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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 7ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0702493-07.2018.8.07.0001


APELANTE(S) MAIRA ROSA CORDEIRO MARQUES
PRIME ASSESSORIA E SERVICOS LTDA - EPP e MARINA RABELLO
APELADO(S)
JARDIM
Relator Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA

Acórdão Nº 1212084

EMENTA

CONSUMIDOR E CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. PRELIMINAR


DE CERCEAMENTO DE DEFESA. REJEIÇÃO. CIRURGIA PLÁSTICA. RINOPLASTIA.
FINALIDADE ESTÉTICA. OBSTRUÇÃO NASAL. COMPLICAÇÃO PREVISTA NO TERMO
DE CONSENTIMENTO. DANOS MORAIS E MATERIAIS. NÃO CONFIGURAÇÃO.

1. Não há cerceamento de defesa quando o julgador entende desnecessária a produção de prova


testemunhal, mormente quando já existentes nos autos documentos suficientes ao desate da lide.

2. A responsabilidade civil do médico em cirurgia plástica de finalidade meramente estética é de


resultado.

3. Atingida a finalidade estética e, ainda, tendo a paciente consentido com a possibilidade de


complicações, decorrentes de problemas prexistentes de ordem funcional (desvio de septo), não há que
se falar em má prestação do serviço.

4. Recurso não provido.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 7ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - Relator, GISLENE PINHEIRO - 1º
Vogal e FÁBIO EDUARDO MARQUES - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora
LEILA ARLANCH, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. PRELIMINAR REJEITADA.
IMPROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 23 de Outubro de 2019

Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA


Relator

RELATÓRIO

Adoto o relatório da r. sentença (ID 10719730):

“MAIRA ROSA CORDEIRO MARQUES, qualificada nos autos, propôs esta ação de indenização por
danos materiais, morais e estéticos contra PRIME ASSESSORIA E SERVIÇOS LTDA ME e MARINA
RABELLO JARDIM, também qualificados.

Alega a requerente, em apertada síntese, que, em outubro de 2016, por indicação de uma amiga,
procurou a primeira ré, a fim de realizar um procedimento denominado rinoplastia, tendo sido
atendida pela segunda ré. Acrescenta que, no dia da consulta, queixou-se à segunda ré que seu nariz
costumeiramente ficava obstruído e que, por isso, não gostaria que seu nariz fosse demasiadamente
reduzido. A médica, nesse contexto, entendeu que seria necessária a diminuição do tamanho, a
diminuição da ponta e giba e o conserto do desvio, apenas na ponta. Acertou-se o preço da cirurgia
em R$ 8.900,00. Como providência prévia à cirurgia, foram realizados exames pré operatórios.

Acresce que o contrato de prestação de serviços entre as partes foi assinado em 07 de dezembro de
2016, e a cirurgia foi realizada em 15 de dezembro de 2016, não se registrando intercorrências dignas
de nota durante o ato. Ocorre que, cinco dias após a cirurgia, a autora relatou à primeira ré que seu
nariz apresentava dores e, em razão disso, marcou consulta com a segunda ré, que, na ocasião, retirou
a tala e o gesso, informando à autora que não era normal que o nariz apresentasse dores.

Mesmo assim, informa que consultou a ré mais quatro ou cinco vezes, sempre deixando clara a sua
insatisfação com o resultado da cirurgia e que o nariz continuava obstruído, sentindo a autora
dificuldades para respirar e sentir cheiros.

Concluiu que, dos procedimentos contratados, a segunda ré realizou apenas a diminuição da giba, e
mesmo assim a autora reputa que o procedimento foi mal feito, pois não foram suprimidas as
ondulações e a redução não foi suficiente, tanto assim que permanecia com dificuldade para respirar e
sem olfato. Tornou a consultar-se com a segunda ré, a qual afirmou que tentaria "mexer" na ponta do
nariz da autora, mas não poderia garantir o resultado. Diante disso, consultou outros médicos de sua
confiança, os quais informaram à autora que a intervenção cirúrgica a que se submeteu a autora não
poderia ter ocorrido sem a prévia realização de exames de imagem, que não foram requisitados à
autora.

A autora, então, realizou tais exames e foram constatadas alterações significativas no nariz da
requerente, como um desvio de septo nasal para a direita obstrutivo, além de uma lesão polipoide em
meato médio na narina esquerda, e hipertrofia dos cornetos nasais inferiores, o que, no entender da
autora, explicaria a falta de olfato e demonstra a imprudência da segunda requerida em realizar a
cirurgia sem previamente analisar os exames de imagem.

Esclarece que, nos termos de laudo médico que acompanha a inicial, seria necessária uma nova
intervenção cirúrgica para correção e melhoria da capacidade respiratória. Diante disso, tornou à
clínica ré, e o sócio proprietário, Dr. Bernardo, disse que havia conversado com a segunda ré, a qual
estaria disposta a arcar os honorários de outro médico de confiança da autora, mas esta deveria arcar
com as despesas de anestesia, anestesista e hospital, com o que não concordou a autora. Ainda
segundo a autora, Dr. Bernardo ficou de conversar com a segunda ré acerca do caso, mas até a data
da propositura da demanda, não havia recebido resposta.

Segura de que está configurado o dano, consubstanciado em dificuldade respiratória, perda do olfato
e defeito estético, tudo decorrente da imprudência e da negligência das rés em realizar intervenção
cirúrgica sem antes analisar exames de imagem, a autora entende presentes os requisitos da
responsabilização civil das rés, que entende ser solidária e objetiva. Alega, ainda, a ocorrência de
dano de natureza moral, decorrente dos mesmos fatos, além de danos emergentes, consistentes nos
valores já despendidos com a cirurgia mal sucedida, além daqueles necessários à realização de nova
intervenção.

Pugna pela inversão do ônus da prova e pede a prestação de tutela de urgência, para que fossem as
rés compelidas a arcar, imediatamente, com os custos de nova cirurgia, a fim de corrigir o resultado
da intervenção anterior, realizada pelas rés.

Quanto ao mérito, enfim, pede a condenação das rés ao pagamento de indenização por danos estéticos
e morais no valor estimado de R$ 30.000,00, indenização pelos danos emergentes no valor de R$
8.900,00, indenização por danos materiais no valor de R$ 13.959,16, além da condenação aos ônus
que da sucumbência decorrem.

Com a inicial, vieram documentos.

Deferida a gratuidade judiciária em favor da autora (13226265), determinou-se a emenda à petição


inicial para discriminar os valores pretendidos a título de compensação por dano moral e estético.

Petição de ID 14015802, excluindo do pedido a indenização pelo dano estético e mantendo, no mais,
os termos da inicial originária.

Decisão de ID 14041999 indeferiu a tutela provisória de urgência e determinou a citação das rés.

A autora comunicou, ao ID 14534504, a interposição de agravo de instrumento contra a decisão que


indeferiu a tutela de urgência. A decisão foi mantida por este Juízo (14568750), e o E. TJDFT não
concedeu efeito suspensivo ao recurso de agravo (15199873).

As rés foram citadas pessoalmente (16124301) e, durante a audiência de conciliação designada nos
termos do artigo 334, do CPC, não foi possível obter a conciliação (16660369), abrindo-se o prazo
para defesa.

A primeira ré ofertou defesa tempestiva (16796052), com questão preliminar de ilegitimidade passiva,
ao argumento de que agiu apenas como prestadora de assessoramento administrativo e, além disso,
não emprestou qualquer cota de causalidade ao dano alegado na petição inicial, tendo, ao revés,
cumprido devidamente com suas obrigações exclusivas de prestadora de assessoramento
administrativo.

Quanto ao mérito, sustenta que a autora dirigiu-se às dependências da requerida e solicitou a


realização de procedimento cirúrgico que remodelasse seu nariz com fins puramente estéticos,
reduzindo suas dimensões, e jamais declarou que seria portadora de desvio de septo nem queixou-se
de dificuldades para respirar. Conclui, assim, que a autora contratou um procedimento de rinoplastia,
mas queria os benefícios de uma rinosseptoplastia, que não foi contratada e, por isso, não poderia ter
sido realizada. Afirma que agiu na estrita medida do que foi contratado e não lhe pode ser exigida
prestação diversa, pois a autora anuiu expressamente com o procedimento contratado.

Prossegue informando que, após a devida realização do procedimento, e diante da insatisfação da


autora com o resultado obtido, foi garantida a realização de "cirurgia de retoque" prevista
contratualmente, inclusive com outro profissional, mas a autora recusou-se terminantemente a tanto,
de modo que, em seu entender, agiu a autora de forma determinante para impedir qualquer chance de
negociação.

Acrescenta que não restou evidenciada qualquer ligação de causalidade entre conduta imputável à
contestante e os danos alegados na inicial, refuta a ocorrência de dano moral, pois as fotos que
acompanham a inicial demonstram que não houve diminuição exagerada das dimensões do nariz da
autora. Por eventualidade, impugna o valor pretendido a título de danos morais, alegando que se trata
de quantia excessiva, diante dos fatos narrados. Salienta que o pedido de indenização por danos
emergentes foi direcionado exclusivamente à segunda ré, que não há documentos comprobatórios do
valor da cirurgia de rinosseptoplastia pleiteado a título de danos materiais e impugna tal valor.

Pede, assim, o acolhimento da questão preliminar de ilegitimidade passiva e, caso rejeitada, que
sejam declarados improcedentes os pedidos formulados na peça de ingresso.

A segunda requerida também apresenta contestação tempestiva (17112143), solicitando a tramitação


do feito em regime de segredo de justiça, uma vez que junta aos autos prontuários médicos da auto

Não foram alegadas questões preliminares.

No que concerne ao mérito, a segunda ré afirma que agiu dentro da técnica médica aplicável ao caso,
tendo realizado consulta com a autora, a fim de avaliar seu caso e, então, indicou a realização de
rinoplastia clássica estética, que ocorreu segundo o plano cirúrgico formulado, sem que tenha sido
abordado o septo propriamente dito, a fim de evitar excesso de manobras que poderiam prejudicar as
funções nasais.

Esclarece que a cirurgia ocorreu conforme o planejado, sem intercorrências de qualquer tipo. Foram
prescritos medicamentos para o período pós operatório, a fim de mitigar a dor e o desconforto
esperados em tal tipo de intervenção. Diante de reclamação da autora de que sentia dores na área
operada, a contestante a atendeu, examinou e constatou que não havia nenhum indicativo capaz de
justificar uma nova intervenção emergencial, tendo a evolução pós operatória, ao revés, ocorrido de
forma exemplar e satisfatória.

Afirma que, persistindo as reclamações da autora, esclareceu-a de que nada poderia ser feito naquele
momento, pois é clinicamente recomendável que se aguarde entre seis meses a um ano para que seja
feita nova intervenção cirúrgica, sendo de notar que até mesmo as alegadas disfunções respiratórias
poderiam normalizar após tal prazo, em que ocorre a cicatrização e desinchamento da área operada.
Acresce haver deixado sempre claro que, após o prazo clinicamente recomendado de resguardo,
estaria disponível para realizar os retoques desejados pela autora, sem cobrança de honorários
médicos, ficando esclarecido, ainda, que a questão relativa à hipertrofia de cornetos deveria ser
tratada clínica ou cirurgicamente com médico otorrinolaringologista.

Conclui, assim, que sempre atendeu à autora de forma tempestiva e adequada, e sempre esteve à sua
disposição para operá-la novamente, caso necessário e, portanto, jamais agiu com culpa em qualquer
grau, não tendo obrado com negligência, imprudência ou imperícia. Além disso, refuta a ocorrência
de dano e também o nexo de causalidade entre qualquer conduta sua e o dano supostamente sofrido.

Acrescenta ser profissional plenamente habilitada para realizar os procedimentos contratados, rejeita
a possibilidade de inversão do ônus da prova, refuta a ocorrência de dano material, tendo em vista o
proveito da cirurgia realizada, bem como em razão de não ser necessária a realização de nova
cirurgia, reiterando que se dispõe a realizar eventual cirurgia de retoque, caso necessária.

Rejeita a ocorrência de dano moral, pois a autora sempre esteve ciente dos limites da intervenção
contratada e, por eventualidade, impugna o valor pretendido como reparação a esse título, que
entende exagerado.
Pede a improcedência dos pedidos inicialmente formulados.

Veio réplica (18661701).

Manifestou-se a autora (19331546), pugnando pela realização de prova pericial e testemunhal.

A segunda ré pediu a produção de prova pericial (19433187), enquanto a primeira ré informou não ter
outras provas a produzir (19476400).

Deferiu-se a realização de prova pericial, nomeando-se "expert" para tal fim.

Laudo pericial de ID 32961208, sobre o qual manifestaram-se as partes.

Os autos vieram à conclusão para sentença.

É o relatório.”

Sobreveio dispositivo com o seguinte teor:

“Diante do exposto, e bem considerando tudo o mais que dos autos consta, com apreciação do mérito,
JULGO IMPROCEDENTES os pedidos formulados na petição inicial.

Em razão da sucumbência, condeno a parte autora ao pagamento das custas e despesas do processo,
bem como honorários advocatícios em reembolso, estes ora arbitrados em 15% (quinze por cento)
sobre o valor atribuído à causa, tendo em vista a sua complexidade, a demandar a produção de prova
técnica. No entanto, diante da gratuidade de Justiça concedida em favor da autora (13226265), fica
suspensa a exigibilidade das verbas que da sucumbência decorrem, nos termos do que dispõe o artigo
98, §§ 2º e 3º, do CPC.

Sentença publicada e registrada eletronicamente. Após o trânsito em julgado, se nada mais for
requerido, arquivem-se com as cautelas de estilo.”

Houve oposição de Embargos de Declaração pela Autora, os quais foram desprovidos (ID 10719739).

Irresignada, MAÍRA ROSA CORDEIRO MARQUES interpôs recurso de Apelação.

Em suas razões recursais, argúi preliminar de cerceamento de defesa, sob o fundamento de que deduziu
pedido de produção de prova pericial e testemunhal, mas que somente a prova pericial foi deferida; que
os pedidos foram julgados improcedentes por ausência de prova quanto aos argumentos autorais. Pede
a cassação da sentença.

No mérito, ressalta que a r. sentença se pautou, única e exclusivamente, no entendimento equivocado


de que a autora/apelante pleiteava uma cirurgia reparadora (e não estética) e que não realizou a cirurgia
de “retoque” por sua própria vontade, não havendo, portanto, que se falar em danos materiais.
Aduz que não alegou na petição inicial haver contratado uma cirurgia que não fosse estética; que
relatou que as rés foram indicadas por uma amiga para a realização de uma rinoplastia (cirurgia estética
no nariz) e que no item 2.1, a autora relatou os procedimentos acertados entre as partes, que foram a
diminuição do tamanho do nariz, a diminuição da ponta do nariz e da giba; e o conserto do desvio na
ponta do nariz.

Afirma que destacou na petição inicial, no item 2.9, que seu maior incomodo não é o dano estético,
mas o dano ocasionado à sua saúde pela dificuldade respiratória adquirida e a perda de olfato; que
apresentou orçamento às Rés para a realização de uma cirurgia corretiva, reparadora
(rinosseptoplastia), para fins de restabelecer as funções respiratórias normais e aumento proporcional
do nariz.

Destaca que, após a realização da cirurgia, começou a ter dificuldades respiratórias e perda do olfato,
momento em que procurou os Apelados e outros médicos para relatar suas novas queixas de descobrir
o que havia acontecido; que os laudos e exames apontam que há “desvio de septo nasal com obstrução
nasal importante e irregularidade do dorso nasal”, lesão polipóide em meato médio na narina esquerda
e hipertrofia dos cornetos nasais, o que explicaria a perda do olfato; que, antes da cirurgia estética, não
sofria com doença respiratória; que a segunda Ré, em exame realizado a olho nu, constatou que a
Apelante tinha um desvio de septo na narina direita que, após a cirurgia, piorou consideravelmente,
transformando-se em desvio de septo obstrutivo.

Enfatiza que não houve a devida perícia por parte dos Réus; que é dever do médico informar ao
paciente não só o procedimento realizado, mas também as opções de procedimentos, as possíveis
complicações; que ao houve nenhum pedido de exame de imagem, não houve informação quanto a
outros procedimentos que poderiam se adequar melhor ao caso.

Aponta que o perito destacou no Laudo a piora do seu quadro funcional e a falta de informações, pois
não constou no prontuário os dados mínimos do procedimento realizado e qual cirurgia havia sido
realmente indicada à Apelante; que o Perito Judicial, como médico, ressalta a ausência de informações
e a existência de anotações dúbias, realizadas em um documento imprescindível e importante na área
médica que é o prontuário do paciente; que não há informações dos procedimentos realizados durante a
cirurgia, havendo, inclusive, termo ilegível; que o Perito teve dúvidas de qual foi a cirurgia indicada à
Apelante, razão pela qual o MM. Juízo a quo não tem como concluir que a cirurgia foi meramente
estética.

Sustenta que, comprovadas as lesões sofridas, devem ser julgados procedentes os pedidos de
indenização por danos morais e materiais.

Pede o provimento do recurso para reformar a r. sentença e julgar procedentes os pedidos autorais.

Preparo dispensado, uma vez que a Autora é beneficiária da gratuidade de justiça (ID 10719593).

Contrarrazões apresentadas (ID 10719745 e 10719747).

É o relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - Relator


Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso interposto.

Trata-se de Apelação Cível interposto por MAÍRA ROSA CORDEIRO MARQUES em face da r.
sentença proferida pelo MM. Juízo da Décima Sétima Vara Cível de Brasília que, nos autos de Ação
de Indenização ajuizada contra PRIME ASSESSORIA E SERVIÇOS LTDA. e MARINA RABELLO
JARDIM, julgou improcedentes os pedidos autorais.

Conforme relatado, em suas razões recursais, a Autora/Apelante argúi preliminar de cerceamento de


defesa e, no mérito, em síntese, alega que seu maior incomodo é o dano ocasionado à sua saúde pela
dificuldade respiratória adquirida e a perda de olfato; que os laudos e exames apontam que há “desvio
de septo nasal com obstrução nasal importante e irregularidade do dorso nasal”, lesão polipóide em
meato médio na narina esquerda e hipertrofia dos cornetos nasais, o que explicaria a perda do olfato;
que, antes da cirurgia estética, não sofria com doença respiratória; que não houve a devida perícia por
parte dos Réus; que o Perito destacou a piora do seu quadro funcional e a falta de informações, pois
não constou no prontuário os dados mínimos do procedimento realizado e qual cirurgia havia sido
realmente indicada.

Pede o provimento do recurso para reformar a r. sentença e julgar procedentes os pedidos autorais.

- Da preliminar de cerceamento de defesa

A Autora/Apelante argúi preliminar de cerceamento de defesa, sob o fundamento de que deduziu


pedido de produção de prova pericial e testemunhal, mas que somente a prova pericial foi deferida;
que os pedidos foram julgados improcedentes por ausência de prova quanto aos argumentos autorais;
que a audiência de instrução poderia ter sido esclarecedora. Pede a cassação da sentença.

Em que pese as razões da Apelante, é imperioso destacar que o magistrado é o destinatário da


instrução probatória e cabe a ele aferir a necessidade de outros elementos para julgar, em consonância
com o disposto no art. 370 do Código de Processo Civil.

No presente caso, verifico ser dispensável a produção da prova testemunhal pretendida, pois seria
irrelevante para o deslinde da controvérsia, o que levou o magistrado a proceder com o julgamento de
mérito.

Acrescento, ainda, que a improcedência dos pedidos autorais não se deu por falta de provas do direito
alegado mas, em tese, em virtude do conjunto probatório dos autos levar a entendimento diverso
daquele defendido pela autora.

Quanto ao tema, assim já se posicionou esta Corte:

APELAÇÃO CÍVEL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE CUMULADA COM INDENIZAÇÃO. PREJUÍZO


NÃO DEMONSTRADO. IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS. SENTENÇA MANTIDA.

1. Rejeita-se a preliminar de cerceamento de defesa se a prova testemunhal requerida é desnecessária


para o julgamento.

2. Somente há falar em perdas e danos diante de relação de causa e efeito inteiramente demonstrada
e comprovada pela parte a quem a prestação exigida aproveita, o que não ocorreu.

3. Apessoa jurídica pode sofrer dano moral (Súmula 227/STJ), mas, para a configuração,
imprescindível lesão à honra objetiva.
4. Apelação conhecida em parte e, nesta parcela, não provida.

(TJDFT - 00209884220158070003, Relator FÁBIO EDUARDO MARQUES, 7ª Turma Cível, Data


de Julgamento: 21/08/2019, Publicado no DJE: 29/08/2019)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DESPEJO CUMULADA COM COBRAÇA DE ALUGUEIS.


AUDIÊNCIA. INTIMAÇÃO PESSOAL DA PARTE. DESNECESSIDADE. INTIMAÇÃO DOS
PATRONOS. SUFICIENTE. REQUERIMENTO DE PRODUÇÃO DE PROVA TESTEMUNHAL.
INDEFERIMENTO. PROVA DESNECESSÁRIA. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO
CONFIGURADO.

1. Não há nulidade em audiência realizada, quando a parte, ainda que não tenha sido intimado
pessoalmente, for intimada deste ato processual por meio de seus patronos, ainda mais quando estes
participam da referida audiência. 1.1. No caso dos autos, a Defensoria Pública, em momento algum,
utilizou-se de sua faculdade de solicitar intimação pessoal da parte nos termos do art. 186, § 2°, do
Código de Processo Civil, sendo, portanto, válida e suficiente a intimação do patrono realizada nos
autos.

2. É cabível o julgamento antecipado da lide, sem que haja produção de prova testemunhal requerida
pela parte autora, quando a prova testemunhal for desnecessária, segundo o parágrafo único do art.
370, do Código de Processo Civil.

3. Aprova testemunhal, por si só, é insuficiente para comprovação de pagamento dos encargos da
locação, nos termos do art. 22, inc. VI, da Lei 8.245/91 e art. 319 do CC, cabendo ao pagador a
comprovação por meio de recibo ou outro comprovante legítimo.

4. Recurso conhecido e desprovido.

(TJDFT - 07055858120188070004, Relatora GISLENE PINHEIRO, 7ª Turma Cível, Data de


Julgamento: 14/08/2019, Publicado no DJE: 16/08/2019)

Rejeito, pois, a preliminar.

- Do mérito

A Autora contratou com as Rés a prestação de serviços para realização de cirurgia plástica de
rinoplastia, ocorrida no dia 16/12/2016 (ID 10719571), com as seguintes finalidades: (i) diminuição
do tamanho; (ii) diminuição da ponta e da giba; (iii) conserto de desvio na ponta.

Após realizado o procedimento cirúrgico, a Autora/Apelante se insurgiu quanto ao serviço prestado,


ao argumento de que lhe ocasionou dano à saúde, em razão de dificuldade respiratória adquirida e pela
perda de olfato, queixas que não havia antes da cirurgia; que os laudos e exames apontam que há
“desvio de septo nasal com obstrução nasal importante e irregularidade do dorso nasal”, lesão
polipóide em meato médio na narina esquerda e hipertrofia dos cornetos nasais, o que explicaria a
perda do olfato; que não houve a devida perícia por parte dos Réus; que o Perito destacou a piora do
seu quadro funcional e a falta de informações, pois não constou no prontuário os dados mínimos do
procedimento realizado e qual cirurgia havia sido realmente indicada; que deve ser realizado novo
procedimento, para correção do dano, com aumento proporcional do nariz.

Ao julgar a causa, o MM. Juízo a quo entendeu o seguinte:

“Embora tenha sido instalada controvérsia nos autos a respeito da natureza da intervenção cirúrgica
contratada, a atenta análise do conjunto probatório colacionado demonstra com segurança que a
cirurgia teve propósito meramente estético, sendo certo que a autora, diversamente do que alegou na
inicial, não buscava nenhuma melhoria funcional ao submeter-se ao procedimento.

Nesse sentido, o laudo pericial de ID 32961208 foi categórico ao afirmar que a própria autora
"relatou que queria correção do tamanho de nariz (achava grande), giba nasal (dorso) e correção da
ponta do nariz, que era desviada. Falou que não tinha qualquer queixa respiratória, que respirava
bem e que nunca teve episódios de rinite, sinusite ou outras doenças nasais" (parênteses constantes
do original).

Convém registrar que a autora, após ter tido vista do laudo, não impugnou especificamente esse
relato (33297341) e, ao revés, manifestou expressa concordância com o quanto foi trazido pelo expert
judicial.

Ora, se assim é, e considerando que não havia prévia queixa respiratória, não comparece como
razoável a versão da autora de que tivesse contratado cirurgia com propósito também funcional,
sendo de se considerar que a cirurgia contratada teve, então, propósito meramente estético.

Fixada esta premissa, cumpre avaliar se a segunda requerida, de algum modo, obrou com
negligência, imprudência ou imperícia de modo a causar algum dano à autora.

E a resposta, também aqui, é negativa.

A conclusão obtida pela perícia oficial, especialmente no item "conclusão" é de que "a cirugia de
rinoplastia realizada na pericianda trouxe melhora estética" (ID 32961208), o que também é possível
concluir "ictu occuli" a partir do cotejo entre as fotografias do pré operatório (17112267) e do pós
operatório (17112241), nas quais se percebe de forma clara que houve redução do nariz da paciente
e correção da ondulação do dorso nasal, sem nenhuma sequela, marca ou piora estética apreciável.

Evidentemente que, em cirurgias do tipo, pode o paciente ficar insatisfeito com o resultado obtido, o
que é absolutamente natural e razoável, até porque a modificação fisionômica tem implicações sobre
a própria identidade e autopercepção do indivíduo. Para o caso, o contrato entre as partes celebrado
já previa, inclusive, a possibilidade de realizar-se uma cirurgia de "retoque" (ID 13216442, cláusula
14ª), que, no entanto, não foi exercida pela autora.

A tese esgrimida na inicial, segundo a qual deveriam ter sido exigidos exames de imagem
previamente à intervenção, também não se sustentou diante da prova pericial produzida, a qual
afirma textualmente que "Em relação a exames complementares, estes podem ser solicitados, mas não
são obrigatórios, podendo o exame físico já demonstrar o que precisa ser realizado" (32961208). E,
conforme visto, não tendo a autora relatado qualquer dificuldade respiratória prévia, não há como
concluir que qualquer das rés tenha agido de forma negligente ou imprudente ao deixar de solicitar
tais exames.

Conforme também dessai da prova técnica, a dificuldade respiratória experimentada pela autora
provavelmente decorre de um desvio de septo que já apresentava antes da cirurgia, que pode ser
corrigido cirurgicamente sem prejuízo do serviço já prestado pelas rés. E nem se diga que a cirurgiã,
ao realizar a intervenção, estaria obrigada à correção do septo, pois também restou esclarecido que
"mesmo que haja queixas obstrutivas (funcionais), não é obrigatória a sua abordagem em
procedimentos puramente estéticos, assim como em cirurgias para abordagem e melhora da
respiração o cirurgião não tem necessariamente de melhorar o aspecto estético" (32961208).

Anoto, em remate, que, nos termos do documento de ID 13218791, termo de consentimento trazido
pela própria autora, uma das complicações possíveis após o ato cirúrgico era a ocorrência de
obstrução respiratória, razão pela qual não é possível reconhecer que se trate de uma circunstância
imprevista ou decorrente de qualquer conduta imputável às requeridas.

Nestas condições, a cirurgia realizada foi efetivamente aproveitada pela autora, não havendo
necessidade de seu refazimento compulsório, uma vez que há previsão contratual para a realização
de retoques, os quais, nos termos do laudo produzido, são muitas vezes decorrência natural da
própria intervenção. Assim, não há falar na ocorrência do dano material alegado na inicial, cuja
ocorrência rejeito.

De tudo se conclui, enfim, que as partes contrataram uma cirurgia de cunho eminentemente estético,
a qual foi precedida dos cuidados técnicos devidos e transcorreu sem intercorrências, não restando
comprovada a prática de condutas não preconizadas pela técnica científica, razões pelas quais não
há como imputar qualquer carga de causalidade entre a conduta das rés e os danos alegadamente
experimentados pela autora. Ainda, não há falar em dano estético apreciável e o dano funcional
relatado na inicial, a teor da prova produzida, ou era preexistente ao ato cirúrgico e não precisava
necessariamente ser corrigido ou se tratou de consequência previsível, conforme termo de
consentimento informado que acompanha a inicial.”

Entendo que a r. sentença deve ser mantida.

Não há dúvidas nos autos de que a cirurgia contratada pela Autora/Apelante foi de finalidade
meramente estética e não reparadora, tal como se infere da petição inicial. Portanto, esse fato é
incontroverso.

A par dessa premissa, é necessário avaliar se as reclamações feitas pela parte Autora são de
responsabilidade das Rés e se ensejam reparação.

Para tanto, inicialmente, destaco que o Perito, ao analisar o aspecto estético da cirurgia, consignou que
“é possível dizer que houve melhora expressiva do ponto de vista estético quando se analisa as
fotografias presentes nos documentos 17112241 e 17112267 e aquelas tiradas durante a perícia.”,
para concluir que “A cirurgia de rinoplastia realizada na periciada trouxe melhora estética.” (ID
10719714 – Pág. 5).

Mais adiante, acerca das alegações da Autora de que a médica Ré deveria ter solicitado exames
adicionais, o Perito registrou que “em relação a exames complementares, estes podem ser solicitados,
mas não são obrigatórios, podendo o exame físico já demonstrar o que precisa ser realizado.”

O Perito também fez considerações no sentido de que, mesmo havendo prévia queixa de obstrução
nasal, a cirurgia estética não envolve, necessariamente, a abordagem desse aspecto funcional. Observe
o trecho

“Assim, mesmo que haja queixas obstrutivas (funcionais), não é obrigatório sua abordagem em
procedimentos puramente estéticos, assim como em cirurgias para abordagem e melhora da
respiração o cirurgião não tem necessariamente de abordar ou melhorar o aspecto estético.” (ID
10719714 – Pág. 4)

Extrai-se daí que o expert consignou em seu laudo técnico que a cirurgia de finalidade estética é
diferente daquela que tem o objetivo específico de correção de falha funcional na via respiratória.

Ainda, ao responder ao quesito nº 2.5, o Perito deixa claro que, antes da cirurgia, a Autora/Apelante já
possuía desvio de septo, para a direita (ID 10719714 – Pág. 8) e, ao responder ao quesito 6, menciona
que o agravamento desse quadro é uma das complicações da rinoplastia (ID 10719714 – Pág. 6), “
conforme descrito no termo de consentimento informado” (ID 10718584 – Pág. 3).

Ainda em relação ao referido termo, é relevante ponderar que, em relação ao descontentamento


estético da Autora/Apelante, foi facultado a ela realizar cirurgia de reparo:

“Declaro que a mim foi informado que toda e qualquer cirurgia plástica, eventualmente, necessita de
procedimentos ou cirurgias complementares, por alguns chamados de retoque, de maior ou menor
porte para obtenção de um melhor resultado possível, isto acontece independentemente dos cuidados,
esforços e perícia dos profissionais responsáveis envolvidos [...]”

Diante desse cenário, o que se percebe é que a obrigação de resultado do profissional, no que diz
respeito à cirurgia contratada, de cunho estético, foi atendida, ante a comprovada melhora da
aparência do nariz, tendo sido facultado à paciente a realização de cirurgia para retoque, acaso fosse
de seu interesse.

Em relação ao quadro de piora funcional, há que se ponderar que a cirurgia realizada era estética, o
que significa que a abordagem quanto ao desvio de septo não era de obrigação dos Apelados/Réus e,
tal como asseverado, a piora desse quadro foi um risco assumido pela Autora, ciente de que essa é
uma das complicações que poderia advir da cirurgia contratada.

Sendo assim, não há nexo de causalidade entre a conduta dos Réus e o dano reclamado pela Autora.

Nesse sentido, confira-se a jurisprudência deste TJDFT:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.


CIRURGIA PLÁSTICA ESTÉTICA. NECROSE. PERDA DA ARÉOLA. INEXISTÊNCIA DE NEXO
CAUSAL.

1. Tendo a perícia concluído que as complicações na cicatrização da cirurgia (necrose que levou a
perda da aréola) não decorreram de erro, mas de fatores externos, alheios à atuação do cirurgião,
está caracterizado o caso fortuito, a afastar a responsabilidade civil da Clínica e do médico réu pelo
dano moral alegado pela consumidora.
2. Negou-se provimento ao apelo da autora.

(TJDFT - 20130710323305APC, Relator SÉRGIO ROCHA, 4ª TURMA CÍVEL, data de julgamento:


20/9/2017, publicado no DJE: 27/9/2017. Pág.: 372/377)

APELAÇÃO CÍVEL. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INDENIZAÇÃO. DANO


MATERIAL, MORAL E ESTÉTICO. CIRURGIA PLÁSTICA ESTÉTICA E REPARADORA.
AFILAMENTO DA PONTA NASAL, MINI-LIFTING E CORREÇÃO DO ECTRÓPIO. PERÍCIA
MÉDICA REALIZADA. NÃO CONSTATAÇÃO DE IMPERÍCIA OU NEGLIGÊNCIA. CULPA DO
PROFISSIONAL AFASTADA.

Constatado que a paciente realizou procedimentos cirúrgicos distintos, um com finalidade estética e
outros com finalidade reparadora, a apuração de eventual culpa da profissional deve ser feita de
forma separada, uma vez que, em relação à cirurgia com cunho eminentemente estético, deverá haver
prova do resultado, e, em relação à cirurgia reparadora, deverá haver prova de que foram
empregados os meios necessários para a obtenção do melhor resultado. A culpa da cirurgiã plástica
fica afastada, em ambos os casos, quando, por meio de exame pericial, realizado por profissional
médico com especialização na área, constata-se que o resultado foi atingido, quanto às cirurgias
estéticas, e que, quanto à cirurgia reparadora, não houve imperícia ou negligência, apesar de o
resultado não ter sido alcançado.

(TJDFT - 20140110875484APC, Relator ESDRAS NEVES, 6ª TURMA CÍVEL, data de julgamento:


3/5/2017, publicado no DJE: 16/5/2017. Pág.: 468/493)

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso, mantendo incólume a r. sentença hostilizada.

Majoro os honorários em face da Autora/Apelante, tornando-os definitivos em 16% (dezesseis por


cento) do valor da causa, em conformidade com as disposições do art. 85, §§ 2º e 11, do Código de
Processo Civil

Fica suspensa a exigibilidade das verbas sucumbenciais devidas, nos termos do art. 98, § 3º, do
Código de Processo Civil.

É como voto.

A Senhora Desembargadora GISLENE PINHEIRO - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador FÁBIO EDUARDO MARQUES - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO
CONHECIDO. PRELIMINAR REJEITADA. IMPROVIDO. UNÂNIME.

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