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LIÇÕES DE
DIREITO
ADMINISTRATIVO
JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE
Bibliografia:
Deve ter-se em conta que nem sempre a lei utiliza os conceitos doutrinais
adequados ao regime que estabelece, bem como a existência de zonas de fron-
teira entre estas categorias de actos – por exemplo, as licenças de uso e porte
de arma situam-se na fronteira entre as dispensas e as licenças; as licenças de
construção são para alguns autores autorizações permissivas, pressupondo
que o direito de propriedade inclui a faculdade de construir.
As designações legais dos actos permissivos do exercício de actividades
também são variadas, utilizando-se, por exemplo, a “validação”, a “autenti-
cação”, o “registo” e a “certificação” de capacidades e competências.
Actualmente, na linha de uma orientação europeia, a tendência para a
simplificação administrativa inclui uma política (iniciativa “licenciamen-
to zero”), que substitui as autorizações, designadamente as autorizações
permissivas, por “ declarações” ou “comunicações prévias” do interessado
à Administração de que preenche os pressupostos legais e regulamentares
para exercício de uma determinada actividade ou para uma determinada
actuação. Os efeitos jurídicos produzem-se se não houver oposição do órgão
competente (“rejeição”) ou se ela não se verificar dentro de determinado
prazo (está prevista, por exemplo, para certas operações urbanísticas) – por
vezes, a lei prevê um reforço da fiscalização posterior, com sanções mais
pesadas (cf. o Decreto-Lei n.º 48/2011, de 1 de Abril, relativamente a diversas
actividades económicas).
As comunicações prévias, com prazo ou sem prazo, dependem de previ-
são legal expressa e estão actualmente previstas no artigo 134.º do CPA, que
estabelece o respectivo regime.
Importante é que, nas comunicações prévias com prazo, a ausência de
pronúncia do órgão competente não dá origem a um acto de deferimento
tácito, mas habilita o interessado a exercer a actividade pretendida, sem
prejuízo de a Administração usar os seus poderes para defender a lega-
lidade, designadamente proibindo actuações particulares ilícitas (artigo
134.º, n.º 3).
3. O Procedimento administrativo
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5.4. Deve atender-se, desde logo, à figura da exequibilidade dos actos admi-
nistrativos: os actos “exequíveis”, em sentido estrito, são aqueles que necessi-
tam ou admitem uma actividade administrativa de execução para a produção
dos efeitos visados; os actos não-exequíveis, pelo contrário, são capazes de
produzir por si próprios (desde que eficazes, claro) os efeitos visados, sem
necessidade ou admissibilidade de execução – como acontece, por exemplo,
com os actos negativos, com os actos relativos a status e com grande parte
dos actos favoráveis.
Os problemas de execução e, portanto, da executoriedade, como forma de
execução coactiva, só existem, como é evidente, quanto aos actos que sejam
exequíveis, isto é, que tenham de ser executados.
qualidade típica dos actos administrativos exequíveis (desde que eficazes) que
não se confunde com a executoriedade, já que se manifesta também nos casos
em que a execução é feita pelo tribunal ou por mandado judicial, visto que é a
decisão administrativa o título executivo que os tribunais executam ou man-
dam executar (não havendo necessidade de uma decisão judicial substantiva).
a) impõe a prática prévia do acto exequendo (artigo 177.º, n.º 1), com a
consequente inadmissibilidade de decisões implícitas (quando desfa-
voráveis e exequíveis);
b) salvo em estado de necessidade, tem de haver uma decisão autónoma,
devidamente fundamentada, de proceder à execução, determinando
o conteúdo e os termos desta (artigo 177.º, n.º 2);
c) a decisão de executar deve ser notificada, autonomamente ou conjunta-
mente com a notificação do acto exequendo, com a cominação de um
prazo razoável para o cumprimento da obrigação (artigo 177.º, n.ºs 3 e 4);
d) admite a fixação de sanções pecuniárias, quando a obrigação é de pres-
tação de facto (artigo 181.º);
e) prescreve e assegura o respeito, em todas as situações, pelos princípios
da adequação, da necessidade e da proporcionalidade na escolha do
modo de execução coerciva (cfr. artigo 266.º, n.º 2 da Constituição e
artigos 178.º do CPA);
f) estabelece as garantias dos executados, designadamente de impugnação
administrativa e de acesso aos meios contenciosos (artigo 182.º).
Bibliografia:
Bibliografia:
Bibliografia facultativa:
São pensáveis dois modelos básicos para apresentar uma concepção es-
trutural do acto administrativo: um modelo teórico e definitório, baseado no
inventário de um conjunto de «elementos essenciais», enquanto partes com-
ponentes de uma edificação lógica; ou um modelo prático e teleológico, que
visa estabelecer um esquema descritivo dos aspectos significativos do acto,
capaz de fornecer uma explicação coerente do seu regime de funcionamento
e orientado fundamentalmente pela necessidade de construção de uma teoria
das invalidades.
Adoptamos, seguindo Rogério Soares, este último modelo, no qual se
procura identificar os momentos que sejam relevantes para efeitos de loca-
lização dos diversos tipos de vícios de que o acto pode padecer, bem como
para avaliação das consequências do respectivo desvalor, tendo em vista,
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7.2. O sujeito
7.3. O objecto
7.3.1. Noção
Objecto do acto é o “ente no qual se projectam directamente os efei-
tos que o acto visa produzir” – que pode ser uma pessoa (nomeação,
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7.4. A estatuição
7.4.1.1. O fim
que está em primeira linha a cargo da Administração que vai actuar, tem
necessariamente influência na determinação do conteúdo (dos efeitos do acto),
na medida em que este dependa de escolha discricionária – particularmente
na aplicação dos preceitos normativos que acoplem uma “indeterminação
conceitual” na hipótese com uma “indeterminação estrutural” na estatuição
(“em caso de desordem que acarrete perigo grave para a segurança de pessoas
e bens, o órgão policial competente pode utilizar os meios adequados para
restabelecer a ordem pública”).
7.4.1.2. O conteúdo
7.4.2.1. O procedimento
7.4.2.2. A forma
São nulos também os actos com faltas graves de legitimação (falta de con-
vocatória do órgão colegial ou falta de reunião, falta absoluta de investidura
do titular) – devendo a tumultuosidade ou a falta de quórum (artigo 161.º,
n.º 2, alínea h) do CPA) ser interpretadas, nos casos concretos, em função
da sua gravidade (o tumulto terá de ser violento e, quanto ao quórum, há-de
ter-se em conta o disposto no artigo 29.º, n.ºs 2 e 3).
São ainda nulos os actos praticados sob coacção absoluta (física) ou coacção
moral (artigo 161.º, n.º 2, alínea f) do CPA), mas justifica-se uma “redução
teleológica” da coacção moral, que deve ser grave e evidente para gerar a
nulidade.
Os restantes vícios da vontade (dolo, negligência) não relevam, em regra,
directamente (autonomamente) como vícios do sujeito – relevam indirecta-
mente como vícios de fim ou de conteúdo, designadamente como indícios
ou manifestações de uso incorrecto do poder discricionário (com as conse-
quências que veremos à frente).
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Bibliografia:
tratado na mesma secção. Isto não apenas, nem fundamentalmente, por uma
questão conceitual ou de asseio formal, para satisfazer puras preocupações
analíticas ou alguns interesses doutrinários; mas porque a circunstância de
estas duas figuras aparecerem tratadas em conjunto causava na prática alguns
problemas e podia conduzir a soluções erróneas ou inadequadas.
Por exemplo:
aa) por que não admitir a anulação, para além do prazo de impugnação
judicial, de um acto desfavorável? Ou até de um acto favorável, quando
o particular estivesse de má fé (a ilegalidade podia até resultar de dolo
ou de corrupção que não produzisse a nulidade) ou por outra razão não
fosse titular de uma posição subjectiva de confiança (na estabilidade
do acto) merecedora de protecção jurídica?
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É certo que a jurisprudência poderia fazer distinções para além da lei e até
em certa medida corrigir a própria norma legal de acordo com os princípios
jurídicos; no entanto, era mais prudente e seguro efectuar uma modificação
do texto legal – como em boa medida se fez em 2015.
Por outro lado, também não se podia aceitar a proibição da anulação ad-
ministrativa para além do momento processual da contestação da autoridade
recorrida, como se dispunha antes no CPA.
Se o processo administrativo se prolongava, pelas razões mais variadas,
às vezes por muitos anos, devia admitir-se que o órgão administrativo
competente pudesse anular o acto — designadamente na hipótese de actos
desfavoráveis —, em momento posterior à contestação, quando só então
chegou à conclusão de que o acto era realmente ilegal. Note-se que o órgão
competente para a anulação não é necessariamente a autoridade recorrida
que contesta, acrescendo que o órgão autor do acto, para além dos casos em
que possa mudar de opinião, pode também mudar de titular. E não se pode
dizer que o tribunal ou o processo fiquem prejudicados na sua dignidade,
porque os motivos da anulação tardia serão, em regra, sérios e, de qualquer
modo, há-de valer aqui o princípio do dispositivo ou da auto-responsabi-
lidade das partes.
Esta solução está desde 2015 consagrada no CPA (artigo 168.º, n.º 3), e,
aliás, em nossa opinião, já se tinha tornado entretanto imperativa com a nova
legislação do processo administrativo (artigo 64.º do CPTA), que assegura
ao particular o direito de requerer o prosseguimento da acção contra o novo
acto (em caso de anulação por substituição) ou contra o acto anulatório, em
face de vícios deste (e também a cumulação com o pedido de condenação no
restabelecimento da situação hipotética actual) – sem prejuízo de os órgãos
da Administração, além do pagamento de custas, poderem ser condenados
por litigância de má-fé.
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A lei determina ainda (no artigo 168.º, n.º 5) que, quando o acto se tenha
tornado inimpugnável por via jurisdicional, ele só pode ser objecto de anu-
lação administrativa oficiosa, tornando claro que não há, nessas situações,
direito do interessado a impugnação administrativa.
9.2.4.2. Este regime rompe com a tradicional correspondência perfeita en-
tre os prazos da impugnabilidade judicial e da anulabilidade administrativa,
com um duplo fundamento: o decurso do prazo de impugnação judicial não
torna o acto válido; e pode haver boas razões para a anulação administrativa
de actos tornados inimpugnáveis, seja de actos desfavoráveis, seja mesmo,
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10.2. As reclamações
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10.2.2. Espécies
10.2.3. Efeitos
A reclamação não suspende a eficácia do acto, a não ser quando seja uma
reclamação necessária (ou então quando o autor do acto, oficiosamente ou a
pedido dos interessados, considere que a execução imediata causa ao desti-
natário prejuízos irreparáveis ou de difícil reparação e a suspensão não cause
prejuízo de maior gravidade ao interesse público) - artigo 189.º, n.º 2, do CPA.
Mas, como qualquer impugnação administrativa, suspende o prazo de
impugnação judicial, embora não impeça o reclamante de propor a acção
respectiva e de requerer providências cautelares (artigo 59.º, n.ºs 4 e 5 do
CPTA, bem como os n.ºs 3 e 4 do artigo 190.º do CPA).
10.3.1. Noção
10.3.2. Espécies
10.3.4. Procedimento
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