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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO
1ª VARA DO TRABALHO DE RIO GRANDE
ATSum 0020442-44.2021.5.04.0121
RECLAMANTE: PAOLA BORGES RAMOS
RECLAMADO: EMPRESA BRASILEIRA DE SERVICOS HOSPITALARES - EBSERH

VISTOS, ETC.

Paola Borges Ramos ajuíza reclamatória trabalhista em face de


Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares - EBSERH em 19/07/2021. Alega que
trabalha para a demandada na atividade de técnica de enfermagem desde 03/07/2019
e que presta serviços na UTI Pediátrica. Postula o pagamento do adicional de
insalubridade em grau máximo, calculado sobre o salário básico, com as
correspondentes integrações, em parcelas vencidas e vincendas. Requer a concessão
do benefício da assistência judiciária gratuita e o pagamento dos honorários
advocatícios. Atribui à causa o valor de R$ 31.907,17. Junta documentos.

A reclamada apresenta contestação escrita, conforme peça de


ID 6835e43, rebatendo integralmente a pretensão da inicial. Junta documentos.

A reclamante manifesta-se sobre a defesa e documentos


(ID 18d17a7).

Produz-se prova pericial técnica, com laudo de ID 43d859e,


complementado sob ID c1551de.

Produz-se prova oral, com a oitiva de uma testemunha (ata de


audiência de ID 2e2c3b2).

Dispensada a produção de outras provas, é encerrada a


instrução. Razões finais remissivas. Conciliação rejeitada. É o relatório. Decido:

1. Adicional de insalubridade.

A reclamante alega prestar serviços à demandada na atividade


de técnica de enfermagem desde 03/07/2019, exercendo suas atividades na UTI
pediátrica, onde permanece exposta a agentes insalubres em grau máximo em virtude
do contato com portadores de doenças infectocontagiosas. Pleiteia o pagamento do

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adicional em grau máximo, calculado sobre o salário contratual, em parcelas vencidas e
vincendas, com as integrações pertinentes.

A reclamada discorda da pretensão negando o contato habitual


da autora com pacientes em isolamento ou com material por estes utilizados sem
prévia esterilização. Assegura ter fornecido todos os equipamentos de proteção
individual aptos à neutralização de eventual condição insalubre em grau máximo.
Esclarece que em muitas ocasiões, o isolamento do paciente imunodeprimido deve-se
à necessidade de resguardo do próprio paciente de eventuais bactérias ou vírus
provenientes de outros pacientes ou da própria equipe de saúde. Assegura que, com a
adoção das medidas de segurança, por meio das precauções padrão adotadas
amplamente como procedimento básico prevencionista (uso correto de EPIs, barreiras
de proteção e higienização periódica das mãos) é possível elidir o agente insalubre.
Esclarece que, de acordo com a NR15, as doenças infectocontagiosas são aquelas que
necessariamente devem ser comunicadas ao Ministério da Saúde. Refere que no local
de trabalho da autora o controle dos leitos em precaução/isolamento é realizado pela
Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, que envia mensalmente ao serviço
especializado em saúde e segurança do hospital os dados colhidos em relação aos
pacientes naquela condição.

Informa o perito-engenheiro que “a reclamante trata todo tipo


de patologia, habitualmente atende pacientes com doenças infectocontagiosas entre
elas, bronqueolite, COVID-19, tuberculose, HIV, sífilis e bactérias multirresistentes. Tem
incidências de atender pacientes desconhecendo que eram portadores de doenças
infectocontagiosas. Nestes casos os pacientes quando diagnosticados são isolados em
um quarto de isolamento, dentro da enfermaria em berços e Pediatria COVID-19”.

Ressaltando que dentro da UTI são realizados exames de raios X


com equipamento portátil e que a reclamante não pode se afastar da sala pela
necessidade de atendimento e imobilização do paciente, não utilizando qualquer
equipamento para controle de radiações, dosímetro radiológico individual, e que “
normalmente a reclamante utiliza os EPIs, luvas de procedimento e máscara cirúrgica.
Óculos de proteção, avental, protetor facial e o respirador tipo concha – 1860b PFF-2(S)
/N95 (CA 7956 anexo) não são utilizados habitualmente, somente são utilizados
quando diagnosticadas previamente doenças infectocontagiosas, o que não está
correto, pois deveria ser orientada e fiscalizada na utilização sempre desses EPIs pelo
desconhecimento muitas vezes destas patologias nos pacientes”, concluiu o perito que
a insalubridade presente nas atividades e local de trabalho da autora é de grau
máximo, na forma dos Anexos 5 e 14 da NR 15, da Portaria 3.214/78.

A reclamada impugnou a conclusão do perito ao argumento de


que o enquadramento legal da atividade como insalubre em grau máximo por agentes
biológicos diz respeito ao contato permanente com pacientes em isolamento por

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doenças infectocontagiosas e objetos de seu uso não previamente esterilizados, de
modo que a avaliação do agente é qualitativa. Busca desconstruir a conclusão do perito
com amparo em levantamento quantitativo da efetiva ocorrência de pacientes em
isolamento, com base em laudos periciais realizados em outros processos.

De acordo com a orientação da Súmula 47 do TST, a


intermitência não afasta o direito ao recebimento do adicional de insalubridade,
conforme orientação da Súmula 47 do TST: "O trabalho executado em condições
insalubres, em caráter intermitente, não afasta, só por essa circunstância, o direito à
percepção do respectivo adicional". De outra banda, a insalubridade em grau máximo
decorrente da exposição a agentes biológicos, é qualitativa, o que afasta a necessidade
de averiguação da quantidade de pacientes atendidos, tempo de exposição, limites de
tolerância, entre outros critérios quantitativos. Por fim, a exposição a tais agentes,
porque inerente à atividade profissional, não pode ser caracterizada como esporádica
ou eventual visto que no local de trabalho da reclamante são atendidos pacientes sem
prévio diagnóstico, passíveis de serem portadores de doenças infectocontagiosas.

O direito ao adicional de insalubridade em grau máximo não se


vincula ao labor exclusivo com doentes portadores de doenças infectocontagiosas, de
modo que a caracterização do contato permanente ou habitual há ser feita também
em razão do contato com pacientes que ainda não tiveram um diagnóstico positivo.
Ademais, na espécie, o perito constatou que o adicional em grau máximo é devido
também em virtude da exposição habitual – porque inerente à atividade profissional –
ao agente físico (radiações ionizantes).

Assinalo que, ainda que a demandada tenha juntado aos autos


laudos periciais realizados em outros feitos com conclusão diversa do perito que atuou
neste feito, a contraprova técnica não é suficiente a desconstituir a conclusão do perito
oficial. Destaco que o laudo da perita Ingrid Estrella (ID 40ec24f), juntado pela ré,
aponta conclusão superada pela própria perita, conforme restou demonstrado em
outro feito submetido a esta mesma julgadora (processo 0020552-74.2020.5.04.0122),
o que traduz alteração do entendimento da profissional em relação ao ambiente e
condições de trabalho dos técnicos de enfermagem que atuam na UTI Pediátrica do
reclamado.

A testemunha ouvida a convite da reclamante confirma que são


recebidos no setor os pacientes sem diagnóstico prévio e que a UTI é central de leitos,
de modo que os dados sobre os pacientes não vêm completos. Informa, ainda, que “
quando atendem pacientes sem diagnóstico prévio os epis utilizados são os padrão
(máscara cirúrgica), não os epis para doenças infectocontagiosas” e que o leito de
isolamento está sempre ocupado tornando-se necessário, frequentemente, fechar o
salão para receber outros pacientes em isolamento e que “se o leito de isolamento já
estiver ocupado com paciente de isolamento, o paciente sem o diagnóstico vai para o

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leito comum e apenas depois dos exames verificam a doença infectocontagiosa; que o
leito de isolamento não fica ocupado com pacientes sem doença infectocontagiosa, a
menos que seja o único leito disponível na unidade e uma criança precise muito”.

Assim, considerando que a exposição aos agentes físicos e


biológicos é da própria natureza da atividade realizada pela reclamante, que a
reclamada não comprova que no local de trabalho da autora somente sejam atendidos
pacientes com prévio diagnóstico em outro setor do hospital ou que a reclamante
recebeu o EPI apto a elidir a ação das radiações a que fica exposta, acolho a conclusão
pericial e defiro à autora o pagamento do adicional de insalubridade em grau máximo
pela exposição aos agentes físicos e biológicos, conforme os Anexos 5 e 14 da NR 15,
calculado sobre o salário básico da reclamante na forma do Regulamento de Pessoal
da ré, com reflexos em férias com 1/3, décimos terceiros salários e FGTS, deduzidos os
valores já satisfeitos a título de adicional de insalubridade em graus médio e máximo.

Indefiro as integrações em “demais vantagens legais e


contratuais” por se tratar de pedido genérico, não sujeito ao contraditório.

As diferenças ora deferidas deverão ser satisfeitas em parcelas


vencidas e vincendas enquanto permanecerem inalteradas as condições e local de
trabalho da autora.

Quanto à base de cálculo da vantagem, a reclamada alega que,


embora a Norma Operacional 3/2017, em sua redação original, determinasse como
base de cálculo do adicional de insalubridade o salário base do empregado, essa sofreu
recentes alterações que excluíram tal previsão, de modo a passar a valer a regra geral
de utilização do salário mínimo como base de cálculo do adicional de insalubridade.

Sem razão, contudo, a demandada, diante do fato inequívoco


que a reclamante percebe o adicional de insalubridade em grau médio calculado sobre
o salário contratual, tal como previsto no regulamento interno da empresa antes da
alegada alteração, sequer demonstrada nos autos. Nessas condições, a alteração da
base de cálculo importaria em alteração contratual lesiva, rechaçada pelo direito do
trabalho. O prejuízo, aliás, é tão evidente que, a se considerar a argumentação da
reclamada, a reclamante passaria receber a título de adicional em grau máximo valor
muito inferior ao que percebe a título de insalubridade em grau médio.

2. Das prerrogativas da Fazenda Pública.

Em que pese a reclamada seja empresa pública dotada de


personalidade jurídica de direito privado, revendo posicionamento anteriormente
adotado quanto ao reconhecimento dos privilégios da Fazenda Pública a tais entes

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jurídicos, e observada por analogia a orientação da Súmula 45 do TRT4, especialmente
por prestar serviço essencial na área da saúde, defiro à demandada os privilégios da
Fazenda Pública, na forma do art. 790-A da CLT e art. 1º, IV, do Decreto-Lei 779/69.

3. Critério de atualização monetária.

Os valores deverão ser apurados em liquidação de sentença,


atualizados monetariamente e acrescidos de juros na forma da lei vigente à época da
liquidação.

4. Contribuições previdenciárias. Descontos fiscais.

As obrigações previdenciárias são devidas, conforme artigo 195,


I, a, e II, da Constituição Federal e parágrafo único do artigo 876 da CLT, autorizando-se
a dedução da parte do empregado até o teto do salário de contribuição exclusivamente
em relação aos recolhimentos incidentes sobre créditos decorrentes da presente,
cabendo à reclamada o recolhimento ao tempo da liquidação do débito, na forma da
lei específica.

Em atenção ao disposto no § 3º do artigo 832 da CLT, declaro


que, para fins previdenciários, detêm caráter indenizatório as seguintes verbas e os
reflexos que sobre elas incidem: férias indenizadas com 1/3 e FGTS.

Autorizo, ainda, os descontos fiscais cabíveis, atribuindo às


reclamadas a obrigação de comprovar o respectivo recolhimento, observados os
critérios fixados na legislação vigente à época da liquidação.

5. Justiça gratuita. Assistência judiciária gratuita. Honorários


advocatícios.

Em que pese a reclamante aufira salário superior ao limite


estabelecido pelo §3º do art. 790 da CLT, presta declaração de hipossuficiência
econômica sob ID 3dd0154, que se presume verdadeira na forma do §3º do art. 99 do
CPC. Não se desincumbindo a reclamada de comprovar que a autora é capaz de pagar
as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família, defiro à
reclamante o benefício da justiça gratuita, na forma dos parágrafos 3º e 4º do artigo
790 da CLT.

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Em se tratando de demanda ajuizada na vigência da Lei 13.467
/2017, tem aplicação o disposto no artigo 791- A da CLT, sendo devidos honorários de
sucumbência, nos seguintes termos: "Ao advogado, ainda que atue em causa própria,
serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por
cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação
da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o
valor atualizado da causa". O § 3º do mesmo dispositivo diz que "Na hipótese de
procedência parcial, o juízo arbitrará honorários de sucumbência recíproca, vedada a
compensação entre os honorários".

Condeno a reclamada ao pagamento dos honorários de


sucumbência ao procurador da reclamante, os quais, observados os critérios fixados
no § 2º do artigo 791-A da CLT, fixo em 10% sobre o valor bruto que se apurar como
devido à autora em liquidação de sentença.

6. Honorários periciais.

A ação foi ajuizada na vigência da Lei 13.467/17.

O artigo 790-B, caput, da CLT, com a redação dada pela Lei


13.467/17, dispõe que “A responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais é
da parte sucumbente na pretensão objeto da perícia, ainda que beneficiária da justiça
gratuita". De outra banda, o § 4º do artigo 790-B da CLT estabelece que " Somente no
caso em que o beneficiário da justiça gratuita não tenha obtido em juízo créditos
capazes de suportar a despesa referida no caput, ainda que em outro processo, a
União responderá pelo encargo".

A reclamada, sucumbente no objeto da perícia técnica, é


responsável pelo pagamento dos honorários do perito, arbitrados em R$ 1.200,00,
atualizáveis.

Ante o exposto, julgo PROCEDENTE EM PARTE a ação movida


por Paola Borges Ramos em face de Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares –
EBSERH, nos termos da fundamentação retro, para condenar a reclamada a satisfazer à
reclamante os seguintes créditos, em parcelas vencidas e vincendas enquanto
permanecerem inalteradas as condições e local de trabalho da autora:

- adicional de insalubridade em grau máximo, calculado sobre o


salário básico da reclamante, com reflexos em férias com 1/3, décimos terceiros

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salários e FGTS, deduzidos os valores já satisfeitos a título de adicional de insalubridade
em graus médio e máximo.

Os valores deverão ser apurados em liquidação de sentença,


atualizados monetariamente e acrescidos de juros na forma da lei vigente à época da
liquidação. Os valores correspondentes ao FGTS deverão ser depositados na conta
vinculada pois o contrato de trabalho permanece em vigor.

A reclamada pagará custas de R$ 240,00, calculadas sobre o


valor de R$ 12.000,00, dispensado o recolhimento em atenção ao inciso I do artigo 790-
A da CLT, os honorários de sucumbência ao procurador da autora, no percentual de
10% sobre o montante da condenação, e os honorários do perito, arbitrados em R$
1.200,00, atualizáveis.

Autorizo os descontos fiscais e previdenciários, na forma da


fundamentação, determinando à reclamada que proceda aos recolhimentos, no prazo
legal. Ciência às partes e ao perito. Transitada em julgado, cumpra-se. Nada mais.

RIO GRANDE/RS, 30 de agosto de 2022.

CAROLINA TOALDO DUARTE DA SILVA FIRPO


Juíza do Trabalho Substituta

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https://pje.trt4.jus.br/pjekz/validacao/22083015595391300000117508444?instancia=1
Número do processo: 0020442-44.2021.5.04.0121
Número do documento: 22083015595391300000117508444

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