É técnica processual que limita a
atividade executiva e que se justifica como meio de proteção de bens jurídicos
relevantes”, deste modo, é possível assumir que a penhorabilidade de parte do salário do
agravado não lesará nenhum bem jurídico, haja vista que de acordo com o Didier, são
exemplos: “a dignidade do executado, o direito ao patrimônio mínimo, a função social da
empresa ou a autonomia da vontade (nos casos de impenhorabilidade negocial)”, mas
pelo contrário, inadimplência com o agravante causou danos lesivos a ponto de o
agravado ser condenado ao pagamento de valor de R$ 299.428,14 (duzentos e noventa e
nove mil e quatrocentos e vinte e oito reais e quatorze centavos).

Diante do exposto, requer-se que seja reformada a decisão, com a decretação da


penhora do montante de R$15.984,86 (quinze mil novecentos e oitenta e quatro reais e
oitenta e seis centavos), haja vista que tal quantia não irá prejudicar o sustento do
agravado nem de sua família e irá assim satisfazer parcialmente o limite da dívida a ser
penhorada no valor de R$299.428,14 (duzentos e noventa e nove mil e quatrocentos e
vinte e oito reais e quatorze centavos).

C) DO EFEITO SUSPENSIVO ATIVO

O efeito suspensivo é aquele o qual o recurso necessita de impedimento imediato


para que não cause prejuízo à satisfação do direito. Portanto, a decisão impugnada por
um recurso munido de efeito suspensivo não possuirá capacidade para produzir efeitos
imediatos, sejam eles executivos, declaratórios ou constitutivos.

Neste sentido, oportuna é a lição de DANIEL AMORIM ASSUMPÇÃO NEVES:

O efeito suspensivo caberá sempre que a decisão impugnada tiver


conteúdo positivo, ou seja, ser uma decisão que concede, acolhe, defere
alguma espécie de tutela. Nesse caso, a decisão positiva gera efeitos
práticos, sendo permitido ao agravante pedir que tais efeitos sejam
suspensos até o julgamento do agravo de instrumento. (“in"MANUAL
DE DIREITO PROCESSUAL CONFORME O NOVO CPC, volume
único, 8ª ed., Ed. JUSPODVIM p. 3216)

O parágrafo único do artigo 995 do Código de Processo civil, dispõe que o recurso
poderá ter o efeito suspensivo concedido, caso seja observado pelo relator risco de dano
grave, de difícil ou impossível reparação.

Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo


disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso. Parágrafo único.
A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do
relator, se dá imediata produção de seus efeitos houver risco de dano
grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a
probabilidade de provimento do recurso.
Acerca do efeito ativo em agravo de instrumento, Elpídio Donizetti aduz que:

“Por fim, registre-se o efeito ativo (ou suspensivo ativo), que se refere à
possibilidade de o relator conceder, antes do julgamento pelo órgão
colegiado, a pretensão recursal almejada pelo recorrente. Na verdade, o
efeito ativo nada mais é que a tutela antecipatória recursal.”
(DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 24. Ed.
Ver., atual. E ampl. São Paulo: Atlas, 2021. P. 1378).

Assim sendo, se até o momento o agravado não cumpriu com suas obrigações de
quitar débito, subtendesse que não o fará de bom grado, causando danos irreversíveis ao
agravante, e, por conseguinte, custas imensuráveis ao judiciário.

Diante do exposto, uma vez demonstrada a desvio da decisão, faz cabimento o


MM. Juiz Relator dar ao presente recurso o efeito suspensivo, fazendo com que a
mencionada decisão não gere efeitos. Conforme demonstrado, é indiscutível a lesão grave
e de difícil reparação que o agravante está na ameaça de sofrer, na presunção de o presente
recurso em tela não ser aceito em seu efeito suspensivo ativo.

Ademais, a concessão do efeito não causará dano irreparável ao agravado, que de


qualquer forma reaverá o dinheiro, e ainda, terá a oportunidade de adimplir sua obrigação.

Por fim, estando já demonstrados e presentes os requisitos legais do presente


Recurso, vem assim requerer a Impetrante a concessão do EFEITO SUSPENSIVO
ATIVO para que seja concedido os efeitos da decisão de mérito proferida nos autos até o
julgamento do mérito do presente recurso, a fim de manter a penhora do montante de R$
R$ 15.984,86 (quinze mil novecentos e oitenta e quatro reais e oitenta e seis centavos),
até que seja realizado a satisfação total do débito.

IV. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, com fundamento nos art. 1.015 e seguintes do Código de


Processo Civil, requer:

a) O conhecimento, bem como o provimento do recurso com efeito suspensivo ativo


à decisão interlocutória de juízo a quo, para que seja suspensa a decisão de desbloqueio
do importe de R$ 15.984,86 (quinze mil novecentos e oitenta e quatro reais e oitenta e
seis centavos) na conta do requerido, com fulcro ao que dispõe o artigo 1019, inciso I, do
CPC;
b) A intimação do agravado para apresentar as contrarrazões recursais, caso o queira,
no prazo de 15 dias, com fulcro no artigo 1019, inciso II do CPC;
c) A procedência deste agravo, visando reformar a decisão para que seja mantida a
penhora na conta do agravado no valor correspondente a 30% (trinta por cento), ou seja,
o valor de R$ 15.984,86 quinze mil novecentos e oitenta e quatro reais e oitenta e seis
centavos), até que seja suprido o valor total do débito no valor de R$ 299.428,14
(duzentos e noventa e nove mil e quatrocentos e vinte e oito reais e quatorze centavos).

Nestes termos, pede deferimento,

Cidade, data

Advogado/OAB

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