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DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA
DA LEGITIMIDADE ATIVA
Nobre Julgador, a parte Autora acostou aos autos, documento apto a comprovar a sua
residência no imóvel cuja Ré presta os seus serviços (abastecimento de água). Na
mesma esteira, para que o cidadão possa pleitear a indenização posta à baila
(legitimidade ativa), necessária apenas a comprovação da sua residência no imóvel que
sofre com o desabastecimento de água, sendo certo, no caso vertente, houve tal
comprovação. Com efeito, estamos diante de legitimidade ativa concorrente (disjuntiva),
ou seja, clarividente a tutela de um direito individual do cidadão.
Com efeito, quem sofre com o desabastecimento de água, não é apenas o titular da
fatura, mas sim, todas as pessoas que coabitam a residência.
Urge salientar que não se trata de relação contratual pura e simples, mas, relação de
consumo de um serviço de concessão pública, qual seja, fornecimento/abastecimento de
água à população local.
DOS FATOS
Urge salientar, que tal fato, ocorre na maioria das vezes aos finais de semana, contudo,
de forma menos intensa, também temos a interrupção do fornecimento de água em dias
úteis.
Em razão da ausência de água em sua residência, a parte Requerente não tem condições
de efetuar tarefas básicas do cotidiano, como por exemplo, lavar roupas, lavar os
utensílios domésticos e, principalmente, fazer as suas necessidades básicas, como tomar
um banho, utilizar o vaso sanitário, escovar os dentes, etc.
Ora, inegavelmente, ter que realizar as suas necessidas básicas em casa de parentes ou
amigos, enseja um enorme constrangimento à parte Autora. Ainda mais, quando este fato
passa a não ser uma excepcionalidade, mas sim, corriqueiro, gerando incontáveis
transtornos.
A interrupção de água, sem prévio aviso, ocorreu por mais de 20 (vinte) vezes nos últimos
meses, chegando ao absurdo de ficar por mais de 05 (cinco) dias consecutivos sem o
abastecimento de água.
Urge salientar que, com a falta de abastecimento de água, a Requerida, às vezes, envia
caminhões pipas para “encher” a caixa d’água das casas, contudo, além de não sanar o
problema, a água trazida pelos caminhões pipas é de qualidade duvidosa, haja vista
possuir um odor forte e fétido.
Sendo assim, indubitavelmente, estamos diante de grave abalo moral à parte Requerente,
não se tratando de mero dissabor.
Com isto, resta configurado a falha na prestação de serviço e, o flagrante abalo moral da
parte Requerente, ou seja, resta patente o dano moral e o dever em indenizar.
Repita-se à exaustão, o desabastecimento de água não foi em local isolado (um ou outro
bairro), mas sim, em todo o município de Nova Serrana, fato este incontroverso nos autos.
Com efeito, as afirmações da Requerida, contudo, não são capazes de ilidir a sua culpa e
responsabilidade.
Ora, 05 (cinco) dias para retomar o abastecimento de água em uma cidade com quase
100 mil habitantes é absurdo!
Com efeito, o laudo pericial deveria avaliar a falta d’água, em toda a cidade de Nova
Serrana, ocorrida entre os dias 13/05/2020 e 17/05/2020.
Pois bem, o exame pericial, produzido no processo judicial 5000222- 81.2019.8.13.0452
é, amplamente, desfavorável a Ré.
• O projetista subestimou o uso per capto, diário, por habitante (pg. 117);
Outro fator que influência na ineficiência do SAA de Nova Serrana é a não existência de
conjuntos motobombas reservas em algumas das elevatórios/booster’s, pois em caso de
danificação e/ou falhas destes únicos conjuntos de motobombas a reservação, bem como
a distribuição poderá ser significativamente comprometida. (pg. 117)
Apesar dos investimentos e obras já executadas pela Ré, o SAA ainda apresenta
deficiências como insuficiência de reservação (Ver Tabela 3) e ausência de conjunto
motobomba reserva em algumas elevatórias e booster’s. (pg. 121)
A conclusão da Perita fulmina toda e qualquer a tese de Defesa apresentada pela Copasa
(caso fortuito ou força maior). No mesmo sentido, a Perita deixa clarividente a negligência
da Ré, ao responder o quesito 3, formulado pelo Ministério Público, vejamos:
Assim, resta patente o ato ilícito (falha na prestação de serviço), a lesão, bem como, o
dever em indenizar.
DA RESPONSABILIDADE CIVIL
Nobre Julgador, inegável que estamos diante de um concessionário que age como
prestador de serviço público.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado
a repará-lo.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
(Ressaltamos e grifamos)
O artigo 175 da CF/88 atrelado ao artigo 6º da Lei Federal 8.987/95 determina que as
concessionárias ou permissionárias de serviço público devem zelar pelo direito dos
usuários, bem como, tem a obrigação de manter o serviço adequado, o que, certamente
não vem ocorrendo nesta cidade e, consequentemente, com a parte Requerente.
Urge salientar que, indubitavelmente, estamos diante de uma relação consumerista, onde,
de um lado temos a parte Autora (consumidora) e, do outro lado, a Requerida
(concessionária de serviço público de água e esgoto) fornecedora de serviços, portanto,
resta patente que as partes, respectivamente, enquadram-se nos conceitos de
consumidor e fornecedor, constantes dos artigos 2º e 3º, da Lei 8.078/90.
Ainda, em consonância com o CDC, especificamente em seu art. 6°, inciso VIII, são
direitos básicos do consumidor, dentre eles, a facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, quando a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiência.
Desta feita, inquestionável, existe uma relação de consumo, com a incidência do Código
de Defesa do Consumidor e, a inversão do ônus da prova, o que, desde já fica requerido.
Como acima exposto, estamos diante de uma relação de consumo, com a incidência do
Código de Defesa do Consumidor.
O diploma legal supracitado, em seu artigo 14, disciplina sobre a falha na prestação dos
serviços pelo fornecedor, deixando claro que se trata de responsabilidade objetiva.
Ainda, o fornecedor deve responder pela falha na prestação dos seus serviços.
O supramencionado diploma legal enumera os casos de exclusão de responsabilidade do
fornecedor pelos serviços prestados, sendo certo, que, nenhuma das hipóteses se amolda
ao caso vertente.
Importante destacar que não há que se cogitar em qualquer culpa da parte Autora, nem
caso fortuito ou força maior.
Ora, evidentemente, que, como ocorreu a falta no fornecimento de água por mais de 20
(vezes), ininterruptamente por 05 (cinco) dias consecutivos ou até em período superior,
especialmente, aos finais de semana, resta clarividente que estamos diante de uma
gritante falha na prestação dos serviços.
Repise-se, a falha na prestação dos serviços não é mais excepcional, mas sim, cotidiana
e corriqueira, prejudicando o cidadão e sua família.
No mesmo norte, o artigo 22 do CDC determina que os órgãos públicos, suas empresas,
concessionárias e permissionárias são obrigadas a fornecer os serviços de forma
adequada, eficiente e, quanto aos essenciais, contínuos, o que, reforce-se, não vem
ocorrendo na cidade de Nova Serrana, bem como, no caso concreto.
Nobre Julgador os artigos 105, 106 e 107 da Resolução Normativa número 40/2013 da
Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário
do Estado de Minas Gerais - ARSAE-MG militam em favor da parte Requerente.
Art. 106 No caso de paralisação do serviço com duração superior a 12 (doze) horas, o
prestador de serviços deverá prover fornecimento de emergência aos usuários que
prestem serviços essenciais à população, definidos no parágrafo único do art. 96 desta
Resolução.
Parágrafo Único. Quando houver paralisação dos serviços com duração superior a 12
(doze) horas, o prestador deverá comunicar à Ouvidoria da ARSAE-MG, por correio
eletrônico, as informações constantes no art. 107 desta Resolução, em até 4 (quatro)
horas da constatação do fato.
Art. 107 O prestador de serviços deverá manter banco de dados atualizado, contendo:
I – ocorrências de paralisações superiores a 12 (doze) horas, por município e
localidade(s) afetada(s);
II – número de usuários e população afetada; e
III – duração da paralisação, com data, horário de início e encerramento das ocorrências.
Portanto, a Ré deve ser compelida (inversão do ônus da prova) a juntar aos autos
relatório contendo as interrupções no endereço ou bairro da parte Autora nos últimos 05
(cinco) anos, sob pena de se tornarem verdadeiros os fatos narrados na exordial.
DO DANO MORAL
Não obstante, no que toca ao dano moral, o entendimento majoritário dispõe que não
existe a necessidade de comprovação probatória.
Prevalece o entendimento de que a indenização por dano moral tem caráter dúplice,
visando à punição do agente infrator e a compensação do ofendido, vejamos.
“A indenização por dano moral tem caráter dúplice, pois tanto visa a punição do agente
quanto a compensação pela dor sofrida... (2.º TACSP – 7ª C. – Ap. – Rel. S. Oscar Feltrin
– j. 01.04.1997 – RT 742/320”.
Quanto ao primeiro termo, por seu peso nas finanças do causador do dano, objetiva-se
dissuadi-lo a não perseverar na prática lesiva, de modo que ele, e outros indivíduos
cientes da decisão, não mais venham a sujeitar outras vítimas à mesma lesão suportada
pelo lesado, tudo com vistas ao objetivo maior de preservar a paz social.
No que concerne ao segundo termo, busca-se atribuir à vítima uma mitigação ao sofrido,
ainda que apenas de forma relativa, dado que o dano moral não tem medida física.
Ora, estamos diante de situação que causa incontáveis transtornos à parte Autora e seus
familiares (marido, esposa, filhos e demais parentes).
Noutro giro, um cidadão ter que sair da sua residência por não ter condições de fazer as
suas necessidades básicas em decorrência da falta de água, tendo que se valer do
socorro de familiares e amigos, enseja um abalo moral.
Evidentemente, que estamos diante de dano moral reflexo, onde, o i. Julgador ao sopesar
o quantum indenizatório deve ter em mente que se trata de prejuízo a toda uma família
(marido, esposa, filhos e demais parentes).
No mesmo sentido, um cidadão ser impedido de receber visitas (filhos, amigos, parentes)
em sua residência em decorrência da falta de água, é revoltante.
Sendo assim, tal fato enseja reparação por danos morais, tendo em vista a alarmante
falha na prestação dos serviços fornecidos pela Ré.
Portanto, suficiente para a caracterização do dano moral a prova do evento lesivo, que,
diga-se de passagem, está perfeitamente demonstrado pelas provas carreadas aos autos,
não deixando qualquer possibilidade de dúvida.
DA JURISPRUDÊNCIA
DOS PEDIDOS
c) a inversão do ônus da prova, como previsto no artigo 6°, VIII, do Código de Defesa do
Consumidor, especialmente para que a Ré forneça a este Juízo relatórios dos últimos 05
(cinco) anos sobre a interrupção no fornecimento de água, conforme artigos 106 e 107 da
Resolução Normativa número 40/2013 da Agência Reguladora de Serviços de
Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais - ARSAE-
MG;
e) a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita por ser a parte Autora pobre
no sentido legal, não podendo arcar com as despesas processuais sem prejuízo próprio e
de toda a sua família.
f) que seja deferida, como prova emprestada, a utilização do laudo pericial produzida no
bojo da Ação Civil pública nº 5000222-81.2019.8.13.0452, em anexo;
Atribui-se à causa, o valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) para fins de alçada.
Nestes termos;
Pede deferimento.