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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO 2º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL

DA COMARCA DE SÃO MATEUS/ES

Processo n.º 0005362-18.2015.8.08.0047

AILTON TEIXEIRA DE OLIVEIRA, devidamente qualificado nos autos em epígrafe, vem


respeitosamente a presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado infra-
assinado, com endereço consignado no rodapé desta petição, inconformado com a
respeitável Sentença de fls. ________, interpor RECURSO INOMINADO face aos fatos e
fundamentos a seguir expostos.

Requer, outrossim, que após as formalidades de praxe, sejam os presentes autos


encaminhados à Turma Recursal para o devido julgamento.

Por fim, nos termos da Lei n.º 1.060/1950, renova requerimento inserido na peça
vestibular, acerca das benesses da Assistência Judiciária Gratuita, visto que sua situação
econômica não lhe permite arcar com custas processuais, bem como suportar a
sucumbência sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família, ocasião que negada o
pleito, ficará impossibilitado de exercer seu constitucional direito de defesa e acesso ao
judiciário, haja vista ter optado pelo Juizado Especial em face da ausência de recursos
para custear uma ação judicial, conforme prova anexa.

Termos que pede e espera deferimento.

São Mateus/ES, 25 de fevereiro de 2016.

WALACE XAVIER DA SILVA


OAB/ES 20.935

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Rua Maria Almeida Rocha, 373, Carapina, São Mateus/ES – CEP 29.933-085
Tel.: (27) 99988-0008 / email: walacex@hotmail.com
EGRÉGIA TURMA RECURSAL NORTE DO COLEGIADO RECURSAL DO ESPÍRITO SANTO

Processo: 0005362-18.2015.8.08.0047
Recorrente: AILTON TEIXEIRA DE OLIVEIRA
Recorridos: BANCO DO BRASIL S.A.
ATIVOS S.A. SECURITIZADORA DE CRÉDITOS FINANCEIROS

Colenda Turma,

DAS RAZÕES DO RECURSO

1. SÍNTESE DA DECISÃO RECORRIDA

Após todo o transcurso da instrução probatória, em que pese ser notória a sabedoria e
preparo jurídico do ilustre Magistrado de primeira instância, forçoso, data venia, é
identificar que no caso presente houve equívoco quanto ao entendimento do pedido
inicial.

Propôs a parte recorrente a Ação Declaratória de Inexistência de Débito cumulada com


Indenização por Dano Moral com Pedido de Tutela Antecipada em virtude de inscrições
indevidas junto aos órgãos de proteção ao crédito e ao cadastro de inadimplente de
cheques sem fundos do Banco Central, motivadas pela concessão de crédito e abertura
de conta com documentos fraudados, sendo que tomou conhecimento apenas quando
recebeu telefonema para confirmação de dados, pois a pessoa que manteve contato
suspeitou que terceira pessoa tentava se passar pelo requerente, ocasião que o levou a
comparecer perante a autoridade policial local e noticiar o ocorrido, bem como pelas
inúmeras ligações e mensagens de SMS para que comparecesse junto ao estabelecimento
comercial do primeiro recorrido para liquidar as supostas operações de crédito.

Consta nos autos, que o segundo requerido (Banco Triângulo S.A.) ao tomar
conhecimento da demanda, imediatamente ofertou proposta de acordo extrajudicial com
o recorrente, o qual foi aceito e homologado pelo Juízo a quo.

Quanto aos demais, ora recorridos, não houve oferta de acordo, sendo os autos
encaminhados para prolação de sentença (f. 73).

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Conclusos os autos, o feito foi julgado extinto sem apreciação do mérito, uma vez o
acordo entabulado às ff. 33/35 foi considerado como suficiente para “reparação do dano
alegadamente havido, não se encontrando presente o chamado interesse-necessidade no
prosseguimento desta demanda em relação ao litisconsorte remanescente”.

Em que pese os argumentos, impõe-se a reforma de respeitável sentença pelas seguintes


razões de fato e fundamentos a seguir expostas.

Inicialmente, a Magistrada menciona que a peça vestibular “narra o autor haver sofrido
danos de ordem extrapatrimoniais, em razão de ato conjuntamente praticado pelas
requeridas”. Contudo, em nenhum momento o recorrente mencionou que houve ato
conjuntamente praticado pelas requeridas, pelo contrário, mencionou que o recorrente
tomou conhecimento das negativações em seu desfavor quando começou a receber
ligações por parte do primeiro recorrido, sendo as demais se originaram de fatos sem
nenhuma vinculação com a primeira restrição, haja vista que inscrições junto aos órgãos
de proteção ao crédito foram originadas em datas, modalidades, contratos e pessoas
jurídicas distintas, conforme espelhos de ff. 20/22.

Portanto, demonstrando o recorrente cabalmente que as negativações de seu nome nos


cadastros de proteção ao crédito foram realizadas individualmente pelas recorridas,
conforme consultas de ff. 20/22, deverá, pois, todas as recorridas, responderem,
independentemente, portanto, pelo abalo anímico causado ao apelante em decorrência
do cometimento do ilícito, uma vez que os apontamentos foram perfectibilizados de
maneira autônoma, relativos a contratos distintos, em diferentes datas.

Neste sentido, a jurisprudência:


APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL.
INDEVIDA NEGATIVAÇÃO, NO SERASA, DO NOME DO CONSUMIDOR, POR
EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS DE TELEFONIA MÓVEL (BRASIL
TELECOM, EMBRATEL E NET). PARCIAL PROCEDÊNCIA DO PEDIDO NA
ORIGEM, CONDENANDO APENAS A EMBRATEL. APELO DO DEMANDANTE
OBJETIVANDO A RESPONSABILIZAÇÃO E CONDENAÇÃO DE TODAS AS
DEMANDADAS, DE MANEIRA AUTÔNOMA, AO PAGAMENTO DE
INDENIZAÇÃO POR ABALO ANÍMICO. ACOLHIMENTO. EMPRESAS QUE NÃO
SE DESINCUMBIRAM DO ÔNUS DE DEMONSTRAR A EXISTÊNCIA DE VÍNCULO
CONTRATUAL E AS RESPECTIVAS INADIMPLÊNCIAS ENSEJADORAS DOS
APONTAMENTOS. INSCRIÇÕES INDEPENDENTES QUE, POR ISSO MESMO,
DEVEM ACARRETAR INDENIZAÇÕES DISTINTAS. DANO MORAL PRESUMIDO,
PRÓPRIO DA IMPOSIÇÃO INDEVIDA DA PECHA DE MAU PAGADOR (ARTS. 186
E 927 DO CC, ARTS. 6º, INC. VIII, 12 E 14 DO CDC). PRECEDENTES DA CORTE.
MONTANTE REPARATÓRIO MAJORADO PARA SE ADEQUAR À ESPÉCIE, DADO
RECONHECIDO CONTRA EMPRESAS DE GRANDE EXPRESSÃO ECONÔMICA E,
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AINDA, USEIRAS E VEZEIRAS EM REINCIDÊNCIA. INVERSÃO DOS ÔNUS
SUCUMBENCIAIS. RECURSO PROVIDO. As empresas de telefonia que operam no
Brasil são, desde há muito, como é público e notório, campeãs em reclamações
oferecidas por seus clientes nos serviços de proteção ao consumidor. E, no que
pertine aos ilícitos civis, ainda que sejam condenadas, sistematicamente, pelo
Poder Judiciário, a pesadas indenizações por dano moral, insistem em manter o
mau serviço e a punir a população desvalida, daí a razão pela qual, como no
caso ora examinado, a reparação civil deve ser arbitrada proporcionalmente em
patamar um pouco acima dos valores ordinariamente aplicados. (TJ-SC - AC:
20140035305 SC 2014.003530-5 (Acórdão), Relator: Eládio Torret Rocha, Data de
Julgamento: 12/11/2014, Quarta Câmara de Direito Civil Julgado)

Ademais, os recorrentes, em sede de contestação, apresentaram defesas por fatos


diversos.

Explico.

Coube ao primeiro recorrido (Banco do Brasil S.A.) apresentar planilha descrevendo as


operações vinculadas ao CPF do recorrente, afirmando que os serviços bancários foram
“legitimamente contratados, segundo as formalidades e procedimentos existentes,
apresentando para tanto todos os documentos pertinentes e demais informações
pessoais”.

Todavia, o primeiro recorrido apenas apresenta prova contra si, pois as operações
descritas na planilha demonstram claramente que o recorrente jamais realizou operações
junto àquele, uma vez que os extratos anexos (ff. 83/88) evidenciam que as operações
possuem vínculo a agência n.º 6615, conta 7.765-2, com irrefutável referência ao cheque
juntado à f. 158, cuja proposta de abertura de conta corrente, poupança e demais
produtos (ff. 110/116) não foi assinada pelo recorrente.

Alega, em suma, que não houve falha na contratação dos serviços, pois “todos os serviços
foram legitimamente contratados pelo próprio cliente perante o Banco do primeiro Réu,
assim, como também foram efetivamente utilizados pelo cliente”.

Entretanto, o primeiro recorrido agiu com total negligência ao deixar de conferir os


possíveis documentos apresentados pelo recorrente, os quais não foram juntados aos
autos, conforme afirmado às ff. 75/76.

As provas carreadas aos autos demonstram que a abertura da conta corrente em questão
foi aberta de forma fraudulenta, pois o recorrente tem emprego certo nesta Comarca e
jamais residiu no município de Cotia/SP e adjacências. Para reforçar a convicção deste

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Colegiado, a existência de boletim de ocorrência lavrado tão logo o recorrente tomou
conhecimento dos fatos negativos que lhe são imputados (ff. 18/19).

Ademais, se os recorridos agissem com as cautelas de costume e consultassem os


sistemas de proteção de crédito poderiam tomar conhecimento da ocorrência n.º
18684681, pois as negativações ocorreram posteriormente a notícia do boletim, ou seja, o
boletim foi registrado às 12h56min do dia 18/07/2013 e as negativações tiveram início no
dia 25/07/2013, conforme espelho de consulta às f. 20/22 .

Alega mais, que não deve ser responsabilizado, pois com a ação de terceiro, também
deve ser considerado vítima. Não deve prosperar sua defesa, haja vista o teor da Súmula
479, publicada pela Segunda Seção do Colendo Superior Tribunal de Justiça com os
seguintes dizeres: “As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos
gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito
de operações bancárias”.

O enunciado facilita o julgamento dos casos pendentes e evita a discussão inócua sobre o
dever que os bancos assumem, independentemente de prova da culpa, de repor os
danos que consumidores amargam pela insegurança das atividades bancárias.

Como se sabe, as instituições financeiras foram inseridas no círculo da responsabilidade


objetiva e diversas razões conspiram para aceitabilidade do entendimento. Primeiro, o
disposto no artigo 14 do CDC que dispensa a prova da culpa para proteger o consumidor
vítima das operações bancárias e, depois, pela própria gestão administrativa das agências,
pois mirando atender bem para conquistar ou manter a clientela, finaliza providências
planejadas com esse desiderato sem executá-las com o cuidado exigido para a segurança
dos envolvidos, direta ou indiretamente. Tais ações, levam o nome de quem figura como
emitente a ser inscrito nos órgãos de proteção ao crédito, ensejando sofrimento por
abalo ao crédito, fenômeno social de importância ímpar no mundo dependente de
credibilidade e de um cadastro limpo.

Deixando de conferir os documentos apresentados para abertura de conta e crédito, resta


a inteira e exclusiva responsabilidade do estabelecimento bancário. É o que se extrai da
doutrina:
Essa responsabilidade civil é da instituição financeira porque a ela é que coube a
obrigação de conferir a assinatura do emitente através do autógrafo existente na
agência, ou mesmo de exigir documento de identidade do apresentante, para o
pagamento.
Como se assentou em precedentes jurisprudenciais, não provada a culpa do
correntista, é do banco a responsabilidade pelo pagamento do cheque falso,

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uma vez que é o estabelecimento bancário quem assume o risco e a obrigação
de vigilância, garantia ou segurança sobre o objeto do contrato.
[...]
O fato de ser falso hábil, pela potencialidade ilusória, não lhe afasta a
responsabilidade civil.
Mesmo que aparentemente verdadeira, o banco responde porque, competindo-
lhe o pagamento, assumiu previamente os riscos1.

Em consonância, o disposto no parágrafo único do artigo 927 do Código Civil:


"Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem".

Acerca do conteúdo, ensina a doutrina:


A obrigação de reparar o dano independerá de prova de culpa quando o autor
do dano, através de sua atividade, cria um risco maior para terceiros.
Se alguém (o empresário, por exemplo), na busca de seu interesse, cria um risco
de causar dano a terceiros, deve repará-lo, mesmo se agir sem culpa, se tal dano
adveio2.

Cumpre mencionar ainda, que a negligência do primeiro recorrido causou,


consequentemente, a devolução de cheques indevida por insuficiência de fundos, por si
só, já causa ilícito gerador de dano moral, independentemente de prova de culpa. Acerca
da matéria, entende o STJ: "A devolução indevida de cheque sem fundos acarreta a
responsabilidade de indenizar o dano moral, que prescinde da prova de prejuízo" (STJ, 4ª
Turma, Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, AgRg no REsp 416364/SP, j. 18-6-2002).

Deste modo, o recorrente não contribuiu em nada para que se abrisse conta corrente
falsa, passando a sofrer perturbações concretas com essa situação, pois o crédito lhe foi
abruptamente cortado, o que permanecerá enquanto não solucionar a pendência juntos
aos órgãos do gênero, tudo em razão da falta do recorrido em não certificar-se da
veracidade de todos os dados informados pelo fraudador que propôs abertura de conta,
cabendo-lhe, por não assim agir, o ônus de indenizar pelos danos decorrentes de sua
negligência, conforme se vê:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C
CANCELAMENTO DE PROTESTO E INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.
ABERTURA DE CONTA CORRENTE COM DOCUMENTO FALSO.
RESPONSABILIDADE DA CASA BANCÁRIA. ESTABELECIMENTO COMERCIAL
RECEBEDOR DO TÍTULO. PROTESTO. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO. DANO
MORAL PRESUMIDO. VERBA INDENIZATÓRIA. MINORAÇÃO. RECURSO DA
1
ALVES, Vilson Rodrigues. Responsabilidade Civil dos estabelecimentos bancários. Campinas: Bookseller, 1997, p. 148 e
149.
2
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: responsabilidade civil: v. 4. 19ª edição: atualizada de acordo com o novo Código Civil.
São Paulo: Saraiva, 2002, p. 162.
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AUTORA DESPROVIDO. RECURSO DA CASA BANCÁRIA PARCIALMENTE
PROVIDO. RECURSO DOS ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS PROVIDOS.
Compete à instituição financeira a responsabilidade de certificar-se da
veracidade de todos os dados informados pelo cliente que propõe abertura de
conta corrente. Se não age assim arca com o ônus de indenizar possíveis danos
decorrentes. Nesses casos o dano moral é presumido. Os estabelecimentos
comerciais que recebem cheques não estão obrigados a verificar a licitude de
obtenção dos títulos, mas tão somente, a sua regularidade formal. Traduz-se em
exercício regular de direito a apresentação de cheque sem fundos, porém
formalmente perfeito, para protesto por estabelecimento comercial. Ainda que
presumido o dano moral quando protestado título indevido, o valor da
indenização deve ser adequado a cada caso. (TJ-SC - AC: 74913 SC
2008.007491-3, Relator: Stanley da Silva Braga, Data de Julgamento: 31/08/2010,
Primeira Câmara de Direito Comercial, Data de Publicação: Apelação Cível n. , da
Capital / Estreito).

0156623-61.2012.8.19.0004 – APELACAO – DES. MARCOS ALCINO A TORRES –


Julgamento: 09/07/2014 – VIGESIMA SETIMA CÂMARA CIVEL CONSUMIDOR –
Apelação. Indenizatória. Celebração de contrato. Aparente ação de falsário.
Ausência de causa excludente da responsabilidade objetiva. Não configuração
do caso fortuito. Dano moral. 1. Decorre do postulado da proporcionalidade que
se deva aplicar aos grandes fornecedores de produtos e serviços maior rigor que
o previsto no Direito Civil para o homem comum (CC, arts. 113 e 1.011),
exigindo-lhes que se acerquem de todas as cautelas e diligências necessárias
para proteger-se de fraudes no ato de contratação, sobretudo quando possam
importar em prejuízos a terceiros de boa-fé. 2. O fato de terceiro, que, na ação
ajuizada por consumidor, incumbe à ré demonstrar (CDC, art. 14, § 3º, II; CPC,
art. 333, II), constitui espécie do gênero "caso fortuito", o qual, por sua vez,
identifica-se com o fenômeno externo, imprevisível e inesperado, a ponto de
romper o nexo causal. Carece de fortuidade a ação fraudulenta que, dado o
sem-número de demandas análogas, constitui acontecimento corriqueiro. 3. A
efetiva ocorrência do dano moral decorre naturalmente do enorme
aborrecimento causado a autora, que precisou constituir advogados e recorrer
ao Poder Judiciário para resolver o impasse. 4. Desprovimento do recurso.

Portanto, a conduta do primeiro recorrido configura falha na prestação dos serviços


prestados e risco inerente à sua atividade na instituição financeira, razão pela qual está
caracterizada a sua responsabilidade objetiva e o dever de indenizar.

Quanto ao segundo recorrido (Ativos S.A. Securitizadora de Créditos Financeiros),


também não lhe assiste razão.

Segundo consta na resposta do segundo recorrido, a inscrição junto aos órgãos de


proteção ao crédito foi proveniente de operação de crédito entre aquele e o primeiro
recorrido por intermédio de cessão de crédito, sendo que pelo fato da obrigação

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primitiva ser contraída pelo recorrente e o primeiro recorrido (Banco do Brasil S.A.), o
segundo recorrido não deveria figurar no polo passivo da demanda, haja vista que
amparado pela Resolução CMN/Banco Central do Brasil n.º 2686/2000, a aquisição de
deu de boa-fé, não podendo “responsabilizada por qualquer dano causado à parte
autora, até porque esta já tinha prévio conhecimento de seu débito”, sendo, neste caso, o
cedente o responsável pelo ocorrido.

Diz ainda, que agiu no exercício regular de direito, pois, “a não comprovação pela Autora
da sua adimplência, resta claro a licitude da inscrição de seu nome na SPC”, deixando de
existir razão para o pleito indenizatório, “haja vista que os aborrecimentos e eventuais
constrangimentos são naturais e decorrem da inadimplência e não configuram o dever de
indenizar por estar ausente o dano moral”.

Enfim, a segunda recorrida diz agir nos ditames da Lei, mencionando ainda que é credora
do recorrente, uma vez “que não houve nenhuma conduta irregular na cobrança”, sendo
parte legítima de crédito no valor de R$ 589,55 (quinhentos e noventa e nove reais e
cinquenta e cinco centavos), de acordo com os supostos contratos firmados pelo
recorrente e o primeiro recorrido.

Pois bem. O segundo recorrido confirma que realizou operações de cessão de crédito
junto com primeiro recorrido, portanto, passou, em tese, a ser titular de supostos créditos
então devido pelo recorrente. Consta ainda nos autos que a restrição realizada pelo
segundo recorrido é diversa em data, modalidade, valor e operação/contrato do registro
realizado pelo primeiro recorrido, ocasião que não se pode considerar que as pendencias
financeiras foram praticadas conjuntamente pelas recorridas.

Todavia, o que se constata é que o segundo recorrido, assim como o primeiro recorrido,
não comprovou a ocorrência dos fatos constitutivos do seu direito através das teses
carreadas aos autos. Ao contrário, o que se vislumbra é que o recorrente não celebrou
nenhuma transação bancária quer com o primeiro recorrido (Banco do Brasil S.A.), quer
com o segundo recorrido (Ativos S.A.), supostamente firmado na cidade de Cotia/SP.

Além do que, restou demonstrado que a negativação do nome do recorrente foi


promovida pelo segundo recorrido, que neste caso, parte legítima para responder pelo
ato lesivo.

Quanto ao argumento de que agiu dentro do seu exercício regular de direito, tal defesa
não deve prosperar, pois, é sabido que ninguém poderá ser responsabilizado civilmente
pelo exercício regular de direito, enquanto permanecer dentro dos limites da ordem

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jurídica. Porém, a partir do instante que os ultrapassa, comete ato ilícito. Nesse sentido, as
lições de Rui Stoco:
O indivíduo, no exercício regular de seu direito, deve conter-se no âmbito da
razoabilidade. Se o excede, embora o esteja exercendo, causa um mal
desnecessário e injusto e equipara o seu comportamento ao ilícito.”3

Há provas em todo o caderno processual, fato já mencionado inúmeras vezes, que o


recorrente não realizou nenhuma contratação juntos aos requeridos, sendo que a
conduta de inscrever o registro do mesmo junto aos órgãos de proteção ao crédito
configura conduta ilegal, pois os supostos contratos decorreram de fraude, não tendo o
recorrente em nada contribuído.

No que tange ao segundo recorrido mencionar que agiu de boa-fé, não o exime de ser
verificada sua culpa, pois sucede em seu desfavor a circunstância da responsabilidade civil
objetiva pelo dano causado ao recorrente, sendo desnecessária a perquirição da culpa,
conforme o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Assim, a comprovação dos danos suportados pelo recorrente reside na própria inscrição
de seu nome nos cadastros restritivos de crédito, que fora efetivada de maneira indevida,
fato claramente verificados nos autos, uma vez que não se pode considerar que a prática
de fraude descrita nos autos gere efeitos de exclusão da responsabilidade civil, haja vista a
avalanche de demandas judiciais propostas perante o Judiciário, semelhantes a presente,
mostra que o fato constitui acontecimento corriqueiro hoje em dia.

Por fim, deve ser considerada a solidariedade dos atos praticados pelos recorridos, haja
vista os ilícitos cadastramentos aos órgãos de proteção de crédito, conforme
jurisprudência:
AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. SUPOSTO DÉBITO DECORRENTE
DE CONTRATO BANCÁRIO FIRMADO ORIGINARIAMENTE COM A EMPRESA
BANCO DO BRASIL S.A. CESSÃO DE CRÉDITOS EM FAVOR DA EMPRESA RÉ
ATIVOS S/A - COMPANHIA SECURITIZADORA DE CRÉDITOS FINANCEIROS.
DÉBITO NÃO COMPROVADO. INSCRIÇÃO INDEVIDA DO NOME DO AUTOR
NOS CADASTROS RESTRITIVOS DE CRÉDITO. DEVER DE INDENIZAR. DANO
MORAL PURO. Não obstante a inscrição tenha sido efetuada pela empresa
Ativos S.A. (fl. 14), o banco réu é parte legítima para responder a presente ação.
Há responsabilidade solidária, entre a empresa Ativos SA Securitizadora de
Créditos Financeiros, cessionária, e o banco réu, cedente, tendo em vista que foi
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STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. 5a ed. SÃO PAULO: Ed. Revista dos Tribunais. 2001. p. 129
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aquela quem inscreveu o autor no cadastro de inadimplentes, mas em
decorrência da cessão de crédito do réu. Como não há prova do suposto débito
e montante devido, a decisão que determinou a desconstituição do débito,
considerando-se ilícito o cadastramento junto aos órgãos de proteção ao crédito
vai mantida. A indevida inscrição do nome da parte autora no cadastro de
inadimplentes enseja a reparação por dano moral puro, ou "in re ipsa". O
quantum indenizatório de R$ 6.000,00 (seis mil reais), fixado na sentença,
mostra-se adequado e dentro dos parâmetros adotados pelas Turmas Recursais
em casos análogos. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. (Recurso
Cível Nº 71004861274, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Vivian Cristina Angonese Spengler, Julgado em 27/05/2014).

 Do valor arbitrado a título de indenização por Danos Morais

Insignes julgadores, o Juízo de piso considerou o valor da reparação acordado entre o


recorrente e o Banco Triângulo S.A. suficiente para reparar o dano que lhe foi causado.

Todavia, o valor da reparação no valor de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais), com a
devida vênia, se mostra em desconformidade com o Princípio da Razoabilidade e
Proporcionalidade, não observando também os requisitos usualmente utilizados para a
fixação da verba indenizatória pela prática de danos anímicos.

Em que pese o entendimento do digno Juízo de primeira instância quanto à existência


dos danos morais, o valor arbitrado a este título é extremamente tímido e aquém do
razoável e recomendado para situações deste jaez, onde fartamente provada a prática de
efetiva lesão à honra do recorrente decorrente da má qualidade na prestação do serviço
e do descaso demonstrado quando averiguar a regularidade da cessão do título, bem
como o desinteresse em regularizar a situação, haja vista que o recorrente compareceu
por diversas vezes junto ao estabelecimento do primeiro recorrido e o imbróglio, que não
foi causado pelo mesmo, não foi solucionado.

A prova dos autos processuais é no sentido de que os recorridos inscreveram o registro


do recorrente junto aos órgãos de proteção ao crédito de forma arbitrária, motivada por
falhas na abertura de conta e concessão de crédito a terceira pessoa que se passava pelo
recorrente.

Mister salientar que essa atitude é comum dentre empresas como os recorridos, de
grande porte, pois acreditam na impunidade e se confortam na desigualdade financeira e
social existente entre elas e os usuários dos seus serviços, fato que deve ser
exemplarmente punido pelo Judiciário, aplicando indenizações justas e pesadas, a fim de

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que percebam que é mais conveniente investirem em atendimento e em um bom
relacionamento com os clientes, a fim de que tais falhas não se repitam.

Em consonância com o parágrafo anterior, entende o recorrente que o quantum


arbitrado pelo d. Juízo de primeira instância não atendeu, com a devida vênia, os critérios
legais fixados para dar à indenização os caracteres pedagógicos, repressivos e
preventivos, nem mesmo considerou com adequação a realidade financeira de cada parte
em litígio.

Contudo, como se verá, dispõe o recorrente de fundamentos suficientes para repelir tal
julgamento, sendo necessária a reforma da r. decisão de Primeiro Grau para elevar o
quantum indenizatório.

Quanto à fixação do dano, data vênia, a Magistrada de base não fixou o caráter
compensatório compatível com as lesões experimentadas pelo recorrente, haja vista que
não se verificou o caráter sancionador, de molde a permitir que a condenação sirva de
estímulo aos causadores dos ilícitos e a não reiterar as práticas lesivas, bem como, não
analisou a participação do ofendido, o grau de prejuízo sofrido e as condições
econômicas e financeiras dos recorridos, sem esquecer as peculiaridades e circunstâncias
que envolveram o caso, atentando-se para o caráter antissocial da conduta lesiva, fixando
em apenas R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos mil reais), necessitando imediato reparo.

E, no que pertine aos ilícitos civis, ainda que sejam condenadas, sistematicamente, pelo
Poder Judiciário, a pesadas indenizações por dano moral, insistem em manter o mau
serviço e a punir a população desvalida, daí a razão pela qual, como no caso ora
examinado, a reparação civil deve ser arbitrada proporcionalmente em patamar um
pouco acima dos valores ordinariamente aplicados.

Quanto ao valor da indenização, deve ser observado que ele deve guardar dupla função:
ressarcir a parte lesada e desestimular o agente lesivo à prática de novos atos ilícitos, não
sendo ínfimo, bem como não implicar em enriquecimento sem causa à parte lesada.

Deve ser observado que a falha nos serviços está evidente, pois, sem qualquer análise
mais rigorosa, negativa o nome de um consumidor que sequer chegou a usufruir de um
serviço por ela ofertado.

No caso concreto, as circunstâncias que compõem a realidade social e econômica


(padrão médio de vida) do recorrente, bem como aquelas que permeiam o âmbito
empresarial, recomendam a majoração do valor arbitrado para reparação por dano
moral, que tem por objetivo compensar o sofrimento do consumidor e atribuir uma

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sanção ao prestador do serviço para prevenir negligência futura, fins que não estão sendo
viabilizados com a r. Sentença recorrida.

Nesse sentido, a remansosa jurisprudência pátria, senão vejamos:


RESPONSABILIDADE CIVIL. Ação declaratória de inexigibilidade de débito
cumulada com pedido de indenização por danos morais. Registro indevido do
nome do autor em cadastro de órgão de restrição ao crédito. Cancelamento de
linha celular sem ônus para o cliente em acordo celebrado no Procon/SP.
Inclusão da multa na fatura. Declaração de inexigibilidade da conta de consumo
nestes moldes expedida, a justificar a recusa do pagamento. Restrição cadastral
que resultou da negligência da empresa de telefonia. Desrespeito aos termos da
avença celebrada. Danos morais caracterizados. Pedido inicial julgado
procedente. Preservação da indenização fixada em R$ 20.000,00. Sentença
mantida. Recurso improvido. (TJ-SP - APL: 00278074120138260001 SP 0027807-
41.2013.8.26.0001, Relator: João Camillo de Almeida Prado Costa, Data de
Julgamento: 27/04/2015, 19ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
05/05/2015)

Assim, a despeito de não haver critérios legais predeterminados para o arbitramento do


valor a ser compensado, a indenização deve ser fixada em termos razoáveis, não se
justificando que a reparação venha a constituir-se em incentivo a novas ofensas,
recomendando-se que o arbitramento se opere proporcionalmente ao grau de culpa dos
recorridos, orientando-se o juiz pela realidade da vida e as peculiaridades de cada caso,
sendo que no presente processo, a situação comporta indenização no montante de R$
31.520,00 (trinta e mil e quinhentos e vinte reais), conforme postulado pelo recorrente na
inicial, e que se requer seja fixado por esse E. Colegiado.

2. DO PEDIDO

Ante todo o exposto, requer o recorrente o conhecimento do presente Recurso


Inominado, para reformar a decisão de primeiro grau, no sentido de condenar o primeiro
e segundo recorridos e majorar a condenação arbitrada infimamente a título de
indenização por danos morais pelo juízo de primeira instância, que se mostra
incondizente com os caracteres punitivos, pedagógico e repressivo da medida, assim
como inadequado aos montantes costumeiramente adotados em decisões anteriores
proferidas por esta e. Corte em situações análogas.

Requer ainda, que seja analisado o pleito de ff. 171/177, haja vista a flagrante
desobediência por parte do primeiro recorrido em cumprir a r. Decisão de f. 29, ocasião
que foi deferido o pedido liminar, sendo determinado a exclusão do nome do recorrente
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junto aos órgãos de proteção ao crédito, sob pena de multa diária, a fim de que se evite
que seja beneficiado por sua desídia e leniência em cumprir determinadas decisões
judiciais, mantendo, aí sim, comportamento pautado pela boa-fé.

Termos que pede e espera deferimento.

São Mateus/ES, 02 de março de 2016.

WALACE XAVIER DA SILVA


OAB/ES 20.935

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