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AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE IJUÍ

– RIO GRANDE DO SUL.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO


GRANDE DO SUL, por meio da Promotoria de Justiça de
Proteção ao Meio Ambiente, por seu representante infra-
assinado, usando das atribuições que lhe são conferidas, vem à
presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 129,
inciso III e 225, da Constituição Federal e com fundamento nas
Leis Federais nº 6.938/81 e nº 7.347/85, bem como demais leis
estaduais e municipais pertinentes à espécie, com base no
Inquérito Civil de nº 00937.00009/2015, propor a presente.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR


DANOS CAUSADOS AO MEIO AMBIENTE, com pedido
de concessão de MEDIDA LIMINAR, cumulado com obrigação
de fazer e indenizar os danos causados, contra:

MUNICÍPIO DE IJUÍ, pessoa jurídica de direito público


interno, inscrita no CNPJ sob nº XX.XXX.XXX/XXXX-XX,
com sede administrativa na Prefeitura Municipal de Ijuí, situada
na Rua Benjamin Constant, 429, bairro Centro, CEP: 98700-
000, Município de Ijuí, Estado do Rio Grande do Sul.

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I. DOS FATOS

O município de Ijuí, representado pelo Prefeito Antônio Bem Votado,


efetuou depósitos irregulares de resíduos sólidos, em desacordo com a legislação
ambiental, no interior do município em área pertencente ao município, mais
precisamente na localidade de Linha Depósito.

O MP abriu Inquérito Civil de nª 00937.00009/2015 com base nas


informações constantes no Relatório Ambiental enviado pelo pelotão da Brigada
Militar, relatando dano ambiental na referida localidade, causado pelo depósito irregular
de resíduos sólidos, onde foram encontrados resíduos vegetais, provavelmente
resultantes de podas e/ou cortes na área urbana, bem como resíduos da construção civil
em meio à lixo doméstico.

Segundo o relatório, tal fato aconteceu fora de áreas de preservação


permanente. No inquérito foi requerida vistoria técnica a qual foi realizada pela Divisão
de Assessoramento Técnico (DAT) do MP, o qual referendou tal informação de que o
depósito não se encontrava dentro da área de preservação permanente.

1. RELATÓRIO DE INSPEÇÃO Nº XXX/2015:

Foi constatado que 1.200m³ de resíduos foram descartados


indevidamente no local, sugerindo a recuperação da área nos seguintes
termos: Para efeito de quantificação de custos ambientais associados. À
degradação ambiental, utiliza-se a metodologia do custo de controle
(Motta, 1997). De acordo com esta metodologia, atribui-se ao valor
ambiental os custos que deveriam ter sido empregados para evitar a
prática inadequada.

Para o caso em questão, a valorização é derivada da disposição


correta dos resíduos sólidos a um custo da ordem de R$ 25,00/m3. A
partir da área estimada de 1.200 3 e considerando uma altura original de
resíduos de 1m, o volume é quantificado como sendo de 1.200m3.
Assim, o valor estimado a partir do custo é de R$ 30.000,00. Como o
evento de contaminação ocorreu há pelo menos 7 meses, este valor

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calculado deve ser corrigido a uma taxa mensal de juros de 1% ao mês.

Sugere-se também que o município procure licenciar uma área


para ser o destino final dos resíduos de poda, que podem ser também
picotados e utilizados como húmus para plantações, bem como faça o
licenciamento de área para depósito de resíduos da construção civil.
Estas ações devem ser mencionadas no Plano de Saneamento Básico, no
capítulo dos resíduos sólidos. Este plano, se ainda não foi realizado pelo
município, sugere-se que seja realizado a curto prazo. Observa-se que o
valor estimado com a valorização ambiental, salvo melhor juízo,
aproximadamente o custo de um plano de saneamento para o município.

Por fim, a área em questão, se for retirado os resíduos poderá ter


recuperação naturalmente.

Importante ressaltar que durante o inquérito o MP buscou diversas


oportunidades a solução do problema de forma extrajudicial, através de celebração de
Termo de Ajuste de Conduta (TAC), porém todas as tentativas restaram exitosas.
Tendo, em uma das oportunidades, em consideração, ao requerido pelo prefeito e órgão
ambiental do município, novo relatório ao DAT, que apontou que a retirada dos
resíduos de podas não seria necessária pois está em avançado estado de apodrecimento,
sendo que o local está se regenerando naturalmente. Porém a retirada dos resíduos
sólidos urbanos se faz necessária, bem como o cercamento da área, para evitar novos
depósitos no local, bem como sinalização de proibição de depositar lixo no local e
adensamento da vegetação já existente com plantio de espécies vegetais nativas.

II. DOS DANOS AMBIENTAIS

Os "lixões" urbanos a céu aberto constituem-se sério problema no tocante a


aspectos do meio ambiente, saúde e suas interações. Alguns desses resíduos degradam-
se facilmente em contato com as intempéries; outros, ao contrário, persistem por
centenas de anos no meio ambiente, a saber:

- papel - 2 a 4 semanas;

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- plástico - mais de 50 anos;

- lata - 100 anos;

- alumínio - 200 a 500 anos;

- vidro - tempo indeterminado.

O impacto causado por determinados resíduos pode trazer conseqüências


irreversíveis ao meio ambiente. Na questão do lixo doméstico, sabe-se que materiais
como pilhas de rádio, são colocados dentro de sacos de lixo. As pilhas contêm mercúrio,
elemento responsável por graves problemas de contaminação do homem e do meio
ambiente; é absorvido pelos organismos vivos e vai se acumulando de forma contínua
durante toda a vida. Pela contaminação da terra ou da água, entra facilmente na cadeia
alimentar, representando um perigo potencial para o homem que se alimenta dos peixes
ou aves das áreas vizinhas aos "lixões". A ação tóxica do mercúrio afeta o sistema
nervoso central, provocando lesões no córtex e na capa granular do cérebro. São
observadas alterações em órgãos do sistema cardiovascular, urogenital e endócrino. Em
casos de intoxicações severas, os danos são irreparáveis.

Parece-nos evidente que, para as autoridades, é mais cômodo deixar que a


saúde pública se deteriore, ao invés de tentar resolver os problemas de saneamento
básico, de forma objetiva e eficaz. Segundo o " Perfil Ambiental e Estratégias" - 1992 -
Secretaria Especial de Meio Ambiente":

" A saúde pública vem sendo seriamente afetada pela baixa qualidade do
saneamento básico, principalmente a falta de tratamento de esgoto e a inadequada
coleta e disposição de lixo urbano."

III. DO DIREITO

Buscando proteger a qualidade de vida, a dignidade e bem-estar, a


Constituição Federal de 1988, pela primeira vez na história da República Federativa do

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Brasil, dedicou um capítulo exclusivo ao meio ambiente, possibilitando ao Poder
Público e à coletividade os meios necessários para a tutela desse bem comum do povo e
definindo princípios e regras a serem seguidos, dentre eles, conforme dispõe no “caput”
do artigo 225, o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e
essencial à sadia qualidade de vida.

A Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) traz o conceito


normativo de meio ambiente em seu artigo 3º, inciso I, como sendo o “conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

Pode-se afirmar que o reconhecimento do direito a um meio ambiente


sadio figura, na verdade, como extensão do próprio direito à vida, tanto sob a
perspectiva da própria existência física e saúde dos seres humanos, quanto pelo aspecto
da dignidade dessa existência, que pressupõe a garantia de padrões mínimos de
qualidade de vida.

Em diversas passagens da Lei Maior, a proteção do meio ambiente foi


consagrada, ora enfatizando-se o aspecto obrigacional, dirigido ao Poder Público e à
coletividade, ora o aspecto de direito subjetivo dos cidadãos, a serem reclamados em
face do Estado. Observe-se:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao
Poder Público:
(...)
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de
técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a
vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
(...)
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.

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A política de proteção ao meio ambiente fez editar pelo Conselho
Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, a Resolução nº 01 de 23 de janeiro de 1986, a
qual expressamente determina em seu artigo 1º, inciso IV:

"Art. 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental


qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas
que, direta ou indiretamente, afetam:

(...)

IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente."

Mais adiante, em seu art.29, X, estabelece:

"Art. 29 - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e


respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos a aprovação do
órgão estadual competente, e da SEMA em caráter supletivo, o licenciamento, tais
como:

(...)

X - aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos


ou perigosos."

Com a sua atuação infringe a requerida o disposto na Portaria Federal nº


053 de 01 de março de 1979, a saber:

"I - os projetos específicos de tratamento e disposição de resíduos


sólidos, bem como a fiscalização de sua implantação, operação e manutenção, ficam
sujeitos à aprovação do órgão estadual de controle da poluição e de preservação
ambiental, devendo ser enviadas, à Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA),
cópias das autorizações concedidas para os referidos projetos".

No que diz respeito ao lixo hospitalar acumulado pela requerida a céu

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aberto, está-se contrariando o que dispõem os artigos 10º e 12º da Resolução nº 05 do
CONAMA de 05 de agosto de 1993, "in verbis":

"Art. 10º - Os resíduos sólidos pertencentes ao Grupo "A"* não poderão


ser dispostos no meio ambiente sem tratamento prévio que assegure:

a) a eliminação das características de periculosidade do resíduo;

b) a preservação dos recursos naturais, e;

c) o atendimento aos padrões de qualidade ambiental e de saúde


pública.

O meio ambiente é um patrimônio a ser necessariamente assegurado e


protegido. Além disso, toda a sociedade é prejudicada pela supressão dos recursos
ambientais. No presente caso, é objetiva a responsabilidade pelo dano ambiental
provocado pela ré, sendo desnecessárias quaisquer considerações acerca do caráter
culposo da conduta da mesma.

Ao Ministério Público, como guardião da defesa da ordem jurídica e dos


interesses indisponíveis da sociedade, compete, portanto, zelar pela fiel observância da
Constituição e das leis, defendendo os interesses meta-individuais, sendo o detentor de
legitimidade para referida defesa.

IV. DOS PEDIDOS

Pelo exposto REQUER:

a) Face ao exposto, em razão de ser considerado o local como


inadequado para a destinação que lhe foi dada, pelo não
cumprimento da exigência legal de elaboração de RIMA
(Relatório de Impacto Ambiental), nos termos da legislação
pertinente; e por haver a Prefeitura Municipal, com essa atuação,
desrespeitado os respectivos dispositivos legais e causado a
degradação ambiental da região, REQUER a concessão de

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MEDIDA LIMINAR para que não mais seja acumulado naquele
logradouro, seja pela Prefeitura Municipal de Ijuí, seja por
terceiros, qualquer espécie de lixo, fixando-se, para eventual
descumprimento, multa diária, nos termos do art. 11 da Lei
7.347/85.b) seja determinada o acesso imediato ao Impetrante às
informações sobre seu respectivo cargo fantasma, vinculado ao
Ministério da Educação.

b) Visualiza-se, pois, pelo exposto, a urgência de solução da


problemática causada pela ré, estando presentes os requisitos
necessários para a concessão da medida pleiteada, quais sejam:
"fumus boni iuris", consistente nos dispositivos legais retro
mencionados e o "periculum in mora", presentes no
agravamento da situação e a ocorrência dos danos daí
decorrentes, eis que a ré não tomou as medidas cabíveis para a
supressão dos danos nocivos à comunidade.

c) REQUER a procedência da ação para o fim de não mais ser


utilizado o local mencionado para fins de depósito de lixo, bem
como seja retirada dos resíduos sólidos urbanos, com a
recuperação integral do ambiente afetado.

d) REQUER a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental com


o devido Relatório de Impacto Ambiental para o novo local que
vier a ser utilizado como aterro sanitário, devendo ser
considerada a disposição do lixo hospitalar.

e) Caso haja descumprimento por parte da requerida, no prazo


fixado por Vossa Excelência para cessação da atividade, por
ocasião da sentença ao final, REQUER a cominação de multa
diária, consoante dispõe o art. 11 da Lei 7.347/85.

f) REQUER também a citação da requerida nos termos do art.


221, inciso II, do Código de Processo Civil, para responder aos
termos da presente ação, com as advertências da revelia,

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devendo, ao final, ser julgado procedente o presente pedido,
condenando-se a ré aos ônus da sucumbência, honorários
periciais e demais cominações legais.

Protesta-se por todos os meios de provas em direito admitidos, inclusive depoimentos


pessoais, juntada de documentos e perícias.

Dá-se à causa, para efeitos fiscais, o valor de R$ 180.000,00 (Cento e Oitenta Mil
Reais).

Nestes termos, pede deferimento

Ijuí/RS, 17 de Agosto de 2021

Gabriel Herrmann Dambros


OAB/RS 00.000

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