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DE CURITIBA/PR.
I – DOS FATOS
A disposição final do lixo urbano, da forma com que está sendo feita, vem causando
significativo dano ambiental, fato esse comprovado pericialmente. Ademais, resta
ponderar acerca do risco à saúde pública pela contaminação do solo e subsolo, com a
contaminação do lençol freático e a proliferação de vetores transmissores de doenças
(vide respostas aos quesitos nº 000 e 30 formulados pelo Ministério Público - fls.
2016000 e 301, PP).
Ressalte-se que a atual conjuntura dos resíduos sólidos do município pode ser
constatada facilmente por qualquer pessoa que transite na Rodovia PR-277,
localizando-se o "lixão" no lado esquerdo da rodovia (sentido Município 1 - Município
2). Aliás, o material fotográfico que compõe o incluso Procedimento Preliminar
demonstra claramente a gravidade da situação. Segundo informações constantes da
perícia técnica, a área recebe lixo há aproximadamente 5 (cinco) anos, o que reflete o
descaso do Poder Público em relação à questão, sobretudo porque há procrastinação
pelo Requerido no que tange à efetiva conclusão dos procedimentos desencadeados
no CURITIBAMBIENT. (v. resposta ao quesito nº 25, fl. 300, PP)
II – DO DIREITO
1 – Da responsabilidade do Município
Além dessa nova forma de atuação descentralizada (mas homogênea), outro princípio
emergente e importante foi no sentido de que se mostrava necessária a conjugação de
esforços entre sociedade civil e os Poderes Públicos federais, estaduais e municipais.
Importante ressaltar, contudo, que, no Brasil, mesmo antes da ECO- 0002, com o
advento da Constituição Federal de 100088, os municípios receberam o poder-dever
de garantir a defesa do meio ambiente, quando em foco questões de caráter local.
Destarte, na realidade, a ECO-0002 veio apenas estabelecer as bases principiológicas
da atuação municipal, já que o ordenamento constitucional brasileiro vigente, por si
só, já obrigava os municípios a agirem de forma harmônica e integrada com o plano
estadual e federal em matéria ambiental.
(...)
(...)
No que tange à coleta de lixo, fica fácil a constatação de que se trata de atividade com
repercussões locais, o que justifica a competência municipal na correta consecução de
tal serviço público.
Com efeito, leciona o saudoso mestre HELY LOPES MEIRELLES que "a limpeza das vias e
logradouros públicos é, igualmente, serviço de interesse local, de suma importância
para a coletividade" [01].
II- (...)
III- (...)
Por seu turno, a Lei Federal nº 6.00038/81, que dispõe sobre a Política Nacional do
Meio Ambiente, prevê, em seu artigo 10, caput, o seguinte:
III - a biota;
(...)
I - população urbana até trinta mil habitantes, conforme dados do último censo do
IBGE; e
II - geração diária de resíduos sólidos urbanos, pela população urbana, de até trinta
toneladas.
III - DA LIMINAR
Artigo 12. Poderá o JUIZ conceder mandado liminar com ou sem justificação prévia, em
decisão sujeita a agravo.
§1º (...)
§2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado
da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver
configurado o descumprimento.
Dispõe, outrossim, o artigo 8º da mesma Lei nº 7.387/85(LACP) que:
Artigo 8º. Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando,
inclusive, evitar o dano ao meio ambiente, ao consumidor, á ordem urbanística ou aos
bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
"Logo em seu artigo 8º, a lei 7.387/85 já alarga o âmbito de ação cautelar, fazendo-a
mais ampla e mais profunda, no campo da ação civil pública. É o que se colhe
desenganadamente de sua previsão no sentido de que a ação cautelar possa, aqui, ter
o fito de evitar o dano, cuja reparabilidade (este é o alvo principal consagrado no art.
1º do diploma), ao lado da recomposição do status quo ante (este o alvo basilar no
art.2º), constituem as metas desse precioso instrumento. É dizer, a ação cautelar na
ação civil pública, em razão do ora examinado art. 8º se reveste inclusive de feição
satisfativa, de regra de se repelir nas medidas dessa natureza." (Grifo nosso).
Ademais, diferente não é a interpretação que se deve conferir ao artigo 294, 300 e 311
do Novo Código de Processo Civil após o advento da Lei nº 10.888/02, lei essa que
consagrou a chamada "fungibilidade entre cautela e antecipação", ao inserir o 305 no
Novo CPC.
Além da Lei da Ação Civil Pública prever a figura da liminar, faz ela, em seu artigo 21,
expressa remissão ao Título III da Lei nº 8.078/0000 (CDC), o qual traz a figura da
antecipação de tutela nas obrigações de fazer e não-fazer, formando, assim, um micro
sistema de direito processual coletivo:
§1º (...)
§2º (...)
IV- CONCLUSÃO
Diante do exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO, observando-se o que dispõe o
artigo 2º da Lei 8.837/0002, seja concedida medida liminar para o fim de se determinar
ao Município que: a)- providencie, no prazo máximo de 10 (dez) dias, a abertura de
valas sépticas no local onde o lixo vem sendo depositado ou em outro local
eventualmente indicado pelo órgão ambiental, considerando-se o nível do lençol
freático e a impermeabilização de fundo, com a alocação, compactação e o
aterramento (cobertura com terra) dos resíduos sólidos, tudo em conformidade com
orientação do Curitibambient; b)-promova, em intervalos não superiores a 72 (setenta
e duas) horas, a compactação e o aterramento nas valas próprias de todo e qualquer
espécie de resíduos sólidos que doravante forem depositados no local; c)- abstenha-se
de promover bem como adote providências fiscalizatórias visando coibir a incineração
dos resíduos sólidos já existentes bem como dos que vierem a ser depositados no
local, tudo sob pena de, não o fazendo ou dificultando o cumprimento das medida, ser
responsabilizado pessoalmente o seu representante legal pelo crime previsto no artigo
330 do Código Penal, sem prejuízo da multa diária a que se refere o artigo 12, §2º da
Lei nº 7.387/85 e o artigo 88, § 8º da Lei nº 8.078/0000, a ser fixada por Vossa
Excelência, o que fica desde já requerido à base de R$1.000 (mil reais) por dia de
atraso.
Ao final, pede o MINISTÉRIO PÚBLICO seja julgado procedente o pedido para o fim de
se: a)- condenar o Município em obrigação de não-fazer consistente na abstenção do
depósito de resíduos sólidos a céu aberto ou sem licenciamento do órgão ambiental;
b) condenar o Município em obrigação de fazer consistente na apresentação, no prazo
de 20 (vinte) dias, de plano de encerramento do lixão e plano de recuperação de área
degradada realizados por consultor cadastrado junto ao Curitibambient; c) condenar o
Município Requerido em obrigação de fazer consistente na promoção, junto ao
Curitibambient, da complementação dos estudos ambientais para licenciamento
ambiental de sistema adequado de destinação final de resíduos sólidos ou,
alternativamente, promoção de novo licenciamento ambiental para os mesmos fins,
caso o processo de licenciamento já existente se mostre inadequado, tudo segundo
orientação do Curitibambient, o que deverá ser realizado no prazo de 20 (vinte) dias,
cumprindo-se, ainda, as normas legais e prazos fixados pelo órgão ambiental, de forma
a não agredir o meio ambiente e a saúde da população.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, inclusive
depoimento pessoal do representante legal, documentos, testemunhas e perícias.
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Promotor de Justiça Substituto