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I – O OBJECTO DO PROCESSO
O objecto do processo é composto por dois elementos: o pedido e a causa de pedir. O
seu estudo é relevante, desde logo, por três ordens de razão:
o Importa saber se temos apenas um ou, antes, vários objectos
o Importa saber se esse objecto se modifica, ou pode modificar, durante a
pendência da causa
o Importa saber se as acções são iguais, por terem objectos iguais (desde logo pela
possível aplicação dos arts 580º e 581º CPC)
O pedido é um elemento essencial da petição inicial, na medida em que é através dele
que se estabelecem os limites da sentença, se a acção for julgada procedente – art 609º,
nº 1 CPC. Este representa a forma de tutela jurisdicional que é requerida para uma
situação jurídica. No processo declarativo, pode estar em causa a simples apreciação
da existência ou inexistência de facto ou de direito, a condenação na realização de uma
prestação ou, ainda, a constituição, modificação ou extinção de uma situação jurídica
(art 10º, nº 2 CPC). O pedido é sempre constituído por uma pretensão material e por
uma pretensão processual, na medida em que se deve referir à tutela de uma situação
jurídica de direito material, enquanto se refere também a um efeito jurídico. Note-se,
ainda assim, que o tribunal não está vinculado à qualificação jurídica feita pelas partes,
pelo que poderá corrigir o pedido erradamente formulado (art 5º, nº 3 CPC). O pedido,
em si mesmo, tem pressupostos processuais:
o Inteligibilidade – art 186º, nº 2, al a) CPC, que trata da aptidão da petição inicial;
o Idoneidade – o pedido tem de incidir sobre qualquer matéria com relevância
jurídica, pelo que não pode estar em causa algo pertencente à ordem moral ou
à ordem do trato social. Tem de haver algo juridicamente regulável, sob pena de
excepção dilatória (art 577º, al b) CPC);
o Determinação – só nos casos previstos na lei (art 586º CPC) são admitidos
pedidos genéricos (art 587º CPC). Fora esses, o pedido deve sempre ser certo,
ou seja, deve referir-se a um objecto individualizado e determinado.
Outra questão que se coloca no que concerne ao pedido é a questão da sua identidade:
a identidade de vários pedidos depende sempre dos respectivos efeitos jurídicos (art
581º, nº 3 CPC). Por exemplo, são idênticos dois pedidos de condenação na realização
de uma mesma prestação, assim como o pedido de apreciação do direito de propriedade
é parcialmente idêntico ao pedido de reivindicação do mesmo prédio (art 131º, nº 1 CC).
Já a causa de pedir representa o conjunto de factos necessário para individualizar a
pretensão do autor. Por exemplo, numa acção de reivindicação, a causa de pedir será o
facto de que resulta a aquisição, originária ou derivada, da propriedade. Vigorando o
princípio do dispositivo, estes factos são vinculativos para o Tribunal.
Existem três tipos de factos, com um regime específico relativamente aos poderes do
tribunal:
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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
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Patrícia Carneiro da Silva
FORMAS DE PEDIDO
Existem várias modalidades de pedido:
o Pedido único/pedido múltiplo – o pedido é único quando é apenas um; é
múltiplo quando é mais que um, podendo isso corresponder a uma cumulação
objectiva ou a um concurso de objectos processuais;
o Pedido certo/pedido genérico – o pedido é certo quando o seu objecto é uma
prestação individualizada (reporta-se a um bem concreto) ou determinada (está
definida na sua espécie e quantidade); o pedido é genérico quando se refere a
uma quantidade indeterminada, indeterminação que pode resultar da
referência a uma universalidade de facto ou de direito (p.e. a venda de uma
biblioteca não exige a individualização de todos os livros que a compõem), ou
ainda a um montante pecuniário indeterminável (p.e. autor sofreu um acidente
e não sabe ainda que tratamentos terá de fazer, não sendo assim possível
calcular a indemnização). O Professor Miguel Teixeira de Sousa relembra que o
art 569º CC se sobrepõe ao Código de Processo Civil, pelo que o autor não é
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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
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A acção de condenação in futurum é admissível quando:
• A falta de título executivo no momento do vencimento da prestação possa causar grave prejuízo
ao credor (art 472º, nº 2 CPC)
• No âmbito de uma venda a prestações, a parte, conjuntamente com a condenação relativa às
prestações já vencidas mas não cumpridas, pretende obter a condenação do comprador nas
prestações vincendas (art 557º, nº 1 CPC)
• A parte pretender obter a condenação da contraparte na sanção pecuniária compulsória (art
829º-A CC)
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Coligação alternativa
subsidiária
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Exemplo tem em conta lei antiga: o art 17º LULL dizia que as excepções oponíveis pelo devedor à
pretensão emergente do contrato de mútuo seriam também invocáveis contra a pretensão cambiária.
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3º ano, Turma A
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CUMULAÇÃO INICIAL
CUMULAÇÃO INICIAL SIMPLES
Na cumulação simples, o autor requer a procedência simultânea de todos os pedidos
cumulados e a produção de todos os seus efeitos – art 555º, nº 1 CPC. Esta modalidade
de cumulação objectiva é, em princípio, uma faculdade que assiste à parte. No entanto,
nem sempre é assim: pode acontecer que recaia sobre a parte um ónus de cumulação
de pedidos (exemplo do art 1792º nº 2 CC).
No âmbito da cumulação simples, os efeitos que respeitam a cada um dos pedidos
devem ser diferentes – não só em termos jurídicos, mas também em termos
económicos, sob pena de cumulação aparente. Significa isto que, numa acção que
cumula vários pedidos, o seu valor é a quantia que corresponde à soma de cada um
dos respectivos valores, o que mostra que cada um tem a sua finalidade económica.
Para que seja possível haver cumulação objectiva simples, é necessário que se verifique
um conjunto de pressupostos processuais:
o Não exclusão por lei, como acontece quanto às acções de investigação da
maternidade e da paternidade (arts 1814º e 1869º CC), onde se exige que as
acções sejam especialmente (exclusivamente) instauradas com esse propósito.
• Falta do pressuposto: se for violada a previsão legal que exclui a
cumulação, deve aplicar-se analogicamente o disposto no art 37º, nº 4.
No entanto, se o tribunal não for absolutamente competente ou a forma
de processo não for compatível com todos os pedidos, as consequências
da cumulação ilegal são consumidas pela falta desses requisitos;
o Compatibilidade processual – exige-se que o tribunal seja absolutamente
competente para todos os objectos apresentados (art 555º, nº 1, 2ª parte e art
37º, nº 1 CPC). Mais que isso, exige-se adequação das formas de processo a que
corresponde cada um dos pedidos (arts 470º, nº 1, 2ª parte e 37º, nº 1, 2 e 3
CPC).
• Falta do pressuposto: pode resultar de incompetência absoluta do
tribunal ou da inadequação das formas do processo para um/uns do(s)
pedido(s). Havendo despacho liminar, dá-se o indeferimento parcial da
petição. Já no momento do despacho saneador, verificar-se-á uma
excepção dilatória3 que levará à absolvição do réu da instância quanto
ao(s) objecto(s) para os quais o tribunal é absolutamente incompetente.
o Compatibilidade substantiva – tem de se verificar uma concordância prática
entre os efeitos decorrentes dos objectos cumulados, ou seja, estes não podem
ser contraditórios (arts 555º, nº 1, 1.ª parte e 186º, nº 2, alínea c) CPC). Por
exemplo, não pode haver cumulação entre o pedido de resolução do contrato e
o pedido de cumprimento do mesmo.
• Falta do pressuposto: a incompatibilidade substantiva resulta da falta
de concordância prática entre os efeitos por eles produzidos, o que gera
ineptidão da petição inicial e absolvição do réu da instância (arts 186º,
nº 1, 576º, nº 2, 577º, alínea b), 578º e 278º, nº 1, alínea b) CPC)
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Se for um caso de incompatibilidade entre as formas de processo, estamos perante um caso de
inadequação formal, que representa uma excepção dilatória inominada
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CUMULAÇÃO SUCESSIVA
A cumulação sucessiva acontece quando, ao objecto inicial da acção é cumulado, e
momento posterior e por iniciativa de uma das partes, um outro objecto. Esta situação
difere da modificação do objecto: no primeiro caso, temos a apresentação de um novo
objecto a par do inicial; no caso da modificação, o que temos é um objecto a ser
substituído por outro.
O autor pode apresentar, no regime de cumulação simples, alternativa ou subsidiária,
um outro objecto e pode invocar, a par do inicial, um outro objecto. Esta é a situação
de CUMULAÇÃO STRICTO SENSU. Esta pode surgir, portanto, pela superveniência de
factos susceptíveis de integrar uma causa de pedir (situação na qual a ocorrência
desses factos se dá após o momento normal de invocação em juízo – superveniência
objectiva – ou o conhecimento pela parte apenas se dá posteriormente –
superveniência subjectiva).
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MODIFICAÇÃO DO OBJECTO
Consiste na substituição do objeto inicial por um outro objeto. Ao contrário do que
sucede na cumulação objectiva, aqui, o processo continua a ter um único objeto. Esta
possibilidade é uma manifestação da disponibilidade das partes sobre o objeto,
configurando-se como uma exceção ao princípio da estabilidade da instância.
MODIFICAÇÃO DO PEDIDO
o Modificação qualitativa – dá-se a substituição do pedido formulado por um
novo pedido: o autor substitui a situação jurídica invocada;
o Modificação quantitativa – pode implicar a ampliação ou a redução do pedido
inicialmente formulado. A ampliação implica uma maior quantificação do
pedido e a redução implica uma menor quantificação do pedido;
o Modificação consensual – se as partes estão de acordo, o pedido pode ser
alterado ou ampliado em qualquer momento da tramitação da ação em
primeira ou em segunda instância (art 264º CPC). Esta não pode colidir com o
interesse público e, se for admissível e estivermos perante pedidos múltiplos,
há que verificar os requisitos da cumulação respetiva posteriormente à
modificação.
o Modificação unilateral (sem culpa) – situações de superveniência objetiva
(factos que ocorreram depois da ação) e subjetiva (factos que ocorreram antes,
mas o autor não os conhecia). Há lugar à aplicação do art 588º:
• Se souber antes da audiência prévia, deve alegar na audiência prévia;
• Se souber depois da audiência prévia, deve alegar na audiência final;
• Se for admissível e estivermos perante pedidos múltiplos, há que
verificar os requisitos da cumulação respetiva posteriormente à
modificação;
o Modificação unilateral (com culpa) – no caso de ampliação, se a ampliação for
o desenvolvimento ou a consequência do pedido primitivo (art 265º, nº 2 CPC);
no caso de redução, a qualquer momento (art 265º, nº 2 CPC). Se for admissível
e estivermos perante pedidos múltiplos, há que verificar os requisitos da
cumulação respetiva posteriormente à modificação.
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3º ano, Turma A
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III – A PROVA
ENQUADRAMENTO GERAL E DIREITO PROBATÓRIO
Toda a apreciação da causa pressupõe matéria de facto e matéria de direito. Nesta
última, pode haver necessidade de prova. A definição de prova decorre do Código Civil
(art 341º), sendo que o Código Civil de 1867 definia a prova como a demonstração dos
factos alegados em juízo.
Podemos falar de prova em vários sentidos, mesmo que jurídicos:
o Actividade destinada a demonstrar a veracidade dos factos alegados em juízo
(sentido probatório);
o Meios de prova (sentido do art 341º CC);
o Sentido de resultado (“o facto ficou provado”)
A prova visa formar na mente do juiz a convicção da veracidade dos factos alegados.
Assim sendo, os meios de prova representam os elementos que fornecem a informação
que permite a criação dessa convicção. No fundo, a função da prova é a de demonstrar
de forma convincente uma afirmação de facto.
Para efeitos de prova, considera-se qualquer facto jurídico – qualquer facto que integre
uma previsão legal. Isto significa que podem constituir objecto de prova factos materiais
(acontecimentos determináveis no termo e no espaço), factos hipotéticos (p.e interesse
contratual negativo) e ainda factos psíquicos (como sejam as intenções, a vontade ou
os sentimentos). Se for necessário, aquando da prova, ter em conta regras técnicas ou
científicas, o tribunal pode recorrer-se de prova pericial.
Se há actividade probatória, há direito probatório. Este, por sua vez, pode ser material
ou formal:
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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
MODALIDADES DA PROVA
Existem várias modalidades de prova:
o Prova directa – aquela em que é demonstrado o próprio objecto da prova;
o Prova indirecta – aquela em que o objecto da prova é indirectamente mostrado,
ou seja, demonstrado através de um outro facto (p.e. provar o facto y, facto
controvertido, através da demonstração do facto z, do qual o facto y se infere).
Esta modalidade de prova é realizada através de factos instrumentais, podendo
ser:
• Presunções legais – o facto instrumental é a base de uma presunção
legal. Estas podem ser iliíveis (iuris tantum) ou inilidíveis (iuris et de iure).
As presunções legais conduzem à inferência de um facto, pois que o juiz
é levado a inferir pela lei um facto desconhecido de um outro que é
conhecido. Por não ser formada qualquer convicção sobre a realidade de
um facto, as presunções legais não são meios de prova, mas antes meios
de dispensa da prova do facto presumido;
• Prova prima facie – é a chamada prova de primeira aparência, na qual o
facto provado permite deduzir o objecto da prova através do curso
típico dos acontecimentos. Esta tem por base presunções naturais ou
judiciais, presentes nos arts 349º e 351º CC. Através desta, é feito um
“juízo crítico sobre factos conhecidos”. A prova prima facie exige que o
tribunal verifique a adequação causal entre o facto instrumental e
objecto de prova e, depois, caso se verifique adequação, deve ser
apreciada e avaliada, nos termos gerais, a prova realizada quanto ao
facto instrumental. Este tipo de prova é essencialmente utilizado para
fazer prova de uma conduta negligente ou para demonstrar uma relação
causa/efeito.
GRAUS DE PROVA
A finalidade da prova é formar a convicção do tribunal sobre a realidade de um facto.
Assim, pode falar-se em grau de prova, representando este o grau de convicção exigida
ao tribunal. O grau de prova não depende dos meios de prova usados pelas partes.
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Mais que isso, este estabelece a medida da convicção que é necessária para que o
tribunal possa julgar determinado facto como provado.
Neste âmbito, pode distinguir-se entre:
o Prova stricto sensu – é aquela que se funda na convicção da realidade do facto,
exigindo uma convicção que não é compatível com a admissão de que a
realidade possa ser distinta da que se considera provada. Esta não impede que
o tribunal forme a sua convicção com base na probabilidade da realidade do
facto, mas pretende que o grau de convicção permita excluir outra configuração
da realidade que foi considerada provada.
o Mera justificação – esta basta-se com a demonstração de que o facto é
verosímil ou plausível, pelo que só se exige que o tribunal forme a convicção da
probabilidade do facto. Esta só é suficiente nas situações previstas na lei (por
exemplo no caso das providências cautelares).
o Princípio de prova – este é o menor grau de prova, valendo apenas como facto
corroborante para a prova de um facto. Aqui, não temos o suficiente para
estabelecer qualquer prova, mas antes para coadjuvar, em conjugação com
outros elementos, a prova de um facto. Por vezes, a lei exclui o próprio valor de
princípio de prova (p.e. art 1603º, nº 1 CC)
DIREITO À PROVA
O direito à prova decorre, desde logo, do direito de acesso à justiça e aos tribunais (art
20º CRP). Às partes incumbe o ónus de apresentar o rol de testemunhas, de requerer
quaisquer outras provas e de alterar os requerimentos probatórios que haja
apresentado nos articulados. Em contrapartida, é-lhes garantida audiência
contraditória em matéria probatória (art 415º CPC). O direito à prova não afasta o
poder probatório dos tribunais, que concentram em si a possibilidade de realizar as
diligências consideradas necessárias pelo juiz para o apuramento da verdade (art 6º
CPC).
Este direito não é absoluto. O mesmo cede perante as ilicitudes da prova e a proibição
da mesma – as provas ilícitas são as que são obtidas de forma ilegal ou cuja produção
constitui um ilícito; as provas proibidas são as que, apensar de não serem ilícitas, não
podem ser produzidas em processo.
Como exemplos de provas ilícitas temos, atendendo ao modo de obtenção, todas as
que são conseguidas por via dos métodos descritos no art 32º, nº 8 CRP
(analogicamente aplicável ao processo civil). É exemplo de prova ilícita por produção
por via de ilícito a que implica a quebra do sigilo profissional. Regra geral, as provas
ilícitas não são susceptíveis de valoração em tribunal, pelo que não poderão servir de
fundamento a qualquer decisão. Ainda assim, decorre do art 32º, nº 8 CPR que a prova
só será qualificada como nula quando a intromissão na vida privada, no domicílio, na
correspondência ou nas telecomunicações deva ser considerada abusiva.
Diferente são as provas proibidas. Ainda assim, a consequência dessa sua proibição é
idêntica ao que antes vimos – há uma proibição da sua valoração pelo tribunal.
Todas as pessoas têm, em matéria de prova, o dever de prestar a sua colaboração – art
417º CPC, dever de colaboração esse que é expressão do dever de colaboração com a
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administração e com a justiça, sobre o qual rege o art 202º, nº 3 CRP. A violação deste
dever leva, desde logo, à aplicação de sanções (como a condenação em multa e o
recurso a meios coercitivos admissíveis). O direito à prova também cede perante
interesses superiores, razão pela qual é legítima a recusa de colaboração se a
obediência importar violação da integridade física ou moral das pessoas, se levar à
intromissão na vida privada, familiar, etc.
CONTRATOS PROBATÓRIOS
Os contratos probatórios são os negócios processuais através dos quais as partes
regulam os factos que carecem de prova ou a repartição do ónus da prova de
determinado facto. Podem também servir para estipular os meios de prova admissíveis
para a prova de um certo facto.
o Contratos sobre o objecto da prova – definem os factos sobre os quais deve
recair a produção de prova das partes. Regra geral, as partes indicam os factos
que admitem por acordo e aqueles que consideram controvertidos, sendo
apenas necessária prova destes últimos.
o Contratos sobre o ónus da prova – estão previstos no art 345º, nº 1 CC, servindo
essencialmente para inverter a repartição legal do ónus e atribuindo o risco da
falta ou insuficiência de prova à parte que não está legalmente onerada.
o Contratos sobre os meios de prova – através destes, as partes podem admitir
um meio de prova diferente dos que estão legalmente previstos para a prova
daquele facto ou excluir um meio de prova legalmente admissível para essa
prova (art 345º, nº 2 CC).
Para que seja possível celebrar um contrato probatório, é necessário que se verifiquem
certos requisitos. Alguns destes são comuns a todos os tipos de contrato, outros são
específicos de cada um.
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São de ordem pública todos os poderes probatórios do tribunal, a forma legal ad substantiam, a
inadmissibilidade de prova testemunhal em substituição de documento e ainda as inabilidades para depor
como testemunha. Também estão excluídos acordos pelos quais as partes definem o valor probatório.
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OBJECTO DA PROVA
O objecto da prova é delimitado pelos factos alegados pelas partes, pois que estes são
invocados em cumprimento do ónus de alegação, com a expectativa de que se possa,
se necessário, cumprir o ónus da prova quanto a eles. A apreciação do pedido
formulado depende dos factos invocados na causa de pedir e dos respectivos factos
complementares (art 5º CPC). No seu conjunto, esses acabam por ser os factos
principais. Junto a esses estarão os factos instrumentais que já não condicionam a
apreciação (não só porque o tribunal pode usar outros factos probatórios, mas também
porque os factos principais podem ser provados directamente, sem a mediação de
factos instrumentais). Em conclusão, entende-se que o objecto da prova só pode ser
constituído pelos factos principais alegados pelas partes.
Nem todos os factos principais precisam de ser provados, pelo que nem todos eles
integram o objecto da prova (arts 410º e 596º CPC). Os factos que necessitam de prova
são, antes de mais, os factos controvertidos – aqueles que, tendo sido alegados por
uma das partes, foram impugnados pela outra. Assim sendo, pode concluir-se que o
objecto de prova se encontra na disponibilidade das partes, pois que a sua definição
depende da conduta que estes assumem em juízo (art 574º CPC). Também se excluem
do objecto da prova os factos que não sejam relevantes para a decisão, ainda que os
mesmos não sejam impugnados – art 574º CPC. Também não carecerão de prova os
factos que sejam abrangidos pela força de caso julgado, por se integrarem no âmbito
de uma decisão anterior vinculativa para as partes.
A modificação do pedido ou da causa de pedir implica uma modificação do objecto da
prova se, em função do novo objecto do processo, houver que provar factos novos ou
se tornar desnecessária a prova de certos factos.
Há também que atender às situações em que a prova é dispensada. Desde logo, os
factos que não estão submetidos ao ónus de alegação não necessitam de ser provados
pela parte (p.e. factos de conhecimento oficioso ou factos notórios). Mais, os factos que
as partes não têm o ónus de alegar não necessitam de ser provados (art 414º CPC).
não carecendo de prova, a falta de impugnação destes factos é irrelevante.
o Factos notórios – estes não estão submetidos ao ónus de alegação e de prova
(arts 412º e 5º CPC). São factos notórios os factos de conhecimento de uma
opinião pública medianamente informada no tempo e lugar da causa (p.e. factos
históricos ou naturais). Estes, ainda assim, aceitam prova em contrário;
o Factos funcionais – são os factos conhecidos pelo tribunal pelo exercício da
função jurisdicional. Estes diferem dos factos conhecimento privados do juiz.
o Factos oficiosos – são os factos que, apesar de não serem notórios nem de
conhecimento funcional, o tribunal pode conhecer, por força da lei,
independentemente da alegação das partes. Não tendo as partes o ónus de
alegação, também não podem estes ser onerados com o ónus da prova.
ÓNUS DA PROVA
O ónus da prova pode ser entendido em sentido objectivo e subjectivo:
o Ónus da prova objectivo – trata das consequências da não realização da prova,
ou seja, da falta de convicção do tribunal sobre a realidade de um facto. Perante
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Quanto aos critérios especiais estipulados para esta matéria, cabe desde logo referir
que, em caso de dúvida, os factos devem ser considerados como constitutivos de
direito. Assim sendo, o facto deve ser qualificado como constitutivo quando houver
dúvidas sobre se é de exigir a sua prova àquele que alega o correspondente direito ou,
antes, àquele contra o qual o direito é invocado.
No atinente aos prazos de caducidade, estipula o art 343º/2 CC que o prazo de
propositura da ação é considerado pela perspetiva do seu decurso, pelo que é
qualificado como facto extintivo.
INVERSÃO DO ÓNUS DA PROVA
Dá-se a inversão do ónus da prova sempre que não for sobre a parte normalmente
onerada com a prova do facto que recai o ónus de o demonstrar. O ónus da prova não
acompanha o ónus de alegação, pois que a prova não incumbe à parte favorecida com
a demonstração do facto e onerada com a sua alegação, mas à parte que pode beneficiar
do facto contrário.
A dificuldade de prova não fundamenta a inversão do ónus da prova, mas a lei procura
preveni-la de duas maneiras:
o Estabelecimento de presunções legais – benefício para a parte onerada com a
prova do facto presumido (350º/1 CC)
o Permissão do julgamento segundo a equidade em situações em que a prova
do facto é difícil ou impossível
O ónus da prova inverte-se quando haja dispensa ou liberação do ónus da prova – art
344º, nº 1 CC.
APRECIAÇÃO DA PROVA
Na avaliação da prova, feita por via dos meios de prova, é possível consagrar um
sistema de prova legal e um sistema de prova livre.
o Prova legal – o valor da prova realizada através de um dos meios de prova está
legalmente fixado. Assim sendo, o tribunal está vinculado a atribuir a essa
prova o respectivo valor, que pode ser positivo (a lei impõe que o tribunal
atribua à prova um certo valor) ou negativo (a lei proíbe que o tribunal atribua
valor à prova produzida). No âmbito do valor positivo, este pode ser tarifado ou
fixo, variando consoante a prova que se considera suficiente para provar a
primeira. Neste âmbito de prova de valor positivo, a prova pode ser:
• Prova legal bastante – a impugnação da prova é conseguida através da
contraprova, o que exige colocar-se em dúvida a veracidade do facto (art
346º CC)
• Prova legal plena – a impugnação da prova só pode ser obtida mediante
prova do contrário, isto é, através da demonstração da não veracidade
do facto (art 347º CC)
• Prova legal pleníssima – não exige contraprova, nem prova do contrário.
É o caso das presunções inilidíveis (art 350º, nº 2 in fine CC). Ainda assim,
note-se, a contraparte pode impugnar, qualquer que seja o tipo de
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VALORAÇÃO DA PROVA
PROVA DOCUMENTAL
Representa a apresentação de um objecto elaborado pelo homem com o fim de
reproduzir ou representar uma pessoa, coisa ou facto – art 362º CC.
o Escritos – aqueles que corporizam, em escrita normal ou cifrada, uma declaração
de ciência ou de vontade.
• Autênticos (art 363º, nº 2 CC) – em termos de força probatória formal6,
estes assumem forma de prova plena, uma vez que se presume que o
documento provém da autoridade a quem é atribuído (art 370º CC). A
presunção em causa assume prova do contrário, de acordo com o nº2.
Já quanto à força probatória material7 dos documentos autênticos, é
também de prova plena, pois que estes só cedem perante a prova do
contrário através da demonstração da falsidade do documento (arts
371º e 372º, nº 2 CC). Note-se que a força plena apenas abrange os factos
atestados pela entidade documentadora, pelo que não se estende à
veracidade dos mesmos (se o notário atesta que o vendedor recebeu o
preço da coisa, o valor de prova plena apenas abrange o facto de o
vendedor ter emitido essa declaração e de o notário a ter atestado – não
abrange o facto de o vendedor ter efectivamente recebido o preço).
Assim sendo, podemos deparar-nos com situações de falsidade material
(situações em que a entidade refere como praticado um acto que não o
foi) ou com situações de falsidade ideológica (situações em que a
entidade atesta um facto que não se verificou perante ela).
• Particulares (art 363º, nº 3 CC) – têm um valor probatório diferente
consoante sejam autenticados ou não autenticados
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Diferente de preconceitos ou pré-juízos
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Respeita à genuinidade dos documentos autênticos
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Respeita antes ao valor probatório dos factos exarados ou atestados pela entidade documentadora
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3º ano, Turma A
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PROVA PERICIAL
Consiste na percepção e apreciação de factos através do parecer de uma pessoa
especialmente qualificada num certo domínio técnico ou científico, que é o perito (art
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3º ano, Turma A
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368º CC). A prova pericial pode ser requerida pelas partes ou ordenada oficiosamente,
tendo uma força probatória livremente apreciada pelo tribunal (art 391º CC).
PROVA TESTEMUNHAL
Consiste no depoimento de uma pessoa que emite uma declaração de ciência relativa
a um ou a vários factos. Esta é admissível em todos os casos em que não seja directa
ou indirectamente afastada (art 392º CC). A prova testemunhal é livremente apreciada
pelo tribunal, nos tem
PROVA POR APRESENTAÇÃO DA COISA
Consiste na exibição de uma coisa móvel ou imóvel. A sua valoração, se não houver
regra especial, assume a força de prova livre (art 607º CPC).
VALOR EXTRAPROCESSUAL DA PROVA
A prova realizada num processo pode ser utilizada num outro processo pendente entre
as mesmas partes (art 421º CPC). Desse valor extraprocessual exclui-se a prova
documental, dada a facilidade com que a mesma é produzida no processo, e a prova
por inspecção judicial. Já a prova por confissão só pode valer num outro processo como
confissão extrajudicial, nos termos do art 358º CC.
O valor extraprocessual da prova só é admitido quando estão preenchidas certas
condições: desde logo, quando o próprio processo em que as provas se produziram
não exclua a possibilidade do seu aproveitamento para outros (razão pela qual as
provas realizadas no seio de procedimentos cautelares nunca podem ser utilizadas
noutros processos). Mais que isso, pode exigir-se que as garantias das partes, no
processo em que ela foi realizada, não sejam inferiores as do processo em que a prova
se pretende fazer valer – art 421º CC. Finalmente, o valor extraprocessual da prova
requer que o processo em que foi realizada não tenha sido anulado na parte referente
à prova.
FALTA DE PROVA
Se o processo se rege pela disponibilidade das partes, o ónus da prova objectivo
coincide com o ónus da prova subjectivo – a dúvida sobre a realidade de um facto é
resolvida contra a parte a quem o facto aproveita (art 346º CC e art 414º CPC). Assim
sendo, havendo falta ou insuficiência de prova, o tribunal ficciona a prova do facto
contrário e decide com base nesse facto.
A ordem da apreciação pelo tribunal da prova depende do tipo de acção instaurada
pelo autor. Se estamos perante uma acção de apreciação positiva, de condenação ou
constitutiva, então incumbe-lhe a prova do facto constitutivo da situação jurídica
alegada e apenas perante esta prova se devolve à parte passiva a prova do facto
impeditivo, modificativo ou extintivo. Assim sendo, a posição probatória do réu
depende da prova produzida pelo autor – se o autor não prova o facto constitutivo, a
acção é julgada improcedente, mesmo que o réu não prove qualquer facto impeditivo,
modificativo ou extintivo. No entanto, se o autor faz prova do facto constitutivo, o réu
pode: (i) impugnar, por contraprova (art 346º CC) ou por prova do contrário (art 347º
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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
PETIÇÃO INICIAL
A petição inicial é o articulado utilizado pelo autor para formular a sua pretensão de
tutela jurisdicional, sendo aqui que este alega os respectivos fundamentos de facto e
de direito. É a petição inicial que dá início ao processo, pelo que nenhum processo
começa sem a sua apresentação – a entrada da petição inicial determina o momento
de início da instância (art 259º, nº 1 CPC).
Quanto ao conteúdo e à estrutura da petição inicial, rege o art 552º CPC. O mesmo
estabelece os requisitos a respeitar na feitura deste articulado, podendo daí extrair-se
que a petição inicial se estrutura em quatro partes fundamentais:
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Anteriormente, esta parte do processo era feita em momento posterior, pois que havia um momento
processual tido como adequado para a indicação dos meios de prova.
1
3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
A petição inicial deve ser apresentada em juízo para que se dê início à acção. O
momento relevante para esse efeito é, então, o momento de recepção da petição pela
secretaria (art 259º, nº 1 CPC). Tendo a petição inicial de obedecer a certos requisitos,
há que determinar qual deve ser a actuação da secretaria caso parte desses não se
verifiquem. Assim, pode a secretaria recusar a recepção da petição inicial, se se
verificar qualquer dos casos previstos no art 558º CPC. Este é, note-se, um controlo
meramente formal da petição – à secretaria não cabe recusar a pretensão a pretexto
de incompetência do tribunal (kompetenz-kompetenz), por erro na forma de processo
escolhida ou por erro no valor atribuído à acção.
Se o autor entender que a recusa por parte da secretaria é injustificada, pode reclamar
para o juiz, nos termos do art 559º CPC. Atendendo o juiz à reclamação, a petição
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Este ponto tem relevância, desde logo, para efeitos do art 34º CPC
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A menos que só através de factos instrumentais seja possível conhecer um facto essencial
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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
considera-se recebida; não o fazendo, o autor poderá recorrer para a Relação, ainda
que o valor da causa não ultrapasse a alçada da instância (art 559º, nº 2 CPC).
Recebida a petição inicial, a mesma é apresentada à distribuição, com o objecivo de
repartir de forma igualitária o serviço judicial (art 203º CPC). Realizada esta, procede-
se à autuação do processo, integrando-se nesse a petição inicial e os documentos que a
acompanham.
O juiz pode determinar que a petição inicial lhe seja presente para despacho logo que
recebida em juízo – art 590º, nº 1 CPC. Nesse caso, estaremos perante uma
manifestação do exercício das competências de gestão processual que a lei confere ao
juiz (art 6º CPC). Consequentemente, haverá lugar ao proferir de despacho de
indeferimento liminar, no âmbito do qual o juiz pode já indeferir a petição. O
indeferimento liminar pode acontecer por uma de duas razões:
o O pedido é manifestamente improcedente, sendo possível ao juiz constatar, por
simples leitura da petição, que a pretensão do autor está condenada à
improcedência – dá-se um julgamento antecipado do mérito da causa
o Foram violados pressupostos processuais geradores de excepções dilatórias
insusceptíveis de sanções e que o juiz pode conhecer oficiosamente (por
exemplo, há ilegitimidade singular, incompetência absoluta ou ineptidão da
petição inicial).
O despacho de indeferimento liminar admite sempre recurso para o Tribunal da
Relação, independentemente do valor da causa – art 629º, nº 3, al c) CPC. Aceite o
recurso, deve o despacho ordenar a citação do réu – art 641º, nº 7 CPC. Mais, havendo
indeferimento liminar, o autor goza da possibilidade de apresentar nova petição,
dispondo de 10 dias a contar da notificação do despacho de indeferimento liminar para
tal – art 590º, nº 1 e art 560º CPC.
Para além de poder deferir ou indeferir a petição, o juiz pode convidar o autor ao
aperfeiçoamento da mesma, quando as irregularidades sejam supríveis.
CITAÇÃO DO RÉU
Recebida a petição inicial e cumpridas as formalidades introdutórias, o processo deverá
seguir o seu curso. Assim sendo, há que proceder à citação do réu, de modo a que seja
dado a conhecer ao réu a acção instaurada pelo autor e que este tenha possibilidade
de se defender (art 219º, nº 1 CPC). Com a citação, assegura-se o princípio do
contraditório e o inerente exercício do direito de defesa (art 3º).
A secretaria promoverá oficiosamente as diligências necessárias à citação – arts 562º e
226º, nº 1 CPC. O art 561º CPC prevê a figura da citação urgente, que se verifica quando
a mesma tem prioridade sobre as restantes. O pedido de citação urgente deverá ser
formulado pelo autor na petição inicial, cabendo ao juiz determinar a urgência da
citação quando considere justificado o requerimento.
No acto de citação devem ser disponibilizados ao réu o duplicado da petição inicial e
as cópias dos documentos que a acompanhem. Mais, deve o réu ser informado sobre
as consequências da falta de contestação – arts 219º, nº 3 e 227º CPC.
A citação do réu pode assumir diferentes modalidades:
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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
CONTESTAÇÃO
Na contestação o réu opõe-se ao pedido formulado pelo autor. Essa oposição pode ser
frontal (ou directa), se contradisser os factos apresentados na petição inicial ou afirmar
que esses factos não levam, nem podem levar, ao efeito jurídico pretendido pelo autor
(art 571º, nº 2 primeira parte); ou pode ser lateral (ou indirecta), se alegar factos que
inibem o tribunal de conhecer do mérito da causa (arts 571º, nº 2 e 576º, nº 1 e 2 CPC)
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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
ou se alegar factos que impeçam, modifiquem ou extingam o direito invocado pelo autor
(arts 571º, nº 2 in fine e 576º, nº 1 e 3 CPC).
A defesa do réu pode, desde logo, ser feita por excepção ou por impugnação.
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→ Ónus de impugnação:
O outro princípio a ter em atenção na defesa do réu é o ónus de impugnação. Nos
termos do art 574º, nº 1 CPC, na contestação, o réu irá tomar posição definida perante
os factos que constituem a causa de pedir invocada pelo autor.
O réu tem de impugnar os factos que não reconheça ou não aceite. Tal impugnação
não carece, porém, de ser motivada, através de uma contraversão dos factos articulados
pelo autor. Basta a mera negação expressa do(s) facto(s) alegado(s). Se o réu não tomar
posição sobre aqueles factos, entende-se que os admite como exatos, nos termos do
artigo 574º, nº 2.
O ónus da impugnação está sujeito a algumas exceções. Desta forma, apesar de não
impugnados, não se têm como admitidos por acordo os factos que se encontrem em
manifesta oposição com a defesa considerada no seu conjunto, os factos sobre os quais
não seja admissível confissão (art 354º CC) e, ainda, os factos que só possam ser
provados por documento escrito (art 574º, nº 2, 2ª parte).
A parte final do artigo 574º, nº 2 CPC determina ainda que a admissão de factos
instrumentais pode ser afastada por prova posterior.
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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
CONTESTAÇÃO RECONVENÇÃO
Nos termos do art 266º, nº 1, o réu pode aproveitar a contestação para formular
pedidos contra o autor. Estaremos, nesse caso, perante a figura da reconvenção, na
qual o réu (reconvinte), sendo titular de uma pretensão autónoma contra o autor
(reconvindo), a faz valer nesse processo. Há, portanto, uma inversão de posições das
partes ou, nas palavras de José Alberto dos Reis, um “cruzamento de ações”.
A reconvenção tem um carácter facultativo. Com efeito, porque o pedido corresponde
a uma ação própria, o réu pode optar entre fazê-lo valer em reconvenção e deduzi-lo
em separado. No entanto, esta faculdade concedida ao réu está sujeita a certos limites
e à observância de determinados requisitos.
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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
REVELIA DO RÉU
Depois de citado, o réu pode ou não contestar, embora tal decisão não seja de menor
importância. Quando não contesta a ação, o réu entra em revelia, correspondendo a
revelia ao estado em que se encontra o réu não contestante. A este propósito,
podemos falar em revelia absoluta e revelia relativa. Além disso, podemos falar em
revelia operante e revelia inoperante. A natureza absoluta ou relativa não determina
o regime da operância ou inoperância, isto é, dos efeitos da revelia. Por outras palavras,
podemos ter uma revelia absoluta e o seu efeito ser operante, bem como podemos ter
uma revelia relativa e o seu efeito ser inoperante.
A revelia diz-se absoluta quando, além de não deduzir oposição, o réu não constitui
mandatário nem intervém de qualquer forma no processo (artigo 566.º). A revelia é
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3º ano, Turma A
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1. Revelia operante:
O réu, mais do que ter o direito, tem o ónus de contestar a ação, na medida em que a
revelia (sendo operante) produz efeitos que lhe são desfavoráveis.
A revelia operante tem por efeito a confissão dos factos articulados pelo autor, tal
como estabelece a parte final do art 567º, nº 1 CPC, sendo que este regime tem lugar
quando o réu, apesar de não contestar, foi ou deva considerar-se citado regularmente
na sua própria pessoa, ou, pelo contrário, haja juntado procuração a mandatário
judicial, no prazo da contestação. O efeito deste comportamento omissivo do réu é a
chamada “confissão tácita ou ficta”. Tal confissão distingue-se da confissão judicial
expressa, que consiste numa declaração de ciência, através da qual se reconhece um
facto cuja prova pertence à parte contrária (arts 355º e ss CC). Por sua vez, a confissão
a que conduz a revelia operante não depende de qualquer declaração nesse sentido,
bastando a própria inércia do demandado. Nos termos legais, não tendo o réu
contestado e considerando-se confessados os factos alegados pelo autor, restará
apenas decidir a causa conforme for de direito (art 567º, nº 2 CPC).
Cumpre ressalvar que o estado de revelia operante em que se encontra o réu, embora
seja suscetível de potenciar tal desfecho, não conduz, sem mais, à procedência da
ação. Em suma, na revelia operante há confissão dos factos, mas não do direito.
A operância da revelia gera o encurtamento da ação. Confessados os factos, por
ausência de contestação, não há mais articulados. Além disso, são suprimidas todas as
etapas ou atos processuais cuja existência radica num quadro de litígio acerca dos
factos da causa e à necessidade de produzir prova quanto aos mesmos.
Nessa conformidade, proferido que seja o despacho judicial a dar como verificada a
revelia e a fixar os efeitos da sua operância, o art 567º, nº 2 CPC prevê que o processo
passe imediatamente para um momento de alegações escritas sobre a matéria de
direito – única vertente ainda em aberto, pois a matéria de facto está assente, após o
que é proferida sentença, julgando a causa conforme for de direito.
A revelia operante provoca uma alteração na estrutura normal do processo. Não tendo
havido contestação, já não há lugar a mais articulados. Não se realizará a audiência
prévia, nos termos do art 592º, nº 1, al a) CPC. No entanto, será proferido despacho
saneador destinado a conhecer imediatamente do mérito da causa, de acordo com o
art 595º, nº 1, al b) CPC.
2. Revelia inoperante:
A cominação fixada na lei para a revelia do réu conhece algumas exceções, o que
significa que, em determinadas circunstâncias, apesar de o réu não ter contestado, nem
por isso se consideram confessados os factos articulados pelo autor. Estamos então
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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
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3º ano, Turma A
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Finalmente, estabelece a al d) do art 568º que a revelia não produz efeitos quando se
trate de factos para prova dos quais se exija documento escrito.
RÉPLICA
A réplica representa o terceiro articulado do processo declarativo comum, cabendo a
sua apresentação ao autor. Este é um articulado meramente eventual, na medida em
que só pode ter lugar em duas situações: quando o réu haja formulado pedido
reconvencional na contestação, servindo a réplica para ao autor deduzir toda a sua
defesa quanto à matéria da reconvenção – art 584º, nº 1 CPC; quando, em acção de
simples apreciação negativa, o autor queira impugnar os factos constitutivos que o réu
tenha alegado e alegar os factos impeditivos ou extintivos do direito invocado pelo réu,
como dispõe o art 584º, nº 2 CPC.
O prazo de apresentação da réplica é de 30 dias a contar da notificação da contestação
(art 585º CPC). Em termos estruturais, a réplica é em tudo semelhante aos articulados
anteriores. A falta da sua apresentação, dada a função que a mesma desempenha, leva
ao efeito fixado pelo art 574 CPC, ou seja, a que tais factos se considerem admitidos
por acordo (art 587º, nº 1 CPC).
(Articulados supervenientes)
Decorre do art 611º, nº 1 CPC que a sentença deve tomar em consideração os factos
constitutivos, modificativos ou extintivos do direito que se produzam após a
propositura da acção.
Ainda que o momento normal para alegação dos factos seja a petição inicial, pode
acontecer que determinados factos constitutivos do direito ocorram depois da
apresentação da mesma. Para além disso, pode acontecer que surjam factos extintivos,
impeditivos ou modificativos desse direito. Esses factos serão apelidados de factos
supervenientes. Obrigando o art 611º a que estes sejam introduzidos no processo,
surge a figura dos articulados supervenientes (arts 588º e 589º CPC).
O articulado superveniente está sujeito a despacho liminar, podendo ser rejeitado pelo
juiz nos casos previstos no art 588º, nº 4 CPC. Sendo recebido, é notificada a parte
contrária, para que seja garantido o direito ao contraditório.
PROVIDÊNCIAS CAUTELARES
O reconhecimento da existência de um direito pode demorar tanto tempo que a
decisão, quando proferida, acaba por perder o seu efeito prático. Assim sendo, a parte
final do art 2º, nº 2 prevê, para além das acções, os “procedimentos necessários para
acautelar o efeito útil da acção”. São estes os procedimentos cautelares, referidos nos
arts 362º e seguintes CPC.
Há duas coisas que têm de estar sempre presentes relativamente às providências
cautelares:
o A ideia é serem rápidas, pelo que não é adequada a feitura de perícias. Os meios
de prova principais, neste âmbito, são a prova testemunhal, os documentos e a
confissão.
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3º ano, Turma A
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Note-se que, se depois de decretada a providência cautelar, o autor não apresentar uma acção principal
dentro do prazo correcto, a providência caduca, precisamente por ser uma decisão provisória.
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3º ano, Turma A
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acção principal, pelo que é o juiz que deve procurar qual a melhor providência
cautelar para exercer essa função. Existem três funções prosseguidas pelas
providências cautelares:
• Função de garantia – garantia do património, para depois o direito de
crédito ainda se poder exercer (arresto)
• Função de antecipação – aquilo que vai ser dado na acção principal
começa a ser dado antes de esta ter terminado (alimentos provisórios)
• Função de regulação provisória – o tribunal não dá exactamente aquilo
que as partes querem, mas cria uma situação intermédia entre aquilo que
o requerente quer e aquilo que o requerido quer, servindo essa para
assegurar o direito durante esse período de tempo.
o Instrumentalidade hipotética – a providência cautelar está sempre na
dependência de uma acção principal, e a sua eficácia depende da procedência
ou não desta. Se o juiz decretar uma providência cautelar e, depois, o juiz da
acção principal considerar que afinal o requerente não tinha o direito que o juiz
até achou plausível que tivesse, então a providência cautelar extingue-se por
caducidade. Quando o juiz pondera entre decretar ou não a providência
cautelar, faz um juízo sobre a possibilidade de acção proceder ou não (faz um
juízo hipotético daquilo que pode ou não acontecer na acção principal).
CLASSIFICAÇÕES
A primeira classificação a reter é a que distingue entre providências conservatórias e
providências antecipatórias. As providências conservatórias são as que visam
conservar a situação de facto anterior, por forma a prevenir uma alteração que se
antevê como prejudicial. Dentro destas, temos: o arresto, o arrolamento, o embargo
da obra nova e a suspensão das deliberações sociais, tendo todas estas por finalidade
manter a situação existente. Em oposição a estas, as providências antecipatórias são
as que visam obstar a que se verifiquem prejuízos pela demora da decisão definitiva,
sendo por isso uma antecipação provisórias dos efeitos dessa decisão. Em causa estão
os alimentos provisórios, o arbitramento da reparação provisória e a restituição
provisória da posse.
Uma das maiores distinções a fazer nesta matéria é a que existe entre providências
cautelares especificadas e providências cautelares não especificadas.
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Isto significa que não são susceptíveis de arresto os bens absolutamente impenhoráveis (art 736º CC)
ou os bens relativamente impenhoráveis (art 737º CC)
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3º ano, Turma A
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INVERSÃO DO CONTENCIOSO
O princípio segundo o qual os procedimentos cautelares são sempre dependência de
uma causa principal pode sofrer – desde de 2013 – uma excepção. Essa excepção é,
precisamente, a inversão do contencioso (art 364º, nº 1 CPC).
Nestes casos, as providências cautelares deixam de depender da acção que teria por
fundamento o direito acautelado. Assim sendo, a providência pode consolidar-se como
composição definitiva do litígio e, portanto, o requerente fica dispensado de propor a
acção respectiva. Na prática, há uma inversão do ónus de propor a acção principal: a
acção principal pode ser proposta, mas pelo requerido.
Para que possa existir inversão do contencioso, exige-se que:
o Tal seja requerido pela parte (art 369º, nº 2 CPC)
o O juiz tem que estar convencido, nos mesmos termos em que tem de estar
convencido na acção principal – o juiz declara a providência cautelar e, se estiver
realmente convencido, declara depois a inversão do contencioso. Exige-se então
que estejamos já no âmbito da prova stricto sensu e no convencimento de que
o direito existe (passados os crivos do periculum in mora e do fomus boni iuris.
o A natureza da providência cautelar o permita – diz o art 376º, nº 4, de entre as
providências especificadas, quais aquelas em que se pode verificar uma
inversão do contencioso. Apenas pode haver inversão do contencioso quando a
providência cautelar decretada corresponda exactamente àquilo que o autor
quer obter na acção principal.
Diz o Professor Miguel Teixeira de Sousa que, por razões de lógica, só pode haver
inversão do contencioso nos casos em que primeiro surge a providência cautelar e
apenas depois disso seria intentada a acção principal – não faz sentido decretar a
inversão do contencioso nas situações em a acção já foi proposta, pois que a inversão
do contencioso representa exactamente uma decisão do juiz através da qual este decide
a dispensa de o requerente propor acção principal.
Se o requerido tomar a opção de propor a acção principal, que tipo de acção teremos?
O Professor Miguel Teixeira de Sousa entende que esta acção se poderá configurar de
duas maneiras:
o O requerente propõe a acção principal e, nesta, pede a impugnação da decisão
que foi tomada em sede de providência cautelar. Aqui, a causa de pedir da
impugnação é constituída pela ideia de que os fundamentos em que o juiz
fundou a sua decisão de considerar que o direito do requerente existia estão
errados.
o O requerido propõe uma segunda acção normal, mas que em si mesma seja
incompatível com aquilo que foi decidido na providência cautelar. Se a acção
do requerido proceder, então, indirectamente, ataca a providência cautelar
decretada.
Outra questão que se pode colocar é a que resulta da existência do princípio da
preclusão – no processo civil, as coisas têm um momento para serem feitas, pelo que,
não sendo feitas em sede própria, não podem ser feitas em momento posterior.
Pergunta-se: se o requerido, na providência cautelar, não invocar algum facto
modificativo, extintivo ou impeditivo do seu direito, pode depois vir a invocá-lo na
acção principal? Mesmo depois de ter sido invertido o contencioso? O Professor Miguel
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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
Teixeira de Sousa entende que sim – a preclusão não opera entre a providência
cautelar e a acção principal, mesmo que tenha sido decretada a inversão do
contencioso.
NEGÓCIOS PROCESSUAIS
São actos processuais de carácter negocial que constituem, modificam ou extinguem
uma situação processual. Estes podem ser, desde logo, preparatórios ou
interlocutórios, consoante sejam concluídos antes da propositura da acção ou durante
a pendência da causa.
CONFISSÃO DO PEDIDO
É o negócio unilateral pelo qual o réu reconhece o fundamento do pedido formulado
pelo autor (art 283º, nº 1 CPC). A confissão do pedido não pode ser submetida a
condição e é, desde logo, diferente da confissão de um facto. Mais, confessar todos os
factos não implica confissão do pedido. EXEMPLO: A é do Sporting e odeia pessoas do Benfica.
A propõe uma acção contra B, que é benfiquista, e diz: B é do Benfica. Eu odeio pessoas do Benfica. Estar
na presença de pessoas do Benfica causa-me danos, pelos quais eu quero uma indemnização de B.
Confessar um facto significa B dizer que é verdade que é do Benfica; confessar todos os factos significa B
dizer que é do Benfica, que A odeia pessoas do Benfica e que, de facto, A sofre danos por estar na sua
presença. Isso não significa que B confesse que A tem direito a uma indemnização – não há confissão do
pedido.
Pode ser total ou parcial, consoante o âmbito do reconhecimento realizado pelo réu
(art 283º, nº 1 CPC). Diz o Professor Miguel Teixeira de Sousa que, em termos de
interpretação do negócio jurídico, devemos entender que a confissão de um pedido
depois da condenação do réu equivale ao próprio dizer “estou satisfeito com a
sentença, não vou recorrer” – o réu não deve, ainda assim, confessar sempre que esses
actos reproduzam o conteúdo da decisão proferida, por falta de interesse processual.
DESISTÊNCIA DA INSTÂNCIA
É o negócio unilateral através do qual o autor renuncia à obtenção da tutela
jurisdicional requerida, pelo que se extingue a instância sem o autor marcar posição
quanto à situação jurídica por ele alegada em juízo. A desistência apenas faz cessar o
processo que se instaurara (art 285º, nº 2 CPC), dependendo normalmente da
aceitação do réu (art 285º, nº 1 CPC), que a deverá comunicar ao tribunal. Tal já não
será assim se o réu não tiver contestado ou estiver em revelia, situações nas quais pode
sempre haver desistência da instância, mesmo sem consentimento.
Não tendo havido contestação, o autor poderá desistir da instância até à sentença,
pois que se presume que, se o réu tivesse algo a dizer, tinha contestado. Note-se que,
depois de haver decisão favorável ao réu, a desistência da instância configura um
abuso do autor – a contestação é um ónus (e não um dever), e permitir essa atitude por
parte do autor teria implicações práticas muito relevantes. A desistência da instância
não cessa o direito do autor de voltar a propor a ação e não implica dizer que o réu
está, ao aceitar a desistência, a renunciar ao seu pedido reconvencional. Diz o
Professor Miguel Teixeira de Sousa que não podemos ler a aceitação do réu da
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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
DESISTÊNCIA DO PEDIDO
É o negócio unilateral através do qual o autor reconhece a falta de fundamento do
pedido formulado. Aqui, há um reconhecimento pelo autor de que a situação jurídica
alegada não existe ou se extinguiu. A desistência do pedido pode ser total ou parcial
(art 283º, nº 1 CPC). Para além disso, esta é livre, mantendo-se o pedido reconvencional
(a menos que este fosse dependente do pedido formulado pelo autor). Na desistência
do pedido, não pode o autor voltar a propor nova ação – art 285º, nº 1 CPC.
Na desistência do pedido, ao contrário do que acontece na desistência da instância, não
é exigida a autorização do réu. O fundamento para tal reside na ideia de que a
desistência do pedido é sempre favorável ao réu – o réu ganha sempre mais com a
desistência do pedido do que ganharia se o autor não tivesse desistido. Já no que toca
à desistência da instância, o réu até pode ter interesse em que aquele problema seja
resolvido, ou até achar que vai ganhar.
TRANSACÇÃO
Transacção é o contrato pelo qual as partes previnem ou terminam um litígio mediante
recíprocas concessões – podem envolver a extinção ou modificação de direitos
diversos do direito controvertido (art 1248º CC).
SENTENÇA
A sentença representa uma decisão do tribunal, através da qual se põe fim ao processo.
A sentença compõe-se em três partes:
o Relatório – o juiz identifica as partes e enuncia os pedidos deduzidos, bem como
as questões relativas à causa de pedir e excepções, tanto suscitadas pelas partes,
como as que ao tribunal cumpre oficiosamente conhecer (art 607º, nº 2 CPC)
o Fundamentação – o juiz descrimina os factos que considera provados, determina
as normas jurídicas aplicáveis, interpreta-as e aplica-as (art 607º, nº 3 CPC), em
obediência ao disposto no art 205º, nº 1 CRP.
o Decisão – o juiz, consoante os casos, absolve o réu da instância ou responde ao
pedido feito pelo autor (art 607º, nº 3 CPC), nele condenando ou dele
absolvendo.
A sentença comporta o resultado de um julgamento de matéria de facto e de um
julgamento de direito. Na decisão de facto, o tribunal declara quais os factos, dos
alegados pelas partes e instrumentais que considere relevantes, que julga provados
(total ou parcialmente) e quais os que julga não provados. Essa convicção deve ser
fundamentada, correspondendo ao resultado da análise crítica das provas e à
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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
especificação das razões que o levaram à decisão tomada sobre a verificação de cada
facto (art 607º, nº 4, 1ª parte). A fundamentação exerce uma dupla função: reforçar o
reexame da causa pelo tribunal superior e reforçar o autocontrolo do julgador. Mais, o
juiz deverá ainda considerar os factos cuja prova resulta da lei (art 607º, nº 4, 2ª parte
CPC), ou seja, da assunção de um meio de prova com força probatória pleníssima, plena
ou bastante.
Já no que toca à decisão de direito, a aplicação do direito pressupõe o apuramento de
todos os factos da causa que, tidos em conta os pedidos e as excepções deduzidas,
sejam relevantes para o preenchimento das respectivas previsões normativas. A esses
factos, o juiz aplica o direito, sempre com respeito pelo art 3º, nº 3. A sentença começa
assim pelo conhecimento das questões que possam conduzir à absolvição do réu da
instância (art 608º, nº 1 CPC). Não havendo lugar à absolvição da instância, segue-se a
apreciação do mérito da causa – o juiz responde agora aos pedidos deduzidos pelo
autor e pelo réu reconvinte, relacionando as causas de pedir invocadas e as excepções
peremptórias deduzidas pelo réu ou pelo autor reconvido, bem como as que deva
conhecer a título oficioso (art 608º, nº 2 CPC).
Acessoriamente, a sentença condena nas custas do processo a parte que lhe tenha
dado causa (arts 527º, nº 1 e 607º, nº 6 CPC), que será, em princípio, a parte vencida
(será o autor se o réu, embora vencido, não tiver contestado).
VÍCIOS DA SENTENÇA
Podemos desde logo identificar os chamados vícios da essência – são casos de aparência
de decisão, em que o acto judicial não tem, pelas circunstâncias, sequer aparência de
acto judicial. A consequência é a inexistência do acto, verificando-se tal desvalor
quando:
o Há falta de poder jurisdicional do judiciante
o Há absoluta inteligibilidade da decisão
o Há falta de forma, podendo não haver sequer aparência social de sentença
Para além destes, há ainda os vícios de limites, todos eles presentes no art 615º CPC. A
sua consequência é a nulidade, que tem de ser alegada e invocada (sob pena de se
sanar). Decorre do art 615º, nº 4 CPC que, para invocar uma nulidade, em regra, se pede
recurso ordinário (para o órgão superior). Se não houver possibilidade de recurso, faz-
se uma reclamação (para o órgão que proferiu a decisão). Se o recorrente pedir recurso
com base num dos casos do art 615º e o juiz entender que o caso seria outro, não
poderá dele conhecer oficiosamente (a menos que haja falta de fundamentação – al
b)). Seguem-se os vícios de conteúdo, que são erros no julgamento. Estes podem ser de
dois tipos:
o Erro material – inexactidão ou omissão de elementos do processo, ou situações
em que se presumem divergências entre a vontade do juiz e o que ele
efectivamente escreveu (art 6º, nº 4 CPC). este tipo de erro pode ser ratificado
por iniciativa das partes ou do juiz (arts 613º, nº 1 e 614º, nº 1 CPC), mas esta
não permite alterar o que já foi decidido. Não sendo interposto recurso, pode
ter lugar a todo o tempo (art 614º CPC)
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o Erro judicial – divergência entre a realidade e aquilo que foi afirmado em juiz. É
impugnável através de reclamação, se não couber recurso ordinário (art 616º)
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decidir que afinal não é competente, porque a decisão que tomou não apreciou
concretamente a questão da competência, apenas genericamente.
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SÓ O PEDIDO CONTRÁRIO CONTRADITÓRIO É QUE É CONSIDERADO O MESMO PEDIDO – A pede ao
tribunal para delcarar que é proprietário, o que o tribunal faz. Depois, B, que era réu na primeira acção,
pede ao tribunal para declarar que A não é proprietário daquela casa, no mesmo período temporal.
Ainda que pareçam pedidos diferentes, a verdade é que o direito que o pedido tem por objecto é
exactamente o mesmo. No fundo, B pede exactamente a mesma coisa, mas formulada em “não”.
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Perante esta situação, na PI, A deve dizer que a casa é sua, que B causou estes danos, agiu com culpa,
etc., e que a circunstância de a casa ser sua é uma situação da qual o tribunal não pode conhecer por
autoridade do caso julgado, julgando a sentença em anexo.
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Quando o juiz toma a decisão da sentença, tem em conta três tipos de factos:
1. Aqueles de que tem conhecimento logo no início da acção;
2. Aqueles que conhece durante a acção;
3. Aqueles que foram alegados no início da acção, e que eram mentira, mas que se
tornaram verdadeiros durante o decorrer da acção.
Caso o autor venha pedir o cumprimento de uma obrigação e o cumprimento se dê
entre o encerramento, discussão e julgamento e a sentença, só depois, quando o autor
na acção executiva pedir a penhora dos bens do réu, é que o réu poderá alegar que já
cumpriu. Significa isto que, ainda que já tenha havido cumprimento, irá ser emitida
sentença condenatória.
As excepções a esta realidade são as acções de parentalidade e as de simples
apreciação, podendo nestas últimas o autor criar a sua própria referência temporal
(EXEMPLO: A pede ao tribunal que declare que este foi proprietário entre Setembro de
2009 e Agosto de 2010 – o momento de referência do tribunal não é o encerramento da
discussão em primeira instância, mas antes aquele que o autor pediu).
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pequeno, o credor pode a seguir propor nova acção em que pede a redução do
preço. Diferente é a situação em que o credor pede a anulação do contrato por
cumprimento defeituoso e o tribunal nega o pedido por a coisa se encontrar em
perfeitas condições. Aqui, não pode o credor propor nova acção, porque este é
um fundamento válido para todas as outas alternativas. Com base nisto, diz o
Professor Miguel Teixeira de Sousa que, se o fundamento com que a primeira
alternativa improcedeu fizer com que as outras também improcedam, o
fundamento poderá ser utilizado noutras acções, mesmo que não tenha sido
formulado por um pedido autónomo.
3. Excepções peremptórias modificativas – as excepções peremptórias
modificativas dão aso a condenações in futurum. O tribunal, por um lado,
condena dizendo ao réu que tem que pagar, mas absolve dizendo que o réu não
tem que pagar já (apenas quando uma certa condição se verificar, por exemplo).
O autor propõe nova acção a dizer que a condição já se verificou, logo, o réu tem
de pagar. Já não terá que se discutir se o réu tem a obrigação de pagar quando
se verifica a condições, pois que isso é um fundamento que fica assente na
primeira acção;
4. Relações de prejudicialidade – estamos perante uma primeira acção que é
prejudicial de uma segunda. Tanto a primeira como a segunda têm por
fundamento o mesmo facto. Neste caso, há fundamentos assentes na primeira
acção que podem ser aproveitados para a segunda.
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o Eficácia absoluta – uma decisão tem eficácia absoluta quando é uma decisão que
tem os interessados muito bem delimitados e todos os interessados estiveram
na acção (por exemplo, acções de parentalidade)
o Extensão a partes materiais – uma parte material é alguém que não esteve no
processo, mas que tem exactamente a mesma qualidade jurídica que alguém
que esteve. Ocorre na situação dos sucessores, quer por morte, quer inter vivos.
A queles que sucedem num direito também ficam vinculados pelo caso julgado
que foi proferido em relação àquele direito anteriormente.
o Extensão a terceiros materiais – vem sempre prevista na lei, e somente nos
casos em que é favorável a terceiro é que pode ser aplicada. Existem duas
situações possíveis:
• Relações subordinadas – finanças
• Relações paralelas – devedores solidários
EXEMPLO: A é fiadora de B; C propõe uma acção contra B para que este lhe
pague e o tribunal considera a acção procedente. Não pode C utilizar esta
sentença para obrigar A a pagar também – a lei diz expressamente que, quando
for desfavorável não pode ser oposto ao fiador. Mas, se o tribunal considerasse
que B não devia nada, poderia A invocar o caso julgado quando C lhe fosse exigir
o pagamento – aqui já era favorável.
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