Você está na página 1de 6

16/08/2016 Inteiro Teor do Acórdão | TRT­5 ­ Recurso Ordinário : ROPS 00008206520145050195 BA 0000820­65.2014.5.05.

0195 | Jurisprudência Jusbrasil

Jusbrasil ­ Jurisprudência
16 de agosto de 2016

TRT­5 ­ Recurso Ordinário : ROPS


00008206520145050195 BA 0000820­65.2014.5.05.0195 •
Inteiro Teor
Publicado por Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região ­ 1 ano atrás

3ª. TURMA

RECURSO ORDINÁRIO SUMARÍSSIMO Nº 0000820­65.2014.5.05.0195ROPS

RECORRENTE (s): Hyago Robert Sales de Araujo

RECORRIDO (s): Atacadao Distribuicao Comercio e Industria Ltda.

RELATOR (A): Desembargador (a) HUMBERTO JORGE LIMA MACHADO

VOTO

ISTO POSTO,

A hipótese é de Recurso Ordinário Sumaríssimo.

MOTIVO ENSEJADOR DA RUPTURA CONTRATUAL – JUSTA


CAUSA

Insurge­se o Obreiro contra a Decisão de base que, entendendo


provada a justa causa que ensejou a ruptura do seu contrato de trabalho, indeferiu

http://trt­5.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/173810408/recurso­ordinario­rops­8206520145050195­ba­0000820­6520145050195/inteiro­teor­173810416 1/6
16/08/2016 Inteiro Teor do Acórdão | TRT­5 ­ Recurso Ordinário : ROPS 00008206520145050195 BA 0000820­65.2014.5.05.0195 | Jurisprudência Jusbrasil

todas as verbas rescisórias referentes à despedida sem justo motivo.

Sustenta, em síntese, indevida apreciação das provas e má


aplicação do direito à espécie.

Examino.

Informou o Empregador, em sua defesa, que a causa da despedida


motivada do Reclamante se deu em razão de falta coletiva ao serviço, previamente
arquitetada com outros trabalhadores.

Aduz que, em 04/06/2014, mais de vinte dos seus empregados não


compareceram ao serviço, tendo posteriormente apresentado atestados médicos, com
afastamentos entre 01 (um) e 15 (quinze) dias.

Em razão da estranheza que causou o fato, o Demandado, após


inclusive constatar que tais atestados partiram de uma mesma clínica médica, abriu
sindicância com o fito de apurar o episódio, o que foi devidamente comunicado ao
Demandante quando do retorno do seu afastamento.

No curso da sobredita investigação, informa ainda o Réu, que fora


apurada a existência de um grupo denominado “macete zapzap”, criado na rede social
Whatsapp, formado por alguns empregados, inclusive o Autor, através do qual
organizaram, nas palavras do Demandado, uma espécie de “rebelião”, planejando uma
falta coletiva para o dia 04/06/2014.

Buscaram, assim, atendimento junto a uma clínica conveniada ao


SUS, objetivando garantir atestados médicos que respaldassem suas faltas. Nesse
passo, teriam trocado informações sobre a quantidade de dias de afastamento que
cada um conseguia, à medida em que eram atendidos, sugerindo, segundo o
Recorrido, uma espécie de competição entre os componentes do grupo, sobre quem
teria maior poder de convencimento sobre o médico que os atendia.

E, para corroborar sua tese, o Acionado traz como prova de suas


alegações cópia da sindicância instaurada (fls. 143/155), contendo, entre outros
depoimentos, o do Recorrente (fl. 148), bem como documentos que reproduzem os
diálogos mantidos dentro do grupo da rede social (fls. 188/273).

http://trt­5.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/173810408/recurso­ordinario­rops­8206520145050195­ba­0000820­6520145050195/inteiro­teor­173810416 2/6
16/08/2016 Inteiro Teor do Acórdão | TRT­5 ­ Recurso Ordinário : ROPS 00008206520145050195 BA 0000820­65.2014.5.05.0195 | Jurisprudência Jusbrasil

O Recorrente, por sua vez, defende­se, negando os fatos articulados


na vestibular.

É cediço que a justa causa, como a mais severa penalidade aplicada


ao empregado, necessita ser cabalmente comprovada, uma vez que seus efeitos
extrapolam os limites do liame empregatício.

Decerto que a prova da prática de ato (s) que enseja (m) a


despedida por justa causa, por repercutir (em) negativamente na vida profissional do
operário, deve ser robusta. Da mesma forma, é induvidoso que entre o ato faltoso e a
punição deve haver proporcionalidade, a fim de que o empregador não aja em certas
situações com indulgência e, em outras, com rigor excessivo.

O ônus da prova, no particular, incumbe ao ATACADÃO, em face da


alegação de fato modificativo do direito do Empregado, nos termos dos artigos 818 da
CLT e 333, inciso II, do CPC.

Neste sentido, preleciona José Augusto Rodrigues Pinto, verbis:

“Pelos reflexos extremamente negativos que seu reconhecimento


projeta na vida pessoal do empregado, a orientação doutrinária e
jurisprudencial é muito cuidadosa em exigir prova estreme de dúvida
do fato constitutivo da justa causa para declará­la”. (In Curso
Individual do Trabalho, 5ª edição, editora LTr).

E desse encargo a Empresa desvencilhou­se satisfatoriamente


através das provas reunidas.

Vejamos, a propósito, o quanto consignado pelo Julgador de 1.º grau,


cuja transcrição se faz oportuna:

“...Em depoimento prestado em audiência, o Autor reconheceu fazer


parte do grupo da rede social Whatsapp, denominado “macete
zapzap”, bem como de que tinha conhecimento das informações ali
trocadas por todos os seus membros. Informou, ainda, que por
intermédio deste grupo ficou sabendo do movimento para entrega de
atestados médicos no dia 04.06.2014. Entendo que tal
declaraçãovinculou o Autor ao conhecimento do dito movimento e

http://trt­5.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/173810408/recurso­ordinario­rops­8206520145050195­ba­0000820­6520145050195/inteiro­teor­173810416 3/6
16/08/2016 Inteiro Teor do Acórdão | TRT­5 ­ Recurso Ordinário : ROPS 00008206520145050195 BA 0000820­65.2014.5.05.0195 | Jurisprudência Jusbrasil

que a apresentação de atestado oriundo do SUS, tal como


combinado pelo grupo, configurou verdadeira adesão ao movimento.
A testemunha arrolada pela Reclamada, a quem competia o ônus de
provar a tese defensiva, por se tratar de justa causa por ato de
improbidade, confirmou os fatos narrados na contestação. A par
disso, constata­se, da leitura do documento intitulado sindicância, fls.
148, que o Autor, além de deixar por entender sua participação do
evento da falta coletiva, na medida em que confirmou sua ciência
acerca dos atestados, também apresentou contradições no
mencionado depoimento, quando inicialmente dissera não haver
encontrado outro colega e em sequência, afirmar que encontrara uma
de suas colegas também sendo atendida naquele dia. Acerca da
prova trazida aos autos pelo demandado, oriunda de reprodução de
diálogostravados no grupo de rede social, a qual fora impugnada
pelo autor, que acusou ter sido obtida por meio ilegal, cabe­me tecer
alguns comentários. A doutrina mais atual milita em favor da força
probante de tais elementos de prova, ainda que contenha algum
traço de ilicitude. É que,a exemplo de casos como este narrado pelo
demandado em defesa, outros existem para cuja comprovação não
remanesce qualquer outro meio capaz de trazer a verdade real para
apuração da verdade.

(...)

Em concreto, a doutrina ensina que ao juiz do trabalho cabe sopesar


criteriosamente os interesses envolvidos, adequando sua medida à
finalidade do processo e optar, por fim, pelo sacrifício de um direito
fundamental em detrimento do outro, com vias à consecução da
melhorjustiça. Desta maneira, não podendo ser entendidos deforma
absoluta, os princípios constitucionais não podem ser interpretados
de forma literal, mas de forma sistemática e teleológica, devendo ser
ponderados segundo o caso concreto. Esta á a hipótese verificada
dos autos. O caminho utilizado pelo demandado para justificar a
aplicação da pena máxima ao reclamante, embora não possaser
considerado lícito, foi necessário para o fim a que se destinou.
Lançando mão da prova em questão, tornou­se possível à
demandada aferir o comportamento de um grupo que mantinha
postura anticorporativa, de uma forma tal que o prejuízo era
amargado não somente pela instituição demandada, como também
pela própria sociedade, na medida em que pessoas em perfeito
http://trt­5.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/173810408/recurso­ordinario­rops­8206520145050195­ba­0000820­6520145050195/inteiro­teor­173810416 4/6
16/08/2016 Inteiro Teor do Acórdão | TRT­5 ­ Recurso Ordinário : ROPS 00008206520145050195 BA 0000820­65.2014.5.05.0195 | Jurisprudência Jusbrasil

estado de saúde ocupavam vagas destinadas ao atendimento de


outras doentes e necessitando utilizar­se do Sistema Único de
Saúde, promovendo desta forma uma sobrecarga desnecessária na
procura pelo atendimento médico público e índices estatísticos
irreais, que na outra ponta do sistema reflete danosamente no
contexto social. Assim, com base nas premissas ora explanadas,
entendo coerente a utilização da prova trazida aos autos, embora
produzida de forma ilícita, mas alcançando um fim maior, o da
aplicação justa do direito.

Cumpre­me, por oportuno, esclarecer que ao juiz não cabe aplicar


medidas disciplinares a empregados, porquanto tal prerrogativa
insere­se no rol do poder diretivo do empregador. Ao Judiciário, cabe
tão somente analisar a legalidade da medida imposta, à luz das
provas trazidas ao processo pelas partes. Neste particular, entendo
pertinente a aplicação da pena máxima ao reclamante, restando,
desta forma, reconhecida pertinência da justa causa a ele aplicada.
...”

Assim, de fato, comprovado está nos autos o cometimento pelo


Reclamante da falta grave, que justificou o rompimento do contrato de trabalho por
justa causa.

Destarte, mantenho a Decisão monocrática, inclusive ao julgar


improcedentes os pedidos de pagamento das verbas rescisórias referentes à
despedida sem justo motivo e da indenização reparatória, por seus próprios
fundamentos.

Assim, NEGO PROVIMENTO ao Recurso.

Acordam os Desembargadores da 3ª Turma do Tribunal Regional do


Trabalho da 5ª Região, à unanimidade, NEGAR PROVIMENTO ao Recurso.//

http://trt­5.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/173810408/recurso­ordinario­rops­8206520145050195­ba­0000820­6520145050195/inteiro­teor­173810416 5/6
16/08/2016 Inteiro Teor do Acórdão | TRT­5 ­ Recurso Ordinário : ROPS 00008206520145050195 BA 0000820­65.2014.5.05.0195 | Jurisprudência Jusbrasil

Salvador, 10 de março de 2015 (terça­feira).Salvador, 10 de março de


2015 (terça­feira).

Desembargador Relator: HUMBERTO JORGE LIMA MACHADO. Firmado por assinatura digital em 10­03­2015 pelo

sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200­2/2001, que instituiu a Infra­Estrutura de Chaves

Públicas Brasileira.

Identificador: 10115031001350569461X ROPS 0000820­65.2014.5.05.0195 pág 5 de 5

Disponível em: http://trt­5.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/173810408/recurso­ordinario­rops­8206520145050195­ba­0000820­


6520145050195/inteiro­teor­173810416

http://trt­5.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/173810408/recurso­ordinario­rops­8206520145050195­ba­0000820­6520145050195/inteiro­teor­173810416 6/6

Você também pode gostar