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EXMO(A). SR(A). DR.

(A) JUIZ(A) DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE


NOVA SERRANA - MG.

GABRIEL FLÁVIO DE SOUZA LACERDA, brasileiro, solteiro, estagiário, portador Carteira


de Identidade MG –00005151282004 OMT, inscrito no CPF sob o nº 138.473.586.00,
residente e domiciliado na Rua Gumercindo Martins, nº 1901, bairro Santa Luzia, CEP:
35527-820 , na cidade de Nova Serrana – MG, vem respeitosamente à presença de V.
Exa., propor

AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS

contra COPASA – COMPANHIA DE SANEAMENTO DE MINAS GERAIS, empresa inscrita


no CNPJ sob o n. 17.281.106/0001-03, localizada na Rua Dimas Guimarães, nº 641, Loja
03, Centro, CEP: 35.520-012, na cidade de Nova Serrana /MG, Telefone: (37) 3525 –
2518, pelo que passa a expor:

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Inicialmente a parte Autora requer a Vossa Excelência a concessão de gratuidade de


justiça, nos termos do art. 5º, inciso LXXIV da Constituição Federal e artigo 98 e seguintes
do NCPC, por ser hipossuficiente economicamente, não podendo arcar com as custas
processuais e honorários advocatícios sem prejuízo de seu sustento e da família.

DA LEGITIMIDADE ATIVA

Nobre Julgador, a parte Autora acostou aos autos, documento apto a comprovar a sua
residência no imóvel cuja Ré presta os seus serviços (abastecimento de água). Na
mesma esteira, para que o cidadão possa pleitear a indenização posta à baila
(legitimidade ativa), necessária apenas a comprovação da sua residência no imóvel que
sofre com o desabastecimento de água, sendo certo, no caso vertente, houve tal
comprovação. Com efeito, estamos diante de legitimidade ativa concorrente (disjuntiva),
ou seja, clarividente a tutela de um direito individual do cidadão.

No mesmo sentido, nos socorremos da Teoria da Asserção para sacramentar a


legitimidade ativa, com isso, repise-se, comprovada a residência no imóvel, temos
configurada a relação jurídica entre as partes.

Portanto, todas as pessoas que sejam usuárias do serviço público (fornecimento de


água) residentes no imóvel, possuem legitimidade ativa ad causam para demandar contra
a empresa prestadora de serviço.

Vejamos o posicionamento do TJMG, proferido em recentes julgamentos, nas Apelações


Cíveis 1.0000.21.202683-5/001 e 1.0000.21.210758-5/001:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - FALHA


NOS SERVIÇOS DE FORNECIMENTO DE ÁGUA - PARTES MENORES DE IDADE QUE
NÃO SÃO TITULARES DOS CONTRATOS FIRMADOS COM A COPASA-
ILEGITIMIDADE ATIVA - AFASTADA - TEORIA DA ASSERÇÃO - VIOLAÇÃO DOS ARTS.
9º E 10º DO CPC - GARANTIA DA NÃO SURPRESA - SENTENÇA CASSADA.

- Em tendo os autores afirmado que, na condição de consumidores dos serviços de


fornecimento de água prestados pela COPASA, sofreram danos de natureza material, é
de se reconhecer, pela Teoria da Asserção, sua deles legitimidade para ajuizar a
demanda.

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS -


RESPONSABILIDADE CIVIL - CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO - COPASA -
INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO DE ÁGUA - MUNICÍPIO DE NANUQUE -
PRELIMINARES - CERCEAMENTO DE DEFESA - NÃO CONFIGURADO - VIOLAÇÃO
AO CONTRADITÓRIO - INEXISTÊNCIA - ILEGITIMIDADE ATIVA NÃO RECONHECIDA -
FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO – INEXISTÊNCIA DE EQUIPAMENTO
RESERVA - EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE - INEXISTÊNCIA - FORTUITO
INTERNO - DANOS MORAIS PRESUMIDOS – JUROS DE MORA -
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL - INCIDÊNCIA A PARTIR DA CITAÇÃO -
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
(...)
2 - Estando presentes elementos mínimos aptos a demonstrar a condição de usuário dos
apelados, bem como a residência no local onde ocorreu a interrupção dos serviços, é de
se reconhecer a legitimidade ativa.

Com efeito, quem sofre com o desabastecimento de água, não é apenas o titular da
fatura, mas sim, todas as pessoas que coabitam a residência.

Urge salientar que não se trata de relação contratual pura e simples, mas, relação de
consumo de um serviço de concessão pública, qual seja, fornecimento/abastecimento de
água à população local.

DOS FATOS

A Requerida é a empresa responsável pelo abastecimento de água tratada e a gestão de


resíduos sólidos com a coleta e tratamento de esgoto sanitário, fato que resta
comprovado pelo conteúdo da conta/fatura encaminhada mensalmente aos usuários dos
serviços prestados pela Ré.

Nobre Julgador, sistematicamente vem ocorrendo a interrupção do fornecimento de água


na residência da parte Requerente.

Urge salientar, que tal fato, ocorre na maioria das vezes aos finais de semana, contudo,
de forma menos intensa, também temos a interrupção do fornecimento de água em dias
úteis.

Importante destacar que a Requerida não notifica o consumidor sobre o “corte” no


abastecimento de água.

Evidentemente, estamos diante de uma flagrante falha na prestação dos serviços,


obrigando o consumidor a promover as mais diversas soluções em razão do
desabastecimento de água em sua residência.
Com efeito, não tendo água em sua residência sequer para as necessidades básicas, a
parte Autora é obrigada a se socorrer na casa de parentes ou mesmo amigos.

Em razão da ausência de água em sua residência, a parte Requerente não tem condições
de efetuar tarefas básicas do cotidiano, como por exemplo, lavar roupas, lavar os
utensílios domésticos e, principalmente, fazer as suas necessidades básicas, como tomar
um banho, utilizar o vaso sanitário, escovar os dentes, etc.

A situação se agrava quando os cidadãos possuem crianças/filhos em sua residência


tendo em vista, se tratar de uma habitação familiar.

Ora, inegavelmente, ter que realizar as suas necessidas básicas em casa de parentes ou
amigos, enseja um enorme constrangimento à parte Autora. Ainda mais, quando este fato
passa a não ser uma excepcionalidade, mas sim, corriqueiro, gerando incontáveis
transtornos.

A interrupção de água, sem prévio aviso, ocorreu por mais de 20 (vinte) vezes nos últimos
meses, chegando ao absurdo de ficar por mais de 05 (cinco) dias consecutivos sem o
abastecimento de água.

Urge salientar que, com a falta de abastecimento de água, a Requerida, às vezes, envia
caminhões pipas para “encher” a caixa d’água das casas, contudo, além de não sanar o
problema, a água trazida pelos caminhões pipas é de qualidade duvidosa, haja vista
possuir um odor forte e fétido.

Sendo assim, indubitavelmente, estamos diante de grave abalo moral à parte Requerente,
não se tratando de mero dissabor.

Com isto, resta configurado a falha na prestação de serviço e, o flagrante abalo moral da
parte Requerente, ou seja, resta patente o dano moral e o dever em indenizar.

DA AÇÃO CÍVIL PÚBLICA Nº 5000222-81.2019.8.13.0452 – CONFISSÃO

Nobre Julgador, tramita nesta Comarca a Ação Civil pública nº 5000222-


81.2019.8.13.0452 com a finalidade de se verificar a ineficaz prestação de serviços da Ré
quanto ao abastecimento de água neste município
O I. Julgador prolatou r. Sentença condenando a Requerida em danos morais coletivos
em favor do Município de Nova Serrana.

Assim, clarividente a responsabilidade objetiva da Ré em responder por todos os


desabastecimentos de água ocorridos nas residências dos munícipes.

Impende salientar que o desabastecimento de água ocorrido entre os dias 13/05/2020 e


17/05/2020 (que ensejou a supracitada Ação Civil Pública), é fato público e notório, sendo
inclusive, confessado pela Requerida, em anexo.

Repita-se à exaustão, o desabastecimento de água não foi em local isolado (um ou outro
bairro), mas sim, em todo o município de Nova Serrana, fato este incontroverso nos autos.

Assim, prescinde de prova o desabastecimento de água na residência da parte Autora,


haja vista a confissão da Requerida. No supracitado documento, a Ré assevera que
houve a queima de conjunto de motobomba e, posteriormente, a quebra do eixo de um
dos motores.

Com efeito, as afirmações da Requerida, contudo, não são capazes de ilidir a sua culpa e
responsabilidade.

Ainda, o simples envio de caminhões-pipa para tentar efetuar o abastecimento nas


residências é medida ineficaz, que, não tem o condão de afastar a responsabilidade e o
dever de indenizar.

Ora, 05 (cinco) dias para retomar o abastecimento de água em uma cidade com quase
100 mil habitantes é absurdo!

Evidentemente, caberia a Ré investir em equipamentos e infraestrutura para suportar


ocorrências como a supramencionada.

O i. Juiz, Dr. Rômulo, determinou, no processo supramencionado, a realização da prova


pericial, com o escopo de se avaliar o abastecimento de água prestado pela Requerida.

Com efeito, o laudo pericial deveria avaliar a falta d’água, em toda a cidade de Nova
Serrana, ocorrida entre os dias 13/05/2020 e 17/05/2020.
Pois bem, o exame pericial, produzido no processo judicial 5000222- 81.2019.8.13.0452
é, amplamente, desfavorável a Ré.

Do supracitado laudo pericial, pode-se depreender o seguinte:

• A ETA (Estação de Tratamento de Água) entrou em operação apenas em março de


2019 (pg. 24);

• A Copasa não concluiu todas as obras (pg. 99 e 121);

• As obras concluídas tiveram atraso de, aproximadamente, 01 (um) ano (pg. 99 e


121);

• Em entrevistas realizadas com cidadãos, praticamente, todos apontaram o


desabastecimento de água em suas residências, inclusive durante a pandemia do
COVID19;

• Todos os entrevistados ainda sofrem com falhas constantes no desabastecimento


de água (pg. 111);

• A Ré admite a falha na prestação dos serviços de abastecimento de água no


município de Nova Serrana (pg. 112);

• Desde 2010 a Copasa tinha ciência de que a reservação era limitada e


insuficiente, sendo que, a Ré somente iniciou obras de melhoria e infraestrutura em
2016, com conclusão parcial, apenas em dezembro 2019 (pg. 116 e 121);

• O projetista subestimou o uso per capto, diário, por habitante (pg. 117);

• A ineficácia do SAA ocorre pela ausência de conjuntos motobomba reserva em


algumas das elevatórios/booster’s (pg. 117 e 121);

• Vários conjuntos motobomba apresentam defeitos com frequência ou possuem


capacidade menor do que a necessária (pg. 119);
Importante a transcrição de alguns pontos específicos, vejamos:

Em observação a tal pesquisa verifica-se que, todos os usuários entrevistados ainda


sofrem por falhas constantes no abastecimento de água (...). (pg. 111)

São diversas as causas que levam ao problema de desabastecimento do município de


Nova Serrana. Problema este admitido pela Ré (...) (pg. 112)

Outro fator que influência na ineficiência do SAA de Nova Serrana é a não existência de
conjuntos motobombas reservas em algumas das elevatórios/booster’s, pois em caso de
danificação e/ou falhas destes únicos conjuntos de motobombas a reservação, bem como
a distribuição poderá ser significativamente comprometida. (pg. 117)

Apesar dos investimentos e obras já executadas pela Ré, o SAA ainda apresenta
deficiências como insuficiência de reservação (Ver Tabela 3) e ausência de conjunto
motobomba reserva em algumas elevatórias e booster’s. (pg. 121)

A Ré somente iniciou as obras de ampliação do sistema de abastecimento, em 2016,


obras estas que foram parcialmente concluídas em dezembro de 2019, após um atraso de
um ano devido recorrentes alterações de projeto; (pg. 121)

A conclusão da Perita fulmina toda e qualquer a tese de Defesa apresentada pela Copasa
(caso fortuito ou força maior). No mesmo sentido, a Perita deixa clarividente a negligência
da Ré, ao responder o quesito 3, formulado pelo Ministério Público, vejamos:

3) Houve negligência da ré quanto ao desabastecimento de água por ela mesmo


admitido no período de 13/5/2020 a 17/5/2020? Resposta: Sim. (Ressaltamos)

Assim, resta patente o ato ilícito (falha na prestação de serviço), a lesão, bem como, o
dever em indenizar.

Urge salientar que no caso em espeque, perfeitamente, admissível a utilização da prova


pericial emprestada, produzida no bojo da Ação Civil pública nº 5000222-
81.2019.8.13.0452, ainda mais, pelo fato de tal prova, ter sido foi produzida sob o crivo do
contraditório, com a participação da Requerida, o que, desde já fica requerido.

DA CPI CONTRA A COPASA REALIZADA NESTA COMARCA


Nobre Julgador, a Câmara Municipal instaurou CPI com a finalidade de investigar a parte
Ré.

No relatório final da CPI, restou patente que:


• Há quase 07 (sete) anos a população de Nova Serrana sofre com os constantes
episódios de desabastecimento de água;
• Diversas interrupções não foram programadas e prolongaram-se por períodos
superiores a 24 horas, chegando a contar dias em algumas ocasiões;
• Os períodos de desabastecimento oneraram financeiramente os usuários, pois o
ar nas tubulações fez com que os hidrômetros continuassem a girar, mesmo nos
momentos de falta d’água;
• As reclamações dos usuários não se concentram em locais específicos, tornando-
se generalizadas.

Portanto, resta cristalino a má prestação dos serviços da Requerida e a absurda falta


d’água, de forma generalizada, na cidade de Nova Serrana.

DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Nobre Julgador, inegável que estamos diante de um concessionário que age como
prestador de serviço público.

No caso concreto estamos diante da responsabilidade civil objetiva, conforme preconiza o


artigo 37, §6º da CF/88, sendo certo, que houve falha na prestação de serviços, tendo em
vista a constante falta d’água.

Vejamos o que dispõe os artigos 927 e 186 do Código Civil.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado
a repará-lo.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
(Ressaltamos e grifamos)
O artigo 175 da CF/88 atrelado ao artigo 6º da Lei Federal 8.987/95 determina que as
concessionárias ou permissionárias de serviço público devem zelar pelo direito dos
usuários, bem como, tem a obrigação de manter o serviço adequado, o que, certamente
não vem ocorrendo nesta cidade e, consequentemente, com a parte Requerente.

Portanto, demonstrada a responsabilidade objetiva da Ré, resta configurado o fato


administrativo, o dano ou lesão e o nexo causal, consequentemente, resta patente a
obrigação de indenizar, cabendo ao cidadão a tutela jurisdicional dos seus direitos.

DA RELAÇÃO DE CONSUMO – INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR – INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Urge salientar que, indubitavelmente, estamos diante de uma relação consumerista, onde,
de um lado temos a parte Autora (consumidora) e, do outro lado, a Requerida
(concessionária de serviço público de água e esgoto) fornecedora de serviços, portanto,
resta patente que as partes, respectivamente, enquadram-se nos conceitos de
consumidor e fornecedor, constantes dos artigos 2º e 3º, da Lei 8.078/90.

Ainda, em consonância com o CDC, especificamente em seu art. 6°, inciso VIII, são
direitos básicos do consumidor, dentre eles, a facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, quando a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiência.

Desta feita, inquestionável, existe uma relação de consumo, com a incidência do Código
de Defesa do Consumidor e, a inversão do ônus da prova, o que, desde já fica requerido.

DA FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS – INCIDÊNCIA DOS ARTIGOS 14 E 22


AMBOS DO CDC

Como acima exposto, estamos diante de uma relação de consumo, com a incidência do
Código de Defesa do Consumidor.

O diploma legal supracitado, em seu artigo 14, disciplina sobre a falha na prestação dos
serviços pelo fornecedor, deixando claro que se trata de responsabilidade objetiva.

Ainda, o fornecedor deve responder pela falha na prestação dos seus serviços.
O supramencionado diploma legal enumera os casos de exclusão de responsabilidade do
fornecedor pelos serviços prestados, sendo certo, que, nenhuma das hipóteses se amolda
ao caso vertente.

Importante destacar que não há que se cogitar em qualquer culpa da parte Autora, nem
caso fortuito ou força maior.

Ora, evidentemente, que, como ocorreu a falta no fornecimento de água por mais de 20
(vezes), ininterruptamente por 05 (cinco) dias consecutivos ou até em período superior,
especialmente, aos finais de semana, resta clarividente que estamos diante de uma
gritante falha na prestação dos serviços.

Repise-se, a falha na prestação dos serviços não é mais excepcional, mas sim, cotidiana
e corriqueira, prejudicando o cidadão e sua família.

No mesmo norte, o artigo 22 do CDC determina que os órgãos públicos, suas empresas,
concessionárias e permissionárias são obrigadas a fornecer os serviços de forma
adequada, eficiente e, quanto aos essenciais, contínuos, o que, reforce-se, não vem
ocorrendo na cidade de Nova Serrana, bem como, no caso concreto.

Portanto, configurada a falha na prestação dos serviços, resta materializada a hipótese de


indenização ao consumidor, mesmo que unicamente por danos morais.

DA RESOLUÇÃO 40/2013 DA ARSAE-MG

Nobre Julgador os artigos 105, 106 e 107 da Resolução Normativa número 40/2013 da
Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário
do Estado de Minas Gerais - ARSAE-MG militam em favor da parte Requerente.

Os diplomas acima mencionados preveem expressamente, que, quando houver


paralisação nos serviços por mais de 12 (doze) horas, o prestador deve divulgar com
antecedência mínima de 03 (três) dias a interrupção nos serviços.

Ainda, quando a paralisação for superior a 12 (doze) horas, o prestador de serviços


deverá fornecer serviços emergenciais aos usuários e, o fornecedor de serviço deve,
obrigatoriamente, comunicar à Ouvidoria da ARSAE-MG, em até 04 (horas) do fato, bem
como, manter banco de dados atualizado, contendo todas as ocorrências superiores a 12
(doze) horas, por município e localidade, número de usuários e população afetada,
duração da paralisação, com data, horário de início e encerramento.

Art. 106 No caso de paralisação do serviço com duração superior a 12 (doze) horas, o
prestador de serviços deverá prover fornecimento de emergência aos usuários que
prestem serviços essenciais à população, definidos no parágrafo único do art. 96 desta
Resolução.
Parágrafo Único. Quando houver paralisação dos serviços com duração superior a 12
(doze) horas, o prestador deverá comunicar à Ouvidoria da ARSAE-MG, por correio
eletrônico, as informações constantes no art. 107 desta Resolução, em até 4 (quatro)
horas da constatação do fato.

Art. 107 O prestador de serviços deverá manter banco de dados atualizado, contendo:
I – ocorrências de paralisações superiores a 12 (doze) horas, por município e
localidade(s) afetada(s);
II – número de usuários e população afetada; e
III – duração da paralisação, com data, horário de início e encerramento das ocorrências.

Portanto, a Ré deve ser compelida (inversão do ônus da prova) a juntar aos autos
relatório contendo as interrupções no endereço ou bairro da parte Autora nos últimos 05
(cinco) anos, sob pena de se tornarem verdadeiros os fatos narrados na exordial.

DO DANO MORAL

Quando se trata de dano moral, entendemos perfeitamente a posição do i. Julgador na


sua difícil missão de quantificar o valor devido aos sofrimentos íntimos a que um ser
humano foi submetido.

Não obstante, no que toca ao dano moral, o entendimento majoritário dispõe que não
existe a necessidade de comprovação probatória.

Prevalece o entendimento de que a indenização por dano moral tem caráter dúplice,
visando à punição do agente infrator e a compensação do ofendido, vejamos.
“A indenização por dano moral tem caráter dúplice, pois tanto visa a punição do agente
quanto a compensação pela dor sofrida... (2.º TACSP – 7ª C. – Ap. – Rel. S. Oscar Feltrin
– j. 01.04.1997 – RT 742/320”.

Quanto ao primeiro termo, por seu peso nas finanças do causador do dano, objetiva-se
dissuadi-lo a não perseverar na prática lesiva, de modo que ele, e outros indivíduos
cientes da decisão, não mais venham a sujeitar outras vítimas à mesma lesão suportada
pelo lesado, tudo com vistas ao objetivo maior de preservar a paz social.

No que concerne ao segundo termo, busca-se atribuir à vítima uma mitigação ao sofrido,
ainda que apenas de forma relativa, dado que o dano moral não tem medida física.

Ora, estamos diante de situação que causa incontáveis transtornos à parte Autora e seus
familiares (marido, esposa, filhos e demais parentes).

A sistemática interrupção no fornecimento de água por parte da Requerida, sem prévio


aviso, aos finais de semana por mais de 20 (vinte) vezes, chegando-se ao absurdo de tal
situação perdurar por mais de 05 (cinco) dias ininterruptos, é inaceitável.

ADEMAIS, PONDERAMOS QUE NO CASO EM ESPEQUE, OCORRE O DANO MORAL


PURO (IN RE IPSA), SEM A NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA EFETIVA
LESÃO, HAJA VISTA QUE A SUSPENSÃO ILEGAL NO FORNECIMENTO DE ÁGUA
ENSEJA A ILICITUDE DO ATO PRATICADO PELA RÉ.

Noutro giro, um cidadão ter que sair da sua residência por não ter condições de fazer as
suas necessidades básicas em decorrência da falta de água, tendo que se valer do
socorro de familiares e amigos, enseja um abalo moral.

Evidentemente, que estamos diante de dano moral reflexo, onde, o i. Julgador ao sopesar
o quantum indenizatório deve ter em mente que se trata de prejuízo a toda uma família
(marido, esposa, filhos e demais parentes).

No mesmo sentido, um cidadão ser impedido de receber visitas (filhos, amigos, parentes)
em sua residência em decorrência da falta de água, é revoltante.

Sendo assim, tal fato enseja reparação por danos morais, tendo em vista a alarmante
falha na prestação dos serviços fornecidos pela Ré.
Portanto, suficiente para a caracterização do dano moral a prova do evento lesivo, que,
diga-se de passagem, está perfeitamente demonstrado pelas provas carreadas aos autos,
não deixando qualquer possibilidade de dúvida.

DA JURISPRUDÊNCIA

A jurisprudência dos Tribunais agasalha a pretensão da parte Autora, vejamos o


posicionamento do TJMG, julgando as Apelações Cíveis nº 1.0487.16.002282-7/001 e
1.0487.16.001954-2/001, respectivamente.

EMENTA: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - LEGITIMIDADE ATIVA -


CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO - SUSPENSÃO NO FORNECIMENTO DE
ÁGUA – RESPONSABILIDADE CIVIL - DEVER DE INDENIZAR - MAJORAÇÃO DOS
DANOS – CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA - ADEQUAÇÃO DE OFÍCIO.
EMENTA: APELAÇÃO - RESPONSABILIDADE CIVIL - COPASA – SERVIÇO PÚBLICO -
OMISSÃO - SUSPENSÃO NO FORNECIMENTO DE ÁGUA - DANO MORAL -
INDENIZAÇÃO CONCEDIDA.

O STJ julgando o Resp 1553701- SE (2015/0142979-5), assim se posicionou (íntegra, em


anexo).

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. FORNECIMENTO


DE ÁGUA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. INTERRUPÇÃO DO SERVIÇO POR
CINCO DIAS. QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO EM VALOR IRRISÓRIO.
MAJORAÇÃO. POSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, a parte Autora requer:

a) a citação da Requerida para, comparecer a audiência de conciliação a ser designada


por este Juízo, bem como, querendo e podendo, apresentar Defesa, sob pena de
incidência dos efeitos da revelia e confissão;
b) a condenação da Ré em danos morais, em valor não inferior a R$ 25.000,000 (vinte e
cinco mil reais), ou caso Vossa Excelência entenda de modo diverso, que, arbitre a
indenização pertinente aos danos morais;

c) a inversão do ônus da prova, como previsto no artigo 6°, VIII, do Código de Defesa do
Consumidor, especialmente para que a Ré forneça a este Juízo relatórios dos últimos 05
(cinco) anos sobre a interrupção no fornecimento de água, conforme artigos 106 e 107 da
Resolução Normativa número 40/2013 da Agência Reguladora de Serviços de
Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais - ARSAE-
MG;

d) em caso de interposição de Recurso Inominado, seja a Requerida condenada em


custas processuais e, honorários de sucumbência a razão de 20% sobre o valor da
condenação;

e) a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita por ser a parte Autora pobre
no sentido legal, não podendo arcar com as despesas processuais sem prejuízo próprio e
de toda a sua família.

f) que seja deferida, como prova emprestada, a utilização do laudo pericial produzida no
bojo da Ação Civil pública nº 5000222-81.2019.8.13.0452, em anexo;

Provar-se-á o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos, especialmente


testemunhal, documental, depoimento pessoal de preposto da Ré, que fica desde logo
requerido.

Atribui-se à causa, o valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) para fins de alçada.

Nestes termos;
Pede deferimento.

Nova Serrana, 27 de agosto de 2022

Gabriel Flávio de Souza Lacerda


gabriellacerdapro2@gmail.com
(37) 99670-6622

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