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DIREITO PROCESSUAL CIVIL II

PEDRO FERREIRA RIBEIRO


2020/2021

Regente: Prof. Paula Costa e Silva


Assistente: Prof.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 1


DIREITO PROCESSUAL CIVIL II

OBJETO DO PROCESSO
● O estudo do objeto no Processo Civil surge com o princípio do dispositivo, ou seja, ao ser definido pelas partes, o
objeto não pode ser modificado pelo tribunal. Este não pode apreciar factos não invocados e, ao mesmo tempo, não
pode deixar de se pronunciar relativamente aos factos alegados (A.615º1/d CPC);
● Quanto aos factos relevantes para a decisão da causa, o regime é o seguinte:
1. Os factos essenciais (os que integram a causa de pedir e em que se baseiam as exceções – A.5º1 CPC)
devem ser alegados pelas partes e não podem ser investigados pelo tribunal;
2. Os factos complementares que resultem da instrução e decisão da causa só podem ser utilizados pelo
tribunal se a parte interessada der o seu assentimento (A.5º2/b CPC);
3. O tribunal pode considerar os factos instrumentais que resultem da instrução da causa (A.5º2/a CPC);
4. O tribunal poderá ainda considerar os factos notórios e aqueles de que tenha conhecimento por virtude
do exercício das suas funções (A.5º2/c CPC).

● O objeto do processo comporta dois elementos: o pedido e a causa de pedir;


● A petição inicial requer a formulação do pedido (A.552º1/e) e a exposição da causa (A.552º1/d CPC);
● A identidade entre objetos processuais pressupõe a identidade da causa de pedir e do pedido (A.581º1 CPC).

1) PEDIDO
● O processo inicia-se com a apresentação da petição inicial (A.552º), considerando-se a ação proposta logo que o
ato é ou se tem por praticado (A.259º1). Constitui-se assim a instância como relação jurídica entre o autor e o
tribunal, dizendo-se a partir daí pendente a ação, e é impedida a caducidade do direito, através dela feito valer, que
só judicialmente possa ser exercido (A.331º1 CC);
● A iniciativa do autor é insubstituível, pois só a ele cabe solicitar a tutela jurisdicional, que não pode ser
oficiosamente concedida (A.3º1). Assim, tem que ser o autor a requerer a providência jurisdicional adequada a
reparar a violação consumada, prevenir a violação ameaçada, declarar a existência ou inexistência do direito ou do
facto, ou alterar as situações jurídicas das partes em conformidade com o direito exercido;
● O autor formula, assim, na petição inicial, o pedido (A.552º1/e). O pedido é a forma de tutela jurisdicional que é
requerida para uma situação jurídica. No âmbito do processo declarativo, essa tutela pode visar a apreciação da
existência ou inexistência de um direito ou de um facto (A.10º3/a CPC), a condenação na realização de uma
prestação (A.10º3/b CPC) ou a constituição, modificação ou extinção de uma situação jurídica (A.10º3/c CPC);
● O pedido do autor condiciona o conteúdo da decisão de mérito, com que o tribunal lhe responderá: o juiz, na
sentença, “deve resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação”, não podendo
ocupar-se de outras (A.608º2), e “não pode condenar em quantidade superior ou em objeto diverso do que se pedir
(A.609º1), sob pena de nulidade (A.615º1/d) e e));
● O pedido apresenta-se duplamente determinado:
1. Por um lado, o autor afirma ou nega uma situação jurídica subjetiva ou um facto jurídico de direito
material, ou manifesta a sua vontade de constituir uma situação jurídica nova com base num direito
potestativo. O pedido deve referir-se à tutela de uma situação jurídica de direito material. Por exemplo, o
autor não pode requerer apenas o reconhecimento da legitimidade processual: esta situação equivale à
falta do pedido e origina a ineptidão da petição inicial (A.186º2/a). Pelo contrário, o réu já poderá
formular um pedido relativo a um efeito meramente processual: é o que sucede quando, por exemplo,
pede a absolvição da instância com base na verificação de uma exceção dilatória (A.576º2).
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2. Por outro lado, requer ao tribunal a providência processual adequada à tutela do seu interesse. Isto
pressupõe a possibilidade da tutela jurisdicional, ou seja, exige que a situação alegada pela parte tenha
relevância jurídica e possa obter, em abstrato, uma tutela jurisdicional. Assim, não é admissível um
pedido através do qual a parte pede o cumprimento pelo réu de uma conduta pertencente, por exemplo, à
ordem moral ou à ordem do trato social. Esta impossibilidade abstrata de tutela jurisdicional justifica, se
existir despacho liminar (A.226º4 CPC), o indeferimento liminar da PI pela insusceptibilidade de
procedência do pedido formulado.

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● O pedido deve referir-se a um efeito jurídico, ou seja, a uma consequência extraída de uma norma jurídica. Dado
que o tribunal não está vinculado à qualificação jurídica fornecida pela parte (A.5º3), ele poderá corrigir o pedido
erradamente formulado. Assim, por exemplo, se o autor, numa ação de impugnação pauliana, em vez de pedir a
ineficácia do ato em relação a essa parte, tiver pedido a declaração de nulidade ou a anulação do ato jurídico
impugnado, o tribunal deve corrigir esse erro na qualificação e apreciar aquela ineficácia (Ac. STJ 3/01 de 9/02);
● Com exceção das situações em que é admissível a formulação de um pedido genérico (A.556º), o pedido deve ser
certo, ou seja, referir-se a um objeto individualizado e determinado.

IDENTIDADE DO PEDIDO
● A identidade entre vários pedidos depende da identidade dos efeitos jurídicos decorrentes desses pedidos (581º);
● Dois pedidos são idênticos quando os efeitos produzidos pela sua procedência forem coincidentes, total ou
parcialmente (Ac. STJ 15/03/2001). Assim, por exemplo, são idênticos dois pedidos de condenação na realização
de uma mesma prestação, tal como o são, embora apenas parcialmente, o pedido de apreciação do direito de
propriedade e o pedido de reivindicação do mesmo prédio, porque a procedência do segundo pedido implica a
procedência do primeiro (A.1311º1 CC);
● Note-se que o critério que define a identidade dos efeitos jurídicos (e, consequentemente, do pedido) deve ser
jurídico, pelo que o objeto material pode ser distinto.

MODALIDADES DE PEDIDOS
1) PEDIDO ÚNICO ou MÚLTIPLO → A parte pode formular um pedido único ou múltiplo, em cumulação (A.555º) ou em
relação de subsidiariedade (A.554º). Há, além disso, lugar à dedução de pedidos alternativos (A.553º) quando o direito que
se quer fazer valer é, pela sua natureza ou origem, alternativo ou possa resolver-se em alternativa.

2) PEDIDO CERTO ou GENÉRICO → Em princípio o pedido tem de ser certo (prestação tem de ser individualizada ou
determinada). A prestação considera-se individualizada quando se reporta a um bem concreto (ex: automóvel x ou prédio y),
e determinada quando está definida na sua espécie e quantidade. A ratio desta exigência prende-se com a pretensão de que a
sentença, limitada pelo pedido, seja completa, executável e concretize definitivamente o conteúdo dos deveres e direitos das
partes. No entanto admitem-se exceções no A.556º:
1. Quando o objeto mediato da ação seja uma universalidade de facto (ex. biblioteca) ou de direito (ex.
estabelecimento comercial, herança…) → Nestes casos o objeto do pedido são vários direitos ou várias coisas
juridicamente tratadas como um conjunto com autonomia (ex: estabelecimento comercial é um conjunto de meios,
coisas, direitos… que se consideram agregados para o exercício do comércio). Se o autor pretende que lhe seja
reconhecido o direito a ⅓ da herança terá de apresentar um pedido genérico (não faria sentido exigir que
identificasse todos os bens que integram a universalidade que pretende);
2. Quando respeitar a danos indemnizáveis mas ainda não apurados → A quantificação dos danos pode ser inviável
no momento da propositura da ação, por exemplo, porque o processo danoso ainda está em curso ou porque ainda
não é possível identificar a extensão do dano. Permite-se, assim, que o autor peça a condenação do réu no que se
vier a liquidar em execução de sentença;
3. Quando a fixação do quantitativo esteja dependente de ato a ser praticado pelo réu → Ex: Ações propostas contra
administradores de patrimónios de terceiro (gestor de negócios, administrador de maiores acompanhados…).
A.941ºCPC - Processo especial de prestação de contas, em que se pede a alguém que preste contas da sua
atividade, e eventual condenação no saldo que venha a apurar-se;
4. Pedido de prestações vincendas (A.557º) → JMM diz que é um pedido genérico na medida em que a Lei permite
ao autor pedir a condenação nas prestações que se venham a vencer na subsistência da relação jurídica. Neste caso
pode ainda não estar definido o montante.

➔ Apesar do pedido ser genérico quando é deduzido, mais tarde tornar-se-á certo (acidente de liquidação - A.368ºss).
Se o juiz condenar em quantia a liquidar posteriormente, a liquidação faz-se em sede de ação executiva (A.609º2);
➔ E se o autor deduzir pedido genérico fora destas hipóteses? JMM defende que o juiz deve convidar o autor a
aperfeiçoar o articulado, tornando o pedido certo (A590ºCPC), mas se for, pela sua indeterminação, ininteligível,
verifica-se a ineptidão da petição inicial (A.186º2/a), o que pode fundamentar o indeferimento da PI;

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3) PEDIDO TOTAL ou PARCIAL → O pedido pode abranger a totalidade ou apenas uma parte do efeito jurídico,
consubstanciando assim a totalidade ou apenas uma sua parcela.
➔ Devemos ter alguma atenção aos pedidos parciais, pois os mesmos podem levar a litigância de má-fé da parte que
desdobra um pedido em vários pedidos parciais, na medida em que tal constitua um uso reprovável dos meios
processuais (A.542º2/d CPC) se, por exemplo, evitar a forma do processo ordinário, a competência da vara cível ou
o patrocínio judiciário obrigatório (pedido oculto).

4) PEDIDO DE PRESTAÇÕES VINCENDAS → Aquele em que a parte formula o pedido de condenação da contraparte
numa prestação cujo cumprimento ainda não é exigível, ou seja, em que a parte requer uma condenação in futurum (A.557º).
➔ Para efeitos de determinação do valor da causa, o valor do pedido de prestações vincendas cumula-se com o valor
do pedido referido às prestações vencidas (A.300º);
➔ Não se encontrando a obrigação ainda vencida, dever-se-á entender que a pretensão do autor não carece ainda de
tutela jurisdicional (e por isso, falta-lhe o interesse processual). Entende-se que o réu não deu causa a ação quando
a obrigação ainda não se encontrava vencida quando a ação foi proposta (A.535º2/b);
➔ Regra geral o pedido deve ter por objeto uma prestação certa e as obrigações já devem ter sido vencidas à data da
propositura da ação. Existem, no entanto, exceções: (A.557º)
1. Quando a obrigação foi dividida em prestações e o devedor incumpre uma ou mais → O incumprimento
de uma prestação vale como indício do incumprimento das demais, pelo que daí resulta o interesse
processual do autor exigir imediatamente o valor das prestações ainda não vencidas. Autor tem receio
justificado que merece tutela, sob pena de o autor ter de esperar pelo incumprimento das demais
prestações tendo de propor outr(s) ações quanto a essas (princípio da economia processual);
2. Quando se pretenda obter o despejo quando findar o contrato de arrendamento → Há uma dificuldade em
compatibilizar esta norma com a do A.610ºCPC;
3. Casos semelhantes em que a falta de título executivo na data do vencimento da prestação possa causar
grave prejuízo ao credor.

➔ Debate aceso na doutrina por causa da contradição entre o A.557º e o A.610ºCPC:


1. Doutrina Minoritária → Defende que quando o pedido consiste na condenação ao cumprimento de uma
prestação vincenda, a ação só deve prosseguir se o autor tiver alegado na PI o grave prejuízo previsto na
parte final do A.557º, e a ação só deve proceder se este grave prejuízo tiver sido provado pelo autor. A
alegação do grave prejuízo é condição do prosseguimento da ação e a sua prova é condição da
procedência da ação. O A.610º está talhado apenas para os casos em que o autor apresenta na PI a
prestação como vencida, mas o réu vem a demonstrar, na pendência do processo, que na verdade se trata
de uma prestação vincenda → Críticas: sugere implicitamente que o autor pode manipular o A.557º2, na
medida em que pode dizer que a prestação está vencida sabendo que é vincenda;

2. Doutrina Maioritária → Defende que o efeito restritivo do A.557º2 respeita aos casos em que a prestação
nem sequer está constituída (muito menos vencida - ex: obrigações sujeitas a condições ainda não
verificadas, ou obrigação do fiador antes do incumprimento do devedor-garantido), e só deverá
prosseguir se o autor tiver alegado na PI o grave prejuízo previsto na parte final do A.557º, e a ação só
deve proceder se este grave prejuízo tiver sido provado pelo autor (ex: prestação sujeita a condição
suspensiva ainda não verificada ou pedido de condenação do fiador ou avalista apesar do devedor
principal ainda não ter incumprido). Nos casos em que a prestação já está constituída, mas ainda não se
encontra vencida, então aplica-se o A.610º (podendo o autor colocá-la sempre como objeto do pedido -
não havendo qualquer restrição).

➔ A.610º → Tem de ser interpretado com algum cuidado: A ação pode ser proposta sem que a prestação se encontre
vencida, não impedindo que se conheça da sua existência, desde que o réu a conteste (nº1) - se o réu contesta a
existência da obrigação, passa a ser uma discussão no processo, pelo que o juiz tem de decidir pela existência ou
não. Se o réu não contestar a existência da obrigação (ou não contesta de todo, ou contesta algo diverso da sua
existência [ex: se está vencida ou não]), então o réu é condenado a satisfazer a prestação futura, embora seja o
autor condenado nas custas e a satisfazer os honorários do advogado do réu (nº3).

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INEPTIDÃO DA PETIÇÃO INICIAL
● A petição inepta determina a nulidade de todo o processo (A.186º1);
● A ineptidão da PI é de conhecimento oficioso (A.196º) e constitui uma exceção dilatório (A.577º/b), que determina
a absolvição do réu da instância (A.278º1/b);
● As partes só podem arguir esta nulidade até à contestação ou na própria contestação (A.198º1).
● A ineptidão dá-se por:
1) Falta ou ininteligibilidade do pedido ou da causa de pedir;
2) Contradição entre o pedido e a causa de pedir;
3) Cumulação de pedidos ou causas de pedir substancialmente incompatíveis.

2) CAUSA DE PEDIR
● Não basta formular o pedido, o autor tem ainda de o fundamentar fáctica e juridicamente (A.552º1/d);
● A causa de pedir é constituída pelos factos necessários para individualizar a situação jurídica alegada pelo autor, ou
seja, é composta pelos factos constitutivos da situação jurídica por ele invocada (A.581º4);
● Situações jurídicas individualizadas por diferentes causas de pedir são sempre situações distintas:
1. Nas ações constitutivas, a causa de pedir é o facto que gera o direito potestativo que o autor invoca e
pretende exercer (A.581º4 CPC);
2. Nas ações reais, a causa de pedir é o facto que origina o direito real (A.581º4). Assim, nas ações de
reivindicação, a causa de pedir é o facto de que resulta a aquisição da propriedade;
3. Nas ações de simples apreciação, em que o autor afirma a existência de um direito seu, cabe a este a
prova dos factos constitutivos do seu direito (A.343º1 CC), bem como a sua alegação (A.584º2) pelo que,
sem prejuízo da dedução, sempre que possível, de reconvenção (mediante a formulação do pedido de
condenação do autor ou até de pedido de natureza constitutiva), a ação de simples apreciação mantém-se,
até à contestação, aberta a todos os eventuais factos constitutivos do direito do réu. Assim, ao autor só é
exigível, ao propor a ação, que alegue os factos que são do seu conhecimento;

● A procedência da ação depende da verificação dos factos alegados por uma parte e da não verificação dos factos
excecionados pela contraparte. Isto mostra que existe uma repartição do ónus de alegação entre o autor e o réu: ao
autor compete alegar os factos constitutivos da situação jurídica (A.552º1/d) e A.186º2/a) e ao réu cabe invocar os
factos impeditivos, modificativos e extintivos daquela situação (A.572º2 2ª parte);
● Pode assim concluir-se que nem todos os factos dos quais depende a procedência da ação integram a causa de
pedir: desta só participam os factos constitutivos da situação subjetiva invocada pela parte (factos essenciais);
● Sempre que há incumprimento do contrato, tem de se distinguir consoante aquilo que se está a pedir:
1) Se se pedir o cumprimento → A causa de pedir é a celebração do contrato, porque o direito de crédito
surge com a celebração do contrato (LF - como facto complementar poderemos ter o incumprimento);
2) Se se pedir a indemnização pelos danos resultantes do incumprimento do contrato → A causa de pedir é
o facto danoso. Tem sempre de se referir a celebração do contrato, uma vez que o dano resulta do
incumprimento do contrato, mas não será essa a causa de pedir (LF - poderá ser um facto complementar)

QUE FACTOS INTEGRAM A CAUSA DE PEDIR?


1. Teoria da Substanciação (LF) → A causa de pedir é constituída por todos os factos necessários para obter a
procedência da ação: factos essenciais + factos complementares que visam a procedência da ação;

2. Teoria da Individualização Aperfeiçoada (MTS) → A causa de pedir é constituída apenas pelos factos necessários
à individualização do pedido do autor. Os factos complementares não integram a causa de pedir e a falta de um
facto complementar não gera ineptidão da petição inicial, apenas exige convite ao aperfeiçoamento (A.590º).

➔ Em relação aos factos complementares: constituem factos relevantes para a procedência da causa e, apesar de não
constarem da PI, a falta dos mesmos pode tornar a existência dos factos insuficiente para a procedência da causa;
➔ O autor terá a obrigação de conhecer todos os factos integrantes da causa de pedir? MTS entende que existem
factos que ele deve conhecer (factos relativos a ele próprio), contudo, existem alguns factos absolutamente
determinantes que o autor não terá de conhecer (factos relativos ao réu). A Lei constrói um meio de suprir este
desconhecimento através do A.7º2, onde se exige esclarecimento das partes perante o tribunal.

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FALTA DA CAUSA DE PEDIR
● Quando falte causa de pedir ou esta seja ininteligível, dá-se ineptidão da petição inicial (A.186º2/a). A ineptidão da
petição inicial dá origem à nulidade do processo, uma vez que não pode haver processo sem objeto;
● Esta nulidade constitui uma exceção dilatória nominada (A.577º/b), que em regra origina a absolvição do réu da
instância (A.278º1/b);
● Não obstante, e quando o processo o admita, é possível sanar esta nulidade resultante da ininteligibilidade da causa
de pedir através da ampliação da matéria de facto na réplica (A.265º);
● Não se verifica qualquer falta de causa de pedir quando na PI for indicado o facto concreto em que o autor
fundamenta o seu pedido, apesar de ele ser insuficiente para preencher a previsão de qualquer norma jurídica: nesta
hipótese, deve ser concedida à parte a faculdade de aperfeiçoar o seu articulado, através da alegação dos respetivos
factos (A.590º2/b e A.591º1/c).

3) RELAÇÕES ENTRE OBJETOS PROCESSUAIS

RELAÇÃO DE IDENTIDADE
1. IDENTIDADE TOTAL
● A identidade total entre dois ou mais objetos processuais verifica-se quando eles coincidem completamente no
pedido formulado e na causa de pedir alegada;
● Se for acrescida da identidade de partes, observa-se a exceção de litispendência, se as ações estiverem pendentes
simultaneamente (A.580º1 e A.581º1), ou de caso julgado, se essa pendência se verificar em momento distinto
(A.580º1 e A.581º1) → Ambas são exceções dilatórias (A.577º/i) que geram a absolvição da instância (A.278º1/e).

2. IDENTIDADE PARCIAL: CONSUNÇÃO


● A identidade parcial entre objetos processuais pode originar relações de consunção ou de prejudicialidade;
● Existe uma relação de consunção quando o objeto de uma ação posterior se inclui no objeto de uma ação anterior;
● Ex. Suponha-se que enquanto está pendente uma ação de reivindicação (no qual se pede o reconhecimento do
direito de propriedade e a restituição da coisa - A.1311º1 CC), o autor propõe, contra o mesmo réu, uma ação de
apreciação da propriedade do imóvel reivindicado. A ação de reivindicação consome a ação de apreciação;
● A relação de consunção justifica a arguição da exceção de litispendência ou de caso julgado (A.580º1 e A.581º1).

3. IDENTIDADE PARCIAL: PREJUDICIALIDADE


● Verifica-se uma situação de prejudicialidade quando o julgamento de um objeto processual depende da apreciação
de um outro objeto. Assim, por exemplo, se estando pendente uma ação de apreciação da propriedade de um
imóvel, o mesmo autor instaurar contra o mesmo réu uma ação de reivindicação do mesmo imóvel (porque,
entretanto, o réu o ocupou), aquela ação de mera apreciação é prejudicial perante esta ação de reivindicação;
● A prejudicialidade pode ser:
1) Homogénea → Quando se verifica apenas entre objetos do âmbito do direito substantivo (ex: a ação de
condenação na restituição do capital mutuado é prejudicial relativamente à ação de condenação no
pagamento de juros), ou quanto a uma questão processual (ex: discutindo-se num processo a nulidade da
citação por demência do citado, é prejudicial relativamente a ela a decisão que vier a ser proferida na
ação de interdição por anomalia psíquica);
2) Heterogénea → Quando se constitui entre um objeto do domínio do processo civil e um outro de âmbito
diverso (ex. de processo penal ou administrativo) - A.92º. Ex: estando pendente no tribunal criminal um
processo relativo à falsificação de um documento, é instaurada uma ação civil na qual se pede, com base
nesse documento, a declaração de um direito de propriedade sobre um imóvel.

● Esta relação de prejudicialidade pressupõe que as partes de ambas as ações (prejudicial e dependente) sejam as
mesmas ou que, pelo menos, a eficácia da decisão proferida na causa prejudicial seja extensível às partes da causa
pendente. É, aliás, indiferente que a causa prejudicial tenha sido instaurada antes ou depois da ação dependente,
exceto se entre as ações se verificar uma situação de litispendência;
● Efeitos → O tribunal no qual foi instaurada a ação dependente pode ordenar a suspensão da instância, aguardando
a decisão da ação relativa ao objeto prejudicial (A.269º/c). Justifica-se essencialmente pela necessidade de evitar
decisões contraditórias e pela economia processual decorrente de uma única apreciação da mesma questão;
➔ A suspensão mantém-se até ao julgamento definitivo da causa prejudicial (A.276º1/c);

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➔ A suspensão não deve ser ordenada se houver fundadas razões para suspeitar que a causa prejudicial foi
proposta unicamente para se obter aquele efeito ou se a causa dependente estiver tão adiantada que os
prejuízos resultantes da suspensão superem as suas vantagens (A.272º2);
➔ Este é um poder funcional do juiz (poder-dever), porque o A.272º2 enuncia taxativamente as condições
em que a suspensão não deve ser ordenada, não deixando qualquer abertura para o uso pelo tribunal de
critérios de conveniência ou de oportunidade;
➔ A suspensão termina:
1. Com o julgamento definitivo da causa prejudicial (A.276º1/c);
2. Se a ação penal ou administrativa não for exercida dentro de um mês após o seu decretamento;
3. Se o respetivo processo estiver parado, por negligência das partes, durante o mesmo prazo
(A.92º2 1.ª parte). Levantada a suspensão por este último motivo, o juiz da ação decide a
própria questão prejudicial, embora a sua decisão não produza efeitos fora do respetivo
processo (A.92º2 2.ª parte).

RELAÇÕES DE CONCURSO
● Verifica-se uma relação de concurso entre objetos processuais quando todos eles se referem a um mesmo efeito
jurídico. Assim, por exemplo, são concorrentes dois direitos potestativos que permitem a anulação de um mesmo
ato jurídico ou duas pretensões que se referem à mesma prestação;
● O concurso de objetos processuais pode verificar-se quanto a qualquer efeito jurídico. Por exemplo: a propriedade
sobre um imóvel pode fundamentar-se simultaneamente num contrato de doação e numa aquisição mortis causa;
● Modalidades:
1) CONCURSO STRICTO SENSU → O autor invoca duas situações jurídicas referidas a um mesmo efeito
jurídico, sendo o resultado pretendido obtido desde que a ação proceda quanto a um deles. Por exemplo:
se o autor alega, como fundamento do pedido de divórcio, a violação dos deveres conjugais (A.1779º1
CC) e a separação de facto durante mais de três anos consecutivos (A.1781º/a CC), o divórcio é
decretado se for procedente qualquer um destes fundamentos. Nesta situação, o concurso de objetos
processuais traduz-se numa relação de alternatividade entre esses objetos;
2) CONCURSO DE TÍTULOS DE AQUISIÇÃO → Por exemplo, o credor, que é igualmente o sacador de
uma letra de câmbio, invoca simultaneamente o contrato de mútuo e a relação cambiária como
fundamento do pedido de pagamento da quantia em dívida. As pretensões emergentes do contrato de
mútuo e da relação cambiária (que são concorrentes, porque se referem a uma mesma prestação) não são
autónomas entre si e, por isso, não podem ser consideradas alternativas. Neste caso ambas as pretensões
são declaradas improcedentes.

RELAÇÕES DE CUMULAÇÃO
● Verifica-se quando, num mesmo processo, são apresentados vários objetos processuais referidos a distintos efeitos
jurídicos. É a diferenciação entre estes efeitos que permite distinguir as hipóteses de cumulação objetiva das
situações de concurso de objetos processuais.

1) CUMULAÇÃO SIMPLES (A.555ºCPC)


● O autor requer a procedência simultânea de todos os pedidos e a produção de todos os seus efeitos;
● Ex: A instaura uma ação contra B pedindo a entrega de uma máquina e o pagamento de uma indemnização pela
mora na sua prestação. Se a ação for julgada totalmente procedente, o réu deve realizar ambas as prestações;
● Os efeitos respeitantes a cada um dos pedidos devem ser diferentes não só juridicamente, mas também
economicamente. Tal é demonstrado pelo A.297º2, ao estabelecer que, cumulando-se na mesma ação vários
pedidos, o seu valor é a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles, o que pressupõe que cada um dos
pedidos representa uma diferente utilidade económica.
● Pressupostos Processuais: (A.555º e A.37º)
1. Compatibilidade Processual → A cumulação só é admissível se o tribunal for absolutamente competente
para todos os objetos apresentados (A.555º1 in fine e A.37º1), isto é, se ele for material, hierárquica e
internacionalmente competente para apreciar todos os objetos. A cumulação simples também exige que a
forma do processo seja compatível para todos os pedidos cumulados (A.555º1 in fine e A.37º1). A
cumulação não é admissível se aos vários objetos corresponderem processos especiais distintos, exceto
se a tramitação dos processos não for manifestamente incompatível e o juiz autorizar a cumulação

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(A.37º2). A incompatibilidade processual entre os objetos cumulados resulta da incompetência absoluta
do tribunal ou da inadequação das formas do processo para algum ou alguns dos pedidos cumulados.
➢ A incompetência absoluta determina, se houver despacho liminar (A.226º4), o indeferimento
parcial da PI quanto ao objeto ou objetos para os quais o tribunal não é absolutamente
competente (A.590º1) ou, no momento do despacho saneador, por a incompetência absoluta
ser uma exceção dilatória (A.577º/a), a absolvição do réu da instância quanto ao objeto ou
objetos para os quais o tribunal é absolutamente incompetente (A.576º2 e A.278º1/a);
➢ A incompatibilidade entre as formas do processo para algum ou alguns dos objetos cumulados
implica, se houver despacho liminar (A.226º4), o indeferimento parcial da PI quanto ao objeto
ou objetos para os quais a forma processual indicada pelo autor não for a adequada (A.590º1)
ou, no momento do despacho saneador, por a inadequação formal ser uma exceção dilatória
inominada, a absolvição do réu da instância quanto ao pedido ou pedidos para os quais a forma
utilizada não seja a adequada (A.576º2 e A.278º1/e).

2. Compatibilidade Substantiva → Refere-se à concordância prática dos efeitos decorrentes dos objetos
cumulados (A.555º1 e A.186º2/c). A cumulação não é admissível se os efeitos resultantes de um ou
alguns dos objetos for incompatível com os efeitos provenientes de outro ou outros desses objetos.
Assim, não se pode cumular, por exemplo, o pedido de apreciação do direito de propriedade (plena)
sobre um imóvel com o pedido de reconhecimento do direito de usufruto sobre o mesmo imóvel, porque
a propriedade (plena) não é conciliável com o usufruto; também não é admissível a cumulação do pedido
de declaração de nulidade com o pedido de resolução do contrato. Se houver incompatibilidade
substantiva entre os objetos cumulados, há ineptidão da PI (A.186º2/c).

3. Conexão Objetiva – O A.555º1 não define, além da compatibilidade processual e substantiva entre os
objetos cumulados, qualquer outro pressuposto da cumulação simples. Não é exigida, nomeadamente,
qualquer conexão entre esses objetos. Porém, se esta conexão não é requerida, isso não significa que ela
não seja desejável (MTS). A apreciação de pedidos completamente distintos e autónomos implica uma
maior complexidade da instrução, discussão e julgamento da causa. Justifica-se, assim, a aplicação
analógica do A.37º4 aos casos em que os objetos cumulados não apresentam entre si qualquer conexão.

2) CUMULAÇÃO ALTERNATIVA (A.553ºCPC)


● Esta alternatividade é, nomeadamente, correspondente às obrigações alternativas ou às obrigações com faculdade
alternativa: a relação entre os dois pedidos assegura a alternatividade do pedido;
● A parte requer a procedência de todos os objetos cumulados, mas pretende obter apenas, segundo a escolha do réu,
a produção dos efeitos de um desses objetos;
● Para efeitos de determinação do valor da causa, atenta-se ao disposto no A.297º3 CPC, que estabelece que releva
apenas o valor do pedido de maior valor;
● Na cumulação alternativa, a parte requer a procedência de todos os objetos alegados, não se confundindo por isso
com a situação em que a parte formula vários pedidos, sabendo de antemão que um ou várias não poderão
proceder, mas deixando ao tribunal a opção pela procedência de um ou alguns deles. Esta situação é, aliás,
inadmissível e conduz à ineptidão da PI por indeterminação do pedido (A.186º2/a CPC);
● Pressupostos Processuais:
1. Alternatividade Substantiva → A cumulação alternativa exige que os pedidos formulados possam ser
apresentados em alternativa (obrigações alternativas - A.543ºCC) ou que se possam resolver em
alternativa (obrigações com faculdade alternativa passiva - prestação que o devedor tem a faculdade de
substituir por uma outra). A falta desta alternatividade significa que, sob o ponto de vista substantivo, os
objetos não podem ser apresentados numa relação de alternatividade. Por isso, a essa falta deve ser
aplicada, por analogia, a consequência da contradição substantiva na cumulação simples, que é a
ineptidão da PI (A.186º2/c);

2. Compatibilidade Processual → São analogicamente aplicáveis à cumulação alternativa os pressupostos


exigidos pelo A.37º2 para a cumulação simples. A falta de compatibilidade processual entre os pedidos
alternativos produz as mesmas consequências que se verificam em idêntica situação na cumulação
simples. Não se exige uma conexão objetiva: a própria relação de alternatividade substantiva dispensa a
necessidade de qualquer outra conexão entre esses objetos.

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3) CUMULAÇÃO SUBSIDIÁRIA (A.554ºCPC).
● O autor formula um pedido principal e, para o caso de improcedência desse pedido principal, apresenta um pedido
subsidiário. Para efeitos de valor da causa, atenta-se ao disposto no A.297º3 CPC;
● Na cumulação subsidiária, a apreciação de um ou vários pedidos subsidiários é condicionada pela decisão de
improcedência sobre o objeto principal. Porém, a cumulação subsidiária não é uma cumulação condicional, isto é,
não se verifica apenas quando, atendendo à improcedência do pedido principal, houver que apreciar o objeto
subsidiário. Todos os pedidos (mesmo aqueles que são formulados subsidiariamente) estão pendentes desde o
começo da instância, pelo que aquela cumulação se verifica igualmente desde este momento - mesmo que pela
procedência do objeto principal o objeto subsidiário nunca venha a ser apreciado, verifica-se a pendência deste
último desde o início da ação;
● Isto pode ter relevância, por exemplo, para o funcionamento da exceção de litispendência (A.580º e A.581º1): esta
exceção opera se, durante a pendência da ação em que se formula o objeto subsidiário, este mesmo for apresentado
numa outra ação. O termo da pendência do objeto subsidiário verifica-se com o trânsito em julgado da decisão
sobre o objeto principal, parecendo que, por analogia com o disposto no A.276ºCC quanto à retroatividade da
condição, ele deve ser reportado ao momento da propositura da ação;
● Quanto ao prazo de prescrição a que eventualmente esteja submetido o direito alegado como objeto subsidiário,
pode questionar-se se a sua interrupção (que decorreu da citação do réu para a ação – A.323º1 CC) é atingida pelo
termo retroativo da pendência daquele objeto: segundo parece, sempre que a subsistência do objeto subsidiário não
seja prejudicada pela procedência do objeto principal, deve aplicar-se analogicamente a essa situação o disposto no
A.327º2 CC, com as seguintes consequências: durante a pendência da causa mantém-se a interrupção da
prescrição, decorrente da citação do réu, do direito alegado a título subsidiário, mas, após a decisão de procedência
proferida quanto ao objeto principal, começa por correr um novo prazo prescricional para esse direito a contar do
ato interruptivo, ou seja, a partir daquela citação;

● Pressupostos Processuais:
➢ A pendência do objeto subsidiário desde o início da instância justifica que os pressupostos processuais
relativos a esse objeto devam ser apreciados nos momentos normais – que são o despacho liminar e o
despacho saneador – portanto, mesmo antes de se conhecer qual a decisão sobre o objeto principal.

1) Compatibilidade Processual → Exige-se a compatibilidade processual entre os objetos cumulados


(A.554º2), a qual respeita, como resulta da remissão para o A.37º1, à competência absoluta do tribunal e
à compatibilidade entre as formas do processo para os objetos cumulados. A cumulação subsidiária não é
admissível se faltar a compatibilidade processual entre os pedidos cumulados, isto é, verificando-se a
incompetência absoluta do tribunal ou a incompatibilidade entre as formas do processo para algum ou
alguns dos objetos cumulados. Esta falta de compatibilidade processual produz as mesmas
consequências que se verificam em idêntica situação na cumulação simples;
2) Conexão Objetiva → Aparentemente, entre o objeto principal e o objeto subsidiário pode não existir
qualquer conexão, porque uma tal relação entre esses pedidos não se encontra prevista no A.554º2.
Porém, não pode ser assim (MTS): o A.297º3 estabelece que o valor da ação em que é formulada uma
cumulação subsidiária é apenas o correspondente ao objeto principal, pelo que não se justifica que, numa
ação cujo valor seja determinado pelo objeto principal, se possa apreciar um objeto subsidiário
totalmente diferente e autónomo daquele outro objeto. É o que pode acontecer se, por exemplo, o autor
pedir a condenação do réu no pagamento de um mútuo ou, subsidiariamente, o reconhecimento da
propriedade sobre um imóvel. Ainda que a exigência de uma conexão entre o objeto principal e o
subsidiário pareça razoável, é verdade que ela não é incluída entre os pressupostos referidos no A.554º2.
Ainda assim, também para a cumulação subsidiária se justifica a aplicação analógica do disposto no
A.37º4. Sem excluir outras situações possíveis, a conexão entre o objeto principal e o objeto subsidiário
está assegurada se entre eles se verificar alguma das situações previstas no A.36º. Por exemplo: o autor
requer, com base numa mesma causa de pedir (que é um contrato de compra e venda), o reconhecimento
do seu direito de propriedade sobre um imóvel ou, subsidiariamente, a sua declaração como usufrutuário
do mesmo prédio. Não se exige uma compatibilidade substantiva, pois os objetos podem ser
contraditórios entre si (A.554º2).

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CUMULAÇÃO SUCESSIVA PASSIVA
(RECONVENÇÃO OU DEFESA POR EXCEÇÃO)
● Cumulação de objetos processuais que ocorre depois da propositura da ação (sucessiva), cujo impulso parte do réu
(passiva) - Quando o réu se defende por exceção ou por reconvenção;
● No casos em que o réu deduz exceções (alegação de factos novos que paralisam o efeito que o autor pretende
retirar da ação - e por isso exige contraditório), o juiz não tem de averiguar os pressupostos processuais;
● Pode-se bloquear a decisão de mérito sobre a questão deduzida pelo réu, mas não se pode impedir o réu de deduzir
matéria de exceção na contestação (se o réu não deduzir, na contestação, matéria que nela devia ter sido deduzida,
essa matéria preclude) - princípio da proibição da indefesa;

DEFESA POR EXCEÇÃO PERENTÓRIA


● Consiste na invocação, pelo réu, de um facto que obsta à produção dos efeitos decorrentes do objeto definido pelo
autor e determina a absolvição, total ou parcial, do pedido (A.576º3);
● A dedução desta exceção implica uma cumulação objetiva sucessiva, dado que o réu delimita um objeto distinto
daquele que é alegado pelo autor e cuja procedência impede a produção dos efeitos pretendidos por esta parte;
● Ex: autor instaura uma ação de condenação no cumprimento de uma prestação pecuniária e o réu opõe, como
exceção perentória, já ter pago essa quantia pecuniária
● Princípio da Preclusão da Defesa → Réu tem o ónus de alegar toda a defesa na contestação, sob pena de preclusão.

DIFERENÇAS DA DEFESA POR IMPUGNAÇÃO


● Na defesa por impugnação, o réu contradiz os factos articulados pelo autor ou nega que deles possa decorrer o
efeito jurídico pretendido (A.571º2);
● Difere da defesa por exceção perentória, pela qual o réu não impugna os factos alegados pelo autor nem a sua
adequação aos efeitos pretendidos por esta parte, antes invoca outros factos que constituem causa impeditiva,
modificativa ou extintiva do direito invocado pelo autor (A.571º2 in fine);
● A exceção perentória é incompatível com a defesa por impugnação, pelo que, quando são cumuladas como formas
de defesa do réu, uma tem de ser subsidiária da outra. Se, por exemplo, o réu nega que tenha celebrado qualquer
contrato com o autor, só a título subsidiário pode alegar o cumprimento da obrigação decorrente desse contrato;
● Ou seja, na defesa por exceção invocam-se factos novos e na defesa por impugnação invoca-se um novo
enquadramento jurídico. Não havendo factos novos, o autor não tem direito de resposta (A.3º4).

CARACTERÍSTICAS
1) Materialidade → As exceções perentórias são exceções materiais (A.576º3), distinguindo-se assim das exceções
dilatórias, que são exceções processuais (A.576º2). Assim, as exceções perentórias derivam de normas substantivas
que definem efeitos contrários àqueles que decorrem das normas que fundamentam os efeitos pedidos pelo autor;
2) Alegação → O réu, quando alega uma exceção perentória, invoca um objeto distinto daquele que é apresentado
pela parte ativa e requer a sua procedência contra esta parte, comportando-se, desse modo, como um autor. Por
pressupor a invocação de certos factos e fundamentar um pedido de absolvição do pedido, a exceção perentória
está subordinada, tal como sucede quanto ao objeto definido pelo autor, ao princípio da disponibilidade das partes
(A.5º1). Assim, mesmo que os factos suscetíveis de constituir uma exceção perentória constem do articulado
apresentado pelo autor, o tribunal não pode extrair deles qualquer consequência se o réu não requerer, com base
nesses mesmos factos, a absolvição do pedido → Salvo a possibilidade de conhecimento oficioso (A.579º).

MODALIDADES
1) Extintivas → Aquelas que destroem as consequências jurídicas que decorrem do preenchimento da previsão legal
(ex: condição resolutiva, caducidade, direito de rescisão do contrato e todas as causas de extinção das obrigações);
2) Impeditivas → Aquelas que obstam ao preenchimento de uma previsão legal e que, por isso, impedem uma certa
consequência jurídica. Isto é, apesar de se verificarem todos os factos necessários para realizar uma determinada
previsão legal, existem certos factos que obstam a essa realização (ex: causas de nulidade do NJ, erro na
declaração, erro sobre a pessoa ou o objeto, dolo, causas de exclusão da culpa e da ilicitude…);
3) Modificativas → Os factos que integram as exceções modificativas não implicam a extinção do direito, mas impõe
condições para o seu exercício. Podem ser:
1. Definitivas → Excluem o exercício do direito para sempre (prescrição);
2. Temporárias → Invocação de que o direito do autor ainda não se constituiu: condição suspensiva
(A.270ºCC), exceção de não cumprimento (A.428ºCC), direito de retenção (A.754ºCC).

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EFEITOS PROCESSUAIS
1) Extensão da Competência → O A.91º1 estabelece a extensão da competência do tribunal da ação para apreciar
qualquer exceção invocada pelo réu. Assim, o tribunal comum que é competente para conhecer da questão
colocada pelo autor também é competente para conhecer de uma exceção deduzida pelo réu, ainda que, por
exemplo, para esta, considerada isoladamente, fosse competente o foro administrativo;
2) Contraditório → A alegação de uma exceção perentória permite que o autor tenha direito de resposta nos termos
do A.3º4 (a réplica não serve para responder às exceções, mas sim e tão só, para responder à reconvenção 1).

PRINCÍPIO DA CONCENTRAÇÃO DA DEFESA


● O réu deve concentrar toda a sua defesa na contestação, excepto os incidentes que a lei mande deduzir em separado
(A.573º) → Trata-se do princípio da concentração ou da preclusão;
● Os factos que não forem alegados dentro do prazo para apresentação da defesa já não o poderão ser. Fica
precludida a sua invocação para além desse prazo;
● Se tais factos vierem a ser considerados na fundamentação da sentença, constituiria um vício da sentença que
conduziria à sua nulidade por excesso de pronúncia (A.615º/d);
● O réu não pode limitar-se a arguir, por exemplo, a incompetência do tribunal ou a falta de um qualquer
pressuposto, mas deve impugnar também os factos alegados pelo autor, se for caso disso, para evitar o risco da
preclusão desse modo de defesa - deve alegar todos os outros meios de defesa ao seu alcance - especificando
separadamente na contestação todas as excepções que deduza;
● O autor só pode responder à matéria da exceção, e não à matéria de impugnação (A.584º). A falta de resposta à
matéria de exceção determina a admissão por acordo dos (novos) factos não-impugnados, desde que admitam
confissão (A.587º1 → A.574º2);
● Desvios ao princípio da concentração:
➢ Defesa em Separado → A própria lei exclui, no A.573º1, os incidentes que devem ser deduzidos em
separado, ou seja, fora da contestação (ex: dedução da suspeição do juíz - A.121º e A.122º);
➢ Defesa Diferida → À luz do A.573º2, o réu pode deduzir meios de defesa, exceções e incidentes depois
da contestação, quando se reportem a factos supervenientes ou quando a lei o admita expressamente:
➔ Factos Supervenientes são factos ocorridos posteriormente ao termo do prazo fixado para a
contestação, bem como os factos que se verificam anteriormente mas de que o réu só tomou
conhecimento depois de expirado aquele prazo (A.588º2);
➔ A lei admite que a defesa seja deduzida depois da contestação nos termos dos A.97º2, A.104º4,
A.116º1 e A.198º2.

PEDIDO RECONVENCIONAL
● A reconvenção, ao contrário da defesa por exceção, constitui uma dedução de um pedido autónomo pelo réu contra
o autor → Autónomo porque o réu pede alguma coisa que não se reconduz ao pedido de absolvição da instância ou
do pedido (há um pedido contraposto pelo réu, constituindo-se uma espécie de nova instância: a 1ª decide o pedido
deduzido pelo autor e a 2ª decide o(s) pedido(s) deduzido(s) pelo réu). Aumenta a dificuldade do processo;
● A reconvenção está sujeita a pressupostos de admissibilidade, pelo que nem sempre o réu pode deduzir um pedido
contra o autor. Mas então e a preclusão? Tipicamente entende-se que a reconvenção não é obrigatória, pelo que o
réu não tem o ónus de a deduzir: ou seja, não se aplica à reconvenção o regime do A.573ºCPC (relativo à defesa
por impugnação e por exceção) - A existência de pressupostos de admissibilidade não colide com a proibição de
indefesa porque, como o réu não tem o ónus de reconvir, pode deduzir o pedido numa nova ação;
● Quando se deduz a reconvenção? - A.583º1 remete para os requisitos, relativos ao objeto, que se impõe ao autor
quando apresenta a PI. O Réu pode, em reconvenção, deduzir pedidos contra o autor (A.266º - derrogação do
princípio da estabilidade da instância disposto no A.260º);
● Réu cumula um objeto àquele que o autor tinha configurado. Mas nas relações de cumulação há o pressuposto de
admissibilidade da competência do tribunal → Será o tribunal competente para a ação, também competente para
conhecer da reconvenção? A.93º - O tribunal competente para a ação principal é competente para a reconvenção, se
também for competente em razão de nacionalidade, matéria e hierarquia (absolutamente competente). Se não for, é
o reconvindo absolvido da instância;

1
No entanto, se o réu por acaso utilizar a réplica para alguma das situações previstas na Lei, pode aproveitar e responder lá
às exceções perentórias (economia proc.). Nada impede que o autor oponha uma contraexceção à exceção invocada pelo réu.

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● Por ser um pedido autónomo (réu tem o ónus de deduzir reconvenção, e não o dever), cria-se uma nova instância:
os pressupostos relativos ao autor vão ter de se verificar quanto ao reconvinte, e os do réu quanto ao reconvindo;
● Temos de aferir os pressupostos processuais quanto à ação principal, e quanto à instância reconvencional;
● Modificação da instância por reconvenção (A.266º) → Estabelece pressupostos de admissibilidade da reconvenção:
➢ Dá corpo ao A.20º4 CRP (prazo razoável da decisão), limitando a complexização do processo;
➢ Tem de haver conexão entre os objetos:
1. Quando o pedido do réu emerge de facto jurídico que serve de fundamento à ação ou à defesa
(ou se baseia na mesma causa de pedir do autor, ou já seria levantado pelo réu na contestação,
pelo princípio da concentração da defesa na contestação);
2. Quando o réu se propõe tornar efetivo o direito a benfeitorias e despesas relativas à coisa cuja
entrega lhe é pedida (a jurisprudência não conhecerá do pedido na ação executiva, pelo que o
direito do réu precludirá. Este é um caso em que os tribunais obrigam à reconvenção, passando
a ser um dever e não um ónus);
3. Quando o réu pretende o reconhecimento de um crédito para compensar com o do autor, ou
para obter o pagamento do valor excedente face ao crédito invocado pelo autor;
4. Quando o réu pretende obter o mesmo efeito jurídico que o autor pretende obter.

➢ O Nº4 consagra que não impede a modificação da instância o facto de, além de haver uma modificação
do objeto processual, também haver uma modificação subjetiva do processo (sujeitos);
➢ O Nº5 refere que o caso de litisconsórcio necessário nunca impede a reconvenção, mas que no caso de
litisconsórcio voluntário o juiz deve permitir, salvo se houver “inconveniente grave” no processo -
Imposição do princípio da decisão célere (A.20º4 CRP);
➢ Tem-se admitido que a reconvenção é um dever sempre que o seu conteúdo esvazie a pretensão do autor
● Ex: é discutida a propriedade de x, em que o autor pede a condenação do réu na entrega de x,
invocando uma causa de aquisição derivada. Numa segunda ação, o antigo réu (e agora autor)
pede a condenação do réu na entrega de x, invocando que a adquiriu por usucapião;
● Faz sentido admitir uma segunda ação que esvazia o efeito útil da primeira? PCS defende que
há um ónus de reconvir e que, pelo princípio da boa-fé processual, não se deverá admitir a
segunda ação, na medida em que o réu tinha de ter reconvindo essa pretensão na primeira ação,
para que o autor se pudesse defender e para que a primeira ação não fosse esvaziada de efeito.

● O despacho saneador é único, aprecia tanto a ação principal como a reconvenção, verificando os pressupostos da
ação, reconvenção e de compatibilidade entre ambos. Também a sentença é única: aprecia ambas as questões;
● Por causa da sequência processual única (condensação, instrução e decisão), é necessário que as formas
processuais de ambos os pedidos sejam compatíveis e que o tribunal seja absolutamente competente para conhecer
de ambos. Se o tribunal for competente para o pedido do réu (reconvenção) e incompetente para o pedido do autor
(ação principal) pode conhecer da reconvenção porque este é um pedido autónomo do pedido instaurado pelo
autor, e baseando-se no princípio da economia processual? Se o pedido do réu não estiver dependente do pedido
formulado pelo autor, então o tribunal pode conhecer dele (A.266º6).

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CUMULAÇÃO SUCESSIVA ATIVA
● A cumulação sucessiva é aquela em que, ao objeto inicial da ação, é cumulado, por iniciativa de uma partes, um
outro objeto. Isto significa que a cumulação sucessiva inclui todas as situações em que se constitui, durante a
pendência de uma ação, uma pluralidade de objetos processuais;
● Iniciativa → O autor pode apresentar, no regime da cumulação simples, alternativa ou subsidiária, um outro objeto
e pode invocar, a par do objeto inicial, um outro objeto concorrente. Esta situação, que é a que mais se aproxima da
cumulação inicial, é a cumulação strictu sensu;
● Modalidades:
1) Cumulação por superveniência de factos: superveniência de factos suscetíveis de integrarem uma causa
de pedir, ou seja, a ocorrência de factos após o momento normal da sua invocação em juízo
(superveniência objetiva) ou o conhecimento pela parte, após esse momento, de factos já ocorridos
(superveniência subjectiva) - A.588º2;
2) Parte pretende apresentar um novo objeto baseado em factos anteriores à propositura da ação e de que
nesse momento já tinha conhecimento.

● Admissibilidade
➢ O regime da invocação de factos passados e conhecidos, que a parte poderia ter alegado e não alegou, é
mais restritivo que os factos supervenientes. Por isso, é aceitável que a cumulação sucessiva baseada em
factos supervenientes não deva ficar sujeita aos condicionalismos definidos no A.265º, para a alteração
do pedido e causa de pedir;
➢ Por isto, a cumulação de um novo objeto baseado em factos supervenientes é sempre admissível até ao
encerramento da fase da discussão e julgamento (A.588º1);
➢ Se os factos não forem supervenientes, a cumulação sucessiva só é admissível nas condições referidas
nos A.264º e A.265º, analogicamente;
➢ Se houver acordo das partes, a cumulação sucessiva é admissível em qualquer momento, salvo se entre o
objeto inicial e o objeto cumulado não houver qualquer conexão e essa falta perturbar
inconvenientemente a instrução, discussão e o julgamento da ação;
➢ Se não houver acordo entre as partes, a cumulação de uma nova causa de pedir só é admissível dentro
dos condicionalismos referidos no A.265º1 do CPC;
➢ A cumulação é admissível na réplica, mas para que o autor possa apresentar este articulado, é necessário
que o réu tenha invocado uma exceção ou deduzido um pedido reconvencional na contestação, pelo que
o objeto cumulado tem de apresentar uma certa conexão com essa exceção ou reconvenção.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 13


COLIGAÇÃO
● A coligação verifica-se nas situações em que há uma pluralidade de partes, uma cumulação de pedidos (como
sucede no litisconsórcio), mas com a particularidade de que os pedidos que são cumulados são formulados
individualmente por cada autor (no caso de pluralidade de autores) ou contra cada réu individualmente (no caso de
pluralidade de réus). Ou seja, na coligação não só existe pluralidade de partes, como também existe pluralidade de
relações materiais controvertidas;
● Por exemplo, A pede a condenação de B no pagamento de 5.000€ e a condenação de C no pagamento também de
5.000€ - estamos aqui perante uma coligação ou litisconsórcio? Se a origem da obrigação de pagamento for
diferente para B e para C, estaremos perante uma situação de coligação, se a origem da obrigação de pagamento for
a mesma para ambos os pedidos, muito possivelmente já estaremos perante uma situação de litisconsórcio;
● A coligação contém um cumulação de partes principais e uma cumulação objetiva, mas esta última tem de ser
repartida por cada uma das partes ativas ou passivas, isto é, tem de haver uma distribuição de vários pedidos por
cada um dos autores ou réus;

● Pressupostos Processuais:
1. Compatibilidade Processual → Refere-se à competência absoluta do tribunal e à identidade de formas de
processo para todos os pedidos cumulados (A.37º1). Quanto à competência internacional, há que
considerar que, dentro do âmbito de aplicação do Reg. 1215/2012, ela pode ser aferida segundo o A.8º1:
o requerido com domicílio num dos EM pode ser demandado, se houver vários requeridos, perante o
tribunal do domicílio de qualquer deles. A coligação também exige que a forma do processo seja idêntica
para todos os pedidos cumulados (A.37º1). Deste modo, a coligação não é admissível se a um ou alguns
dos pedidos corresponder processo comum e a outro(s) corresponder a forma de processo especial ou se
aos pedidos cumulados corresponderem diferentes processos especiais.

2. Compatibilidade Substantiva → Conforma-se diferentemente consoante seja simples ou alternativa:


➢ Se a coligação é simples, a compatibilidade refere-se à coadunação ou não contradição entre os
efeitos decorrentes dos vários pedidos cumulados (A.555º1 e A.186º2/c);
➢ Na hipótese da coligação alternativa, a compatibilidade substantiva traduz-se na alternatividade
entre os pedidos formulados. Também nesta coligação valem os requisitos específicos da
cumulação objetiva, neste caso alternativa (A.553º1);
➢ A falta de compatibilidade substantiva entre os pedidos cumulados pode traduzir-se, no caso da
coligação simples, numa contradição entre esses pedidos ou, na hipótese da coligação
alternativa, na inexistência entre eles de qualquer relação de alternatividade: ambos os casos
conduzem à ineptidão da PI (A.186º2/c) que determina o indeferimento liminar (A.558º1/a) ou
a absolvição do réu da instância (A.577º1/a, A.186º1 e 2 c) e A.178º1/b).

3. Conexão Objetiva → Refere-se à existência de uma relação entre os vários pedidos cumulados. São dois
pedidos diferentes e, por isso, a coligação só é possível se existir uma conexão entre os dois pedidos,
caso contrário não faria sentido juntar os dois numa única ação. Como motivos de conexão objetiva entre
os pedidos cumulados a lei estabelece os seguintes:
1) A identidade da causa de pedir dos vários pedidos (A.36º1 1ª parte);
2) A prejudicialidade de um dos pedidos cumulados em relação aos demais (A.36º1 2ª parte);
3) A apreciação, como causa de pedir dos pedidos formulados, de factos essencialmente idênticos
(A.36º2 1ª parte);
4) A aplicação das mesmas normas jurídicas na apreciação da fundamentação dos pedidos
cumulados (A.36º2 2ª parte);
5) A aplicação de cláusulas contratuais totalmente análogas na apreciação da procedência dos
pedidos cumulados (A.36º2 3ª parte)

➔ A falta de conexão objetiva do A.36º é sanável nos termos do A.38º1: o juiz convida as partes a
escolherem qual é o pedido que vai subsistir, uma vez que não podem ser os dois conhecidos
na mesma causa. Se o vício não for sanado, o réu é absolvido da instância quanto a todos os
pedidos, uma vez que consubstancia uma exceção dilatória nominada (A.577º1/f).

● A.39ºCPC permite que se instaure o mesmo pedido subsidiariamente contra diversas pessoas, no caso de dúvida
fundamentada sobre o sujeito da relação controvertida (“bomba atómica de hipereficácia do sistema").

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 14


REVELIA DO RÉU
● Existe situação de revelia quando o réu não participa no processo, isto é:
1) Quando nem sequer demonstra que tem conhecimento de que o processo existe (revelia absoluta);
2) Quando não apresenta contestação, mas dá sinal de que tem conhecimento de que o processo existe e
está a decorrer (revelia relativa);

● Esta distinção tem relevância por causa do Princípio do Contraditório, porque se o réu não dá sinal de que tem
conhecimento de que o processo existe e está a decorrer, podemos ter situações de violação deste princípio que
atingirá fatalmente aquela decisão, ainda que já tenha transitado em julgado ou que já sirva de base a processo
executivo;
● Se não sabemos se o réu tomou conhecimento da proposição da ação, teremos de tomar todas as diligências. O
tribunal terá de fazer um controlo sobre a citação do réu: se concluir que a citação foi bem feita, o processo segue;
se concluir que não foi bem feita, ordena a sua repetição (A.566º);

REVELIA OPERANTE
● Se o réu não contestar, tendo sido ou devendo considerar-se citado regularmente na sua própria pessoa ou tendo
juntado procuração de mandatário judicial no prazo da contestação, consideram-se confessados os factos
articulados pelo autor na PI (A.567º1);
● Assim, os factos constantes da PI, porque não controvertidos, já não serão objeto de prova, visto que já se
consideram provados;
● Não tendo havido contestação, não há lugar a mais articulados e, estando os factos alegados provados, não há
também lugar à fase instrutória. Posto isto, passar-se-á imediatamente à fase da discussão do aspeto jurídico da
causa, visto que a matéria de facto está decidida. É então dada às partes a oportunidade de se pronunciarem sobre a
matéria de direito: o processo é facultado para exame, pelo prazo de 10 dias, primeiro ao advogado do autor e
depois ao advogado do réu, para alegarem por escrito, e em seguida é proferida a sentença, julgando a causa
conforme for de direito (A.567º2).

REVELIA INOPERANTE
● Nem sempre se verificam os efeitos da revelia operante. Existem exceções no A.568º;
● Trata-se da revelia inoperante, ou seja, dos casos em que a falta de contestação não determina que se considerem
confessados os factos articulados pelo autor na PI;
● Nos termos do A.568º são os seguintes os casos de revelia inoperante:
1) Quando, havendo vários réus, algum deles contestar, relativamente aos factos que o contestante
impugnar;
2) Quando o réu ou algum dos réus for incapaz, situando-se a causa no âmbito da incapacidade, ou houver
sido citado editalmente e permaneça na situação de revelia absoluta;
3) Quando a vontade das partes for ineficaz para produzir o efeito jurídico que pela ação se pretende obter;
(a ação diz respeito a relações jurídicas indisponíveis. São aquelas sobre as quais não exerce influência o
princípio da autonomia privada, como nas ações de estado em que a sentença deve obter a verdade
objetiva que resulta da adoção ou do parentesco; ou nas ações de investigação de maternidade ou
paternidade, por exemplo);
4) Quando se trate de factos para cuja prova se exija documento escrito. Exigindo a lei um documento
escrito para prova de determinado facto, não pode a falta de contestação ser considerada suficiente para
que tal facto seja tido como provado (conf. A.364ºCC).

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PROVA
● Há regras sobre prova no CC e no CPC. Esta distribuição foi ponderada pelo prof. Vaz Serra nos estudos do CC,
porque se discutia, na altura, qual seria a natureza do regime probatório (processual ou substantiva). Chegou-se à
conclusão que as regras sobre os meios de prova legalmente admissíveis e as que determinam a força desses meios
de prova são regras de direito civil material, e as de requerer e produzir a prova são de direito formal-processual;
● A prova é a atividade realizada em processo tendente à formação da convicção do tribunal sobre a realidade dos
factos controvertidos (A.341ºCC), isto é, a atividade que visa formar na mente do julgador a convicção que resolve
as dúvidas sobre os factos carecidos de demonstração;
● O conceito “Prova” tem 3 acepções:
1. Meios de Prova → Meios através dos quais se fazem a prova (documentos, testemunhas, perícias);
2. Prova como Atividade → Conjunto de atos processuais que se praticam no processo tendo em vista a
demonstração das alegações de facto que constam dos articulados - ex: inquirição de uma testemunha;
3. Prova como Resultado → Formação da convicção do julgador a respeito da veracidade de uma
determinada alegação de facto: conjunto de atos ordenados para atingir um determinado fim (perspetiva
funcional do processo);
● Objeto da Prova → Da leitura do A.341ºCC seriam os factos, mas JMM defende que não podem ser os factos
porque estes não fazem parte do processo, mas sim a sua alegação (relatos);
● Provar significa produzir, através dos meios de prova, uma representação de facto que seja coincidente com aquela
que é alegada nos articulados. Se a parte conseguir esta coincidência, consegue persuadir o decisor da veracidade
dos factos por si alegados;
● O que é a “Verdade” no processo? → Direito trabalha com factos negativos (ex. Causa virtual - podemos dizer que
é verdade que se não acontecesse A, aconteceria B?) ou factos futuros (ex. Danos futuros - podemos dizer que
danos ainda não consumados são verdadeiros?). No final, o juiz tem de ser capaz de, fundando a sua decisão na
prova produzida, fundamentar a sua decisão em termos que permitam aos destinatários desta decisão ficar
convencidos de que aquela decisão foi a mais correta (a verdade material não tem relevância prática).
● CASTRO MENDES define prova como o pressuposto da decisão jurisdicional que consiste na formação da
convicção, no espírito do julgador, de que certa alegação de facto é justificavelmente aceitável como fundamento
da decisão (define, por isso, prova como resultado);
● Juiz não pode decidir sobre a verificação dos factos do processo sem fundar essa decisão na prova (não pode dizer
que o relato do autor é mais verossímil do que o do réu) - A.205º1 CRP. A sentença é uma decisão hetero
direcionada, isto é, a sentença tem destinatários: as partes e os juízes dos tribunais superiores (que em sede de
recurso têm de conseguir perceber porque é que o juiz decidiu daquela forma);
● O A.607º4 CPC prevê que, na fundamentação da sentença, o juiz deve declarar quais os factos que considera
provados, analisando criticamente as provas, indicando as ilações tiradas dos factos instrumentais e especificando
os demais fundamentos que foram decisivos para a sua convicção - Proteção dos destinatários da sentença;
● Objeto da Prova:
❖ Factos simples vs Factos Complexos (ex: velocidade de um carro vs comunhão duradoura de vida);
❖ Factos Positivos vs Factos Negativos (ação ou algo que sucedeu vs omissão ou algo que não sucedeu);
❖ Factos Presentes vs Factos Futuros (ex. Em sede de indemnização, danos futuros têm de ser provados);
❖ Não é necessário provar todo e qualquer facto, uma vez que pode haver factos que não são pertinentes
para o processo (A.596º1 CPC). Só se consideram os factos controvertidos articulados pelas partes, ou
aqueles que não estão sujeitos ao ónus de alegação: os factos complementares e concretizadores
(A.5º2/b). Factos controvertidos são os factos que, tendo sido alegados por uma das partes, foram
impugnados pela contraparte (A.574º1 e A.587º1). Assim, os factos alegados por uma das partes e não
impugnados pela outra não necessitam de ser provados.
❖ Note-se que, para que o facto seja considerado não impugnado, não é necessário qualquer assentimento
expresso da parte, basta que esta não o conteste (A.574º2 1ªparte CPC).

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ADMISSIBILIDADE E LIMITAÇÃO DOS MEIOS DE PROVA
1) PRINCÍPIO DA PROVA LIVRE:
● O A.607º5 consagra o princípio da livre convicção do julgador o determinar que o juiz aprecia livremente as provas
segundo a sua prudente convicção acerca de cada facto;
● Princípio da Prova Livre → Para formar a convicção do juiz podem as partes, em princípio, servir-se de quaisquer
meios de prova. Há, no entanto, limitações: (A.607º5)
➢ A livre apreciação não abrange os factos para cuja prova a Lei exija formalidade especial;
➢ A livre prova não abrange os factos que só possam ser provados por documento;
➢ A apreciação do juiz não pode incidir sobre factos que já estejam plenamente provados, quer por
documento, quer por acordo ou confissão das partes.

2) PRINCÍPIO DA AQUISIÇÃO PROCESSUAL


● O tribunal deve tomar em consideração todas as provas produzidas, tenham ou não emanado da parte que devia
produzi-las (A.413ºCPC). Assim, todas as provas devem ser consideradas pelo juiz, mesmo as que foram
produzidas pela parte a quem são desfavoráveis, sendo favoráveis à parte contrária;
● O importante é que os factos relevantes para a decisão estejam provados, sendo indiferente que a prova tenha
emanado da parte onerada ou da contraparte → Todas as afirmações e provas ficam "adquiridas" para o processo;
● Assim, o documento apresentado como prova de um facto já não pode ser retirado (desentranhado), senão depois
de passar em julgado a decisão que põe termo à causa (A.442º3 CPC);
● Exceções → O próprio A.413ºCPC contém um desvio a este princípio, ao ressalvar as disposições que declarem
irrelevante a alegação de um facto, quando não seja feito por certo interessado. Assim, por exemplo, a invocação
da prescrição, que necessita, para ser eficaz, de ser invocada por aquele a quem aproveita (A.303ºCC), não deve ser
conhecida pelo juiz se invocado por outrem. O mesmo se aplica à declaração de anulabilidade (A.287º1 CC);
● Este princípio visa que a decisão obtida no pleito esteja, o mais possível, em conformidade com a realidade.

VALOR GRADUAL DAS PROVAS


1) PROVA LIVRE
➢ Prova livre significa que o julgador não está subordinado a regras ou critérios formais estabelecidos na
lei, decidindo segundo a sua experiência e prudência;
➢ Assim, o juiz formará a sua convicção, com prudência, acerca de cada facto (A.607º5);
➢ Se o juiz ficar na dúvida acerca de qualquer facto, não pode abster-se de julgar, tendo de proferir decisão
contra a parte a quem cabia o ónus de provar o facto (proibição do non liquet - A.8º1CC + A.414ºCPC).

2) PROVA BASTANTE
➢ A prova bastante (ou suficiente) é a que chega para fundamentar a convicção do juiz acerca da existência
de um determinado facto, mas que cede perante contraprova;
➢ Designa-se contraprova a atividade da parte contrária capaz de lançar no espírito do julgador a dúvida
acerca do facto que seja objeto de prova, invalidando-a. Se tal for conseguido, a questão é decidida
contra a parte onerada com a prova (A.346ºCC);
➢ Assim, se cabe ao autor o ónus de provar determinado facto, deve, por qualquer meio, convencer o juiz
da existência desse facto, de modo a que fique afastada qualquer dúvida. Se, porém, o réu fizer nascer, no
espírito do julgador, dúvida acerca da existência desse facto, isso basta para “neutralizar” a prova
produzida pelo autor. → No caso de dúvida, funciona a regra do ónus da prova;
➢ A “contraprova” é diferente da “prova em contrário”, porque a primeira não tem como fim a
demonstração de que certo facto não é verdadeiro, mas apenas criar a dúvida sobre a veracidade.

3) PROVA PLENA
➢ A prova plena é a que só cede perante prova do contrário, isto é, não basta neutralizar através da
contraprova, exige-se que o julgador seja convencido da existência do facto contrário;
➢ Assim, a prova legal plena só pode ser contrariada por meio de prova que mostre não ser verdadeiro o
facto que dela for objecto (A.347ºCC);
➢ Ex: os documentos autênticos fazem prova plena dos factos que referem como praticados pela autoridade
ou oficial público respectivo (A.371ºCC) → Neste caso, a força probatória dos documentos autênticos só
pode ser ilidida com base na sua falsidade (A.372ºCC).

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4) PROVA PLENÍSSIMA
➢ A prova pleníssima é aquela que não admite sequer prova do contrário;
➢ Ex: é o que se verifica em relação à presunção estabelecida no A.1260º3: a posse adquirida por violência
é sempre considerada de má-fé.

ÓNUS DA PROVA
1) ÓNUS DA PROVA OBJETIVO (A.8º1CC e A.414ºCPC) → Respeita às consequências da não realização da prova,
isto é, da falta de convicção do tribunal sobre a realidade de um facto. A situação de dúvida insanável sobre a
realidade dos factos não isenta o tribunal do dever de proferimento de uma decisão (Proibição de Non Liquet -
A.8º1CC), pelo que, perante a dúvida irredutível sobre a realidade do facto que é pressuposto da aplicação de uma
norma jurídica, o tribunal decide como se estivesse provado o facto contrário (A.414ºCPC).

2) ÓNUS DA PROVA SUBJETIVO (A.342ºCC) → Prende-se com a distribuição do ónus da prova. As regras sobre o
ónus da prova definem a atuação das partes em juízo, sendo, por isso, regras de conduta. O A.342º1CC afirma que
àquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos factos constitutivos do direito alegado, e o nº2 estabelece que
a prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito invocado compete àquele contra quem a
invocação do direito é feita.

➔ RELAÇÃO ENTRE OS DOIS → A decisão de um non liquet, de acordo com a regra do ónus da prova objetivo,
acompanha a repartição determinada pelo ónus da prova subjetivo, pois o tribunal, ao ficcionar como provado o
facto contrário daquele que devia ter sido provado, decide contra a parte onerada com a prova. É sobre a parte
sobre a qual recai a prova do facto segundo as regras do ónus da prova subjetivo que o ónus da prova objetivo faz
recair da falta ou insuficiência da sua prova.

REPARTIÇÃO DO ÓNUS DA PROVA:


● Os factos constitutivos devem ser provados pela parte que, com fundamento neles, alega a situação jurídica (nº1);
● Os factos impeditivos, modificativos ou extintivos devem ser provados pela parte contra a qual é invocada uma
situação jurídica (nº2);
● Logo, o princípio geral é o de que quem alega os factos - sejam eles constitutivos, modificativos, impeditivos ou
extintivos - deve prová-los;
● Ex. o mutuante que pede a restituição da quantia mutuada deve provar o respectivo contrato de mútuo, mas não
tem de demonstrar que esse contrato não está viciado. Por seu turno, o réu deverá provar o vício que alegar;

● Casos Especiais:
❖ Em caso de dúvida, os factos devem ser considerados como constitutivos do direito (A.342º3 CC). Isto
significa que o facto deve ser qualificado como constitutivo quando houver dúvidas sobre se é de exigir a
sua prova (como facto constitutivo) àquele que alega o correspondente direito ou (como facto impeditivo,
modificativo ou extintivo) àquele contra o qual o direito é invocado. Isto porque se pretende, em
conjugação com a regra do A.342º1CC, impor a prova à parte que alega a situação subjetiva e não àquela
que a nega;
❖ O A.343ºCC refere-se ao ónus da prova em casos especiais:
1. Ações de simples apreciação ou declaração negativa → Cabe ao réu provar os factos
constitutivos do direito que se arroga;
2. Prazo de caducidade → Nas ações que devam ser propostas dentro de certo prazo a contar da
data em que o autor teve conhecimento de certo facto, cabe, em princípio, ao réu a prova de
prazo já ter decorrido (A.343º2 CC). Ou seja, o prazo de propositura da ação é considerado
pela perspetiva do seu decurso e, por isso, é qualificado como um facto extintivo;
3. Condição e Termo → Se o direito invocado pelo autor estiver sujeito a condição suspensiva ou
a termo inicial, cabe-lhe a prova de que a condição se verificou o ou o termo se venceu, mas se
o direito estiver sujeito a condição resolutiva ou a termo final, incumbe ao réu provar a
verificação da condição ou o vencimento do prazo (A.343º3 CC).

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INVERSÃO DO ÓNUS DA PROVA
● Verifica-se quando não é sobre a parte normalmente onerada com a prova do facto que recai o ónus de o
demonstrar, mas sobre a contraparte que incide o ónus de provar o facto contrário;
● A inversão do ónus da prova implica uma modificação do thema probandum, pois a prova exigível a cada uma das
partes é a contrária daquela que pode ser imposta à contraparte;
● A eventual dificuldade de prova não constitui, em si mesma, fundamento para a inversão do onus probandi, porém,
a Lei procura prevenir-la por uma de duas soluções:
1) Estabelecimento de Presunções Legais → Dispensa da prova dos factos presumidos (A.350º1CC), o que
se traduz num benefício para a parte onerada com a prova do facto presumido;
2) Permissão do julgamento segundo a equidade em situações em que a prova do facto é difícil ou mesmo
impossível → Assim sucede, por exemplo, quanto à avaliação de danos não patrimoniais (A.496º3CC) e
à indemnização devida pela ruptura da promessa de casamento (A.1594º3CC).

● De acordo com o A.344º CC, existem várias hipóteses de inversão do ónus da prova:
1) Presunção Legal → Quem beneficia de uma presunção legal, não tem de a provar (A.344º1 CC). A parte
apenas terá de provar o facto que está na base da presunção (facto probatório) e não necessitará de provar
o facto decorrente dela, a não ser que a parte contrária venha a ilidir a presunção (A.350º2);

2) Dispensa Legal (ou convencional) do Ónus da Prova → O ónus da prova inverte-se quando haja dispensa
ou liberação do ónus da prova (A.344º1 CC), que se verifica quando a Lei declara certo, um facto até
prova do contrário (ex. Na posse titulada presume-se a boa-fé do possuidor - A.1260º2 CC);

3) Frustração da Prova → Uma das partes impossibilita culposamente a prova do onerado (ex. se o médico,
demandado numa ação de responsabilidade civil, destruir a ficha clínica de que o autor se poderia servir
para fazer prova da inadequação do tratamento, é a si que incumbe a prova da sua adequação à situação
clínica do demandante). Pode ocorrer pelos seguintes motivos:
1. Destruição ou ocultação dos meios de prova (A.344º2 CC) - tornando a mesma impossível para
a parte onerada. A impossibilidade culposa da prova exige uma conduta negligente ou dolosa
da parte, que se pode verificar antes ou durante a pendência do processo;
2. Obstrução à própria constituição do meio de prova (A.357º2 CC) – a parte recusa-se a depor ou
a prestar informações ou esclarecimentos. A falta de prestação de prova será livremente
apreciada pelo tribunal, ainda que possivelmente de forma negativa. Assim, por exemplo: se a
parte recusa entregar um documento que (provadamente) se encontra em seu poder, haverá
inversão do ónus da prova (A.430ºCPC → A.417º2 CPC → A.344º2 CC).

MEIOS DE PROVA

1) PROVA POR PRESUNÇÕES


● Presunções são as ilações que a lei ou o julgador tira de um facto conhecido para firmar um facto desconhecido
(A.349ºCC). A presunção exige a concorrência de 2 factos: o facto-base que tem de ser conhecido, e o facto-ilação;
● As presunções legais, conforme a sua eficácia probatória, denominam-se juris et de jure (absolutas) ou juris tantum
(relativas) - A.350º2 CC → As presunções são, salvo disposição legal em contrário, sempre juris tantum;
● As presunções juris et de jure não admitem prova em contrário, tendo o facto-ilação de ser aceite como certo;
● As presunções juris tantum podem ser ilididas mediante prova em contrário;
● As presunções judiciais têm por base lições da experiência do juiz ou das regras da vida, sendo admitidas por Lei
mas não expressas por ela (ex: a prova do adultério é quase sempre obtida por presunção judicial - sendo um
homem visto a sair, de manhã, da casa de uma mulher casada, isso fará presumir a prática de adultério);
● A prova por presunções legais não tem autonomia processual, tendo sempre de ser provado o facto-base por
qualquer meio probatório previsto na lei. Não afasta o ónus da prova, apenas altera o facto que ao onerado incumbe
provar: ao invés de ter de provar o facto presumido, tem de provar o facto-base da presunção (A.350º1 CC);
● A prova por presunções judiciais só é admitida nos casos e termos em que é admitida a prova testemunhal (A.351º)

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2) PROVA DOCUMENTAL
● Documento é qualquer objeto elaborado pelo homem com o fim de reproduzir ou representar uma pessoa, coisa ou
facto (A.362ºCC) → Não tem de ser um documento escrito, pode ser um retrato, representação física, fotografias…
● Os mais importantes são os documentos escritos → Incorporam declarações de ciência ou de vontade;
● Os documentos escritos podem ser: (A.363ºCC)
1. Documentos Autênticos → Aqueles exarados e assinados por oficial público (ex: escritura pública);
2. Documentos Particulares → Todos aqueles que não sejam autênticos (ex: um contrato de arrendamento);
3. Documentos Particulares Autenticados → Aqueles que não são exarados por oficial público, mas que
foram confirmados pelas partes, quanto ao seu conteúdo, perante o notário.

AUTENTICIDADE
● Presume-se que o documento autêntico provém de autoridade ou oficial público, quando estiver subscrito pelo
autor com assinatura reconhecida pelo notário ou com o selo do respetivo serviço (A.370º1) → Esta presunção
pode ser ilidida mediante prova em contrário (nº2);
● Os documentos particulares autenticados têm a força probatória formal dos documentos autênticos, mas não os
substituem quando a lei os exija para a validade do ato (A.377º);
● Os documentos particulares, mesmo que se mostrem escritos e assinados pela pessoa a quem são imputados, é
necessário fazer prova da sua proveniência (prova esta que cabe à parte que apresenta o documento). A letra e
assinatura de um documento particular consideram-se verdadeiras quando: (A.374º)
1. Reconhecidas ou não impugnadas pela contraparte;
2. A contraparte declare não saber se a letra ou assinatura lhe pertencem (facto pessoal - deve saber);
3. A letra e assinatura sejam tidas legal ou judicialmente como verdadeiras.

FORÇA PROBATÓRIA
● Os documentos autênticos fazem prova plena dos factos que referem como praticados pela autoridade ou oficial
público respectivo, assim como dos factos que nele são atestados com base na percepção da entidade. Os meros
juízos pessoais do documentador só valem como elementos sujeitos à livre apreciação do julgador (A.371º1CC);
● Os documentos particulares (incluindo os autenticados), logo que apurado que eles provém da pessoa a quem são
atribuídos, provam plenamente que essa pessoa emitiu as declarações que dos mesmos constam, sem prejuízo da
arguição e prova da falsidade do documento (A.376º1).
➢ Apenas se consideram provados os factos contrários aos interesses do declarante (nº2), estando os
restantes sujeitos à livre apreciação do julgador 2;
➢ Importa frisar que se as declarações só em parte forem desfavoráveis ao declarante, a contraparte que
quiser aproveitar-se da parte favorável, terá de aceitar também a parte desfavorável, ou de provar que
essa parte não corresponde à verdade (nº2 in fine) → Indivisibilidade das declarações.

● Os documentos eletrónicos são bastante importantes, sendo qualquer conteúdo armazenado de forma eletrónica:
texto, imagem ou som. Existem várias equiparações legais dos documentos eletrónicos aos documentos escritos;
● Reproduções mecânicas (ex. Fotocópias ou fotografias) - a força probatória fica na escolha do decisor;
● Quando se requer a junção de documentos ao processo? Regra geral nos articulados (A.423ºCPC), porém é
permitido até 20 dias antes da audiência final, pagando multa (A.423º2), e ainda quando os documentos são
supervenientes;
● Cada parte pode requerer da outra a apresentação de certo documento(A.429º1). Se o notificado não apresentar o
documento, viola o princípio da cooperação (A.7º), podendo resultar em multas. Também os terceiros estão
sujeitos a este princípio (A.432º), estando vinculado a apresentar os documentos requeridos;
● O juiz pode oficiosamente que os documentos com utilidade probatória sejam juntados ao processo (A.436º e
A.437º) - princípio do inquisitório;

2
Ex: Se no documento escrito e assinado pelo réu, este declarar que recebeu 5,000€ de A e entregou 1,000€ a B, ter-se-á
como plenamente provado que ele recebeu os 5,000€ de A - porque o facto lhe é desfavorável - mas não ficará provado que
ele entregou os 1,000€ a B.

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DOCUMENTOS EM PODER DA CONTRAPARTE OU TERCEIRO
● Se o documento estiver em poder da parte contrária, o interessado pode requerer que ela seja notificada para o
apresentar dentro do prazo que lhe for fixado pelo tribunal, devendo identificar, na medida do possível, o
documento e especificar os factos que com ele se propõe provar (A.429º1 CPC);
● Se o notificado não apresentar o documento, sem nada alegar, fica sujeito a multa (A.417º e A.430º CPC);
● Se declarar que não possui o documento, cabe ao requerente provar que isso não é verdade (A.431º CPC);
● Se alegar que possui o documento mas que este desapareceu, ou foi destruído, incumbe-lhe provar que tal
aconteceu sem culpa sua, a fim de evitar que contra si se inverta o ónus da prova (A.344º2 CC e A.431º2 CPC).

3) PROVA POR CONFISSÃO


● A.352ºCC - Confissão é o reconhecimento que a parte faz de um facto que lhe é desfavorável e favorece a parte
contrária (ex: réu confessa que ainda não cumpriu a obrigação a que está adstrito);
● Haverá confissão quando o réu afirma um facto constitutivo do direito do autor, ou nega um facto impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor;
● Há 2 modalidades de confissão: judicial (aquela feita em juízo, quer se trate de tribunal comum ou arbitral -
A.355º1 e 3 CC) e extrajudicial (aquela feita num processo judicial diferente ou que advenha de documento avulso
- A.355º4). A confissão feita num processo só vale como judicial nesse determinado processo;
● A confissão pode ser tácita ou expressa. É tácita quando resulta de uma presunção legal. A lei processual, partindo
de certo comportamento da parte, considera reconhecido determinado facto que lhe é desfavorável e favorece a
parte contrária (é o que se verifica quando aos factos não impugnados - A.567º e A.574ºCPC).
● Figuras afim:
1. Admissão (A.574º2 CPC) - réu não impugna os factos alegados pelo autor, e considerar-se-ão
confessados (“quem cala consente”);
2. Declarações de Parte (A.466ºCPC) - Consiste na recolha de declarações da própria parte perante o
julgador. Permite-se que a parte decida, embora já tendo contado a sua versão através de articulado
elaborado pelo seu advogado, relatar ela própria factos perante o juiz. O conteúdo objeto é livre, embora
na confissão sejam apenas as desfavoráveis a essa parte.

● A confissão judicial tem de ser requerida, normalmente, pela contraparte, mas também pode ser provocada pelo
juiz. Requere-se o depoimento de parte com o objetivo de lhe extrair a confissão (procura-se um confronto com a
verdade). Pode ser requerida logo nos articulados ou na audiência prévia (A.552º e A.598º1). Devem indicar-se
logo os factos sobre os quais o depoimento vai recair. Em regra tem lugar na audiência final (A.456º1), e parte
presta juramento (A.459º). A parte é inquirida pelo juiz (A.460º) e no final, os advogados das partes podem pedir
esclarecimentos (A.462º): há juízes que permitem que os advogados pedem esclarecimentos por intermédio dele,
ou diretamente à contraparte. O depoimento é reduzido a escrito (A.463º). A confissão tem força probatória plena
(A.358ºCC), isto é, o juiz terá de considerar como provados as alegações de facto objeto de confissão, e só não o
fará se demonstrar no processo a falsidade daqueles factos (se for produzida prova em contrário) - A.347ºCC.

● QUEM PODE CONFESSAR


➢ A capacidade do confitente - a confissão só é eficaz quando feita por pessoa com capacidade e poder para
dispor do direito a que o facto confessado se refira (A.353ºCC);
➢ A pessoa que tiver capacidade de exercício limitada só pode confessar dentro dos limites da sua
capacidade. É o que sucede com os menores e os inabilitados. Nestes casos, a confissão só é válida na
medida em que tenham o poder de dispor do direito a que se refere o facto confessado (A.453ºCPC);
➢ Outro dos requisitos é o da legitimidade do confitente. O depoimento dos representantes legais de
incapazes, pessoas coletivas ou sociedades só tem valor de confissão nos termos em que possam obrigar
os seus representados (A.453ºCPC). Pela confissão, dá-se à parte contrária a oportunidade de produzir
prova com eficácia plena. Por isso, não se lhe pode atribuir eficácia quando emana de alguém que não
poderá dispor do direito a que o facto respeita.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 21


● CONFISSÃO FEITA NOS ARTICULADOS
➢ As afirmações e confissões expressas de factos, feitas pelo mandatário nos articulados, vinculam as
partes, salvo se forem retificadas ou retiradas enquanto a parte contrária as não tiver aceitado
especificadamente (A.46ºCPC);
➢ Também o A.465ºCPC considera a confissão irretratável. As confissões feitas nos articulados podem ser
retiradas enquanto a parte contrária não as tiver aceitado especificamente. Para que a confissão, feita nos
articulados, se torne irretratável, é portanto necessário que a aceitação se faça de forma específica. Não
basta uma aceitação genérica, como “aceitam-se as confissões úteis, para que não possam ser retiradas”.
Deve indicar concretamente a afirmação produzida pela contraparte que aceita como confissão. As
confissões, enquanto poderem ser retratadas, também poderão ser retificadas ou esclarecidas.

● CASOS DE INADMISSIBILIDADE DA CONFISSÃO


➢ A confissão não faz prova contra o confitente nos casos das alíneas do A.354ºCC. Nestes casos, o pedido
de depoimento de parte, com tal objetivo, deve ser indeferido; mesmo que o depoente confessasse os
factos articulados pela contraparte, a “confissão” não faria prova contra si, nem sequer com o valor
atenuado atribuído pelo A.361ºCC;
➢ Alínea a) - casos em que a confissão se diz insuficiente por se tratar de factos que só possam ser provados
por documento (negócio para cuja celebração exige escritura pública) ou que recaia sobre factos cuja
investigação a lei proíba - inadmissibilidade do reconhecimento de maternidade em contrário do que
consta do registo de nascimento;
➢ Alínea b) - casos em que a confissão recai sobre factos relativos a direitos indisponíveis, como nas ações
de impugnação de paternidade, investigação de maternidade, ações de anulação de casamento, de
divórcio ou de separação de pessoas e bens. Ainda há o direito a alimentos, uma vez que é um direito que
não pode ser renunciado (A.2008ºCC). Nestes casos a revelia é inoperante (A.485º/c). Nas ações sobre o
estado da pessoas, se o réu não contestar (A.567ºCPC) ou se, embora tenha contestado, não tiver
impugnado determinado facto (A.574ºCPC), os factos articulados na PI não se podem considerar
confessados, pelo que devem ser integrados na base instrutória (A.596ºCPC);
➢ Alínea c) - não é admissível a confissão se o facto for impossível ou notoriamente inexistente. Não se
deve confundir a prova de um facto impossível com a impossibilidade de provar certo facto. O preceito
refere-se à impossibilidade absoluta e esta só se verifica quando não houver dúvida sobre ela. Por isso, o
juiz deve ser muito cauteloso em defini-la, para cada caso, não vá ter-se como impossível aquilo que só
se nos afigura tal em virtude de ignorarmos que certa causa pode produzir determinados efeitos.

● PRINCÍPIOS QUE REGEM A CONFISSÃO


1) Irretratabilidade → Depois de emitida a confissão, esta já não pode ser retirada (A.465ºCPC). Este
princípio sofre uma exceção, quando a confissão é feita nos articulados. Confissões expressas nos
articulados podem ser retiradas, enquanto a parte contrária não as aceitar especificadamente (nº1 e 2)
com referência direta aos factos confessados;
2) Indivisibilidade (A.360ºCC) → Se a declaração confessória, judicial ou extrajudicial, for acompanhada
de outros factos narrados, a parte que dela quiser aproveitar-se como prova plena tem de aceitar também
como verdadeiro os outros factos ou circunstâncias, salvo se provar a sua inexatidão
➢ Quer dizer, se a declaração confessória foi acompanhada da narração de qualquer facto
favorável ao contente, a contraparte só pode aceitar a declaração na sua totalidade - factos
favoráveis e desfavoráveis - embora lhe seja permitido fazer prova de que não é exata a parte
que lhe é desfavorável. Desde que prove a inexatidão dos factos favoráveis ao confitente,
aproveitará a força probatória plena dos factos que ao confitente são desfavoráveis;
➢ Não fazendo tal prova do contrário, nem querendo aceitar a sua confissão na totalidade, então
não poderá aproveitar-se da parte que lhe é favorável, o que significa que terá de fazer a prova
inclusivamente do facto confessado. Entende-se que não seria justo que a parte contrária
pudesse sacar em seu proveito a presunção de seriedade do confitente que a lei estabelece e a
repudiasse ao mesmo tempo na parte em que a declaração contraria os seus interesses.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 22


● FORÇA PROBATÓRIA
➢ A confissão judicial escrita tem força probatória plena contra o confitente (A.358ºCC). Não admite prova
em contrário, e muito menos contraprova. A confissão judicial escrita, assim como a extrajudicial, só
pode ser declarada nula ou anulada, nos casos de erro ou outro vício da vontade (A.359ºCC);
➢ A confissão extrajudicial feita em documento autêntico ou particular, tem força probatória plena, se foi
feita à parte contrária ou a quem a represente (A.358º2 CC);
➢ A confissão extrajudicial feita verbalmente, nos casos em que é admitida prova testemunhal, é livremente
apreciada pelo tribunal (A.358º3 CC);
➢ São do mesmo modo livremente apreciadas pelo tribunal a confissão judicial verbal, a confissão
extrajudicial feita a terceiro e a confissão contida em testamento (A.358º4 CC).

● DEPOIMENTO DE PARTE
➢ À luz do A.356ºCC, a confissão judicial espontânea pode ser feita nos articulados ou em qualquer outro
ato do processo, pela parte ou por procurador especialmente autorizado;
➢ Fora dos articulados, a confissão pode ser feita por documento autêntico ou particular ou por termo no
processo. Não obstante, a confissão pode igualmente ser provocada → O juiz pode, em qualquer estado
do processo, determinar a comparência pessoal das partes para a prestação de depoimento sobre factos
que interessam à decisão da causa (A.452ºCRP), embora o depoimento de parte possa também ser
requerido por alguma das partes (nº2);
➢ Do depoimento prestado pelas partes, ou das suas informações ou esclarecimentos prestados ao tribunal,
pode resultar confissão de um ou mais factos (A.356ºCC). Os simples esclarecimentos ou afirmações que
não possam valer como confissão, podem valer como elementos probatórios, sujeitos a livre apreciação
do tribunal (A.361ºCC);
➢ Cada uma das partes pode requerer não só o depoimento da parte contrária, mas também o dos seus
compartes (A.453º3 CPC). Mas o réu só pode pedir o depoimento de parte do seu co-réu, se no processo
tiverem posições divergentes sobre um facto que favorece um e desfavorece o outro;
➢ A parte não pode requerer o seu próprio depoimento. O depoimento de parte só tem cabimento quando
incida sobre factos que são desfavoráveis ao depoente → O depoimento de parte é distinto da confissão,
visto que o primeiro é apenas um meio de provocar a confissão. Pode haver depoimento de parte sem que
haja confissão de qualquer facto;
➢ Só pode ser requerido o depoimento de parte que incida sobre factos pessoais ou de que o depoente deva
ter conhecimento (A.454ºCPC). Não é, porém, admissível o depoimento sobre factos criminosos ou
factos torpes de que a parte seja arguida (nº2). Como factos torpes devem entender-se os factos que,
embora não sejam criminosos ou ilegais, são todavia contrários à moral pública ou reprovados pelos bons
costumes. A parte não terá, assim, de ser colocada perante o dilema de ter de mentir ou ter de confessar
uma conduta de que se envergonha.;
➢ O depoimento também não pode recair sobre os factos referidos no A.354ºCC. → Nos casos em que a
confissão não faz prova contra o confitente, não pode ser requerido o depoimento de parte. Destinando-se
o depoimento de parte a obter uma confissão, se esta não é admissível relativamente a certas matérias, o
juiz deve indeferir o requerimento, pois isso seria um ato inútil e ilícito de realizar (A.130ºCPC);
➢ O depoimento deve ser prestado na audiência de discussão e julgamento, salvo se for urgente ou o
depoente estiver impossibilitado de comparecer no tribunal (A.456ºCPC);
➢ Se ambas as partes tiverem de depor perante o tribunal da causa, depõe em primeiro lugar o réu e depois
o autor. Se tiverem de depor mais de um autor ou de um réu, não poderão assistir ao depoimento de
qualquer deles os compartes que ainda não tenham deposto(A.458ºCPC);
➢ A recusa a prestar o juramento inicial no tribunal equivale à recusa de depor (A.459ºCPC);
➢ O tribunal apreciará livremente para efeitos probatórios, o valor da recusa de depor (A.357º2 CC);
➢ Atualmente, os advogados das partes podem pedir esclarecimentos ao depoente (A.462ºCPC). E se
algum advogado entender que a pergunta é inadmissível, pela forma ou pela substância, pode deduzir
oposição, que o juiz julgará, sem admissibilidade de recurso.

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5) PROVA PERICIAL
● Apreciação interpretativa de factos com a finalidade de neles identificar relações causais cuja verificação
pressupõem conhecimentos especiais (ex. Negligência médica, contabilidade de sociedades…) - A.388ºCC;
● São admitidas nos momento em que os outros modos de prova são admitidos;
● Deve ser requerida identificando as questões de facto sobre as quais recairá a perícia , e escolher se é singular ou
colegial (A.468º/b CPC), e identificar os peritos. O tribunal pode ordenar a realização de uma perícia . É habitual
na nossa OJ a perícia singular, sendo o perito nomeado pelo tribunal;
● Ocorre por etapas: Inspeção - Contacto do perito com a coisa ou a pessoa sobre a qual incide a perícia (as partes e
o tribunal poderão estar presentes em alguns casos);
● Elaboração de um relatório (A.484º) - Que depois será submetido ao processo e as partes podem apresentar
reclamações (A.485º);
● Peritos podem ser chamados a prestar esclarecimentos durante as audiências do processo (A.486º e A.604º3/c);
● A força probatória das respostas dos peritos é apreciada livremente pelo tribunal (A.389ºCC).

6) PROVA POR INSPEÇÃO


● A prova por inspeção tem por fim a perceção direta de factos pelo tribunal (A.390ºCC). É um meio de prova que
tende a formar a convicção do juíz pela observação direta que o próprio faz;
● As provas diretas põem o juiz em contacto imediato com o facto a provar, ao passo que, nas provas indiretas, entre
o juiz e o facto interpõe-se ou uma pessoa (prova por confissão, prova testemunhal), ou uma coisa (prova por
documento);
● O tribunal pode inspecionar coisas e pessoas, ressalvando a intimidade da vida privada e familiar e a dignidade
humana (A.490ºCPC). Quando a inspeção incide sobre pessoas, estas são apenas objeto de observação,
desempenhando um papel puramente passivo. É o que acontece nas ações de interdição por anomalia psíquica;
● A iniciativa da inspeção judicial pode partir do tribunal ou de qualquer das partes (A.490º1 CPC). À parte que a
requerer incumbe fornecer ao tribunal os meios adequados à sua realização, salvo se estiver isenta ou dispensada
do pagamento de custas (nº2). O tribunal pode fazer-se acompanhar de um técnico (e não de um perito), um
auxiliar do tribunal com os conhecimentos necessários para o adjudar na interpretação dos factos (A.492ºCPC);
● O resultado da inspeção é livremente apreciado pelo tribunal (A.391ºCC).

7) PROVA TESTEMUNHAL
● Testemunha é toda a pessoa que, não sendo parte na ação, nem seu representante, é chamada a narrar as suas
percepções sobre factos passados que interessam para a decisão (AV e JPA). Distingue-se do depoimento de parte
exatamente pela qualidade do depoente (que não é parte no litígio) - Estão impedidos de depor como testemunhas
os que na causa possam depor como partes (A.496ºCPC);
● A testemunha distingue-se do perito porque narra as suas percepções sobre factos passados e não as suas
apreciações sobre eles. E a testemunha-perito? Ocorre muitas vezes nos processos de negligência médica, em que a
testemunhas são muitas vezes médicos que não participaram naquela situação, mas vão tecer apreciações críticas
sobre a legis artis. Esta não é a função da testemunha, pelo que será uma figura híbrida (entre testemunha e perito).
Na prática é claramente admitida3, mas fará sentido essa admissão? Divergência Doutrinária;
● Têm capacidade para depor como testemunhas todos aqueles que, não estando interditos por anomalia psíquica,
tiverem aptidão física e mental para depor sobre os factos objeto da prova (A.495º1 CPC). Incumbe ao juiz
verificar a capacidade natural das pessoas arroladas como testemunhas (nº2);
● Podem recusar-se a depor como testemunhas as pessoas que tenham relação de parentesco, afinidade, casamento
ou união de facto em condições análogas às dos cônjuges com alguma das partes na causa, mesmo que o
casamento já tenha sido dissolvido ou a união de facto tenha terminado (A.497ºCPC) → Incumbe ao juíz advertir
essas pessoas que lhes assiste esta faculdade (nº2);
● Devem escusar-se a depor os que estejam adstritos ao segredo profissional, de funcionário público ou de segredo
do Estado, relativamente aos factos abrangidos pelo sigilo (A.497º3 CPC).

3
STJ acórdão de 22/02/96

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● ADMISSIBILIDADE
➢ A prova testemunhal é admissível em todos os casos em que não seja direta ou indiretamente afastada
(A.392ºCC). Está excluída nas seguintes situações:
1. Se a declaração negocial houver de ser reduzida a escrito ou necessitar de ser provada por
escrito (A.393º1 CC);
2. Contra meio de prova com força probatória plena, isto é, para prova do contrário do facto
plenamente provado (A.393º2 CC);
3. Contra ou em substituição do conteúdo de documento autêntico ou particular, isto é, para prova
de convenções adicionais ou contrárias ao conteúdo desses documentos (A.394º1 CC).

● APRESENTAÇÃO DO ROL DE TESTEMUNHAS


➢ As testemunhas são apresentadas no rol, pelo autor, no final da PI (A.552º6 CPC). Por respeito pelo
princípio da igualdade das partes, o réu poderá apresentar o rol de testemunhas no final da contestação
(A.572º/d CPC);
➢ O rol de testemunhas pode ser alterado ou aditado até 20 dias antes da data em que se realize a audiência
final, sendo a parte contrária notificada para usar, querendo, de igual faculdade (A.598º2).

● As testemunhas depõem na audiência final, presencialmente ou através de teleconferência (A.500ºCPC). No


entanto, esta regra tem algumas exceções: as testemunhas residentes fora da comarca ou da respetiva ilha, quando
for o caso, são apresentadas pelas partes, quando estas tenham declarado esse propósito no momento do seu
oferecimento;
● A força probatória dos depoimentos das testemunhas é apreciada livremente pelo tribunal (A.396ºCC e
A.607ºCPC). Embora o juiz aprecie livremente a prova, não quer dizer que o possa fazer de maneira arbitrária. A
apreciação livre apenas significa que o juiz não está subordinado a regras ou critérios formais estabelecidos na lei,
devendo julgar a matéria de facto e formar a sua convicção de uma maneira prudente.

PROVA ILÍCITA
● Toda a prova pode ser fundamento da decisão?
● O que é a prova ilícita?
1) Prova ilícita por vício processual (ex. Depoimento de parte como testemunha, prestação de depoimento
por testemunhas para além do número legalmente admitido…);
2) Prova ilícita porque adquirida através de ato ilícito

● A prova ilícita não pode ser utilizada ou valorada no processo;


● No CPP encontramos um tratamento quanto às provas ilícitas (A.126º), no entanto o CPC não tem nada do gênero.
O A.32ºCRP garante que o processo penal não permita a valoração de normas proibidas;
● Existem proibições de produção de prova (ex. Factos abrangidos por segredo de Estado), de meios de prova
proibidos (ex. Escuta telefônica não autorizada), ou de métodos de prova (ex. Prova adquirida em violação de
direitos fundamentais - ex. Tortura, intervenção na vida privada…). Estas proibições geram inutibilizadade da
prova (isto é, proibição da valoração);
● As proibições de prova dos ordenamentos jurídicos latino-germânicos - Estão muito ligadas à tutela dos direitos
fundamentais (o que não acontece nos ordenamentos anglo-saxónicos);
● RUI - Precisamos, assim, de um regime processual-civilista sobre prova ilícita (parecido com o A.126ºCPP);
➢ No processo civil também podemos ter casos de proibição de prova (ex. Confissão de dívida obtida por
tortura);
➢ RUI - No processo civil até pode ser mais grave do que no processo penal, porque os privados (e não
órgãos de poderes públicos) possam intervir ilicitamente na vida de outros particulares;
➢ A jurisprudência maioritária apela a uma ponderação dos interesses em jogo;
➢ RAQUEL ALEXANDRA - A primeira autora que se debruçou preocupada com isto, defendia a
aplicação analógica do A.32º8 CRP ao processo civil.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 25


● Existem 3 posições quanto à prova ilícita:
1) Admissibilidade das provas sem restrições porque se procura descobrir a verdade;

2) Admissibilidade da prova, mas com restrições, através de uma ponderação caso a caso;
➔ Acórdão TC 263/97 - Para provar violação de deveres conjugais, foram mostradas fotografias
do marido com outra mulher, ambos nus. O TC admitiu a prova pelo princípio da procura da
verdade.
➔ Acórdão STJ 19/3/2010 - Procurou-se juntar informação abrangida pelo segredo tributário. O
STJ defendeu que a prova, mesmo adquirida ilicitamente, não obsta a que aqueles casos sejam
verdadeiros, pelo que serão atendidos pelo tribunal. Deve-se atender a um juízo de
proporcionalidade com a procura da verdade material;
➔ Em geral, a jurisprudência tende a não aplicar o A.32º8 CRP analogicamente, apelando antes a
uma ponderação de interesses como justificação de um ato ilícito.

3) Inadmissibilidade da prova admitida por ato ilícito, por analogia do A.32º8 CRP
➔ MTS - Dizer que não se aplica o A.32º8 apenas se aplica ao processo penal, parece atribuir-lhe
um carácter de excepcionalidade, tirando-lhe relevância. Os autores que afastam esta aplicação,
acabam por invocar normas de OJs estrangeiras, o que se traduz numa procura infundada por
critérios que o nosso OJ já consagrou constitucionalmente;
➔ MTS - O A.417º3 alíneas a) e b) excluem, em casos específicos, provas obtidas ilicitamente;
➔ MTS - Apesar da prova ser ilícita, pode ser justificada (ex. Se não se conseguir demonstrar que
foi, p.e., vítima de violência doméstica, de outra forma senão com a utilização daquela prova) -
Estado de necessidade probatória;

● Havendo um ilícito na obtenção da prova, e se esse ilícito colidir com direitos fundamentais, dizemos que a prova
não pode ser mobilizada no processo (expressão ambígua - tanto as provas constituídas antes do processo, como
aquelas que ainda serão produzidas perante o tribunal). Mas a mobilização feita por quem?4
➔ O juiz apenas poderá mobilizar a prova ilicitamente obtida para provar factos que beneficiem a parte que
não as obteve ilicitamente.

4
Caso dos emails Benfica vs Porto: O Benfica alega violação dos seus direitos, dizendo que para compreender totalmente a
dimensão dos danos sofridos, o Porto tem de juntar ao processo todos os emails que obteve ilicitamente. O Porto junta ao
processo todos os emails que, alegadamente, tinha em seu poder, mas diz que de acordo com a sua própria apreciação
daqueles e-mails, também ele tinha o direito de ser indemnizado por danos demonstrados através daqueles emails. Se os
emails foram efetivamente obtidos de forma ilícita, pode alguma das partes mobilizar estes e-mails?
Aparentemente quem obteve a prova ilicitamente não poderá beneficiar deles (ninguém pode beneficiar do seu próprio
ilícito), mas em que posição fica o Benfica, que não consegue demonstrar a extensão do dano a não ser através da prova
obtida ilicitamente pelo Porto? O A.32º8 da CRP dá uma pista errada, porque afirma que é nula a prova ilicitamente obtido,
mas PCS diz que o meio de prova não pode ser inválido |(isso é um desvalor dos atos jurídicos, e os meios de prova não são
atos jurídicos - O modo de obtenção da prova é ilícito, mas a prova em si não é suscetível de valoração de invalidade). Assim,
não há nenhuma razão para não permitirmos que a parte que não obteve a prova ilicitamente não a possa mobilizar por
ilicitude de aquisição pela contraparte (a ilicitude está na conduta do Porto, e não nos emails em si). Mas e a aquisição
processual? Se a prova está no processo, tem de ser toda ela valorada independentemente da parte que a produziu. PCS: este
argumento é frágil, porque o princípio da aquisição processual não se pode sobrepor ao princípio da valoração ? Se os
emails já estão “dentro” do processo, o juiz apenas os poderá/deverá utilizar para valorar factos que beneficiem a parte que
não a adquiriu ilicitamente (neste caso, o benfica) - Princípio da Aquisição Processual → Desconectamos o desvalor do
meio de prova em si, analisando quem atuou ilicitamente, não admitindo que a contaminação de uma parte não contamine a
posição da outra parte.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 26


TUTELA CAUTELAR
● Por vezes o direito da parte não se compadece com uma espera tão prolongada como a que se faz sentir nos
processos declarativos, havendo justo receio de que haja uma “lesão grave e dificilmente reparável” (A.362º1CPC),
de tal forma que a sentença não terá efeito útil. Nestas circunstâncias poderá ser indispensável instaurar um
procedimento cautelar, requerendo uma providência adequada à situação;
● O procedimento cautelar é o meio processual que visa obter uma providência cautelar, isto é, a medida pedida ao
tribunal para proteger o direito ameaçado;
● Há um procedimento cautelar comum regulado nos A.362ºss CPC, e procedimentos cautelares especificados5 nos
artigos subsequentes: (1) restituição provisória da posse, (2) suspensão das deliberações sociais, (3) alimentos
provisórios, (4) arbitramento de reparação provisória, (5) arresto, (6) embargo de obra nova e (7) arrolamento.

TRAÇOS ESSENCIAIS DAS MEDIDAS CAUTELARES: (Amado Gomes)


1) Tramitação urgente, num prazo mínimo de 15 dias e máximo de 2 meses, que corresponde à premência da tutela e
que implica uma apreciação sumária e célere dos factos que constituem o perigo;
2) Instrumentalidade face ao processo principal, podendo o procedimento cautelar surgir num momento prévio ao
processo principal, ou como incidente deste;
3) Autonomia do processo principal, podendo-se chegar a decisões diversas nos dois.

REQUISITOS DO PROCEDIMENTO CAUTELAR:


1) Periculum in Mora → Perecimento do direito pelo decurso do tempo ou prejuízo atendível com a espera;
2) Fumus Boni Juris → Probabilidade séria da existência do direito (A.368ºCPC);
3) Summaria Cognitio → Conhecimento sumário pelo tribunal.

INVERSÃO DO CONTENCIOSO:
➢ Tradicionalmente o procedimento cautelar podia ser instaurado previamente a uma ação principal ou na
dependência de uma causa. Se fosse instaurado previamente, tornava-se obrigatoriamente necessário instaurar uma
ação principal, sob pena de a providência cautelar decretada caducar;
➢ O atual CPC dispensa, em certas circunstâncias, o requerente do procedimento cautelar de instaurar a ação
principal (inversão do contencioso) → “Mediante requerimento, o juiz, na decisão que decrete a providência, pode
dispensar o requerente do ónus de propositura da ação principal se a matéria adquirida no procedimento lhe
permitir formar convicção segura acerca da existência do direito acautelado e se a natureza da providência for
adequada a realizar a composição definitiva do litígio” (A.369º1CPC);
➢ Em caso de inversão do contencioso deverá ser o requerido a, querendo, instaurar a ação destinada a impugnar a
existência do direito acautelado, sob pena de a providência decretada se consolidar como composição definitiva do
litígio (A.371º1CPC).

MODALIDADES:
➢ “Sempre que alguém mostre fundado receio de que outrem cause lesão grave e dificilmente reparável ao seu
direito, pode requerer a providência conservatória ou antecipatória concretamente adequada a assegurar a
efetivação do direito ameaçado” (A.362º1CPC);
1) Providência Conservatória → Visa prevenir a ocorrência ou a continuação de produção de danos graves e
irreparáveis ou de difícil reparação no direito do seu titular, acautelando o efeito útil do reconhecimento
efetivo desse direito;
2) Providência Antecipatória → Aquelas que, face à situação de urgência que lhe está associada, antecipa
os efeitos jurídicos próprios da decisão que vier a ser proferida na ação principal, assim como a
realização do direito.

5
Existem ainda procedimentos cautelares previstos em legislação avulsa: A.209ºCDADC, A.31ºRegime Jurídico das
Cláusulas Contratuais, A.15º a A.23º C.Registo da Propriedade Automóvel e A.338ºC.Propriedade Intelectual.

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TRAMITAÇÃO PROCESSUAL
➢ O procedimento inicia-se com a Petição Inicial, em que o requerente oferece prova sumária do direito ameaçado e
justifica o receio da lesão (A.365º1CPC);
➢ Os meios de prova são apresentados nos articulados, com a particularidade de não poderem ser alterados;
➢ O requerido é ouvido (princípio do contraditório), a não ser que a audiência ponha em risco sério o fim ou eficácia
da própria providência (A.366º1);
➢ Segue-se a fase de produção das provas indicadas, em audiência final, e a providência é decretada “desde que haja
probabilidade séria da existência do direito e se mostre suficientemente fundado o receio da sua lesão” (A.368º1);
➢ Aplicam-se as normas do procedimento cautelar comum subsidiariamente ao procedimento especificado (A.376º).

CADUCIDADE DA PROVIDÊNCIA
➢ Caso não tenha sido decretada a inversão do contencioso, o requerente da providência decretada deverá propor a
ação principal no prazo de 30 dias a contar da data em que foi notificado do trânsito em julgado da decisão que a
ordenou (A.373º1/a), sob pena de caducidade do procedimento;
➢ Uma vez proposta a ação principal, o procedimento cautelar é apensado (junto) àquele;
➢ Verifica-se igualmente a caducidade da providência se, proposta a ação principal, o processo estiver parado por
negligência do requerente (ex: este é notificado para juntar determinado documento e nada faz) - A.373º1/b.
➢ Caduca ainda quando a ação for julgada improcedente, quando o réu for absolvido da instância, ou quando o
direito que o requerente pretende acautelar se tenha extinguido (A.373º1/c), d) e e)).

RECURSO
➢ Quando o requerido não tiver sido ouvido antes do decretamento da providência é-lhe lícito, em alternativa,
recorrer do despacho que a decretou ou deduzir oposição alegando factos ou produzindo meios de prova não tidos
em conta pelo tribunal (A.372º1);
➢ Se o requerido tiver sido ouvido antes do decretamento da providência, pode interpor recurso de apelação.

PROCEDIMENTOS CAUTELARES ESPECIFICADOS


1) RESTITUIÇÃO PROVISÓRIA DA POSSE (A.377ºss)
➢ É uma providência cautelar antecipatória, isto é, antecipa-se a uma ação possessória (de restituição ou
manutenção da posse);
➢ Esta providência só pode ser decretada em caso de esbulho violento (A.377º);
➢ O requerente tem de alegar os factos que constituem a posse, o esbulho e a violência (se não houver
violência, o requerente tem de recorrer ao processo cautelar comum - A.379º);
➢ Se o juiz reconhecer, pelo exame da posse, ordena a restituição provisória da posse sem citação e
audiência do esbulhador (A.378º);
➢ O procedimento cautelar comum é, embora bastante utilizado, subsidiário face aos procedimentos
especificados;
➢ Prazo de caducidade (A.1282ºCC) - Também se aplica este prazo aos procedimentos cautelares;
➢ Por ser antecipatória, pode existir inversão do contencioso (A.376º4)

2) SUSPENSÃO DE DELIBERAÇÕES SOCIAIS (A.380ºss)


➢ É uma providência cautelar antecipatória, isto é, antecipa-se a uma ação de declaração de nulidade ou
anulabilidade, aplicando-se apenas às deliberações sociais tomadas e declaradas pela SC, paralisando os
seus efeitos jurídicos;
➢ Se uma deliberação for contrária à lei, aos estatutos ou ao contrato, qualquer sócio pode requerer, no
prazo de 10 dias, a suspensão da execução dessa deliberação, justificando a qualidade de sócio e
demonstrando que a execução pode causar dano apreciável (A.380º1);
➢ Este procedimento especificado também se aplica à suspensão das deliberações da assembleia de
condóminos (A.383º);
➢ Por ser antecipatória, pode existir inversão do contencioso (A.376º4), havendo uma especificidade quanto
ao início da contagem do prazo do A.371º, no próprio A.382º.

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3) ARRESTO (A.391ºss)
➢ Arresto é uma forma de garantia patrimonial do credor, pressupondo sempre uma relação obrigacional
entre o requerente e o requerido (A.391º);
➢ Consiste numa apreensão judicial de bens, no valor da dívida que tenha para com o credor, com o
objetivo de evitar que este dissipe o seu património (A.391º2);
➢ O arresto é decretado sem audiência prévia do devedor (A.393º1) → Para que este não frustre o efeito
útil desta providência;
➢ Requerente deduz os factos que tornam provável a existência do crédito e que justificam o receio
invocado (A.392º);
➢ É uma providência cautelar de cariz conservatório (não antecipa outra ação, apenas conserva a garantia
patrimonial do credor em caso de dissipação pelo devedor) → Assim, não se aplica o regime da inversão
do contencioso (A.376º a contrario).

4) ARROLAMENTO (A.403ºss)
➔ Enquanto o arresto conserva a garantia patrimonial do credor, no arrolamento há um sério risco de
destruição de um determinado bem, pelo que este será guardado pelo tribunal. Assim, também tem
carácter conservatório, mas não pressupõe a relação credor-devedor;
➔ Pode ser requerido por qualquer pessoa que tenha interesse na conservação dos bens ou documentos
(A.404º1);
➔ O arrolamento consiste na descrição, avaliação e depósito dos bens (A.406º1);
➔ Processamento no A.405º
➔ É uma providência cautelar de cariz conservatório (não antecipa outra ação, apenas conserva a garantia
patrimonial do credor em caso de dissipação pelo devedor) → Assim, não se aplica o regime da inversão
do contencioso (A.376º a contrario);

SENTENÇA
● Atualmente, a decisão da matéria de facto cabe ao juiz que presidiu ao julgamento, e é também ele que profere a
sentença. Assim, no mesmo momento, o juiz fixa a matéria de facto e aplica a Lei adequada aos factos provados;
● Encerrada a audiência final, o processo é concluso ao juiz, para ser proferida sentença no prazo de 30 dias
(A.607º1 1ªparte). Se não julgar suficientemente esclarecido, o juiz pode ordenar a reabertura da audiência,
ouvindo as pessoas que entender e ordenando as demais diligências necessárias (A.607º1 2ªparte);
● O juiz que decidiu a matéria de facto é o mesmo a quem compete proferir a sentença final, mesmo que tenha sido
transferido, promovido ou aposentado (A.605º3) → Princípio do Juiz Natural;
● A sentença constitui a atividade em que o juiz conhece do mérito da causa, isto é, em que a decide;
● A sentença constitui o resultado da aplicação do Direito vigente aos factos considerados provados, quer após a
audiência final, quer em momento anterior, no despacho saneador, quando o processo já contém a prova de todos
os factos que podem fundamentar a decisão;
● A sentença divide-se em 3 partes: (A.607º)
1) Relatório (nº2) → Começa por identificar as partes e o objeto do litígio, enunciado as questões que ao
tribunal cumpre solucionar. A identificação do objeto do litígio deve conter o pedido do autor, o pedido
reconvencional (se existir) e a posição que a parte contrária tomou em relação a cada um dos pedidos;
2) Fundamentos (nº3) → O juiz deve discriminar os factos que considera provados e indicar, interpretar e
aplicar as normas jurídicas correspondentes. O juiz deverá ainda apreciar os factos cuja apreciação da
prova não é livre, de forma a que na fundamentação esteja incluída toda a matéria de facto provada;
3) Decisão (nº3 e nº6) → Constitui a resposta que mereceu a pretensão das partes, proferindo sentença de
condenação ou absolvição no pedido (procedência ou improcedência do pedido formulado: tanto o
principal como o reconvencional). Além disso, deverá ainda o juiz condenar os responsáveis pelas custas
processuais, indicando a proporção da respetiva responsabilidade (nº6).

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APRECIAÇÃO DAS PROVAS
● O juiz aprecia livremente as provas segundo a sua prudente convicção acerca de cada facto (repare-se que a livre
apreciação não abrange os factos que a lei exija formalidade especial, aqueles que tenham de ser provados por
documento, e aqueles que já estejam plenamente provados - A.607º5);
● O Princípio da Prova Livre, condicionado pelo Princípio da Prova Legal, dita que a prova seja apreciada pelo
julgador segundo a sua experiência e prudência, sem subordinação a regras ou critérios formais pré-estabelecidos;
● Para a decisão da matéria de facto, o juiz pode ainda servir-se de presunções judiciais dos factos instrumentais, isto
é, ilações que a Lei ou o julgador tira de um facto conhecido para firmar um facto desconhecido (A.349ºCC);
● As presunções que o julgador se pode servir são as chamadas presunções judiciais ou naturais: presunções que têm
por base as lições da experiência ou as regras da vida.

FUNDAMENTAÇÃO DA SENTENÇA
● O dever de fundamentar a decisão está consagrado no A.205º1CRP;
● Na fundamentação da sentença, o juiz declara quais os factos que considera provados e quais julga não-provados,
analisando criticamente as provas, deduzindo as presunções judiciais dos factos instrumentais e especificando os
demais fundamentos que foram decisivos para a sua convicção (A.607º4);
● Impõe-se assim ao juiz o dever de expor a motivação da decisão proferida sobre toda a matéria de facto (tanto a
provada, como a não-provada), designadamente: especificando os meios de prova, a relevância que lhes atribuiu e o
“peso” que tiveram na formação da sua convicção6;
● Nos termos do A.5º2, além dos factos articulados pelas partes, são ainda considerados pelo juiz:
1. Os factos instrumentais que resultem da instrução da causa;
2. Os factos complementares dos factos alegados pelas partes que resultem da instrução da causa;
3. Os factos notórios e aqueles que o tribunal tem conhecimento por virtude do exercício das suas funções.

QUESTÕES QUE A SENTENÇA DEVE CONHECER


● A sentença não se pode limitar a conhecer do(s) pedido(s) formulado(s) pelo autor ou pelo réu reconvinte,
julgando-os procedentes ou improcedentes. O juiz deve resolver todas as questões que as partes tenham submetido
à sua apreciação, excetuadas aquelas cuja decisão este prejudicada pela solução dada a outras;
● O juiz só se pode ocupar das questões suscitadas pelas partes, salvo se a Lei permitir ou impuser o conhecimento
oficioso de outras (A.608º2);
● Assim, o juiz:
1) É obrigado a resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação7.
➢ Excepto aquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a outras;
2) Está proibido de ocupar-se de questões não suscitadas pelas partes.
➢ Excepto se a Lei lhe permitir ou impuser o conhecimento oficioso;

● As exceções dilatórias e nulidades processuais devem ser conhecidas no despacho saneador (A.595º1/a), podendo
o juiz, por falta de elementos decisivos, relegar o seu conhecimento para a sentença final (nº4). Todas as exceções
dilatórias que não tenham sido decididas deverão sê-lo na sentença final, mesmo que o saneador tenha afirmado
que não existiam (nº3);
➢ À luz do A.608º1, as questões processuais que possam determinar a absolvição da instância devem ser
conhecidas segundo a ordem imposta pela sua precedência lógica;
➢ MTS → Uma exceção dilatória deve ser apreciada antes de outra, sempre que o conhecimento da
primeira prejudique, por inutilidade ou desnecessidade, a apreciação da segunda. Sempre que essa
hierarquização seja impossível, o tribunal pode fundamentar a absolvição da instância em qualquer
exceção, não tendo de observar nenhuma ordem especial;
➢ MTS → A inobservância desta ordem não origina qualquer omissão de pronúncia do tribunal e não
determina a nulidade da decisão (A.615º1/d). Assim, a ordem do A.608º é meramente indicativa.

6
Ex. se houver 2 depoimentos de conteúdo contraditório sobre o mesmo facto, deve o juiz, em cumprimento do dever de
motivação, referir as razões pelas quais optou por dar credibilidade a um deles.
7
Se o autor invoca dois ou mais fundamentos como causa de pedir, não basta que a sentença defira o pedido considerando
procedente um deles, deve pronunciar-se sobre a procedência ou improcedência dos restantes (ANTUNES VARELA).

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AMPLITUDE DA SENTENÇA
● Factos Jurídicos Supervenientes → A sentença deve tomar em consideração os factos constitutivos, modificativos
ou extintivos do direito que se produzam posteriormente à propositura da ação, de modo que a decisão corresponda
à situação existente no momento do encerramento da discussão (A.611º1). Ex. Numa ação proposta pelo credor de
uma dívida, se o pai do devedor a pagar, esse facto constituirá uma causa extintiva do direito do autor;
➢ Só são atendíveis os factos que, segundo o direito substantivo, tenham influência sobre a existência ou
conteúdo da relação controvertida (A.611º2);
➢ A circunstância do facto jurídico relevante ter nascido ou se haver extinguido no decurso do processo
releva para efeitos da condenação em custas judiciais (A.611º3 - A.536º).

● Condenação In Futurum→ Por uma questão de economia processual, o juiz não pode deixar de condenar o réu ao
cumprimento de certa obrigação que ainda não se venceu, desde que este conteste (A.610º1).

VÍCIOS E REFORMA DA SENTENÇA


● Proferida a sentença, fica imediatamente esgotado o poder jurisdicional do juiz quanto à matéria da causa
(A.613º1), isto é, depois de proferida a sentença está vedado ao juiz proceder a qualquer alteração não só na
própria decisão, mas também nos fundamentos da mesma. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de retificar
erros, suprir nulidades, esclarecer dúvidas existentes na sentença e reformá-la (nº2);
● Os erros materiais (omissão do nome das partes, omissão quanto a custas ou algum dos elementos previstos no
A.607º6, erros de escrita ou de cálculo, ou algum outro lapso) podem ser corrigidos por simples despacho do juiz,
por sua iniciativa ou a requerimento de qualquer das partes (A.614º1). A retificação não poderá nunca atingir a
decisão ou a sua fundamentação (erros de julgamento - A.613º1), e terá de acontecer antes da “subida” ao tribunal
superior por via de recurso;

● NULIDADE DA SENTENÇA (A.615º - Causas taxativas)


1) Falta da Assinatura do Juiz
➢ Esta falta constitui uma nulidade fácil de suprir enquanto for possível colher a assinatura do
juiz que proferiu a sentença. Pode ser suprida oficiosamente pelo juiz sem audição das partes,
ou requerida por uma das partes sem audição da outra;
➢ O juiz deve declarar no processo a data em que apôs a assinatura (nº2).

2) Omissão dos Fundamentos de Facto e de Direito


➢ Temos de distinguir entre a falta absoluta de motivação e a motivação deficiente, medíocre ou
errada → A nulidade reporta-se apenas à primeira (Prof. ALBERTO REIS);
➢ As partes têm necessidade de conhecer os fundamentos da decisão, podendo convencê-las a
conformar-se com a decisão ou a interpor recurso dela;
➢ A nulidade por falta de fundamentos de facto reporta-se à falta de concretização dos factos
provados que servem de base à decisão, enquanto a nulidade por falta de fundamentos de
direito se reporta à falta de indicação das razões jurídicas que servem de apoio à solução
adotada pelo juiz.

3) Oposição entre os Fundamentos e a Decisão


➢ A contradição não pode ser aparente, isto é, não pode resultar de um erro material retificável;
➢ Verifica-se quando o juiz explana na sentença certos fundamentos que logicamente levariam a
decidir num certo sentido mas, em vez disso, a decisão enveredou pelo sentido oposto;
➢ A sentença tem de ser entendida pelos destinatários, pelo que será nula quando ambígua ou
obscura: “será obscura quando contenha um passo cujo sentido é ininteligível, e ambígua
quando alguma passagem se preste a interpretações diferentes (Prof. ALBERTO REIS).

4) Omissão de Pronúncia e Pronúncia Indevida


➢ A sentença é nula quando o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou
conheça de questões de que não podia tomar conhecimento (A.608º2 - A.615º/d);
➢ Não é nula a sentença que se não ocupou de todas as considerações feitas pelas partes, por o
tribunal as reputar desnecessárias para a decisão do litígio. Não se deve, assim, confundir
“questões” com “argumentos apresentados”.

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5) Condenação em Quantidade Superior ou em Objeto Diferente
➢ A sentença é nula quando o juiz condene em objeto diferente daquele que foi requerido pela
parte, ou quando o juiz condene em quantidade superior (podendo apenas condenar em
quantidade igual ou inferior);
➢ Se o pedido foi desdobrado em várias parcelas que não correspondem a pedidos autónomos,
não é nula a sentença que condene em quantidade global igual ou inferior à requerida, mesmo
que uma das paralelas, individualmente considerada, ultrapasse o valor que lhe foi atribuído;
➢ A sentença é nula por objeto diferente quando, por exemplo, o autor pede o pagamento das
rendas devidas pelo locatário e o juiz condena também o réu a despejar a casa;
➢ Existem, no entanto, 2 exceções:
1. Se tiver sido requerida a manutenção em lugar da restituição da posse (ou vice-
versa), deve o juiz conhecer do pedido correspondente à real situação (A.609º3);
2. Nas providências cautelares, o tribunal não está adstrito à providência concretamente
requerida (A.376º3).

● ARGUIÇÃO DA NULIDADE
❖ A nulidade que resulta da falta de assinatura do juiz pode ser suprida oficiosamente ou a requerimento de
qualquer das partes enquanto for possível colher a assinatura do juiz que proferiu a sentença (A.615º2);
❖ As restantes causas de nulidade da sentença só podem ser arguidas perante o tribunal que proferiu a
sentença, se esta não admitir recurso ordinário. Quando a sentença admite recurso ordinário, o recurso
pode ter por fundamento qualquer dessas nulidades (A.615º4).
❖ Assim, temos de perceber se a decisão admite recurso:
1) Se não admitir, então a nulidade tem de ser arguida perante o tribunal que proferiu a sentença;
2) Se admitir, então a nulidade poderá ser fundamento dele.

EFEITOS DA SENTENÇA
● Segundo o A.205º1CRP, as decisões dos tribunais são obrigatórias para todas as entidades públicas e privadas e
prevalecem sobre as de quaisquer outras autoridades;
● A força imperativa da sentença não depende de nenhum facto futuro, porque é inerente ao ato jurisdicional,
constituindo uma qualidade intrínseca de toda a decisão judicial (ANTUNES VARELA);
● Quando a causa admite recurso, a decisão judicial pode ser impugnada por esta via (A.627º1), considerando-se a
decisão transitada em julgado logo que não seja suscetível de recurso ordinário ou reclamação (A.628º). Nas ações
que não admitem recurso, a decisão transita em julgado se não tiver sido arguida nenhuma causa de nulidade da
sentença e não tiver sido requerida a sua reforma nos termos do A.616º;

CASO JULGADO MATERIAL vs FORMAL


1) Caso Julgado Material
● Transitada em julgado a sentença ou o despacho saneador que decida o mérito da causa, a decisão sobre
a relação material controvertida adquire força obrigatória dentro do processo e fora dele nos limites
fixados pelos A.580º e A.581º (exceções de caso julgado e litispendência) - A.619º1;
● Definição: Força imperativa da decisão que recaiu sobre certa relação material controvertida;
● A sentença transitada em julgado tem de ser acatada por todos os tribunais. Se lhes for submetida a
mesma relação, não poderão julgá-la, porque já o foi de forma definitiva (caso o façam, impõe-se sempre
a primeira decisão - A.625º).

2) Caso Julgado Formal


● Além do caso julgado que se pode formar quanto à decisão proferida sobre a relação material
controvertida (caso julgado material), também podem transitar em julgado as sentenças ou despachos
sobre questões de natureza processual (caso julgado formal);
● No caso julgado formal, a decisão apenas incide sobre um questão processual, o que significa que só diz
respeito ao processo em causa e, por isso, nada impede que a questão possa voltar a ser discutida num
processo diferente;
● À luz do A.620º1, as sentenças que recaiam unicamente sobre a relação processual têm força obrigatória
dentro do processo, não tendo, assim, força obrigatória fora do processo em que foram proferidos.

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CASO JULGADO
● O caso julgado é a insusceptibilidade de impugnação de uma decisão (despacho, sentença ou acórdão) decorrente
do seu trânsito em julgado (A.628ºCPC);
● O caso julgado traduz-se na inadmissibilidade da substituição ou modificação da decisão por qualquer tribunal
(incluindo aquele que a proferiu) em consequência da insusceptibilidade da sua impugnação por reclamação ou
recurso ordinário. Só as decisões suscetíveis de trânsito em julgado podem adquirir o valor de caso julgado;
● Estas decisões tornam-se irrevogáveis devido ao esgotamento do poder jurisdicional do juiz (A.613º1 e 3);
● O trânsito em julgado da decisão decorre da insusceptibilidade de interposição de recurso ordinário ou de
reclamação (A.628º). Esse trânsito pode resultar de duas ordens de fatores:
1. Da inadmissibilidade de recurso ordinário, atendendo, nomeadamente, ao valor da causa ou ao montante
da sucumbência da parte (A.629º1), ao decurso do prazo de interposição (A.638º1) ou à renúncia ao
recurso pelas partes da ação ou pela parte vencida (A.638º1, 2 e 3);
2. Da insusceptibilidade de reclamação da decisão com fundamento na sua nulidade (A.630º e A.615º) ou
para retificação de erros materiais, esclarecimento ou reforma quanto a custas ou a lapsos manifestos
(A.630º, A.613º3, A.614º e A.616º).

TIPOS DE CASO JULGADO


1) CASO JULGADO FORMAL → Incide sobre decisões de forma e, por isso, só tem um valor intraprocessual, ou seja, só é
vinculativo no próprio processo em que a decisão foi proferida (A.620º);
2) CASO JULGADO MATERIAL → Incide sobre razões de mérito e por isso pode ter uma eficácia para além do processo
em que é proferido; ou seja, além de uma eficácia intraprocessual, é suscetível de valer num processo distinto daquele em
que foi proferida a decisão transitada em julgado (A.619º1). Pode ter efeito:
➢ Positivo (autoridade de C.J.) → Verifica-se quando uma decisão sobre uma questão prejudicial numa ação é
vinculativa numa outra ação cujo objeto é dependente dessa questão prejudicial. O efeito é positivo no sentido de
que vincula o tribunal a aceitar a decisão anterior;
➢ Negativo (exceção dilatória de C.J.) → Proibição de repetição e de contradição de decisões anteriores (A.580º2):
1. Proibição de Repetição - Refere-se à proibição de repetição, na mesma causa, com as mesmas partes e o
mesmo objeto, de uma outra decisão;
2. Proibição de Contradição – Ex: A pede contra B o divórcio ganha a causa. Depois de o divórcio ser
decretado, B não pode propor uma ação contra A pedindo que seja decretado o divórcio, pois tal seria
contraditório. O A.625º1 estabelece que, havendo duas decisões contraditórias sobre o mesmo objeto,
vale aquela que primeiramente transitar em julgado.

INDISPONIBILIDADE DAS PARTES


● O tribunal conhece oficiosamente da exceção dilatória de caso julgado (A.578º e A.577º/i). Assim, as partes não
podem, por convenção, retirar à decisão transitada o valor de caso julgado e menos ainda o pode fazer
unilateralmente qualquer das partes, tal como não podem atribuir convencionalmente o valor de caso julgado a uma
decisão que o não possui;
● Podem, claro, regular de forma diferente do disposto na decisão transitada uma situação jurídica que se encontre na
sua disponibilidade, assim como podem renunciar (mesmo antecipadamente) ao recurso (A.632º1) e aceitar, tácita
ou expressamente, a decisão proferida (A.632º2 e 3) e, com isso, provocar o seu trânsito em julgado.

LIMITES DO CASO JULGADO


1) Limites Objetivos (objeto)
● O problema que se coloca é o de saber se os fundamentos da decisão são vinculativos fora do processo no qual
foram reconhecidos, numa outra ação em que se discutam os mesmos fundamentos;
● A resposta que deve ser dada neste contexto é: os fundamentos da decisão valem enquanto fundamentos daquela
decisão, não valendo fora desse processo, não sendo vinculativos noutra ação em que se discutam os mesmos
fundamentos;
● Tal solução é confirmada pelo A.91º1 que afirma que o tribunal competente para a ação é também competente para
conhecer dos incidentes que nela se levantem e das questões que o réu suscite como meio de defesa
(nomeadamente, as exceções perentórias) → Ex: a decisão sobre a nulidade invocada pelo réu como defesa não
constitui caso julgado fora do caso respetivo, exceto se se verificar um pedido de apreciação incidental. Tal é o que
resulta do A.91º2: a decisão das questões e incidentes suscitados não constitui, porém, caso julgado, exceto se
alguma das partes requerer o julgamento com essa amplitude (…);

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● Ou seja, e no exemplo dado anteriormente, resulta daqui que, para que a nulidade que é invocada pelo réu tenha
força de caso julgado, é necessário que qualquer das partes utilize o mecanismo do A.91º (questão incidental),
então, não se recorrendo a este mecanismo, esta nulidade apenas será vinculada no processo em que é proferida;
● Pode suceder que a ação tenha por objeto a discussão de um contrato no valor de 1000€, tendo o mesmo sido
declarado nulo; agora, numa segunda ação, em que o valor é do contrato é de 100.000€, questiona-se se podemos
invocar os mesmos fundamentos: tem justificação que aquilo que foi determinado numa ação de 1000€ valha para
outra ação cujo valor é de 100.000€? Claro que não, a não ser que as partes façam uso do mecanismo do A.91º2;
● Mas esta solução tem exceções:
1. Obrigações Sinalagmáticas → Ex: O comprador intenta uma ação contra o comprador, exigindo o
pagamento do preço, e esta vem a ser declarada improcedente porque o contrato é nulo. Numa segunda
ação, do comprador contra o vendedor, em que este exige a entrega da coisa, a nulidade adquire força de
caso julgado material. Por razões puramente processuais, não pode o vendedor não ter direito ao preço
mas, em contrapartida, o comprador ter direito a receber a coisa;
2. Casos de Subsidiariedade Legal → Ex: no caso de cumprimento defeituoso, a parte pode pedir a
reparação, se a reparação não for possível pede a substituição, se não for possível pode pedir a resolução
do contrato. Se na primeira ação o juiz diz que o autor não pode pedir a reparação porque não há
cumprimento defeituoso, o autor já não vai poder pedir a indemnização com o mesmo fundamento
(cumprimento defeituoso) porque o juiz já decidiu que não há cumprimento defeituoso. Neste caso, o
fundamento faz caso julgado material;
3. Casos do A.621ºCPC → Quando há uma condição que não se verificou ou um prazo que ainda não
decorreu. A improcedência de uma ação com fundamento no facto de o prazo ainda não ter decorrido,
não impede uma segunda ação se o prazo já tiver decorrido. Se na 1ª ação ficar comprovada a existência
do direito, não se volta a discutir a existência do direito na 2ª ação;

2) Limites Subjetivos (sujeitos)


● Eficácia relativa vs absoluta:
➢ Regra geral o caso julgado só tem eficácia quanto às partes que litigam (eficácia relativa)
➢ Nas questões relativas ao estado das pessoas, o caso julgado produz efeitos mesmo em relação a terceiros
quando, proposta a ação contra todos os interessados diretos, tenha havido oposição, sem prejuízo do
disposto, quanto a certas ações, na lei civil (A.622ºCPC);
➢ Como as partes da ação esgotam aquelas que para ela possuem legitimidade processual (dado que todos
os interessados são partes nela - A.30º1), aquilo que vale, relativamente, entre as partes, vale igualmente
perante qualquer terceiro;
➢ Ex. Apenas os cônjuges podem ser partes numa ação de divórcio, não há terceiros com legitimidade para
intervir na ação e nenhum terceiro tem um direito incompatível com o divórcio entre aquelas partes –
assim, o caso julgado tem eficácia absoluta;
➢ Existe uma exceção a esta solução, patente no A.1819º2 CC relativa à ação de impugnação da
paternidade: tendo falecido alguma das partes originárias, a lei estabelece que se os herdeiros não
participarem da ação, o caso julgado não lhes é oponível;
➢ O A.622º levanta ainda outro problema – Exige que a ação seja proposta contra todos os interessados
diretos e que tenha havido oposição (contestação): isso significa que se o réu não contestar, o divórcio já
não tem eficácia erga omnes? Ora, tal não faria sentido: deve interpretar-se no sentido de se conferir
possibilidade de deduzir oposição.

● Extensão do caso julgado a partes materiais


➢ Partes materiais são todos aqueles que têm a mesma qualidade jurídica das partes que estiveram na ação
– é relevante nesta sede o A.581º2 que define a identidade de partes;
➢ Ao contrário da eficácia reflexa, que vincula qualquer sujeito a aceitar aquilo que foi definido entre todos
os interessados diretos, a extensão do caso julgado implica uma vinculação de interessados (diretos ou
indiretos) à constituição, modificação ou extinção de uma situação subjetiva própria (eficácia relativa);
➢ Quando é que partes distintas têm a mesma qualidade jurídica?
1. Sucessão de Direitos → Ex: A propôs ação de reivindicação contra B e ganhou; A vem a
falecer; B não pode vir dizer aos herdeiros de A que essa decisão já não vale quanto a eles; o
pai e os filhos, sendo pessoas diferentes, são a mesma parte do ponto de vista material;

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2. Casos de Substituição (A.263º3) → A sentença produz efeitos em relação ao adquirente, ainda
que este não intervenha no processo, exceto no caso de a ação estar sujeita a registo e o
adquirente registar a transmissão antes de feito o registo da ação;
3. Obrigações Solidárias → A ação pode ser proposta por apenas um dos credores e/ou contra
apenas um dos devedores. Fixa-se aqui uma legitimidade concorrente: qualquer credor pode
propor uma ação e pode ser demandado qualquer devedor. Se for proposta uma ação por
apenas um dos credores contra apenas um dos devedores, o caso julgado favorável à parte que
esteve em juízo beneficia os que não estiveram em juízo, e o caso julgado desfavorável à parte
que esteve em juízo não prejudica os que não estiveram em juízo (A.522º e A.531ºCC).

3) Limites Temporais
● O caso julgado incide sobre uma decisão que apreciou uma questão concreta. O momento de referência do caso
julgado não é, todavia, aquele em que a decisão é proferida, mas o do termo da discussão na fase da audiência final
(sobre esse momento, A.604º3/e);
● A sentença deve tomar em consideração os factos constitutivos, modificativos ou extintivos do direito que se
produzam posteriormente à propositura da ação, de modo que a decisão corresponda à situação existente no
momento do encerramento da discussão (A.611º1).
➢ Ex: A decisão z vai transitar em julgado 30 dias depois da notificação das partes. Quando transitada em
julgado, forma-se caso julgado. Mas este caso julgado não se refere ao momento de proferimento da
decisão, e sim ao momento de encerramento da discussão. Se depois do encerramento da discussão e
antes do proferimento da decisão, o réu pagou a dívida, este pagamento é irrelevante, porque a decisão
tem de tomar em consideração a situação que existia antes do encerramento da discussão.

● O art. 611º/1 faz referência a 2 graus de superveniência:


1. Superveniência Forte → Diz respeito a factos supervenientes cuja alegação está na disponibilidade das
partes, porque o juiz não pode oficiosamente apreciar esses factos;
2. Superveniência Fraca → Diz respeito à verificação superveniente de factos que já foram alegados pela
parte (ex: usucapião já é causa de pedir mas o decurso do prazo só se verifica durante a pendência da
causa).

EXCEÇÃO DILATÓRIA DE CASO JULGADO E LITISPENDÊNCIA


● À luz do A.580º1, há exceção dilatória de caso julgado quando se repete uma causa depois desta já ter sido
decidida por sentença que tenha transitado em julgado (vide A.629º); e há exceção dilatória de litispendência
quando se repete uma causa estando a anterior ainda em curso;
● Ambas são exceções dilatórias (A.577º/i), de conhecimento oficioso (A.578º), que implicam a absolvição do réu da
instância (A.278º1/e);
● Ambas as exceções visam evitar que o tribunal seja colocado na alternativa de contradizer ou reproduzir uma
decisão anterior (A.580º2) → Tanto numa ótica de economia processual, como para evitar o descrédito judicial;
● Repete-se uma causa, para âmbito de aplicação destas duas exceções dilatórias, quando há identidade de sujeitos,
pedido e causa de pedir (A.581º1):
1) Há identidade de sujeitos quando as partes são as mesmas de um ponto de vista da sua qualidade jurídica
➢ É irrelevante a sua posição processual (como autor ou réu), isto é, se A intenta ação 1 contra B
pretendendo obter x, não pode B intentar ação contra A pretendendo obter x;
➢ Importa a qualidade jurídica, pelo que é irrelevante se na ação 1 interveio A em representação
de B, e na ação 2 intervém B; assim como é irrelevante se A intervém na ação 1 como
proprietário de x, e após aliená-lo, passa a intervir na ação 2 B como proprietário de x;
➢ Assim, nos casos de representação, substituição (A.263º3) ou sucessão de direitos, há
identidade de sujeitos.

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2) Há identidade de pedido quando numa e noutra causa se pretende obter o mesmo efeito jurídico (nº2)
➢ A doutrina e a jurisprudência têm tido uma interpretação flexível deste requisito, atenta a
teleologia do instituto (A.580º2), admitindo que se alarga às situações em que:
1. Os pedidos possam alcançar efeitos simétricos (ex: declaração de validade |
declaração de invalidade);
2. O segundo pedido seja consumidos pelo primeiro (ex: ação de reivindicação |
reconhecimento da propriedade);
3. A primeira decisão pressuponha a declaração de certo efeito jurídico “secundário”
(ex: restituição do dinheiro mutuado | declaração de invalidade do mútuo).

3) Há identidade de causa de pedir quando a pretensão deduzida nas duas ações procede do mesmo facto
jurídico (nº3) → É bastante raro que aconteça, pelo que a doutrina e a jurisprudência, atenta a teleologia
do instituto (A.580º2), defendem que basta que a segunda causa de pedir atente contra o núcleo essencial
da causa de pedir da primeira ação;

DECISÕES ESTRANGEIRAS
1) Estados Terceiros → As decisões estrangeiras proferidas por estados terceiros estão sujeitas, salvo tratado,
convenção ou regulamento europeu em contrário, a revisão e confirmação pela ordem jurídica portuguesa
(A.978º1). Assim, não podem sentenças estrangeiras não-confirmadas servir de fundamento à exceção de caso
julgado, assim como não o podem quanto à exceção de litispendência (A.580º3).
2) Estados-Membros da UE → As decisões estrangeiras de países da UE valem em Portugal, por via do
reconhecimento automático. Assim, pode ser alegada a exceção de caso julgado com fundamento em decisões
não-revistas de um estado-membro da UE (A.978º1 a contrario e A.36º1 Reg.1215/2012), assim como o pode a
exceção de litispendência (A.580º3 a contrario e A.29º1 Reg.1215/2012);
➢ Se houver contradição entre uma sentença nacional e uma sentença estrangeira, a consequência é a
impossibilidade de reconhecimento desta última (A.980º/d e A.45º1/c Reg. 1215/2012);
➢ Se existir contradição entre duas sentenças estrangeiras, só pode ser reconhecida a que tiver sido
proferida em primeiro lugar (A.45º1/d Reg. 1215/2012).

➔ Se uma decisão estrangeira proferida por um País terceiro ainda não tiver sido revista e confirmada, nos termos do
A.978º1, e mesmo assim for alegada a exceção de caso julgado:
1) Solução Legal → A decisão não produz efeitos em portugal porque não foi revista e confirmada, pelo
que não pode servir de fundamento à exceção do caso julgado (A.978º);
2) Solução de Economia Processual (JMM) → Juiz suspende a instância, nos termos do A.272º1, onerando
o interessado com a propositura de ação de confirmação da sentença estrangeira, até que o tribunal
competente se pronuncie sobre ela. No caso de ser confirmada, a exceção procede.

RECURSOS
● Existem múltiplos mecanismos de impugnação de decisões, mas de excelência são os recursos (A.627º1);
● Proferida a decisão, qualquer que ela seja, o juiz da causa, seja ele quem for, não pode modificá-la, esgotando-se o
poder jurisdicional do juiz naquela causa (A.613º1). Assim, os recursos servem para devolver o poder jurisdicional
que, de acordo com o A.613º1, estaria esgotado → Por isso, todos os recursos têm efeito devolutivo;
● Mas devolver a quem? A um tribunal ao qual o tribunal que proferiu a decisão esteja hierarquicamente
subordinado. Por isso, podemos dizer que o recurso é o meio a que a parte inconformada recorre para pedir
pronuncia sobre determinado objeto, a um tribunal diferente e superior daquele que decidiu;
● O recurso incide sempre sobre a decisão (A.370º1, A.627º1, A.635º2), e não sobre o objeto configurado na 1ª
instância → Recurso pode ser entendido como instância de controlo de legalidade da decisão proferida pela 1ª
instância ou reabertura do poder jurisdicional, atribuindo-se ao tribunal superior o dever de “re-julgar” a causa;
● O juiz da 1ª instância pode ainda fazer um conjunto de coisas (A.613º2), havendo, para isso, meios processuais
próprios (designa-se reclamação - que difere de recurso porque, ao invés de ser dirigida a um tribunal superior, é
dirigida ao próprio juiz autor da decisão);
● A Lei determina que o recurso seja interposto no tribunal ad quo (ou seja, no tribunal que decidiu - A.637º), sendo
que o primeiro decisor que toma contacto com alegações de invalidade e ilegalidade é o próprio juiz da causa;
● As partes têm 30 dias para impugnar a decisão, sob pena desta se consolidar como caso julgado material (isto é,
adquirir força extraprocessual - A.628º e A.638º). Dentro destes 30 dias, podem as partes propor recurso ordinário;

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LEGITIMIDADE PARA RECORRER (A.631º)
● Regra geral a legitimidade para recorrer é da parte principal que tenha ficado vencida, isto é, aquela que tenha sido
prejudicada pela decisão. Tendo a parte formulado um certo pedido, a decisão não o atendeu ou não o atendeu
integralmente (a porção do pedido que não foi atendida denomina-se por sucumbênica);
● No entanto, podem ainda recorrer terceiros que tenham sido direta e efetivamente prejudicados pela decisão (nº2);
● Não podem recorrer as partes que, em conjunto, tenham renunciado antecipadamente ao recurso (A.632º1), ou
qualquer um delas que tenha aceitado, expressa ou tacitamente, aquela decisão depois de proferida (nº2 e nº3).

1) DECISÕES QUE ADMITEM RECURSO


➢ A.629º - O valor da causa tem de ser superior ao da alçada do tribunal de que se recorre, e a decisão tem
de ser desfavorável para o recorrente em valor superior a metade da alçada do mesmo tribunal (valor da
sucumbência):
● 1ª instância → Sucumbência: +2,500€ | Valor da ação: +5,000€;
● 2ª instância → Sucumbência: +15,000€ | Valor da ação: +30,000€;

➢ Nos casos em que não seja possível aferir o valor da sucumbência, atender-se-á apenas ao valor da causa
(A.629º1 in fine);
➢ No caso de cumulação de pedidos, o valor da sucumbência deve ser determinado autonomamente para
cada um deles, pelo que apenas se admitirá recurso quanto a todos eles (em cumulação), quando o valor
da sucumbência se verifique quanto a cada um deles (A.????).

2) DECISÕES QUE ADMITEM SEMPRE RECURSO → Independentemente do valor da causa e do valor da


sucumbência, admitem sempre recurso as ações tipificadas no A.629º2, e para a Relação as tipificadas no A.629º3.

3) DECISÕES QUE NUNCA ADMITEM RECURSO → Aquelas tipificadas no A.630º.

RECURSOS ORDINÁRIOS vs RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS


● Recursos Ordinários → Aqueles que se interpõem antes do trânsito em julgado da decisão, visando impedi-lo;
● Recursos Extraordinários → Aqueles que se interpõem independentemente do trânsito em julgado da decisão. Por
serem excepcionais, têm fundamentos típicos indicados na lei relacionados com motivos de justiça intolerável;
● TIPOS DE RECURSO:
1. Recursos que visam repercussão de efeitos num caso concreto;
2. Recursos que fazem repercussão necessária no caso concreto: apelação (A.644ºss) e revista (A.681ºss);
3. Recurso de revisão de justiça intolerável (A.696ºss);
4. Recurso de uniformização da jurisprudência (A.688ºss);

1) RECURSO ORDINÁRIO DE APELAÇÃO (A.644ºss)


● É um recurso ordinário que vai do tribunal da Comarca para a Relação, incidindo sobre toda a matéria
(de facto e de Direito);
● A.647º1 - O efeito regra da apelação é meramente devolutivo, isto é, quando o recorrente interpõe
recurso, está a devolver a decisão ao tribunal hierarquicamente superior para que este confirme ou
revogue a decisão inferior. Os efeitos da decisão proferida na 1ª instância ficam intactos, isto é, a decisão
continua a produzir os seus efeitos normais (ex: autor intenta ação de condenação no pagamento de 5€
decorrente de violação contratual. No fim do processo, com a procedência do pedido, o réu interpõe
recurso para a relação. O autor pode mandar executar o património do réu em ação executiva). A regra é
o efeito devolutivo porque tenta-se evitar a impugnação das decisões com o objetivo de atrasar o trânsito
em julgado da decisão da 1ª instância;
● A.647º3 - O recurso pode ter, excepcionalmente, efeito suspensivo, isto é, os efeitos da decisão da 1ª
instância não operam (autor não pode recorrer a ação executiva);
● A.647º4 - O requerente pode, sem fundamento nas alíneas taxativas do nº3, requerer efeito suspensivo, se
alegar que a decisão lhe cause prejuízo considerável;
● Quando o recorrente interpõe recurso para o tribunal da relação, há criação de uma instância própria, isto
é, o recorrente tem de expor os factos que contrariam a decisão.

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2) RECURSO ORDINÁRIO DE REVISTA (A.671ºss)
● Recurso ordinário do tribunal da Relação para o STJ, incidindo apenas sobre a matéria de direito;
● A.671º3 - Pressuposto da admissibilidade do recurso de revista (dupla conforme) - Se a decisão da
relação for conforme à decisão da primeira instância, o recurso não é admissível, a menos que haja, pelo
menos, um voto de vencido, ou se a fundamentação for essencialmente diferente.
➢ Pretende evitar o excesso de recursos interpostos para o STJ;
➢ Quando é que não há conformidade? Quando há um voto de vencido, ou quando a
fundamentação não seja essencialmente igual. Assim, não tem de haver uma subscrição total
entre o tribunal da relação e a decisão de 1ª instância;
➢ “fundamentação não seja essencialmente igual” - MTS defende que se o tribunal da relação for
mais favorável do que o tribunal de 1ª instância, significa que não há conformidade stricto
sensu, mas há conformidade lato sensu.

● Mesmo que exista “dupla conforme” (conformidade entre decisões), pode ser interposto recurso de
revista excecional, nos casos taxativos do A.672º.
● Fundamentos da revista (A.674º);
● Efeitos no A.676º → Só tem efeitos suspensivos em questões sobre o estado de pessoas, e caso tenha
este efeito, pode o recorrido exigir prestação de caução (processo especial - A.913ºss).

3) RECURSO EXTRAORDINÁRIO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA (A.688º)


● Tem como objeto sempre acórdãos do STJ, e apenas no caso de contradição entre o núcleo essencial do
acórdão recorrido e o núcleo essencial de outro acórdão do STJ;
● A divergência jurisprudencial deve verificar-se sobre questões de Direito ou interpretação de normas
jurídicas;
● A contrariedade entre os acórdãos que motiva a interposição do recurso de uniformização, tem de ser
sobre a mesma norma jurídica;
● Efeitos (A.693º) - Tem efeito meramente devolutivo
● A admissibilidade de um recurso de uniformização …
● ABRANTES GERALDES → Temos de atender aos deveres de gestão processual e boa-fé processual
(ex: se o recorrente recorre com base na contradição entre um acórdão dos anos 80 e um acórdão atual).

4) RECURSO EXTRAORDINÁRIO DE REVISÃO (A.696ºss)


● Ao contrário do recurso de uniformização, o recurso de revisão pode ter por objeto qualquer decisão
judicial → PAIS AMARAL: admite-se em casos em que se pressupõe que o caso julgado se formou em
condições anormais fruto de circunstâncias patológicas suscetíveis de criar injustiça escandalosa;
● Os fundamentos estão elencados no próprio A.696º - É para casos excepcionais, porque a decisão já
transitou em julgado (as situações mais recorrentes são os casos de revelia absoluta do réu, nos casos da
alínea e) - PCS defende que podem ainda ser fundamento causas, análogas às tipificadas, em que a
injustiça seja insuportável;
● Prazo → O recurso de revisão pode ser intentado até 5 anos contados desde o trânsito em julgado
(A.697º2);
● Regime previsto no A.697º;
● Instrução prevista no A.699º.

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Sucumbência → Medida em que a ação foi desfavorável à parte que pretende recorres (Ex: A pede indemnização de
35.000€ e são concedidos 30.000€. A sucumbência será de 5.000€)
297º2 visa determinar a quantificação e custas processuaias e não influenciar a recorribolidade das decis~es

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