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22/02/2022
I
I.1. Formas de processo
I.2. Fases do processo comum
Elementos de estudo
I.2.1. Fase dos articulados
Articulado – noção e formas de apresentação
a) A petição inicial
a.1. - conteúdo – visão geral
a.2. - em particular:
-- a causa de pedir
-- o pedido – noção, modalidades de pedidos e seu regime
-- assinatura
-- requerimentos de prova
a.3. - conteúdo facultativo
a.4. – ineptidão – noção e regime
a.5. – momento de apresentação
a.6. - recusa pela secretaria
b) Distribuição
______________________
Formas de Processo
Conceito de Forma de Processo: conjunto sequencial de atos/fases cuja prática está pré-ordenada a um fim
(assegurar a justa resolução de um litígio mediante observância de determinadas garantias – a garantia do
contraditório e da igualdade).
Apesar de a forma de processo estar prevista na lei, em determinadas circunstâncias, o juiz tem a
possibilidade de se desviar desse procedimento desde que as especificidades da causa justifiquem que se
pode adotar um caminho alternativo.
Relativamente à tramitação legal no âmbito do processo declarativo (o processo executivo apenas será
estudado em DPCIII), existem duas formas previstas pelo legislador, tal como prevê o art. 546.º/1, CPC:
Perante esta distinção, existe uma determinada relação. Não cabe ao autor ou às partes escolher uma forma
de processo ou outra. A relação que existe entre ambas é uma relação de subsidiariedade da forma de
processo comum relativamente à forma de processo especial. Perante um determinado conflito importa ver
se existe alguma forma de processo especial que nos termos da lei esteja prevista enquanto caminho
próprio para resolução desse conflito. Só se se chegar à conclusão de que não existe nenhuma forma de
processo especial adequada àquele caso é que se recorre à forma de processo comum (art. 546.º/2).
O número de processos especiais tem vindo a diminuir, porque a tendência tem sido conceder ao juiz a
possibilidade de, no âmbito da forma de processo comum, introduzir modificações ao regime que esta
legalmente previsto, em função das particularidades de cada ação, sendo cada vez menos necessário que o
legislador preveja mais formas de processo especial.
Nem só no CPC estão previstas as formas de processo especiais, mas também em legislação avulsa. Ex:
procedimentos para o cumprimento de obrigações emergentes de contratos, que se encontram previstos no
DL 269/98, de 1 de setembro.
A forma de processo que se aplica a uma determinada ação não é algo que apenas o juiz tenha de conhecer,
uma vez que incumbe ao autor, aquando da petição inicial, indicar a forma de processo que considera
adequada ao caso concreto – art. 552.º/1/c).
Hoje, a forma de processo comum segue uma tramitação unitária, que se aplica a todas as ações de
declarativas que sigam a forma de processo comum. Isso não signifique que o legislador em determinadas
hipóteses o legislador não tome em consideração o valor da causa para introduzir desvios à tramitação
unitária. Ex: art. 468.º/5 (prevê-se que nas ações cujo valor não seja superior a metade da alçada da relação,
a perícia é realizada por um único perito) e 597.º (nas ações que não excedam a metade da alçada da
relação (15.000€), determinados os articulados, o juiz procederá a determinados atos em função da
necessidade e da adequação do ato ao fim do processo. Que atos são esses? O legislador impõe que o juiz
assegure o exercício do contraditório quanto a exceções não debatidas nos articulados; impõe que o juiz
convoque a audiência prévia, profira despacho saneador, etc.). Nota: a alçada da relação tem um valor de
30.000€.
Um outro exemplo da importância do valor da causa é o art. 629.º/1, onde se estipulam os principais
critérios para que seja admissível a interposição de recurso (que o valor da causa seja superior à alçada do
tribunal de que se decorre, e é necessário que a decisão impugnada seja desfavorável ao recorrente em
valor superior em metade da alçada desse tribunal).
O autor deve indicar a forma de processo, na petição inicial, bem como o valor da ação – art. 552.º/1/f).
A ideia de legalidade das formas processuais, i.é., a ideia de que o caminho a percorrer no processo há de
ser legalmente previsto e regulado, tem vindo a sofrer alguma limitação, em função do surgimento do
dever de adequação formal a cargo do juiz. Há como que a quebra do princípio da legalidade das formas
processuais, devido ao surgimento do dever de adequação formal a cargo do juiz - art. 547.º. O juiz deve
adequar a tramitação, o conteúdo e a forma dos atos às especificidades da causa, ou seja, o tem a liberdade
de se desviar do rito processual previsto na lei – o princípio da legalidade das formas processuais deu
lugar ao princípio da adequação formal. Esta adaptação processual não se pode hoje dizer que é uma
faculdade/possibilidade que o juiz pode exercer ou não – a adequação formal é um dever a cargo do juiz.
Essa adaptação pode ser feita conformando o regime legal, mas poderá acontecer que o juiz queira admitir
atos que a lei não prevê, antecipá-los ou dispensá-los; o juiz poderá ainda alterar o conteúdo e a forma dos
atos processuais.
A plasticidade que através do princípio da adequação formal foi introduzida no processo civil permite que
em vez de rigidez possamos falar de flexibilidade processual. É no âmbito do exercício do poder de
adequação formal que o juiz pode alterar a ordem, o tipo, o fundamento de atos previstos na lei. Ex: a regra
é a de que as testemunhas sejam ouvidas na audiência final, mas o juiz pode antecipar a audiência das
testemunhas para uma fase intermédia do processo.
No que diz respeito aos articulados, o juiz pode admitir um articulado de resposta à réplica fora dos casos
previstos na lei – art. 584.º, CPC. A réplica em princípio é imediatamente subsequente à contestação do réu,
mas em determinados casos o juiz pode admitir um articulado de resposta à replica fora dos casos
previstos na lei.
Segundo o art. 485.º/2 e 3, pode ainda admitir que o perito preste esclarecimentos em vez de apresentar um
relatório escrito.
A definição judicial da forma de processo é fixada pelo juiz, em regra, após a apresentação dos articulados,
e pressupõe a observância do princípio do contraditório, porque as partes têm o direito a uma tramitação
previsível – art. 3.º/3, CPC. Mesmo nos casos em que o legislador procede à adaptação do processo em
função de certas circunstâncias, fá-lo de maneira compatível com o direito a um processo equitativo.
Art. 147.º/2 – nas ações, nos seus incidentes e nos procedimentos cautelares, se houver mandatário
constituído é obrigatória a dedução por artigos dos factos que interessem à fundamentação do
pedido ou da defesa, sem prejuízo dos casos em que lei dispensa a narração de forma articulada.
Uma vez produzida o articulado pela parte, autor ou réu, terá se der apresentado em juízo – art.
144.º, CPC. Os atos devem ser praticados por escrito, e devem ser submetidos por via eletrónica.
Esta circunstância, que corresponde à regra, não invalida que nos termos do n.º 7 o legislador
preveja casos em que a entrega dos articulados e da petição inicial possa ser realizada por via não
eletrónica, mediante entrega na secretarial judicial, remessa por correio ou outros meios alternativos
à via eletrónica. Independentemente da forma como a petição seja entregue, o seu conteúdo
encontra-se previsto de modo claro e pormenorizado.
o A petição deve conter um cabeçalho – o autor procede à identificação das partes e indica a
forma de processo, que será uma daquelas que referimos (comum ou especial).
Menção à razão de direito: art. 552.º/d), parte final. O autor tem a possibilidade de
indicar as normas jurídicas que ele entende serem as aplicáveis no caso concreto. No
entanto, importa conciliar esta possibilidade com o princípio do inquisitório,
segundo o qual o juiz não é refém das normas jurídicas invocadas pelas partes. O juiz
pode, autonomamente, indagar, interpretar e aplicar outras normas jurídicas (art.
5.º/3). No entanto, este poder inquisitório não significa que o tribunal possa proferir
uma decisão de direito de forma isolada – o juiz é livre de selecionar as normas
jurídicas que considera aplicáveis, mas tem o dever de não proferir decisões
surpresa, devendo o juiz ouvir previamente as partes de modo a que se possam
pronunciar no sentido de expor a sua posição quanto ao sentido de aplicação dessas
normas (obrigação de contraditório, art. 3.º/3).
o Por fim, a conclusão – em função dos factos que o autor invoca e do direito que afirma ser
aplicável, daí retira uma consequência mediante formulação de um pedido.
o O autor deve ainda indicar o valor da causa, assinar a peça (por norma a assinatura não é do
próprio autor, mas sim do seu mandatário) e indicar os meios de prova – a petição tem de
ser assinada, e se o não for, esse é um fundamento de recusa de recebimento da petição pela
secretaria (art. 558.º/g)). Nos casos em que a peça processual é assinada por advogado, deve
ser junta procuração – no âmbito de algumas ações, o facto de a peça ser assinada por
advogado não é apenas uma opção, mas antes uma obrigação (quando o patrocínio
judiciário seja obrigatório, nos termos do art. 40.º). Também deve ser junto à petição inicial o
comprovativo do pagamento da taxa de justiça devida, ou, se for o caso, da concessão do
benefício de apoio judiciário (art. 552.º/7).
Ponte entre a fase da petição inicial e a fase da atividade instrutória: a atividade instrutória acompanha o
processo desde o início até ao seu termo (audiência final). Pode haver inclusivamente produção de prova
antes de proposta a ação, mas mesmo que isso não aconteça, as partes têm o ónus de nas suas peças
processuais iniciais (no articulado de petição inicial e contestação) formular os seus requerimentos de
prova (art. 552.º/6). O autor tem o dever de indicar os meios de prova na petição inicial, sendo nisso que se
traduz a proposição de prova, no entanto, esse requerimento probatório é algo suscetível de alteração em
momento posterior (art. 552.º/6 + 572.º/d) + 598.º). No que diz respeito ao art. 572.º/d), incumbe ao réu na
contestação apresentar o rol de testemunhas e requerer outros meios de prova, no entanto, se tiver havido
reconvenção, e se o autor apresentar réplica, o reu pode alterar o requerimento de prova inicialmente
apresentado no prazo de 10 dias (esta é uma possibilidade apresentada ao réu). No art. 598.º apresenta-se
uma outra possibilidade de alteração do requerimento probatório quando haja lugar à audiência prévia.
No que diz respeito à prova documental, ela tem um regime específico (art. 423.º).
As declarações de parte são outro dos meios de prova, e pode ser requerido até ao início das alegações orais
na audiência final (é um meio de prova que pode ser convocado até uma fase bastante avançada do
processo – art. 466.º).
Requerimento de citação urgente – art. 552.º/9, 561.º; o autor pode lançar mão deste direito nos
casos em que esteja iminente a prescrição. A prescrição interrompe-se com a citação (mas já não se
interrompe com a propositura da ação). Por isso, se a prescrição estiver iminente, poderá recorrer-se
à citação urgente para que se possa considerar que a citação ocorreu antes de decorrido o prazo de
prescrição (323.º, CC). Também faz sentido requerer a citação urgente quando se tema que o réu se
ausente para parte incerta, porque se o fizer, não vai ser possível citá-lo nos termos gerais, sendo em
vez disso necessário recorrer à citação edital, que é sempre mais desvantajosa para o autor, visto
que o prazo para contestar só começar a correr depois de 30 dias apos a citação (art. 245.º/3).
A interrupção da prescrição é um efeito substantivo da citação, no entanto, mesmo que não se
consiga efetivamente citar o reu no prazo de 5 dias apos o reque de citação urgente, o legislador
ficciona que a prescrição se interrompeu 5 dias apos a apresentação da pt inicial se nesse prazo a
citação não tenha sido realizada por facto q n seja imputável ao devedor.
Art. 186.º, CPC. A não ser que a ineptidão seja sanada, conduz à nulidade de todo o processo.
Quando o pedido esteja em contradição com a causa de pedir – art. 186.º/2/b). Ex: A intenta uma
ação contra B, em sede de pedido requer a condenação do reu no pagamento e uma certa quantia
em dinheiro correspondente ao preço de um bem que lhe vendeu, mas em sede de causa de pedir
invoca a invalidade do negócio. Há manifestamente uma contradição entre a causa de pedir e o
pedido. Se a causa de pedir se debruça no pedido de invalidade do negócio, então não haverá lugar
ao seu incumprimento.
Existem outros casos de sanação, embora não expressamente previstos na letra da lei, sustentados
ao abrigo da económica processual e da boa gestão processual, enquanto valores protegidos pelo
art. 6.º, CPC. Ao abrigo destes princípios, deve entender-se que se há duas causas de pedir
incompatíveis, o juiz deve convidar o autor a escolher a causa de pedir com base na qual pretende
sustentar o pedido que formule, e o mesmo vale se o autor apresentar dois pedidos
substancialmente incompatíveis. Nestes dois casos, a ineptidão pode ser sanada.
Por outro lado, se forem formulados pedidos substancialmente incompatíveis, é de ponderar a
possibilidade de o autor formular esses pedidos em forma subsidiaria, em resposta ao convite feito
pelo juiz para suprir o vicio da ineptidão. Contudo, mesmo nestes casos em que se admite a
possibilidade de sanação, se a parte não responder ao convite judicial, torna-se inevitável a
nulidade de todo o processo, por ineptidão da petição nos termos do art. 186.º/1.
De notar que a parte interessada em invocar a ineptidão da petição inicial é o réu, no entanto, isto não
significa que o tribunal não deva conhecer, mesmo oficiosamente, desse vicio se se aperceber que ele existe.
Em regra, o tribunal conhece desse vicio na fase intermedia, quando profere despacho saneador. Quando o
juiz conhecer, seja oficiosamente, seja na sequência de invocação das partes, irá decretar a nulidade de todo
o processo.
Se o réu resolver invocar a nulidade de todo o processo por ineptidão da petição inicial, deverá fazê-lo até à
contestação ou na própria contestação, na medida em que a ineptidão da petição inicial conduz à nulidade
de todo o processo, e, portanto, impede que o tribunal conheça do pedido/do mérito da causa, é uma
exceção dilatória que, uma vez conhecida por ele, conduz à absolvição do reu da instancia (art. 577.º/b)).
No entanto, embora o momento mais comum para se conhecer da ineptidão da petição inicial seja o
despacho saneador, nada impede que se houver intervenção liminar do juiz apos a petição o juiz possa já
nessa fase apreciar a ineptidão, e nesse caso fá-lo-á no despacho liminar.
Uma vez elaborada a petição inicial, é necessário que a mesma dê entrada na secretaria do tribunal/em
juízo. Este momento é importante nomeadamente para efeitos de prazo de caducidade. O percurso do
prazo de caducidade implica a preclusão/exclusão da possibilidade de exercício de um direito, e nessa
medida é preciso que a petição entre na secretaria antes de decorrido o prazo da caducidade, tal como
refere o art. 381.º/1. Uma vez que o facto que impede o decurso do prazo de caducidade é o momento da
propositura da ação, e uma vez que este coincide com a entrega da petição inicial na secretaria, é este ato
que vai congelar o decurso do prazo de prescrição, impedindo a extinção do direito de recorrer a tribunal.
O facto de a petição inicial ser entregue não significa que ela seja aceite. A receção poderá ser recusada pela
secretaria – art. 558.º/2 + Portaria prevista no art. 132.º/2. Nos casos em que não seja obrigatória a
constituição de advogado, e quando a parte não seja patrocinada, será a secretaria a efetuar o controlo dos
requisitos da petição (art, 558.º/3).
Ainda como dimensão do regime jurídico da petição, importa dizer que nos casos em que a petição seja
recusada pela secretaria, o autor beneficia de uma vantagem. Se o autor não for acompanhado por
advogado (quando a constituição de advogado for facultativa), entende-se que, não obstante a petição
inicial ter sido recusada, o autor pode apresentar uma petição corrigida no prazo de 10 dias, que se conta a
partir da recusa da distribuição, recebimento ou petição inicial que confirme essa recusa, sendo que a ação
se considera proposta na data em que foi entregue a primeira petição.
Para além destes articulados, existe uma outra figura prevista nos art. 588.º e 589.º, designada por
articulado superveniente, através do qual as partes podem invocar factos que ocorreram em
momento posterior àquele que em que os articulados tiveram lugar, ou facto que apesar de terem
ocorrido em momento anterior, só se tornaram do seu conhecimento em momento posterior ao dos
articulados.
Nesta fase dos articulados, dá-se a absorção de informação apresentada pelas partes.
À fase da petição inicial segue-se o ato de distribuição, através do qual as petições são distribuídas de
forma igualitária e aleatória entre as diversas instâncias e secções previstas para causa – art. 203.º, 204.º,
207.º, 208.º, 212.º, CPC.
O disposto no art. 590.º é criticado do ponto de vista sistemático, no sentido em que não respeita à
fase intermédia, mas antes a uma fase inicial. Daí se considerar que este n.º 1 não deveria constar
inserido na fase intermédia, uma vez que ainda respeita à fase dos articulados. Há portanto uma
inadequação da localização sistemática da norma atualmente contida no n.º 1 do art. 590.º.
A fase intermédia vem, por isso, regulada a partir do n.º 2 do art. 590.º, excluindo-se o n.º 1, que
respeita à fase dos articulados.
A intervenção liminar do juiz é uma intervenção excecional, que se verifica apenas em certas
circunstâncias, porque, em regra, o juiz intervém apenas na fase posterior aos articulados. Há casos
em que isso não acontece por uma de duas ordens de razões:
1) Há casos em que é o legislador que prevê a intervenção do juiz na fase liminar – decorre da
lei que o juiz deve intervir logo após a distribuição da petição inicial. A ação é proposta
(quando a petição inicial é aceite na secretaria) e o juiz a quem for distribuído o processo
pode intervir liminarmente quando a lei assim o preveja. Art. 203.º, CPC (relativo à
distribuição).
2) Há casos em que o juiz poderá intervir liminarmente quando der instruções à secretaria no
sentido em que pretende aceder ao processo mal seja feita a sua distribuição.
Quando o juiz intervém nesta fase inicial do processo, seja por força da lei ou por força da sua
vontade, proferirá um despacho liminar.
Audiência Final
Falar de produção de prova corresponde a falar em atividade instrutória, que tem por objetivo a
produção e recolha (a assunção processual) de todos os meios de prova, que hão de dizer respeito a
matéria controvertida (matéria que não esteja assente).
Objetivo da produção de prova: quando as partes invocam uma certa versão da história, esta mera
alegação não é por si só decisiva, porque o juiz não pode confiar que aquilo que as partes dizem é
verdade. O tribunal, por princípio, só poderá considerar para efeitos de decisão os elementos
factuais que para alem de ter sido alegados, tenham sido provados, mediante convocação dos vários
meios de prova. Através da produção de prova pretende-se demonstrar a realidade dos factos, por
isso, a prova só há de incidir sobre a matéria controvertida (sobre a qual haja dúvidas). Se sobre um
determinado facto autor e réu estiverem de acordo, não há necessidade de se produzir prova,
porque já há acordo das partes quanto à verificação desse facto – deixa de ser portanto uma matéria
controvertida.
Apesar da atividade de produção de prova estar muito associada à fase da audiência final, ela vai
decorrendo ao longo do processo. Esta fase inicia-se no momento dos articulados – quando o autor
apresenta a sua petição e o reu a contestação, as partes devem fazer os seus requerimentos
probatórios, sendo que esta atividade probatória apenas termina na fase de audiência final. Pode até
acontecer que a produção de prova se verifique antes do início da ação, ou seja, antes da petição
inicial ser entregue, porque em certos casos o legislador permite que haja lugar a antecipação da
produção de prova (art. 419.º e 420.º)
Contrariamente ao que acontece como regra em matéria de facto (que por princípio deve ser
indicada pelas partes, valendo como regra o princípio do dispositivo), em matéria de direito vale o
princípio do inquisitório.
Os art. 410.º a 526.º regulam o modo como os meios de prova são requeridos pelas partes, são
produzidos processualmente e são assumidos em juízo.
Sentença
Art. 607.º a 626.º, CPC.
Em conclusão: este é o caminho regra que se observa no âmbito da forma de processo comum, mas isso não
signifique que este seja o itinerário que seja observado em todos os casos. Nem em todas as ações se segue
este caminho – em certas situações, as ações podem terminar não na sentença mas logo no momento inicial.
Pode acontecer que a ação termine com a pronúncia de um despacho de indeferimento liminar. Também
pode acontecer que o processo termine na fase intermédia se no despacho saneador o tribunal processa a
um julgamento antecipado na lide, e de imediato conheça do mérito e ponha termo à ação.
08/03/2022
II. Citação
Na aula anterior, identificamos como ato que normalmente se segue à petição inicial o ato de distribuição.
Através dele distribuem-se forma igualitária e aleatória o trabalho entre os vários juízes.
É através do ato de distribuição que se assegura o cumprimento do princípio do juiz natural, através do
qual se pretende assegurar uma distribuição igualitária entre os vários juízes, bem como assegurar que as
partes não tenham influência no momento de nomeação do juiz, de forma a garantir a imparcialidade e a
independência do juiz – característica essa que é indispensável aquando do exercício da atividade
jurisdicional.
Segue-se uma outra fase processual: em regra, após a fase de distribuição, segue-se a fase de citação.
Contrariamente à distribuição, o ato de citação visa dar cumprimento ao princípio do contraditório – dá-se
conhecimento ao réu de que contra ele foi proposta uma ação, e de que tem a possibilidade de se defender
do teor constante da petição inicial. Por regra, este ato de citação segue-se de forma imediata ao ato de
distribuição, e é realizado oficiosamente pela secretaria, ou seja, para que o ato de citação seja realizado não
é necessária nenhuma intervenção do juiz, nem sequer nenhum pedido do autor. Este dever de promoção
oficiosa da citação resulta do art. 226.º, n.º 1 a n.º 3. Se a secretaria não se incumbir deste dever no prazo de
30 dias, o autor deve ser informado das diligencias efetuadas. Se, passados 30 dias apos esta informação, a
citação não se mostrar efetuada, o processo é entregue ao juiz, dando a secretaria conhecimento ao juiz das
diligencias que efetuou e as razoes pelas quais não realizou a citação. Este é o procedimento padrão, no
entanto nem sempre é assim. Em certos casos, em vez de se caminhar diretamente da distribuição para a
citação de modo oficioso, o processo vai ser analisado pelo juiz, cabendo a este intervir e pronunciar-se
imediatamente.
Por regra a intervenção do juiz só acontece finda a fase dos articulados (depois da petição, distribuição,
citação, contestação, eventual réplica, e apenas depois é que o juiz intervém). Neste desvio, o juiz intervém
logo apos a distribuição – diz-se que intervém in limine (logo no início), é uma pronúncia liminar. Nessa
medida, a decisão que o tribunal venha a tomar nesta fase inicial designa-se despacho liminar. Se o juiz não
intervier neste momento, só terá acesso ao processo na fase posterior aos articulados, ou seja, na fase
intermédia.
O legislador refere a este propósito a atividade do juiz como uma atividade de gestão inicial do processo.
Esta gestão inicial encontra-se regulada no art. 590.º/1, CPC – a inclusão da gestão inicial do processo neste
artigo não é muito adequada porque este artigo situa-se, do ponto de vista sistemático, após a fase dos
articulados (correspondente à fase intermedia), e não faz sentido que esta intervenção ab initio do juiz se
encontre prevista e regulada neste artigo; e por outro lado, a epigrafe do art. 590.º é “gestão inicial do
processo”, levando a crer que todo aquele artigo respeita a essa atividade, mas quando lemos os vários
números que a integram, verificamos que apenas o n.º 1 diz respeito à fase inicial, sendo os n.º 2 a 7
relativos à fase intermédia.
É necessário apurar em que situação é que o juiz tem a possibilidade de intervir neste
momento liminar. Com que fundamentos/em que circunstâncias?
o O juiz pode intervir liminarmente por força de determinação legal – tem a ver com as
hipóteses em que a secretaria não pode realizar a citação oficiosamente, sendo
necessário ser o juiz a ordená-la através de despacho liminar – art. 226.º/4.
Situações em que o legislador impõe intervenção liminar do juiz:
c) Nos casos em que a propositura da ação deva ser anunciada, nos termos da lei –
ou seja, nos casos em que a propositura da ação deva ser tornada pública. Tal
sucede na hipótese de citação edital, precisamente porque ela pressupõe um
despacho a ordená-la. Art. 240.º e 243.º. A citação edital é um dos casos em que a
propositura da ação é anunciada, sendo que também se chegaria a esta conclusão
através de um argumento a contrario, ou seja, também se chegaria à conclusão de
que é necessário um despacho prévio do juiz se se ler com atenção o art. 226.º/1.
Neste número, o legislador dispõe que a secretaria promove oficiosamente, sem
necessidade de despacho prévio, as diligências que se mostrem adequadas à
efetivação da regular citação pessoal do réu, não se incluindo a citação edital, e
portanto conclui-se que a possibilidade de citação realizada oficiosamente pela
secretaria não inclui os casos de citação edital.
Mas as previsões legais de que decorre a necessidade de colação de despacho
liminar não se encontram previstas apenas no CPC, mas também em legislação
avulsa (Lei 83/95, de 31 de agosto – relativa ao Direito de Participação
Procedimental e de Ação Popular). No âmbito desta lei, interessa-nos
especialmente o art. 15.º/2, porque no âmbito da ação popular, a propositura da
ação também é anunciada. Também aqui, a citação pressupõe um prévio
despacho do juiz, que intervém liminarmente, ordenando esse ato.
o O juiz pode intervir liminarmente na sequência de iniciativa sua – quando a lei não imponha
que o juiz intervenha liminarmente, o juiz pode dar instruções à secretaria para que ela lhe
entregue a petição inicial logo após a distribuição (o processo é-lhe concluso), para que ele
profira despacho liminar – art. 157.º/2. O juiz está a agir ao abrigo do princípio de gestão
processual (art. 6.º). Vantagem: esta gestão inicial torna possível que o controlo da
regularidade da petição inicial impeça que se acumulem vícios que podem ser corrigidos
desde início. Ex: o autor não constituiu advogado no âmbito de uma ação em que é
obrigatório a constituição de mandatário judicial – o juiz pode aproveitar para, ao abrigo
deste princípio da gestão processual, convidar desde logo o autor a sanar o vicio para que a
ação possa prosseguir sem que padeça dessa falta de pressupostos processual. Outra
vantagem: se o despacho liminar apresentar vicio insanáveis, serve para evitar que o
processo prossiga.
Admitindo que estamos perante uma das hipóteses em que é admissível que o juiz intervenha
liminarmente, qual vai ser o conteúdo da sua decisão? Qual o teor possível desse despacho liminar?
Se o juiz entende que é útil para a boa decisão da causa intervir na fase inicial, isso acontece porque se
entende que é benéfico que o juiz proceda ab initio à análise do conteúdo do processo (petição inicial), e, se
assim é, importa que o juiz faça uma análise cuidada do teor da petição inicial, para que possa averiguar se
ela padece ou não de falhas ou defeitos.
A petição poderá ser inepta. Nos casos em que é insanável, é importante que o juiz a detete desde
logo, porque isso impede que um processo sem a base sólida o suficiente avance.
Falta de documentos. Ex: A intenta contra B uma ação de divórcio. Pretende-se extinguir a relação
contratual do casamento, e um dos factos essenciais é provar que existe casamento. A certidão de
casamento é indispensável, neste caso, para que a ação possa proceder. Ex: quando esteja em causa
uma ação de revisão de sentença estrangeira. Hoje, considerando o Regulamento/EU n.º 1215/2012,
não é necessário, para que uma sentença produza os seus efeitos em Portugal, o processo de revisão
da sentença. No entanto, nos casos não abrangidos pelo Regulamento europeu, há lugar à
necessidade de revisão da sentença estrangeira. E claro que um dos documentos essenciais no
âmbito de um processo deste tipo é a própria decisão estrangeira.
Manifesta improcedência da ação. Pode acontecer que a petição esteja de tal modo mal
fundamentada, que o juiz perceba de forma imediata e segura de que a ação tem de ser de
absolvição do reu, ou seja, de total improcedência.
Se o tribunal se aperceber destas falhas, a consequência que daí se retirará em sede de despacho liminar irá
variar consoante o tipo de falha. Se o tribunal perceber q existe uma evidente e completa regularidade da
instância, e se entender que se trata de um caso de ausência manifesta improcedência, o juiz estará
legitimado para proferir um despacho de citação – o despacho liminar por parte do juiz, neste caso, será
um despacho em que ordena à secretaria que ordene a citação. Este despacho liminar é o primeiro tipo de
conteúdo possível.
Caso o juiz detete falhas ou defeitos, pode concluir que eles são de tal forma graves e insanáveis que a
única solução é proferir um despacho de indeferimento liminar. O juiz conclui q é impossível a ação
continuar naqueles termos. Este despacho de indeferimento liminar será proferido em duas hipóteses:
3) Quando da petição decorra e forma evidente que a pretensão do autor não merecem tutela jurídica.
Ex: A intenta uma ação de anulação de casamento contra B, e A invoca como fundamento da
anulação um vicio da vontade. A ação não pode ser proposta para lá de 6 meses após a cessação do
vicio (1645.º). Se a ação for proposta depois do prazo (art. 303.º, CC), o juiz deve, se intervier
liminarmente, rejeitar a petição inicial com fundamento na verificação manifesta de um facto
extintivo do direito de anular o casamento. Por regra, a caducidade (art. 331.º/1, CC) não é de
conhecimento oficioso, mas quando esteja em causa matéria de direitos indisponíveis o juiz pode
conhecer deste facto extintivo e proferir um despacho de indeferimento liminar.
*No semestre passado aprendemos que uma das consequências da existência de uma exceção dilatória é a
absolvição do reu da instância. Mas porquê que quando o juiz deteta uma exceção dilatória insuprível
liminarmente não absolve o reu da instância? Porque estamos no momento anterior à citação – o juiz
interveio logo apos a petição inicial e a distribuição, e só com a citação é que o réu é chamado à ação. Uma
ação é de constituição sucessiva, e começa aquando da petição inicial, quando o autor dirige um pedido ao
tribunal, mas a ação processual só fica completa com o réu, que só entra na relação processual no ato de
citação. Uma vez que o juiz atua antes do ato de citação, e como nessa altura ainda não há réu, a decisão
não pode ser de absolvição do reu da instância. Neste caso, o juiz rejeita a petição, através de despacho de
indeferimento liminar.
2) Quando não se reúnam as duas condições acima descritas, o processo termina nesse momento, e se
o autor pretender reagir contra o réu, terá de dar início a um outro processo.
A lei não prevê esta hipótese, no entanto, tem-se defendido que o seja possível que o juiz profira este
despacho nos mesmos termos que na fase intermédia do processo (subsequente à dedução dos articulados).
Se o juiz tem essa possibilidade na fase intermédia, não se entende porque não há de ter também na fase
inicial/liminar, porque se trata de uma possibilidade de purificar o processo, já que o tem em seu poder.
Exemplos de deficiências que são suscetíveis de ser sanas a este propósito:
Se o autor corresponde ao convite do juiz, e se supre a falha identificada, a instância tem condições
para prosseguir com regularidade, e o juiz fica habilitado a proferir um despacho de citação.
Mas pode acontecer que o juiz profira o despacho convite e o autor não corresponder. E nesta
hipótese as consequências são várias.
Ex: imaginemos o autor na petição inicial não tinha indicado o valor da causa, ou as partes [a
petição não observar os requisitos legais]. Neste caso, se o autor não suprir as falhas, a petição é
indeferida.
Ex: pode estar em causa a não junção de documentos indispensáveis para o processo. Neste caso, o
autor pode pedir ao tribunal que admita a junção dos documentos em momento posterior,
invocando, por exemplo, que ainda não os conseguiu obter. Se não requerer esta junção posterior, a
falta de sanação deste vicio leva a que a petição seja indeferida.
Relativamente às três situações em que o juiz pode proferir despacho liminar, podemos concluir o seguinte:
Se a pretensão não for manifestamente improcedente (i.é., se não houver motivo para indeferimento
liminar), e se não ocorrerem de forma evidente vícios ou imperfeiçoes sanáveis de conhecimento oficoso
(que seria motivo de despacho de aperfeiçoamento) ou insanáveis de conhecimento oficioso (que seria
motivo de de indeferimento liminar), o juiz profere despacho liminar no sentido da citação.
Ou seja, se o juiz não indeferir liminarmente e se não convidar o autor a completar o corrigir a petição, deve
proferir despacho de citação.
Citação
Ato através do qual se dá cumprimento ao princípio do contraditório.
Caminho padrão: dá entrada a petição inicial, há lugar à distribuição, e é a secretaria que oficiosamente cita
o réu.
No entanto, pode haver caminhos alternativos ao caminho padrão, quando haja lugar anteriormente a
despacho liminar:
Se tiver havido despacho de indeferimento liminar, não há citação, porque ele coloca termo ao
processo.
Se tiver havido despacho de aperfeiçoamento ao qual a parte correspondeu, segue-se o despacho de
citação.
Se o primeiro despacho liminar tiver sido logo de citação.
O objetivo da citação é dar a conhecer ao réu que contra ele foi intentada uma ação e que tem a
possibilidade de vir ao processo para se defender. Também é a citação que é utilizada quando pela
primeira vez se chama um terceiro ao processo (e não já o réu) – art. 219.º/1.
Diferente da citação é a notificação: a notificação serve em quaisquer outros casos para chamar alguém a
juízo ou dar conhecimento de um facto. No âmbito de uma noção ampla de notificação, tomada como ato
de dar conhecimento de algo, podemos incluir a citação e a notificação em sentido estrito, no sentido em
que é atribuído pelo art. 219.º/2.
Quem realiza a citação? Em alguns casos, a citação utilizada é a citação por via postal, que é feita pela
secretaria. Isso acontece quando na petição, o autor não manifesta a intenção de que a citação seja realizada
não pela secretaria mas por mandatário judicial 226.º/1 ou agente executivo, parte final.
Sujeitos passivos da citação (a quem se pode dirigir a citação): a citação é feita tendo por referência as
partes constantes da petição inicial. As pessoas suscetíveis da citação podem ser pessoas coletivas ou
pessoas singulares. O autor tem de seguir regras especificas quando identifica como parte da ação uma
pessoa coletiva como ré – é através destas regras que se agiliza a efetividade da citação que se encontra
regulada no art. 246.º, ou seja, quanto melhor identificado o réu esteja, mais facilmente se pode realizar o
ato de citação-
Art. 552.º: se estiverem em causa pessoas singulares, o autor tem o dever de as identificar pelo nome e
domicílio. Deve contar também o NIF, o número de identificação civil, profissão e local de trabalho. Quanto
ao reu que seja pessoa singular, NIF, número de identificação civil, profissão e local de trabalho só devem
constar na medida em que tal for possível ao autor. Se estiverem em causa pessoas coletivas, deve contar o
nome e a sede, quanto ao autor e ao réu. Quanto ao autor, o mandatário judicial, no caso de pessoas
coletivas, que apresente a petição por via eletrónica indica o respetivo número de pessoa coletiva ou o seu
número de identificação fiscal (552.º/2 a 5).
O CPC distingue a citação de pessoas singulares da citação de pessoas coletivas: a citação das pessoas
singulares encontra-se regulada nos art. 225.º a 245.º; já a citação de pessoas coletivas encontra-se regulada
nos art. 246.º + subsidiariamente aplicam-se as regras das pessoas singulares, com as devidas adaptações.
Se o citando for uma pessoa singular, a citação edital tem lugar em dois casos. Quando o citando se
encontra ausente em parte incerta, ou quando sejam incertas as pessoas a citar - art. 225.º/1 a 6. Nos outros
casos, recorre-se à citação pessoal que pode ser executada de várias formas – art. 225.º/2. No entanto, uma
vez que através da citação se pretende dar conhecimento ao reu de que foi proposta contra ele uma ação e
se pode defender, é importante que da citação constem os elementos relevantes para que o reu possa ter
efetivo conhecimento do que está em causa. Elementos a transmitir obrigatoriamente ao citando: art. 227.º,
quanto à citação pessoal; art. 240.º. 241.º e 243.º quanto à citação edital.
*Revelia: existe revelia sempre que o réu não contesta. Essa ausência de contestação na generalidade dos
casos não é isenta de consequências – art. 227.º/2 + 567.º - se o réu não contesta, em regra, os factos
alegados pelo autor têm-se como por confessados.
A propósito do art. 241.º/1/c) - *Dilação: Quando o réu é citado editalmente, a lei prevê uma dilação de 30
dias para efeitos de contestação. O prazo perentório para contestar só começa a correr depois de decorrido
o prazo dilatório de 30 dias – é um prazo dilatório porque dilata momento a partir do qual é possível ao réu
contestar. + art. 139.º/1 a 3, 242.º/2, 245.º/3. Dilação = Prazo dilatório.
Contudo, o prazo dilatório não se confunde com a exceção dilatória. Esta consiste num tipo de defesa do
reu, em que invoca irregularidades de natureza formal, podendo ser conhecida oficiosamente pelo juiz
quando o réu não a invoque, e nada tem a ver com o prazo dilatório (este corresponde a um período de
tempo que medeia entre o ato de citação e o momento em que se inicia o prazo para contestar).
No caso da citação edital, o legislador fixou um prazo de 30 dias, ou seja, o reu é citado editalmente,
posteriormente começa a correr uma dilação de 30 dias (245.º/3), e só depois começa a correr o prazo
perentório para contestar (569.º/1).
Pode acontecer que a citação seja feita em pessoa diversa do réu – citação quase pessoal. Desde que
observadas certas formalidades, tudo se passa como se fosse o próprio reu a ser citado pessoalmente, com a
diferença de que o prazo perentório para contestar só se inicia depois de finda a dilação (art. 225.º/4,
228.º/2, 3 e 4, 230.º, 232.º/2/b), 232.º/3, 233,º/4, 245.º/1/a). Nestes casos em que a citação é feita em pessoa
diferente do réu, o citando pode conseguir demonstrar que não chegou a ter conhecimento do ato por facto
que não lhe é imputável (art. 188.º/1/e).
Pessoas coletivas com inscrição obrigatória no ficheiro central no registo nacional de pessoas
coletivas – nestes casos, a carta de citação pessoal é dirigida para a sede da citanda que se encontra
inscrita nesse ficheiro central. Se a carta for dirigida para a sede da citanda e se for recusada a
assinatura do aviso de receção ou o recebimento da carta por representante legal ou funcionário da
citanda, o distribuidor postal vai dar do incidente antes de ser devolvida, e a citação considera-se
verificada face à certificação da ocorrência, ou seja, tudo se passa como se a citação tivesse decorrido
normalmente (art. 246.º/3). Nos casos em que há devolução do expediente, é repetida a citação, nos
termos do art. 246.º/4 + 230.º/2 + 229.º/5.
Importa sublinhar a importância que o legislador atribui ao registo das pessoas coletivas, elegendo
a sede como lugar de citação postal, e ficcionando o recebimento da citação, mesmo quando há
recusa do aviso de receção, ou do recebimento da carta por representante legal ou funcionário da
citanda (246.º/3).
Algumas espécies de pessoas coletivas podem ser citadas por via eletrónica (art. 219.º/4, 5 e 6). O
facto de a citação ser eletrónica tem também importância ao nível da dilação do prazo para
contestar, como oportunamente veremos.
Pessoas sem inscrição obrigatória no ficheiro central no registo nacional de pessoas coletivas;
Nota: Quanto a todas as pessoas coletivas, aplica-se subsidiariamente o regime de citação das pessoas
singulares – art. 246.º/1.
Vícios da citação:
Pode acontecer que a citação padeça de um vício, quando não estejam observadas todas as regras exigidas.
Falta de citação – 188.º/1/a), situação propriamente dita de falta de citação. Porém os casos das
restantes alíneas também se consideram, ao nível processual, como sendo situações de falta de
citação.
Apesar de a falta de citação ser invocável pelo réu, se ele intervier no processo sem invocar de
imediato a falta de citação, esta nulidade considera-se sanada (art. 189.º).
Vamos supor agora que houve falta de citação e ele foi corretamente arguida. Consequências:
nulidade não só do próprio ato de citação, mas de tudo o que se tiver processado posteriormente,
mas não provoca anulação dos atos anteriores ao ato de citação (art. 187.º).
Quando há ineptidão da petição inicial e não seja sanada, leva à nulidade de todo o processo (mas
não é assim quando haja lugar à falta de citação).
A falta de citação é uma nulidade de conhecimento oficioso, mesmo quando o réu não a invoque –
art. 186.º + 198.º/2.
Nulidade da citação – art. 191.º/1, a citação será nula quando não tiverem sido observadas as
formalidades previstas na lei. No entanto, este art. 191.º/1 deve ser conciliado com o art. 191.º/4, na
medida em que é indispensável que essa inobservância possa implica prejuízo para a defesa do
citado. Por outro lado, havendo lugar a nulidade da citação, deve perguntar-se se esta nulidade é de
conhecimento oficioso ou se carece de ser invocada pelo reu – em regra, a nulidade de citação não é
de conhecimento oficioso (regime geral). Quando se verifica a regra geral (i.é., quando a nulidade
não é de conhecimento oficioso), ela tem de ser arguida pelo réu no prazo indicado para a
contestação – art. 191.º/2, primeira parte.
No entanto, há alguns casos em que há lugar ao conhecimento oficioso por parte do juiz, mesmo
que o reu não a tenha invocado – isto acontece quando esteja em causa citação edital, ou quando o
vicio tenha correspondido à falta de indicação do prazo para defesa (art. 196.º/primeira parte e art.
200.º/1). Nestes casos, o tribunal pode conhecer oficiosamente, mas isso não significa que o réu não
possa ainda assim arguira nulidade, e deverá fazê-lo aquando da sua primeira intervenção no
processo (art. 191.º/2).
Imaginemos que há um vicio que gera a nulidade da citação e que ou esse vicio não pode ser
conhecido oficiosamente, mas o réu invocou a nulidade; ou pode ser conhecido oficiosamente e o
tribunal conhece oficiosamente ou o réu arguiu, e considerando-se essa arguição procedente, quais
as consequências que daí resultam? Se o ato da citação for anulado, os efeitos da citação mantêm-se
desde que haja renovação do ato de citação no prazo de 30 dias a contar do trânsito em julgado do
despacho que anulou a citação (art. 565.º).
Bibliografia sobre os vícios da citação: Prof. Lebre de Freitas, Declaração Declarativa Comum
15/03/2022
I. Nulidade da citação - noção e regime (remissão – continuação nos apontamentos da aula anterior)
Efeitos da citação
Os efeitos da citação não estão previstos numa única norma. Um dos artigos que prevê os efeitos da citação
é o art. 564.º, CPC. Esta é uma norma com natureza puramente exemplificativa quanto aos efeitos da
citação. Apesar de estes efeitos estarem previstos no CPC, os efeitos da citação considerados no seu todo
não assumem apenas natureza processual. Neste artigo prevê-se um efeito com natureza substantiva e dois
efeitos com natureza processual.
Art. 805.º/1, CC prevê que o ato de citação implica a constituição do devedor em mora quando esteja em
causa uma obrigação pecuniária.
Relativa estabilização dos elementos essenciais da causa – art. 564.º/b). Cada causa tem elementos
identificativos que permitem distingui-la de todas as demais, os quais podem ser de dois tipos (elementos
objetivos e um elemento subjetivo). Os elementos essenciais de uma causa são três:
Causa de pedir – elemento objetivo. Conjunto de factos essenciais invocados pelo autor na petição
inicial, que serve de base ao pedido feito pelo autor. Ex: pode estar em causa o não cumprimento de
um contrato, ou o seu cumprimento defeituoso que deu origem a danos.
Estes elementos que resultam da petição inicial tornam-se estáveis (embora seja uma estabilização relativa
dos elementos essenciais da causa) com o ato de citação. Sendo o réu citado, a instância deve manter-se a
partir dai estável quanto aos sujeitos e ao objeto do processo (constituído pela causa de pedir e pelo
pedido).
Razão pela qual se trata de uma estabilização relativa: há casos em que pode haver modificações objetivas
(da causa de pedir e/ou do pedido), bem como modificações subjetivas, apesar de já ter havido o ato de
citação.
Relativamente às modificações subjetivas, a modificação pode ter lugar quer (1) em virtude da
transmissão entre vivos da coisa ou do objeto da ação, quer por (2) sucessão mortis causa, ou (3)
por intervenção de terceiros.
o A sucessão mortis causa, enquanto causa da modificação subjetiva da instância, está prevista no
art. 262.º/a). Havendo lugar a sucessão, o sucessor entra na ação através do incidente de
habilitação (art. 351.º). É através do acidente de habilitação que se substitui no processo a parte
que entretanto faleceu pelo seu sucessor. Havendo lugar à habilitação, a instância é suspensa até
que se considerem habilitados os sucessores (art. 269.º/1), contudo, importa notar a salvaguarda
do art. 269.º/3, nos termos do qual se prevê que a morte ou extinção de alguma das partes não
dá lugar à suspensão, mas à extinção da instância, quando torne impossível ou inútil a
continuação da lide. O incidente de habilitação tem por fim determinar que sujeitos/pessoas
têm legitimidade para ocupar no litígio a posição que era ocupada pelo defunto, e para esse
efeito os sucessores são chamados ao processo para ocupar o lugar da pessoa falecida – ocorre
então uma modificação subjetiva, porque na posição em que estava aquele que faleceu passa a
estar o seu sucessor. Art. 351.º/1; art. 352.º.
Em suma, a modificação subjetiva da instância por sucessão mortis causa opera na sequência de
um incidente de habilitação.
o Pode igualmente haver modificação quando ocorra transmissão por ato entre vivos da coisa ou
do direito litigioso. Esta modificação subjetiva verifica-se quando o adquirente do bem ou do
direito for admitido a intervir na ação ocupando a posição do transmitente (da parte primitiva).
Art. 263.º/1, concede-se legitimidade ao transmitente (i.é., àquela pessoa que já não é titular da
coisa ou direito litigioso porque a transmitiu) enquanto o adquirente não for substituído na ação
através de habilitação. Ex: o autor transmite o direito ou a coisa a um terceiro; se o adquirente
dessa coisa não intervier imediatamente, o transmitente continua na ação litigando em seu
nome, mas sobre uma relação material controvertida alheia – atua na ação a coberto da figura da
legitimidade extraordinária (também designada por legitimidade indireta ou substituição
processual). No âmbito da cadeira de DPCI, estudamos o pressuposto da legitimidade, e em
particular no art. 30.º sublinhamos que nos termos do n.º 1 se prevê que o autor será parte
legítima quando tenha interesse direto em demandar, e o réu será parte legitima quando tiver
interesse direito em contradizer, sendo que o n.º 3 refere que na falta de indicação pela lei em
contrário, são considerados titulares do interesse relevante para o efeito da legitimidade os
sujeitos da relação controvertida, tal como é configurada pelo autor. Se o transmitente transmitir
a coisa ou o direito a um terceiro, e se esse terceiro não intervier na ação, continua na ação
alguém que não é quem tem interesse direto em demandar, e por isso não se verifica o critério
geral da legitimidade, e nessa medida está em causa uma legitimidade extraordinária. O
transmitente conserva-se na ação ao abrigo de um critério diferente daquele que corresponde à
regra da legitimidade, daí estar em causa uma legitimidade extraordinária/substituição
processual/legitimidade indireta. Porquê a designação “substituição processual”? porque o
transmitente conserva-se na ação como substituto daquele que é efetivamente o titular do
direito, que é o terceiro adquirente (substituído).
o Pode também ocorrer uma modificação subjetiva da instância quando haja intervenção de
terceiros. Essa intervenção pode ser principal, acessória, ou pode estar em causa oposição (art.
262.º/b). Relativamente à intervenção de terceiros, o Novo CPC veio alterar este regime na
medida em que veio restringir os casos de intervenção de terceiros – houve eliminação da
possibilidade da intervenção principal de um terceiro que origine uma coligação. De acordo com
o regime vigente, só é admissível uma intervenção principal que dê lugar a um litisconsórcio,
independentemente de ser voluntário ou necessário, já não quando dê origem a coligação.
A intervenção principal pode também ocorrer numa hipótese em que o autor chama
ao processo um terceiro para assumir o papel de réu subsidiário, ao abrigo da figura
da pluralidade subjetiva subsidiaria (art. 29.º). Ex: A intenta uma ação contra B,
sendo q essa ação é de investigação da paternidade, contudo, quando B contesta, ele
alega que o pai biológico de A não é ele B, mas sim C. Perante esta contestação, A
pode ficar em dúvida relativamente àquele que é efetivamente seu pai. A julgava que
B era seu pai, mas B alega que é C. Nesta situação, A pode provocar a intervenção de
C no processo, e nesse caso a ação correrá em simultâneo contra B e C.
Modalidade de oposição: à semelhança das figuras anteriores, também a oposição pode ser
espontânea ou provocada.
Oposição espontânea – art. 333.º, contrariamente ao que acontece no âmbito da
assistência, em que o terceiro intervém porque nisso tem interesse para ajudar uma
das partes na defesa da sua posição, no âmbito da oposição espontânea, o terceiro
assume uma posição processual que é diferente e incompatível com a posição
assumida por qualquer uma das partes principais. O terceiro pretende fazer valer um
direito que é total ou parcialmente incompatível com a pretensão que é deduzida.
Assume uma posição própria, que quer fazer valer, e que é distinta de qualquer uma
das posições das outras partes. No quadro de uma ação, quem formula uma
pretensão será o autor, e o réu poderá fazê-lo também mas só se assumir de
reconvinte. Há no entanto uma baliza temporal para que este terceiro oponente possa
entrar na ação (art. 333.º/2). Ex: A intenta contra B uma ação de reivindicação,
reivindicando um determinado automóvel. Pode acontecer que A diga que é
proprietário e B também, e pode acontecer que um terceiro também considere que é
proprietário, e nesse caso pode intervir na ação como oponente para reivindicar o
bem em causa.
342.º a 350.º regula-se a figura da oposição mediante embargos de terceiro. Esta é uma
via processual frequente, em particular no âmbito da ação executiva, e por essa razão
não iremos falar dela agora.
Efeitos processuais
Inibição de propositura de uma outra ação destinada a discutir a mesma questão jurídica – art.
564.º/c). O citado/réu fica impedido de propor contra o autor uma ação através da qual se
apreciasse a mesma questão jurídica. O legislador pretende evitar que surjam duas ações idênticas,
porque se pudessem encontrar-se pendentes duas ações relativas à mesma questão jurídica,
poderiam ser proferidas duas soluções iguais ou contraditórias sobre o mesmo litígio. Pretende-se,
assim, que os tribunais não se pronunciem mais do que uma vez sobre uma questão, e que não haja
uma contradição interna (tal seria contrário ao princípio da economia processual). Contudo, o réu,
na prática pode fazê-lo, e nesse caso, o sistema processual permite que a outra parte ou o tribunal
obstem à continuidade dessa ação através de uma exceção dilatória, denominada litispendência
(pendencia de uma outra lide). Ex: A intenta uma ação contra B, e B, depois de citado, intenta uma
ação igual contra A. Nesta ação em que A é réu, invocara a exceção dilatória de litispendência, que
conduzirá à absolvição do réu da instância na ação proposta por B contra A, evitando-se a
pendencia de duas ações com o mesmo fim jurídico. A exceção dilatória de litispendência cria um
impedimento jurídico-processual no sentido de o tribunal não chegar a apreciar o mérito da causa,
absolvendo o réu da instância.
A exceção dilatória de litispendência é de conhecimento oficioso – 577.º/i).
Resumo: Após o ato de citação, o réu citado fica impedido de propor uma ação igual contra o autor.
Se ainda assim o fizer, o autor, na primeira ação (que é réu na segunda ação), poderá invocar a
exceção de litispendência, e assim obstar a que o tribunal conheça do mérito de causa, extinguindo-
se essa segunda ação. Poderá haver ainda um cenário diferente: apesar de legalmente se determinar
que a citação impede a propositura de uma ação igual contra o autor, pode acontecer que o réu
proponha essa ação, e que o autor não invoque a exceção de litispendência – e assim, o tribunal não
terá conhecimento de que já existe uma ação igual àquela, podendo inclusive proferir decisões
distintas numa ação e noutra. A partir do momento em que essas decisões se tornem definitivas
(depois de transitadas em julgado – art. 628.º - momento a partir do qual deixa de ser possível
interpor recurso ordinário ou deduzir reclamação), passam a existir no sistema jurídico duas
decisões quanto à mesma questão jurídica. Há que criar um critério de desempate: qual a decisão
que releva para este efeito? Será conforme o que se prevê no art. 625.º, ou seja, a que transitou em
julgado em primeiro lugar.
Litispendência como exceção dilatória – voltaremos a falar desta noção quando falarmos da
contestação.
Prescrição – traduz-se numa causa de extinção de direitos, por força do decurso do tempo. A
prescrição pode ser aquisitiva ou extintiva, mas neste caso estamos a reportar-nos à extintiva. Do
ponto de vista do credor, é muito importante que o prazo não se esgote – uma vez esgotado, deixa
de ser exigível o direito judicialmente, ou seja, o credor deixa de poder exercer a garantia, podendo
o réu obstar ao cumprimento invocando prescrição (isso não impede que haja cumprimento
voluntário por parte do réu, e que o credor retenha esse montante). Sendo importante para o credor
evitar que o direito deixe de ser exigível, é importante compreender quais as causas de interrupção
da prescrição:
Citação – o ato de citação interrompe o decurso do prazo de prescrição, conforme dispõe o
art. 323.º/1, CC. Nessas situações em que o exercício de um direito de crédito está sujeito a
um prazo de prescrição, o decurso desse prazo é interrompido pelo ato de citação do
devedor. Quando assim é, por vezes, quando a prescrição está prestes a verificar-se,
justifica-se que se requeira a citação urgente (art. 561.º, CPC). No entanto, há uma
particularidade de regime: se a citação n se fizer dentro de 5 dias depois de a petição inicial
ter dado entrada na secretaria, e se o facto de a citação n se ter realizado no prazo de 5 dias
se dever a uma causa n imputável ao autor, a prescrição tem-se por interrompida logo que
decorram os 5 dias – art. 323.º/2, CC.
Ex: A intenta uma ação contra B, e quando o autor intenta a ação, faltam 7 dias para terminar
o prazo de prescrição. O réu só é citado passados 10 dias. Se, de acordo com o regime
processual, só o concreto ato de citação interrompesse o decurso do prazo de citação, o
direito teria prescrito (o credor deixaria de poder exigir o cumprimento do direito). 10 dias é
um prazo mais do que razoável para que a citação pudesse ser feita, e se o não foi por razão
não imputável ao autor, o legislador cria uma clausula de salvaguarda: desde que o autor
tenha intentado a ação antes de decorridos 5 dias para o esgotamento do prazo de
prescrição, considera-se que a prescrição acontece no 5.º dia após a ação ser intentada. No
exemplo, como a ação foi intentada 7 dias antes do decurso do prazo de prescrição, passados
5 dias ficciona-se que a citação foi realizada, e o prazo de prescrição é interrompido nesse
momento – sendo interrompida nesse dia, ainda o foi antes de esgotado o prazo de
prescrição. Nessa medida o direito de crédito do autor continua a ser exigível, ou seja, a ação
continua a poder produzir o efeito útil que o autor pretende.
Ex: o prazo de prescrição esgotava-se 4 dias depois do dia em que a ação foi intentada.
Nesse caso, se a citação não for realizada dentro desses 4 dias, no 5.º dia ficciona-se que o foi,
mas nessa altura já não aproveita ao autor porque o prazo de prescrição se cumpre no 4.º
dia, logo, o direito deixa de poder ser coercivamente exigido. Nestas situações é importante
que o autor requeira a citação urgente, para que o ato de citação seja realizado antes do
decurso do prazo de prescrição, para que se interrompa a prescrição.
Constituição do devedor em mora – art. 805.º/1, CC. Existem obrigações puras (vencem-se
assim que a interpelação exija o seu cumprimento, porque quanto a elas não é fixado nenhum
prazo) e as obrigações a prazo/a termo (cujo cumprimento n pode ser exigido à outra partes
antes de decorrido certo tempo ou atingida certa data). Para efeito dos efeitos da citação, o que
nos interessa são as obrigações puras, porque o devedor só fica constituído em mora depois de
ter sido interpelado. A interpelação produz o vencimento da obrigação.
Efeitos substantivos
Cessação da boa-fé do possuidor – art. 564.º/a), CPC e 1260.º/1 e 2, CC. Ex: alguém adquire posse
obre um bem e ignora que ao fazê-lo lesa o direito de outrem. A partir do momento em que ela seja
citada (que foi contra ela proposta uma ação que tem por objeto esse bem sobre o qual tomou
posse), o réu deixa de ignorar que esse seu ato de posse lesa o direito de outrem, ou seja, o
possuidor de boa-fé converte-se em possuidor de má-fé. Esta classificação da posse como boa ou
má-fé tem importância a vários títulos, desde logo no que diz respeito ao regime de benfeitorias:
O possuidor que seja de boa-fé tem o direito de levantar as benfeitorias voluptuárias que lá
tenha feito, caso contrário, o possuidor de má-fé perderá as benfeitorias que haja feito, e o
titular do direito sobre a coisa tem o direito de ficar com as benfeitorias – art. 1275.º, CC.
A classificação do possuidor como de boa ou má-fé também tem importância para efeitos de
frutos que se gerem durante o período de posse. Se o possuidor for de boa-fé, ele faz seus os
frutos naturais até ao dia em que souber que está a lesar com a sua posse o direito de
outrem. Diferentemente, o possuidor de má-fé deve restituir os frutos até ao termo da posse,
e responde pelo valor daqueles que um proprietário diligente poderia ter obtido – art. 1270.º
e 1271.º, CC.
A classificação do possuidor como de boa ou má-fé terá ainda importância quanto à perda
ou deterioração da coisa. O possuidor de boa-fé só responderá pela perda ou deterioração da
coisa se tiver procedido com culpa.
E se a citação for anulada? O que acontece aos seus efeitos? A regra é que os efeitos de uma citação que
tenha sido anulada só subsistirão se o reu for citado de novo em termos regulares, em 30 dias a contar do
trânsito em julgado do despacho de anulação – art. 565.º, CC. No entanto, salvaguarda-se o regime
constante do art. 323.º/3, nos termos do qual os efeitos da citação se mantém ainda que a citação seja
anulada.
22/03/2022
I. Contestação
I.2. Revelia
Noção
Tipos (quanto ao grau de intervenção do réu no processo e seus efeitos)
Revelia inoperante
Revelia operante
Contestação
Colocam-se duas hipóteses:
1. Situações em que é oferecida ao réu a possibilidade de contestar, mas ele não contesta – quando o réu
não apresenta contestação em tempo, diz-se que é revel. Importa saber qual o tempo no qual o réu pode
contestar – art. 569.º, CPC. Por regra, o prazo para contestação é de 30 dias. Como é que este prazo é
contabilizado? Um dos efeitos processuais da citação é o início da contagem do prazo para a
contestação. O prazo de 30 dias é perentório, ou seja, é um prazo cujo decurso implica que o direito
processual em causa (o direito de contestar) se extinga – o seu decurso conduz à extinção do
direito/ónus de oferecer contestação. Contudo, este prazo pode ser articulado com um prazo dilatório,
também para contestar. A existência um prazo dilatório que acresce ao prazo perentório não se verifica
sempre, mas apenas em algumas circunstâncias: art. 245.º, CPC, onde se preveem prazos dilatórios:
a) Quando a citação tenha sido realizada em pessoa diversa do réu: remissão para o n.º 4 do mesmo
artigo. Pode haver uma cumulação de 5 dias, com uma outra dilação prevista na alínea b).
b) Quando o réu tenha sido citado fora da comarca da sede do tribunal onde pende a ação, no
entanto, se o réu tiver sido citado para a ação no território das regiões autónomas, correndo a ação
no continente, a dilação deixa de ser de 5 dias e passa a ser de 15. Já se o reu tiver sido citado no
estrangeiro, se a citação for edital, ou se se verificar a situação do art. 229.º/5, a dilação é de 30
dias.
Como é que estes prazos se conjugam uns com os outros? – art. 245.º/4.
Art. 139.º - distinção entre os prazos perentórios e dilatórios; noção de cada um desses prazos + art. 142.º,
forma como os prazos dilatório e perentório se conjugam entre si.
A revelia pode ser qualificada com base em diferentes critérios. Em primeiro lugar, atendendo ao grau de
intervenção do réu no processo, e em segundo lugar, considerando os efeitos decorrentes da revelia.
Revelia absoluta – quando o réu não intervém de nenhum modo no processo. Surge a dúvida de
saber se o réu tomou conhecimento da ação, e se saber se o réu foi bem citado. O juiz deve verificar
se o ato de citação foi feito cumprindo todas as formalidades legais. Se chegar à conclusão de que foi
preterida alguma formalidade legal, o juiz ordena a repetição do ato de citação – art. 566.º.
Revelia relativa – o réu não contesta, mas intervém de alguma maneira na instância (ex: juntando
procuração a um advogado ou mandatário judicial). Neste caso, já não surge a dúvida sobre se a
citação foi bem feita, logo, já não se justifica que o tribunal vá verificar oficiosamente se a citação foi
feita de acordo com todas as formalidades legais. Daí que o art. 566.º apenas diga respeito à revelia
absoluta.
Em primeiro lugar, importa perceber como é que a classificação da revelia como operante/inoperante se
relaciona com a classificação da revelia como relativa/absoluta – quer a revelia absoluta, quer a relativa
podem ser operantes ou inoperantes.
Revelia operante – a regra é a de que a revelia seja operante. Os factos que tenham sido invocados
pelo autor na petição inicial têm-se por confessados – art. 567.º/1. Sobre o autor impende o ónus de
alegação e o ónus de prova, ou seja, para que o autor possa vir a ver procedente a sua pretensão, ele
tem o encargo processual de arguir os factos que são importantes para que a ação proceda, bem
como tem o ónus de provar esses factos (se forem factos constitutivos do seu direito). Quando o réu
não contesta e a revelia é operante, a tarefa do autor fica substancialmente facilitada, porque o ónus
da prova fica diminuído – o autor continua a ter o onus de alegar os factos revelantes, mas no que
toca ao ónus da prova, pelo facto de o réu não ter contestado, o legislador considera esses factos
como confessados, i.é., tudo se passa como se o réu tivesse contestado e dito que são verdadeiros os
factos invocados pelo autor. Não se trata de uma confissão efetiva, mas antes de uma confissão que
o legislador presume, ou seja, uma confissão tácita/presuntiva. A revelia diz-se operante porque
operam os efeitos que são a regra da falta de contestação, ou seja, os factos que o autor fez contar da
narração da petição inicial são considerados confessados.
Existem ainda outros efeitos que decorrem da revelia operante, para além da confissão
ficta/presuntiva: esses outros efeitos traduzem-se em modificações na tramitação processual.
Quando a revelia é operante, pelo facto de se darem por confessados os factos alegados pelo autor,
deixam de se justificar algumas fases da tramitação geral do processo comum. Art. 567.º/2 e 3 –
quando há lugar a revelia operante, passa-se da verificação da ausência de contestação para o
momento das alegações de direito. Os momentos intermédios que ocorreriam se não tivesse havido
revelia não terão lugar, ou seja, termina a fase dos articulados, não vai haver fase intermédia, e
também não vai haver audiência final – os advogados têm a possibilidade de alegar de direito a
petição (quanto aos factos já não há nada a dizer). Depois das alegações de direito, o juiz profere a
sentença. O art. 567.º/2, na parte em que refere que se passa da fase de articulados para o momento
das alegações de direito, deve ser articulado com o art. 6.º/2, que estabelece o dever de gestão
processual (este dever abrange quer os casos em que há revelia, quer os casos em que não há
revelia). Antes de o juiz passar ao momento das alegações de direito, ele tem o dever de averiguar
se há ou não alguma irregularidade no plano relação processual, porque se ele verificar que não está
cumprido um pressuposto processual que é de conhecimento oficioso e que pode ser sanado, o juiz
deve providenciar pela sua sanação. Ex: um exemplo de pressuposto processual sanável é o caso de
incapacidade judiciária. Se o juiz se apercebe que uma parte é incapaz, antes de passar para a fase
das alegações de direito, tem o dever de declarar judicialmente a falta de verificação deste
pressuposto processual, e promover a sua sanação. Só depois disso é que o tribunal deve permitir
que o processo caminhe para as alegações de direito, pronunciando-se, se for o caso, sobre o objeto
da causa.
Vamos supor que é feito o controlo formal, e que é concedido o prazo de 10 dias para as alegações
de direito, chegando o momento de proferir a sentença, aplicando o direito aos factos. Importa ter
presente o grau de formalidade da sentença, e o seu possível conteúdo.
Quanto ao grau de formalidade da sentença, o legislador é mais generoso para com o juiz,
na medida em que permite que, se houver revelia operante e se a resolução da causa for de
uma manifesta simplicidade, a sentença pode ser também ela mais simples do ponto de vista
da sua estrutura. A sentença pode ser constituída apenas pela identificação das partes, por
uma fundamentação sumária e pela parte decisória.
Quanto ao conteúdo da sentença, poder-se-ia pensar que se os factos do autor se dão por
confessados, seria óbvio que o autor ganharia a ação, contudo, isto está longe de ser
verdade. O trabalho do autor fica facilitado, mas de nenhum modo daí se pode retirar que o
autor tem garantia de que daí vai surgir uma sentença que lhe seja favorável. O juiz poderá,
assim, proferir uma de 3 decisões:
1) Absolvição do réu da instância – esta decisão terá lugar quando se verifiquem exceções
dilatórias que sejam de conhecimento oficioso, exceções dilatórias que sejam insanáveis,
ou exceções dilatórias que, sendo sanáveis, não foram realmente sanadas (o juiz
apercebeu-se de exceções sanáveis, convidou ao suprimento e não houve
correspondência da parte). Estas exceções dilatórias impedem que haja conhecimento do
mérito da ação (da causa de pedir e do pedido que consta da petição inicial). Embora por
princípio a falta de um pressuposto processual insanável ou não sanado determine a
absolvição do reu das instâncias, há circunstâncias em que se permite que o tribunal
conheça do mérito apesar de não estarem verificados certos pressupostos processuais –
art. 278.º/3, que respeita à quebra do dogma da apreciação prioritária dos pressupostos
processuais, e foi uma inovação trazida para o Direito Processual Português pelo Prof.
Dr. Miguel Teixeira de Sousa. Art. 577.º 578.º, CPC.
29/03/2022
I. Revelia inoperante (noção, hipóteses de verificação e consequências).
II. Contestação
Espécies
Ónus de impugnação de facto - noção e regime regra
casos em que não se verifica o efeito cominatório da inobservância
o caso particular dos factos instrumentais
noção
condições de admissibilidade
_________________
Revelia inoperante – Art. 568.º; Diz respeito às hipóteses em que o réu não contesta, mas aos factos
não se consideram confessados, não operam os efeitos normais da revelia consagrados no 567.º/1.
As situações de revelia inoperante podem dividir-se em 4 grupos:
o Quando um dos réus seja incapaz, art. 568.º/b) - se um réu for incapaz e o objeto da
causa se enquadrar no âmbito da capacidade, a revelia deste reu incapaz não gera a
confissão ficta dos factos prevista no 567.º/1. Quando o réu/um dos réus tenha sido
citado editalmente, desde que com ela se cumule o facto de o réu não ter dado
qualquer sinal de si nos autos – esta situação reporta-nos para os casos de revelia
absoluta. Neste caso, a revelia também será inoperante, mas o juiz antes verificar se a
citação foi regularmente efetuada (se tiver havido preterição de alguma formalidade,
o juiz irá mandar repetir a citação, e iniciar-se-á um novo prazo para contestar).
o Quando a vontade das partes for ineficaz para produzir o efeito jurídico que pela
ação se pretende obter, art. 568.º/c) – uma situação jurídica indisponível é aquela
cuja extinção está excluída da vontade das partes, isto é, a mera vontade das partes
não é suficiente para criar ou extinguir este tipo de situação jurídica. Ex: as ações de
divorcio que são propostas por um cônjuge, quando o outro não consente no
divorcio; as ações de anulação do casamento, ações em que se investiga a
paternidade, ações em que se impugna uma perfilhação. Havendo revelia, os factos
constitutivos do pedido apresentado pelo autor, não se consideram confessados – o
autor tem de demonstrar a realidade desses factos, através dos meios de prova, e só
assim a causa será considerada procedentes.
o Quando o réu não contesta, mas a lei (364.º, CC) ou as partes (art. 223.º, CC) exigem
documento escrito para forma ou prova de um negócio jurídico alegado na petição
inicial, se o autor não tiver procedido à junção desse documento dos autos, art.
568.º/d), CPC – nestes casos, em caso de não contestação, o silêncio do réu (a revelia)
não permite suprir a falta desse documento, e na ausência dele, o facto que esse
documento visa comprovar não será confessado de modo ficto.
Verificam-se ao nível da tramitação processual, mas essas modificações não são iguais em todas as
hipóteses de revelia inoperante.
Se estiver em causa uma hipótese que se enquadre no âmbito da revelia inoperante do art. 568.º/a),
ou seja, haver vários réus e um contestar aproveitando aos demais essa contestação – neste caso, a
lei não prevê nenhuma modificação ou desvio à tramitação processual.
No caso da alínea b) e c) do art. 568.º, havendo revelia inoperante, termina a fase dos articulados e
a causa segue a tramitação normal do processo declarativo comum, no entanto, na fase subsequente
não haverá a realização de audiência previa – art. 592.º/1, conteúdo, manter-se-á a restante
atividade do juiz, i.é., o juiz manterá a possibilidade de proferir um despacho pré-saneador (art.
590.º), e poderá proferir os despachos judiciais previstos no art. 593.º/2, por força do art. 592.º/2. A
atividade de prova também será em principio necessária, e o réu revel deve ser notificado para
identificar os meios de prova (perceberemos isto melhor quando falarmos da fase intermédia).
No caso da alínea d), ao abrigo do princípio da boa gestão processual, o juiz deve convidar o autor
a juntar aos autos o documento em falta – art. 590.º/2/c). Se o autor juntar esses documentos, o réu
revel será notificado da junção dos mesmos, para que sobre eles se possa pronunciar – art. 444.ºe
446.º. Se uma vez notificado, o autor nada disser, o tribunal poderá já ter factos suficientes para uma
decisão de mérito, mas, de qualquer modo, antes do julgamento o juiz deve sempre ouvir os
advogados em matéria de direito. Se a causa prosseguir, ou seja, se os factos provados não forem
suficientes para uma decisão de mérito (porque os elementos que estão nos autos não permitem
uma decisão segura), o processo segue a tramitação normal, mas sem a realização da audiência
prévia.
Contestação (continuação)
2. Situações em que, concedida a possibilidade de exercício do contraditório mediante apresentação de
contestação, o réu faz uso desse direito de se pronunciar – quando o réu decide contestar, ele poderá
fazê-lo podendo adotar uma postura de defesa (a única coisa que ele quer é que a pretensão do autor
não proceda), OU ele pode pretender ele próprio formular uma pretensão contra o autor (neste caso, a
contestação assumirá a natureza de contestação-reconvenção – será desenvolvido mais à frente) – é como se o
réu se convertesse em autor.
Contestação de defesa – se o réu optar por se defender, essa defesa pode subdividir-se em várias
modalidades, podendo traduzir-se numa defesa por exceção, OU numa defesa por impugnação.
Toda a defesa deve ser deduzida na contestação – vigora o princípio da concentração da defesa na
contestação - 573.º/1, CPC – excetuando-se os incidentes que a lei mande deduzir em separado.
Por princípio, o reu tem o onus de alegar na contestação toda a defesa; se não respeitar esse ónus, e se
não estiver em causa uma das hipóteses do art. 573.º/2, fica impossibilitado de invocar essa defesa em
momento posterior – verifica-se o princípio da preclusão.
A defesa posterior é admitida em certos casos pela lei. Ex: invocação pelo reu de incompetência
absoluta (o reu pode proceder a essa invocação mesmo depois do decurso do prazo de
contenção – art. 97.º e 98.º). O mesmo acontece com o vicio da falta de citação (art. 198.º/2). A
defesa posterior também é admitida quando o reu invoque exceções que sejam de conhecimento
oficioso, ou seja (577.º a 579.º).
Defesa por exceção dilatória – o réu invoca novas factos que impedem a apreciação do
mérito da causa; Art. 576.º/1 + 577.º
As exceções dilatórias elencadas no art. 577.º, CPC não estão elencadas com caracter
taxativo. Ou seja, há outras para além das mencionadas naquele artigo:
Se o tribunal proferir uma decisão de absolvição do reu da instância, essa decisão ter
carater definitivo e imodificável dentro da ação, mas nada impede que venha a ser
intentada uma outra ação idêntica (com a mesma causa de pedir, com o mesmo pedido,
contra os mesmos sujeitos), e que o tribunal venha a pronunciar-se em sentido diferente
àquele em que se pronunciou na primeira ação. Art. 278.º/1, 279.º/1 e 620.º
É necessário que o pressuposto processual não preenchido tenha como função a mera
proteção do interesse de uma determinada parte. O regime do dogma da apreciação
prioritária dos pressupostos processuais não se verifica se o pressuposto processual em
falta for um daqueles que vise acautelar interesses públicos, designadamente de boa
administração da justiça (é o que sucede com a competência absoluta ou com o interesse
processual – nestes dois casos não se aplica o regime do art. 278.º/3, ou seja, a
possibilidade de quebra do dogma).
Classificação legal:
Defesa por exceção perentória – o réu invoca novos factos que determinam a
improcedência total ou imparcial do pedido. Art. 576.º/3 + 579.º - serão exceções
impróprias aquelas cuja invocação a lei não torne dependente da vontade do
interessado.
Torna-se mais clara a fronteira distintiva entre a contestação de defesa por exceção
perentória e a contestação de defesa por impugnação de facto, porque quando a
defesa é por impugnação, o reu pretende apenas dizer que a versão factual que o
autor invocou não é verdade (e por vezes o réu explicita as razoes que o levam a
discordar da versão apresentada pelo autor – trata-se de uma negação motivada, na
qual o réu pode alegar factos novos).
*Efeito impeditivo: as exceções perentórias com natureza impeditiva são factos que
impedem a valida constituição do direito do autor. O direito do autor nem sequer
surge.
Classificação doutrinal:
Defesa por impugnação de facto – o réu ataca a realidade dos factos que o autor
invocou, contradizendo-os.
Defesa por impugnação de direito – o réu contradiz o efeito jurídico que o autor
pretende, ou seja, o reu poe em causa o preenchimento da norma que o autor
alega. Ele reconhece a factualidade, mas nega as consequências jurídicas que o
autor pretende retirar desses factos. Ex: no âmbito de uma ação de divorcio, o reu
pode concordar com os factos invocados pelo autor, mas dizer que esses factos
não preenchem o pressuposto legal da rutura definitiva da vida em comum, e
portanto, do ponto de vista jurídica, não se pode retirar desses factos o efeito
extintivo da relação jurídica em que se traduziria o divorcio (é um caso típico de
inconcludência, ou seja, de não preenchimento da hipótese normativa que é
invocada pelo autor.
Nota: houve algumas inovações no âmbito da reforma do CPC de 2013, na medida em que o ónus que recai
sobre o réu é o de indicar os meios de prova na contestação, e passou também a prever-se uma sanção para
a hipótese de o reu não formular uma discriminização separada das exceções.
Apesar da distinção entre impugnação de facto e impugnação de direito, tal não significa que no âmbito de
uma determinada ação não possa haver em simultâneo uma impugnação de facto e de direito– o réu não
está obrigado a optar por apenas uma destas impugnações, pode optar por impugnar de facto e de direito.
Ex: o autor intenta uma ação contra o reu invocando que lhe emprestou uma certa quantia em direito, e que
o reu não procedeu à devolução dessa quantia no dia que tinha sido convencionado, e se o reu invocar que
essa quantia lhe foi entregue a título de doação (e portanto não tem obrigação de restituir), esta contestação
no âmbito desta ação envolve tanto uma negação motivada dos factos, como uma negação de direito – o
réu concorda que lhe foi entregue o dinheiro, mas nega que essa entrega foi feita com a obrigação de
restituir, sustentando estar em causa não um contrato de mútuo, mas antes um contrato de doação.
Nota: em sede de contestação por impugnação de facto, está consagrado o onus de impugnação de factos
que integram a causa de pedir – o reu tem o *ónus de impugnar os factos que o autor fez constar da petição
inicial. Por se tratar de um onus, se o reu não cumprir esse onus, daí decorrem as consequências previstas
no art. 574.º, CPC. O réu, ao contestar, deve assumir uma posição definida perante os factos que constituem
a causa de pedir invocada pelo autor, sendo que ele pode assumir uma de três posições:
1. Pode assumir que se verificaram alguns factos
2. Pode impugnar outros factos
3. Pode afirmar que desconhece se os factos são ou não verdadeiros
Quando o réu cumpre este ónus, os factos que tinham sido invocados pelo autor na petição inicial,
e que são agora contestados pelo réu, consideram-se controvertidos, ou seja, não se dão por
assentes, e nessa medida será necessário que o autor demonstre a veracidade desses factos através
dos meios de prova.
Se os factos invocados pelo autor na petição inicial não forem impugnados pelo réu (=se o ónus
não for cumprido), consideram-se admitidos por acordo, e não controvertidos – 574.º/2/1.ª parte.
A admissão por acordo é uma noção que tem particularidades que a distinguem da confissão
enquanto meio de prova – art. 352.º e ss., CC.
Distinção:
A confissão é um meio de prova: ocorre quando há uma declaração expressa e inequívoca por um
sujeito jurídico de reconhecimento de um facto desfavorável a essa parte que o reconhece, e
favorável à parte contrária, no entanto, em caso de revelia operante, a lei fala em confissão dos
factos, mas o legislador não se está a referir à confissão como meio de prova. No caso de revelia
operante, a confissão obedece a um regime especial, e muito processualistas denominam-na de
“confissão ficta/presumida”. Quer no caso de não impugnação, quer no caso de revelia, os factos
que não são contestados ou que não são impugnados consideram-se assentes e, por isso, não é
necessário recorrer a meios de prova para verificar a realidade desses factos.
Admissão: o Dr. Lebre de Freitas defende que para harmonizar estas expressões processuais se
deveria utilizar-se a expressão “factos admitidos por acordo ou provados por admissão”.
*Ónus – necessidade de adotar um comportamento para se poder realizar um interesse próprio. Se o
onerado não cumprir o onus, não está a infringir nenhum dever, mas perde a possibilidade de obter uma
vantagem. Se o réu não cumprir o onus de impugnação, os factos não se considerarão controvertidos, logo,
o autor beneficiará dessa omissão de conduta do réu.
No entanto, há hipóteses em que apesar de o réu não cumprir este ónus, não se verifica o efeito cominatório
do não cumprimento do ónus, ou seja, os factos não se têm por admitidos por acordo, apesar de não se
cumprir o ónus da impugnação – 574.º/2:
1) Ainda que o réu não impugne determinado facto, esse facto não se considera admitido por acordo
se se encontrar em oposição manifesta com a defesa considerada no seu conjunto – ainda que o reu
não diga expressamente que não concorda com aquele facto (=ainda que não o impugne), tem-se
por impugnado, e não admitido por acordo, se da contestação de defesa considerada no seu
conjunto se concluir que a posição admitida na defesa é incompatível com a concordância relativa
àquele ato.
2) Não se consideram admitidos por acordo os factos que não tenham sido impugnados, desde que
estejam em causa factos relativamente aos quais não seja admitida confissão. Ex: é o que sucede
relativamente a factos relativos a bens indisponíveis. Art. 354.º, CC.
3) Também não se consideram admitidos por acordo os factos que só possam ser comprovados por
documento escrito – art. 364.º, CC.
4) Os factos instrumentais obedecem a um regime especial. Os factos instrumentais são aqueles cuja
prova permite comprovar a veracidade e existência de factos essenciais; trata-se de uma forma de
uma forma indireta de demonstrar a realidade de um facto essencial. Os factos instrumentais
podem ser invocados pelo autor, no âmbito da petição inicial, mas também podem chegar ao
conhecimento do tribunal na audiência final – art. 5.º/2/b), CPC. Ex: há um acidente de viação, do
qual decorrem danos, e na qualidade de lesado, o sujeito vai intentar uma ação declarativa
condenatória contra o lesante, invocando factos representativos dos vários pressupostos da
responsabilidade civil, designadamente, os pressupostos relativos à culpa. O autor invoca que o réu
circulava em excesso de velocidade. Se se vier a averiguar que ficou um rasto de travagem,
produzido pelo veículo do reu, então a existência desse rasto é um facto instrumental do excesso de
velocidade, ajudando a provar que o réu circulava em excesso de velocidade.
Existe uma nuance de regime relativa aos factos instrumentais: se um faco instrumental não for
impugnado pelo réu, ele considera-se admitido por acordo. No entanto, e diferentemente do que
acontece nos casos anteriores, esta admissão por acordo é transitória, porque ela pode deixar de
existir se for feita prova de que o facto afinal não se verificou. Ex: o lesado invoca que há ficou um
rasto de travagem, se o reu não impugnar este facto, ele considera-se assente, no entanto, durante a
audiência podem vir várias testemunhas declarar e depor no sentido em que não havia nenhum
rasto de travagem, ou pode mesmo ser realizada uma inspeção judicial que conclua nesse sentido,
ou eventualmente pode ser requerida a realização de uma perícia. Se o juiz ficar convencido da não
existência do facto instrumental, o facto instrumental não se considera admitido por acordo, apesar
de não ter sido impugnado pelo réu.
Nota: o regime do ónus de impugnação não se aplica quando estejam em causa incapazes, ausentes e
incertos – mesmo que sejam representados pelo Ministério Público ou por advogado oficioso – art. 574.º/4
+ art. 21.º, 22.º, 23.º, CPC.
As situações que acabamos de analisar reportam-se ao caso de o réu não impugnar os factos invocados pelo
autor. No entanto, o réu pode alegar, na contestação, que não conhece o facto (não sabe se é verdadeiro ou
falso) – neste caso, as consequências que daí resultam dependem da natureza do facto:
Se estiver em causa um facto pessoal, ou um facto de que o réu deva ter conhecimento, ele considera-se
admitido por acordo.
Se estiver em causa um facto não pessoal, a declaração de desconhecimento do facto por parte do réu
vale como impugnação – tudo de passa como se o reu dissesse que o facto não é verdadeiro.
o Contestação-reconvenção
No âmbito de uma ação principal, o autor formula uma pretensão contra réu, e quando o réu deduz
um pedido reconvencional contra o autor, é o réu que se torna autor de um pedido. Para que não
haja confusão terminológica, o réu que deduz a reconvenção e que seja autor relativamente a essa
pretensão toma a designação de “reconvinte”. O autor do pedido inicial, que entretanto se
transformou em réu relativamente ao pedido reconvencional deduzido pelo réu reconvinte, tomará
a designação de “reconvindo”.
O reconvinte formula uma pretensão contra o reconvindo, e ele terá de apresentar um pedido e uma
causa de pedir. O reconvinte deve também indicar o valor correspondente ao seu pedido
reconvencional – art. 583.º, CPC.
Nota: o facto de se dizer que a contestação pode ser por exceção ou por impugnação (no âmbito de
uma contestação por defesa), ou uma contestação reconvenção não significa que o reu possa
formular pedido reconvencional de forma livre. No âmbito do nosso regime jurídico, não é admitida
a formulação de reconvenção independentemente da verificação de determinados requisitos (com
carater processual, substantivo e subjetivo).
Requisitos subjetivos:
A reconvenção tem de ser necessariamente deduzia pelo réu contra o autor – mas isso não
significa que não possam vir a ser chamados a intervir terceiros – art. 266.º/4. Esta
intervenção, que pode vir a acontecer quer do lado ativo, quer do lado passivo da relação
processual, gerará uma pluralidade de partes, porque esses intervenientes irão associar-se ao
reconvinte ou ao reconvindo, ou a ambos, na modalidade de litisconsórcio (voluntário ou
necessário). A natureza do litisconsórcio assume algum interesse, porque se se tratar de
litisconsórcio voluntario, o tribunal tem a possibilidade de não aceitar essa intervenção
provocada se achar que ela pode criar um inconveniente grave para o desenrolar do
processo de reconvenção. Diferentemente, se se tratar de litisconsórcio necessário, o tribunal
já não beneficia desta possibilidade.
Requisitos processuais:
Assim, se houver diversidade das formas de processo entre ações, o juiz deve avaliar se é
ou não possível conciliar estes dois diferentes tipos de tramitações no mesmo processo.
Requisitos substantivos:
Nota: A petição inicial e a contestação são dois articulados sempre possíveis (a contestação não é um
articulado obrigatório, por isso mesmo é que pode haver revelia), no entanto, após a contestação pode
existir um outro articulado: a réplica.
Réplica
A réplica é um articulado eventual, porque nem sempre existe a garantia de que a mesma possa ser
oferecida. Art. 584.º e 585.º, CPC. A réplica constitui um articulado através do qual o autor dá resposta à
contestação apresentada pelo réu – o autor exerce o contraditório relativamente ao conteúdo da
contestação. Atualmente não existe tréplica, que era um articulado apresentado pelo réu em resposta ao
réu.
2. Quando a ação proposta for de simples apreciação negativa - na ação de simples apreciação negativa, o
autor invoca factos essenciais que demonstrem a inexistência de um direito invocado pelo réu, e o réu, na
contestação, deve invocar os factos constitutivos do direito de que se arroga.
Em qualquer um destes casos, o réu assume uma posição semelhante à do autor, invocando um direito
contra o autor.
A réplica é, assim, como que uma contestação, porque o autor está a contestar a existência do direito que o
reu invoca na contestação – o autor, no âmbito da réplica, pode defender-se por impugnação, ou por
exceção. Se o fizer relativamente aos factos constitutivos invocados pelo reu na sua contestação,
apresentará uma impugnação de facto ou invocará exceções perentórias, invocando factos impeditivos e
extintivos do direito que tenha sido invocado pelo réu (no sentido de que o tribunal não considerará
existente o direito de que o réu diz ser titular contra o autor).
Precisamente por através da réplica o autor como que contestar a contestação, o prazo para a apresentação
da réplica é idêntico ao prazo para contestar. O prazo é de 30 dias – art. 569.º/1 + 585.º.
Quando a réplica for admissível, se o autor optar por replicar, pode o réu alterar o seu requerimento de
prova que apresentou inicialmente em sede de contestação – art. 572.º/d).
De acordo com o regime atual, se não tiver sido apresentada reconvenção, ou se a ação não for se simples
apreciação negativa, não é possível que a replica seja apresentada apenas para exercício do contraditório
relativamente a exceções que o réu tenha invocado na contestação. O princípio do contraditório tem de ser
respeitado, e, por isso, o autor deve ter possibilidade de se pronunciar quanto a essas exceções, no enanto,
não o fará em sede de réplica, mas antes na audiência prévia, ou, se a ela não houve lugar, na audiência
final – art. 3.º/4, CPC.
Na prática jurisprudencial, alguns tribunais têm entendido que em determinadas situações não é adequado
esperar-se pela realização da audiência previa para que possa ser exercido o contraditório pelo autor,
relativamente à exceção invocada pelo reu. Nessa medida, os tribunais têm permitido que o autor
apresente um terceiro articulado (com caráter atípico), no âmbito do qual responde às exceções – este
terceiro articulado tem sido permitido ao abrigo do exercício do dever de gestão processual, bem como de
adequação formal – art. 6.º e 547.º, CPC.
Consequências que decorrem do facto da replica não ser apresentada nos casos em que ela seja
admissível (quando tenha sido formulado pedido reconvencional, ou quando a ação seja de simples
apreciação negativa):
Se não for apresentada réplica, OU se a replica for apresentada mas o autor não tomar uma posição clara e
definida quanto aos novos factos essenciais que tenham sido invocados pelo réu, esses factos consideram-se
assentes, ou seja, não carentes de prova, na virtude de serem considerados admitidos por acordo – art. 574.º
+ 587.º, CPC. Sobre o autor impende o ónus de impugnar os factos essenciais que sejam alegados pelo reu
na contestação. O autor tem que o fazer relativamente a factos com carater essencial que o reu invoque na
contestação, tal como o reu tem o onus de o fazer relativamente aos factos que o autor invoque na petição
inicial. Este onus de impugnação só recai sobre o autor se o réu tiver deduzido a sua defesa por exceção de
forma separada/diferenciada relativamente aos demais tipos de contestação (ou seja, se o réu tiver
cumprido o ónus de invocar as exceções de forma especificada).
Em sede de contestação, vigora o princípio da concentração da defesa na contestação, ou seja, o reu deve
invocar na contestação todos os fundamentos da sua defesa. No entanto, há circunstâncias em que assim
não é, ou seja, o réu pode invocar fundamentos na sua defesa fora da contestação – isto é possível quando
há factos que são favoráveis ao réu e que são supervenientes (573.º/2).
Modalidades de superveniência:
a invocação em articulado posterior tem por fim assegurar que o facto de um facto superveniente
ocorrer ou ser do conhecimento da parte ainda no período dos articulados, mas já depois do
articulado normal, nada obsta a que ele ainda se possa realizar. A figura do articulado posterior
apenas se verifica no caso de articulado de réplica, ou seja, se um determinado facto vier ao
conhecimento do autor já depois de ele ter apresentado petição inicial, o autor poderá invocar esse
facto superveniente na replica, caso se verifiquem as condições de admissibilidade desta.
Se assim não acontecer, o autor deve invocar o facto em novo articulado (num articulado que é
apresentado apenas para invocação de um facto superveniente). No que diz respeito ao réu, se esse
facto for conhecido ou se se verificar já depois da contestação, ele poderá invocar esse facto
superveniente num novo articulado apresentado para esse efeito.
Qual o prazo de que a parte dispõe para apresentação deste novo articulado através do qual invoca
factos supervenientes? A lei define várias balizas temporais no art. 588.º/3:
O facto poderá ser alegado na audiência previa, quando haja lugar a esta – art. 588.º/3/a);
O facto poderá ser alegado nos 10 dias posteriores à notificação da data que seja designada
para a realização da audiência final (esta baliza temporal vale quanto aos factos que sejam
posteriores ao termo da audiência prévia, e vale também para as hipóteses em que a
audiência prévia não se tenha realizado) – art. 588.º/3/c);
Quanto aos factos posteriores a esse limite, podem ser invocados na audiência final –
588.º/3/c).
Vamos admitir que os factos supervenientes são alegados em termos regulares. Qual o procedimento que
se observa?
Uma vez que eles são factos novos no processo, ficam sujeitos ao princípio do contraditório – a
parte contrária terá possibilidade de se pronunciar quanto a esses factos novos.
Para além disso, é admitida a produção de prova, como sucede relativamente aos factos em geral.
No entanto, há circunstâncias em que o juiz poderá já nesta fase pôr termos à causa, através de despacho
saneador (seja através de uma decisão de absolvição do réu da instância, seja através de uma decisão de
improcedência ou procedência do pedido – ou seja, quer através de uma decisão formal, quer através de
uma decisão de mérito).
Contudo, o juiz só pode fazer uso da fase intermédia para este fim se nesse momento dispuser já de
elementos suficientes para esse efeito.
Por outro lado, a fase intermédia é a fase em que as partes podem modificar os requerimentos de prova que
apresentaram nos articulados – art. 598.º, CPC. Como vimos a propósito da petição inicial, o autor tem o
dever de indicar os meios de prova na petição inicial, e o reu tem o dever de apresentar o seu depoimento
de prova na contestação. Art. 552.º/2 + 572.º/d). No entanto, ambas as partes podem, nesta fase, alterar os
seus requerimentos probatórios. Porquê? Porque é neste momento que as partes tomam conhecimento dos
temas da prova, e tomam consciência da importância de apresentar os meios de prova que não tinham
requerido nos seus articulados.
Posteriormente, faremos alusão de forma mais pormenorizada a um meio de prova, que são as declarações
de parte, que tem um regime muito particular porque pode ser requerido até ao início das alegações orais
na audiência final – art. 466.º, CPC.
Quando estudamos a petição inicial, dissemos que em determinadas circunstâncias o juiz pode aceder de
imediato aos atos e proferir decisão (despacho liminar, que pode ter diversos conteúdos). A matéria da
gestão liminar da matéria pelo juiz consta do art. 590.º/1 – na altura dissemos que o facto de esta matéria
estar situada no art. 590.º não faz sentido do ponto de vista sistemático, na medida em que no número
seguinte se trata dos poderes exercidos durante a fase intermédia. No art. 590.º/1 diz respeito aos poderes
que devem ser exercidos pelo juiz logo depois de a petição ter sido apresentada (refere-se a uma fase muito
inicial na ação); enquanto que na fase intermédia, este casso do juiz aos autos acontece já num momento
mais adiantado da tramitação processual.
Nesta fase intermédia em que o juiz vê o processo ser concluso, o analisa e o prepara para as fases
seguintes, e pode proferir vários despachos/decisões:
Pode proferir um despacho pré-saneador – tem como objetivo permitir que a parte ou
ambas as partes tenham a oportunidade de sanar vícios processuais, de melhorar
insuficiências na exposição da matéria de facto, de superar irregularidades de natureza
formal dos articulados, de juntar documentos que porventura estejam em falta. Ou seja,
trata-se de um despacho que tem por fim dar possibilidade às partes de resolverem
problemas que sejam detetados, de maneira a que o processo possa prosseguir sem que
haja prejuízo para a possibilidade de conhecimento do mérito (=para que a instancia
tramite regularmente).
Quando o despacho saneador seja proferido (o que nem sempre acontece), ele sê-lo-á
sempre em momento anterior à audiência prévia que o juiz possa convocar.
Nesta fase intermédia pode também haver lugar à tentativa de conciliação (no caso de
ações que não tenham por objeto direitos indisponíveis – se os direitos forem
indisponíveis a conciliação das partes não produz o efeito pretendido, dada a
indisponibilidade).
O tribunal poderá também proferir despacho através do qual programe a audiência final
– se a ação não terminar na fase intermédia, é necessário preparar as fases seguintes, e
isso manifesta-se através deste despacho em que se organiza e programa a audiência
final (nele se define a quantas sessões haverá lugar, qual a data da sua realização, etc.).
O tribunal pode também proferir despachos através dos quais exerce os seus poderes de
adequação processual, simplificação e de agilização processual – art. 6.º + 547.º, CPC.
O tribunal, no caso de a ação ter continuidade, proferirá um despacho através do qual
identificará o objeto do litígio e os temas da prova.
A tentativa de conciliação, o despacho saneador, o despacho através do qual se identifica o objeto do litígio,
os temas de prova, a programação da audiência final e a atividade de adequação e simplificação processual
têm lugar, em princípio, na audiência previa que o juiz convoca para esse efeito.
Se nos referirmos a casos em que a audiência previa tem lugar, cumpre notar que há casos em que a
audiência prévia é dispensável (não ocorre) – tal pode acontecer ou por decisão do juiz (art. 593.º), ou por
força da lei (art. 592.º).
Quando procedemos à análise do regime da revelia inoperante, mencionámos que nos termos da lei não há
audiência previa quando a revelia seja inoperante, nos termos das alíneas b) a d) do art. 568.º, CPC. Em
todo o caso, apesar de não haver audiência previa, o juiz proferirá os despachos que considera relevantes
para bem decidir a causa.
Vamos debruçar-nos em três dos despachos referidos: o despacho pré-saneador, saneador, e aquele em que
se define o objeto do litígio, bem como os temas de prova.
Despacho pré-saneador – art. 590.º/2, através dele pretende-se conceder às partes/ou uma das
partes a possibilidade de resolver determinados problemas de natureza formal que sejam detetados
na instância. Pode haver lugar a sanação de falta de pressupostos processuais (que pressupõe o não
preenchimentos de pressupostos processuais que sejam sanáveis); pode estar em causa a correção
de articulados que se afigurem irregulares; o juiz pode convidar as partes a suprir imperfeiçoes nos
articulados (quando haja insuficiências ou imperfeiçoes na exposição da matéria de facto); e o juiz
pode convidar a parte/as partes a proceder à junção de documentos que se afigurem importantes
para a decisão.
Este despacho designa-se “pré-saneador” porque tem lugar em momento anterior àquele em que é
proferido o despacho saneador. Art. 590.º/2/a).
No que diz respeito aos pressupostos que são insanáveis (e que não podem ser objeto deste
despacho pré-saneador), cumpre realçar a incompetência absoluta, a ilegitimidade (quando seja
singular), a ineptidão da petição inicial (ressalva do art. 186.º), e a falta de personalidade judiciaria
(é insanável, exceto no âmbito do art. 14.º, CPC).
O momento próprio para conceder a possibilidade de ser sanada a falta de pressupostos processuais
é o despacho pré-saneador. O despacho saneador servirá para verificar se, sendo essas falta
sanáveis, se foram efetivamente sanáveis.
No entanto, pode suceder que o juiz verifique que existem em simultâneo duas exceções dilatórias
(uma insanável e outra sanável) – neste caso, perante uma exceção sanável, em abstrato, seria
possível proferir um despacho pré-saneador para que houvesse sanação dessa falha, mas, existindo
uma exceção dilatória insanável, ela vai determinar a absolvição do reu da instância, sem
possibilidade de sanação. Assim, quando haja duas exceções dilatórias (uma sanável e outra
insanável), em vez de proferir um despacho saneador e um despacho pré-saneador, o juiz deve
proferir apenas um despacho saneador, que determine a absolvição do reu da instância, com
fundamento na existência dessa exceção insanável.
Cumpre ressalvar que, mesmo estando em causa uma exceção dilatória, importa conciliar a sua
consequência (absolvição do reu da instância) com o regime da quebra do dogma da prioridade de
conhecimento dos pressupostos processuais, consagrado no art. 278.º/3.
O despacho pré-saneador pode ainda ser um despacho convite à junção de um documento que seja
essencial para o conhecimento de uma exceção ou para o conhecimento do mérito no despacho
saneador. Ex: pode ser necessário a junção de uma procuração para que se reúna o pressuposto do
patrocínio judiciário (a sua falta representa uma exceção dilatória), tal como pode ser necessário
juntar uma certidão de nascimento para se comprovar que A, autor, é filho de B.
1) proceder a uma verificação de natureza formal: no plano formal, o despacho saneador serve
para verificar a regularidade da instância, mediante o conhecimento de exceções dilatórias,
mediante a apreciação de nulidades processuais que devam ser conhecidas no despacho saneador
(art. 595.º/1/a)).
No que diz respeito às exceções dilatórias, neste contexto, releva o art. 577.º; no que diz respeito à
nulidade processual, pode ser invocado a título de exemplo o art. 186.º + 196.º
No que diz respeito às decisões com caráter formal, o despacho saneador só forma caso julgado
formal quanto às questões de natureza formal que tenham sido concretamente analisadas pelo juiz
– art. 620.º + 595.º/3/1.ª parte. Formando caso julgado formal, aquela questão não pode voltar a ser
discutida naquele processo, no entanto, esse efeito vinculativo tem impacto intra processual, mas
não extra processual (não se projeta no âmbito de outra ação que venha a ser proposta – esta decisão
não vincula um outro tribunal).
A exceção perentória prende-se com o mérito da causa, na medida em que as exceções perentórias
consubstanciam factos de natureza impeditiva, modificativa ou extintiva do direito invocado pelo
autor – são portanto exceções materiais, que conduzem ao conhecimento do mérito, ao passo que as
exceções dilatórias respeitam à forma (designam-se também por “exceções processuais”).
Se o juiz, no momento em que profere o despacho saneador, puder conhecer de uma exceção
perentória que tenha sido invocado pelo réu (ex: se puder concluir que o réu pagou o montante
devido, nesse caso, considerará a exceção perentória procedente e absolverá o reu do pedido). A
decisão proferida no âmbito de despacho saneador tem o valor de sentença – logo, depois de
transitar em julgado, forma caso julgado material, à semelhança do que acontece com a sentença.
Se, porventura, conhecendo de uma exceção perentória, o juiz a considerar improcedente, nesse
caso, o processo continua a sua tramitação.
Quanto ao caso julgado material que incide sobre o despacho saneador (que conheça de uma
exceção perentória): importa avaliar o que sucede quando o despacho saneador se pronuncia sobre
exceções dilatórias e sobre nulidades processuais que tenham sido concretamente apreciadas. Ora,
se um juiz se pronunciar sobre o mérito da causa, ou se se pronunciar sobre exceções dilatórias e
puser termo à causa, ocorre um julgamento antecipado – a causa pode terminar por despacho
saneador na fase intermédia, quer quando o juiz extingue o processo por ter conhecido e
considerado procedente/improcedente uma exceção dilatória, quer quando tenha conhecimento do
pedido, considerando também a ação procedente ou improcedente. Trata-se de um julgamento
antecipado da causa, porque é proferida neste momento uma decisão que por regra só é proferida
no momento tipicamente final do processo (aquando da sentença).
Convém referir que o despacho de aperfeiçoamento pode visar o suprimento destas deficiências,
mas já não pode ser usado para permitir a resolução da falta da causa de pedir, ou para possibilitar
que o reu invoque ma nova exceção.
De notar ainda que o atual regime jurídico apresenta uma nota distintiva relativamente ao regime
anterior, na medida em que, atualmente, o legislador qualifica este poder de o juiz convidar a parte
a suprir as insuficiências ou imprecisões da matéria de facto como um verdadeiro poder-dever, e
não como uma mera faculdade – art. 590.º/4.
Despacho em que se identificará o objeto do litígio e os temas da prova – neste despacho, o juiz
começa por enunciar os elementos que objetivamente identificam o litígio (os pedidos e a causa de
pedir). Depois diz, o tribunal fará referência à matéria controvertida (aquela matéria que não
considerou assente e que, por isso, será objeto de prova).
A realidade dos factos essenciais não pode ser assumida processualmente de qualquer forma – ela
necessita de ser comprovada através e meios de prova. Através deste despacho, autor e reu tomam
conhecimento da matéria relativamente à qual deverá incidir a prova.
A enunciação dos temas de prova não é apenas importante para as partes, é também importante
para o juiz porque, conforme resulta do princípio do inquisitório (art. 411.º), ele tem o dever de
diligencias os meios de prova que entenda necessários para o apuramento da realidade dos factos.
O regime que atualmente vigora é diferente daquele que vigorava antes do novo Código Civil,
porque anteriormente, na fase intermedia, o juiz distinguia os factos assentes dos factos
controvertidos. Atualmente, o juiz limita-se à matéria que entende ser controvertida, e, por isso,
carecida de prova – art. 596.º. Por outro lado, o juiz tem uma maior liberdade na elaboração desta
matéria controvertida, na medida em que não tem de ser tao pormenorizado.
Na fase intermédia, a lei não impõe que o juiz proceda a uma elaboração de uma lista de factos já
tomados por assentes – então nesta fase que factos já poderiam ser considerados assentes? Desde
logo, aqueles relativamente aos quais tenha havido confissão, aqueles relativamente aos quais a
parte não tenha cumprido o onus de impugnação (e portanto consideram-se admitidos por acordo –
art, 574.º/2 + 587.º/1), e aqueles factos que se devam considerar plenamente provados em virtude
de documento junto aos autos – art. 423.º/1. No entanto, atualmente o que se verifica é que estes
factos, que de acordo com o regime anterior poderiam ser dados como assentes logo neste
momento, serão elencados na sentença final, quando o tribunal enuncia os fundamentos de facto da
sua decisão (607.º/4). Esses factos, em conjunto com os factos que se consideraram controvertidos
na fase intermédia, mas que, em função da prova, se vieram a considerar provados, resultam na
base de facto em que o tribunal se suportará para proferir a decisão final constante da sentença.
Instrução
Art. 416.º a 529.º; A instrução compreende toda a atividade que diz respeito a 3 aspetos:
o ao ato de transportar para o processo informação necessária para demonstrar a verificação de factos que
representam matéria controvertida;
o ao ato de produção dessa prova, no que diz respeito à prova constituenda (é o que se verifica quando
há lugar a inquirição de testemunhas, ou quando há lugar ao depoimento de parte ou a declarações de
parte);
A instrução não corresponde a um ato só, nem corresponde a uma fase – corresponde a uma atividade que
se desenvolve ao longo do processo, pode ter início até antes do processo, mas mesmo que começe apenas
no processo, ela tem início logo nos articulados (as partes têm de fazer menção aos meios de prova) e
termina na audiência final.
No que diz respeito à audiência final (fase em que a atividade instrutória assume uma grande importância),
nela assume especial relevo 3 princípios que dizem respeito à prova (e que estão intimamente ligados à
fase da instrução):
Princípio da imediação – o juiz deve ter um contacto imediato e direto com as cosias e pessoas que
representam a fonte da prova, para que possa de forma adequada formar convicção sobre a
realidade dos factos invocados. Está intimamente ligado ao princípio da oralidade, porque a
oralidade contribui para essa imediação. Se uma testemunha depuser oralmente, mais facilmente o
juiz se aperceberá de pormenores que poderão ser relevantes para a decisão final. Art. 500.º + 605.º
Princípio da oralidade – Este princípio interliga-se com o anterior pois a oralidade contribui para esta
imediação. Ex. se uma testemunha dispuser oralmente e o juiz tiver contacto direto mais facilmente se
aperceberá a pormenores que poderão depois ter interpretados de colaborar ou não com o sentido dos
factos. – 500.º e 605.º CPC.
Segundo o disposto no art. 341.º, CC, as provas têm por função a demonstração da realidade (a parte
pretende demonstrar ao tribunal que a sua versão dos factos é verdadeira).
A regra é a da livre admissibilidade de qualquer meio de prova. No entanto, nem sempre assim é. Ex: se a
lei civil impuser que determinado ato jurídico seja celebrado mediante a observância de certa forma, o
tribunal só tem considerado esse facto mediante prova documental.
A prova incide sobre os temas da prova – é na fase intermédia que o juiz prepara as fases seguintes da ação.
Na fase da audiência final haverá, em princípio, lugar à produção de prova (e um dos aspetos que o juiz
procura preparar na fase intermédia é a produção de prova – fá-lo através da prolação de um despacho,
que se encontra previsto no art.596.º, e no âmbito do qual o juiz fixa os temas da prova e identifica o objeto
do litígio.
É através deste despacho que as partes tomam conhecimento dos aspetos da ação relativamente aos quais
ainda existe dúvida/controvérsia. Perante o tribunal podem demostrar que são verdadeiros os factos que
alega, através de meios de prova.
Apesar de os requerimentos probatórios serem apresentados na fase inicial (nos articulados), isso não
significa que sejam imutáveis. – art.598.º. As partes têm possibilidade de alterar os seus requerimentos de
prova. No entanto, no momento em que o juiz enuncia a matéria controvertida, pode haver já
determinados factos que se possam considerar assentes: É o que acontece quando existam factos que não
tenham sido impugnados pelas partes - 574.º e 587.º; factos que já tenham sido provados por via
documental; pode ter havido reconhecimento de factos desfavoráveis à parte que os confessa, através de
confissão.
É na sentença final que o juiz vai tomar em consideração os factos que já na fase intermédia pôde
considerar assentes, e com base nesses factos assentes e nos factos provados, o juiz vai proferir a sentença
final.
Os diferentes meios de prova não têm uma regulação unitária: por um lado, não estão regulados num
único diploma e, por outro lado, o regime de cada um deles difere. Há meios de prova previstos no CC (ex:
prova documental, prova por confissão, prova pericial, prova por inspeção) e outros que estão previstos
apenas na lei adjetiva do CPC (ex: art. 416.º, 466.º, 494.º). O novo CPC acrescentou dois novos meios de
prova: 1. verificações não judiciais qualificadas; 2. declarações de parte.
Meios de prova legais:
Prova documental – 362.º e 387.º, CC + 423.º a 451.º, CPC. A noção de documento não é unívoca;
aquela que consta do art. 362.º do CC é uma noção ampla, no entanto, as regras relativas à prova
documental do CPC têm em princípio por objeto a prova documental num sentido mais limitado
(respeitam ao documento escrito, que podem ser autênticos ou particulares). Os documentos
escritos podem ser de dois tipos:
Os documentos, enquanto meio de prova, têm um valor probatório que se encontra previsto na lei.
O juiz não beneficia de liberdade para atribuir um determinado valor probatório ao documento, é o
legislador que fixa esse valor (trata-se de uma prova legal/tarifada) – art. 371.º + 376.º, CC.
O que significa dizer-se que uma determina prova tem um valor probatório de prova plena?
Significa que a sua força probatória só pode ser destruída através da arguição de falsidade do
documento (é necessário que se prove que esse documento é falso – art. 446.º a 449.º)
Prova por depoimento de parte – estão em causa meios de prova que pressupõem que a parte
compareça pessoalmente em tribunal para depor (prestar informação perante o tribunal). Quando a
parte comparece em tribunal, pode-se conceber que o faça para prestar depoimento de parte, para
prestar declarações de parte ou para prestar esclarecimentos ou informações – art. 352.º a 361.º, CC
+ art. 452.º a 466.º, CPC.
De acordo com o art. 452.º, CPC, a parte pode ser interrogada tanto nos casos em que é a outra
parte a solicitar esse interrogatório, como nos casos em que é o juiz a convocar a parte para prestar
depoimento de parte ou meros conhecimentos ou informações (que tem lugar ao abrigo do
princípio da cooperação – art. 7.º, CPC).
As declarações de parte encontram-se reguladas no art. 466.º, CPC, e representam uma inovação
criada pelo CPC de 2013. Contrariamente ao que sucede no âmbito do depoimento de parte, nesta
hipótese é uma das partes que requer ao tribunal a sua audiência sobre factos em que tenha tido
uma intervenção pessoal, ou de que tenha um conhecimento direito. A parte pretende ser ouvida de
forma direta em tribunal (é ela própria que requer a sua prestação de depoimento), sem a
mediação do seu mandatário judicial, relativamente à verificação ou não de determinado facto. Este
é um meio de prova sui generis no que diz respeito ao momento até ao qual pode ser requerido.
Por norma, a prova deve ser requerida nos articulados (embora haja momentos processuais
posteriores em que o requerimento probatório pode ser alterado), mas as declarações de parte
podem ser solicitadas até ao início das alegações orais em primeira instância (este é um momento já
bastante tardio do processo) – art. 466.º/1 + 604.º/3/e), CPC. Estamos perante um regime
excecional no que diz respeito ao momento cronológico de apresentação do requerimento de prova
– art. 552.º/2 + 572.º/d).
No âmbito do depoimento de parte, é uma das partes que requer que a contraparte deponha em
tribunal.
Prova por confissão – Quando uma das partes é interrogada em tribunal, seja no quadro de
depoimento de parte ou no quadro de declarações de parte, seja quando presta esclarecimentos ou
dá informações, ela pode confessar factos e pode, assim, reconhecer factos que lhe sejam
desfavoráveis (e favoráveis à contraparte) – é nisto que consiste a confissão. Se a confissão assumir
natureza escrita, só é possível fazer prova em contrário em termos muito limitados – art. 359.º, CC.
Em determinadas circunstâncias a confissão é ineficaz, designadamente quando diz respeito a
direitos indisponíveis. Todas as respostas que a parte dê que não sejam confissão, ou que sejam
ineficazes enquanto confissão, ficam sujeitas ao princípio da livre apreciação da prova, e não serão
apreciadas ao abrigo do regime geral da confissão.
Prova pericial – art. 388.º e 389.º, CC + 467.º a 489.º, CPC. As razoes que levam a que seja admitida a
realização de prova pericial é o facto de ser necessária a apreciação de determinados factos
mediante a convocação de conhecimentos técnicos/científicos/artísticos que não estão ao alcance
da pessoa média. Como tal, está em causa uma avaliação que não está no âmbito da esfera de
competência do juiz. Também se recorre à prova pericial quando estejam em causa factos que não
possam ser alvo de inspeção judicial. A inspeção judicial está regulada legalmente, mas no art. 388.º
do CC, o legislador delimita o âmbito aplicativo deste tipo de prova.
A perícia/prova pericial é pedida pelo tribunal a um estabelecimento/laboratório/ou serviço oficial
apropriado, e se isso não for possível ou conveniente, será realizada por apenas um perito ou por
mais de um perito – art. 468.º/1,2,3,4, CPC.
Qual o valor da prova pericial? Este meio de prova é apreciado em função do princípio da livre
apreciação de prova – art. 389.º, CC. O juiz não fica cativo desses conhecimentos especiais, ou seja, o
conteúdo do relatório pericial não vincula com carater necessário o juiz.
Prova por inspeção – art. 390.º e 391.º, CC + art. 490.º a 493.º, CPC. A prova por inspeção judicial é
uma prova direta, ou seja, é através deste meio de prova que o juiz entra em contacto imediato com
o objeto da prova. Quando há lugar a inspeção, é o próprio juiz que visualiza o objeto da prova, não
dependendo do que lhe transmitam outras testemunhas ou peritos.
Verificações não judiciais qualificadas – art. 494.º, CPC. Recorre-se a este meio de prova quando o
juiz conclua que não se justifica ser ele a proceder a uma avaliação direta do objeto da prova, e que
em simultâneo também não se justifica recorrer a um terceiro com especiais conhecimentos,
bastando delegar num terceiro a verificação de determinado facto (devendo ser uma pessoa
qualificada). Opta-se por este meio de prova quando em abstrato seja possível recorrer a uma
inspeção judicial, mas o juiz entende que, dada a simplificada da questão, não é necessário recorrer
à mesma. O “terceiro” que seja designado para o efeito deverá lavrar um relatório, que será
avaliado à luz do princípio da livre apreciação da prova – só não será assim se estas atestações
constarem de documento emanado por entidade pública.
Prova testemunhal – art. 392.º a 396.º, CC + 495.º e 526.º, CPC. No âmbito desta prova interessam
alguns incidentes de inquirição, regulados nos art. 521.º e 524.º (incidentes da contradita e da
acareação).
Quem pode ser testemunha? Terceiros (a parte não pode ser) que prestem depoimento sobre a
matéria controvertida, sendo que esses terceiros se devem encontrar aptos, quer em termos físicos,
quer em termos mentais para que essa prestação possa ter lugar em termos adequados.
O requerimento da produção de prova testemunhal acontece nos articulados, embora possa depois
ser alterado ou complementado/aditado, em consonância com o que se prevê no art. 572.º/b) e
598.º/2, CPC. No entanto, a prova testemunhal não é admitida em qualquer caso – só em
determinadas circunstâncias.
Quando é que não é possível recorrer à prova testemunhal?
Art. 393.º, CC – se a declaração negocial, por disposição da lei ou estipulação das partes,
houver de ser reduzida a escrito, não é admitida a prova testemunhal. Também não é admitido
quando o facto esteja plenamente provado por documento ou por outro meio com força
probatória plena – contudo, estas regras não são aplicáveis à simples apreciação do documento.
Art. 395.º - as disposições dos artigos precedentes são aplicáveis aos factos referidos.
Art.500.º CPC – a prova testemunhal, por regra, realiza-se na audiência final, no entanto, há
circunstâncias em que assim não é.
Caso se verifique que há contradição entre os depoimentos das testemunhas, ou entre o depoimento de
testemunha e o depoimento de parte, pode haver lugar à acareação: por determinação do juiz ou
requerimento de qualquer uma das partes – art.º 523.º, 524.º + 529.º CPC.
Diferentemente, a contradita sucede quando uma parte invoca razões que permitem pôr em causa a
credibilidade do depoimento do terceiro. Podem dizer respeito a razões de ciência, ou razões que
diminuem a fé que esse depoimento possa merecer – art.521.º e 522.º CPC.
No art. 521.º CPC: ‘’razão de ciência’’: expressão que designa as circunstâncias que envolveram a
perceção que a testemunha teve dos factos. A razão de ciência prende-se com as circunstâncias que
envolveram a aquisição de conhecimento relativamente ao facto sobre o qual depõe– ex: acidente de
viação em que o sujeito diz que visualizou mas chega-se à conclusão de que no ângulo em que a
pessoa estava não podia visualizar.
As razões que dizem respeito à fé (art. 522.º) prendem-se com o interesse que a testemunha possa ter no
litígio (ex: ser amiga ou inimiga de uma das partes; ter uma relação de parentesco com uma das
partes). Se a testemunha tiver interesse que a decisão seja favorável a uma das partes, a informação
prestada tende a ser parcial. Estes fatores podem ser invocados como razões que afetam a
testemunha.
Independentemente do regime a que obedeça cada meio de prova, importa perceber qual o valor da prova
(perante o juiz):
A regra – art.607.º/5 – é a de que o juiz pode apreciar a prova de acordo com o princípio da livre
apreciação crítica, isto é, o juiz aprecia a prova de forma livre, no sentido em que não está vinculado por
uma prévia determinação legal quanto ao valor dessa prova. Podem-se perceber concretizações deste
princípio no art. 389.º, 391.º e 396.º, CC.
O juiz deve proceder à análise crítica de toda a prova na sentença que profira, justificando a sua convicção
mediante explicitação das razoes que o levaram a considerar um determinado facto como provado ou como
não provado. Ou seja, o legislador que adota como princípio o sistema da prova livre (=prova não tarifada)
deposita a sua confiança na capacidade que cada juiz terá para atribuir a cada um dos meios de prova o
valor devido em sede do apuramento da verdade.
No entanto, este não é um princípio absoluto entre nós. Relativamente a alguns meios de prova vigora um
critério diferente: o critério de prova tarifada – é o que acontece no caso dos documentos escritos, da
confissão escrita, e da confissão reduzida a escrito (têm uma força de prova plena e só pode ser destruída
mediante prova em contrário, ou seja, para que o facto não se possa considerar provado com base nesse
meio de prova, é necessário provar que é falso o facto que em função dessa prova se diria provado).
Perante prova produzida, pode acontecer que o juiz fique numa situação de dúvida perante a veracidade
ou não da alegação de facto feita pela parte. Quando assim sucede, o juiz deve recorrer ao regime do ónus
da prova (previsto no CC). Para que o juiz possa recorrer ao regime do ónus da prova, é necessário que se
encontre numa situação de dúvida insanável, insuperável. Admitamos que o juiz teve em consideração
todas as provas produzidas, que realizou todas as diligências probatórias que considere pertinentes para o
apuramento da verdade (pode fazê-lo ao abrigo do princípio do inquisitório, art. 411.º CPC), e ainda assim
fica em situação de dúvida insanável – non liquet (não é líquido para o juiz).
Nessa hipótese limite, o juiz recorrerá às regras de distribuição do ónus da prova (previstas no art. 342.º
ss., CC), que visam determinam sob qual das partes incidirá o risco que resulta da falta ou insuficiência de
prova sobre determinado facto.
Se o juiz ficar em dúvida quanto à verificação de um facto, contra quem deverá decidir? Em sentido
favorável ao autor ou ao réu?
Já se estiver em causa uma dúvida insanável sobre um facto impeditivo, extintivo ou modificativo
do direito do autor, estará em causa uma exceção perentória – o ónus da prova incide sobre o réu.
Numa situação de dúvida insanável, o juiz decidirá em sentido desfavorável ao réu, isto é,
considerará esses factos não verificados, e portanto, as exceções perentórias que o réu tenha
suscitado na contestação serão improcedentes.
Nota: o ónus da prova a que nos referimos não se confunde com o ónus de alegação (que tem a ver com o
ónus de invocar factos, que em princípio está a cargo das partes, por força do princípio do dispositivo – art.
5.º/1, CPC). Cabe ao autor alegar os factos essenciais, constitutivos da sua pretensão, diferentemente o réu
deve alegar os factos essenciais que consubstanciam as exceções que invoque na sua contestação.
Assim, o ónus de alegar tem a ver com o ónus de invocar factos; o ónus da prova tem a ver com o ónus de
demonstrar a veracidade dos factos que tenham sido previamente alegados.
Quanto à regra de distribuição do ónus da prova – art.342.º/1 e 2 (distribuição do ónus da prova sobre o
autor e reu, respetivamente).
Contudo, há desvios à regra geral que se encontram previstos nos artigos 343.º/1 e 344.º/2, CC:
Ações de simples apreciação negativa: da regra geral contida do art. 342/1, CC, resulta que
compete ao autor o ónus de provar os factos constitutivos da sua pretensão (se o juiz ficar em
dúvida quanto à sua veracidade, decide contra o autor). No entanto, nas ações de simples
apreciação negativa, o autor requere que o tribunal declare que não assiste ao réu um determinado
direito, ou que não se verificou um determinado facto. Depois, o reu, na contestação, invoca o seu
direito e os factos constitutivos desse direito. A atividade do reu nas ações de simples apreciação
negativa é muito semelhante ao que faz o autor numa normal ação. Nestas ações, o ónus da prova
acompanha essa inversão de posições/atividade do autor e do réu.
Numa ação normal, o ónus da prova sobre os factos constitutivos incide sobre aquele a quem
interessa a sua prova (autor); no âmbito das ações de simples apreciação negativa caberá ao autor o
ónus da prova quanto aos factos impeditivos, extintivos ou modificativos contra o autor.
Quando, incidindo o ónus sob determinada parte, a parte contrária tenha impossibilitado de
forma culposa a prova desse facto. A prova do facto passa a incidir não sobre a parte em princípio
onerada, mas sobre a parte contrária (que criou a situação de dificuldade ou impossibilidade de
prova – art. 344.º/2 CC e 417./2º, CPC.
26/04/2021
Art. 411.º, CPC – dele decorre o dever oficioso do juiz de desenvolver atividade processual para
apuramento da verdade e justa composição do litígio. Neste artigo consagra-se o princípio do
inquisitório em matéria de prova. Por outro lado, este princípio geral encontra concretizações
relativamente a determinados meios de prova:
o Art. 452.º, CPC - regula-se o depoimento de parte. O juiz tem a possibilidade de o fazer a
título oficioso.
o Art. 477.º, CPC (perícia oficiosamente determinada): o juiz indica no despacho o respetivo
objeto.
Princípio da livre apreciação da prova: o tribunal deve considerar, avaliar e decidir em função da
prova produzida, sendo a avaliação realizada de forma livre (mas não arbitraria), por apelo a
critérios lógicos de raciocínio explicitado na própria decisão.
Princípio da audiência contraditória – art. 415.º CPC. Salvo disposição em contrário, não são
admitidas ou produzidas provas sem audiência contraditória – o princípio do contraditório a
impor-se em matéria de prova. Este princípio vale quer quanto às provas pré constituídas, quer
quanto às provas constituendas.
Mesmo estando em causa prova pré-constituída, cada uma das partes tem o direito de se
pronunciar quanto à admissibilidade ou não da junção dessa prova, e quanto à força probatória.
No que diz respeito às provas constituendas e ao direito que cada uma das partes tem de assistir e
participar na produção de prova, para que esse direito seja efetivo, a parte será notificada pelo
tribunal para poder intervir participar em todos os atos de preparação e produção de prova – art.
515.º/1 + 461.º “respostas do depoente; podendo a parte contraria requerer às instâncias necessárias’.
Art. 491.º (quanto à inspeção judicial) – sendo que está em causa uma prova constituenda, as partes
são notificadas do dia e hora da inspeção e podem por si prestar ao tribunal os esclarecimentos de
que ele carecer.
Art. 514.º - a parte contra a qual for produzida testemunha pode impugnar a sua admissão – o
legislador explicita direitos que a outra parte tem para, em exercício do contraditório, intervir na
prova constituenda.
No entanto, contrariamente ao que acontece no art. 7.º, no âmbito do art. 417.º, o dever de cooperar
não diz respeito apenas às partes, alarga-se também a terceiros. Se as partes e/ou terceiros
recusarem colaborar, serão condenados em multa, e o tribunal poderá fazer uso dos meios
coercitivos que sejam necessários. Ex: em matéria de prova documental, vale o art. 433.º e 434.º CPC;
quanto à prova testemunhal, vale o art. 508.º/4.
Por outro lado, se quem não cumprir o dever de cooperação for parte, e se atuar com dolo ou
negligência grave, a parte será considerada litigante de má-fé, e será condenada em multa, podendo
inclusivamente ter o dever de indemnizar a parte contrária pelos danos que esta tenha sofrido em
consequência do comportamento da testemunha – art. 542.º/2/c).
Art. 417.º/2 – quando haja recusa de cumprir o dever de cooperação para a descoberta da verdade
por parte de alguém que seja parte, o juiz apreciará livremente para efeitos de prova o
comportamento do recusante. Se essa recusa for culposa e implicar impossibilidade da prova do
facto, o juiz pode proceder a uma inversão do ónus da prova, fazendo impender o ónus da prova
sobre a parte não cooperante (passa a outra a ter de demonstrar o que, se não fosse o seu
comportamento censurável, incumbiria à outra parte o ónus da prova – 344.º/2 CC.
A prova deve ser apreciada independentemente de quem requereu essa prova, e do resultado que dessa
prova resulte para quem a requereu.
Pode suceder que os meios de prova que tenham sido produzidos no âmbito de um determinado processo
tenham sido utilizados num outro processo com igual ou com diferente valor. Em determinadas
circunstâncias, a prova pode ser produzida antes mesmo de o processo começar, ou já durante a pendencia
da ação, mas num momento em que não é o típico – nessas hipóteses, estaremos perante uma produção
antecipada de prova.
Este princípio permite que provas produzidas num determinado processo (mais precisamente,
depoimentos e perícias) possam vir a ser utilizados contra a mesma parte num outro processo. Há como
que um empréstimo de uma prova para outro processo. Esse aproveitamento pressupõe que a atividade
probatória do primeiro processo não ofereça garantias menores que aquelas que se verificaram no segundo
processo. É preciso que se tenha observado o princípio da audiência contraditória, ou seja, é fundamental
que tudo se passe como se a prova tivesse sido produzida neste segundo processo (nas mesmas condições
garantísticas).
Inspeção judicial: as perceções e interpretações que um juiz faça no contexto de uma inspeção
judicial são informações que dizem respeito a esse juiz, e se outro juiz se deparasse com o mesmo
tipo de realidade, poderia concluir em sentido diferente. Portanto, não se permite que as conclusões
perfilhadas por um juiz no âmbito de uma certa inspeção vinculem um outro juiz que venha a
assumir o papel de decisor numa outra causa.
Prova documental: (é uma prova pré-constituída); a não aplicação do regime do art. 421.º verifica-se
na medida em que um mesmo documento pode ser usado em 2 processos, e para isso basta que se
peça o desentranhamento do documento em relação ao primeiro processo para que se possa fazer a
função ao segundo, ou poderá pedir-se uma cópia do documento, tendo em vista o mesmo efeito.
Assim, deixa de ser necessário este regime do valor extracontratual das provas.
Se se verificar que o regime de produção de prova, no âmbito do primeiro processo em que a prova
foi produzida, oferece garantias menores que no segundo, a prova que for transferida só vale como
princípio de prova – assim, o segundo tribunal não poderá tomar por base do seu juízo apenas esse
meio de prova. É necessário que esse meio de prova seja completado/corroborado por um outro
meio de prova que seja produzida nesse segundo processo.
Quanto às verificações não judiciais qualificadas, elas devem poder valer fora do processo em que
foram produzidas, apesar de elas não constarem no art. 421.º.
No que diz respeito à confissão judicial de factos: pode ser transferida para outro processo, mas já
não será qualificada como judicial, será qualificada como extra judicial, e por isso o seu regime será
diferente – art. 355.º/3 + 358.º/3, CC.
Diferentemente do regime relativo ao valor extra processual das provas é o regime respeitante à
possibilidade de produção antecipada de prova – art. 419.º e 420.º, CPC. Trata-se de um regime que
permite que a prova constituenda seja produzida em momento anterior àquele em que em princípio
haveria lugar.
O depoimento de parte, ou declaração de terceiro; a perícia; e a inspeção judicial, bem como a verificação
não judicial qualificada podem ser requeridas mesmo antes de proposta a causa (em regime de antecipação
de produção de prova). Para que haja antecipação de produção de prova, é necessário que haja justo receio
de vir a tornar-se impossível ou muito difícil a produção de prova (depoimento de uma testemunha ou de
parte, a realização de uma perícia ou inspeção).
Audiência final
Art. 599 e 606.º, CPC. A audiência final é gravada, em conformidade com o previsto no art. 155.º/1, e
decorre perante um único juiz (ou seja, em primeira instância o julgamento é singular, tal como previsto no
art. 599.º e 602.º/1, CPC).
1) Num primeiro momento, há lugar a uma tentativa de conciliação, embora isto só aconteça se a
ação disser respeito a matéria não excluída da disponibilidade das partes. Embora haja tentativa
de conciliação quando não estejam em causa direitos indisponíveis, isso não invalidade que em
momento anterior a tentativa de conciliação já não tenha sido tentada (art. 591.º/1/a).
2) Num segundo momento, há lugar à produção de prova (quanto à prova que ainda não tenha
sido produzida – neste momento, assumem especial relevo os princípios da imediação, da
oralidade, da plenitude da assistência dos juízes, e da publicidade – art. 604.º/3/a) a d) + 605.º e
606.º/1.
Do princípio da imediação decorre que o juiz deve ter um contacto direito e imediato
com as fontes da prova, para que a convicção que o juiz forme sobre a realidade dos
factos seja fundamentada.
Do princípio da plenitude da assistência dos juízes resulta que o legislador faz questão
que haja identidade física entre o juiz que julga a causa e o juiz que assiste à produção de
prova – art. 605.º, CPC.
3) Num terceiro momento, há lugar às alegações orais dos advogados – têm por objeto quer a
matéria de facto, quer matéria de direito. Cada advogado tenta sustentar os argumentos
relativamente à parte que representa, de forma a convencer o juiz a decidir em determinado
sentido – art. 604.º/3/e) + art. 604.º/5.
Por regra, os meios de prova devem ser requeridos nos articulados (embora depois possam ser
objeto de alteração), mas as declarações de parte podem ser requeridas até ao inicio das
alegações orais dos advogados – art. 466.º, CPC.
Sentença
Art. 607.º, CPC – a sentença é constituída por várias partes:
Se o juiz não conhecer de todas as questões de que devia conhecer (aquelas que as partes
suscitaram ou aquelas que são de conhecimento oficioso), a sentença padece de nulidade por
omissão de pronúncia – art. 615.º/1/d), CPC.
O juiz tem também de respeitar o princípio do pedido, ou seja, não pode condenar em
quantidade superior ou em objeto diferente daquele que seja requerido, porque se o fizer, a
sentença será nula – art. 615.º/1/e), CPC.
Como já foi referido, embora a regra seja o conhecimento dos pressupostos processuais na fase
intermédia, o juiz pode adiar o seu conhecimento para a fase da sentença, e fá-lo-á se entender que
naquele momento não dispõe de elementos suficientes, mas pode fazê-lo também, se, tendo-se
pronunciado na fase intermédia, a sua apreciação tenha sido genérica, vaga e pouco concreta – art.
595.º/3, CPC.
Quando, na sentença final, o juiz conheça destas questões formais, ele só pode entrar no âmbito do
conhecimento do mérito da causa se concluir que os pressupostos processuais estão reunidos – art.
608.º/1.
1) Em primeiro lugar, deverá identificar a matéria de facto que tem relevo no processo (art. 5.º/2),
tanto aquela que esta demonstrada como aquela que não ficou provada, e deve proceder à
análise critica dos meios de prova (esta última toma a designação de “motivação” – art. 596.º),
expondo os meios de prova que considerou para formar a sua convicção. Estando em causa o
recurso a presunções (legais ou judiciais), o juiz deve especificar as dilações que retirou dos
factos, ou seja, deve especificar quais os factos base e quais os factos presumidos – art. 349.º, CC.
Para além disso, o juiz considerará e discriminará os factos que estão admitidos por acordo
(porque, por exemplo, não foram objeto de impugnação), aqueles que foram confessados e os
que são provados por via documental.
Nestes casos, o legislador determina que o juiz deve socorrer-se das regras de distribuição do
ónus da prova, previstas no art. 342.º ss., nos termos das quais cabe ao autor fazer prova dos
factos constitutivos do direito que alega, ao passo que cabe ao réu o ónus da prova dos factos
impeditivos, modificativos e extintivos do direito do autor.
Atenção: este ónus de prova não se deve confundir com o ónus de alegação. Sobre as partes
recai o ónus de invocar factos (ónus de alegar, que tem a ver com o princípio do dispositivo –
art. 5.º/1), mas para além disso recai também o ónus de demonstrar a verdade dos factos (cada
uma das partes pode invocar os meios de prova que considere pertinentes, mas isso não
significa que a sua atividade de prova não seja complementada com a produção de prova pelo
próprio juiz, ao abrigo do princípio do inquisitório. Caso a dúvida subsista, o juiz vai proferir
decisão ao abrigo das regras de distribuição do ónus da prova).
Embora a regra seja a do art. 342.º, existem dois desvios à regra geral do ónus da prova:
Existe um regime especial de ónus da prova no âmbito das ações de simples apreciação
negativa – incumbe ao réu (e não ao autor) o ónus de provar os factos constitutivos do
direito de que se arroga, nos termos do art. 343.º/1, CC, e se o juiz ficar em dúvida, irá
decidir contra o réu (contrariamente ao que acontece na regra geral, em que, havendo
dúvida quanto aos factos constitutivos, o juiz decide contra o autor).
O regime do ónus da prova poderá também ser diferente, quando haja inversão do ónus da
prova, se a parte tiver culposamente dificultado ou impossibilitado a prova ao sujeito
onerado – art. 344.º/2, CC + 417.º/2, parte final, CPC.
Depois de o juiz proferir sentença, o seu poder de jurisdição quanto à causa termina – art. 613.º, não
podendo o juiz pronunciar-se mais na causa, salvo em situações excecionais (art. 613.º/2 – o juiz
poderá retificar erros materiais, suprir nulidades ou proceder à reforma da sentença).
No que diz respeito às nulidades da sentença, elas devem ser invocadas perante o tribunal que
proferiu a sentença, através de reclamação se não for admissível recurso ordinário. Caso haja
recurso ordinário, é no recurso que os vícios da sentença devem ser invocados – art. 629.º. No que
diz respeito à falta de assinatura do juiz, vale o regime especial previsto no art. 615.º/2.
Quando dizemos que o recurso é a sede própria para a invocação de nulidades, estamo-nos a referir
à apelação e à revista (estes são os recursos ordinário atualmente existentes entre nós) – art. 627.º/2.
Depois de proferida sentença, a partir do momento em que deixa de ser possível interpor recurso
ordinário ou reclamação, a sentença adquire força de caso julgado. No entanto, em função do tipo
de decisão, assim variará o tipo de caso julgado:
o Se estiver em causa uma decisão sobre o mérito da causa (ou seja, se o juiz se tiver
pronunciado quanto às pretensões do autor; o mesmo é dizer: se o juiz disser que o pedido
deve ser deferido ou não), forma-se caso julgado material, porque a sentença pronuncia-se
sobre a matéria da causa. Quando assim é, esta decisão passa a ter força dentro e fora do
processo – o que significa que para alem de a decisão não poder ser modificada dentro do
processo, se posteriormente uma das partes intentar uma ação idêntica (com os mesmos
sujeitos e/ou causa de pedir, e pedido), o réu pode invocar a exceção de caso julgado
material, e isso é um obstáculo à apreciação do mérito da causa nos termos do art. 577.º/i).
Ou seja, a partir do momento em que uma decisão forme caso julgado material, o objeto da
causa deixa de poder ser discutido, e sobre ele não pode incidir decisão, quer naquele
processo, quer fora dele.
o Diferentemente, se estivermos perante uma decisão formal, ou seja, se estiver em causa uma
decisão que se prenuncie sobre uma questão puramente processual (ex: o juiz absolve o réu
da instância), a decisão só produzirá efeitos no processo em que for produzida, e nesta
medida o autor não fica inibido de propor uma nova ação destinada a apreciar o mesmo
objeto da causa, porque o tribunal anterior não se chegou a pronunciar sobre o objeto – art.
279.º, CPC.