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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 11ª

VARA CÍVEL DA COMARCA DE CAMPO GRANDE/MS

Processo nº 0836046-44.2020.8.12.0001

NANCY FERNANDES DA ROCHA GONÇALVES, já qualificada


nos autos em epígrafe, que move em face de ÁGUAS GUARIROBA S.A,
também qualificada, vem respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, em resposta ao despacho de f. 311, manifestar-se acerca do
Laudo Pericial de f. 283-308.

O Laudo Pericial foi inconclusivo, não foi possível aferir a causa


do aumento no consumo, até porque a requerida efetuou a troca do
hidrômetro antes da perícia técnica, porém as respostas de alguns dos
quesitos são determinantes para descartar que tenha sido causado por
um vazamento como a ré insiste em sugerir, vejamos:

“QUESITOS FORMULADOS PELO REQUERENTE (fl. 205)


Quesito 2: O hidrômetro apresenta defeito?
Resposta 2 Conforme informações trazidas nos autos pela requerida,
fls. 269/281, o hidrômetro que se remete à época das faturas
reclamadas foi removido e substituído em razão de manutenção
preventiva. Contudo, não foi apresentado laudo de aferição que
pudesse atestar se havia algum defeito no aparelho.

Quesito 4 É possível que o hidrômetro registre a passagem de ar


como consumo de água?
Resposta 4 Sim

Quesito 5 Há indícios de vazamento no imóvel periciado?


Resposta 5 Na data da vistoria realizada no imóvel, não foram
constatadas evidências ou indícios de vazamento.

Quesito 6 É possível que defeitos nas instalações hidráulicas


causem um consumo de água no montante de 92.000 litros em
um único mês?
Resposta 6 De acordo com Qassim (1994)2, estima-se que
vazamentos possam resultar no consumo de 10 a 1000 litros por
dia, ou seja,300 a 30.000 litros por mês. Portanto, presume-se
que seja improvável que defeitos ocultos nas instalações
hidráulicas causem um consumo no montante de 92.000 litros
em um único mês.

Quesito 7 É possível que um vazamento da magnitude citada no


quesito anterior passe despercebido e não cause danos no
imóvel?
Resposta 7 Sabe-se que, grande parte da tubulação hidráulica de
água fria em uma residência fica acometida em paredes, pisos e teto,
restando poucas partes expostas onde seria de fácil constatação
algum tipo de vazamento. Manifestações patológicas em
revestimentos, estruturas etc. poderiam apontar casos de infiltrações
decorrentes de vazamentos nas instalações. Em hipótese ao
vazamento mencionado, não seria possível que um vazamento da
magnitude apontada não causasse danos notáveis no imóvel.

Quesito 8 Se a resposta do quesito anterior for não, existem danos


no imóvel que indiquem que houve vazamento?
Resposta 8 Na data da vistoria realizada no imóvel, não foram
constatadas evidências ou indícios de vazamento, tampouco
danos no imóvel que pudessem decorrer de tal anomalia.” – gn.

Além disso, pelas conclusões do perito, claramente o consumo


de 92m³/mês (noventa e três milímetros cúbicos de água por mês) é
incompatível com a média de consumo, bem como que é impossível aferir
se a elevação do consumo ocorreu por defeito no hidrômetro, pois a
requerida efetuou a troca do mesmo em agosto de 2021, e isso tornou
impossível dizer com precisão qual a razão do aumento pontual no
consumo, vejamos:

“09 – CONCLUSÃO:
01- Com base em todo o exposto no decorrer deste laudo, verificou-
se para a unidade consumidora 17251045-7, sito à Rua
Caburé, nº 45, bairro Monte Castelo, Campo Grande/MS, um
consumo estimado com base nas constatações e
informações da vistoria realizada em 24 de fevereiro de
2022 de 10 m³/mês;
02- O consumo registrado em setembro de 2020 (92 m³) é
incompatível com o consumo médio registrado nos
períodos regulares anterior e posterior, bem como
demonstrou incompatível com o consumo médio estimado;
03- Todavia, não foi possível atestar a regularidade do
hidrômetro instalado à época, dado que foi retirado pela
concessionária requerida em agosto/2021, não sendo
possível concluir se há relação entre a elevação do consumo
e alguma eventual irregularidade no aparelho;
04- Ainda, não foi possível concluir de maneira objetiva qual a
razão da variação do consumo naquele mês, que pode ter
decorrido de fatores de responsabilidade da requerente,
assim como da requerida, conforme demonstrado no decorrer
deste laudo;” – gn.

Insta salientar que em razão do direito a inversão do ônus da


prova, cabe a concessionária de serviços de água e esgoto demonstrar o
consumo alegado, fato do qual a ré não se desincumbiu, e mesmo após a
perícia técnica não obteve êxito em apresentar fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito da autora, de modo que a cobrança
exorbitante é infundada e incabível.
Nesse sentido:

“E M E N T A - AGRAVO REGIMENTAL EM APELAÇÃO -


AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - FATURA DE
ÁGUA COM VALOR EXORBITANTE - ALEGAÇÃO DE
CERCEAMENTO DE DEFESA - INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA - REGIMENTAL NÃO PROVIDO. Em razão do
princípio da inversão do ônus da prova em favor do
consumidor, INCUMBE À PRESTADORA DO SERVIÇO A
DEMONSTRAÇÃO DE QUE HOUVE O EFETIVO
CONSUMO DA ÁGUA que é cobrada, dada a notória
hipossuficiência do consumidor amparada por uma
presunção legal. A prova de que o hidrômetro foi aferido
sem que fosse constatada nenhuma irregularidade não
aproveita à concessionária de serviço como forma de
justificar uma cobrança exorbitante de consumo de água,
pois trata-se de prova unilateral, feita sem a participação
do consumidor, mormente quando existe uma cobrança de
um súbito consumo que foge à linha do razoável e do
proporcional. (TJ-MS - AGR: 01026633920088120001 MS
0102663-39.2008.8.12.0001, Relator: Desª. Tânia Garcia
de Freitas Borges, Data de Julgamento: 29/01/2013, 2ª
Câmara Cível, Data de Publicação: 13/02/2013)”. – gn.

“PROCESSO CIVIL E CONSUMIDOR. AÇÃO ANULATÓRIA


DE COBRANÇA. FATURA DE ÁGUA. VALOR
EXORBITANTE. ONUS DA PROVA. NÃO DESINCUMBIU.
MÉDIA DO CONSUMO. 1. A demonstração de cobrança
exorbitante, que não encontra correspondência em
quaisquer outras faturas de água anteriores relativas
ao imóvel, acarreta o dever da Companhia de
Saneamento Ambiental de demonstrar a ocorrência de
mudanças na rotina do consumidor, que justifiquem o
aumento desarrazoado no fornecimento de água. Na
hipótese, a ré não se desincumbiu do seu ônus
probatório de comprovar, nos termos do art. 373,
inciso II, do CPC, fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor. Desse modo, as faturas
devem ser revisadas, observando-se a média de
consumo da unidade nos últimos 6 (seis) meses,
conforme precedentes deste eg. Tribunal. 2. Recurso
conhecido e provido.Unânime. (TJ-DF
07041341320178070018 DF 0704134-
13.2017.8.07.0018, Relator: ROMEU GONZAGA NEIVA,
Data de Julgamento: 15/05/2019, 7ª Turma Cível, Data
de Publicação: Publicado no PJe : 16/05/2019 . Pág.: Sem
Página Cadastrada.)”. – gn.
Desse modo, já que a responsabilidade era única e exclusiva da
concessionária de serviços de água de esgoto Águas Guariroba S/A de
comprovar que houve efetivamente o consumo que está sendo cobrado,
cabendo à requerida demonstrar provas em contrário ao que foi exposto
pela autora, uma vez que restou configurada a cobrança absurda,
abusiva e principalmente EXORBITANTE, bem como o inegável fato de
que a requerente é hipossuficiente financeiramente, o que não fez,
devendo ser condenada nos termos da inicial.

I – DA MA-FÉ

O art. 80, incisos I e II do Código de Processo Civil prevê a


litigância de má-fé pela dedução de pretensão ou defesa de fato
incontroverso e pela alteração da verdade dos fatos, in verbis:

“Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:


I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou
fato incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;” – GN.

No caso dos autos, a requerida incorreu na hipótese de


litigância de má-fé supramencionada, conforme será demonstrado
adiante.

A ré apresentou Laudo Técnico do assistente que acompanhou


a perícia às f. 317-320, e o técnico insiste em apontar um suposto
vazamento de proporções gigantescas, de imensa magnitude, que o
próprio perito disse ser impossível passar despercebido e que causaria
danos significativos ao imóvel periciado.

Além disso, o Técnico da requerida afirma que o volume


registrado pelo hidrômetro que foi trocado e destruído seria ainda maior,
pois o mesmo apresentou erro de sub medição, favorecendo a autora, sem
fazer prova de suas alegações, numa tentativa vil de distorcer a
veracidade dos fatos.

A má-fé resta configurada não só numa tentativa sorrateira da


requerida de distorcer o Laudo Pericial, mas também cinge-se no fato da
ré deduzir uma defesa baseada num hidrômetro que não existe e ainda
insinuar que a autora foi supostamente favorecida por ele.

Assim sendo, a requerida merece ser condenada pela litigância


de má-fé, devendo ser aplicadas as multas cabíveis.

II – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

a) A condenação da requerida ÁGUAS GUARIROBA S.A pela


LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ pela alteração da verdade dos fatos,
aplicando-se as multas cabíveis, em conformidade com os arts.
79, 80 e 81 do CPC.

b) A Procedência da ação com a condenação da requerida ao


pagamento de INDENIZAÇÃO POR DANNOS MORAIS no valor
de R$ 30.000,00 (trinta mil reais);

c) A condenação da requerida a revisar as contas contestadas


nessa demanda, procedendo a cobrança conforme a média de
consumo dos últimos 06 (seis) meses;

d) A declaração da INEXIGIBILIDADE DO DÉBITO


EXORBITANTE com consequente DESCONSTITUIÇÃO da
cobrança no que exceder o valor da média de consumo;
e) A condenação da ré ao pagamento de eventuais custas
processuais;

f) A condenação da ré ao pagamento de honorários


advocatícios de sucumbência no valor de 20% (vinte por cento)
da condenação conforme art. 85, §2º e §3º do CPC;

Nestes termos, pede e espera Deferimento.

Campo Grande, 19 de maio de 2022

GIOVANNA FERNANDES DA ROCHA GONÇALVES


OAB/MS Nº 20798

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