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MM.

JUÍZO DE DIREITO DA X VARA CÍVEL DA COMARCA DE UBERLÂNDIA (MG)

Ref.: Autos de nº X

KALLYANDRA CRISTINA BORGES FREITAS, ​brasileira, estado civil,


promotora de vendas, inscrita no RG nº e CPF nº, residente e domiciliada na cidade de
Uberlândia (MG), vem neste ato, por intermédio da representação do advogado subscrito ao
final, interpor a presente ​CONTESTAÇÃO na ação que lhe move em desfavor dos pedidos
elencados na petição inicial de ​MARIA JOSÉ DE OLIVEIRA, já qualificada, pelos fatos e
fundamentos de direito a seguir expostos.

PRELIMINARMENTE

Ao contrário da imputação feita na petição inicial, a requerida não foi a pessoa


que auxiliou o ato cirúrgico realizado no ​de cujus​, ao passo que sua função na clínica é
diversa, tratando-se de Promotora de Vendas da Clínica e que, devido à mero procedimento
formal, constou no relatório de orçamento como "médica", por erro do sistema.

Requer seja aceita a presente preliminar de ilegitimidade passiva pelo MM.


Juízo, para proceder à retirada da requerida do polo passivo da demanda, uma vez que,
pela documentação probatória acostada aos autos, não há quaisquer indícios objetivos de
que a requerida esteve presente em meio aos fatos tratados na presente ação,
demonstrada ausência de legitimidade ou interesse processual, nos termos do art. 337, inc.
XI.

1. DOS FATOS

Depreende-se dos argumentos utilizados na peça inicial que a autora pretende


responsabilizar a requerida KALLYANDRA CRISTINA BORGES FREITAS como suposta
médica responsável pelo falecimento do seu esposo após procedimento cirúrgico
supostamente realizado pela requerida na clínica dermatológica que trabalha. Ora,
destaca-se a completa incongruência de tal alegação, uma vez que a requerida trabalha em
regime de contrato como promotora de vendas, ao passo que tal alegação não merece
prosperar em hipótese alguma, como será demonstrado a seguir.
Ocorre que, após a autora e o ​de cujus procurarem a clínica dermatológica,
foram atendidos pela Sra. Kallyandra, a qual encerrou o primeiro contato com os clientes e
os encaminhou para consulta, na qual o médico requerido, Sr. Jefferson, examinou o Sr.
José Amado (​de cujus).​ Após a consulta, foram todos até a recepção da clínica para
combinar a forma de pagamento com a Sra. Kallyandra, a qual desempenhou sua função
como recepcionista e promotora de vendas, finalizando o atendimento e encerrando por
completo o contato com as partes ora litigantes.

Depreende-se da petição inicial que a autora alega no procedimento em


comento que: “​a Srª. Kallyandra anestesiou o paciente com evidente imperícia técnica,
posto que através de um instrumento semelhante a um bisturi, arrancou um pedaço de
carne do Sr. José Amado, fato que gerou intenso sangramento. Na tentativa de reparar o
erro praticado, foram feitos os pontos e posteriormente dispensado o paciente juntamente
com a autora para irem para casa, deixando com eles apenas uma receita de dois tubos da
pomada Nebacetin e aconselhando-o a não tomar sol, não tendo marcado nenhum retorno.”

Ora, não há que se falar em veracidade de tal alegação, posto que nem mesmo
na sala de cirurgia a requerida estava no momento, vez que outros atendimentos de
recepção e vendas realizados pela clínica demandaram sua exclusiva atenção no decorrer
de sua função de trabalho, não restando comprovado a participação em quaisquer atos ou
procedimentos cirúrgicos na clínica, conforme também será demonstrado eventualmente
através de provas testemunhais na instrução processual.

Em síntese, é o essencial

2. DOS FUNDAMENTOS

Na ocasião do MM. Juízo não apreciar a preliminar reivindicada, cumpre realizar


a defesa de mérito. Caso as preliminares acima apresentadas sejam superadas, o que se
admite apenas pelo amor ao debate, no mérito melhor sorte não assiste à acusação nas
alegações da autora.

É sabido que a doutrina pátria se preocupa com o tema abordado em questão,


senão vejamos a lição do jurista Nelson Nery Júnior: “ ​(...) os médicos e os demais
profissionais liberais só podem ser responsabilizados por atos que realizem no exercício de
suas atividades, quando tenham agido com imprudência, negligência ou imperícia,
circunstâncias que devem ser comprovadas pelo próprio autor da pretensão. (RT 785/237)
(Nelson Nery Junior, Código de Processo Civil Anotado e Legislação Extravagante, 2ª ed.
São Paulo: RT, 2003, p. 503).”

Assim, para que um médico seja condenado a suportar indenização, seja


material ou moral, decorrente do exercício de sua profissão, deve restar comprovado o
implemento de ato ilícito, a efetivação do dano e, por fim, o nexo de causalidade entre os
dois primeiros elementos. O suposto erro médico não pode ser considerado como
meramente culposo, em que pese sua responsabilidade seja subjetiva, impondo-se,
portanto, a comprovação robusta da culpa ou dolo.

Nessa toada, o caso em tela sugere a responsabilidade médica como sendo


subjetiva, uma vez que o cliente/paciente é que deve demonstrar a culpa do profissional no
desempenho de sua atividade, ou seja, aplica-se a regra clássica do ônus da prova, nos
termos do CPC/15.

Verifica-se da Certidão de Óbito anexada, que entre a data da realização do ato


cirúrgico por parte do médico, e o falecimento de José Amado (27/04/2015), passaram-se
precisamente 54 dias, cujo período não houve o retorno do paciente à Clínica do médico.
Nessa perspectiva, ocorre flagrante culpa exclusiva da vítima, haja vista que não procedeu
às orientações do devido procedimento pós-operatório.

Além disso, é necessário que se diga que a obrigação dos médicos é, em regra,
de meio e não de resultado, logo, o dever do profissional encerra-se com emprego de atuar
consoante a boa técnica e aplicação de toda a cautela e diligência que a circunstância exija,
o que foi demonstrado explicitamente por meio de prova documental do prontuário anexado,
afastando a alegada negligência e imperícia narrada pela autora.

3. DOS PEDIDOS

Requer sejam julgados totalmente IMPROCEDENTES os pedidos da autora ao


final da presente ação indenizatória.

Requer provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, seja
documental, pericial, testemunhal, sem prejuízos de quaisquer outros
necessários para o deslinde da causa.
Uberlândia (MG), 13 de dezembro de 2020.

PEDRO ROCHA SILVA


ADVOGADO
OAB/MG nº XXX-XXX

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