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Este documento é copia do original assinado digitalmente por TAINA SANTOS PEREIRA DIAS e Tribunal de Justica do Mato Grosso do Sul. Protocolado em 19/07/2016 às 19:36, sob o número
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 12ª VARA CÍVEL DA
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COMARCA DE CAMPO GRANDE
I – SÍNTESE DA LIDE
Tal como consta dos autos, a parte adversa ajuizou esta demanda por discordar da
suspensão do serviço de abastecimento de água em sua residência, realizada pela
concessionária ré em dezembro de 2014, por conta do inadimplemento da fatura referente
aos serviços de fornecimento de água e esgotamento sanitário, prestados no mês de julho
de 2014.
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Segundo a parte adversa, tal medida seria ilegítima, pois a suspensão teria ocorrido
sem prévia notificação e por débito que considera pretérito.
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Assim e, sem qualquer justificativa quanto à sua inadimplência, a parte
adversa pede o recebimento de indenização, por danos morais, no valor de R$ 10.000,00.
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conta do inadimplemento da fatura referente aos serviços de abastecimento de água e
esgotamento sanitário, emitida no mês de julho de 2014.
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Alega, em síntese, que a medida seria ilegítima, porquanto:
Nessa linha, sob o argumento de que tal situação teria lhe causado danos de ordem
moral, a parte adversa pede o recebimento de indenização, no montante de R$ 10.000,00.
Isso porque, conforme reconhecido pela própria parte adversa, ela deixou de
pagar, oportunamente, a fatura do mês de julho de 2014, sujeitando-se, portanto, à
suspensão do serviço de abastecimento de água, realizada pela concessionária ré em 4 de
dezembro de 2014 (doc. 02 - telas do sistema interno).
O artigo 6º, §3º, II, da Lei n. 8.987/95, que dispõe sobre o regime de concessão e
permissão da prestação dos serviços públicos, disciplina:
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Art. 40. Os serviços poderão ser interrompidos pelo prestador nas
seguintes hipóteses: (...);
V - inadimplemento do usuário do serviço de abastecimento de água, do
pagamento das tarifas, após ter sido formalmente notificado.
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E, de forma consentânea dispõe o artigo 4º, § 1º, V, do Decreto Municipal n.
12.071/2012:
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sem causa de uma das partes, fomentando a inadimplência generalizada,
o que compromete o equilíbrio financeiro da relação e a própria
continuidade do serviço, com reflexos inclusive no princípio da
modicidade"(Resp 1.062.975, Rel. Min. Eliana Calmon, Primeira Turma, Dje
29/10/2008).
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3. Recurso especial a que se nega provimento.2
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as faturas de consumo referentes aos meses que antecederam a suspensão do
abastecimento de água e nas quais foi inserido tal aviso.
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Tais documentos, que estão em sua posse, eram indispensáveis à propositura da
demanda, e deveriam ter sido por ela oportunamente apresentados. Não o foram,
evidentemente, porque contrários à sua tese.
Com efeito, nos termos da norma regulamentar, prevista no artigo 40, da Lei
11.445/07,6 e no artigo 4º, do Decreto Municipal n. 12.071/2012, a parte adversa foi
previamente avisada sobre os débitos pendentes no contrato de sua titularidade e as
A propósito, a Lei estadual n. 2.042/99, invocada pela parte adversa para sustentar
a necessidade de notificação pessoal, sobre a suspensão do serviço de abastecimento de
água, não se aplica aos serviços prestados pela concessionária ré. De fato, o Tribunal de
Justiça desse Estado reconheceu a inexigibilidade, frente à concessionária ré, das Leis
estaduais n. 3.749/2009 e 3.925/2010, porquanto se referem, exclusivamente, aos serviços
6 Art. 40. Os serviços poderão ser interrompidos pelo prestador nas seguintes hipóteses:
I - situações de emergência que atinjam a segurança de pessoas e bens;
II - necessidade de efetuar reparos, modificações ou melhorias de qualquer natureza nos sistemas;
III - negativa do usuário em permitir a instalação de dispositivo de leitura de água consumida, após ter
sido previamente notificado a respeito;
IV - manipulação indevida de qualquer tubulação, medidor ou outra instalação do prestador, por parte do
usuário; e
V - inadimplemento do usuário do serviço de abastecimento de água, do pagamento das tarifas,
após ter sido formalmente notificado.
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de titularidade do próprio Estado, sem interferência nos serviços públicos de titularidade
do Município de Campo Grande (doc. 03):
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(...) Assim, vê-se que o Município, sendo o poder concedente, deve
regulamentar o interesse local, entre eles os serviços prestados pelas
concessionárias de serviços públicos, a fim de sejam prestados com
regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade.
Ao mesmo tempo, possui o Município a obrigação de legislar no que diz
respeito aos deveres do consumidor, referentes à contraprestação pelos serviços
de saneamento prestados, a fim de que a concessionária não reste prejudicada,
em caso de inadimplemento do munícipe.
Portanto, aplica-se as normas municipais aos serviços prestados pela
Até porque, ainda que assim não o fosse, a entrega das faturas, por meio do sistema
LIS (Leitura, Impressão e Entrega simultânea), é pessoal.
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Não se trata, então, de débito consolidado no tempo, o que é indispensável para
que possa ser caracterizado como pretérito. Pelo contrário, trata-se de débito legítimo,
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efetivo e presente, cujo adimplemento a concessionária ré buscava, mensalmente,
por meio de cobranças nas faturas de consumo:
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FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. INTERRUPÇÃO.
FRAUDE NO MEDIDOR. DÉBITO PRETÉRITO. IMPOSSIBILIDADE.
(...)
3. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que não é lícito à
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concessionária interromper o fornecimento de energia elétrica por dívida
pretérita, em face da existência de outros meios legítimos de cobrança de
débitos antigos não-pagos, considerando "débitos pretéritos" aqueles
consolidados, situados no passado, e que a companhia energética cobra
tempos depois da inadimplência do consumidor. Diferentemente, o débito
atual é aquele débito presente, efetivo, real, que se
realiza na época presente. (...)
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Portanto, em se tratando de pleito indenizatório por danos morais, para caracterizar
a responsabilidade civil, necessário o preenchimento dos requisitos do artigo 186, do
Código Civil, que são: o ato ilícito e o dano, atados pelo nexo causal em razão de conduta
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culposa ou dolosa do ofensor.
No presente caso, contudo, inexiste direito da parte adversa que tenha sido violado,
nem conduta ilícita da concessionária ré, uma vez que a parte adversa foi previamente
notificada acerca da suspensão do serviço de abastecimento de água. Além disso, tal como
já mencionado, não se tratava de débito pretérito, pois recente e reiteradamente cobrado.
Ou seja, toda situação descrita nos autos não se mostra apta a superar os limites do
mero aborrecimento que, como cediço, não é indenizável:
É possível, então, concluir que, com relação à causa de pedir narrada nesta
demanda, nenhum dano foi causado à parte adversa, sendo evidente a impossibilidade de
lhe conferir qualquer compensação pecuniária.
10 Art. 373. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; (...).
11 STJ, AgRg no REsp n. 1.066.533/RJ.
12 STJ, AgRg no Ag n. 775.948/RJ.
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Contudo, caso este juízo entenda pela existência de dano indenizável - o que,
evidentemente, não se espera - passa a concessionária ré a ponderar acerca do quantum que
eventualmente venha a ser deferido.
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De fato, o montante pleiteado pela parte adversa (R$ 10.000,00), é excessivo e
desproporcional à situação narrada nos autos, principalmente porque ela reconhece a
inadimplência do débito que ensejou a suspensão. Daí porque, indenização nesta
monta seria premiar o usuário pela sua inadimplência, ofendendo, ainda, o princípio
da isonomia, porquanto todos os demais usuários estão sujeitos ao pagamento da tarifa
pelos serviços que efetivamente utilizam.
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II.3. Na hipótese de condenação, juros de mora devem incidir somente a partir da
data do arbitramento da indenização.
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A parte adversa pede, ainda, a incidência de juros de mora “a partir da citação”
(fls.17).
Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da
mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações
de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por
sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes.
Isso se dá porque a indenização por dano moral somente passa a ter expressão
pecuniária a partir da decisão judicial que a arbitrou. Assim, não se pode considerar em
mora o devedor, antes de sua fixação, por sentença judicial.
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Ademais, quando da prolação da sentença, o julgador fixa a indenização devida já
naquele momento, estando, portanto e até então, suficiente para a reparação.
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Desta feita, caso haja o dever de indenizar, os juros de mora deverão incidir
somente a partir da data da sentença.
II.4. Impossibilidade de inversão do ônus da prova no tocante à demonstração de
ausência de danos morais
Por fim, a parte adversa, com base no Código de Defesa do Consumidor, requereu
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Desse modo, não se pode conceder o benefício da inversão do ônus da prova à
parte adversa, pois se ela própria não trouxe aos autos ao menos um indício de prova do
dano alegado, não pode a lacuna ser suprida por mero requerimento de inversão desse
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ônus.
III - REQUERIMENTOS
Requer, ainda, que as publicações e intimações referentes a este caso, para fins de
acompanhamento, sejam feitas em nome do advogado: Marco Antonio Dacorso -
OAB/MS 1477-A (OAB/SP 154.132), sob pena de nulidade.
a) testemunhal; e
b) documental suplementar, caso necessária, nos termos do artigo 435, do
Código de Processo Civil.18
Nestes Termos,
Aguarda Deferimento.
18 Art. 435. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos novos, quando destinados a
fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos
autos.
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