JUSCELINO FERNANDES DE CASTRO) x UNIVERSIDADE FEDERAL DO RN - UFRN (Adv. TANIA SOUZA PAIVA) PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA Seção Judiciária do Rio Grande do Norte - Primeira Vara Tel. 84-2357563 Fax 84-2357558 e-mail: sec1vara@jfrn.gov.br AÇÃO ORDINÁRIA PROCESSO n.º 2008.84.00.010378-1 AUTOR: MARIA DO CARMO MORAIS DA SILVA X RÉ: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN SENTENÇA EMENTA: CIVIL. PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. INFECÇÃO HOSPITALAR. PERDA DO OLHO ESQUERDO. COMPROMETIMENTO DO OLHO DIREITO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. Vistos etc. 1. Trata-se de ação ordinária, com pedido de tutela antecipada, promovida por MARIA DO CARMO MORAIS DA SILVA, qualificada nos autos, por intermédio de advogado habilitado, em face da UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN, buscando, in limini litis, a condenação da demandada a arcar com os custos de cirurgia de evisceração do olho esquerdo, com implante de esfera de Miller e, por ocasião do decreto sentencial, que seja a Ré condenada no pagamento de danos morais à Autora, tendo em vista a perda da visão de seu olho esquerdo, em virtude de ter contraído endoftalmite, decorrente de infecção hospitalar, quando da realização, nas dependências do Hospital Universitário Onofre Lopes, de cirurgia de catarata, procedimento realizado em regime de mutirão. 2. Narra a Demandante que, a cerca de 9 (nove) anos, procurou o Hospital Universitário Onofre Lopes - HUOL, em busca de atendimento oftalmológico, tendo sido informada pelo especialista que necessitaria de intervenção cirúrgica para solucionar a catarata diagnosticada. Conta que a cirurgia teve êxito. 3. Relata que após dois anos, a autora sentiu problemas no olho esquerdo e novamente foi diagnosticada a catarata, o que levou a nova cirurgia. Expõe que, nessa ocasião, o centro cirúrgico encontrava-se sem nenhuma condição de higiene, motivo pelo qual questionou a um dos médicos que realizariam a cirurgia se esta seria efetuada naquele local. Narra que o cirurgião lhe informou que, naquele dia, várias pessoas haviam sido operadas naquele local, apesar disso, a cirurgia foi realizada e a autora recebeu alta em seguida. 4. Afirma que em sua residência sentiu forte mal estar, com dores de cabeça, febre, dor no olho operado e vômito, que perdurou por toda a noite. Ao amanhecer, dirigiu-se ao Hospital, onde foi orientada a encaminhar-se ao pronto-socorro. Chegando a Hospital Walfredo Gurgel, o médico lhe informou que havia contraído infecção hospitalar e que não iria examinar a enfermidade para que o HUOL não alegasse que a infecção havia sido contraída lá, tendo prescrito medicamentos para atenuar a febre e o vômito, já que o hospital competente não o fez. 5. Assevera que, melhorando dos sintomas, retornou ao HUOL, tendo sido atendida por Dr. Isac, que removeu o curativo com muito pus e sangue, tendo o médico confirmado a infecção hospitalar. Destaca que, logo após, Dr. Isac chamou o outro cirurgião que colaborou na cirurgia e lhe comunicou que a paciente estava com a pupila estourada e que o germe contraído durante a intervenção já corroia a córnea, conferindo a culpa ao colega. Diz que ambos os médicos se retiraram do recinto onde se encontrava a autora e, em particular, o médico colaborador assumiu o seu erro, mas consignou que a falha se devia a ambos. 6. Diz que foi informada de que teria tratamento e remédios gratuitos à conta do HUOL, todavia, no decorrer do tratamento, houve atrasos nos atendimentos e não houve acesso aos remédios. Alega, ainda, que parte de seu prontuário foi perdida. 7. Aduz que, mesmo despojada de condições financeiras, mediante grande esforço, deu continuidade ao tratamento com médico particular, que, tendo em vista a gravidade da situação, entendeu pela retirada do glóbulo ocular esquerdo, tendo colocado uma prótese adquirida junto ao I.N.P.S., que constantemente gerava incômodo, razão pela qual adquiriu nova prótese, com a qual seu organismo também não se adaptou, o que a faz, atualmente, permanecer de olho fechado dependendo do auxílio de familiares e amigos para realizar suas atividades cotidianas. 8. Acosta à inicial procuração e documentos às fls. 11/43. 9. Devidamente citada, a demandada oferta contestação às fls. 49/59, suscitando, em preliminar de mérito, a prescrição e, no mérito, afirma que o HUOL conta com centro cirúrgico com condições físicas e de higiene compatíveis com as recomendações dos órgãos responsáveis pela vigilância sanitária. Defende, ademais, a inexistência de nexo de causalidade entre atuação dos profissionais do HUOL e o dano sofrido pela autora. 10. Impugna, outrossim, o quantum requerido a título de indenização, por ultrapassar os limites da razoabilidade. 11. Junta documentos às fls. 61/84. 12. Instada a falar acerca da preliminar de mérito, a parte autora alega que, muito embora o dano tenha se iniciado em 1999, a extensão danosa culminou com a extirpação do globo ocular e prótese substitutiva apenas em 2005, quando os danos tornaram-se definitivamente patenteados. No mais, rebate a tese de inexistência de nexo causal entre a conduta da Ré e o dano suportado pela autora, ratificando os termos da inicial. 13. Designada a realização de audiência de instrução, a prova oral foi colhida às fls. 115/120. 14. Foi designada nova audiência de instrução, na qual foram colhidos os depoimentos de fls. 156/160 e, posteriormente, foi feita a oitiva de nova testemunha, conforme se verifica às fls. 165/167. 15. A parte autora apresentou, em audiência de instrução, razões finais reiterativas com pedido de antecipação de tutela a fim de que a UFRN seja compelida a custear cirurgia de evisceração com implante de esfera de Miller, com a máxima urgência, uma vez que o olho direito da demandante está em fase de comprometimento por conta da situação do olho já perdido. A UFRN, por sua vez, apresenta razões finais às fls. 172/180. 16. É o relatório. Passo a decidir. 17. Versa a presente demanda acerca de pretensão dirigida à obtenção de reparação por danos morais, em virtude da dor e sofrimento suportados pela Autora, que teve a perda da visão do olho esquerdo e atual comprometimento do glóbulo ocular direito, em razão de infecção hospitalar, adquirida em decorrência de conduta negligente imputada ao Hospital Universitário Onofre Lopes, no tocante à manutenção das condições de higiene adequadas no centro cirúrgico onde se realizou a cirurgia à qual se submeteu a Demandante. 18. O deslinde da presente questão reside em verificar-se a configuração de conduta negligente da Ré, no tocante à alegada ausência de condições de higiene no centro cirúrgico do HUOL, onde, em regime de mutirão, foram realizadas várias cirurgias de catarata, inclusive a da autora que, posteriormente, desenvolveu quadro infeccioso, culminando com a perda do glóbulo ocular esquerdo e, atualmente, na ameaça de desenvolver uveíte no olho direito. 19. Antes, porém, de adentrar no exame do mérito, urge analisar a preliminar de prescrição. 20. Não merece acolhimento a prefacial agitada na contestação, uma vez que, no caso, as consequências advindas da infecção hospitalar adquirida pela Demandante, quando se submeteu ao ato cirúrgico no HUOL, persistem até hoje, tanto é assim que a Autora, além de ter perdido o olho esquerdo, vê-se ameaçada de ter o direito comprometido em razão da doença anterior. 21. Destarte, rejeito a preliminar de prescrição e passo à apreciação do mérito. 22. Conforme se vislumbra da análise dos documentos acostados nestes autos, em especial do aviso de sinistro de pessoas, constante da fl. 22, elaborado no HUOL, resta comprovado que a Autora, de fato, apresentou infecção pós-operatória e quadro de endoftalmite, com perda de 100% (cem por cento) da acuidade visual, cuja causa apontada foi infecção hospitalar. 23. Corroborando as constatações acima narradas, verifica-se do depoimento da testemunha Isaac Mário de Aráujo, médico que realizou a cirurgia na Autora e que a acompanhou no pós-operatório, que o quadro de infecção apresentado pela Demandante, logo no primeiro curativo após a cirurgia, é mais propenso à conclusão de endoftalmite por infecção hospitalar. 24. Cumpre trazer à baila trechos do depoimento da testemunha supracitada, veja-se: "(...) Pelas informações da autora, o quadro de infecção que a acometeu foi dos mais agressivos, tanto que detectada já na troca do primeiro curativo. Esse quadro é mais propenso à conclusão de endoftalmite por infecção hospitalar." (Grifos acrescidos). 25. Ademais, verifica-se verdadeira contradição no que toca ao número de cirurgias realizadas no HUOL em regime de mutirão, na época dos acontecimentos narrados na exordial. 26. Ora, é de fundamental importância se aferir a quantidade de cirurgias que poderia o hospital realizar, sem que comprometesse as condições de higiene adequadas a um ambiente hospitalar saudável. 27. Observa-se que as testemunhas Carlos Alexandre de Amorim Garcia e Maria do Ó de Oliveira Ferreira apontam um número máximo de 10 (dez) cirurgias de catarata por dia, enquanto que a testemunha Isaac Mário de Araújo informou que fazia parte da rotina do hospital a realização de 6 (seis) cirurgias de catarata, por dia, mas, no total, somando-se cirurgias de diversas espécies, chegava-se ao número de 15 (quinze) cirurgias por dia, realizadas em duas salas. 28. Com efeito, a alegação da Autora, referentemente às condições de higiene do centro cirúrgico, afiguram-se legítimas, uma vez que, ao que tudo indica, a quantidade de cirurgias realizadas nas duas salas do centro cirúrgico destinadas à cirurgias oftalmológicas excedia o número de 10 (dez). 29. Ademais, a testemunha Izaac Mário de Aráujo, muito embora tenha declarado que o HUOL mantinha o padrão de qualidade nas salas de cirurgia à época dos fatos narrados na inicial, reconheceu que é possível que alguma falha de higienização do centro cirúrgico possa ter ocorrido, conforme se verifica à fl. 166. 30. Ressalte-se, ainda, que quanto às cirurgias realizadas em regime de mutirão em Hospital da UFRN, por se tratar de serviço prestado em instituição pública, vigoram os preceitos da Responsabilidade Objetiva do Estado, de sorte que, uma vez comprovada a ocorrência da infecção hospitalar adquirida no hospital em questão, as conseqüências dela advindas devem ser imputadas ao Estado, devendo este arcar com a justa indenização. 31. Nesse sentido, veja-se o entendimento exarado pelo e. Tribunal Regional Federal da 4ª Região: "CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO PODER PÚBLICO. HOSPITAL. CONTAMINAÇÃO E MORTE DE PACIENTE EM RAZÃO DA TRANSFUSÃO DO SANGUE. HIV. ART. 37, §6º, DA CF/88. 1. Realmente, in casu, restou comprovado o nexo de causalidade, para a responsabilidade objetiva dos réus em razão da contaminação e morte do paciente, incidindo, assim, o disposto no art. 37, § 6º, da CF/88. - Na doutrina, colhem-se os seguintes ensinamentos, verbis: "No plano da responsabilidade civil do Estado, refere Teresa Ancona Lopez que a responsabilidade pelos danos sofridos em hospitais públicos, bem como naqueles que têm convênio com o INSS, deverá ser informada pela teoria objetiva, pois se trata de responsabilidade de agente do Poder Público, a teor do art. 107 da Constituição de 1969: acórdão pioneiro, publicado na RF 89/178, datado de 16.9.41, estabeleceu a responsabilidade do Estado pela cegueira conseqüente de infecção adquirida por pessoa internada em hospital mantido pelo Estado."(YUSSEF SAID CAHALI, in Responsabilidade Civil do Estado, 2ª ed., Malheiros Editores, 1995, p. 327, nº 60: (...) - Outro não é o entendimento adotado pela jurisprudência, verbis: "Responsabilidade civil de hospital. Ato de enfermagem praticado por empregado seu (enfermeiro), em doente internado no estabelecimento, ocasionando perda parcial de membro superior. Efeitos. II. Na indenização inclui-se o dano moral (mutilação). (...)". (RE nº 73.788-GB, rel. Min. THOMPSON FLORES, in RTJ 62/255). - "Responsabilidade Civil - Infecção hospitalar. A obrigação médica não é evidentemente obrigação de resultado, o mesmo devendo ser dito da instituição hospitalar. Não se exige que assuma o dever de curar, de remediar todos os males, de vir a responder pela própria vida do paciente. Mas é evidente obrigação de meio de não abandonar o paciente, sequer sem assistência doméstica ou ambulatorial.: (TJSP, 8ª C., 3.3.88, rel. FONSECA TAVARES, verb. 38009, p. 218, in ADCOAS 1988). - "ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO. OPERAÇÃO CIRÚRGICA. ANESTESIA. ACIDENTE. CASO FORTUITO. NEXO DE CAUSALIDADE. I. É obrigação do Estado indenizar o dano resultante do ato lesivo que foi causador, se a vítima não concorreu para o dano. II. O caso fortuito nem sempre elide a responsabilidade do Estado, se existiu nexo causal entre o comportamento estatal e o dano. III. Responde o Estado pelo acidente ocorrido durante uma anestesia, em seus hospitais, ainda que não tenha o médico agido com negligência, imperícia ou imprudência, desde que tenha ocorrido nexo de causalidade entre o ato lesivo e o dano."(TRF da 1ª Região, AC nº 93.01.33571-9/GO, rel. Juiz TOURINHO NETO, in LEX 56/420). - "RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO - CEGUEIRA CONSEQUENTE A INFECÇÃO ADQUIRIDA EM HOSPITAL. O Estado responde pela cegueira conseqüente a infecção adquirida por pessoa internada em hospital por ele mantido. Fazenda do Estado versus Josina Lopes Ap. nº 13.239 - Relator: DESEMBARGADOR MÁRIO GUIMARÃES Ac. unânime da 2ª Câmara Civil do Trib. de Ap. de São Paulo, em 16 de setembro de 1941." (Revista Forense nº 89/178). - Ademais, não há que se falar, pois, nestes autos, em fato fortuito. Aliás, mesmo que se admitisse aqui tal indagação, ver-se-ia, segundo a melhor doutrina, que o fortuito é indiferente para a aferição da responsabilidade objetiva do Estado, quando, como é o caso em exame, se demonstra o mau funcionamento de seus serviços. - (...) 2. Apelação adesiva conhecida e parcialmente provida, negando-se provimento aos apelos dos réus e respectivas remessas de ofício." (TRF 4ª Região - Apelação Cível - Processo 200104010205619, Terceira Turma, Rel. Carlos Eduardo Thompson Flores Lens, j. 22/04/2003, DJ 07/05/2003) (Grifos acrescidos). 32. Passamos à análise do dano moral. Sabe-se que o dano moral é aquele que afeta a vítima em seus sentimentos, sua honra, sua moral, sua integridade física e mental, não sendo necessário que se demonstre prejuízo material para que se reconheça a existência desse tipo de dano. 33. No caso vertente, estão mais do que demonstrados o sofrimento, a dor e a angústia, pelos quais passou a Autora em decorrência, num primeiro momento, da perda do olho esquerdo e, posteriormente, pela notícia de que o olho direito poderá ser comprometido em decorrência da doença do olho perdido. 34. Configurado o dano moral, deve-se passar à análise da fixação do quantum indenizatório. Deve-se ter em mente a duplicidade de fins a que a indenização se presta, acolhendo a condição econômica da vítima, bem como a capacidade do agente que provocou o dano, conciliando assim ambas as finalidades, a de reparar a vítima e a de punir o infrator. 35. Dessa forma, a importância pleiteada pelo Autora, que tem por fim amenizar os sofrimentos e angústias que lhe afligiram em vida, não pode ser avaliada sem atentar para o princípio da proporcionalidade. Não se trata de apenas se atrelar ao elevado poder econômico de uma das partes, mas o que se almeja é o adequado valor que venha a compensar o lesado por todo o sofrimento moral sofrido. 36. A indenização por dano moral deve apresentar natureza de cunho indenizatório e sancionatório de maneira a equilibrar a dor e o constrangimento suportado pela Autora, sem que caracterize enriquecimento ilícito, devendo-se estar adstrita ao princípio da razoabilidade. 37. A doutrina e a jurisprudência são pacíficas em afirmar que, quanto a esse tipo de dano, vale o arbitramento do juiz, que, levando em consideração as circunstâncias do caso concreto, arbitra o valor da reparação, o qual não deve ser nem tão grande que sirva de enriquecimento para o ofendido, nem tão pequeno que não gere no ofensor maior responsabilidade. Neste ponto, ressalte-se que o valor da indenização deve ser proporcional ao prejuízo, arbitrado pelo juiz. Ora, o dano moral não pode ser objetivamente quantificado, daí porque não há fórmula a ser seguida para se chegar ao montante indenizatório. 38. Sendo assim, levando em consideração a negligência da Demandada, o sofrimento, dor e angústias experimentados pela vítima, que padeceu com a perda da visão do olho esquerdo e, como reflexo, corre o risco de desenvolver uveíte no olho direito, e o caráter de reprovação da indenização, para que a Ré atente para que não se repitam atos da mesma natureza, observando seu dever de cuidado, fixo a indenização em R$ 100.000,00 (cem mil reais). 39. Cumpre analisar, ainda, o pleito de antecipação de tutela, mediante o qual a parte autora busca que seja a Ré compelida a custear procedimento cirúrgico de evisceração com implante de esfera de Miller, no olho esquerdo, tendo em vista que o olho direito está em fase de comprometimento em razão da doença do olho perdido. 40. Instada a se manifestar acerca do pleito de antecipação, a parte ré rebate o requisito do perigo da demora, ao argumento de que o documento de fls. 168 não registra urgência quanto à necessidade de realização do ato cirúrgico e, ademais, porque a Autora, conforme registros do HUOL, no ano de 2001, não se submeteu a tal procedimento, desejando fazê-lo somente em 2002, por motivos particulares. 41. Na hipótese em foco, os requisitos a tanto indispensáveis à concessão da almejada tutela de urgência encontram-se presentes no que concerne à necessidade de a Demandante se submeter a procedimento cirúrgico de evisceração em olho esquerdo com implante de prótese interna (esfera de Miller), tendo em vista que o olho esquerdo apresenta reações inflamatórias que podem gerar quadro de uveíte simpática no olho direito. 42. Muito embora a Universidade Federal do Rio Grande do Norte disponha de Hospital escola, apto a realizar tal intervenção cirúrgica, é natural que a Autora, após os infortúnios e sofrimentos advindos da primeira cirurgia realizada naquela instituição de saúde, que resultaram na perda de sua visão esquerda, não queira e, mesmo não possa, em virtude do imenso receio de que novamente adquira infecção hospitalar ou outras complicações advindas do procedimento cirúrgico, submeter-se a nova cirurgia no mesmo local. 43. Cuida-se de hipótese em que a dignidade da pessoa humana deverá sobrelevar a quaisquer outros interesses, prestigiando-se o direito de a Postulante receber o tratamento mais adequado ao resgate de sua saúde ou, como no caso concreto, de amenizar as perdas já ocorridas, preservando o órgão que ainda está intacto e que é sua única fonte de visão. 44. O perigo da demora reside no fato de que a autora, em razão de quadro infeccioso anterior, perdeu por completo a visão do olho esquerdo e, agora, vê-se ameaçada de ter a visão do olho direito comprometida, o que lhe acarretaria prejuízos de dimensão incomensurável. 45. Ademais, a circunstância de a Demandante ter adiado a realização de tal procedimento ainda no ano de 2001, não implica o fato de que, na atual conjuntura, este seja prescindível, tanto é assim, que há prescrição médica explicitando os motivos da necessidade da cirurgia. 46. Dessa forma, defiro o pedido de antecipação de tutela, para determinar que a UFRN arque com os custos do procedimento cirúrgico de evisceração no olho esquerdo da autora, com implante de prótese interna (esfera de Miller), no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), conforme orçamento acostado à fl. 169 dos autos, devendo o depósito de tal quantia ser feito no prazo de 5 (cinco) dias. 47. Diante do exposto, julgo procedente o pedido, confirmando os efeitos da antecipação de tutela acima concedida, condenando a UFRN no pagamento à Autora, a título de indenização por danos morais, da importância de R$ 100.000,00 (cem mil reais), os quais deverão sofrer a incidência de juros moratórios (à razão de 1% ao mês) e correção monetária (na forma do Manual de Procedimentos para os cálculos da Justiça Federal) que deverão incidir a partir da ocorrência do evento danoso. 48. Condeno ainda a UFRN a arcar com os honorários advocatícios, no valor de 10% (dez por cento) da condenação. 49. Sentença sujeita ao duplo grau de jurisdição, ex vi do disposto no art. 475, do Código de processo Civil. 50. Oficie-se à UFRN para que, no prazo de 5 (cinco) dias, dê inteiro cumprimento à decisão que antecipou os efeitos da tutela. 51. P.R.I. Natal/RN, 23 de junho de 2009. MAGNUS AUGUSTO COSTA DELGADO Juiz Federal da 1ª Vara do Rio Grande do Norte. A presente sentença,do tipo A, foi registrada sob o nº __________________________ do Livro de Registros Virtual do ano de 2009. Natal/RN, ____ de _________ de 2009. ______________________________ Responsável 8