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AO JUÍZO DO 2º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE NOVA SERRANA - MG.

PROCESSO Nº 5009055-49.2023.8.13.0452

GABRIEL FLÁVIO DE SOUZA LACERDA, já qualificado nos autos da AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS
MORAIS que move contra à COPASA, vem respeitosamente, perante de V. Exa., apresentar a sua
IMPUGNAÇÃO, pelo que, passa a expor, requerendo ao final.

I. PRELIMINAR - DA LITIGÂNCIA IRRESPONSÁVEL

A ré alega que a situação fática da comarca se aproxima do conceito de advocacia predatória, porém
a parte autora não é representada por nenhum advogado, estando condicionada as regras da lei
9.099/95, litigando em causa próprio, buscando as alternativas cabíveis para ter seus direitos
garantidos .

Dessa forma, as ponderações sobre advocacia predatória não fazem sentido, pois como já relatado,
este humilde causídico propôs ação sem a assistência de advogado, permitida pela lei do juízo
especial, buscando apenas a garantia dos seus direitos e bens tutelados, assim requer que estes
argumentos alegados pela parte ré sejam desconsiderados.

II. DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

O Código de Processo Civil de 2015, disciplina a litigância de má-fé, em seus artigos 79/81. O artigo 80
do NCPC, determina que é considerado litigante de má-fé quem:

II - alterar a verdade dos fatos;

V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;

A Requerida infringe os ditames legais supracitados. Data vênia, a Ré altera a verdade dos fatos ao
afirmar que inexiste o desabastecimento de água na residência do Autor, bem como, no Município de
Nova Serrana. No mesmo sentido, procede de modo temerário ao dizer que o causídico, cujo atua sem
advogado, desempenha prática da chamada advocacia predatória ou advocacia ofensora, sendo certo,
que, na forma de ricochete, tais ofensas atingem os Julgadores da Comarca e o Ministério Público
(titular da Ação Civil Pública 5002234-97.2021.8.13.0452). Assim, a Ré deve ser condenada em
litigância de má-fé, no importe de 10% do valor corrigido da causa ou, 10 (dez) vezes o valor do salário-
mínimo, o que, desde já fica requerido prática da chamada advocacia predatória ou advocacia
ofensora.

III. DOS FATOS e DO DIREITO

Nobre Julgador, incontroverso o desabastecimento de água na residência da parte Autora no período


compreendido entre os dias 13/05/2020 a 17/05/2020, bem com, em outras datas. Tal fato é público
e notório na cidade de Nova Serrana, bem como, houve a confissão da Ré. IMPORTANTE SALIENTAR
QUE O DESABASTECIMENTO DE ÁGUA NÃO OCORREU APENAS NA DATA SUPRACITADA, MAS, EM
INCONTÁVEIS OCASIÕES EM DATAS PRETÉRITAS, OCORRENDO ATÉ OS DIAS ATUAIS, NA MAIORIA DAS
VEZES, AOS FINAIS DE SEMANA.

No que tange à incompetência em razão da matéria pela necessidade de realização da prova pericial,
não assiste qualquer razão à Ré, vez que, cabe a Ela/Ré comprovar que não houve o desabastecimento
de água, no período informado na peça de ingresso, na residência da parte Requerente, o que, não foi
realizado nos autos.
Ainda, totalmente descabível a necessidade da produção da prova técnica, vez que, as alegações
estampadas na exordial restam comprovada nos autos.

No mesmo sentido, como se trata de relação de consumo, com a aplicação da inversão do ônus da
prova, caberia a Ré acostar aos autos documentos capazes de comprovar as suas alegações, o que não
foi realizado.

Portanto, não há que se cogitar em extinção do feito por necessidade da realização da prova pericial.
Sobre a “reservação do imóvel”, a residência está em conformidade com as normas da ABNT. Em
relação à impugnação ao benefício da assistência judiciária gratuita, não agasalha amparo as
afirmações da Requerida, haja vista que a parte Autora é pobre no sentido legal, bem como, os
documentos acostados com a exordial são aptos e lícitos para a concessão do supracitado benefício
ao Requerente. Como acima citado, a Ré confessa o debastecimento de água no Município de Nova
Serrana, contudo, tenta se desvencilhar da sua responsabilidade, afirmando que tentou mitigar os
problemas dos cidadãos

A propósito, a aproximadamente 10 (dez) anos, os cidadãos de Nova Serrana sofrem com a má


prestação de serviços fornecidos pela Ré. As reportagens acostadas com a peça de ingresso tem o
condão de balizar o “sofrimento moral”, suportado pelos cidadãos. Ainda, ao contrário do afirmado
na Contestação, o desabastecimento de água foi em, praticamente, todo o município.

Adiante a Ré alega “caso fortuito ou força maior – Ação Cívil Pública”, entretanto, evidentemente, não
estamos diante de força maior, mas, sim, de péssima prestação de serviços.

Para que ocorra o afastamento da responsabilidade objetiva da Requerida por força maior ou caso
fortuito, teríamos que estar diante de fatos imprevisíveis ou fora da normalidade, o que, não é o caso
dos autos.

Ora, a quebra de um equipamento é fato totalmente previsível, onde, caberia à Requerida ser
diligente, possuindo mecanismo para impedir tal fato ou, efetuar a reparação de forma célere.

Provavelmente, a Requerida sequer possui equipamento sobressalente ou, efetua manutenção


periódica preventiva.

A Lei 8.987/95, determina em seu artigo 6º, que, o serviço prestado por concessão deve ser adequado,
contínuo, eficiente e atual, bem como, deve ocorrer a modernização de técnica, equipamentos,
instalações e a melhoria na expansão dos serviços.

Ora, por todos é sabido que a Requerida sequer concluiu as obras da ETE na cidade de Nova Serrana,
bem como, não investe em equipamentos de melhoria e prevenção. Assim, não há que se cogitar em
caso fortuito ou força maior.

Ainda, o Despacho citado pela Requerida, diz respeito apenas a aplicação de multa requerida pelo
Município de Nova Serrana. Noutro giro, a disponibilidade de caminhões pipa e, o envio de equipes
técnicas para sanar o problema de desabastecimento de água, por si só, não tem o condão de ilidir a
responsabilidade da Ré, que, é OBJETIVA.

Evidentemente, que, existe a possibilidade de interrupção de fornecimento de água para intervenção


técnica, entretanto, isto deve ser comunicado à população e, o serviço realizado de forma célere e
eficaz, o que, não ocorreu neste Município. Ora, ficar 05 (cinco) dias, ininterruptos, para realizar
reparos é fato inaceitável e surreal.
No caso concreto estamos diante da responsabilidade civil objetiva, conforme preconiza o artigo 37,
§6º da CF/88, sendo certo, que houve falha na prestação de serviços, tendo em vista a constante falta
d’água.

Os artigos 927 e 186 do Código Civil conferem direito ao cidadão

Já o artigo 175 da CF/88 atrelado ao artigo 6º da Lei Federal 8.987/95 determina que as
concessionárias ou permissionárias de serviço público devem zelar pelo direito dos usuários, bem
como, tem a obrigação de manter o serviço adequado, o que, certamente não vem ocorrendo nesta
cidade e, consequentemente, com a parte Requerente.

Portanto, demonstrada a responsabilidade objetiva da Ré, resta configurado o fato administrativo, o


dano ou lesão e o nexo causal, consequentemente, resta patente a obrigação de indenizar, cabendo
ao cidadão a tutela jurisdicional dos seus direitos. No que toca à “inexistência de danos morais”,
evidentemente, existe nos autos farta documentação que comprova as alegações da parte
Requerente, haja vista ser fato público o desabastecimento de água por 05 (cinco) dias ininterruptos
em toda a cidade de Nova Serrana

ADEMAIS, PONDERAMOS QUE NO CASO EM ESPEQUE, OCORRE O DANO MORAL PURO (IN RE IPSA),
SEM A NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA EFETIVA LESÃO, HAJA VISTA QUE A SUSPENSÃO ILEGAL
NO FORNECIMENTO DE ÁGUA ENSEJA A ILICITUDE DO ATO PRATICADO PELA RÉ.

Noutro giro, um cidadão ter que sair da sua residência por não ter condições de fazer as suas
necessidades básicas em decorrência da falta de água, tendo que se valer do socorro de familiares e
amigos, enseja um abalo moral. Sendo assim, resta configurado os danos morais suportados pela parte
Requerente.

Indubitavelmente, estamos diante de uma relação consumerista.

Ainda, em consonância com o CDC, especificamente em seu art. 6°, inciso VIII, são direitos básicos do
consumidor, dentre eles, a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, quando a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência.

Desta feita, inquestionável, existe uma relação de consumo, com a incidência do Código de Defesa do
Consumidor e, a inversão do ônus da prova, o que, desde já fica requerido. A Requerida afirma que a
parte Autora deveria ter instalado em sua residência reservatório de água, não sendo obrigatória a
instalação do supracitado equipamento pelos cidadãos.

Ora, data vênia, mas ninguém é compelido a suportar um desabastecimento de água por 05 dias
ininterruptos.

Em relação ao quantum indenizatório, cada Julgador é livre para arbitrar o dano moral como melhor
entende.

IV. DOS DOCUMENTOS EXTRAÍDOS DA AÇÃO CÍVIL PÚBLICA Nº 5000222- 81.2019.8.13.0452 -


CONFISSÃO

Nobre Julgador, tramita na Comarca de Nova Serrana, Ação Civil pública nº 5000222-
81.2019.8.13.0452, com a finalidade de se verificar a ineficaz prestação de serviços da Recorrente
quanto ao abastecimento de água neste município.

O i. Juiz, Dr. Rômulo, determinou, no processo supramencionado, a realização da prova pericial, com
o escopo de se avaliar o abastecimento de água prestado pela Requerida.
O laudo pericial deveria avaliar a falta d’água, em toda a cidade de Nova Serrana, ocorrida entre os
dias 13/05/2020 e 17/05/2020. O exame pericial, produzido no processo judicial 5000222-
81.2019.8.13.0452 é, amplamente, desfavorável a Recorrente.

Do supracitado laudo pericial, pode-se depreender o seguinte:

• A ETA (Estação de Tratamento de Água) entrou em operação apenas em março de 2019 (pg.
24);
• A Copasa não concluiu todas as obras (pg. 99 e 121);
• As obras concluídas tiveram atraso de, aproximadamente, 01 (um) ano (pg. 99 e 121);
• Em entrevistas realizadas com cidadãos, praticamente, todos apontaram o desabastecimento
de água em suas residências;
• Todos os entrevistados ainda sofrem com falhas constantes no desabastecimento de água (pg.
111);
• A Copasa admite a falha na prestação dos serviços de abastecimento de água no município de
Nova Serrana (pg. 112);
• Desde 2010 a Copasa tinha ciência de que a reservação era limitada e insuficiente, sendo que,
a Ré somente iniciou obras de melhoria e infraestrutura em 2016, com conclusão parcial,
apenas em dezembro 2019 (pg. 116 e 121);
• O projetista subestimou o uso per capto, diário, por habitante (pg. 117);
• A ineficácia do SAA ocorre pela ausência de conjuntos motobomba reserva em algumas das
elevatórios/booster’s (pg. 117 e 121);
• Vários conjuntos motobomba apresentam defeitos com frequência ou possuem capacidade
menor do que a necessária (pg. 119);

Importante a transcrição de alguns pontos específicos, vejamos:

• Em observação a tal pesquisa verifica-se que, todos os usuários entrevistados ainda sofrem
por falhas constantes no abastecimento de água (...). (pg. 111)
• São diversas as causas que levam ao problema de desabastecimento do município de Nova
Serrana. Problema este admitido pela Ré (...) (pg. 112)
• Outro fator que influência na ineficiência do SAA de Nova Serrana é a não existência de
conjuntos motobombas reservas em algumas das elevatórios/booster’s, pois em caso de
danificação e/ou falhas destes únicos conjuntos de motobombas a reservação, bem como a
distribuição poderá ser significativamente comprometida. (pg. 117) Apesar dos investimentos
e obras já executadas pela Ré, o SAA ainda apresenta deficiências como insuficiência de
reservação (Ver Tabela 3) e ausência de conjunto motobomba reserva em algumas elevatórias
e booster’s. (pg. 121) A Ré somente iniciou as obras de ampliação do sistema de
abastecimento, em 2016, obras estas que foram parcialmente concluídas em dezembro de
2019, após um atraso de um ano devido recorrentes alterações de projeto; (pg. 121)

A conclusão da Perita fulmina toda e qualquer tese de Defesa apresentada pela Copasa (caso fortuito
ou força maior).

A Perita deixa clarividente a negligência da Ré, ao responder o quesito 3, formulado pelo Ministério
Público, vejamos:
3) Houve negligência
3) Houve da réda
negligência quanto ao desabastecimento
ré quanto de água
ao desabastecimento de água
por ela
pormesmo admitido
ela mesmo no período
admitido de 13/5/2020
no período a 17/5/2020?
de 13/5/2020 a 17/5/2020?
Resposta: Sim. (Ressaltamos)
Resposta: Sim. (Ressaltamos)

Assim, resta patente o ato ilícito (falha na prestação de serviço), a lesão, bem como, o dever em
indenizar.

Outrossim, impugna todos os documentos e relatórios apresentados pela Ré.

Ante o exposto, a parte Autora requer:

a) a condenação da Ré em danos morais no importe de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais);


b) requer a inversão do ônus da prova, com consequente confissão do debastecimento de água
entre os dias 13/05/2020 a 17/05/2020, bem com, em outras datas, prova documental
suplementar, prova testemunhal, depoimento pessoal do preposto da Ré e, caso Vossa
Excelência entenda, depoimento da parte Autora, como prova do Juízo, mediante designação
de AIJ.v
c) seja deferida, como prova emprestada, a utilização do laudo pericial produzida no bojo da
Ação Civil pública nº 5000222-81.2019.8.13.0452;
d) seja julgado improcedente o pedido contraposto aviado pela Ré;
e) com fulcro no artigo 78 do NCPC, que as expressões contidas no tópico “DA LITIGÂNCIA
IRRESPONSÁVEL – ADVOCACIA OFENSORA” seja riscada dos autos, tendo em vista que o
requerente não é advogado;
f) a condenação da Ré em litigância de má-fé, pelas razões expostas, no importe de 10% do valor
corrigido da causa ou, 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo;

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