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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE RIO

NEGRO – ESTADO DO PARANÁ.

Autos: xxxx

Gratuidade da Justiça requerida

xxxxx, brasileiro, casado, aposentado, portador da cédula de identidade nº xxxx e CPF nº xxxxx,
residente e domiciliado à xxxxx, Município de Quitandinha, Estado do Paraná, CEP 83840-000,
por seu procurador que abaixo subscreve a presente peça (procuração em anexo), vem
manifestar-se acerca da intimação de seq. xx, apresentando IMPUGNAÇÃO À PENHORA, com
fulcro no artigo 525 do NCPC, nos seguintes termos:

I - DO PEDIDO DE GRATUIDADE DA JUSTIÇA:

Inicialmente, o exequido afirma, nos termos do art. 98 e 99 do Código de Processo Civil, que
não possui condições financeiras de arcar com custas processuais e honorários advocatícios
sem prejudicar substancialmente seu sustento e de sua família, tendo em vista que é
aposentado, percebendo valor de R$ 1.290,00 (hum mil, duzentos e noventa reais) a título de
proventos (conforme extratos bancários em anexo).

“Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos
para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à
gratuidade da justiça, na forma da lei.”

“Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na
contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.

§ 3o Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa


natural.”

“A simples declaração de miserabilidade jurídica por parte do interessado é suficiente para a


comprovação desse estado, nos termos do art. 4º, parágrafo 1º da Lei 1.060/50.”(STF-RE
205.029-RS-DJU de 7.3.97) e (STF-RE 205.746-RS-DJU de 28.02.97).
Desta forma, o exequido pleiteia a V.Exa. a concessão de tal benefício, por ser da mais pura
justiça.

II - DOS FATOS:

O exequido foi informado pelo seu banco que houve bloqueio judicial em sua conta bancária,
no valor de R$ 561,19 (quinhentos e sessenta e um reais e dezenove centavos), em
decorrência de ordem judicial emanada por este MM. Juízo nestes autos.

Contudo, como demonstra os extratos bancários em anexo, a única entrada de valores nesta
conta bancária é justamente a aposentadoria do exequido, no valor de R$ 1.290,00 (hum mil,
duzentos e noventa reais), ou seja, todo o valor existente na conta (e, por consequência, o
valor bloqueado) são oriundos de proventos de aposentadoria, os quais são impenhoráveis,
como iremos demonstrar a seguir.

Ressalte-se, ainda, que é facilmente extraído de tais extratos bancários que a aposentadoria é
a única renda do exequido.

III - DO DIREITO:

III.a - DA IMPENHORABILIDADE DOS PROVENTOS DE APOSENTADORIA:

É sabido que os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os


proventos de aposentadoria e as pensões somente podem ser penhorado, quanto o executado
perceber valor acima de 50 (cinquenta) salários-mínimos mensal, conforme dispõe o artigo
833, inciso IV e § 2º do Código de Processo Civil, o qual garante a dignidade do ser humano,
impedindo que a dívida retire do devedor os elementos mínimos ao seu sustento e de sua
família, vejamos:

Art. 833. São impenhoráveis:

(...)

IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de


aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de
trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2o;
(...)

§ 2o O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora para


pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às
importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, devendo a constrição
observar o disposto no art. 528, § 8o, e no art. 529, § 3o. (grifos nossos)

A jurisprudência é cristalina:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPUGNAÇÃO À PENHORA. QUANTIA BLOQUEADA EM CONTA


CORRENTE. VALORES ORIUNDOS DE AÇÃO PREVIDENCIÁRIA. PROVENTOS DE
APOSENTADORIA. NATUREZA ALIMENTAR. APLICAÇÕES FINANCEIRAS QUE NÃO EXCEDEM 40
SALÁRIOS MÍNIMOS. IMPENHORABILIDADE. 1. São absolutamente impenhoráveis os proventos
de aposentadoria e pensões, ainda que realizado aplicações financeiras, desde que o valor não
exceda 40 salários-mínimos. Precedentes do STJ. 2. Comprovado pelo agravante que a quantia
bloqueada em sua conta é proveniente de ação previdenciária onde requereu aposentadoria
rural, representando o valor cumulação de proventos não pagos no prazo adequado, deve ser
imediatamente liberado já que se trata de montante impenhorável. Agravo de Instrumento
conhecido e provido. Decisão reformada. (TJ-GO - AI: 02167375620188090000, Relator:
ROBERTO HORÁCIO DE REZENDE, Data de Julgamento: 23/10/2018, 3ª Câmara Cível, Data de
Publicação: DJ de 23/10/2018) (grifos nossos)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. IMPUGNAÇÃO PARCIALMENTE


ACOLHIDA PARA RECONHECER COMO IMPENHORÁVEL O VALOR RECEBIDO A TÍTULO DE
APOSENTADORIA E MANTER A PENHORA DO RESTANTE DEPOSITADO EM CONTA CORRENTE.
VALORES ORIUNDOS DE PROVENTOS DE APOSENTADORIA NO VALOR MÍNIMO.
IMPENHORABILIDADE. ART. 833, IV DO CPC/15. ART. 7º, X, CF. CRÉDITO QUE NÃO SE
ENQUADRA NA EXCEÇÃO DO § 2º DO ART. 833, CPC. NATUREZA NÃO ALIMENTAR.
REMUNERAÇÃO INFERIOR À 50 SALÁRIOS MÍNIMOS. NÃO DEMONSTRADO QUE NÃO
COMPROMETERÁ O SUSTENTO DO DEVEDOR E DE SUA FAMÍLIA. NÃO DEMONSTRADA
EXISTÊNCIA DE OUTRAS FONTES DE RENDA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR - 6ª C.
Cível - 0040391-78.2020.8.16.0000 - Curitiba - Rel.: Desembargador Ramon de Medeiros
Nogueira - J. 03.02.2021) (TJ-PR - ES: 00403917820208160000 PR 0040391-78.2020.8.16.0000
(Acórdão), Relator: Desembargador Ramon de Medeiros Nogueira, Data de Julgamento:
03/02/2021, 6ª Câmara Cível, Data de Publicação: 11/02/2021)

No presente caso, foi deferido por este juízo a penhora dos valores existentes na conta
bancária do exequido.
Contudo, extrai-se facilmente dos extratos bancários em anexo que o saldo de tal conta
bancária tem como única origem os proventos de sua parca aposentadoria, ônus da prova do
qual o exequido não se desincumbiu, forte no parágrafo terceiro do artigo 854 do CPC

Assim, o desbloqueio dos valores é imperioso. Neste sentido:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PENHORA VIA


BACENJUD. IMPUGNAÇÃO. BLOQUEIO DE VALORES RECEBIDOS EXCLUSIVAMENTE A TÍTULO DE
PROVENTOS DE APOSENTADORIA. NATUREZA ALIMENTAR. COMPROVAÇÃO. Segundo
preconiza o artigo 833, incisos IV, do Código de Processo Civil, são impenhoráveis, dentre
outras verbas, os proventos de aposentadoria. A proteção conferida pelo referido comando
legal tem por finalidade resguardar o mínimo existencial do devedor em face de eventual
constrição das verbas ali descritas, de caráter eminentemente alimentar, não protegendo,
contudo, eventuais valores constantes em conta bancária que não se originem do fruto do
trabalho ou desbordem daquelas outras circunstâncias explicitamente delineadas pelo
preceptivo legal. Cabe à parte executada comprovar, à luz do disposto no artigo 854, § 3º, do
Código de Ritos, que o montante sobre o qual recaiu a penhora é submetido à proteção legal,
sob de manutenção da medida constritiva. Os documentos acostados aos autos demonstram
que o valor bloqueado na origem incidiu, exclusivamente, sobre verba proveniente de
proventos de aposentadoria percebida pelo devedor, situação que justifica a desconstituição
da constrição judicial efetivada. (TJ-DF 07254368420198070000 DF 0725436-
84.2019.8.07.0000, Relator: ESDRAS NEVES, Data de Julgamento: 12/02/2020, 6ª Turma Cível,
Data de Publicação: Publicado no DJE : 05/03/2020 . Pág.: Sem Página Cadastrada.)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.


CONSTRIÇÃO JUDICIAL. PENHORA ON LINE (SISTEMA BACENJUD). ALEGAÇÃO DE
IMPENHORABILIDADE DO VALOR BLOQUEADO ELETRONICAMENTE. TESE DE DEFESA NÃO
COMPROVADA. ÔNUS DA PROVA ( CPC, ART. 373, I). NÃO ATENDIMENTO. DESÍDIA
PROCESSUAL DA PARTE AGRAVANTE. LIBERAÇÃO DO VALOR CONSTRITO. DESCABIMENTO.
AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. (...). 2. Consoante
sabido e consabido, não compete à parte executada apenas alegar a impenhorabilidade do
bloqueio judicial eletrônico impugnado, mas, sobretudo, fazer provas que alicercem a tese de
defesa sustentada nos autos, de acordo com os comandos estabelecidos no artigo 854, § 3º,
inciso I, do CPC . (...) 5. Agravo de instrumento desprovido. (TJDFT, Acórdão 1163496,
07011227420198070000, Relator: ALFEU MACHADO, 6ª Turma Cível, data de julgamento:
3/4/2019, publicado no DJE: 11/4/2019) (g.n.)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPUGNAÇÃO À PENHORA. EMBARGOS À EXECUÇÃO.


PENDÊNCIA DE ANÁLISE. COMPENSAÇÃO DE CHEQUE. ÔNUS DA PROVA. CONTA-POUPANÇA
INFERIOR A 40 SALÁRIOS-MÍNIMOS. IMPENHORABILIDADE. PREVISÃO LEGAL. (...) É ônus do
executado comprovar que o bem sobre o qual recaiu a penhora é submetido à proteção legal.
Não havendo prova de que o numerário constante em sua conta corrente proveio de seus
vencimentos, a constrição deve ser mantida. (...) (TJDFT, Acórdão n.1171312,
07039418120198070000, Relator: ESDRAS NEVES 6ª Turma Cível, Data de Julgamento:
15/05/2019, Publicado no DJE: 24/05/2019) (g.n.)

III.b - DA IMPENHORABILIDADE DO SALDO BANCÁRIO INFERIOR A 40 SALÁRIOS MÍNIMOS:

Na hipótese dos autos, trata-se de penhora em uma única conta corrente, com constante
movimentação, que recepciona valores decorrentes de aposentadoria, o que não permite a
dedução que seu comportamento estaria eivado de má-fé.

Não fosse isso, os valores envolvidos não superam 40 salários mínimos, o que chama a
incidência da regra do art. 833, X, do CPC:

Art. 833. São impenhoráveis:

(...)

X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários-


mínimos;

O Superior Tribunal de Justiça possui “jurisprudência pacificada” neste sentido:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. IMPENHORABILIDADE DE


VALORES EM CONTA-CORRENTE ATÉ O PATAMAR DE 40 SALÁRIOS MÍNIMOS. PRECEDENTES.
AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1. São impenhoráveis os valores até o limite de 40 (quarenta)
salários mínimos depositados em conta-corrente. 2. Razões recursais insuficientes para a
revisão do julgado. 3. Agravo interno desprovido. (STJ - AgInt no REsp: 1747629 SP
2018/0144081-3, Relator: Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Data de Julgamento:
18/05/2020, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 21/05/2020) (grifos nossos)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO


EXTRAJUDICIAL. DISSÍDIO NOTÓRIO. CONTA CORRENTE BANCÁRIA. IMPENHORABILIDADE.
LIMITE. QUARENTA SALÁRIOS MÍNIMOS. 1. Julgamento sob a égide do CPC/15 2. Ação de
execução de título extrajudicial. 3. A existência de dissídio notório autoriza a flexibilização dos
requisitos de admissibilidade para o conhecimento do recurso especial fundado na alínea c do
permissivo constitucional. 4. Exceto se comprovada a ocorrência de abuso, má-fé ou fraude e
ainda que os valores constantes em conta corrente percam a natureza salarial após o
recebimento do salário ou vencimento seguinte - a quantia poupada pelo devedor, no patamar
de até 40 salários mínimos, é impenhorável. Súmula 568/STJ. 5. Agravo interno não provido.
(STJ, AgInt no REsp 1786530/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
17/06/2019, DJe 19/06/2019)

“PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. OFENSA AO ARTIGO 535 DO


CPC. NÃO CARACTERIZAÇÃO. EXECUÇÃO FISCAL. APLICAÇÃO FINANCEIRA.
IMPENHORABILIDADE DO LIMITE PREVISTO NO ART. 649, X, DO CPC. AFASTAMENTO DA
CONSTRIÇÃO EM RELAÇÃO AO LIMITE DE QUARENTA SALÁRIOS MÍNIMOS. AGRAVO
REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.1. Não havendo no acórdão recorrido omissão,
obscuridade ou contradição, não fica caracterizada ofensa ao art. 535 do CPC. 2. Segundo a
jurisprudência pacificada deste STJ "é possível ao devedor, para viabilizar seu sustento digno e
de sua família, poupar valores sob a regra da impenhorabilidade no patamar de até quarenta
salários mínimos, não apenas aqueles depositados em cadernetas de poupança, mas também
em conta-corrente ou em fundos de investimento, ou guardados em papel moeda." (stj, REsp
1.340.120/SP, Quarta Turma, Relator Ministro Luis Felipe Salomão, julgado em 18/11/2014,
DJe 19/12/2014). 3. Agravo regimental não provido.” (AgRg no REsp 1566145/RS, Rel. Ministro
M AURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/12/2015, DJe 18/12/2015)

No mesmo sentido: (AgRg no AREsp 760.181/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 27/10/2015, DJe 05/11/2015); (REsp 1230060/PR, Rel. Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/08/2014, DJe 29/08/2014)

Nosso Egrégio Tribunal de Justiça tem o mesmo entendimento:

DECISAO: ACORDAM os Magistrados integrantes da Décima Quarta Câmara Cível do Tribunal


de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos
termos do voto do Relator. EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPUGNAÇÃO AO
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PENHORA ON-LINE. INEXISTÊNCIA DE PROVA SEGURA DE MÁ-
FÉ DO DEVEDOR. CONTA EM QUE RECEBE PROVENTOS DE APOSENTADORIA. MOVIMENTAÇÃO
TÍPICA DE CONTA-CORRENTE. TOTALIDADE DOS VALORES QUE NÃO SUPERA 40 (QUARENTA)
SALÁRIOS MÍNIMOS. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 649, X DO CPC. RECURSO PROVIDO. (TJPR - 14ª
C.Cível - AI - 1486527-3 - Toledo - Rel.: Fernando Antonio Prazeres - Unânime - - J. 13.04.2016)
(TJ-PR - AI: 14865273 PR 1486527-3 (Acórdão), Relator: Fernando Antonio Prazeres, Data de
Julgamento: 13/04/2016, 14ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 1788 28/04/2016) (GRIFOS
NOSSOS)

Assim, há mais do que fundada razão para julgar procedente a presente impugnação, visando
liberar os valores bloqueados em favor do exequido.

III.c - DO CARÁTER NÃO ALIMENTAR DA EXECUÇÃO:


Por fim, é importante destacar que a execução em questão não possui caráter alimentar,
tendo origem em título executivo extrajudicial.

A jurisprudência só tem autorizado penhora de proventos de aposentadoria quando a


execução trata de débito de caráter alimentar, o que não é o caso:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL – DECISÃO QUE DEFERIU


O IMEDIATO DESBLOQUEIO ATRAVÉS DO SISTEMA BACENJUD DA PENHORA REALIZADA NA
CONTA DA EXECUTADA E INDEFERIU O PLEITO DE PENHORA DE 30% (TRINTA POR CENTO) DOS
RENDIMENTOS MENSAIS DA EXECUTADA. 1. Penhora de valor proveniente de benefício
previdenciário para pagamento do valor principal – Título executivo que não possui caráter
alimentar ao título em questão – Inclusão de valores referentes a honorários advocatícios que
não atribui caráter alimentar ao título em questão – Impenhorabilidade dos proventos de
aposentadoria conforme a redação do art. 833 do CPC/15 – Precedentes do Superior Tribunal
de Justiça e deste e. Tribunal de Justiça. 2. Decisão mantida. ReCURSO NÃO PROVIDO. (TJPR -
14ª C.Cível - 0029824-85.2020.8.16.0000 - Pinhais - Rel.: Desembargador Octavio Campos
Fischer - J. 15.02.2021) (TJ-PR - ES: 00298248520208160000 PR 0029824-85.2020.8.16.0000
(Acórdão), Relator: Desembargador Octavio Campos Fischer, Data de Julgamento: 15/02/2021,
14ª Câmara Cível, Data de Publicação: 16/02/2021) (grifos nossos)

Por tudo isso, através da presente impugnação, o exequido demonstra que, a uma, o bloqueio
judicial incidiu sobre verba considerada impenhorável, e, a dois, sendo a única fonte de renda
do exequido, tal constrição está comprometendo seu sustento próprio e da família.

Assim, requer que a presente impugnação ao bloqueio de numerário seja acolhida, haja vista
que estão presentes os requisitos fáticos e de direito, sob pena de prejuízos ao seu sustento e,
principalmente, ao direito do exequido.

IV - DOS REQUERIMENTOS:

Fatos postos, requer:

Seja recebida a presente impugnação, por tempestiva;

Após o devido trâmite processual, requer o julgamento pela procedência da presente


impugnação à penhora, com a devolução dos valores bloqueados e disponíveis em conta
judicial vinculada a este processo, mediante alvará de levantamento expedido em nome do
subscritor da presente peça;
Por fim, que se abstenham de quaisquer medidas constritivas futuras que atinjam os
proventos de aposentadoria do exequido, de modo que não afete seu sustento e de sua
família.

Termos em que

Pede deferimento.

De Quitandinha, PR, p/ Rio Negro, PR, data e hora da juntada ao sistema PROJUDI.
EXMO (A). SR (A). JUIZ (A) DE DIREITO DA ....ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE ............

Proc. nº .....................

..................., devidamente qualificados nos autos, por sua advogada que esta subscreve, na
presente AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TITULO EXTRAJUDICIAL, que lhe move ............., igualmente
qualificada, vem, mui respeitosamente à presença de V. Exa. propor a presente

IMPUGNAÇÃO À PENHORA

expondo e requerendo o quanto segue:

BREVE SÍNTESE DOS FATOS:

A impugnada requer a condenação dos impugnadores, devido à divida que alegam ter os
impugnadores junto à instituição de ensino da impugnada.

Para tanto requereu a impugnada penhora de valores de contas bancarias dos impugnadores,
através do sistema Bacenjud, as quais foram bloqueadas impedindo os impugnadores de pagar
suas contas e realizar compras para sua subsistência.

DA ILEGALIDADE DA PENHORA:

Os valores constritos nas contas bancarias dos impugnadores são originários de remuneração
de seus salários. Tal conta é utilizada exclusivamente para recebimento de salário e
pagamento de despesas, bem como para realizar compras de subsistência, como alimentos e
remédios para manutenção de seu sustento e de sua família.

Há flagrante ilegalidade no ato em vertente, razão qual oferta-se a presente defesa.

Convém inicialmente delimitarmos que o tema em vertente, ou seja, nulidade absoluta de ato
judicial (ordem de constrição de bem impenhorável) pode ser arguida a qualquer tempo,
declarada de ofício, dispensando-se, inclusive, o aviamento de ação de embargos à execução.
Neste aspecto, vejamos as lições da doutrina de José Cairo Júnior: “Por ser instituto de direito
público, a impenhorabilidade absoluta do bem pode ser declarada de ofício e a qualquer
tempo, não havendo falar-se em preclusão. A impenhorabilidade também decorre da
inalienabilidade, pois o titular do direito respectivo não pode dispor do bem. “(CAIRO JÚNIOR,
José. Curso de Direito Processual do Trabalho. 3ª Ed. Bahia: Jus Podivm, 2010. Pág. 749).

DA CONSTRIÇÃO DE VALORES PERTINENTES A SALÁRIO:

Constata-se que a constrição recaiu em conta-salário dos impugnadores, sendo que os


utilizam-se da movimentação de suas contas bancárias para fazer pagamentos de suas
despesas com sua família, tendo em vista que por ela também recebem seu salário, não
existindo outros meios que possam lançar mão para prover o sustento de sua família.

Tal condução processual violou direito líquido e certo dos mesmos. Com efeito, o artigo 833, IV
do Código de Processo Civil qualifica como absolutamente impenhorável os vencimentos,
soldos, proventos, etc., salvo para o pagamento de prestação alimentícia, que não é o caso em
tela. A ordem jurídico-positiva privilegiou a sobrevivência de uma empresa, pessoa jurídica que
tem meios de se manter financeiramente em prejuízo de pessoas físicas, que necessitam dos
valores ali depositados, para manter sua subsistência e de sua família.

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E CONSTITUIÇÃO FEDERAL:

Cumpre ressaltar, nos termos do art. 833 do Código de Processo Civil que: “Não estão sujeitos
a execução os bens que a lei considera impenhoráveis ou inalienáveis”.

“Art. 833 – São impenhoráveis:

(...)

IV – os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, as


pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de
terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador
autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º”

Afronta, ademais, ao princípio constitucional de proteção ao salário disposto na Constituição


da Republica.
“Art. 7º – São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:

(...)

X – proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;”

De outro turno, o tema ora enfrentado já foi objeto de exaustivo debate também perante o
Egrégio Tribunal Superior do Trabalho, resultando na OJ 153 da SDI2 abaixo descrita:

“Ofende direito líquido e certo, decisão que determina o bloqueio de numerário existente em
conta salário, para satisfação de crédito trabalhista, ainda que seja limitado o determinado
percentual dos valores recebidos ou a valor revertido para fundo de aplicação ou poupança,
visto que o art. 649, IV, do CPC contém norma imperativa que não admite interpretação
ampliativa, sendo a exceção prevista no art. 649, § 2º, do CPC espécie e não gênero de crédito
de natureza alimentícia”.

A propósito, abaixo anotamos jurisprudências apropriadas:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSUAL CIVIL EXECUÇÃO – RESTABELECIMENTO DO


DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO – IMPOSSIBILIDADE – MARGEM CONSIGNÁVEL –
CONSIGNAÇÃO FACULTATIVA NÃO CONSTITUI DIREITO SUBJETIVO DO EXEQUENTE A
PARCELAMENTO DE DÍVIDA. 1 – Agravo de instrumento interposto em face de decisão que
indeferiu o pedido de restabelecimento da consignação em folha uma vez que as verbas
oriundas de trabalho e aposentadoria não podem ser objeto de qualquer constrição judicial,
em face de seu caráter alimentar, por força da norma do inciso IV do art. 649 do CPC que
dispõe acerca da impenhorabilidade absoluta dos vencimentos, proventos, salários, etc. 2 – A
agravante objetiva o restabelecimento da consignação em folha de pagamento, diretamente
na fonte pagadora, por meio da penhora mensal de parte do salário do devedor/agravado.
Alega o exaurimento das diligências que lhe competiam, as quais restaram inexitosas.
Preconiza, neste contexto, que se deve levar em consideração o princípio da efetividade do
processo executivo. 3 – O art. 8º do Decreto nº 6.386/2008 disciplina, exclusivamente, a
consignação facultativa de parte do salário, visando o pagamento mensal de dívidas contraídas
em razão de contrato celebrado pelas partes, não se aplicando a hipóteses de
restabelecimento da consignação em sede de execução, por meio de penhora. 4 – A regra que
impõe limite de 30% na soma mensal das consignações facultativas relaciona-se aos descontos
efetuados na remuneração ou proventos dos servidores públicos federais (art. 45 da Lei nº
8.112/90), não configurando, a toda evidência, direito subjetivo a parcelamento de dívida
objeto de ação executiva, sendo incabível, portanto, a contrição na forma pretendida. 5 –
Agravo de instrumento desprovido. AG – AGRAVO DE INSTRUMENTO – 212843, Processo:
201202010065281 Órgão Julgador: QUINTA TURMA ESPECIALIZADA, Data Decisão:
22/01/2013, E-DJF2R – Data: 01/02/2013, Desembargador Federal MARCUS ABRAHAM.”

“CONSTRIÇÃO JUDICIAL ATRAVÉS DE DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO.


IMPENHORABILIDADE. DECISÃO MANTIDA. 1. Hipótese na qual a decisão monocrática
manteve aferição de 1º grau, que deferiu parcialmente o requerimento de desconto em folha
de pagamento do agravado, no valor mensal de 10% (dez por cento) de seus vencimentos até a
integralização do valor total de R$ 39.916,64. 2. Embora em patamar inferior ao pretendido, a
decisão já concedeu providência que a maioria dos julgados não tem deferido. O desconto
judicial, como tem por objetivo satisfazer execução judicial, tem a natureza de penhora de
salário, o que é vedado pelo art. 649, IV do CPC. Não cabe, portanto, majoração da parcela dos
rendimentos a sofrer desconto. 3. A agravante deve continuar a pesquisar bens que possam
ser objeto de constrição, de modo a satisfazer seu crédito, caso o percentual concedido não
seja o suficiente. 4. Agravo interno não provido. AG – AGRAVO DE INSTRUMENTO – 222347,
Processo: 201202010184415 Órgão Julgador: SEXTA TURMA ESPECIALIZADA, UF: RJ, Data
Decisão: 03/12/2012, E- DJF2R – Data:: 11/12/2012, Desembargador Federal GUILHERME
COUTO DE CASTRO.”

“EXECUÇÃO. PENHORA SOBRE SALÁRIO, PENSÃO E APOSENTADORIA. IMPOSSIBILIDADE.


PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.As importâncias recebidas pelo executado a
título de salário, ou instituto equivalente, como pensão e proventos de aposentadoria, são
absolutamente impenhoráveis (art. 649, IV, do CPC), estando protegidas contra o poder
expropriatório do judiciário, por respeito à dignidade da pessoa humana, princípio de
hierarquia constitucional (art. 1º, III, CF). O § 2º do art. 649 do CPC, ao franquear a penhora
sobre o salário para pagamento de prestação alimentícia, visto que referidos institutos não se
confundem. Concomitantemente existe, uma necessidade de compatibilização da regra do
inciso IV do art. 649 do CPC, com o inciso X do mesmo dispositivo legal, o qual somente
protege da constrição judicial a quantia depositada em caderneta de poupança até o limite de
40 (quarenta) salários mínimos. Acima desse limite, pouco importa a origem ou natureza do
restante da verba depositada, que pode ser penhorada. Quanto ao valor excedente, poderá
haver penhora, desde que seja feita a verificação do comprometimento da receita mensal
necessária à subsistência do devedor e de sua família, observada a proporcionalidade,
razoabilidade e os preceitos constitucionais da dignidade da pessoa humana.”

Na lição de Ingo Sarlet (SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos
fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001): “Temos por dignidade da pessoa
humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do
mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste
sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto
contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as
condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua
participação ativa corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão
dos demais seres humanos”.
Nessa senda e consoante a doutrina mais moderna, notadamente dos professores Theotônio
Negrão e José Roberto F. Gouvêa: “se extrai que o limite de 40 (quarenta) salários mínimos
não pode ser flexibilizado, na medida em que a quantia disposta na lei já revela que este é o
mínimo valor que deva ser garantido ao devedor para a preservação de sua dignidade”.

DO PEDIDO:

Isto posto requer:

O devido DESBLOQUEIO IMEDIATO, da conta salário dos impugnadores, tendo em vista ser de
natureza salarial e, portanto amparado pela lei 8.009/90 e art. 833, IV do CPC, sob pena de
prejuízo ao seus sustento e de sua família;

Requer ainda extensão da concessão da Justiça Gratuita aos impugnadores por serem os
mesmos pobres na acepção jurídica da palavra, conforme documentos anexos já anexados.

Termos em que

Pede deferimento

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