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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA DA

VARA DA COMARCA DE GOIÂNIA-GO

KARLA PATRÍCIA FERNANDES DA SILVA brasileiro, solteira, Advogada, inscrito no CPF de nº.
71935509187, residente e domiciliado à Rua Narayola (Doc. 01 – Procuração/RG/CPF), vem,
perante Vossa Excelência, através de seu advogado devidamente constituído no instrumento
procuratório em anexo, com endereço profissional sito à Rua XXXXXXXXXXXXXXX, João Pessoa
– PB, com fulcro na legislação constitucional e infraconstitucional ajuizar a presente AÇÃO DE
DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO COM PEDIDO LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS
em face de (a) CAGEPA – COMPANHIA DE AGUA E ESGOTO DO ESTADO DE GOIÁS, pessoa
jurídica inscrita no CNPJ sob o nº 18.123.402/0001-49, localizada na Avenida Goiás, n°305- 3°
andar- Setor Central - Goiânia/Goiás – CEP 74005-010, pelas razões de fato e de direito a
seguir delineadas.

I - DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

A nossa Carta Magna assegura às pessoas o acesso ao Judiciário, senão vejamos:

“CF/88 – Art. 5º - LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos”.

Neste caminho, a Lei 1.060/50 também garante a assistência judiciária à parte processual,
verbis:

“Art. 4º. A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, mediante simples afirmação,
na própria petição inicial, de que não está em condições de pagar à custa do processo e os
honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família”.

Verifica-se, pois, do cotejo dos dispositivos legais acima transcritos, com a declaração de
hipossuficiência financeira em anexo, que a promovente tem direito e requer os benefícios da
JUSTIÇA GRATUITA, pois não possui condições para, sem o prejuízo de sua manutenção e de
sua família, arcar com as custas do processo.
II - DOS FATOS

O promovente é inquilina do imóvel o qual se discute o débito e, embora seja do apenas


inquilina, seus direitos está envolvidos, haja vista a iminência do corte de fornecimento de
água em razão da impossibilidade de pagamento (conta de água de mais de dezesseis mil
reais), conforme se explicará a seguir.

Pois bem. Em meados de Outubro deste ano, o promovente recebeu uma ligação de seu
inquilino dizendo que a conta de água veio zerada. O autor, na qualidade de proprietário, foi a
CAGEPA no dia seguinte para tentar descobrir o que houve e solicitar uma averiguação do
medidor.

De acordo com a CAGEPA, a razão de ter sido zerada a contada foi em razão de excesso de
consumo (? Então deveria vir alta e não zerada, concorda, Exa.?!) e o prazo para a visita
técnica seria de 10 (dez) dias.

No entanto, demorou 40 (quarenta) dias para a CAGEPA ir até o imóvel, intencionalmente ou


não, conforme se comprova através dos documentos em anexo (Doc. __ protocolo de
solicitação e Ordem de serviço).

Pois bem. Após constatar o hidrômetro e apesar de ele estar “zerado”, os funcionários
informaram ao autor que havia um vazamento, mas que a responsabilidade era do
proprietário, uma vez que era dentro da residência, e foram embora.

No outro dia, o autor chamou um encanador particular, procurou, encontrou e consertou o


vazamento e informou à CAGEPA que foi consertado (vídeos e prints em anexo), arcando com
os custos do encanador.

Porém, alguns dias depois chegaram contas de água com vencimentos para 21/11/2016
(vencida) 28/11/2016 e 05/12/2016, cujos valores ultrapassam R$ 16.000,00 (dezesseis mil
reais), embora a média mensal da residência do promovente de R$ 100,00 (cem reais),
conforme se constata dos documentos em anexo.

Sem saber o que fazer e impossibilitado de pagar esta quantia, pois não tem o dinheiro, bem
como sequer esteve na casa e, ainda, não consumiu a água, o promovente e consumidor vem
às portas do Judiciário suplicar por JUSTIÇA!

Eis, em suma, os fatos.


III – LIMINARMENTE

DA INEXISTÊNCIA DE DÉBITO E IMPERIOSA ABSTENÇÃO DA RESTRIÇÃO NEGATIVA DO NOME.

Conforme explicado, o cerne da questão trata do valor absurdo atualmente cobrado pela
CAGEPA, em virtude do ocorrido, bem como de suas consequências jurídicas em razão disso.

A promovida, no afã de compensar a omissão de sua responsabilidade, atribuiu o valor


máximo à conta de água que veio zerada, inclusive consta no documento a numeração máxima
“99999999999” m³, valor este que nem um condomínio com 48 aptos consegue atingir.

Ou seja, é óbvio que a cobrança foi inserida manualmente, em 03 contas, duas de novembro e
uma de dezembro, totalizando a soma de R$ 16.547,36 (dezesseis mil quinhentos e quarenta e
sete reais e trinta e seis centavos).

Por outro lado, ironicamente bem perto da casa que o Sr. Ronaldo mora atualmente há um
vazamento no meio da via, o que demonstra a desídia da Sra. CAGEPA em cuidar da
manutenção e abastecimento d’água ao povo paraibano, em um vídeo que poderá ser visto
por Vossa Excelência e que constam dos autos em anexo.

Deste modo, requer-se a Vossa Excelência que, diante do arsenal comprobatório em anexo,
bem como em razão da iminência de ter o corte de água e seu nome negativado, determine à
promovida:

i. Que se abstenha de cortar o fornecimento de água, haja vista a iminência de atingir o direito
de terceiros (família do inquilino), sob pena de multa diária de R$ 500,00 (quinhentos reais),
em caso de descumprimento, até decisão ulterior; e

ii. Que se abstenha de negativar o nome do autor, em virtude da impossibilidade de realizar o


pagamento de uma soma tão elevada, sob pena de multa diária de R$ 500,00 (quinhentos
reais), até que sobrevenha decisão diversa.

IV. DO MÉRITO

DA INEXISTÊNCIA DE DÉBITO
É notório que a responsabilidade e competência de manutenção de água e esgoto é da
CAGEPA, tratando-se inclusive de relação de consumo, haja vista haver a figura do fornecedor
de produto (água) e serviços (manutenção), bem como destinatário, o promovente e demais
usuários.

O fato é que o demandante não poderia descobrir a existência de um vazamento, não fosse a
conta zerada e sua ida à CAGEPA solicitar uma visita técnica.

Porém, o autor sequer estava na casa, uma vez que descobriu através de seu inquilino, e estes
também não utilizaram a água que vazou, não podendo se responsabilizar por algo que não
deram causa.

Isto posto, deve a ação ser julgada procedente e o débito ser declarado inexistente, havendo
uma correta medição do consumo ou, caso seja impossível, que as contas sejam contabilizadas
de acordo com a média do consumo, na forma da Lei e do entendimento jurisprudencial.

V. DA NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO REAL CONSUMO

Vale registrar que a cobrança referente à água deve ser atrelada ao consumo real, o que no
caso dos autos não aconteceu, uma vez que os vídeos e fotos em anexo demonstram que o
vazamento foi descoberto recentemente, havendo inclusive quebra de piso para descobrir
onde era.

Ou seja, o promovente descobriu somente após verificar in loco o vazamento, sem sequer
saber ou usar da água perdida.

Além do mais, percebe-se uma falha do hidrômetro, uma vez que não registrou o que saiu pelo
vazamento e, para supostamente evitar toda a perda financeira de água, a CAGEPA
unilateralmente atribui a culpa e custo exorbitante ao consumidor.

Entretanto, resta comprovada a ausência de consumo, motivo pelo qual se faz imperioso
declarar inexistente o débito atual, revisando-se as faturas para as médias de consumo,
conforme entendimento jurisprudencial, senão vejamos:

E M E N T A - AGRAVO REGIMENTAL EM APELAÇÃO - AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM


PAGAMENTO - FATURA DE ÁGUA COM VALOR EXORBITANTE - ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO
DE DEFESA - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - REGIMENTAL NÃO PROVIDO. Em razão do
princípio da inversão do ônus da prova em favor do consumidor, incumbe à prestadora do
serviço a demonstração de que houve o efetivo consumo da água que é cobrada, dada a
notória hipossuficiência do consumidor amparada por uma presunção legal. A prova de que o
hidrômetro foi aferido sem que fosse constatada nenhuma irregularidade não aproveita à
concessionária de serviço como forma de justificar uma cobrança exorbitante de consumo de
água, pois trata-se de prova unilateral, feita sem a participação do consumidor, mormente
quando existe uma cobrança de um súbito consumo que foge à linha do razoável e do
proporcional.

(TJ-MS - AGR: 01026633920088120001 MS 0102663-39.2008.8.12.0001, Relator: Desª. Tânia


Garcia de Freitas Borges, Data de Julgamento: 29/01/2013, 2ª Câmara Cível, Data de
Publicação: 13/02/2013).

Vejamos o entendimento recente do TJPB para um caso semelhante:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE CANCELAMENTO DE COBRANÇA C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS. IRREGULARIDADE NO MEDIDOR DE ENERGIA ELÉTRICA. RECUPERAÇÃO DE
CONSUMO. INTELIGÊNCIA DO ART. 105 DA RESOLUÇÃO 414/2010 DA ANEEL. AUSÊNCIA DE
RESPONSABILIDADE DO CONSUMIDOR. NÃO COMPROVAÇÃO DA SUA CULPA. NÃO
REALIZAÇÃO DE PERÍCIA. DÉBITO APURADO UNILATERALMENTE. VIOLAÇÃO AO DEVIDO
PROCESSO LEGAL E À AMPLA DEFESA. IMPOSSIBILIDADE. CORTE NO FORNECIMENTO DA
ENERGIA. DANO MORAL CONFIGURADO. ENTENDIMENTO DA CORTE DOMÉSTICA.
SEGUIMENTO NEGADO. - Não tendo a distribuidora de energia elétrica, quando da adoção do
procedimento para a caracterização de irregularidades e consequente apuração do consumo
não faturado ou faturado a menor, observado todos os requisitos legais necessários, conforme
estabelecido nas resoluções nº 414/2010 e nº 479/ 2012 da ANEEL, encontra-se viciada a
eventual perícia realizada pela apelante, não havendo como imputar ao consumidor os valores
cobrados a título da diferença de consumo alegada. A indenização por dano moral deve ser
fixada segundo os critérios da razoabilidade e proporcionalidade, observando-se, ainda, as
peculiaridades do caso concreto e, tendo sido observados tais critérios quando da fixação do
quantum indenizatório, é de se manter o valor estabelecido na sentença. (TJPB; APL 0001878-
62.2013.815.0631; Quarta Câmara Especializada Cível; Rel. Des. Marcos William de Oliveira;
DJPB 04/08/20 (TJPB - ACÓRDÃO/DECISÃO do Processo Nº 00008954320128150261, - Não
possui -, Relator DES SAULO HENRIQUES DE SÁ E BENEVIDES, j. Em 24-08-2015).

(TJ-PB - APL: 00008954320128150261 0000895-43.2012.815.0261, Relator: DES SAULO


HENRIQUES DE SÁ E BENEVIDES, data de Julgamento: 24/08/2015, 3 CIVEL).

E mais:
Declaratória. Remoção do cavalete de água e hidrô- metro. Cobrança de água elevada. Ligação
clandesti na efetuada pelo vizinho da autora. Reconvenção. Procedência das ações principal e
cautelar. Improce- dência da reconvenção. Apelação. Fraude caracteri zada. Cobrança em
nome da autora equivocada. Erro da ré. Sentença mantida. Recurso improvido..

(TJ-SP - APL: 7149740600 SP, Relator: Virgilio de Oliveira Júnior, Data de Julgamento:
19/11/2008, 14ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 10/12/2008).

Requer-se, portanto, a declaração de inexistência do débito atualmente cobrado (faturas em


anexo), revisando-se as faturas para as médias de consumo, conforme previsto na Lei e nos
moldes do majoritário entendimento jurisprudencial.

VI – DO MÉRITO

A) DO DEVER DE INDENIZAR

A conduta da empresa promovida, através falha do registro do hidrômetro, bem como a


demora (30 dias além do previsto) para realizar a visita técnica culminaram em uma série de
aborrecimentos e danos patrimoniais ao promovente, senão vejamos:

i. O autor teve que gastar com encanador;

ii. Teve que se deslocar até a CAGEPA;

iii. Tomou um susto e ficou sem saber o que fazer ao se deparar com as contas absurdas que
recebeu;

iv. Necessitou consultar e contratar um advogado para saber o que fazer.

Verifica-se, portanto, que a conduta ilícita da promovida extrapolou e muito os limites do


normal, haja vista que a responsabilidade para manutenção de agua e esgoto é exclusivamente
sua.

Assim, todos os requisitos da responsabilidade civil e do dever de indenizar estão presentes,


conforme art. 927 do Código Civil, tendo em vista que a conduta/ação da promovida gerou
vários dissabores ao promovente, haja vista a surpresa, perda de tempo, stress, dentre outros.
Logo, estão presentes a ação, o nexo de causalidade e o dano, razão pela qual a indenização é
devida, rogando a Vossa Excelência para que julgue procedente a demanda e determine uma
indenização por danos morais que deverá ser arbitrada, levando-se em consideração os fatos e
provas apresentados.

V – REQUERIMENTOS FINAIS

Ante o exposto, e confiante na Justiça, requer-se a Vossa Excelência LIMINARMENTE E


INAUDITA ALTERA PARS:

i. A determinação à CAGEPA para se abster de cortar o fornecimento de água, inserindo na


ordem multa diária de R$ 500,00 (quinhentos reais) por descumprimento;

ii. Que determine à promovida que se abstenha de negativar o nome do autor, em razão de
sua impossibilidade de pagar um valor absurdo, também sob pena de multa diária;

Ø O deferimento do benefício da assistência judiciária gratuita;

Ø A citação da demandada para, querendo, apresentar defesa;

Ø NO MÉRITO, após a devida instrução processual, a DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DO


DÉBITO COBRADO, referente às contas exorbitantes, determinando o recálculo de acordo com
a média de consumo dos meses anteriores, na forma da Lei;

Ø Condenação da promovida ao pagamento de uma INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, cujo


montante deverá ser arbitrado por V. Exa.

Ø Por fim, a condenação em custas e honorários advocatícios, na forma da Lei.

Protesta provar o alegado através de todos os meios permitidos em Direito, especialmente


pela oitiva das partes e juntada de novos documentos.

Atribui-se à causa o valor de R$ 16.000,00 (dezesseis mil reais) para efeitos fiscais.
Nesses Termos,
Pede Deferimento.

Senador Canedo, de 2023.

KARLA PATRÍCIA FERNANDES DA SILVA


OAB/GO nº 67.973

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