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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA x VARA

DA COMARCA DE PARANAÍBA/MS,

Nº MP~«Número do MP#Retorna o número do processo=1@PROC»Número do


MP#Retorna o número do processo=1@PROC

“Não ficará o Homem privado de explorar os recursos


ambientais na medida em que isso também melhora a
qualidade de vida humana; mas não pode ele, mediante
tal exploração, desqualificar o meio ambiente de seus
elementos essenciais, porque isso importaria
desequilibrá-lo e, no futuro, implicaria seu
esgotamento”. (José Afonso da Silva. Direito
Ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros, 2010,
p. 88).

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO MATO


GROSSO DO SUL, pela Promotora de Justiça ao fim signatária, no uso de suas
atribuições legais e constitucionais, com fulcro no que dispõe o art. 129 da
Constituição Federal e a Lei n. 7.347/85, vem, respeitosamente, perante Vossa
Excelência, com base no Inquérito Civil nº 06.2018.00003041-0, que tramita nesta
Promotoria de Justiça de Paranaíba/MS, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER


COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
Em face de:

MUNICÍPIO DE PARANAÍBA, pessoa jurídica de direito


público, inscrita no CNPJ sob o nº 03.343.118-0001/00, na pessoa de seu
representante legal, o senhor RONALDO JOSÉ SEVERINO DE LIMA, com sede
na Avenida Juca Pinhé, nº 333, Bairro Jardim Santa Mônica, CEP 79500-000,
Paranaíba/MS e

DAURY COSTA DA SILVA JÚNIOR, ..., pelos fatos a


seguir expostos:

I – OBJETO DA AÇÃO.

OBJETO DA LIMINAR.

Na presente ação civil pública, primeiramente, pleiteia o


Ministério Público provimento jurisdicional de caráter urgente e liminar, em sede de
tutela mandamental-inibitória, negativa e positiva (CPC, art. 497 e CDC, art. 84), e
de urgência (CPC, art. 300), com objetivo de: (i) ordenar ao primeiro requerido que
apresente o Projeto para implantação de drenagem na região, compreendida entre as
ruas Manoel Salustiano da Rocha, Brás Dias, Ivo Fabres e Avenida dos
Expedicionários, que apresente todos os contratos e aditivos firmados com a Sanesul
e que exiba as leis e documentos no Portal da Transparência; (ii) ordenar ao primeiro
requerido que apresente o planejamento, o projeto executivo, os valores e fontes de
custeio, em que constem a área atendida, prazos, atividades, infra-estrutura e
instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final
adequados dos esgotos sanitários, na região objeto desta ação; (iii) ordenar ao
primeiro requerido que apresente o planejamento, projeto executivo, os valores e
fontes de custeio, em que constem a área atendida, os prazos, atividades, infra-
estrutura e instalações operacionais para o monitoramento dos corpos hídricos
degradados, na região objeto desta ação; (iv) ordenar ao primeiro requerido que
apresentem o planejamento, o projeto executivo, os valores e fontes de custeio, em
que constem a área atendida, os prazos, atividades, infra-estrutura e instalações
operacionais para a descontaminação dos corpos hídricos degradados, na região
objeto desta ação; (v) ordenar aos requeridos que se abstenham de efetuar qualquer
tipo de lançamento de esgoto in natura ou ligação de esgoto às galerias de águas
pluviais; (vi) ordenar ao segundo requerido que efetue o cercamento, a manutenção
e a limpeza completa dos lotes de sua propriedade, incluindo roçada da vegetação
exótica presente (capim) e remoção de rodos os resíduos sólidos descartados no
local, nos termos da lei.

OBJETO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

Na presente ação civil pública, com o intuito de evitar (i) a


continuidade de graves danos ao erário público, à saúde pública, ao consumidor e ao
meio ambiente e (ii) a afronta aos requisitos do serviço público, aos princípios da
administração pública e à dignidade humana, pleiteia o Ministério Público
provimento jurisdicional, em sede de tutela mandamental-inibitória negativa e
positiva, reparatória e condenatória (CPC, art. 497 e CDC, art. 84), com vistas ao
cumprimento imediato do acordado em reunião efetuada entre o Ministério Público
Estadual e os requeridos, com a consequente:
(i) ao primeiro requerido: construção e/ou reavaliação e
funcionamento, por completo, dentro do cronograma de execução fixado por este
Juízo, da infra-estrutura e instalações operacionais de drenagem e microdrenagem na
região compreendida entre as ruas Manoel Salustiano da Rocha, Brás Dias, Ivo
Fabres e Avenida dos Expedicionários;
(ii) ao primeiro requerido: manutenção peiódica do sistema
de drenagem, abrangendo limpeza dos canais;
(iii) ao primeiro requerido: reavaliação do sistema de
microdrenagem local, haja vista o indicativo de diversos pontos de alagamento,
mesmo em regiões onde há dispositivos de disciplinamento de águas pluviais;
(iv) ao primeiro requerido: destinação do curso d’água das
procimidades dos lotes de propriedade do Sr. Daury Costa da Silva Júnior como
Área de Interesse Ambiental, conforme Plano Diretor Municipal de Paranaíba/MS,
art. 18, inciso IV;
(v) ao primeiro requerido: abstenção de lançamento de
esgoto in natura;
(vi) ao primeiro requerido: abstenção de qualquer ligação de
esgoto às galerias de águas pluviais;
(vii) ao primeiro requerido: abstenção da cobrança sem a
finalização da infra-estrutura, execução e funcionamento completo do serviço de
saneamento básico (esgotamento sanitário);
(viii) ao primeiro requerido: condenação à obrigação de
monitorar e descontaminar os corpos hídricos afetados, restauração e recuperação
integral dos danos ambientais e sócio-ambientais causados pelo contínuo
lançamento de esgoto in natura no meio ambiente;
(xi) ao segundo requerido: cercamento e constante
manutenção e limpeza dos lotes de sua propriedade, visano evitar novos descartes de
resíduos sólidos no local.

OBJETO DA INVESTIGAÇÃO.

Em 08 de novembro de 2018, foi instaurado nesta


Promotoria de Justiça o Inquérito Civil n. 06.2018.00003041-0, visando apurar
eventual ligação irregular de rede de água e esgoto em galeria pluvial existente na
propriedade do Sr. Daury Costa da Silva Júnior.

Há nos autos do inquérito civil representação, informando


que a denúncia anteriormente apresentada ensejou a instauração da Notícia de Fato
nº 01.2018.00008284-1, que foi arquivada sob o argumento de que se tratava de
“atendimento particular”. Reiterou que onde se localiza seu terreno houve a
instalação de boca de lobo e há galeria de água pluvial na qual ocorre deságue de
esgoto.
Em resposta a ofício encaminhado, a Prefeitura do
Município de Paranaíba alegou ter constatado em vistoria a existência de esgoto
clandestino na rede de água pluvial do local, além de falha na rede de drenagem, que
ocasiona pequenos e pontuais alagamentos.

Mais adiante, verifica-se a juntada de novas denúncias, feitas


por proprietários de estabelecimentos instalados nas proximidades da área objeto do
inquérito, apontando a ocorrência de enxurrada originada de fluvial, considerada
como córrego, não canalizado pelo Poder Público Municipal.

Foi elaborado pela equipe CEIPPAM Parecer


CEIPPAM/LASANGE-UEMS nº 009/2019, que, após vistoria in loco realizada para
averiguar eventual lançamento de esgoto sanitário em galeria de águas pluviais,
registrou a existência de descarte clandestino de resíduos sólidos que, de acordo
como moradores da região, tem sido foco para proliferação de vetores como
escorpiões, baratas, aranhas e cobras, fato este que tem alarmado a população pelo
risco de morte a crianças, que são mais suscetíveis.

Ademais, a equipe LASANGE-UEMS se deparou com duas


galerias de drenagem de águas pluviais, sendo que a primeira está localizada em
altitude mais elevada em relação à segunda, que, por sua vez, recebe o escoamento
daquela, destinando-o novamente às tubulações da rede de microdrenagem de águas
pluviais, que porventura são destinadas ao Córrego da Fazendinha. Além disso, a
segunda galeria encontrava-se parcialmente obstruída com resíduos sólidos e
vegetação, reduzindo a sua capacidade de escoamento, sendo provável que acabe
por transbordar quando da ocorrência de chuvas intensas.

Informaram também no Parecer CEIPPAM que a primeira


galeria, além de ter sido encontrada obstruída por resíduos sólidos e vegetação,
apresentava escoamento lêntico no momento da vistoria, de efluente de coloração
cinza-escura e com odor fétido, característico de despejos de esgoto sanitário.
Acrescentaram que esta galeria é a mesma que a própria prefeitura municipal de
Paranaíba/MS afirmou no Ofício GAB nº 373/2018, receber escoamento de esgoto
sanitário proveniente de ligações clandestinas na rede de drenagem de águas
pluviais.

Ainda de acordo com Parecer CEIPPAM, não existe sistema


de macrodrenagem na região, apenas de microdrenagem, composto por algumas
bocas-de-lobo, galerias e poços-de-visita (que, inclusive, precisam de manutenção –
limpeza -, uma vez que se encontram obstruídas por resíduos sólidos). O sistema de
macrodrenagem vistoriado é composto de uma galeria de águas pluviais com
lançamento em dissipador de energia às margens do córrego Fazendinha. Os
moradores da região relatam constantes alagamentos no arruamento, independente
da quantidade de chuvas. Observou-se também grande quantidade de particulados
(areia) sob o asfalto, indicativo de carreamento dos mesmos por escoamento
superficial no pavimento.

Em resumo, encontraram como indícios de degradação


ambiental na área vistoriada:

a) Grande descarte de resíduos sólidos diversos, como


resíduos de construção civil, residenciais e de poda/jardinagem;
b) Disposição clandestina de esgoto sanitário bruto na
galeria de drenagem de águas pluviais instalada em lote particular, de propriedade
do Sr. Daury Costa da Silva Junior, que posteriormente destina-se ao córrego da
Fazendinha; e
c) Assoreamento do leito do córrego da Fazendinha por
partículas de solo carreadas pela água das chuvas.

No que diz respeito à responsabilidade:

a) Descartes clandestinos de resíduos sólidos: de difícil


identificação, visto que os lotes não estão cercados, sendo de fácil acesso e sem
controle
b) Despejos clandestinos de esgoto doméstico: pode ser
averiguado por trabalho conjunto entre a concessionária de serviços de saneamento
básico do município e a prefeitura, através de aplicação de fumacê (teste de fumaça)
nas galerias.

Por fim, recomendaram tomar as seguintes medidas


emergenciais:

a) Identificação e supressão dos pontos de lançamento


clandestino de esgoto sanitário bruto na rede de águas pluviais;
b) Manutenção e limpeza completa dos lotes de
propriedade do Sr. Daury Costa da Silva Junior, incluindo: roçada da vegetação
exótica presente (capim) e remoção de todos os resíduos sólidos descartados no
local;
c) Cercamento e constante manutenção dos lotes de
propriedade do Sr. Daury Costa da Silva Junior para evitar novos descartes de
resíduos sólidos na área;
d) Limpeza e manutenção de todo o sistema de
microdrenagem instalado na região, incluindo bocas-de-lobo, poços-de-visita,
galerias e dissipador de energia.

Outras recomendações:

a) Manutenção periódica do sistema de drenagem,


abrangendo limpeza dos canais;
b) Reavaliação do sistema de microdrenagem local, haja
vista o indicativo de diversos pontos de alagamento, mesmo em regiões onde há
dispositivos de disciplinamento de águas pluviais;
c) Destinação do curso d’água das proximidades dos lotes
de propriedade do Sr. Daury Costa da Silva Júnior como Área de Interesse
Ambiental, conforme Plano Direitos Municipal de Paranaíba/MS, art. 18, inciso IV.
Em reunião efetuada no dia 06 de fevereiro de 2020, nas
dependências do Ministério Público Estadual da comarca de Paranaíba, onde
encontravam-se presentes a Exma. Promotora de Justiça Dra. Juliana Nonato, o Sr.
Daury Costa da Silva Júnior acompanhado de seu advogado, o representante da
Sanesul, Sr. Leocir Teixeira de Miranda, e o prefeito do município de Paranaíba, Sr.
Ronaldo José Severino de Lima, acompanhado da procuradora do município, foi
apresentada por este proposta de financiamento junto à Caixa Econômica Federal
para obra de drenagem da Rua Manoel Salustiano, passando pela Rua Brás Dias até
o final do loteamento Daniel V, que fará com que viabilize a solução, auxiliando na
drenagem da região objeto do Inquérito; ficou acordado que o Sr. Daury teria de
fazer a limpeza e o cercamento do seu terreno; quanto à Sanesul, o representante
comprometeu-se a elaborar projeto para disponibilização da rede de esgoto na
quadra compreendida no inquérito, no prazo de 30 (trinta) dias, após o qual a
prefeitura deveria manifestar interesse ou desinteresse na propositura de Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC).

Transcorrido o prazo sem manifestação, oficiou-se à Sanesul


para apresentar o projeto para disponibilização da rede de esgoto na quadra
compreendida entre as Rua Manoel Salustiano, Brás Dia, Ivo Frabres e Avenida dos
Expedicionários, bem como oficiou-se ao Município de Paranaíba para manifestar
interesse em firmar Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).

A Sanesul afirmou que na quadra compreendida no Inquérito


Civil, compreendia entre as ruas Manoel Salustiano, Brás Dias, Ivo Fabres de
Queiróz e Avenida dos Expedicionários, existe rede coletora de esgoto e está “em
plena operação”.

Por sua vez, no dia 20 de julho de 2020, o prefeito municipal


de Paranaíba encaminhou a Comunicação Interna nº 499/2020, expedida no dia
09/07/2020 pela Secretaria Municipal de Obras, Urbanismo e Habitação,
manifestando o desinteresse em firmar Termo de Ajustamento de Conduta (TAC),
em razão de o Projeto para a implantação de drenagem na região estar em análise na
Caixa Econômica Federal para aprovação. Afirmando também que, assim que
aprovado, daria andamento no processo licitatório para contratação da empresa que
realizaria a obra de drenagem da região compreendida entre as ruas Manoel
Salustiano da Rocha, Brás Dias, Ivo Fabres e Avenida dos Expedicionários.

Além disso, oficiou-se o sr. Daury Costa da Silva Júnior,


para comprovar o cumprimento da limpeza e do cercamento de seu terreno e para
manifestar interesse em firmar TAC, no entanto, quedou-se inerte.

Desta feita, apesar de oportunizar-se aos réus,


consensualmente, resolver a situação, os requeridos, além de manifestarem o
desinteresse pela celebração de Termo de Ajustamento de Conduta, deixaram
transcorrer in albis o período que lhes fora concedido, demonstrando, assim, a falta
de interesse na solução extrajudicial.

Em razão destes fatos, ingressa-se como a presente ação civil


pública, buscando-se a reparação dos danos ambientais apontados alhures.

II- DO DIREITO.

DA PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE.

Como se sabe, o meio ambiente é tutelado


constitucionalmente, sendo extraído da Carta Magna que o Poder Público não pode
olvidar esforços visando a sua proteção. É o que se infere do art. 225, da
Constituição Federal de 1988:

"Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do provo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações.

§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao


Poder Público:
I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e
prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II – definir, em todas as unidades da Federação, espaços


territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas
somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção.

III – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou


atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade.

IV – proteger a fauna e flora, vedadas, na forma da lei, as


práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade.

§3.º- As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio


ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos."

De outro norte, a Lei Federal n.º 6.938/81, que dispõe sobre


a Política Nacional do Meio Ambiente, conceitua o que é meio ambiente:

"Art. 3º. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influências


e interações de ordem física, química e biológica, que
permite, abriga, e rege a vida em todas as suas formas;"

Da dicção dos dispositivos citados percebe-se de forma clara


que é função de todos – principalmente do Poder Público, nele incluindo-se o Poder
Judiciário – a proteção ao meio ambiente, impondo-se que os agentes públicos ajam
com presteza na reparação ou óbice à prática de qualquer tipo de dano ambiental.

Ademais, este instrumento (LPNMA) considera o meio


ambiente como um “patrimônio público a ser necessariamente assegurado e
protegido, tendo em vista o uso coletivo”. Sobre este assunto, a Declaração da
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Declaração de
Estocolmo, 1972) estabeleceu princípios que afirmam a necessidade de proteção do
patrimônio público ambiental da humanidade, dentre eles, declarou que a proteção
do meio ambiente é uma questão fundamental que “afeta o bem-estar dos povos e o
desenvolvimento econômico do mundo inteiro”, e um dever dos governos.

No mesmo sentido, a Declaração do Rio sobre o Meio


Ambiente e Desenvolvimento (1992) e a Convenção das Nações Unidas contra a
Corrupção de 2003 (Decreto nº 5.678/2006) estipularam princípios e normas com o
intuito de proteger o patrimônio público, “a fim de atingir o desenvolvimento
sustentável”, aquela registrou, inclusive, a importância da proteção ao ambiente
como parte integrante do processo de desenvolvimento.

Indo de econtro aos princípios mencionados supra, foram


criados os princípios do equador1, como critérios mínimos para a concessão de
crédito, com objetivo de garantir que os projetos financiados sejam desenvolvidos
de forma social e ambientalmente sustentável. Foram delineados, em outubro de
2002, pela International Finance Corporation (IFC) com objetivo de promover a
sustentabilidade e o equilíbrio ambiental dos contratos financeiros.

Além disso, o Banco Central editou a Resolução nº


4.327/2014, que dispõe sobre as diretrizes da Política de Responsabilidade
Socioambiental para instituições financeiras e demais organizações autorizadas a
funcionar pela autoridade monetária, reproduzindo critérios dos Princípios do

1
Bancos filiados: http://www.equator-principles.com/index.php/members-reporting.
Princípios do Equador:
http://www.equator-principles.com/resources/equator_principles_portuguese_2013.p
df. Acesso em: 29.12.2014.
Equador e do Protocolo Verde (PNUMA)2. Editou ainda a Resolução nº 3792/2009,
que trata dos planos administrados pelas entidades fechadas de previdência
complementar e a observância dos princípios de responsabilidade socioambiental na
política de investimento (art. 16, § 3º, VIII).
A Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (1992), ainda, registrou a necessidade de os Estados promulgarem
leis eficazes sobre o meio ambiente, que também precisam aplicar amplamente o
critério de precaução conforme suas capacidades, bem como que as autoridades
nacionais devem fomentar “a internalização dos custos ambientais pelo poluidor ou
degradador, e o uso de instrumentos econômicos que impliquem” o dever de o
poluidor, em princípio, arcar com os custos da degradação ambiental.

A Carta Magna (art. 24, incisos VI e VIII) determinou à


união, aos estados e ao distrito federal a competência concorrente para legislar sobre
proteção do meio ambiente e responsabilidade por dano ao meio ambiente. Por sua
vez, a Constituição do Estado de Mato Grosso do Sul e a Lei Orgânica do Município
de Paranaíba determinam a obrigatoriedade de proteção ao meio ambiente.

A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, em seu artigo


14, §1º, impõe ao poluidor, independentemente de culpa, a indenização ou reparação
dos danos causados ao ambiente e a terceiros afetados. Outrossim, o art. 54 da Lei nº
9.605, de 12 de fevereiro de 1998, dispõe sobre o crime de poluição que possa
resultar em danos à saúde humana. Igualmente, o parágrafo 2º do artigo 241 da Lei
Orgânica do Município de Paranaíba, determina a obrigação de reparar os danos
causados diante de condutas e atividades lesivas ao ambiente.

Os prejuízos patrimoniais e extrapatrimoniais, assim,


devem ser ressarcidos (art.1º, I, da Lei nº. 7.347/85). 3 A reparação integral do dano

2
O Protocolo Verde é um protocolo de intenções, celebrado por instituições financeiras
públicas brasileiras e pelo Ministério do Meio Ambiente em 1995 e revisado em 2008, cujo
objetivo é definir políticas e práticas bancárias exemplares em termos de responsabilidade
socioambiental e em harmonia com o desenvolvimento sustentável. Disponível em:
http://www.bb.com.br/docs/pub/inst/dwn/ProtocoloVerde.pdf. Acesso em 02.01.15.
3
Lei nº 7.347/85 - “Art. 1º - Regem-se pelas disposições desta lei, sem prejuízo da ação
popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: I - ao
meio ambiente”
ambiental não se confunde com a reconstituição do bem lesado, havendo uma
presunção da necessidade de cumulação dessa reconstituição (restauração ou
recuperação) com o dever de indenização/compensação do dano ambiental, em
decorrência da sua complexidade, do amplo espectro de impacto na flora, fauna e no
ser humano e do desestímulo à degradação ambiental, do dano real post factum e do
dano provável.
O Princípio da Precaução deve sempre orientar a
análise de atividades geradoras de impacto ambiental: “quando houver ameaça de
danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser
utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis
para prevenir a degradação ambiental.”4
Com o intuito de proteger o direito difuso fundamental
a um meio ambiente equilibrado, o Ministério Público é legitimado a ajuizar ação de
responsabilidade civil e criminal, porquanto à legislação impõe ao poluidor o dever
de indenizar e/ou reparar os danos causados ao meio ambiente, independentemente
da existência de culpa, tendo consagrado o ordenamento jurídico a responsabilidade
civil objetiva, baseada na Teoria do Risco Integral, que inadmite qualquer
excludente (caso fortuito, força maior, culpa exclusiva da vítima, dolo de terceiro,
licitude da atividade), bastando, para gerar o dever de indenizar, que fique
comprovado: o dano, a atividade e o nexo de causalidade entre ambos.
Esta responsabilidade decorre do Princípio do
Poluidor-Pagador, adotado em diversos países, após a Conferência de Estocolmo,
em 1972, e resultante do esforço desenvolvido para minorar os efeitos negativos de
impactos ambientais inevitáveis, decorrentes das atividades normais da sociedade de
produção e consumo.
Neste sentido, a questão conduzida ao Poder Judiciário
tem triplo enfoque: (i) Tutela preventiva: sob o enforque dos princípios da
prevenção e precaução, busca-se o combate ao ilícito como forma de se evitar e
prevenir a ocorrência de novos danos ambientais; (ii) Tutela
ressarcitória/reparatória/reintegratória/restauradora: visa-se à restauração e

4
Princípio 15 da Declaração do Rio de Janeiro, de 1992.
recuperação da área degradada para que retorne ao seu status original, com flora e
fauna preservadas e (iii) Tutela compensatória/indenizatória: almeja-se a reparação
pelos danos ambientais pretéritos (já causados) e sobre os quais restaria apenas
medida compensatória ou indenizatória.5

DA PROTEÇÃO AOS RECURSOS HÍDRICOS.

O dispositivo constitucional (art. 21, inciso XIX) determina


como competência da união a instituição de sistema nacional de gerenciamento de
recursos hídricos. Criou-se, então, a Lei de Política Nacional de Recursos Hídricos,
nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, cujo um dos objetivos é a disponibilização de
água em padões de qualidade adequados e a preservação de águas pluviais.

Já a Lei Orgânica do Município de Paranaíba, em seu art.


243, inciso XIII, visa “proteger os recursos hídricos, impedindo o emprego de
produtos tóxicos por quaisquer atividades e outras ações que possam comprometer
suas condições”.

...

Diante de todo o exposto, verifica-se que a ligação irregular


de rede de água e esgoto em galeria pluvial e a deficiência no sistema de drenagem
são problemas significativamente prejudiciais ao patrimônio público ambiental.

5
Marcelo Abelha ensina que: “por outro lado, se ainda não houve dano mas existe um
estado potencial de sua ocorrência, é possível dividir essa fase em dois momentos: a) sem
o dano, mas já ocorrido o ilícito; b) sem o dano, mas não ocorrido o ilícito. No caso a tem-
se uma conduta antijurídica de ferimento do direito mas que ainda não causou dano (e
pode nem vir a causar) e que deve ser debelada mediante uma tutela específica que
reverta o ilícito e permita seja alcançado o mesmo resultado que se teria caso o dever
positivo ou negativo fosse espontaneamente cumprido. No caso b nem o dano e nem o
ilícito ocorreram, mas existe um estado potencial de ocorrência de um e/ou outro. Nessa
situação, é possível o cumprimento da tutela específica que permita o alcance do
cumprimento da conduta que se espera seja cumprida.” (ABELHA, Marcelo. Ação Civil
Pública e Meio Ambiente. 2 e.d. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2004).
III– DO PEDIDO.

Diante do exposto, este Representante do Ministério Público


Estadual requer seja ...

Por fim, requer-se o pagamento de honorários de


sucumbência em favor do Fundo de Aparelhamento do Ministério Público Estadual,
no valor de 10% sobre o valor da causa, arcando o Executado com os demais ônus
de sucumbências.

Dá-se à causa o valor de R$ ?????* ( ?????* reais).

Termos em que

Pede deferimento.

«Comarca do Procedimento / Atendimento / ProtocoloComarca do Procedimento /


Atendimento / Protocolo, «Data do Sistema por Extenso#Retorna a data correnData do
Sistema por Extenso#Retorna a data corren .

Juliana Nonato

Promotora de Justiça

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