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EXCELENTISSÍMO SENHOR ª DOUTOR ª JUIZª DE DIREITO DA VARA


CÍVEL DA COMARCA DE TRÊS RIOS–RJ.

TRAMITAÇÃO COM PRIORIDADE IDOSO

PEDIDO DE GRATUIDADE DE JUSTIÇA

PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA.

JOSELIA SERPA TEIXEIRA, brasileira, viúva, pensionista, portadora da


CI de nº 9.802.506 IFP/RJ, inscrita no cadastro de pessoas físicas CPF, de nº
032.988.707-65, residente e domiciliada na Rua: José Vaz, nº 88, Vila Isabel, Três Rios–
RJ, CEP-25811-005, representada nessa ação por seus advogados que esta subscreve:
Nilton Cesar Queiroz Cordeiro, infra-assinado, com inscrição na OAB-RJ, 154.400, com
endereço profissional situado à Rua Doutor Walmir Peçanha, nº 64, loja-20, Centro, Três
Rios- RJ, CEP-25802-180, onde receberá as notificações judiciais. Com fundamento na
Lei 9099/95 e artigos 186 e 927 ambos do CCB, combinado com artigo, 14 do CDC, vem
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, apresentar:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIBILIDADE DE DÉBITO


C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS COM PEDIDO
DE TUTELA PROVISÓRIA.
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Contra LIGHT SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S.A., pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ N° 60.444.437/0001-46, com sede na Av. Marechal
Floriano, N° 168, Centro, Rio de Janeiro/RJ, Cep: 20.080-002, pelos fatos e fundamentos
de direito a seguir expostos:

1- PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO

Prima facie, urge asseverar que a Autora é uma pessoa idosa,


documento comprobatório anexo. Vê-se, pois, que tem 81 anos de idade.
Em razão disso, faz jus à prioridade na tramitação do presente
Processo. Requer desde já que tal beneficio conste na capa dos autos, conforme dispõe o
art. 1048, I do NCPC c/c art.71 do Estatuto do idoso.
2- DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA
Requer a Autora a concessão dos benefícios da Gratuidade de Justiça,
com fulcro no artigo 98 da Lei 13.105/2015, por tratar-se de pessoa carente, não tendo
condições de arcar com as custas processuais sem prejuízo de seu sustento próprio e de
sua família. Junta a requerente a declaração de hipossuficiência.
3- DOS FATOS

I - A requerente é viúva e dentre os bens deixados pelo saudoso esposo,


tem-se um imóvel comercial na Travessa Alcina de Almeida, 81 no Bairro Boa União,
nesta Cidade;

II – Neste imóvel, funcionava uma Padaria, que com o falecimento do


esposo da Requerente, a mesma foi fechada e assim, permaneceu até o mês de março
de 2018;

III - A padaria era consumidora dos serviços da Ré, possuindo


identificação de instalação n.º 0412389230 e código do cliente n.º 23460528;

IV – Conforme se demonstra através das Contas, ora anexadas, até


março de 2018, as faturas junto à empresa Ré, eram sempre cobrado o valor mínimo, isto
por que, o IMÓVEL ESTA FECHADO, SEM NADA FUNCIONANDO;
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V – Em março de 2018, o imóvel foi alugado para o senhor Alessandro


Francisco (contrato locação anexo), que iniciou obras no local, sem ainda começar a
funcionar o Comércio de gêneros alimentícios;

VI – Em junho de 2018, deu –se início o funcionamento do comércio do


no local, quando começou a ter consumo junto a empresa Ré, (conta anexada no valor de
R$ 814,07 (oitocentos e quatorze reais e sete centavos);

VII – No mês de agosto de 2018 foi lançado pela Ré, na fatura de


consumo de energia elétrica, um parcelamento de 01/24 no valor de R$ 194,77 (cento e
noventa e quatro reais e setenta e sete centavos), que no mês seguinte passou para R$
214,95 (duzentos e quatorze reais e noventa e cinco centavos) e assim pendurou ate abril
de 2019, ou seja, 08 (oito) meses;

VIII – Sem perceber os valores cobrados pela Ré, o inquilino manteve os


pagamentos do famigerado parcelamento até o mês de janeiro de 2019, correspondendo
a 08 (oito) parcelas;

IX – Em abril deste ano de 2019, o senhor Alessandro, devolveu o imóvel


para Requerente e no acerto da rescisão aluguel, apresentou as faturas das contas de
Energia, com as 08 (oito) parcelas pagas por ele referente ao TOI. Neste acerto o
Inquilino efetuou o desconto do valor das mesmas, no total de R$ 1.699,42 (hum mil
seiscentos e noventa e nove reais e quarenta e dois centavos);

X – Sem entender nada, a Requerente, não tendo saída, aceitou a


receber os valores da rescisão do Aluguel, com os descontos das quantias cobradas
indevidamente pela Ré, no total de R$ 1.699,42;

XI – Com o encerramento das atividades comerciais no imóvel, o


consumo de Energia Elétrica voltou ao que era antes, ou seja, o mínimo, (conta do mês
de maio, junho e julho 2019 anexa);

XII – Em junho deste ano de 2019, o Imóvel foi alugado novamente, agora
para senhora Nayara (Contrato de Locação anexo), onde retornou a parti de agosto o
consumo de energia elétrica no citado imóvel, acima do mínimo;
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XIII – A nova inquilina foi ao escritório da Light, para passar a conta de


Energia Elétrica para o nome da empresa dela, o que foi negado pela Ré;

XIV - A funcionária da Ré informou que só poderia transferir a conta, se o


proprietário fosse pagar o debito do TOI;

XV – O fato foi comunicado a Requerente, que pediu ao seu filho, por


meio de Procuração (anexa), ir a agencia da Ré, saber o que estava acontecendo de fato;

XVI – Depois de idas e vindas, na agencia da Ré, ou seja, mais de 08


(oito) vezes, o Procurador da Requerente foi informado de que fora realizada na
unidade consumidora, uma inspeção técnica em 08/05/2018;

XVII – A funcionária da Ré entregou vários documentos ao Procurador


da Requerente, todos com datas ultrapassadas, já não havia aqui, tempo hábil para
fazer recursos na esfera administrativa;

XVIII - A atendente da Ré, informou ainda, que após a realização da


inspeção, foi emitido o Termo de Ocorrência e inspeção Técnica, o chamado TOI n.º
7702640, gerando uma quantia a ser paga, pela Requerente, no valor de R$ 4.681,72
(quatro mil seiscentos e oitenta e um real e setenta e dois centavos);

XIX – A Requerente ficou estarrecida com o comunicado da Ré, passando


varias noites sem dormir, ficando sem se alimentar com tanto aborrecimento, tristezas e
amarguras, tentando de toda maneira entender ocorrido. Perguntas não saiam da sua
cabeça. Aonde conseguir o dinheiro para quitar tal débito? O que fazer para não perder
mais um inquilino?

XX – Sem achar uma solução rápida, pois a Ré havia ameaçado o corte


da energia, a Autora ficou desesperada, e, para não ficar mal com o inquilino, a
Requerente autorizou seu Procurado, a assinar uma confissão de dívida, dívida esta que
nunca deu causa, cobrança ilegal e absurda, colocada de goela abaixo da consumidora,
sendo esta a parte mais fraca da relação jurídica;

XXI - Ponderando que os transtornos foram gerados por conduta da


própria Ré, impondo-lhe evidente dissabor e aflição em sua esfera pessoal. Suficiente
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para caracterizar ofensa a direito da personalidade e fixação, dentro de critérios


razoáveis.

Além de:
(a) ter atribuído o crime de furto de energia elétrica, previsto no parágrafo
3º do artigo 155 do CP, popularmente conhecido como 'gato';
(b) a falta de constatação e respaldo técnico e/ou cientifico para a
conduta;

(c) a conduta praticada pela Ré foi abusiva, coercitiva, ilegal e


constrangedora.
3.1 – DA ILEGALIDADE DO TERMO DE OCORRENCIA DE INSPEÇÃO – TOI
A Resolução 414/2010 da ANEEL estabelece várias obrigações à Ré no
sentido da produção de documentos que possibilitem a correta caracterização da
irregularidade e recuperação das perdas eventualmente experimentadas.
Todos os artigos a seguir citados referem-se à Resolução 414/2010 da
ANEEL.
Dispõe a norma do art. 129, § 1º, I, que é obrigatória a própria emissão
do Termo de Ocorrência de Inspeção, em formulário próprio, elaborado conforme o Anexo
V, o que não ocorreu.
A consumidora não recebeu o TOI, mas apenas teve acesso a uma carta,
anexa, a qual NÃO SUPRE a formalidade exigida pela Resolução.
Estas omissões configuram descumprimento das normas do art. 129, §§
1º e 2º. Por conseguinte, reputo não foi lavrado o termo de forma correta.
Por outro lado, como a Ré alega ter havido adulteração do equipamento
de medição para desvio no ramal de ligação, deveria ter sido providenciado o relatório de
avaliação técnica a que alude o art. 129, III. Este documento também não foi feito

Conforme acima exposto, a Ré emitiu o TOI, gerando uma cobrança


ilegal no valor de R$ 4.681,72 (quatro mil seiscentos e oitenta e um real e setenta e dois
centavos);

Ocorre que a referida cobrança é totalmente ilegal, ferindo de morte os


princípios Constitucionais, como devido processo legal, direito de defesa, contraditório,
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dentre outros. Isto porque, o documento emitido, bem como, a verificação da suposta
irregularidade, foram feitos unilateralmente;

A inspeção foi feita ao arbítrio da Lei, uma vez que em momento algum, a
Autora, ou qualquer outra pessoa do seu convívio (seu filho, seu inquilino) foram
comunicados de que seria realizada uma vistoria pelos prepostos da Ré. Sendo certo,
reafirme-se, que somente teve ciência no momento em que seu Procurador (seu filho),
esteve na agência da Ré e foi informado da indevida cobrança;

Vale lembrar, que o meio legal para análise do medidor, seria através do
Instituto de Criminalística Carlos Eboli, com lavratura de um registro de ocorrência,
para apuração de suposta ocorrência de irregularidade, mas não, a Ré de forma
completamente arbitrária, acusou, injuriou e sancionou a Autora uma cobrança altíssima,
além de fazê-la passar por vexame perante os vizinhos;

O entendimento do Sodalício a quo, não está em consonância com a


orientação do STJ, de que é insuficiente para a caracterização de suposta fraude no
medidor de consumo de energia, a prova apurada unilateralmente pela
concessionária;

A Ré, neste caso, esta fazendo justiça com as próprias mãos, pois
acusou, não deu direito de defesa, condenou e aplicou a Autora uma penalidade, quando
de forma coercitiva obriga a confessar e pagar uma divida que foi imposta, sem direito de
contestar ou de se defender administrativamente;

Em razão dos inúmeros casos que chegaram ao Judiciário Fluminense, o


TJ expediu o enunciado 256 que prevê o seguinte:
"O TERMO DE OCORRÊNCIA DE IRREGULARIDADE, EMANADO DE
CONCESSIONÁRIA, NÃO OSTENTA O ATRIBUTO DA PRESUNÇÃO
DE LEGITIMIDADE, AINDA QUE SUBSCRITO PELO USUÁRIO."
Afinal, necessário que fique constatada a irregularidade, uma vez que o
Termo de Ocorrência de Irregularidade apresenta uma carga individual e concreta de
crime, cuja sanção trará efeitos civis, penais e administrativos para a parte Autora,
deixando evidente que os danos são in re ipsa.
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Mister esclarecer, que o imóvel da Autora fica no número 81 da Travessa


Alcina de Almeida e o medidor de consumo de Energia fica na Travessa Baltazar Neves,
ou seja, mais de 47 (quarenta e sete) metros de distância entre o medidor e o imóvel
da Autora;

O medidor foi instalado no alto do poste, sem chance de acesso a


qualquer pessoa comum, tendo se passado mais de 20 (vinte anos) de sua instalação,
sem nenhuma manutenção por parte da Ré;

A Ré, além de todos os dados estatísticos acerca do regular consumo,


ainda dispõe de seu corpo funcional, que mês a mês verifica e inspeciona os
equipamentos. É seu dever provar que houve fraude no medidor.

3.1 DA COAÇÃO SOFRIDA PELO PROMOVENTE PARA ASSINAR O TERMO DE


CONFISSÃO DE DÍVIDA

Embora o contrato seja Lei entre as partes, dentro da teoria civilista é


cediço que esta empresta sua força para ratificar os acordos de vontade celebrados pelas
partes.

Os requisitos de validade do negócio, impõe ser lícito às partes esperar


que do Contrato decorram os efeitos previstos, ou seja, que a vontade expressa seja
respeitada – se assim não ocorrer – confia-se na Lei e no Estado para ver cumprido
forçosamente o pactuado. Esta regra atende um reclamo de segurança nas relações
jurídicas da sociedade.

Segundo o grande Clóvis Beviláqua, é o emprego de um artifício


astucioso para induzir alguém a pratica de um ato negocial que prejudica e aproveita ao
autor do dolo ou terceiro . (RT, 161: 276, 187:60, 444:112, 245:547, 522:232 e 602:58.
RJTJSP. 137:39).

Assim, constata-se que a Autora ao assinar o termo de confissão de


dívida, esta o fez, sob forte coação, haja vista que para dá continuidade ao fornecimento
do serviço essencial de energia elétrica, teria que efetuar o pagamento e via de
consequência assumir os efeitos da irregular inspeção.
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Não tendo alternativa, a Autora assumiu a dívida no montante de R$


4.359,81 (quatro mil trezentos e cinquenta e nove reais e oitenta e um centavos), a qual
foi dividida com uma entrada no valor de R$ 387,00 (trezentos e oitenta e sete reais) e
mais 18 (dezoito) parcelas mensais de R$ 191,19 (cento e noventa e um reais e dezenove
centavos). Documentos anexos

Ressalte-se, pois, que a energia elétrica é um serviço de grande


importância, sendo considerado até mesmo indispensável à sociedade, mediante esses
preceitos e sob forte coação moral, a Promovente necessitando de tal fornecimento, teve
que assinar o contrato em todos os seus termos de confissão de dívida, o que via de
regra, demonstra total IRREGULARIDADE.

Segundo Maria Helena Diniz, “o dolus malus, de que cuida o art


145, é defeito de negócio jurídico, idôneo a provocar sua anulabilidade, dado que tal
artifício consegue ludibriar pessoas sensatas e atentas. “Dolus causam dans” ou dolo
principal . O dolo principal ou essencial é aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o
qual ele não se teria concluído, acarretando a anulação daquele ato negocial (RT ,
226:395 e 254:547)”. Assim, a coação seria qualquer pressão física ou moral exercida
sobre pessoa, bens ou a honra de um contratante para obrigá-lo a efetivar certo ato
negocial. (RT, 705:97,619:74. 622:74, 634:107, 557:128. JTACSP, JM, 111:179), caso
deste dos Autos.

Portanto, em razão das inúmeras ilicitudes cometidas pela Ré, vem a


Autora, socorrer-se do Poder Judiciário para ver minorados os danos que sofreu, e que
continua a sofrer diante da conduta abusiva da empresa Ré.

4. – DO DIREITO

A priori, necessário demonstrar que a proteção ao Direito da Autora está


abrigado em nossa Constituição Federal, consubstanciado no inciso XXXII do artigo 5°, in
verbis:

“ O Estado promoverá na forma da Lei, a defesa do consumidor.”

A nossa Carta Magna de 1988, ainda dispõe:


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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;

Dispõe o art. 186 do Código Civil Brasileiro:


“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

E a consequência de cometer ato ilícito está prevista no


art. 927 do Código CivilBrasileiro:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.”

Ora, o débito debatido da Promovente para com a Ré jamais existiu, de


modo que se consubstanciam como totalmente ilegais todas as condutas praticadas pela
Promovida.

Na verdade, como dito, a Autora jamais procedeu com qualquer ato


invasivo do contador de energia do imóvel em questão, o que, inclusive, fora atestado
pelos funcionários da Ré, de modo que se ocorrera qualquer espécie de perda de
consumo, o que não se restou demonstrado nos presentes Autos, fora por culpa
exclusiva da Ré, e não da Autora, não podendo esta arcar com atitude culposa da
mesma.

4.1 DA PLENA APLICABILIDADE DO CDC AO PRESENTE CASO

A Autora é consumidora nos termos do Artigo 2° do Código de Defesa do


Consumidor – CDC:
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“Artigo 2°: o consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final.”

O art. 6º do CDC nos ensina que são direitos básicos dos consumidores,
entre outros, a efetiva reparação de danos sofridos, quer sejam materiais quer sejam
morais, bem como, o acesso aos órgãos judiciários com o objetivo de resguardar os
danos mencionados. Senão vejamos:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,


individuais, coletivos e difusos;

VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à


prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados.

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do


ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências;

X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

(grifo nosso)

De outro lado, a Ré é fornecedora, conforme expõe o Artigo 3° do CDC:

“Artigo 3°: Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados que
desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestação de serviços.”

Aclara-se, que de acordo com Código de Defesa do Consumidor as


instituições fornecedoras de serviço de energia elétrica também figuram no rol das
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prestadoras de serviço, e assim sendo, respondem de forma solidária, independente de


apuração de culpa, consoante nos artigos 14, 23 e 34 da Lei 8078/90, in verbis:

“Art 14: o fornecedor de serviço responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.”

Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por


inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.

Art. - 34 O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente


responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos.

Nobre Julgador, diante dos ensinamentos advindos dos artigos


mencionados, podemos aquilatar o entendimento de que a Ré deveria ter prestado o
serviço de forma adequada, eficiente e segura. Todavia, se isto não ocorrera, como relata
o próprio laudo de inspeção e ocorrência, ao afirmar a perda no consumo de energia, sem
no entanto comprovar, a responsabilidade é exclusiva da Promovida, mesmo se esta não
tivesse o conhecimento do suposto vício que inquinava o contador de energia.

Exª, a Ré realiza inspeção no imóvel, troca o medidor de energia e afirma,


de forma unilateral, que os lacres foram rompidos, possibilitando o acesso ao interior do
medidor, plaqueta de identificação solta no interior do medidor, disco descentralizado e
preso, assim como o mancal inferior deslocado, e após, de forma totalmente ilegal e
abusiva, envia fatura de energia no enorme valor já delineado na presente.

Exª, não há uma única prova nos Autos, que a Autora tenha procedido
com qualquer conduta comissiva ou omissiva no contador de energia do imóvel, de modo
que se resta demonstrado, que se ocorrera danificação na unidade consumidora (fato não
demonstrado), fora por culpa exclusiva da Ré, que deverá arcar inteiramente com suas
responsabilidades, e não vir de forma totalmente ilegal e abusiva expor a Promovente ao
ridículo perante seus vizinhos e familiares, como realmente o fez.
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4.2 – DO NEXO CAUSAL

A responsabilidade da Ré é objetiva conforme parágrafo 6º do artigo 37


da Constituição da República e atualmente regulada pelo artigo 25, da Lei 8.987/95, que
dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos,
onde em seu artigo 25, prevê que:

Art. - 25 "Incumbe à concessionária a execução do serviço concedido,


cabendo-lhe responder por todos os prejuízos causados ao poder
concedente, aos usuários ou a terceiros, sem que a fiscalização exercida
pelo órgão competente exclua ou atenue essa responsabilidade”

Por sua vez, a parte Autora está subsumida a Lei 8.078/90 e a Ré no


artigo 14 da mesma, pois “toda a concessão ou permissão pressupõem a prestação de
serviço adequado ao pleno atendimento do usuário (...) serviço adequado é o que satisfaz
as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade,
generalidade (...)”.

A responsabilidade civil da Ré está prevista nas normas do art. 14 do


Cód. de Defesa do Consumidor.

Realizada a prova do dano, a Ré só se exime de indenizar se comprovar


alguma das excludentes previstas nas normas do § 1º do mesmo diploma legal.

Neste sentido, apontamos mais uma vez que a responsabilidade da Ré é


objetiva e o efetivo defeito na prestação de serviço, ainda que fundada na teoria do risco
empresarial e eventual fortuito interno, também, por si só, não se revela suficiente para
afastar o nexo causal e, consequentemente, o dever de indenizar;

4.3 - Da INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

A já citada Resolução 414/2010 estabelece várias obrigações à Ré no


sentido da produção de documentos que possibilitem a correta caracterização da
irregularidade e recuperação das perdas eventualmente experimentadas

Por estes motivos, necessária a INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA em


razão da sistemática legal (artigo 37, parágrafo 6º, da Constituição da República, artigo 25
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da lei 8.987/95 e a aplicação do artigo 14 da Lei 8.078/90), visto que a Ré deve fazer
prova de que constatou a irregularidade da medição, bem como a prova de que a parte
Autora tenha deixado de pagar o consumo ou que tenha agido de má-fé ou induzido a
Ré em erro no momento da aferição dos valores dos serviços prestados.

É da ré o ônus probatório quanto à obediência do direito


regulatório aplicável ao caso concreto, conforme a norma do art. 373, II do
Cód. de Processo Civil.

5- DO DANO MORAL

A acusação de desvio de energia implica atribuir à Autora a pecha de


estelionatária. Esta conduta agride a dignidade do consumidor e gera dano moral a ser
compensado.

Destaca-se que a cobrança ocasionada pela parte Ré gerou


constrangimento a Autora, quando foi exigido a suposta dívida da Demandante no valor
de R$ 4.359,81 (quatro mil trezentos e cinquenta e nove reais e oitenta e um centavos),
informando que o não parcelamento ou pagamento de débitos implicaria na incidência
de juros, multas e poderia até mesmo ensejar na suspensão do fornecimento da energia
elétrica, estando inclusive sujeita à negativação junto aos órgão de proteção ao crédito
(SPC/SERASA).

A cobrança gerada foi uma surpresa para a Autora, isto porque, nunca
teve seu serviço de energia elétrico interrompido por inadimplência e nem mesmo na
iminência de corte ou com a ameaça de negativação do seu nome no cadastro de
inadimplentes.

O Dano Moral é a dor, o espano, a emoção, a vergonha, a aflição física


ou moral, em geral uma dolosa sensação provada pela pessoa atribuindo à palavra dor o
mais largo significado”. Nesse sentido, os Tribunais têm entendido que é suficiente para
gerar o dano moral a imputação ao consumidor do cometimento de fraude sem a devida
comprovação, sem oportunizar a ampla defesa e o contraditório ainda persistindo sinais
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da coação ao consumidor para assinar o termo de confissão de dívida sob a cominação


de ter sua energia elétrica desligada

Nas palavras do Professor Arnoldo Wald,

"Dano é a lesão sofrida por uma pessoa no seu patrimônio ou na sua


integridade física, constituindo, pois, uma lesão causada a um bem
jurídico, que pode ser material ou imaterial. O dano moral é o causado a
alguém num dos seus direitos de personalidade, sendo possível à
cumulação da responsabilidade pelo dano material e pelo dano moral"
(Curso de Direito Civil Brasileiro, Editora Revista dos Tribunais, SP, 1989,
p. 407).

Até porque o dano moral ocorre in re ipsa! Não havendo a necessidade


de outros motivos que, senão, a própria conduta proibida e ilegal realizada pelos
prepostos da Ré, por compreender que o dano moral, de caráter subjetivo, compreende
toda gama de transtornos gerados pelo ato ilícito e se manifesta na afronta à
tranquilidade, ao normal segmento da vida natural.
É patente o direito no qual se fundamenta o pedido da Autora, que deverá
ser ressarcido por todo o dissabor sofrido e os anseios amargados, que representam a
essência do conceito de dano moral, que não deverá jamais ser esquecido pelo aplicador
da lei, e sim concedido, sem esquecer a sua quantificação.

Exª, no presente, o Dano Moral deve ser quantificado com a precisão


peculiar aos grandes Julgadores, tendo em vista que o mesmo possui um duplo condão,
ou seja, o de ressarcimento da Promovente e o de punição da Promovida, de modo que
esta empresa se sinta coibida de incorrer novamente em prática iguais ou semelhantes a
ora debatida, o que evidentemente se transformará em uma garantia para toda a
sociedade.
6- DA MEDIDA CAUTELAR ANTECIPADA PARA SUSPENDER A
COBRANÇA ORA DEBATIDA ATÉ O JULGAMENTO FINAL DA
PRESENTE LIDE.
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Nobre Julgador, para que seja deferida uma medida liminar se faz
necessário o preenchimento de dois requisitos fundamentais pela Requerente, ou seja, A
FUMAÇA DO BOM DIREITO E O PERIGO DA DEMORA.

Conforme se restou plenamente demonstrado no discorrer do presente


petitório, não há qualquer dúvida sobre o lídimo direito que embasa a presente peça
postulatória, quer seja porque não se restou demonstrado no presente feito a real perda
de faturamento de consumo de energia elétrica na unidade consumidora da Promovente,
quer seja porque não lhe fora assegurado o direito em participar de perícia que afirma a
promovida ter sido realizada, ou ainda porque não houve qualquer atitude comissiva
ou omissiva da Promovente perante o medidor de energia retirado, de modo que o
mesmo não se encontrava adulterado, violado, com religação ou qualquer outro
meio de desvio de energia.

Por outro lado, o perigo da demora, do mesmo modo, é clarividente no


presente caso, tendo em vista que a Autora vem regularmente, com seria dificuldades
financeira, deixando até mesmo de comprar alguns de seus medicamentos de usos
contínuos, para efetuar, sem poder, OS PAGAMENTOS INDEVIDOS do irregular TOI,
conforme se constata na documentação acostada ao presente petitório.

Com efeito Excelência, a Autora, por se tratar de uma cidadã, idosa, que
sempre se pautou na mais estrita obediência ao ordenamento jurídico vigente, de forma
que sempre quitou tempestivamente suas obrigações, se encontra em um dilema, ou seja,
pagar um valor que não é devido ou sentir a humilhação de ver o seu nome inscrito nos
órgãos de proteção ao crédito e ainda, ter o fornecimento de Energia Elétrica (serviço
essencial) do seu inquilino suspenso, em virtude de sua inadimplência com a conta de
energia.

Ademais, a nossa jurisprudência é uníssona no tocante a impossibilidade


do corte no fornecimento de energia elétrica ou inclusão do nome do titular da unidade
consumidora nos órgãos de proteção ao crédito, por valores cobrados em fatura e não
pagos pelo suposto devedor, enquanto perdurar ação judicial que vise cancelar a
mencionada cobrança, vejamos:
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TJRN - Agravo de Instrumento com Suspensividade: AI67908 RN


2010.006790-8

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


NULIDADE DE DÉBITO. DESVIO DE CONSUMO DE ENERGIA
ELÉTRICA. PEDIDO LIMINAR DE SUSPENSÃO DA COBRANÇA DOS
VALORES REFERENTES À ENERGIA CONSUMIDA E NÃO MEDIDA E
O RESTABELECIMENTO DO FORNECIMENTO DO SERVIÇO.
CARACTERIZAÇÃO DE DÉBITO PRETÉRITO.CORTE NO
FORNECIMENTO DE ENERGIA INDEVIDO.DISCUSSÃO JUDICIAL
ACERCA DA EXIGIBILIDADE DO DÉBITO. SUSPENSÃO DA
COBRANÇA DOS VALORES E RESTABELECIMENTO DO SERVIÇO.
CONHECIMENTO E PROVIMENTO DO RECURSO. É correta a
suspensão da cobrança da dívida enquanto pendente discussão judicial
acerca da exigibilidade do débito oriundo do consumo de energia elétrica
não medida.- A cobrança de débitos pretéritos não autoriza a suspensão
no fornecimento da energia elétrica. Precedentes desta Corte e do STJ.

Desse modo, e em virtude de todo o exposto, é que se REQUER a Vossa


Excelência, a MEDIDA CAUTELAR ANTECIPADA nos termos dos artigos 300 e 305 do
Código de Processo Civil de 2015, para que seja cancelado o termo de confissão de
dívida, onde a Autora acordou o pagamento da suposta dívida de R$ 4.359,81
(quatro mil trezentos e cinquenta e nove reais e oitenta e um centavos), com entrada e
mais 18 (dezoito) parcelas mensais, por ser questão de direito e de justiça para com a
Promovente
7- DA REPETIÇÃO DE INDÉBITO
A repetição de indébito é um instituto promulgado pelo legislador com
intuito de ressarcir o consumidor dos ônus causados pela situação adversa que a
cobrança ilícita lhe gerou. Quanto a temática, disciplina o artigo 42, parágrafo
único do CDC:
“Art. 42.
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Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à


repetição do indébito por valor igual ao dobro do que pagou em
excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo de engano
justificável.”

Diante de tamanha irregularidade da Promovida expondo cláusulas que


contrariam o Código de Defesa ao Consumidor e os constrangimentos gerados a
Promovente, resta-lhe requerer a restituição dos valores indevidamente cobrados, em
DOBRO, corrigidos e acrescidos dos juros legais, conforme preceitua o dispositivo legal
acima elencado.

Emérito julgador, conforme se constata dos documentos em anexos, resta


clarividente que a Promovente efetuou o pagamento de R$ 3.042,37(três mil e quarenta e
dois reais e trinta e sete centavos).

Assim sendo, deve a Promovente ser restituída em dobro e com as


devidas correções, conforme o parágrafo único do art. 42 do CDC prevê, haja vista que a
cobrança ser totalmente ilegal e arbitrária, como claramente comprovados nos
argumentos anteriormente mencionados.

8- DOS PEDIDOS
Diante de todo exposto e por realmente configurar um lídimo direito da
Autora, é que se requer a procedência total do presente petitório, para que ocorra o
devido ressarcimento, conforme demonstrado, principalmente por toda a dor sofrida e os
anseios amargados pela mesma, que decerto são muitos e mais gravosos em pessoas
idosas e de poucos conhecimentos.
Ante o exposto, considerando que a pretensão da Autora encontra
arrimo nas disposições legais já mencionadas, requer a Vossa Excelência:
1 - Que seja recebida a presente Peça Postulatória, e em seguida devidamente
processada e julgada;

2 - Requer que seja concedida PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO DESTE PROCESSO,


na forma do art. 1048, I do NCPC c/c art.71 do Estatuto do idoso, tendo em vista que a
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Autora é uma pessoa idosa e já conta com 81 anos de idade, que tal beneficio conste
na capa dos Autos.

3 - Que seja deferido os benefícios da justiça gratuita nos termos disciplinados pela
Lei nº 1.060/50, conforme demonstrado;

4- Que seja concedida a inversão do ônus da prova, conforme o art. 6º, VIII, do CDC,
que constitui direito básico do consumidor a facilitação da defesa dos seus direitos em
juízo;

5 - Que seja deferida a MEDIDA CAUTELAR ANTECIPADA nos termos dos artigos 300
e 305 do Código de Processo Civil de 2015, uma vez que estão presentes os requisitos,
de forma a determinar a imediata suspensão da cobrança assinada do termo de confissão
de dívida, onde a Autora acordou o pagamento da suposta dívida, bem como, que se
proíba a suspensão do fornecimento de energia. Sendo a medida liminar deferida, em ato
contínuo, aplique-se multa diária no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), em caso de
descumprimento;

6 – Que seja designação de audiência prévia de conciliação, nos termos do artigo 319,
inciso VII, do Código de Processo Civil de 2015;

7- Que Seja a Ré condenada à repetição do indébito cobrado da Autora em valor igual ao


dobro, acrescido de correção monetária e juros legais, consoante ao Art. 42, parágrafo
único, do Código de Defesa do Consumidor - Lei 8.078/90;

8 – Que seja determinada a citação da requerida, inicialmente pelos correios e sendo


ineficaz, por oficial de justiça, ou ainda, por meio eletrônico, tudo nos termos do artigo
246, incisos I, II e V, do Código de Processo Civil de 2015;

9 - Requer ainda, a condenação da requerida às custas de honorários e sucumbências, a


serem fixados na proporção de 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa em caso de
eventual recurso;
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10- Ao final, que seja JULGADA TOTALMENTE PROCEDENTE a presente ação, nos
seguintes moldes:

a) Tornar definitiva a Tutela Antecipada deferida, Declarando a


inexistência do débito de que trata o presente feito, da Autora para com a Ré;

b) Condenar a Ré a pagar, à Autora, indenização por Danos Morais, no


valor R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), tendo em vista prática abusiva praticada pela
Ré, a fim de responder não só à efetiva reparação do dano, mas também ao caráter
preventivo-pedagógico do instituto, no sentido de que, no futuro, o fornecedor de serviços
tenha mais cuidado e zelo com o consumidor sem, contudo, caracterizar em hipótese
alguma enriquecimento ilícito por parte da Autora, pois o Princípio da Razoabilidade das
indenizações por danos morais é um prêmio aos maus prestadores de serviços, públicos
e privados.

Por fim, pugna que todas as publicações sejam feitas em nome do


Advogado Nilton César Queiroz Cordeiro, inscrito na OAB/RJ sob o nº 154.400, sob pena
de nulidade.
Protesta provar o alegado por todo tipo de provas em direito admitidas.

Atribui-se a presente causa o valor de R$ 53.042,37 (cinquenta e três mil


e quarenta e dois reais trinta e sete centavos), para efeitos meramente fiscais.

Termos que pede

Deferimento.

Três Rios 28 de novembro de 2019.

Nilton Cesar Queiroz Cordeiro.


OAB-RJ 154.400.

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