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INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é analisar e apresentar soluções para os prejuízos


causados pelas fraudes na emissão de laudos para obtenção de Licenciamento
Ambiental.
Utilizou-se como marco teórico, as obras da Usina Hidrelétrica de Barra Grande
em estágio final de construção no Rio Pelotas, na divisa entre o Rio Grande do
Sul e Santa Catarina, que para obtenção da sua Licença Prévia, baseou-se em
um estudo de Impacto Ambiental (EIA, RIMA) fraudulento. Também o da
Hidrelétrica de Itapabi, em Salto da Divisa, Vale do Jequitinhonha em Minas
Gerais, que omitiu o alagamento de cachoeiras, subestimou o número de
trabalhadores atingidos pela barragem e a interrupção da pesca local.
Os anseios do crescimento econômico, sem ser pautados no desenvolvimento
sustentável, geram grandes impactos ambientais, já que exclui as
consequências ambientais e sociais, com foco apenas na economia.
Principalmente, tendo em vista que o desenvolvimento sustentável possui
dimensões que alcançam patamares éticos, sociais, políticos-jurídicos,
econômicos e ambientais, como em uma árvore, onde as dimensões são os
galhos sem nenhuma hierarquia entre elas (FREITAS, 2016, p. 55).
Primeiramente estudou-se os tipos de Licença Ambiental e seus conceitos
operacionais, na sequência investigou-se as agressões e os danos ao meio
socioambiental que podem ser gerados por um estudo feito por agentes mal
preparados ou mal intencionados e foi apresentado algumas medidas com o
propósito de se não eliminar, mas pelo menos dificultar este tipo de
comportamento.
A responsabilidade sobre a idoneidade dos estudos ambientais, por falsidade
ou por omissão, foi enquadrada no artigo 69-A da Lei de Crimes Ambientais
(Lei federal 9.605/96). Surpreendentemente, o crime é o mais grave previsto na
Lei, sendo a pena superior ao tráfico de animais silvestres e maior inclusive
que a pena por homicídio culposo, por exemplo.
Vale salientar que no estudo de Impacto Ambiental, é imprescindível o
compromisso com a verdade real do empreendimento e de seu entorno,
apresentando medidas que supostamente podem ser adotadas para dificultar
as possíveis fraudes nos laudos pertinentes aos impactos ao Meio Ambiente.

É inaceitável no ordenamento jurídico e administrativo brasileiro, quando se


trata do meio ambiente, edição de leis, regulamentos, portarias que afrontam a
proteção do meio ambiente, sob pena de ferir o princípio da vedação ao
retrocesso sócio ambiental, devendo o Poder Judiciário intervir diretamente
neste controle, visando a proteção ambiental, pautados em demais princípios,
como o princípio da precaução, e buscando sempre o interesse da coletividade
em detrimento de interesses de classes ou pressões externas (SILVA, 2014, p.
213).

LICENCIAMENTO AMBIENTAL

O licenciamento ambiental é um importante instrumento de gestão da Política


Nacional de Meio Ambiente. Por meio dele a administração pública busca
exercer o necessário controle sobre as atividades humanas que interferem nas
condições ambientais.

TIPOS DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL E SEUS CONCEITOS


OPERACIONAIS

Licenciamento Ambiental – Licença Prévia – LP:

É o tipo de licença a ser expedido ainda no início do planejamento, da


concepção da atividade ou empreendimento, contendo todos os requisitos
básicos que deverão constar na fase de localização, instalação e operação da
determinada atividade ou empreendimento.

Dessa forma, em projetos que haja significativo impacto ambiental será


necessário o Estudo de Impacto Ambiental e consequentemente o Relatório de
Impacto Ambiental, ou seja, o EIA/RIMA. Estes, serão instrumentos
condicionadores para a concessão da licença.

Licenciamento Ambiental – Licença de Instalação – LI:

Será expedida posteriormente a análise dos parâmetros e especificações do


Projeto Executivo do empreendimento, como também após a comprovação da
realização e efetivação de todas as condições estabelecidas na LP, juntamente
com a apresentação de informações detalhadas sobre os planos, programas e
tecnologias responsáveis pela neutralização ou compensação dos impactos
ambientais negativos provocados.

Licenciamento Ambiental – Licença para Operação – LO:

A Licença para Operação é a licença que dá permissão ao empreendimento


para que este passe a operar de forma plena. Somente poderá ser concedida
mediante o cumprimento de todas as outras exigências das licenças anteriores,
tanto no que tange as medidas de cunho ambiental como também aquelas
fixadas para o funcionamento do empreendimento.

DANOS SOCIOAMBIENTAIS CAUSADOS PELA CONSTRUÇÃO DE


HIDRELÉTRICAS.

Esse tipo de empreendimento é muito preocupante pois é necessário o


desmatamento de áreas naturais e, consequentemente, a extinção de espécies
de animais. Há diminuição de pescado em torno de 60%. Onde ocorre espécie
endêmicas, o prejuízo ambiental é ainda maior. A perda dessas espécies
representa um enorme dano para a biodiversidade, não somente local, mais a
nível mundial”,

A área que recebe o grande lago que serve de reservatório da hidrelétrica, a


natureza se transforma: o clima muda, espécies de peixes desaparecem,
animais fogem para refúgios secos, árvores viram madeira podre debaixo da
inundação… E isso fora o impacto social: milhares de pessoas deixam suas
casas e têm de recomeçar sua vida do zero num outro lugar. No Brasil, 33 mil
desabrigados estão nessa situação, e criaram até uma organização, o
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Quando uma grande barragem é construída, o rio a jusante [direção em que


correm as águas de uma corrente fluvial] perde grande parte de espécies de
peixes que são importantes para a população ribeirinha. Aquelas comunidades
terão que conviver com a diminuição de sua atividade de pesca ao longo de 15
ou 20 anos, por exemplo, e esses prejuízos econômicos e sociais não têm sido
incorporados no custo desses projetos”, disse.

No caso da barragem de Barra Grande, 650 famílias estão sendo expulsas


desta barragem, sem nenhum direito a indenização. Outras 1.500 famílias
estão ameaçadas de perderem suas terras, deixando com isto de produzir
alimentos para sustento da família e do país.

Em ambos projetos a empresa que elaborou o Estudo de Impacto Ambiental


(EIA) das hidrelétricas – que omitiu o alagamento de cachoeiras, subestimou o
número de trabalhadores atingidos pela barragem e não previu a interrupção
da pesca – é conhecida do público. Foi a Engevix Engenharia S.A. A Engevix
tem como foco a construção civil, mas também atua na área de meio ambiente.
Ela participou, por exemplo, da realização dos estudos das comunidades,
terras e áreas indígenas do Relatório de Impacto Ambiental (Rima) e do EIA da
hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA). Foi a responsável pelo pré-
cadastro socioeconômico, pesquisa censitária e amostral do patrimônio
arqueológico, cultural e paleontológico na região afetada pela usina. Ao mesmo
tempo, a Engevix Engenharia e a Engevix Construções – do mesmo grupo –
participam junto com a Toyo Setal do consórcio de montagem eletromecânica
da hidrelétrica a um custo de R$ 1,038 bilhão. Ou seja, além de fazer o EIA-
Rima, a Engevix se beneficia da construção do empreendimento, e está em
plena atividade até o momento.

Citamos aqui também a construção da hidrelétrica Dona Risoleta Neves no Rio


Doce, referindo-nos aos efeitos negativos causados pela construção da UHE
Candonga, que de acordo com o depoimento do ambientalista Jose Roberto,
os moradores eram alegres e felizes antes da construção da UHE e hoje são
tristes: “[...] um povo que vive de lembranças, estão ocos por dentro, o dano
moral foi terrível. Perderam muito, pois o rio tinha voz e agora a barragem é
muda, hoje o rio é morto, perdeu a vida”. Nesse projeto, os três processos de
licenciamento:
Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO).
foram concedidas com importantes pendências com a comunidade e em
situações extremamente irregulares, onde várias arbitrariedades foram
cometidas pelo Consórcio Empreendedor no decorrer de todo o processo de
implantação da UHE Candonga, conforme afirmam Barros e Sylvestre (2004) e
as reivindicações da população consideradas como “pedras no meio do
caminho” pelo mesmo.

MEDIDAS POSSÍVEIS PARA INIBIR AS FRAUDES EM LICENCIAMNETO


AMBIENTAL

O crime ambiental, diferente de outras modalidades de crimes, tem,


necessariamente, uma finalidade de enriquecimento ilícito, o Ministério Público
deve atuar de modo efetivo também na esfera criminal para viabilizar a
responsabilização dos infratores ambientais e para prevenir novos ilícitos.

No campo normativo, destaca-se a Resolução BACEN 4327/2014, que versa


sobre o gerenciamento do risco socioambiental, definindo-o em seu artigo 4º
como a possibilidade de ocorrência de perdas das instituições financeiras
sujeitas ao controle do Banco Central, impondo a sua identificação como um
componente das diversas modalidades de risco a que estão expostas. Sobre o
gerenciamento desses riscos, assim dispõe:

Art. 6º – O gerenciamento do risco socioambiental das instituições


mencionadas no art. 1º deve considerar:

I – sistemas, rotinas e procedimentos que possibilitem identificar, classificar,


avaliar, monitorar, mitigar e controlar o risco socioambiental presente nas
atividades e nas operações da instituição;

II – registro de dados referentes às perdas efetivas em função de danos


socioambientais, pelo período mínimo de cinco anos, incluindo valores, tipo,
localização e setor econômico objeto da operação;
III – avaliação prévia dos potenciais impactos socioambientais negativos de
novas modalidades de produtos e serviços, inclusive em relação ao risco de
reputação; e

IV – procedimentos para adequação do gerenciamento do risco socioambiental


às mudanças legais, regulamentares e de mercado.
Com isso as empresas deveriam se sentirem incentivadas a levarem mais a
sério seus relatórios de impactos ambientais, mas este dentre outros
dispositivos, não estão sendo eficazes para inibir possíveis artimanhas para
driblar o sistema.
A seguir, enumeraremos quatro medidas extraídas de várias pesquisas
relacionadas ao assunto e reunidas neste relatório, com intuito de se achar
soluções práticas para tentar inibir licenciamentos fraudulentos e preservar na
medida do possível o meio ambiente.

01 – Estabelecer o credenciamento de empresas e processo de avaliação


de qualidade. Sugestão de baixo custo e com alto potencial de impacto na
seleção das melhores empresas e aumento da qualidade, a transparência do
resultado dos trabalhos das empresas nos órgãos ambientais, informando os
estudos ambientais negados, os estudos ambientais que necessitaram de
complementação, o número de complementações, avaliação das audiências
públicas e transparência do processo, número de questionamentos, ações e
termos de ajustes de conduta no processo, poderiam auxiliar na seleção de
empresas. O desempenho das empresas deveria incluir processos de omissão
de informação, falsificação de dados, e quando comprovados crimes, que
sejam encaminhados e monitorados em conjunto com o Ministério Público
pertinente.
As empresas com baixa qualidade ou condenadas por crimes teriam período
de quarentena definido para reestruturação, assim como seus profissionais
envolvidos. O histórico e a transparência dos problemas existentes nos estudos
ambientais podem contribuir de maneira significativa para seu aumento de
qualidade.

2 – Participação de Universidades e Centros de Pesquisa no processo de


suporte ao licenciamento ambiental. Assim como empresas, Universidades e
Centros de Pesquisa poderiam desempenhar papel semelhante na
multiplicação da força de trabalho dos analistas ambientais, e também no
suporte para atividades meio ou finalísticas, e de suporte para estudos
estratégicos. Universidades privadas possuem maior agilidade por não possuir
as restrições de contratação das leis normativas da administração pública, e
podem complementar atividades exercidas por universidades públicas, que
possuem a seu favor a existência de quadro funcional concursado com
estabilidade, sujeito ao mesmo regime administrativo.
3 – Integração com outros setores do Ibama para fortalecer o processo de
monitoramento e fiscalização. Sugestão pertinente e capaz de multiplicar a
capacidade de monitoramento e fiscalização, ao integrar no processo outros
setores do Ibama, como fiscalização, divisões técnicas estaduais, emergências
e qualidade ambiental. A integração encontra uma barreira na falta de
procedimentos necessários para o exercício da função, o que acarreta na
possibilidade, por exemplo, de embargo imediato de uma operação por
descumprimento de uma norma ambiental, o que pode ter grande impacto em
um empreendimento e no próprio serviço prestado. Exemplificando, no setor
elétrico a interrupção do fornecimento não só é passível de multa pela agência
reguladora, que necessita de programação e planejamento para gerenciar o
sistema, como pode provocar um apagão na região, causando grande impacto
social e econômico. Grande parte dos empreendimentos do licenciamento
ambiental são serviços de utilidade pública e interesse social, como geração de
energia, infraestrutura e logística, como portos, aeroportos, estradas, linhas de
transmissão de energia, ferrovias e empreendimentos de mineração.
Muitos destes serviços são geridos por contratos com o próprio governo, e
possuem agências reguladoras para fiscalização dos serviços.
É necessário diferenciar tais serviços e empreendimentos de indústrias de
pequeno porte e serviços, sem utilidade pública, interesse social ou impacto de
grande escala, no processo fiscalizatório.

4 – Implantação de cadastro de empresas, avaliação da qualidade e


definição de critérios de exclusão de empresas. A avaliação da qualidade
dos serviços prestados, além da configuração de fraude e outras
contravenções penais conforme citado acima, já geraria valioso indicador da
qualidade das empresas e dos prestadores de serviço. As avaliações poderiam
ser realizadas pelo órgão licenciador, órgãos intervenientes, instituições
participantes do processo e demonstradas de maneira transparente com as
notas e número de avaliadores.

CONCLUSÃO

O licenciamento ambiental devido a sua importância na proteção do meio


ambiente merece mais comprometimento e respeito de todos os agentes
envolvidos, como demonstrado no presente trabalho, pois ele é de suma
importância para manutenção do equilíbrio ecológico essencial à qualidade de
vida. A maturidade deste processo demanda a conscientização ambiental da
sociedade com especial ênfase nas áreas afetadas por grandes
empreendimentos como os das usinas hidrelétricas.

Foram apresentadas algumas oportunidades de melhoria no licenciamento


ambiental, extraídas de diversos artigos e matérias sobre o tema, sugerindo-se
conjunto de alterações de aspecto regulatório e normativo, processual e de
recursos para a otimização do processo.
REFERÊNCIAS

http://www.mppr.mp.br/2019/04/21417,10/O-uso-da-inteligencia-como-
ferramenta-para-a-resolucao-de-crimes-ambientais.html
www.domhelder.edu.br › editor › assets › arquivos_dissertacoesdefendidas
www.ufjf.br › graduacaocienciassociais › files › 2010/11 › IMPACTOS-S.
https://www.ecodebate.com.br/2019/02/15/o-fracasso-do-licenciamento-
ambiental-no-brasil-artigo-de-millos-augusto-stringuini/

https://operamundi.uol.com.br/samuel/41228/conflito-de-interesses-leva-a-
falhas-e-omissoes-em-estudos-de-impacto-ambiental-de-hidreletricas-
brasileiras.

https://www.acritica.com/channels/governo/news/estudo-aponta-impactos-
sociais-economicos-e-ambientais-das-hidreletricas-do-madeira

FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: Direito ao futuro. 3 ed. Belo Horizonte:


Fórum, 2016.

SILVA, Romeu Faria Thomé da. O princípio da vedação de retrocesso


socioambiental: no contexto da sociedade de risco. Salvador: Podivm, 2014.

Lei 6938 de de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio


Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm
. Acesso em 13 outubro 2019.
Banco Central do Brasil. Resolução nº 4.327, de 25 de abril de 2014. Dispõe
sobre as diretrizes que devem ser observadas no estabelecimento e na
implementação da Política de Responsabilidade Socioambiental pelas
instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo
Banco Central do Brasil. Disponível em 
<http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/res/2014/pdf/res_4327_v1_O.pdf>.
Acesso em: 13 outubro 2019.

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