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SUMÁRIO

Livros do Autor

Nota do autor

Capítulo 1
Evolução Histórica

1 No estrangeiro..
1.1 Direito romano

1.2 Processo germânico


1.3 França
1.4 Portugal

2 No Brasil

Capítulo 2
Denominação e Conceito de Direito Processual
1 Denominação

2 Conceito
Capítulo 3
Autonomia do Direito Processual

1 Teoria monista

2 Teoria dualista

3 Características da autonomia de uma ciência


4 Desenvolvimento legal

5 Desenvolvimento doutrinário

6 Desenvolvimento didático
7 Autonomia jurisdicional

8 Autonomia científica

Capítulo 4
Posição Enciclopédica do Direito Processual

Capítulo 5
Relações do Direito Processual com os Demais Ramos do
Direito

1 Direito constitucional

2 Direito civil

3 Direito penal

4 Direito do trabalho

5 Direito Tributário

Capítulo 6
Fontes do Direito Processual
1 Fontes

2 Hierarquia

Capítulo 7
Aplicação das Normas do Direito Processual

1 Interpretação
2 Integração

3 Eficácia

3.1 Eficácia no tempo

3.2 Eficácia no espaço

Capítulo 8
Princípios do Direito Processual
1 Conceito

2 Distinção

3 Funções dos princípios

4 Princípios constitucionais e outros

4.1 Devido processo legal

4.2 Contraditório e ampla defesa

4.3 Juiz imparcial


4.4 Acesso à justiça

4.5 Direito de petição

4.6 Igualdade processual


4.7 Publicidade

4.8 Motivação das decisões judiciais

4.9 Celeridade e razoável duração do processo


4.10 Legalidade processual

4.11 Licitude da prova


4.12 Oralidade

4.13 Concentração dos atos na audiência


4.14 Lealdade processual

4.15 Economia processual


4.16 Dispositivo
4.17 Cooperação

Capítulo 9
Solução dos Conflitos

1 Denominação
2 Classificação
3 Meios de solução dos conflitos

3.1 Autodefesa
3.2 Autocomposição

3.3 Heterocomposição
3.3.1 Mediação

3.3.1.1 Mediação extrajudicial


3.3.1.2 Mediação judicial
3.3.1.3 Confidencialidade e suas exceções
3.3.1.4 Pessoa jurídica de direito público

3.3.2 Arbitragem
3.3.2.1 Histórico

3.3.2.2 Denominação
3.3.2.3 Conceitos
3.3.2.4 Distinção

3.3.2.5 Natureza jurídica


3.3.2.6 Classificação
3.3.2.7 Espécies
3.3.2.8 Compromisso

3.3.2.9 Admissibilidade
3.3.2.10Vantagens e desvantagens
3.3.2.11Procedimentos

3.3.2.12Dificuldades

3.3.3 Jurisdição

Capítulo 10
Jurisdição
1 Etimologia

2 Conceito
3 Distinção

4 Funções
5 Elementos
6 Características
7 Princípios

8 Poderes da jurisdição
9 Classificação

10 Limites

Capítulo 11
Poder Judiciário

1 Órgãos não jurisdicionais


2 Independência do poder judiciário

3 Vitaliciedade
4 Inamovibilidade

5 Irredutibilidade de subsídios
6 Impedimentos

Capítulo 12
Organização Judiciária
1 Introdução

2 Supremo Tribunal Federal


3 Conselho Nacional de Justiça
4 Superior Tribunal de Justiça

5 Tribunais Regionais Federais e dos Juízes Federais


6 Tribunais e Juízes do Trabalho

7 Tribunais e Juízes Eleitorais


8 Tribunais e Juízes Militares

9 Tribunais e Juízes dos Estados


10 Carreira da Magistratura

11 Órgãos auxiliares do Poder Judiciário


11.1 Distribuidor

11.2 Contadoria

Capítulo 13
Ministério Público

1 Denominação

2 Evolução
3 Princípios

4 Divisão

5 Ministério Público Estadual


6 Impedimentos

7 Conselho Nacional do Ministério Público

Capítulo 14
Advogado
1 Denominação

2 Evolução legislativa

3 O advogado
4 Direitos do advogado
5 Honorários advocatícios
6 Incompatibilidades e impedimentos

7 OAB

8 Defensoria pública

9 Advocacia pública

Capítulo 15
Competência

1 Etimologia
2 Conceito

3 Classificação

4 Competência interna ou internacional

5 Competência absoluta
6 Competência relativa

7 Competência em razão da matéria

7.1 Competência em razão da matéria do STF


7.2 Competência em razão da matéria do STJ

7.3 Competência em razão da matéria dos


Tribunais Regionais Federais
7.4 Competência em razão da matéria da Justiça
do Trabalho

7.5 Competência em razão da matéria da Justiça


Estadual
7.5.1 Acidente do trabalho

7.6 Competência da Justiça Militar

8 Competência em razão das pessoas

8.1 Competência pessoal do STF


8.2 Competência pessoal do STJ

8.3 Competência pessoal dos juízes federais

8.4 Competência pessoal da Justiça do Trabalho

8.5 Competência pessoal da Justiça Estadual

9 Competência em razão do valor

10 Competência territorial

11 Competência funcional

12 Perpetuação da jurisdição
13 Conflitos de competência

14 Regras gerais

15 Competência por distribuição

Capítulo 16
Ação

1 Conceitos
2 Teorias da ação

2.1 Imanentista ou clássica

2.2 Windscheid-Muther
2.3 Direito autônomo
2.3.1 Ação como direito autônomo e concreto

2.3.2 Ação como direito autônomo e abstrato

2.4 Liebman

3 Natureza jurídica da ação

4 Elementos da ação

5 Classificação das ações individuais

6 Classificação das ações coletivas


7 Condições da ação

Capítulo 17
Processo
1 Conceitos

2 Espécies

3 Natureza jurídica do processo


3.1 Direito romano

3.2 Processo como quase-contrato

3.3 Processo como relação jurídica

3.4 Processo como situação jurídica


3.5 Processo como instituição

3.6 Conclusão

4 Relação jurídica processual


5 Sujeitos do processo

5.1 Litisconsórcio

5.2 Intervenção de terceiros

6 Pressupostos da existência do processo


7 Pressupostos de validade do processo

8 Procedimento

Capítulo 18
Atos, Termos e Prazos Processuais

1 Atos

2 Termo

3 Prazos processuais
3.1 Contagem do prazo

3.2 Exceções à regra

4 Comunicação dos atos processuais

4.1 Formas
4.1.1 Citação dependente de ato do juiz

4.1.2 Comunicação processual por carta


4.1.3 Nulidade da citação

4.2 Demais notificações

Capítulo 19
Nulidades
1 Introdução

2 Conceito
3 Distinção

4 Sistema de nulidades

5 Vícios
5.1 Inexistência

5.2 Nulidade absoluta

5.3 Nulidade relativa

5.4 Anulabilidade
5.5 Irregularidades

6 Princípios das nulidades

6.1 Legalidade

6.2 Instrumentalidade das formas ou da finalidade


6.3 Economia processual

6.4 Aproveitamento da parte válida do ato

6.5 Interesse de agir


6.6 Causalidade

6.7 Lealdade processual

6.8 Repressão ao dolo processual

6.9 Princípio da conversão


6.10 Princípio da transcendência ou do prejuízo
6.11 Convalidação

7 Preclusão

7.1 Diferenças

7.2 Classificação da preclusão


7.2.1 Preclusão temporal

7.2.2 Preclusão lógica


7.2.3 Preclusão consumativa

8 Perempção

Capítulo 20
Petição Inicial

1 Forma
2 Autoridade competente

3 Requisitos

4 Valor da causa
5 Outros requisitos

6 Documentos
7 Indeferimento da petição inicial
8 Inépcia da inicial

9 Modificações à postulação inicial

Capítulo 21
Contestação
1 Denominação

2 Contestação
2.1 Preliminares
2.1.1 Inexistência ou nulidade de citação

2.1.2 Incorreção do valor da causa


2.1.3 Inépcia da petição inicial
2.1.4 Litispendência

2.1.5 Coisa julgada


2.1.6 Conexão e continência
2.1.7 Ausência de legitimidade ou de interesse
processual

2.1.8 Incapacidade de parte, defeito de representação


ou falta de autorização

2.2 Preliminares de mérito


2.2.1 Prescrição
2.2.2 Decadência

2.3 Defesa de mérito

Capítulo 22
Prova

1 Histórico
2 Etimologia
3 Conceito

4 Princípios
5 Objetivo da prova
6 Ônus da prova
7 Valoração da prova

8 Meios de prova

Capítulo 23
Sentença
1 Definições
2 Natureza jurídica

3 Função da sentença
4 Classificação das sentenças
5 Efeitos da sentença

6 Identidade física do juiz


7 Direito intertemporal

Capítulo 24
Recursos
1 Histórico
2 Conceito

3 Natureza jurídica
4 Fundamentos
5 Classificação

6 Duplo grau de jurisdição


7 Princípios dos recursos
7.1 Vigência imediata da lei nova

7.2 Unirrecorribilidade
7.3 Fungibilidade
7.4 Variabilidade

7.5 Legalidade

8 Peculiaridades

8.1 Efeito devolutivo


8.2 Uniformidade de prazos para recurso

9 Juízo de admissibilidade

10 Efeitos dos recursos


11 Regras gerais
12 Pressupostos dos recursos

12.1 Objetivos
12.1.1 Previsão legal

12.1.2 Adequação ou cabimento


12.1.3 Tempestividade
12.1.4 Preparo

12.1.5 Representação

12.2 Subjetivos
12.2.1 Legitimidade
12.2.2 Capacidade
12.2.3 Interesse

13 Proibição de “reformatio in peius”


14 Uniformização de jurisprudência

Capítulo 25
Coisa Julgada
1 Histórico
2 Etimologia

3 Fundamentos da coisa julgada


4 Classificação

5 Limites da coisa julgada


5.1 Objetivos
5.2 Subjetivos

6 Coisa julgada e declaratória incidente


7 Coisa julgada criminal e cível

Capítulo 26
Execução
1 Histórico
2 Conceito

3 Princípios
4 Características

5 Pressupostos
6 Título executivo

Bibliografia

Índice remissivo

Notas
Capítulo 1
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
1 NO ESTRANGEIRO
Inicialmente, a forma de solução do conflito era confiada aos
sacerdotes, pois eles eram ligados aos deuses e, portanto, decidiam
de acordo com a vontade dos deuses.
Em outras oportunidades, os conflitos eram solucionados pelos
anciãos, que tinham maior experiência e conhecimentos dos
costumes do grupo, ou pelos reis.
O processo vai surgindo no curso do tempo como forma de
arbitragem obrigatória.

1.1 Direito romano


No Direito Romano, o período das legis actiones vai entre a
fundação de Roma (754 a.C.) até 149 a.C.
A legis actio iudicis arbitrive postulatio, a actio per iudicis
postulatione e a legis actio per condictionem eram ações de
conhecimento, de declaração; a legis actio per pignoris inectionem e
a legis actio per pignoris capionem eram ações de execução.
A utilização da palavra errada poderia importar a perda da
postulação, pois era um direito formal. Gaio (I, 4.11) afirma que certa
pessoa, “agindo por causa de videiras cortadas”, menciona diante
do magistrado a palavra vites, e não arbor, e, por isso, perdeu a sua
postulação. A Lei das XII Tábuas fazia referência a árvores cortadas
em geral.
O procedimento era oral. As partes deveriam estar presentes
pessoalmente.
O autor convidava o réu a comparecer perante o magistrado.
Em caso de recusa ou resistência, o autor poderia conduzi-lo à
força.
O juiz concedia ou não a postulação do autor. Concedida a
postulação, era estabelecida a litiscontestatio, em que havia a
fixação do objeto do litígio, não mais podendo ser alterada a ação.
Na fase do iudicio, as provas eram produzidas perante o iudex,
ou arbiter ou mesmo diante dos jurados, sendo ouvidas as
testemunhas, feitos os debates entre as partes e proferida a
sentença.
Tudo era presenciado pelos parentes ou amigos.
O segundo período é o período formulário, que vai de 149 a.C.
até o século III d.C.
Os estrangeiros, ao fazerem comércio, moravam em Roma, daí
haver necessidade de se estabelecer uma nova magistratura. Surge
o pretor peregrino. Ele concedia uma fórmula escrita, em que se
estabelecia o objeto do litígio. As partes compareciam perante o juiz
ou juízes para conhecer os fatos e ser proferida a sentença.
Depois de 136 a.C., as duas Leis Julia extinguiram o sistema
processual per formulas.
A fórmula era um pequeno documento no qual era feito por
escrito a pretensão das partes.
O sistema romano era um sistema de actiones, mas não de
direitos. Actio, para os romanos, é o que hoje se chama de
pretensão (Anspruch), ou seja, a faculdade de impor a própria
vontade por via judiciária1.
Na extraordinaria cognitio, o Estado passou a assumir a
prestação jurisdicional, indicando não apenas o bem que formou o
objeto do julgamento, mas o próprio julgamento, a sentença e a sua
autoridade.

1.2 Processo germânico


No processo germânico, a jurisdição era exercida pelo povo, pelas
assembleias populares dos homens livres (Ding). O procedimento
era inteiramente oral e era instaurado perante a Assembleia.
As ordálias, ou juízos de Deus, eram: a) a prova pelo fogo, em
que o réu tinha de caminhar sobre brasas durante certo tempo ou
colocar a mão num braseiro; b) pela água fervendo; c) pela prova do
cadáver; d) pela prova da água fria. Se submergisse, estava dizendo
a verdade. Se voltasse à tona, era considerado culpado; d) pela
prova da serpente, em que o herege somente seria picado se fosse
culpado. O réu era submetido a esses procedimentos. Se ele dizia a
verdade, Deus o salvaria dos tormentos. Na antiga Pérsia, para se
descobrir a verdade, havia a prova do arroz. A pessoa deveria
engolir certa quantidade de arroz, ainda cru. Se não digerisse o
cereal, estaria mentindo.

1.3 França
Na França, a Ordenança Civil de Luiz XIV, de 1667, deu os
fundamentos para o Código de Processo Civil francês de 1806.
O Código de Processo Civil francês serviu de modelo para os
códigos da Bélgica, Holanda, Grécia, Rússia e de outros povos.

1.4 Portugal
As Ordenações Afonsinas, de 1446, eram divididas em cinco livros.
O terceiro livro era o referente ao processo civil. Tinha por
fundamentos o Direito Romano e o direito canônico.
As Ordenações Manuelinas, de 1521, faziam a compilação das
leis promulgadas depois do Código anterior. O processo civil era
previsto no livro terceiro.
As Ordenações Filipinas, promulgadas em 11 de janeiro de
1603, foram elaboradas por Jorge Cabedo, Pedro Barbosa, Paulo
Afonso e Damião de Aguiar. Eram compostas de cinco livros. O
terceiro era o referente ao processo civil. Havia divisão em fases:
postulatória, que compreendia o pedido, a réplica e a tréplica;
instrutória, de produção de provas, em que eram ouvidas
testemunhas de forma secreta, com fundamento no direito canônico;
decisória e executória. O L. III das Ordenações previa o princípio
dispositivo. O processo era movimentado pelo impulso das partes. O
processo criminal era regulado pelo L. V, que admitia tortura,
mutilações, marcas de fogo, açoites, degredo.
2 NO BRASIL
A Constituição de 1824 previa a proibição de prender e conservar
alguém preso sem prévia culpa formada (§§ 8º, 9º e 10 do art. 179),
a abolição imediata de açoites, da tortura, da marca de ferro quente
e de todas as demais penas cruéis (§ 19 do art. 179). Estabelece
que fosse elaborado um Código Criminal, fundado nas sólidas bases
da justiça e da equidade (§ 18 do art. 179).
O Regulamento 737, de 25 de novembro de 1850, determinava
a “ordem do juízo no processo comercial” (art. 27).
A Consolidação das Leis do Processo Civil foi elaborada pelo
Conselheiro Ribas. Teve força de lei em razão da resolução imperial
de 28 de dezembro de 1876. Houve compilação de disposições
vigentes, mas também o Conselheiro Ribas interpretava as normas,
fazia referência a textos romanos e a autores.
O Decreto n. 763, de 16 de setembro de 1890, estendeu as
normas do Regulamento 737 para as causas civis em geral.
A Constituição de 1891 institui a forma federativa,
estabelecendo a justiça da União e dos Estados (art. 34, 26). Havia
também dualidade de processos (art. 34, 23), pois o Estado tinha o
poder de organizar a sua justiça e a de legislar sobre processo.
Foram surgindo os Códigos Estaduais, como o Código
processual da Bahia, em 1915, e o de Minas Gerais, em 1916.
A Constituição de 1934 estabeleceu a competência privativa da
União para legislar sobre processo (art. 5º, XIX, a).
A Carta Magna de 1937 previa a competência privativa da
União para legislar sobre processo (art. 16, XVI).
O anteprojeto do Código de Processo Civil foi elaborado pelo
advogado Pedro Batista Martins. Foi feita revisão pelo Ministro da
Justiça Francisco Campos, por Guilherme Estellita e por Abgar
Renault. Foi transformado no CPC de 1939. Teve como
fundamentos os Códigos da Áustria, Alemanha e Portugal. Utiliza o
princípio da oralidade, da concentração dos atos processuais, da
imediação do juiz, da identidade física do juiz. Os prazos eram
curtos para a prática dos atos processuais, o que mostrava a
celeridade processual.
Em 1940, veio para o Brasil Enrico Tulio Liebman. Ele foi aluno
de Chiovenda e trouxe para o nosso país a experiência europeia.
Ficou seis anos no Brasil. Ministrou aulas na Faculdade de Direito
da USP. Fazia reuniões na sua residência em São Paulo, na
alameda Ministro Rocha Azevedo, para debater temas de direito
processual. Foram discípulos dele Luis Eulálio Bueno Vidigal,
Alfredo Buzaid e José Frederico Marques. A Escola Processual de
São Paulo se formou assim, estabelecendo pressupostos
metodológicos no processo, como a autonomia da ação e a
instrumentalidade do processo.
O Código de Processo Penal foi instituído pelo Decreto-lei n.
3.869, de 3 de outubro de 1941, entrando em vigor em 1º de janeiro
de 1942. Decorre do projeto elaborado por Vieira Braga, Nélson
Hungria, Narcélio Queiroz, Roberto Lyra, Florêncio de Abreu e
Cândido Mendes de Almeida.
Determinava a Constituição de 1946 a competência da União
para legislar sobre processo (art. 5º, XV, a). Não se fazia referência
à competência privativa.
A Constituição de 1967 rezava sobre a competência da União
para legislar sobre processo (art. 8º, XVII, b).
A Emenda Constitucional n. 1, de 1969, destacava a
competência da União para legislar sobre processo (art. 8º, XVII, b).
Alfredo Buzaid e José Frederico Marques foram encarregados
pelo Governo Federal de elaborar, respectivamente, os anteprojetos
de Código de Processo Civil e de Código de Processo Penal. O
anteprojeto de Alfredo Buzaid foi revisto pela comissão composta
pelos professores José Frederico Marques, Luis Machado
Guimarães e pelo desembargador Luis Antônio de Andrade. Foi
submetido ao Congresso Nacional (projeto 810/72). Depois de
muitas emendas, foi aprovado e promulgado pela Lei n. 5.869, de 11
de janeiro de 1973. O Código era dividido em cinco livros: I – do
processo de conhecimento; II – do processo de execução; III – do
processo cautelar; IV – dos procedimentos especiais; V – das
disposições finais e transitórias. O Livro V contém 10 artigos, que
tratam também da vigência residual de algumas seções do CPC de
1939 (art. 1.218). Antes de o Código entrar em vigor, a Lei n. 5.925,
de 1º de outubro de 1973, alterou quase uma centena de artigos.
A Lei n. 7.244, de 7 de novembro de 1984, instituiu a Lei das
Pequenas Causas.
Foi criada comissão para elaborar a lei de execução penal,
composta pelos professores Francisco de Assis Toledo, René Ariel
Dotti, Miguel Reale Jr., Ricardo Antunes Andreucci, Rogerio Lauria
Tucci, Sergio Marcos de Moraes Pitombo, Benjamin Moraes Filho e
Negi Calixto. Foi promulgada a Lei n. 7.210, de 11-7-1984, a Lei de
Execução Penal.
A Constituição de 1988 estabeleceu a competência privativa da
União para legislar sobre direito processual (art. 22, I), que
compreende processo civil, processo penal, processo do trabalho,
processo tributário. Há competência concorrente aos Estados para
legislar “sobre procedimentos em matéria processual” (art. 24, XI) e
é prevista a “criação, funcionamento e processo do juizado de
pequenas causas” (art. 24, X). Atualmente, a Lei n. 9.099, de 26 de
dezembro de 1995, trata dos juizados especiais cíveis e criminais.
A partir de 1992 foram sendo feitas pequenas reformas no CPC.
Altera a Lei n. 8.455, de 24 de agosto de 1992, dispositivos do
CPC sobre prova pericial e revoga os arts. 430, 431 e 432 do CPC.
A Lei n. 8.710, de 24 de setembro de 1993, amplia a citação
postal (art. 222 do CPC), permitindo a citação de todas as pessoas
pelo correio e não mais apenas empresas e empresários. As partes
também podem ser intimadas pelo correio.
A Lei n. 8.718, de 14 de outubro de 1993, permite o aditamento
do pedido antes da citação, alterando o art. 294 do CPC.
A Lei n. 8.898, de 29 de junho de 1994, elimina a liquidação por
cálculos. A citação do devedor pode ser feita na pessoa dos
advogados, na liquidação por arbitramento ou por artigos.
A Lei n. 8.950, de 13 de dezembro de 1994, altera artigos do
CPC sobre recursos. Os recursos extraordinário e o especial, o
ordinário constitucional e os embargos de divergência passam a ter
previsão no CPC (arts. 541 a 546).
A Lei n. 8.952, de 13 de dezembro de 1994, instituiu a tutela
antecipada (art. 273 do CPC) e a tutela específica de obrigação de
fazer ou não fazer (art. 461 do CPC).
A Lei n. 9.079, de 14 de julho de 1995, criou o processo
monitório.
A Lei n. 9.245, de 26 de dezembro de 1995, alterou o
procedimento sumário.
A Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996, tratou da arbitragem
numa única norma. Revogou dispositivos do Código Civil de 1916 e
do CPC de 1973 sobre o tema.
Instituiu a Lei n. 9.507, de 12 de novembro de 1997, a
regulamentação constitucional sobre o habeas data.
A Lei n. 9.800, de 26 de maio de 1999, permite às partes a
utilização do sistema fax símile “para a prática de atos processuais
que dependam de petição escrita”.
A Lei n. 9.882, de 3 de dezembro de 1999, trata da arguição de
descumprimento de preceito fundamental.
A Emenda Constitucional n. 24, de 9 de dezembro de 1999,
extinguiu os juízes classistas na Justiça do Trabalho e transformou
as Juntas de Conciliação e Julgamento em Varas do Trabalho.
A Emenda Constitucional n. 45, de 8 de dezembro de 2004,
trata da reforma do Poder Judiciário. Altera vários artigos da
Constituição sobre competência e organização judiciária. Ampliou a
competência recursal do STF. Extinguiu as férias forenses coletivas
nos tribunais, com exceção dos tribunais superiores. Estabeleceu a
súmula vinculante do STF.
As Leis ns. 10.352, de 26 de dezembro de 2001, 10.358, de 27
de dezembro de 2001, 10.444, de 7 de maio de 2002, fizeram novas
alterações no CPC de 1973. Foram chamadas de reforma da
reforma2.
A Lei n. 11.187, de 19 de outubro de 2005, altera o agravo,
determinando regras para efeito do agravo retido.
A Lei n. 11.232, de 22 de dezembro de 2005, trata do
cumprimento da sentença. É originária de projeto do Ministro Athos
Gusmão Carneiro. Altera dispositivo sobre a execução de título
judicial. Elimina o processo autônomo de execução.
A Lei n. 11.419, de 19 de dezembro de 2006, reza sobre a
informatização do processo judicial.
A Lei n. 11.441, de 4 de janeiro de 2007, permitiu a realização
de inventários, partilhas, separação consensual e divórcio
consensual nos cartórios extrajudiciais.
A Lei n. 12.016, de 7 de agosto de 2009, trata do mandado de
segurança, revogando a Lei n. 1.533/51.
Foi constituída comissão de juristas para elaborar um novo
CPC pelo ato n. 379, de setembro de 2009, composta pelo Min. Luiz
Fux, Tereza Arruda Alvim Wambier, Adroaldo Furtado Fabricio,
Humberto Theodoro Jr., José Miguel Garcia Medina, José Roberto
dos Santos Bedaque, Paulo Cezar Pinheiro Carneiro. A necessidade
de apresentar resultados à opinião pública levou o Senador José
Sarney, presidente do Senado, a determinar que a comissão teria
180 dias para elaborar o projeto de novo CPC.
A Lei n. 13.103, de 16 de março de 2015, instituiu o novo CPC,
revogando a Lei n. 5.869/73. É um código que tem redação
aperfeiçoada em relação ao código anterior. O Código de 1973 tinha
redação truncada, com muitas vírgulas. Os artigos são melhor
agrupados. Eliminou as medidas cautelares específicas, passando a
tratar de tutela cautelar. Não existem mais cautelares de jurisdição
voluntária, mas apenas a jurisdição voluntária. Institui as tutelas de
urgência e de evidência. Não mais falou em tutela antecipada.
Estabeleceu o incidente de desconsideração da personalidade
jurídica, que não existia no código anterior. Em muitos casos, o novo
código muda apenas o número do artigo do CPC de 1973. A maioria
dos prazos foi unificada em 15 dias úteis, aumentando o tempo do
processo. Houve incorporação da jurisprudência dos tribunais no
Código. Foi dividido em uma Parte Geral e uma Parte Especial. O
CPC de 2015 é informado pela ideia de solução integral do mérito,
incluída a atividade satisfativa que está prevista no inciso LXXVIII do
art. 5º da Constituição. Logo, não cabe mais a ideia da
jurisprudência defensiva, no sentido de impedir o julgamento do
mérito da pretensão da parte. São exemplos os arts. 321, 488, 932,
parágrafo único, 1.007, § 4º, 1.007, § 6º, 1.032 e 1.033 do CPC.
Capítulo 2
DENOMINAÇÃO E CONCEITO DE
DIREITO PROCESSUAL
1 DENOMINAÇÃO
Processo vem do latim procedere, seguir adiante. É a marcha
avante.
A denominação Direito Judiciário era atribuída a João Mendes
Jr., pois o juiz era o principal sujeito do processo. Ele fazia distinção
entre Direito Judiciário Civil e Direito Judiciário Penal. Tudo que não
era civil era penal, e vice-versa.
A crítica que se fazia a essa denominação era que não se pode
falar em Direito Judiciário, pois não se estuda apenas o juiz ou o
Judiciário, mas o processo. O juiz é apenas um dos sujeitos do
processo, que precisa da postulação do autor, que é resistida pelo
réu, para poder decidir o litígio.
A expressão direito processual vem do direito alemão.
2 CONCEITO
Direito processual é o conjunto de princípios, de regras e de
instituições que visa solucionar o litígio entre as partes.
Não se trata de algo isolado, mas de um conjunto, de um todo,
de um sistema.
O Direito Processual tem princípios próprios. Muitos deles estão
na Constituição, como o devido processo legal (due process of law),
o juiz natural, o contraditório, a ampla defesa, a celeridade ou
razoável duração do processo etc.
Há regras próprias, como o Código de Processo Civil, o Código
de Processo Penal, a CLT (arts. 643 a 910).
Existem instituições próprias, como o Poder Judiciário, nos seus
diversos ramos, a Justiça Estadual, a Justiça Federal, a Justiça
Militar, a Justiça Eleitoral e a Justiça do Trabalho. Na França, por
exemplo, os juízes fazem parte de um departamento do Ministério
da Justiça.
O objetivo é a solução dos litígios entre as partes.
Capítulo 3
AUTONOMIA DO DIREITO
PROCESSUAL

As teorias que tratam da autonomia do Direito Processual


podem ser resumidas em duas: monista e dualista.
1 TEORIA MONISTA
A teoria monista ou unitarista prega que o Direito Processual é um
só. Não haveria subdivisões.
Carnelutti leciona que o direito processual é substancialmente
uno e que o processo civil se distingue do processo penal não pelo
fato de que tenham raízes distintas, mas pelo fundamento de serem
dois grandes ramos que se bifurcam, a boa altura, de um tronco
único.
Francisco Leone afirma que ambos os processos têm a atuação
do Poder Jurisdicional. A intervenção do Poder Jurisdicional é
condicionada ao exercício da ação. Em ambos os processos há três
sujeitos: juiz, autor e réu.
2 TEORIA DUALISTA
A teoria dualista pondera que há autonomia do direito processual.
Eugenio Florian assevera que no processo penal a relação
discutida é de direito público, que é o Direito Penal. O objetivo no
processo civil é a relação de direito privado, seja ela de Direito Civil
ou de Direito Comercial. O processo penal é o instrumento
indispensável utilizado para a aplicação da lei penal. No processo
civil, a resolução do conflito pode ser feita fora do Poder Judiciário.
O poder dispositivo das partes no processo penal é restrito. No
processo civil é mais amplo. No processo penal, o juiz vai julgar um
homem e tem de inspirar-se em critérios ético-sociais3.
Vincenzo Manzini tem ponderações parecidas com as
anteriores. O processo penal tem por objeto a pretensão punitiva do
Estado, em relação a um crime. No processo civil, a pretensão é de
direito privado. No processo civil as partes têm paridade de
tratamento, com largos poderes de disposição. No processo penal, o
interesse é sempre público e objetivo. No processo penal os atos de
formação e de discussão são orais4. O juiz penal tem liberdade de
convencimento mais amplo que o juiz do cível. No processo penal,
se a ação é pública, o Ministério Público tem obrigação de propô-la.
No processo civil, não há obrigação de propor a ação por uma das
partes. No processo penal, busca-se a verdade real. No processo
civil, busca-se a verdade ficta ou processual.
A teoria geral do processo é como o tronco da árvore, que dá
sustentação a toda a árvore e se aplica a qualquer ramo do
processo. Os ramos da árvore são o direito processual civil, direito
processual penal e direito processual do trabalho.
Não se quer dizer que cada um dos ramos do Direito
Processual é autônomo em relação ao gênero, mas há autonomia
didática de cada um dos ramos do Direito Processual.
A teoria geral do processo tem por objetivo estudar os institutos
fundamentais do direito processual. Visa a teoria estabelecer uma
visão geral do direito processual, na parte em que os ramos do
direito processual têm identidade.
3 CARACTERÍSTICAS DA AUTONOMIA DE UMA
CIÊNCIA
Segundo Alfredo Rocco 5, para caracterizar a autonomia de uma
ciência é mister que:

a) ela seja vasta a ponto de merecer um estudo de conjunto,


adequado e particular;
b) ela contenha doutrinas homogêneas dominadas por
conceitos gerais comuns e distintos dos conceitos gerais
que informam outras disciplinas;
c) possua método próprio, empregando processos especiais
para o conhecimento das verdades que constituem objeto
de suas investigações.

Na verdade, o método empregado pelo Direito Processual é o


mesmo que o utilizado em quaisquer outros ramos do Direito, pois
não será interpretado ou aplicado de forma diferente.
Assim, pode-se dizer que, para caracterizar a autonomia de
uma ciência, mister se faz: (a) a existência de uma vasta matéria,
que mereça um estudo de conjunto; (b) a existência de princípios
próprios; (c) a constatação de institutos peculiares.
Haverá autonomia da matéria se os princípios e regras
estabelecerem identidade e diferença entre os demais ramos do
Direito.
Vamos examinar a autonomia do Direito Processual sob o
ângulo do desenvolvimento legal, doutrinário, didático, e sob o
aspecto jurisdicional e científico.
4 DESENVOLVIMENTO LEGAL
As normas de Direito Processual estão na Constituição, que trata de
organização e competência do Poder Judiciário. Existe um Código
de Processo Civil (Lei n. 13.105/2015), um Código de Processo
Penal (Decreto-lei n. 3.688/41), assim como existem dispositivos na
CLT (arts. 643 a 910) que tratam de processo do trabalho. Existem
várias leis esparsas que tratam de processo, como a Lei n. 8.009/90
(impenhorabilidade do bem de família), Lei n. 9.099 (juizados de
pequenas causas), Lei n. 12.016/2009 (mandado de segurança) etc.
A existência dos códigos justifica a autonomia legislativa ou
legal da matéria.
5 DESENVOLVIMENTO DOUTRINÁRIO
Do ponto de vista doutrinário, há autonomia do Direito Processual.
Existem várias obras sobre o tema. No Direito Processual Civil,
são exemplos as obras de João Mendes Jr., Lopes da Costa,
Gabriel Rezende Filho, Alfredo Buzaid, Moacyr Amaral Santos,
Cândido Rangel Dinamarco, entre outros. No Direito Processual
Penal, são exemplos: José Frederico Marques, Tourinho Filho, Hélio
Tornaghi, Julio Fabrini Mirabette, entre outros. No Direito Processual
do Trabalho, são exemplos: Antonio Lamarca, Wagner Giglio,
Amauri Mascaro Nascimento, Manoel Antonio Teixeira Filho etc.
6 DESENVOLVIMENTO DIDÁTICO
Não há dúvida sobre o desenvolvimento didático da matéria. Umas
faculdades têm uma matéria introdutória chamada Teoria Geral do
Processo. Outras têm Direito Processual Civil em três anos, Direito
Processual Penal em um ano e Direito Processual do Trabalho em
um ano.
Nos exames da Ordem dos Advogados do Brasil são exigidos
conhecimentos específicos de Direito Processual Civil, Penal e do
Trabalho para habilitar o bacharel a atuar como advogado.
7 AUTONOMIA JURISDICIONAL
No Brasil, a autonomia jurisdicional do processo está nas
Constituições, especialmente na Constituição de 1988. Esta prevê
princípios de processo no art. 5º e trata do Poder Judiciário nos arts.
92 a 126. Há, ainda, outras normas processuais espalhadas pela Lei
Maior.
A autonomia jurisdicional não é um critério preciso para
caracterizar a autonomia do Direito Processual. A autonomia não
deriva, porém, da jurisdição, que não é causa, mas o efeito da
autonomia.
Há, contudo, instituição própria, que é o Poder Judiciário, nos
seus vários ramos.
8 AUTONOMIA CIENTÍFICA
No tocante à autonomia científica, é possível verificar que as
instituições de Direito Processual são diversas das demais áreas do
Direito. Exemplo disso é o Poder Judiciário.
O Poder Judiciário é um poder independente e harmônico em
relação ao Legislativo e ao Executivo (art. 2º da Constituição).
Há conceitos próprios no Direito Processual, que são comuns e
estabelecidos na Teoria Geral do Processo, como ação, processo,
jurisdição, competência etc.
Existe autonomia do Direito Processual, pois ele tem conceitos
e princípios próprios, distintos de outros ramos do Direito.
Capítulo 4
POSIÇÃO ENCICLOPÉDICA DO
DIREITO PROCESSUAL

Posição enciclopédica ou taxionomia é o lugar em que o Direito


Processual está inserido dentro do Direito.
Ulpiano já dividia o direito em público e privado, embora
entendendo tal classificação como meramente didática, pois o
Direito enquanto ciência é o gênero, tendo seus diversos ramos, que
são considerados as espécies. Cada ramo do Direito mantém
relações e conexões com as demais espécies do gênero.
No século XIX, os juristas de tradição romanista entendiam que
o direito público era o que compreendia a organização do Estado. Já
o direito privado era o que dizia respeito ao interesse dos
particulares. Esta orientação permanece nos dias atuais.
O Direito Processual pertence ao Direito Público, pois a maioria
das normas é de Direito Público, como a Constituição, as leis. A
exceção diz respeito ao sistema de mediação e conciliação, que
pode ser feito por particulares, e à arbitragem (Lei n. 9.307/96), em
que o árbitro é geralmente um particular, escolhido pelas partes para
solucionar o conflito.
O Estado, por meio do juiz, vai se pronunciar no sentido de
dirimir a controvérsia existente entre o autor e o réu quanto à
pretensão postulada na inicial e resistida na defesa. O Poder
Judiciário é o órgão público que tem competência para analisar essa
questão, dando a solução ao litígio, de acordo com pronunciamento
neutro e isento de qualquer interesse de ajudar ou prejudicar
quaisquer das partes. Por exceção, as partes podem se utilizar da
mediação ou arbitragem, feita por particulares.
O Direito Processual é o gênero do qual são espécies o Direito
Processual Penal, o Direito Processual Civil, o Direito Processual do
Trabalho e o Direito Processual Militar. Muitos conceitos, como de
ação, autor, réu, exceção, reconvenção e recurso, são trazidos do
âmbito da Teoria Geral do Processo e empregados em cada ramo
processual.
Capítulo 5
RELAÇÕES DO DIREITO
PROCESSUAL COM OS DEMAIS
RAMOS DO DIREITO

O Direito Processual do Trabalho relaciona-se, como não


poderia deixar de ser, com outros ramos da ciência do Direito.
1 DIREITO CONSTITUCIONAL
A relação do Direito Processual com o Direito Constitucional é muito
estreita, pois a Constituição cuida da organização, constituição e
composição do Poder Judiciário. Certos princípios processuais
estão na Constituição, como do devido processo legal (art. 5º, LIV),
do contraditório e ampla defesa (art. 5º, LV) etc.
O Direito Constitucional Processual compreende as normas e
princípios de processo na Constituição.
O Direito Processual Constitucional diz respeito às normas
processuais para ser implementada a jurisdição constitucional.
2 DIREITO CIVIL
O Direito Processual relaciona-se com o Direito Civil, pois ele faz
remissão à capacidade processual, domicílio, que tem reflexo nas
regras sobre competência. Muitas postulações feitas no processo
são previstas no Direito Civil, como de família, sucessões, menores,
responsabilidade civil etc.
3 DIREITO PENAL
Relaciona-se o Direito Processual com o Direito Penal, pois este
estabelece os crimes contra a administração da justiça (arts. 338 a
359 do CP).
O Direito Processual tem relação com o direito material, pois as
normas destes Direitos são postuladas em juízo em relação aos
litígios existentes entre as partes para garantir seus direitos.
4 DIREITO DO TRABALHO
O Direito Processual do Trabalho se relaciona com o Direito do
Trabalho, pois no processo trabalhista são postulados os direitos
dos trabalhadores, como férias, 13º salário, salários, horas extras
etc.
5 DIREITO TRIBUTÁRIO
O Direito Processual relaciona-se com o Direito Tributário quando é
utilizada a Lei n. 6.830/80 (lei de execuções fiscais). Na omissão
desta, pode ser aplicado o CPC ao processo tributário.
Os contribuintes propõem ações declaratórias de inexigibilidade
do tributo, de repetição de indébito etc.
Capítulo 6
FONTES DO DIREITO
PROCESSUAL
1 FONTES
Fonte vem do latim fons, com o significado de nascente, manancial.
No significado vulgar, fonte tem o sentido de nascente de água,
o lugar de onde brota água. Figuradamente, refere-se à origem de
alguma coisa, de onde provém algo. Fonte de Direito tem significado
metafórico, em razão de que já é uma fonte de várias normas.
Claude du Pasquier afirma que fonte de regra jurídica “é o
ponto pelo qual ela se sai das profundezas da vida social para
aparecer à superfície do Direito”6.
José de Oliveira Ascensão menciona que fonte tem diferentes
significados: (a) histórico: considera as fontes históricas do sistema,
como o Direito Romano; (b) instrumental: são os documentos que
contêm as regras jurídicas, como códigos, leis etc.; (c) sociológico
ou material: são os condicionamentos sociais que produzem
determinada norma; (d) orgânico: são os órgãos de produção das
normas jurídicas; (e) técnico-jurídico ou dogmático: são os modos
de formação e revelação das regras jurídicas7.
O estudo das fontes do Direito pode ter várias acepções, como
sua origem, o fundamento de validade das normas jurídicas e a
própria exteriorização do Direito.
Fontes formais são as formas de exteriorização do Direito.
Exemplos seriam as leis, o costume etc.
Eduardo García Máynez afirma que as fontes formais são como
o leito do rio, ou canal, por onde correm e se manifestam as fontes
materiais8.
Fontes materiais são o complexo de fatores que ocasionam o
surgimento de normas, compreendendo fatos e valores. São
analisados fatores sociais, psicológicos, econômicos, históricos etc.
São os fatores reais que irão influenciar na criação da norma
jurídica.
Alguns autores afirmam que apenas o Estado é a única fonte do
Direito, pois ele goza do poder de sanção. Uma segunda corrente
prega que existem vários centros de poder, de onde emanam
normas jurídicas.
Para certos autores, relevante é apenas o estudo das fontes
formais. As fontes materiais dependem da investigação de causas
sociais que influenciaram na edição da norma jurídica, matéria que é
objeto da Sociologia do Direito.
Miguel Reale prefere trocar a expressão fonte formal por teoria
do modelo jurídico. Este é “a estrutura normativa que ordena os
fatos segundo valores, numa qualificação tipológica de
comportamentos futuros, a que se ligam determinadas
consequências”9.
As fontes podem ser classificadas em heterônomas e
autônomas. Heterônomas são as impostas por agente externo.
Exemplos: constituição, leis, decretos, sentença normativa,
regulamento de empresa, quando unilateral. Autônomas são as
elaboradas pelos próprios interessados. Exemplos: costume,
convenção e acordo coletivo, regulamento de empresa (quando
bilateral), contrato de trabalho.
Podem as fontes ser estatais, em que o Estado estabelece a
norma, por exemplo, constituição, leis, sentença normativa;
extraestatais, que são as fontes oriundas das próprias partes, como
o regulamento de empresa, o costume, a convenção e o acordo
coletivo, o contrato de trabalho. São profissionais as fontes
estabelecidas pelos trabalhadores e empregadores interessados,
como a convenção e o acordo coletivo de trabalho.
Quanto à vontade das pessoas, as fontes podem ser
voluntárias e interpretativas. Voluntárias são as dependentes da
vontade dos interessados, como o contrato de trabalho, a
convenção e o acordo coletivo, o regulamento de empresa (quando
bilateral). Interpretativas são as impostas coercitivamente às
pessoas pelo Estado, como a Constituição, as leis, a sentença
normativa.
Pode-se dizer, para justificar as fontes de Direito, que as
normas de maior hierarquia seriam o fundamento de validade das
regras de hierarquia inferior.
As normas jurídicas têm hierarquias diversas, porém compõem
um todo, que se inicia com a Constituição.
É na Constituição que são estabelecidas regras de organização
e competência do Poder Judiciário.
Abaixo da Constituição existem as leis ordinárias. A Lei n.
13.105/2015 estabelece o Código de Processo Civil. O Código de
Processo Penal foi instituído pelo Decreto-lei n. 3.689/41. A CLT
(Decreto-lei n. 5.452/43), nos arts. 643 a 910, trata do processo do
trabalho. O CPC é aplicável subsidiariamente ao processo do
trabalho na omissão da CLT e desde que haja compatibilidade com
os princípios do processo laboral (art. 769 da CLT). O processo
penal militar é regido pelo Decreto-lei n. 1.002/69.
Determina o art. 15 do CPC de 2015 que “na ausência de
normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas,
administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas
supletiva e subsidiariamente”. A palavra supletivo vem do latim
supletius, o que serve para completar, servir de complemento,
suprir, suplementar. A palavra subsidiário vem do latim subsidiarius,
tendo o sentido que é o da reserva, que vem na retaguarda, que é
de reforço, ou seja, que auxilia, que ajuda, que socorre, que apoia
ou reforça.
A Lei n. 6.830/80 (lei de execuções fiscais) é aplicável na
execução fiscal.
Não há muitos decretos que tratam de matéria processual do
trabalho, que geralmente estão no âmbito da lei. O Decreto n.
10.854, de 10 de novembro de 2021, estabeleceu regras sobre
mediação na negociação coletiva trabalhista.
Os regimentos internos dos tribunais também versam sobre
processo, especialmente sobre procedimentos no âmbito desses
tribunais e no que diz respeito ao trâmite de recursos e outros
processos de competência originária de segundo ou terceiro grau,
como agravo regimental, incidente de uniformização de
jurisprudência, correição parcial.
Os tribunais expedem provimentos, atos ou instruções
normativas que tratam da matéria processual do trabalho, como
sobre custas, agravo de instrumento, dissídio coletivo.
A jurisprudência também exerce importante papel ao analisar as
disposições processuais. A jurisprudência é fonte do Direito
Processual. Dispõe o inciso VI do art. 489 do CPC que não se
considera fundamentada a sentença que deixar de seguir enunciado
de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem
demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento. Os juízes e tribunais observarão: 1 –
as decisões do STF em controle concentrado de
constitucionalidade; 2 – os enunciados de súmula vinculante; 3 – os
acórdãos em incidente de assunção de competência ou de
resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos
extraordinário e especial repetitivos; 4 – os enunciados das súmulas
do STF em matéria constitucional e do STJ em matéria
infraconstitucional; 5 – a orientação do plenário ou do órgão especial
aos quais estiverem vinculados. A súmula, a jurisprudência ou o
precedente passam a ser fontes de direito. Assim, passamos de um
sistema de civil law para um sistema de common law, em que a
jurisprudência e os precedentes são considerados como fonte de
direito e devem ser respeitados.
Indica a jurisprudência o caminho predominante em que os
tribunais entendem de aplicar a lei, suprindo, inclusive, eventuais
lacunas desta última.
A doutrina se constitui em valioso subsídio para a análise do
Direito Processual, mas também não se pode dizer que venha a ser
uma de suas fontes, justamente porque os juízes não estão
obrigados a observar a doutrina em suas decisões, tanto que a
doutrina muitas vezes não é pacífica, tendo posicionamentos
opostos.
O STF poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão
de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre
matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua
publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos
demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta
e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal (art. 103-A da
Constituição).
O parágrafo único do art. 28 da Lei n. 9.868, de 10-11-1999,
estabelece que a declaração de constitucionalidade ou de
inconstitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a
Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem
redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito vinculante em
relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública
federal, estadual e municipal.
Os costumes, os tratados, as convenções internacionais
também podem conter normas processuais, desde que estas
últimas tenham sido ratificadas por nosso país.
A analogia, a equidade, os princípios gerais de Direito e o
Direito Comparado não constituem fontes formais, e, sim, critérios
de integração da norma jurídica.
2 HIERARQUIA
O art. 59 da Constituição dispõe quais são as normas existentes no
sistema jurídico brasileiro. Não menciona que haja hierarquia entre
umas e outras. A hierarquia entre as normas somente viria a ocorrer
quando a validade de determinada norma dependesse de outra, em
que esta regularia inteiramente a forma de criação da primeira
norma. É certo que a Constituição é hierarquicamente superior às
demais normas, pois o processo de validade destas é regulado pela
primeira. Abaixo da Constituição estão os demais preceitos legais,
cada qual com campos diversos: leis complementares, leis
ordinárias, decretos-leis (nos períodos em que existiram), medidas
provisórias, leis delegadas, decretos legislativos e resoluções. Não
há dúvida de que os decretos são hierarquicamente inferiores às
primeiras normas, até porque não são emitidos pelo Poder
Legislativo, mas pelo Poder Executivo. Após os decretos, há normas
internas da Administração Pública, como portarias, circulares,
ordens de serviço etc., que são hierarquicamente inferiores aos
decretos.
Capítulo 7
APLICAÇÃO DAS NORMAS DO
DIREITO PROCESSUAL

Havendo duas ou mais normas sobre a mesma matéria,


começa a surgir o problema de qual delas deva ser aplicada.
1 INTERPRETAÇÃO
Interpretar a norma é compreender o que o legislador quer dizer. É a
análise da norma jurídica que vai ser aplicada aos casos concretos.
Interpretar a norma é dar o seu significado. É mostrar o sentido da
norma. É entender o conteúdo e a extensão da norma.
Várias são as formas de interpretação da norma jurídica:

a) gramatical ou literal (verba legis): consiste em verificar


qual o sentido do texto gramatical da norma jurídica.
Analisa-se o alcance das palavras encerradas no texto da
lei. Deve-se verificar a linguagem comum empregada pelo
legislador, porém, se são utilizados termos técnicos, o
conceito destes deve prevalecer;
b) lógica (mens legis): em que se estabelece uma conexão
entre vários textos legais a serem interpretados. São
verificadas as proposições enunciadas pelo legislador;
c) teleológica ou finalística: a interpretação será dada ao
dispositivo legal de acordo com o fim colimado pelo
legislador;
d) sistemática: a interpretação será dada ao dispositivo legal
de acordo com a análise do sistema no qual está inserido,
sem se ater à interpretação isolada de um dispositivo,
mas, sim, ao seu conjunto. São comparados vários
dispositivos para se constatar o que o legislador pretende
dizer, como de leis diversas, mas que tratem de questão
semelhante. A lei está inserida dentro de uma estrutura,
razão pela qual as partes componentes desta estrutura
devem ser analisadas;
e) extensiva ou ampliativa: dá-se um sentido mais amplo à
norma a ser interpretada do que ela normalmente teria;
f) restritiva ou limitativa: dá-se um sentido mais restrito,
limitado, à interpretação da norma jurídica;
g) histórica: o Direito decorre de um processo evolutivo. Há
necessidade de se analisar, na evolução histórica dos
fatos, o pensamento do legislador não só à época da
edição da lei, mas também de acordo com sua exposição
de motivos, mensagens, emendas, discussões
parlamentares etc. O direito, portanto, é uma forma de
adaptação do meio em que vivemos em razão da
evolução natural das coisas;
h) autêntica: é a realizada pelo próprio órgão que editou a
norma, que irá declarar seu sentido, alcance e conteúdo,
por meio de outra norma jurídica. Também é chamada de
interpretação legal ou legislativa;
i) sociológica: em que se constata a realidade e a
necessidade social na elaboração da lei e na sua
aplicação. O juiz, ao aplicar a lei, deve ater-se aos fins
sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum
(art. 5º da Lei de Introdução e § 1º do art. 852-I da CLT).

Os métodos de interpretação acima valem para qualquer ramo


do Direito e não especialmente para o direito processual.
Muitas vezes, a interpretação literal do preceito legal, ou a
interpretação sistemática (ao se analisar o sistema no qual está
inserida a lei, em seu conjunto), é que dará a melhor solução ao
caso que se pretenda resolver. Já dizia Celso, no Direito Romano,
que é injurídico julgar ou emitir parecer tendo diante dos olhos
apenas uma parte da lei, em vez de considerá-la em seu conjunto
(incivile est, nisi tota lege perspecta, una aliqua particula eis
proposita, iudicare, vel respondere). Assim como qualquer norma de
direito, não há uma única interpretação a ser feita, mas seguem-se
os métodos de interpretação mencionados nas alíneas a a i, supra.
O direito instrumental ou direito processual visa assegurar as
regras estabelecidas no direito material, quando haja uma pretensão
resistida. Poder-se-ia dizer que as regras processuais deveriam ser
aplicadas de acordo com a finalidade prevista pelo legislador, mas
nem sempre isso ocorre. Não se pode falar em direito adjetivo, que
seria o que qualifica o substantivo.
2 INTEGRAÇÃO
Integrar tem o significado de completar, inteirar. O intérprete fica
autorizado a suprir as lacunas existentes na norma jurídica por meio
da utilização de técnicas jurídicas. As técnicas jurídicas são a
analogia e a equidade, podendo também ser utilizados os princípios
gerais do Direito e o direito comparado (art. 8º da CLT).
Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito (art. 4º do
Decreto-lei n. 4.657/42).
O art. 8º da CLT autoriza o juiz, na falta de expressa disposição
legal ou convencional, a utilizar a analogia ou a equidade.
Inexistindo lei determinando a solução para certo caso, pode o juiz
utilizar por analogia outra lei que verse sobre questão semelhante.
O CPP afirma que “a lei processual penal admitirá interpretação
extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos
princípios gerais de direito” (art. 3º do CPP).
A analogia não é um meio de interpretação da norma jurídica,
mas de preencher os claros deixados pelo legislador. Consiste na
utilização de uma regra semelhante para o caso em exame.
Equidade é a justiça do caso concreto, segundo Aristóteles. Em
grego, equidade chama-se epieikeia, tendo o significado de
completar a lei lacunosa, porém será vedado julgar contra a lei. No
Direito Romano, a equidade (aequitas) era um processo de criação
da norma jurídica para a sua integração no ordenamento jurídico.
Tem também um significado de igualdade, de benignidade, de
proporção, equilíbrio. Aequitas na época clássica era a justiça. A
decisão por equidade só poderá, porém, ser feita nas hipóteses
autorizadas em lei (parágrafo único do art. 140 do CPC). O art. 8º da
CLT autoriza o juiz a decidir por equidade. No procedimento
sumaríssimo, o juiz pode adotar a decisão que julgue mais justa e
equânime (§ 1º do art. 852-I da CLT). Consiste a equidade em suprir
imperfeição da lei ou torná-la mais branda de modo a moldá-la à
realidade. Daí por que os romanos já advertiam que a estrita
aplicação do Direito poderia trazer consequências danosas à justiça
(summum jus, summa injuria). Assim, o juiz pode até praticar
injustiça num caso concreto quando segue rigorosamente o
mandamento legal, razão pela qual haveria também a necessidade
de se temperar a lei para aplicá-la ao caso concreto e fazer justiça.
Pela CLT, contudo, o juiz só poderá decidir por equidade havendo
lacuna na lei.
3 EFICÁCIA
A eficácia significa a aplicação ou a execução da norma jurídica. É a
produção de efeitos jurídicos concretos ao regular as relações. Tal
conceito não se confunde com validade, que é a força imponível que
a norma tem, isto é, a possibilidade de ser observada. A vigência da
norma diz respeito ao seu tempo de atuação.
Aplicabilidade tem o sentido de pôr a norma em contato com
fatos e atos.
A eficácia compreende a aplicabilidade da norma e se ela é
obedecida ou não pelas pessoas.
Eficácia global é quando a norma é aceita por todos.
A eficácia parcial ocorre se é aceita parcialmente, implicando
ineficácia parcial.
A eficácia da norma jurídica pode ser dividida em relação ao
tempo e ao espaço.

3.1 Eficácia no tempo


A eficácia no tempo refere-se à entrada da lei em vigor.
Geralmente, a lei entra em vigor na data de sua publicação.
Inexistindo disposição expressa da lei, esta começa a vigorar 45
dias depois de oficialmente publicada (art. 1º do Decreto-lei n.
4.657/42). Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei
brasileira, quando admitida, inicia-se três meses depois de
oficialmente publicada (§ 1º do art. 1º do Decreto-lei n. 4.657/42).
Há três teorias sobre aplicação de novas normas de direito
processual.
A primeira teoria diz respeito à unidade do processo. O
processo é uno como um todo. É um complexo de atos que são
inseparáveis uns dos outros. Deve prevalecer a unidade processual,
devendo ser regulado por lei única. A lei nova não poderia retroagir
para alcançar atos processuais já praticados.
A segunda teoria afirma que há autonomia nas fases do
procedimento (postulatória, instrutória, decisória, recursal e
executória). A lei nova atingiria a fase processual que estivesse em
curso, respeitadas as fases encerradas, em que já tivessem sido
praticados os atos processuais com base na lei velha. Haveria
autonomia em cada fase do procedimento.
A terceira teoria é a da aplicação imediata das regras de direito
processual em que importa a observância do isolamento dos atos
processuais. Se o ato processual foi praticado sob o império da lei
velha, não será atingido pela lei nova. Se ainda não foi praticado,
será praticado com base na lei nova. Essa é a teoria que vem sendo
aplicada.
A lei nova não pode produzir efeitos sob ato já praticado sob
império da lei anterior. Se o ato processual foi regularmente
praticado, é regido pela lei velha. A lei nova não pode atingi-lo, sob
pena de ser retroativa.
Normalmente, as disposições do Direito Processual entram em
vigor a partir da data da publicação da lei, tendo eficácia imediata,
apanhando os processos em curso. Não há, por exemplo, direito
adquirido a determinado recurso, mas existe o direito de recorrer,
segundo a lei que estiver vigendo na data da publicação da
sentença.
O art. 912 da CLT já previa que “os dispositivos de caráter
imperativo terão aplicação imediata às relações iniciadas, mas não
consumadas, antes da vigência desta Consolidação”. Assim, os atos
processuais já praticados estão resguardados pelo direito adquirido
e pelo ato jurídico perfeito, não se lhes aplicando a lei processual
nova. Ao contrário, se a lei processual apanha situações que ainda
estão em curso, porém não consumadas, sua aplicação é imediata a
essas situações pendentes.
A lei processual penal aplica-se desde logo, sem prejuízo da
validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior (art. 2º do
CPP).
Dispõe o art. 1.046 do CPC que, ao entrar em vigor o CPC,
suas disposições se aplicarão desde logo aos processos pendentes.
A norma processual não retroagirá e será aplicável
imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos
processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a
vigência da norma revogada (art. 14 do CPC).

3.2 Eficácia no espaço


A eficácia da lei processual no espaço diz respeito ao território em
que vai ser aplicada a norma. A lei processual se aplica ao Brasil
(art. 1º do CPC), tanto para os nacionais como para os estrangeiros
que se socorrerem das vias judiciais trabalhistas em nosso país.
Tanto o nacional como o estrangeiro que laborar em nosso país
poderão socorrer-se da legislação processual brasileira. De modo
geral, a lei processual é territorial, aplicando-se apenas no território
brasileiro.
Entretanto, a execução da sentença estrangeira depende de
sua homologação pelo STJ (art. 105, I, i, da Constituição). É o que
se chama de juízo de delibação. Homologação de sentença
estrangeira é feita por ato monocrático do presidente do STJ.
Capítulo 8
PRINCÍPIOS DO DIREITO
PROCESSUAL
1 CONCEITO
Sendo um ramo específico do Direito, o Direito Processual também
tem princípios próprios.
Antes de se examinar os princípios propriamente ditos do
Direito Processual, cabe dar uma breve noção sobre o conceito de
princípio.
Inicialmente poder-se-ia dizer que princípio é onde começa
algo. É o início, a origem, o começo, a causa. Princípio de uma
estrada seria o seu ponto de partida. Todavia, não é esse conceito
geral de princípio que é preciso conhecer, mas o seu significado
perante o Direito.
Princípio vem do latim principium, principii, com o significado de
origem, começo, base. Num contexto vulgar, quer dizer o começo da
vida ou o primeiro instante. Na linguagem leiga, é o começo, o
início, o ponto de partida, a origem, a base. São normas
elementares, requisitos primordiais, proposições básicas.
Princípio é, portanto, começo, alicerce, ponto de partida, “vigas
mestras”, requisito primordial, base, origem, ferramenta operacional.
Evidentemente, não é esse o conceito geral de princípio que é
necessário conhecer, mas seu significado perante o Direito.
Platão usava a palavra princípio no sentido de fundamento do
raciocínio. Para Aristóteles, era a premissa maior de uma
demonstração. Kant seguia aproximadamente essa última
orientação, dizendo que “princípio é toda proposição geral que pode
servir como premissa maior num silogismo”10.
José Cretella Jr. afirma que “princípios de uma ciência são as
proposições básicas, fundamentais, típicas que condicionam todas
as estruturações subsequentes. Princípios, neste sentido, são os
alicerces da ciência”11.
Leciona Miguel Reale que “princípios são verdades fundantes
de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem
evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos
de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos
exigidos pelas necessidades da pesquisa e da praxis”12. Celso
Antonio Bandeira de Mello esclarece que princípio “é, por definição,
mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele,
disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas
compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata
compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a
racionalidade de sistema normativo, no que lhe confere a tônica e
lhe dá sentido harmônico”13.
Seria possível indicar princípios morais, religiosos e políticos,
com base num contexto moral, religioso ou político em determinado
período. É uma forma de entender o mundo contemporâneo ou
como a sociedade vê esse mundo nos dias de hoje, resultantes da
prática cotidiana observada nesse meio. Servem de parâmetros de
como agir nesse contexto.
Os princípios poderiam ser considerados como fora do
ordenamento jurídico, pertencendo à ética. Seriam regras morais,
regras de conduta que informariam e orientariam o comportamento
das pessoas. Entretanto, os princípios do Direito têm características
jurídicas, pois se inserem no ordenamento jurídico, inspiram e
orientam o legislador e o aplicador do Direito. Os princípios podem
originar-se da ética ou da política, mas acabam integrando-se e
tendo aplicação no Direito.
Outra corrente entende que os princípios estão no âmbito do
Direito Natural, do jusnaturalismo. Seriam ideias fundantes do
Direito, que estariam acima do ordenamento jurídico positivo.
Seriam regras oriundas do Direito Natural. Os princípios estariam
acima do direito positivo, sendo metajurídicos. Prevaleceriam sobre
as leis que os contrariassem. Expressam valores que não podem
ser contrariados pelas leis.
São os princípios as proposições básicas que fundamentam as
ciências. Para o Direito, o princípio é seu fundamento, a base, a
estrutura, o fundamento que irá informar e inspirar as normas
jurídicas.
São os princípios como as vigas ou alicerces que dão
sustentação ao edifício. Este é o ordenamento jurídico, que é
subdividido em tantos andares quantos são seus ramos.
2 DISTINÇÃO
A norma é prescrição objetiva e obrigatória por meio da qual se
organizam, direcionam-se ou impõem-se condutas. Também não
deixa a norma de ser prescrição de vontade impositiva para
estabelecer disciplina a respeito de uma conduta dirigida ao ser
humano. O conceito de norma não é, contudo, pacífico. A norma tem
um sentido de orientação, de regular conduta, tendo caráter
imperativo (de superioridade, que mostra quem ordena e quem
recebe a ordem, que pode compreender obrigação ou proibição).
Ihering entende que a norma jurídica é imperativo abstrato dirigido
ao agir humano. A norma não deixa de ser uma proposição –
proposição que diz como deve ser o comportamento. De maneira
geral, toda norma define comportamento. As normas, geralmente,
têm sanção por seu descumprimento, porém há normas
interpretativas, por exemplo, que não têm sanção.
Em determinado sistema jurídico, não existem apenas normas,
mas também princípios, que podem estar ou não positivados, isto é,
previstos na legislação.
Os princípios e as normas são razões de juízo concreto do
dever-ser.
Princípios são standards14 jurídicos. São gerais. As normas são
atinentes, geralmente, a uma matéria.
Têm os princípios grau de abstração muito maior do que o da
norma. São as normas gerais, visando ser aplicadas para um
número indeterminado de atos e fatos, que são específicos. Não são
editadas para uma situação específica. Os princípios servem para
uma série indefinida de aplicações.
Trazem os princípios estimações objetivas, éticas, sociais,
podendo ser positivados. Exemplo no processo é o princípio do
contraditório e da ampla defesa, que não era expresso em nosso
ordenamento jurídico e hoje está explicitado no inciso LV do art. 5º
da Constituição da República. Os princípios em forma de norma
jurídica são, entretanto, regras, pois estão positivados, mas não
deixam também de ser princípios, como ocorre com o princípio da
irredutibilidade salarial.
Norma jurídica é gênero, englobando como espécies regras e
princípios. Princípios são normas jurídicas.
Os princípios diferenciam-se das regras por vários aspectos. As
regras estão previstas no ordenamento jurídico. Os princípios nem
sempre estão positivados, expressos no ordenamento jurídico, pois
em alguns casos estão implícitos nesse ordenamento, contidos em
alguma regra. Decorrem os princípios de estimação ética e social.
A regra serve de expressão a um princípio, quando, por
exemplo, este é positivado, ou até como forma de interpretação da
própria regra, que toma por base o princípio. Os princípios não
servem de expressão às regras. As regras são a aplicação dos
princípios, ou operam a concreção dos princípios sobre os quais se
apoiam.
Sustentam os princípios os sistemas jurídicos, dando-lhes
unidade e solidez. São, portanto, vigas mestras do ordenamento
jurídico. Princípio é a bússola que norteia a elaboração da regra,
embasando-a e servindo de forma para sua interpretação. Os
princípios influenciam as regras.
Os princípios inspiram, orientam, guiam, fundamentam a
construção do ordenamento jurídico. Sob certo aspecto, podem até
limitar o ordenamento jurídico, erigido de acordo com os princípios.
Não são, porém, axiomas absolutos e imutáveis, pois pode haver
mudança da realidade fática, que implica a necessidade da
mudança da legislação, do Direito em razão da realidade histórica
em que foi erigido.
As regras são instituídas tomando por base os princípios.
Orientam os princípios a formação de todo o sistema, enquanto a
regra está inserida nele, sendo influenciada pelos princípios. O
princípio pode ser levado em consideração para a interpretação da
regra, enquanto o inverso não ocorre. A aplicação dos princípios é
um modo de harmonizar as regras.
Tem o princípio acepção filosófica, enquanto a regra tem
natureza técnica.
É o princípio o primeiro passo na elaboração das regras, pois
dá sustentáculo a elas. O princípio é muito mais abrangente que
uma simples regra; além de estabelecer certas limitações, fornece
fundamentos que embasam uma ciência e visam à sua correta
compreensão e interpretação. Violar um princípio é muito mais
grave do que violar uma regra. A não observância de um princípio
implica ofensa não apenas a específico dispositivo, mas a todo o
sistema jurídico.
As vigas que dão sustentação ao sistema são abaladas pela
violação dos princípios.
Têm os princípios grau de abstração relativamente elevado.
Podem ser vagos, indeterminados, amplos. São standards
juridicamente vinculantes, fundados na exigência de justiça ou na
ideia de direito. Fundamentam regras e permitem verificar a ratio
legis. As regras podem ser normas vinculativas, com conteúdo
meramente funcional, prescrevendo imperativamente uma exigência
(de imposição, permissão ou proibição).
A norma tem característica genérica, enquanto a regra tem
natureza específica. As regras trazem muitas vezes a concreção dos
princípios.
As regras aplicam-se diretamente, não comportando exceções.
Ou são aplicadas por completo ou não são aplicadas.
Havendo situação de fato que se encaixa no pressuposto fático,
a norma é aplicada. Determina o inciso II do art. 1.864 do Código
Civil que há necessidade de que duas testemunhas presenciem o
testamento público. Apenas uma testemunha não poderá presenciá-
lo, pois o requisito básico não foi observado.
Coexistem os princípios entre si. Permitem interpretação de
valores e de interesses, de acordo com seu peso e ponderação. Os
princípios devem ser interpretados da mesma maneira como se
interpretam as leis, inclusive sistematicamente. Quando os
princípios se entrecruzam, deve-se verificar o peso relativo de cada
um deles. A adoção de um princípio implica o afastamento do outro,
porém o último não desaparece do sistema. Um princípio pode ser
hierarquicamente superior a outro, por ser mais abrangente, ou por
ser desdobramento do primeiro ou de outro. Não se pode negar que
há uma hierarquia entre os princípios. Se há conflito entre um e
outro, a solução decorre sempre da interpretação que faz prevalecer
o mais recente sobre o anterior, o de maior grau sobre o de menor
grau. Entretanto, os princípios especiais de certa disciplina, quando
existentes, devem prevalecer sobre um princípio geral. O intérprete
somente irá socorrer-se dos princípios gerais de direito, caso não
existam princípios de certa matéria. Os princípios constitucionais,
apesar de alguns serem mais abrangentes e importantes do que
outros, também estão hierarquizados dentro do sistema, com a
prevalência do princípio de hierarquia superior sobre o de hierarquia
inferior. Nos jogos de princípios, deve-se observar a preponderância
do princípio do interesse público sobre o particular, ou a prevalência
do princípio do interesse público sobre o direito adquirido.
Em relação às regras, não há como verificar a que tem mais
importância, pois, se há conflito entre duas regras, uma delas não é
válida, deixando de existir. As regras antinômicas excluem-se. O
ordenamento jurídico pode ter critérios para resolver o conflito de
regras. Dependendo do caso, a regra de maior hierarquia tem
preferência sobre a de menor hierarquia, ou a mais nova tem
preferência sobre a mais antiga (§ 1º do art. 2º do Decreto-lei n.
4.657/42) ou a mais específica sobre a mais genérica.
A regra, de modo geral, é instituída para ser aplicada a uma
situação jurídica determinada, embora aplique-se a vários atos ou
fatos. O princípio acaba, porém, sendo aplicado a uma série
indeterminada de situações. Não tem por objetivo o princípio ser
aplicado apenas a determinada situação jurídica.
Os princípios não têm sanção por intermédio da lei, por seu
descumprimento. A sanção que pode existir é moral.
As regras são normas fundamentais que informam a elaboração
e a interpretação do Direito, sendo identificadas, portanto, nos textos
legais, nas teorias e na doutrina. A regra tem por objetivo
ordenação, pôr ordem, regrar, espelhando uma regulamentação de
caráter geral. Princípios são construções que servem de base ao
Direito como fontes de sua criação, aplicação ou interpretação.
Os princípios e as regras são razões de juízos concretos de
dever-ser.
Permitem os princípios o balanceamento de valores e
interesses, de acordo com seu peso e a ponderação de outros
princípios conflitantes. As regras não deixam espaço para outra
solução, pois ou têm validade ou não têm. Os princípios
compreendem problemas de validade e peso, de acordo com sua
importância, ponderação, valia. As regras colocam apenas questões
de validade. Têm os princípios função sistemática.
Aplicam-se os princípios automática e necessariamente quando
as condições previstas como suficientes para sua aplicação
manifestam-se. A regra é geral porque é estabelecida para número
indeterminado de atos ou fatos, não sendo editada para ser aplicada
a uma situação jurídica determinada. O princípio é geral porque
comporta série indefinida de aplicações, não admitindo hipóteses
nas quais não seria aplicável, porém não contém nenhuma
especificação de hipótese de estatuição.
Princípios distinguem-se de diretrizes. Diretrizes são objetivos
almejados, que podem ou não ser atingidos. É uma pretensão
desejada. Princípios não são objetivos, pois fundamentam o sistema
jurídico.
Princípios não se confundem, porém, com peculiaridades.
Wagner Giglio faz muito bem a distinção:

a) princípios são necessariamente gerais, específicos. Não


são aplicados a única situação, enquanto peculiaridades
são restritas, atinentes a um ou poucos preceitos ou
momentos processuais;
b) princípios informam, orientam e inspiram preceitos legais,
por dedução, e podem deles ser extraídos, via raciocínio
indutivo; das peculiaridades não se extraem princípios,
nem delas derivam normas legais. Os princípios não são
apenas para uma situação;
c) princípios dão organicidade e estrutura a institutos e
sistemas processuais; as peculiaridades não, pois
esgotam sua atuação em âmbito restrito, geralmente
atinente ao procedimento, e não ao processo15;
d) princípio seria a regra; peculiaridade, a exceção.

Para o Direito, o princípio é observado dentro de um sistema. O


papel dos princípios nesse sistema será fundamental, pois irá
informar e orientar tanto o legislador como o intérprete.
Dentro da Ciência do Direito, o princípio é uma proposição
diretora, um condutor para efeito da compreensão da realidade
diante de certa norma. Os princípios do Direito não são, porém,
regras absolutas e imutáveis, que não podem ser modificadas, mas
a realidade acaba mudando certos conceitos e padrões
anteriormente verificados, formando novos princípios, adaptando os
já existentes e assim por diante. Têm, também, de ser os princípios
examinados dentro do contexto histórico em que surgiram. Dentro
da dinâmica histórica, podem ser alterados ou adaptados diante da
nova situação.
Atuam os princípios no Direito inicialmente antes de a regra ser
feita, ou numa fase pré-jurídica ou política. Nessa fase, os princípios
acabam influenciando a elaboração da regra, como proposições
ideais. Correspondem ao facho de luz que irá iluminar o legislador
na elaboração da regra jurídica. São fontes materiais do Direito, pois
muitas vezes são observados na elaboração da regra jurídica.
3 FUNÇÕES DOS PRINCÍPIOS
Os princípios têm várias funções: informadora, normativa e
interpretativa.
A função informadora serve de inspiração ou orientação ao
legislador, dando base à criação de preceitos legais, fundamentando
as normas jurídicas e servindo de sustentáculo para o ordenamento
jurídico. São as descrições informativas que irão inspirar o
legislador. Num segundo momento, os princípios informadores
servirão também de auxílio ao intérprete da norma jurídica
positivada.
Atua a função normativa como fonte supletiva, nas lacunas ou
omissões da lei, quando inexistam outras normas jurídicas que
possam ser utilizadas pelo intérprete. Irá atuar em casos concretos
em que inexista uma disposição específica para disciplinar
determinada situação. Nesse caso, é utilizada como regra de
integração da norma jurídica, preenchendo as lacunas existentes no
ordenamento jurídico, completando-a, inteirando-a. Seria também
uma espécie de função integrativa, como instrumentos de
integração das normas jurídicas, como ocorre, por exemplo, nas
lacunas.
A interpretação de certa norma jurídica também deve ser feita
de acordo com os princípios. Irá a função interpretativa servir de
critério orientador para os intérpretes e aplicadores da lei. Será uma
forma de auxílio na interpretação da norma jurídica e também em
sua exata compreensão. De modo geral, qualquer princípio acaba
cumprindo também uma função interpretativa da norma jurídica,
podendo servir como fonte subsidiária do intérprete para a solução
de um caso concreto.
Têm ainda os princípios função construtora. Indicam a
construção do ordenamento jurídico, os caminhos que devem ser
seguidos pelas normas.
O art. 4º do Decreto-lei n. 4.657/42 permite ao juiz, quando a lei
for omissa, decidir o caso concreto que lhe foi submetido de acordo
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. O art.
8º da CLT autoriza o intérprete a utilizar-se da analogia, da
equidade, dos princípios gerais de Direito, dos usos e costumes, na
falta de disposições legais ou contratuais específicas, porém desde
que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o
interesse público. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar
alegando lacuna ou obscuridade da lei (art. 140 do CPC). No
julgamento da lide, caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as
havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais
de direito. O juiz, porém, só decidirá por equidade nos casos
previstos em lei (parágrafo único do art. 140 do CPC), como ocorre
no Direito do Trabalho com a autorização do art. 8º da CLT. Da
forma como o art. 8º da CLT está redigido, os princípios têm função
integrativa da norma jurídica, pois apenas na falta de disposições
legais ou contratuais é que serão aplicados. Isso significa que serão
utilizados quando houver lacuna na lei, completando a norma
jurídica. Poderão também ser utilizados como forma de
interpretação, quando a norma não seja suficientemente clara para
o caso a ser dirimido.
Em nosso sistema, os princípios não têm função retificadora ou
corretiva da lei, pois só são aplicáveis em caso de lacuna da lei. A
finalidade dos princípios é de integração da lei. Se há norma legal,
convencional ou contratual, os princípios não são aplicáveis.
Os princípios serão o último elo a que o intérprete irá socorrer-
se para a solução do caso que lhe foi apresentado. São, portanto,
os princípios espécies de fontes secundárias para aplicação da
norma jurídica, sendo fundamentais na elaboração das leis e na
aplicação do direito, preenchendo lacunas da lei.
Os princípios são usados como critérios de interpretação e de
integração.
4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E OUTROS
Há princípios de processo na Constituição.

4.1 Devido processo legal


A Magna Carta de 1215 dispunha que nenhum homem livre será
capturado ou aprisionado, ou desapropriado dos seus bens, ou
declarado fora da lei, ou exilado, ou de algum modo lesado, nem
nós iremos contra ele, nem enviaremos ninguém contra ele, exceto
pelo julgamento legítimo dos seus pares ou pela lei do país (§ 39).
Fazia referência expressa a law of the land, e não exatamente ao
devido processo legal.
Nos Estados Unidos, a 5ª Emenda, de 1791, estabeleceu que
“ninguém será privado da vida, da liberdade ou da propriedade sem
o devido processo legal” (without due process of law). A 14ª
Emenda, Seção 1, à Constituição, de 28 de julho de 1868, fez
distinção da locução equal protection of the law: “Nenhum Estado
[...] privará qualquer pessoa da vida, liberdade ou propriedade sem
o devido processo legal, nem negará a qualquer pessoa dentro da
sua jurisdição a igual proteção da lei”. O princípio do devido
processo legal tinha mais um significado puramente procedimental
até o final do século XIX (procedural due process of law). Dizia
respeito apenas ao contraditório, à ampla defesa, à produção de
provas, à assistência por advogado, ao juiz imparcial. No final do
século XIX, a Suprema Corte norte-americana, em razão do
liberalismo econômico, passou a invalidar normas estabelecidas
pelo legislador que interferiam na liberdade de contratação e no
direito de propriedade. No substantive due process of law havia o
controle do mérito sobre o exercício de discricionariedade do
legislador, podendo o julgamento invalidá-lo por falta de
razoabilidade. A partir da década de 1930 foi modificada a
orientação com base nas liberdades econômicas para os direitos
fundamentais. O juiz Oliver Holmes disse que o significado do
devido processo legal depende das circunstâncias.
Em 1956, a Suprema Corte, no caso Bishop vs. United States,
afirmou que a condenação de um réu mentalmente incapaz é uma
negação do devido processo legal. A falta de realização de
verificação da capacidade mental do acusado é uma privação dos
seus direitos constitucionais. Um dos motivos alegados para o
processo de Ron Williamson, que estava no corredor da morte, ser
anulado foi esse.
No caso Ake vs. Oklahoma, 26-2-1985, a Suprema Corte
asseverou que “quando um estado incumbe seu Poder Judiciário de
arcar com a defesa de um réu sem condições financeiras num
processo criminal, deve tomar as providências para garantir que o
réu tenha uma oportunidade justa de apresentar sua defesa [...] A
justiça não pode ser igual quando um réu, simplesmente por causa
da sua pobreza, tem negada a oportunidade de participar de
maneira significativa num processo judicial em que sua liberdade
está em jogo”. O caso era de Glen Burton Ake, um indigente
criminal, que necessitava de avaliação psicológica, mas isso não foi
feito no julgamento. O juiz Marshal disse que isso prejudicou o
acesso do réu à justiça.
Em 1963, no processo Brady vs. Maryland, a Suprema Corte
afirmou “que a supressão pela promotoria de evidências favoráveis
a um acusado, quando solicitadas, viola o devido processo legal, em
que as evidências são materiais para a culpa ou punição,
independentemente da boa-fé ou má-fé da promotoria”.
A Lei Maior de 1988 reza no inciso LIV do art. 5º que ninguém
será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal, que depende, porém, da previsão da lei ordinária. Trata-se de
uma garantia estabelecida na Lei Maior às pessoas. O juiz não pode
estabelecer um processo especial, diverso do previsto na previsão
legal.
O devido processo legal é uma garantia da parte contra o
Judiciário, de acordo com a previsão da lei.
Pode compreender o devido processo legal o juiz imparcial, o
acesso ao Judiciário e o contraditório.

4.2 Contraditório e ampla defesa


Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (art. 5º, LV, da
Constituição).
Contraditório eventual ocorre quando há a transferência do
contraditório para uma ação incidental, como ocorre nos embargos
do devedor e nos embargos de terceiro.
Contraditório mitigado é quando a lei dispõe que só podem ser
alegadas em defesa determinadas matérias. É o fato de o legislador
limitar as matérias de defesa, como na alienação fiduciária em
garantia, em que as matérias de defesa são pagamento do débito
vencido ou o cumprimento das obrigações contratuais (§ 2º do art.
3º do Decreto lei n. 911/69).
Contraditório diferido é que o será oportunizado ao réu em
momento posterior, como ocorre nas tutelas de urgência, em que a
defesa é apresentada em outro momento, pois poderia inviabilizar a
concessão da liminar se a parte adversa fosse ouvida. É o exercido
mais adiante, depois da decisão, como ocorre na concessão de
liminares ou na antecipação de tutela.
Apresentada a tese pelo autor, o réu apresenta a antítese e o
juiz, a síntese. O autor faz a afirmação e o réu apresenta a sua
reação, por meio da contestação.
O comando constitucional não faz distinção entre o tipo de
processo judicial, aplicando-se tanto ao processo penal, como ao
processo civil e trabalhista.
O contraditório e a ampla defesa também são assegurados em
processo administrativo.
Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela
seja previamente ouvida (art. 9º do CPC), que caracteriza o
contraditório.
Compete ao juiz velar pelo efetivo contraditório (art. 7º do CPC).
O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base
em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes
oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre
a qual deva decidir de ofício (art. 10 do CPC). O objetivo é evitar
decisões surpresa.
A ampla defesa diz respeito ao réu, que é quem se defende, e
não ao autor.
Os meios e recursos são referentes à ampla defesa, de acordo
com a previsão legal.

4.3 Juiz imparcial


A Declaração Universal dos Direitos do Homem prevê que “toda
pessoa tem direito, em condições de igualdade, de ser ouvida
publicamente e com justiça por um tribunal independente e
imparcial, para a determinação de seus direitos e obrigações ou
para o exame de qualquer acusação contra ela em matéria penal”
(art. 10).
Liebman fazia referência ao juiz natural como o “juiz
previamente instituído em lei, isto é, juiz instituído e determinado
com base em critérios gerais fixados com antecedência e não com
vistas a certas controvérsias em particular”16.
Dispõe a Constituição que ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade competente (art. 5º, LIII, da
Constituição).
O juiz deve atuar com imparcialidade. O juiz põe-se entre as
partes, mas fica acima delas.
A imparcialidade do juiz é um pressuposto da relação
processual.
Se o juiz é suspeito, fica maculada a possibilidade de o juiz
atuar no processo.
O juiz deve ser imparcial, mas o homem nem sempre é
imparcial. Ele tem as suas preferências. Nem todas as pessoas
torcem para o mesmo clube de futebol. Todas as pessoas têm as
suas preferências. O mesmo ocorre com o juiz. No processo, porém,
o juiz deve ser imparcial.
A Constituição proíbe os juízes e os tribunais de exceção (art.
5º, XXXVII). Há, portanto, um juiz natural para cada causa.
Ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente (art. 5º, LIII, da Constituição).
A imparcialidade do juiz é uma garantia para as partes no
processo e uma forma de se fazer justiça.
O juiz não pode ser um mero convidado de pedra do processo.
Deve ter uma participação ativa, com amplos poderes instrutórios17.

4.4 Acesso à justiça


O acesso à justiça deve compreender a facilidade de estar em juízo,
com dispensa de custas para entrar com o processo, pois quem tem
razão não deve ter de pagar custas para ser reembolsado muitos
anos depois ou não ser reembolsado, principalmente aos mais
pobres.
Os mais ricos podem pagar para litigar e podem esperar muito
pela solução do processo. Os mais pobres não têm como pagar
custas para ajuizar a ação e não podem esperar por muitos anos
pela solução do processo, pois precisam do dinheiro para poder
sobreviver. O tempo aumenta o custo do processo. Os mais fracos
não podem esperar tanto tempo. Por isso, acabam fazendo acordo
no processo por valores muito inferiores aos devidos, pois precisam
do dinheiro, como ocorre com o empregado no processo do
trabalho.
Os ingleses têm uma frase expressiva, que a Justiça é aberta a
todos, como o Ritz Hotel (Justice is open to all, like the Ritz Hotel).
O Pacto de São José da Costa Rica prevê que “Toda pessoa
terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de
um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na
determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil,
trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza” (art. 8º).
O acesso à justiça também compreende a prestação da
assistência judiciária gratuita; de poder a parte utilizar o ius
postulandi, ajuizando a ação sem o patrocínio de advogado, pois o
custo do advogado é muito caro para os mais pobres. Uma forma de
reduzir custos seria eliminar a representação por advogado em
certos procedimentos18. Nos juizados de pequenas causas até 20
salários mínimos não há necessidade de advogado. Em medidas
urgentes, como no habeas corpus, não há necessidade de
advogado etc. O advogado, porém, é o técnico, o que sabe decifrar
o cipoal legislativo para fazer a postulação. A solução é a concessão
de assistência judiciária gratuita prestada pelo Estado ou por
advogados que são remunerados pelo Estado.
As ações coletivas também são uma solução para o acesso à
Justiça, pois uma única ação beneficia várias pessoas ao mesmo
tempo. Evita também desgastes entre litigantes que são
dependentes entre si, como do empregado que continua
trabalhando e o empregador, fazendo com que este não dispense o
trabalhador por ele ter ajuizado a ação. São exemplos: o mandado
de segurança coletivo, a ação popular, a ação civil pública, as
hipóteses de substituição processual no processo do trabalho.
Fala-se também em ordem jurídica justa (Kazuo Watanabe).
O direito de ação é previsto no inciso XXXV do art. 5º da
Constituição, pois a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito. Segundo a Constituição, a lei
não pode estabelecer essa exclusão, mas as partes,
voluntariamente, podem se submeter à arbitragem ou à mediação.
Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a
direito (art. 3º do CPC). Não se trata de exclusão apenas de lesão a
direito, mas também de ameaça a direito. O § 1º do art. 3º do CPC
admite a arbitragem, na forma da lei, que é a Lei n. 9.307/96.
O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos
que comprovarem insuficiência de recurso (art. 5º, LXXIV, da
Constituição). É o direito de assistência judiciária gratuita. A
Defensoria Pública presta a assistência judiciária (Lei Complementar
n. 80, de 12-1-1994).
São gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na
forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania (art. 5º,
LXXVII, da Constituição).
A União, no Distrito Federal, e os Estados criarão juizados
especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos,
competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de
causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor
potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo,
permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o
julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau (art.
98, I, da Constituição).

4.5 Direito de petição


A todos é assegurado, independentemente do pagamento de taxas,
o direito de petição aos Poderes Públicos para a defesa de direitos
ou contra ilegalidade ou abusos de poder (art. 5º, XXXIV, a, da
Constituição).

4.6 Igualdade processual


Aristóteles já falava em dar a cada um o que é seu. Os iguais
deveriam ser tratados igualmente e os desiguais, de forma desigual.
Reconhecia a Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia,
de 12 de junho de 1776, a igualdade entre todos os seres humanos.
A Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 4 de
julho de 1776, considerava todos os homens criaturas iguais,
dotadas pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis, entre os
quais a vida, a liberdade e a busca da felicidade.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789,
estabeleceu que os homens nasciam e permaneciam iguais em
direitos.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem prevê que
“todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”
(art. I).
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza (art. 5º, caput, da Constituição). É o princípio da igualdade
perante a lei, de forma genérica.
Celso Antonio Bandeira de Mello afirma, ao tratar da igualdade
perante a lei, que “não só perante a norma imposta se nivelam os
indivíduos, mas, a própria edição dela assujeita-se ao dever de
dispensar tratamento equânime às pessoas”19.
Para Robert Alexy, a igualdade tem duas normas: “Se não há
nenhuma razão suficiente para a permissão de um tratamento
desigual, então está ordenado um tratamento igual [...] se há uma
razão suficiente para ordenar um tratamento desigual, então está
ordenado um tratamento desigual”20.
É possível retirar do caput do art. 5º da Constituição o princípio
da igualdade processual, de que todos são iguais perante o
processo, na forma da lei.
O inciso I do art. 139 do CPC prevê que incumbe ao juiz
assegurar às partes igualdade de tratamento.
As partes devem poder estar no processo com paridade de
armas.
Assegura o art. 7º do CPC “às partes paridade de tratamento
em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos
meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções
processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório”.
Quando se justifique, a lei poderá tratar as partes de forma
diferenciada, principalmente quando elas não são iguais. É o que
acontece no processo do trabalho, em que o empregado não é igual
ao empregador. No Direito do Consumidor, o consumidor é a parte
mais fraca na relação de consumo e também deve ser tratado de
forma diferenciada, inclusive com a inversão do ônus da prova.
Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal,
os procedimentos judiciais: I – em que figure com parte ou
interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 anos (art.
1.048 do CPC).

4.7 Publicidade
A Declaração Universal dos Direitos do Homem garante a
publicidade popular dos juízes (art. 10).
A publicidade no processo é proveniente do inciso IX do art. 93
da Constituição. Todos os julgamentos do Poder Judiciário serão
públicos e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,
podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias
partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos
quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo
não prejudique o interesse público à informação.
A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem (art.
5º, LX, da Constituição).
Os atos processuais são públicos (art. 189 do CPC). Correm
em segredo de justiça o processo: I – em que exija o interesse
público ou social; II – que verse sobre casamento, separação de
corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e
guarda de crianças e adolescentes; III – em que constem dados
protegidos pelo direito constitucional à intimidade; IV – que verse
sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral,
desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja
comprovada perante o juízo. O direito de consultar os autos de
processo que tramite em segredo de justiça e de pedir certidões de
seus atos é restrito às partes e aos seus procuradores (§ 1º do art.
189 do CPC).
O povo é considerado o juiz dos juízes. Na Revolução
Francesa, Mirabeau disse: dê-me o juiz que você quiser, parcial,
corrupto, meu inimigo mesmo, se você quiser, pouco me importa,
com a condição de que ele não possa nada fazer que em frente ao
público.
O advogado também não deixa de ser um fiscal dos juízes.
4.8 Motivação das decisões judiciais
A fundamentação das decisões do Poder Judiciário tem sede no
inciso IX do art. 93 da Constituição.
Todas as decisões do Poder Judiciário devem ser
fundamentadas.
As partes devem saber quais são os fundamentos pelos quais o
juiz acolheu ou rejeitou o pedido para poder recorrer. A parte não
tem como recorrer se a decisão não tem fundamentação.
O juiz apreciará a prova constante dos autos,
independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na
decisão as razões da formação de seu convencimento (art. 371 do
CPC).

4.9 Celeridade e razoável duração do processo


A celeridade no andamento do processo tem previsão no inciso
LXXVIII do art. 5º da Constituição, que assegura a todos, no âmbito
judicial, a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação.
A Convenção para a Proteção dos Direitos dos Homens e das
Liberdades Fundamentais, subscrita em Roma em 4-11-1950, prevê
que “qualquer pessoa tem direito a que a sua causa seja
examinada, equitativa e publicamente, num prazo razoável por um
tribunal independente e imparcial, estabelecido pela lei, o qual
decidirá, quer sobre a determinação dos seus direitos e obrigações
de caráter civil, quer sobre o fundamento de qualquer acusação em
matéria penal dirigida contra ela”.
Toda pessoa tem direito a ser ouvida com as devidas garantias
e dentro de um prazo razoável, inclusive em questão trabalhista (art.
8º do Pacto de São José da Costa Rica, promulgado pelo Decreto n.
678, de 6-11-1992).
As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução
integral do mérito, incluída a atividade satisfativa (art. 4º do CPC).
Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se
obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva (art.
6º do CPC). O juiz dirigirá o processo, incumbindo-lhe: II – velar pela
duração razoável do processo (art. 139 do CPC). O parágrafo único
do art. 685 do CPC também faz referência ao princípio da duração
razoável do processo. No processo do trabalho, muitas vezes o
empregador não tem interesse na solução do processo. Com o
trânsito em julgado da decisão, não quer pagar ao empregado
aquilo que foi estabelecido no processo e protela o máximo que
pode o seu andamento.
Duração razoável do processo é uma expressão indeterminada
e em aberto.
Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins
sociais e às exigências do bem comum, resguardando e
promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a
eficiência (art. 8º do CPC).
As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução
integral do mérito, incluída a atividade satisfativa (art. 4º do CPC).
Incluir a atividade satisfativa é incluir a execução.
O juiz dirigirá o processo conforme as disposições do CPC,
incumbindo-lhe: II – velar pela duração razoável do processo (art.
139 do CPC).
O processo deve demorar o tempo necessário para a sua
solução, mas dentro de um prazo razoável.

4.10 Legalidade processual


O princípio da legalidade processual decorre da previsão do inciso II
do art. 5º da Constituição, de que ninguém é obrigado a fazer ou
deixar de fazer algo a não ser em virtude de lei.
Da mesma forma, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de
fazer algo no processo a não ser em decorrência da previsão da lei.
O Direito Processual tem natureza de direito público e depende
da previsão da lei para se fazer ou deixar de fazer algo.

4.11 Licitude da prova


A licitude da prova concerne ao fato de que são inadmissíveis, no
processo, as provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI, da
Constituição).

4.12 Oralidade
O predomínio da palavra falada sobre a escrita, prestigiando-se
mais a oralidade, também não deixa de ser princípio de processo,
sendo mais relevante no processo do trabalho, em razão de suas
peculiaridades. No processo do trabalho, há maior oralidade pelo
fato de a petição inicial poder ser verbal, da leitura da reclamação
(art. 847 da CLT), a defesa ser oral em 20 minutos (art. 847 da CLT),
a oitiva de testemunhas, as razões finais orais em audiência (art.
850 da CLT). A petição verbal, a contestação oral ou o oferecimento
de razões finais orais em audiência não implicam, contudo, que a
oralidade seja princípio do processo do trabalho, mas um dos
destaques do processo do trabalho, que o individualizam do
processo comum.
Os juizados especiais já são informados pelos critérios de
oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade (art. 2º da Lei n. 9.099/95). A contestação pode ser oral
ou escrita (art. 30 da Lei n. 9.099/95).
No processo penal, também a prova é normalmente oral. As
razões finais podem ser orais.

4.13 Concentração dos atos na audiência


A concentração da maioria dos atos processuais em audiência é
decorrência da celeridade e da oralidade.
No procedimento sumário do processo penal, isso também
ocorre, com uma intensidade um pouco menor.
No processo do trabalho, observa-se com maior intensidade a
concentração dos atos na audiência, pois as provas são produzidas
na maioria das vezes em audiência, quando é apresentada a defesa
e são ouvidas as testemunhas.

4.14 Lealdade processual


As partes e seus advogados devem proceder em juízo com lealdade
e boa-fé.
Aquele que de qualquer forma participa do processo deve
comportar-se de acordo com a boa-fé (art. 5º do CPC). Não se
admite a má-fé em qualquer caso, inclusive em juízo. Parte-se do
princípio de que as pessoas estão imbuídas de boa-fé. A má-fé deve
ser provada.
As hipóteses de litigância de má-fé estão previstas no art. 80 do
CPC.
Pode-se dizer que a pessoa que procede com deslealdade
processual pratica um ilícito processual, que compreende o dolo e a
fraude processual.
Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para
que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e
efetiva (art. 6º do CPC). As partes não vão colaborar entre si, pois
têm interesses diversos. O réu não tem interesse em colaborar com
o autor. Não quer, muitas vezes, ser citado e pagar o valor da
condenação na execução. As partes devem colaborar com o juiz.

4.15 Economia processual


No processo, deve-se obter o máximo de resultado, com um mínimo
de atividade processual (Echandia). Exemplos podem ser de
processos serem agrupados num só, em razão de continência ou de
conexão; de ação e reconvenção serem julgados numa única
sentença.
A consequência da economia processual é o aproveitamento da
parte válida dos atos processuais. Não se anula todo o processo,
apenas aquilo que não pode ser aproveitado (art. 283 do CPC). Se o
ato alcançar a sua finalidade, não se anula o processo (arts. 188,
277 e 281 do CPC).

4.16 Dispositivo
No processo penal, a regra é a indisponibilidade. No processo civil,
a regra é a disponibilidade. No processo civil e no processo do
trabalho, verifica-se a verdade formal, de acordo com ônus da
prova. No processo penal, apura-se a verdade real. Parte-se do
princípio de que o réu é inocente, até prova em contrário.

4.17 Cooperação
Cooperar vem do latim cooperari. Significa agir para um fim comum,
colaborar.
O princípio da cooperação tem fundamento no direito alemão.
Dispõe o art. 6º do CPC que “todos os sujeitos do processo
devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável,
decisão de mérito justa e efetiva”.
A cooperação diz respeito a cooperar com o juiz para descobrir
a verdade e fazer justiça.
O réu, muitas vezes, não tem interesse em ser citado no
andamento do processo e, portanto, em cooperar com o autor.
Entendo estar caracterizada a autonomia do Direito Processual,
que tem princípios distintos de outros ramos do Direito, e
peculiaridades que o individualizam dos demais ramos do Direito.
Capítulo 9
SOLUÇÃO DOS CONFLITOS
1 DENOMINAÇÃO
Conflito, do latim conflictus, tem o significado de combater, lutar,
designando posições antagônicas. Analisando o conflito dentro de
um contexto sociológico, pode-se dizer que as controvérsias são
inerentes à vida humana, sendo uma forma de desenvolvimento
histórico e cultural da humanidade. Exemplo disso é a guerra, em
que são desenvolvidas novas tecnologias ou armas e foi criada até
a bomba atômica. Muitos dos conflitos são gerados por questões
sociais ou problemas econômicos, decorrentes da desigual
distribuição de riquezas.
Do ponto de vista trabalhista, os conflitos são também
denominados controvérsias ou dissídios, tendo sido utilizados, na
prática, com o mesmo significado. Entretanto, conflito tem sentido
amplo e geral, correspondente à divergência de interesses. A
controvérsia diz respeito a um conflito em fase de ser solucionado,
mediante convenção das partes, como no caso do conflito ser
submetido à mediação ou à arbitragem. Já o dissídio seria o conflito
submetido à apreciação do Poder Judiciário, podendo ser individual
ou coletivo, como na reclamação trabalhista do empregado contra a
empresa ou no julgamento da greve pela Justiça do Trabalho.
Litígio tem sentido jurídico.
Lide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão
resistida21.
Compreende o conflito uma pretensão resistida, que é a lide.
2 CLASSIFICAÇÃO
Quanto às partes, os conflitos podem ser individuais ou coletivos.
Individuais são os conflitos existentes entre uma ou mais pessoas,
de um lado, e uma ou mais pessoas, de outro, postulando direitos
relativos ao próprio indivíduo.
Os conflitos coletivos de trabalho não tratam de interesses
concretos, mas abstratos, pertinentes a toda categoria. Tais conflitos
são aplicáveis a pessoas indeterminadas, representadas por um
sindicato da categoria profissional (dos trabalhadores) de um lado, e
o sindicato da categoria econômica, de outro. Podem ser exemplos
a ação civil pública, o mandado de segurança coletivo.
Em relação aos efeitos da sentença, os conflitos podem ter os
seguintes aspectos: (a) declaratórios, que compreendem a
existência ou inexistência da relação jurídica; (b) constitutivos, que
criam, extinguem ou modificam certo direito; (c) condenatórios, que
compreendem obrigação de dar, de fazer ou de não fazer.
3 MEIOS DE SOLUÇÃO DOS CONFLITOS
Alcalá-Zamora y Castillo divide a solução dos conflitos em
autodefesa e autocomposição22. Há autores que acrescentam
também a heterocomposição.

3.1 Autodefesa
Autodefesa vem do prefixo auto (próprio) e do substantivo defesa. É
uma defesa própria.
Na autodefesa ou autotutela, as próprias partes fazem a defesa
de seus interesses.
O conflito só é solucionado quando uma parte cede à imposição
da outra. Era a razão do mais forte.
São características da autodefesa a ausência de um juiz e a
imposição de uma parte à outra.
O Direito Penal autoriza a legítima defesa e o estado de
necessidade, que são meios excludentes da ilicitude do ato (art. 23
do CP).
No entanto, não se admite o exercício arbitrário das próprias
razões para a solução dos conflitos entre as partes envolvidas, que
é considerado crime (art. 345 do CP). Também é crime o exercício
arbitrário ou abuso de poder (art. 350 do CP).
Como exemplos de autodefesa, no âmbito trabalhista, temos a
greve e o lockout.

3.2 Autocomposição
A palavra autocomposição é apresentada por Carnelutti23. Este faz
referência a equivalentes jurisdicionais, como meios de atingir a
composição da lide, por intermédio dos próprios litigantes ou de uma
pessoa desprovida de poder jurisdicional24.
A autocomposição é a forma de solução dos conflitos realizada
pelas próprias partes. Elas mesmas chegam à solução de suas
controvérsias sem a intervenção de um terceiro. Este é, realmente,
o melhor meio de solução dos conflitos, pois ninguém melhor do que
as próprias partes para solucionar suas pendências, porque
conhecem os problemas existentes.
Alcalá-Zamora y Castillo apresenta três formas
25
autocompositivas : a) renúncia (ou desistência). As duas primeiras
são unilaterais; b) submissão (ou reconhecimento); c) transação,
que é bilateral.
Pode-se dividir a autocomposição em unilateral e bilateral. A
unilateral é caracterizada pela renúncia de uma das partes à sua
pretensão. A bilateral ocorre quando cada uma das partes faz
concessões recíprocas, ao que se denomina de transação.
Exemplos de formas autocompositivas de solução dos conflitos
trabalhistas são os acordos e as convenções coletivas. Os acordos
coletivos são realizados entre o sindicato de empregados e uma ou
mais empresas. A convenção coletiva ocorre entre o sindicato de
trabalhadores e de empregadores.
Na conciliação, pode não haver a figura do terceiro, pois as
partes se conciliam sozinhas, fazendo concessões recíprocas.
O conciliador é um terceiro. O conciliador, que atuará
preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior
entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada
a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para
que as partes conciliem (§2º do art. 165 do CPC). Coordena o
conciliador as tratativas, ouve e ajuda as partes, mas não faz
propostas. A conciliação tanto pode ser judicial, como extrajudicial. A
mediação, geralmente, é extrajudicial.
3.3 Heterocomposição
Verifica-se a heterocomposição quando a solução dos conflitos
trabalhistas é determinada por um terceiro. Exemplos de
heterocomposição são a mediação, a arbitragem e a tutela ou
jurisdição.

3.3.1 Mediação
Mediação vem do latim mediare, com o sentido de mediar, dividir ou
meio de intervir, ou de mediatio, com o sentido de intervenção,
intersecção, intermediação.
Mediação é a atividade técnica exercida por terceiro imparcial
sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as
auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais
para a controvérsia (parágrafo único do art. 1º da Lei n. 13.140, de
26-6-2015).
O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que
houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará os interessados a
compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que
eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por
si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos (§
3º do art. 165 do CPC).
A mediação ocorre quando um terceiro, chamado pelas partes,
vem solucionar o conflito. O mediador pode ser qualquer pessoa,
não necessitando de conhecimentos jurídicos. O que interessa é
que a pessoa venha a mediar o conflito, ouvindo as partes e
fazendo propostas, para que se chegue a termo. O mediador tenta,
mediante diálogo, fazer com que as partes cheguem a consenso.
Aproxima as partes para que elas dialoguem. Dá orientações, mas
não decide. Ouve e interpreta o desejo das partes. Aconselha, faz
sugestões às partes. Identifica o problema e estimula o diálogo.
Tenta persuadir as partes no sentido da melhor solução para o
litígio. As partes não estarão obrigadas a aceitar as propostas, mas
poderá haver a composição mediante o acordo de vontades. O
mediador não tem poder de coação ou de coerção sobre as partes;
não toma qualquer decisão ou medida, apenas serve de
intermediário entre as partes.
O objetivo da mediação é propiciar um ambiente para as partes
para que elas possam chegar a um consenso. O mediador não
emite juízo de valor, sendo neutro e imparcial, não dando conselhos.
Ele auxilia as partes no diálogo, facilitando a conversa entre as
partes. Faz um diálogo colaborativo. Muitas vezes faz perguntas às
partes para que elas cheguem ao resultado.
A mediação, geralmente, é extrajudicial. A conciliação tanto
pode ser judicial como extrajudicial. O conciliador não faz propostas
ou mediação, apenas aproxima as partes, que chegam à
conciliação. A conciliação implica um litígio existente. Na mediação,
o litígio pode não existir, sendo prevenido. A conciliação, muitas
vezes, diz respeito a um sistema processual. Pode ter a conciliação
um aspecto público, como da conciliação realizada na Justiça do
Trabalho. A mediação, geralmente, é privada.
Pode ser a mediação facultativa ou obrigatória. A mediação
pode ser feita por uma pessoa ou por um colegiado, uma equipe de
pessoas. Mediação pública é feita por um agente público. Pode
também ser privada.
A mediação pode ser judicial, feita no Poder Judiciário, ou
extrajudicial, realizada por particulares.
A mediação tem por vantagens o fato de que a solução do
processo é mais rápida; não existe instrução probatória, que pode
tornar o andamento do processo mais lento; a solução é
estabelecida pelas próprias partes e não imposta por um terceiro;
evita a incerteza em relação ao resultado do julgamento;
privacidade; diminuição dos processos judiciais.
Na França, há previsão de mediação em Decreto de 1955, que
passou a lei em 1957.
Na Espanha, existe o IMAC – Instituto de Mediação, Arbitragem
e Conciliação.
A mediação será orientada pelos seguintes princípios:
I – imparcialidade do mediador;
II – isonomia entre as partes;
III – oralidade;
IV – informalidade;
V – autonomia da vontade das partes;
VI – busca do consenso;
VII – confidencialidade;
VIII – boa-fé.
Na hipótese de existir previsão contratual de cláusula de
mediação, as partes deverão comparecer à primeira reunião de
mediação.
Ninguém será obrigado a permanecer em procedimento de
mediação (§ 2º do art. 2º da Lei n. 13.140/2015), exatamente por se
tratar de faculdade das partes.
Pode ser objeto de mediação o conflito que verse sobre direitos
disponíveis ou sobre direitos indisponíveis que admitam transação
(art. 3º da Lei n. 13.140/2015). A mediação pode versar sobre todo o
conflito ou parte dele. O consenso das partes envolvendo direitos
indisponíveis, mas transigíveis, deve ser homologado em juízo,
exigida a oitiva do Ministério Público.
O mediador será designado pelo tribunal ou escolhido pelas
partes. Conduzirá o procedimento de comunicação entre as partes,
buscando o entendimento e o consenso e facilitando a resolução do
conflito. Aos necessitados será assegurada a gratuidade da
mediação. Aplicam-se ao mediador as mesmas hipóteses legais de
impedimento e suspeição do juiz.
A pessoa designada para atuar como mediador tem o dever de
revelar às partes, antes da aceitação da função, qualquer fato ou
circunstância que possa suscitar dúvida justificada em relação à sua
imparcialidade para mediar o conflito, oportunidade em que poderá
ser recusado por qualquer delas.
O mediador fica impedido, pelo prazo de um ano, contado do
término da última audiência em que atuou, de assessorar,
representar ou patrocinar qualquer das partes (art. 6º da Lei n.
13.140/15). Se advogado, estará impedido de exercer a advocacia
nos juízos em que desempenhe suas funções (§ 5º do art. 167 do
CPC).
O mediador não poderá atuar como árbitro nem funcionar como
testemunha em processos judiciais ou arbitrais pertinentes a conflito
em que tenha atuado como mediador.
O mediador e todos aqueles que o assessoram no
procedimento de mediação, quando no exercício de suas funções
ou em razão delas, são equiparados a servidor público, para os
efeitos da legislação penal.
Poderá atuar como mediador judicial a pessoa capaz, graduada
há pelo menos dois anos em curso de ensino superior de instituição
reconhecida pelo Ministério da Educação e que tenha obtido
capacitação em escola ou instituição de formação de mediadores,
reconhecida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento
de Magistrados – ENFAM ou pelos tribunais, observados os
requisitos mínimos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça
em conjunto com o Ministério da Justiça.
Os tribunais criarão e manterão cadastros atualizados dos
mediadores habilitados e autorizados a atuar em mediação judicial.
A inscrição no cadastro de mediadores judiciais será requerida pelo
interessado ao tribunal com jurisdição na área em que pretenda
exercer a mediação. Os tribunais regulamentarão o processo de
inscrição e desligamento de seus mediadores.
A remuneração devida aos mediadores judiciais será fixada
pelos tribunais e custeada pelas partes.
No início da primeira reunião de mediação, e sempre que julgar
necessário, o mediador deverá alertar as partes acerca das regras
de confidencialidade aplicáveis ao procedimento.
A requerimento das partes ou do mediador, e com anuência
daquelas, poderão ser admitidos outros mediadores para
funcionarem no mesmo procedimento, quando isso for
recomendável em razão da natureza e da complexidade do conflito.
Ainda que haja processo arbitral ou judicial em curso, as partes
poderão submeter-se à mediação, hipótese em que requererão ao
juiz ou árbitro a suspensão do processo por prazo suficiente para a
solução consensual do litígio.
É irrecorrível a decisão que suspende o processo nos termos
requeridos de comum acordo pelas partes.
A suspensão do processo não obsta a concessão de medidas
de urgência pelo juiz ou pelo árbitro.
Considera-se instituída a mediação na data para a qual for
marcada a primeira reunião de mediação. Enquanto transcorrer o
procedimento de mediação, ficará suspenso o prazo prescricional.
Iniciada a mediação, as reuniões posteriores com a presença
das partes somente poderão ser marcadas com a sua anuência.
No desempenho de sua função, o mediador poderá reunir-se
com as partes, em conjunto ou separadamente, bem como solicitar
das partes as informações que entender necessárias para facilitar o
entendimento entre aquelas.
O procedimento de mediação será encerrado com a lavratura
do seu termo final, quando for celebrado acordo ou quando não se
justificarem novos esforços para a obtenção de consenso, seja por
declaração do mediador nesse sentido ou por manifestação de
qualquer das partes. O termo final de mediação, na hipótese de
celebração de acordo, constitui título executivo extrajudicial e,
quando homologado judicialmente, título executivo judicial.

3.3.1.1 Mediação extrajudicial


O convite para iniciar o procedimento de mediação extrajudicial
poderá ser feito por qualquer meio de comunicação e deverá
estipular o escopo proposto para a negociação, a data e o local da
primeira reunião. O convite formulado por uma parte à outra
considerar-se-á rejeitado se não for respondido em até 30 dias da
data de seu recebimento.
A previsão contratual de mediação deverá conter, no mínimo:
I – prazo mínimo e máximo para a realização da primeira
reunião de mediação, contado a partir da data de recebimento do
convite;
II – local da primeira reunião de mediação;
III – critérios de escolha do mediador ou equipe de mediação;
IV – penalidade em caso de não comparecimento da parte
convidada à primeira reunião de mediação.
A previsão contratual pode substituir a especificação dos itens
acima enumerados pela indicação de regulamento, publicado por
instituição idônea prestadora de serviços de mediação, no qual
constem critérios claros para a escolha do mediador e realização da
primeira reunião de mediação.
Não havendo previsão contratual completa, deverão ser
observados os seguintes critérios para a realização da primeira
reunião de mediação:
I – prazo mínimo de dez dias úteis e prazo máximo de três
meses, contados a partir do recebimento do convite;
II – local adequado a uma reunião que possa envolver
informações confidenciais;
III – lista de cinco nomes, informações de contato e referências
profissionais de mediadores capacitados; a parte convidada poderá
escolher, expressamente, qualquer um dos cinco mediadores e,
caso a parte convidada não se manifeste, considerar-se-á aceito o
primeiro nome da lista;
IV – o não comparecimento da parte convidada à primeira
reunião de mediação acarretará a assunção por parte desta de
cinquenta por cento das custas e honorários sucumbenciais caso
venha a ser vencedora em procedimento arbitral ou judicial
posterior, que envolva o escopo da mediação para a qual foi
convidada.
Nos litígios decorrentes de contratos comerciais ou societários
que não contenham cláusula de mediação, o mediador extrajudicial
somente cobrará por seus serviços caso as partes decidam assinar
o termo inicial de mediação e permanecer, voluntariamente, no
procedimento de mediação.
Se, em previsão contratual de cláusula de mediação, as partes
se comprometerem a não iniciar procedimento arbitral ou processo
judicial durante certo prazo ou até o implemento de determinada
condição, o árbitro ou o juiz suspenderá o curso da arbitragem ou da
ação pelo prazo previamente acordado ou até o implemento dessa
condição. O disposto não se aplica às medidas de urgência em que
o acesso ao Poder Judiciário seja necessário para evitar o
perecimento de direito.

3.3.1.2 Mediação judicial


Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de
conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de
conciliação e mediação, pré-processuais e processuais e pelo
desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e
estimular a autocomposição. A composição e a organização do
centro serão definidas pelo respectivo tribunal, observadas as
normas do Conselho Nacional de Justiça.
Na mediação judicial, os mediadores não estarão sujeitos à
prévia aceitação das partes.
As partes deverão ser assistidas por advogados ou defensores
públicos, ressalvadas as hipóteses previstas nas Leis ns. 9.099, de
26 de setembro de 1995, e 10.259, de 12 de julho de 2001. Aos que
comprovarem insuficiência de recursos será assegurada assistência
pela Defensoria Pública.
Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for
o caso de rejeição liminar do pedido, o juiz designará audiência de
mediação.
O procedimento de mediação judicial deverá ser concluído em
até 60 dias, contados da primeira sessão, salvo quando as partes,
de comum acordo, requererem sua prorrogação. Se houver acordo,
os autos serão encaminhados ao juiz, que determinará o
arquivamento do processo e, desde que requerido pelas partes,
homologará o acordo, por sentença, e o termo final da mediação e
determinará o arquivamento do processo.
Solucionado o conflito pela mediação antes da citação do réu,
não serão devidas custas judiciais finais.

3.3.1.3 Confidencialidade e suas exceções


Toda e qualquer informação relativa ao procedimento de mediação
será confidencial em relação a terceiros, não podendo ser revelada
sequer em processo arbitral ou judicial salvo se as partes
expressamente decidirem de forma diversa ou quando sua
divulgação for exigida por lei ou necessária para cumprimento de
acordo obtido pela mediação.
O dever de confidencialidade aplica-se ao mediador, às partes,
a seus prepostos, advogados, assessores técnicos e a outras
pessoas de sua confiança que tenham, direta ou indiretamente,
participado do procedimento de mediação, alcançando:
I – declaração, opinião, sugestão, promessa ou proposta
formulada por uma parte à outra na busca de entendimento para o
conflito;
II – reconhecimento de fato por qualquer das partes no curso do
procedimento de mediação;
III – manifestação de aceitação de proposta de acordo
apresentada pelo mediador;
IV – documento preparado unicamente para os fins do
procedimento de mediação.
A prova apresentada em desacordo com o disposto
anteriormente não será admitida em processo arbitral ou judicial.
Não está abrigada pela regra de confidencialidade a informação
relativa à ocorrência de crime de ação pública.
A regra da confidencialidade não afasta o dever de as pessoas
prestarem informações à administração tributária após o termo final
da mediação, aplicando-se aos seus servidores a obrigação de
manterem sigilo das informações compartilhadas nos termos do art.
198 da Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário
Nacional.
Será confidencial a informação prestada por uma parte em
sessão privada, não podendo o mediador revelá-la às demais,
exceto se expressamente autorizado.

3.3.1.4 Pessoa jurídica de direito público


A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
criar câmaras de prevenção e resolução administrativa de conflitos,
no âmbito dos respectivos órgãos da Advocacia Pública, onde
houver, com competência para:
I – dirimir conflitos entre órgãos e entidades da administração
pública;
II – avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de
conflitos, por meio de composição, no caso de controvérsia entre
particular e pessoa jurídica de direito público;
III – promover, quando couber, a celebração de termo de
ajustamento de conduta.
O modo de composição e funcionamento das câmaras será
estabelecido em regulamento de cada ente federado.
A submissão do conflito às câmaras é facultativa e será cabível
apenas nos casos previstos no regulamento do respectivo ente
federado.
Se houver consenso entre as partes, o acordo será reduzido a
termo e constituirá título executivo extrajudicial.
Não se incluem na competência dos órgãos mencionados as
controvérsias que somente possam ser resolvidas por atos ou
concessão de direitos sujeitos a autorização do Poder Legislativo.
Compreendem-se na competência das câmaras a prevenção e
a resolução de conflitos que envolvam equilíbrio econômico-
financeiro de contratos celebrados pela administração com
particulares.
A Advocacia Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, onde houver, poderá instaurar, de ofício ou
mediante provocação, procedimento de mediação coletiva de
conflitos relacionados à prestação de serviços públicos.
A instauração de procedimento administrativo para a resolução
consensual de conflito no âmbito da administração pública suspende
a prescrição.
Considera-se instaurado o procedimento quando o órgão ou
entidade pública emitir juízo de admissibilidade, retroagindo a
suspensão da prescrição à data de formalização do pedido de
resolução consensual do conflito.
Em se tratando de matéria tributária, a suspensão da prescrição
deverá observar o disposto na Lei n. 5.172/66 (CTN).
As controvérsias jurídicas que envolvam a administração
pública federal direta, suas autarquias e fundações poderão ser
objeto de transação por adesão, com fundamento em:
I – autorização do Advogado-Geral da União, com base na
jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal ou de tribunais
superiores; ou
II – parecer do Advogado-Geral da União, aprovado pelo
Presidente da República.
Os requisitos e as condições da transação por adesão serão
definidos em resolução administrativa própria.
Ao fazer o pedido de adesão, o interessado deverá juntar prova
de atendimento aos requisitos e às condições estabelecidos na
resolução administrativa.
A resolução administrativa terá efeitos gerais e será aplicada
aos casos idênticos, tempestivamente habilitados mediante pedido
de adesão, ainda que solucione apenas parte da controvérsia.
A adesão implicará renúncia do interessado ao direito sobre o
qual se fundamenta a ação ou o recurso, eventualmente pendentes,
de natureza administrativa ou judicial, no que tange aos pontos
compreendidos pelo objeto da resolução administrativa.
Se o interessado for parte em processo judicial inaugurado por
ação coletiva, a renúncia ao direito sobre o qual se fundamenta a
ação deverá ser expressa, mediante petição dirigida ao juiz da
causa.
A formalização de resolução administrativa destinada à
transação por adesão não implica a renúncia tácita à prescrição
nem sua interrupção ou suspensão.
No caso de conflitos que envolvam controvérsia jurídica entre
órgãos ou entidades de direito público que integram a administração
pública federal, a Advocacia-Geral da União deverá realizar
composição extrajudicial do conflito, observados os procedimentos
previstos em ato do Advogado-Geral da União.
Se não houver acordo quanto à controvérsia jurídica, caberá ao
Advogado-Geral da União dirimi-la, com fundamento na legislação
afeta.
Nos casos em que a resolução da controvérsia implicar o
reconhecimento da existência de créditos da União, de suas
autarquias e fundações contra pessoas jurídicas de direito público
federais, a Advocacia-Geral da União poderá solicitar ao Ministério
do Planejamento, Orçamento e Gestão a adequação orçamentária
para quitação das dívidas reconhecidas como legítimas.
A composição extrajudicial do conflito não afasta a apuração de
responsabilidade do agente público que deu causa à dívida, sempre
que se verificar que sua ação ou omissão constitui, em tese,
infração disciplinar.
Nas hipóteses em que a matéria objeto do litígio esteja sendo
discutida em ação de improbidade administrativa ou sobre ela haja
decisão do Tribunal de Contas da União, a conciliação dependerá
da anuência expressa do juiz da causa ou do Ministro Relator.
É facultado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios,
suas autarquias e fundações públicas, bem como às empresas
públicas e sociedades de economia mista federais, submeter seus
litígios com órgãos ou entidades da administração pública federal à
Advocacia-Geral da União, para fins de composição extrajudicial do
conflito.
A propositura de ação judicial em que figurem
concomitantemente nos polos ativo e passivo órgãos ou entidades
de direito público que integrem a administração pública federal
deverá ser previamente autorizada pelo Advogado-Geral da União.
Os servidores e empregados públicos que participarem do
processo de composição extrajudicial do conflito, somente poderão
ser responsabilizados civil, administrativa ou criminalmente quando,
mediante dolo ou fraude, receberem qualquer vantagem patrimonial
indevida, permitirem ou facilitarem sua recepção por terceiro, ou
para tal concorrerem.
A mediação nas relações de trabalho será regulada por lei
própria (parágrafo único do art. 42 da Lei n. 13.140/2015).
Os órgãos e entidades da administração pública poderão criar
câmaras para a resolução de conflitos entre particulares, que
versem sobre atividades por eles reguladas ou supervisionadas.
A mediação poderá ser feita pela internet ou por outro meio de
comunicação que permita a transação a distância, desde que as
partes estejam de acordo. É facultado à parte domiciliada no exterior
submeter-se à mediação segundo as regras estabelecidas na Lei n.
13.140/2015.

3.3.2 Arbitragem

3.3.2.1 Histórico
São encontradas as raízes da arbitragem nas Ordenações do Reino
de Portugal, no século XVII, em que se distinguia entre juízes
árbitros e arbitradores. Os juízes árbitros deveriam conhecer não
somente das coisas e razões, mas também do Direito. Os
arbitradores somente conheciam das coisas, sendo que, se
houvesse alguma alegação de Direito, deveriam remetê-la aos
juízes da terra.
O art. 194 do Código Comercial fazia referência a arbitradores:
“o preço de venda pode ser incerto, e deixado na estimação de
terceiros; se este não puder ou não quiser fazer a estimação, será o
preço determinado por arbitradores”. Outros artigos do Código
Comercial tratavam dos arbitradores, como os arts. 80, 82, 95, 201,
209, 215, 217, 749, 750 e 776, no que toca a avaliações,
estimações de prejuízos ou arbitramento de indenização por parte
daqueles. A arbitragem era mencionada no art. 294 do Código
Comercial, mas para questões de sociedades comerciais: “todas as
questões sociais que se suscitarem entre sócios durante a
existência da sociedade ou companhia, sua liquidação ou partilha,
serão decididas em juízo arbitral”. Pelo que se verificava do art. 189
do Regulamento n. 737, de 25 de novembro de 1850, os
arbitradores eram equiparados aos atuais peritos judiciais, que
fazem exames técnicos de que o juiz é carecedor de
conhecimentos.
A Constituição de 1891, em seu art. 34, 11, dispunha que era de
competência privativa do Congresso Nacional autorizar o governo a
declarar guerra, se não tiver lugar ou malograr-se o recurso da
arbitragem, porém era usada a expressão arbitramento, com o
significado de arbitragem.
O compromisso arbitral era regulado nos arts. 1.037 a 1.048 do
Código Civil de 1916. O art. 1.123 do Código Civil mencionava que a
fixação do preço da compra e venda poderia ser feita por terceiro
(árbitro), que seria designado pelos contratantes.
O CPC de 1973 tratava do tema empregando a expressão juízo
arbitral, nos arts. 1.072 a 1.102 e nos arts. 301, § 4º, e 584, III. Os
arts. 25 a 27 da Lei n. 7.244, de 7-11-84 (juizado de pequenas
causas), também previam a possibilidade da solução do conflito por
meio do juízo arbitral.
O § 2º do art. 129 da Lei n. 6.404/76 prevê a arbitragem para
resolver determinadas questões na sociedade anônima.
A Lei n. 9.307, de 23-9-1996, dispõe sobre a arbitragem, tendo
revogado os arts. 1.037 a 1.048 do Código Civil de 1916 e 1.072 a
1.102 do CPC de 1973. Passou a haver apenas uma lei para tratar
do tema.

3.3.2.2 Denominação
Arbitragem e arbitramento muitas vezes se confundem. As palavras
são derivadas da mesma raiz etimológica, do latim arbiter, que tem
o significado de juiz louvado e árbitro.
O nome dado ao instituto em estudo é arbitragem. O
arbitramento é feito quando:

a) determinado pela sentença ou convencionado pelas


partes;
b) exigir a natureza do objeto de liquidação (art. 509, I, do
CPC).

No arbitramento são apuradas coisas ou fatos que devem ser


avaliados ou estimados. Arbitragem é uma forma de solução do
conflito, que compreende jurisdição e também contrato.

3.3.2.3 Conceitos
A arbitragem é uma forma de solução de conflitos, feita por um
terceiro estranho à relação das partes ou por um órgão, que é
escolhido por elas, impondo a solução do litígio. É uma forma
voluntária de terminar o conflito, o que importa em dizer que não é
obrigatória.
A pessoa designada chama-se árbitro. Sua decisão denomina-
se sentença arbitral.
As partes interessadas podem submeter a solução de seus
litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim
entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral (art.
3º da Lei n. 9.307/96).
Cláusula compromissória é a convenção por meio da qual as
partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem
os litígios que possam vir a surgir relativamente a tal contrato (art. 4º
da Lei n. 9.307/96). A cláusula compromissória está inserida no
contrato e é estabelecida antes do litígio.
Compromisso arbitral é a convenção por meio da qual as partes
submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas,
podendo ser judicial ou extrajudicial (art. 9º da Lei n. 9.307/96). O
compromisso arbitral ocorre quando já existe o litígio e as partes vão
submetê-lo a um árbitro.

3.3.2.4 Distinção
Distingue-se a arbitragem da mediação, pois nesta o mediador
apenas faz propostas para a solução do conflito, enquanto o árbitro
decide, impõe a solução ao caso que lhe é submetido à apreciação.
Difere a arbitragem da jurisdição, pois nesta o juiz está
investido de jurisdição como órgão do Estado, podendo dizer o
direito nas hipóteses concretas que lhe são submetidas. Sua
decisão tem força coercitiva. Caso não seja cumprida, pode ser
executada. Na arbitragem, o árbitro é um particular, não tendo
relação alguma com o Estado. É escolhido pelas partes para a
solução do conflito. Tem o poder de decidir as questões que lhe
foram apresentadas, porém não pode impor sanções.
A arbitragem não se confunde com a liquidação de sentença
por arbitramento. Na arbitragem será analisado o direito da parte. O
arbitramento é forma de liquidação de sentença, quando não
existam provas suficientes e houver necessidade do valor devido
etc.
Não se confunde a arbitragem com a transação. A transação é
um negócio jurídico bilateral em que as partes extinguem suas
obrigações mediante concessões recíprocas. Na arbitragem, as
partes não estão interessadas na concessão de mútuas vantagens.
A confusão que se costuma fazer entre arbitragem e transação é
que Alfredo Rocco entende que a natureza jurídica da arbitragem
seria uma transação em branco, em que as condições seriam
determinadas por um terceiro, e não pelas próprias partes26.
Todavia, a questão principal é que na arbitragem não existem
concessões mútuas, mas a solução do litígio pelo árbitro, que irá
dizer quem tem razão.
A arbitragem também é distinta da perícia técnica. Esta só é
realizada quando o juiz não possui conhecimentos técnicos
suficientes para dirimir certa situação que lhe foi posta para exame,
nomeando um especialista para tanto. A perícia, contudo, é meio de
prova, em que o perito examinará uma situação e orientará o juiz.
Este é que irá dirimir a controvérsia existente entre as partes, dando
a decisão, e não o perito. Na arbitragem, as questões que são
decididas são de fato e de direito e na perícia técnica são apenas de
fato.
Distingue-se o árbitro do arbitrador. O arbitrador apenas estima
ou avalia o preço de alguma coisa, como se observa no art. 772 do
Código Comercial. Não tem o arbitrador o poder de dizer o direito,
como o árbitro. A composição do conflito não é feita pelo arbitrador,
este apenas estabelece o valor de um bem.
Diferencia-se a cláusula compromissória do compromisso
arbitral. Na cláusula compromissória, as partes se comprometem a
submeter à arbitragem litígios futuros. No compromisso arbitral, o
litígio presente está sendo submetido à arbitragem.

3.3.2.5 Natureza jurídica


Tem a arbitragem natureza de justiça privada, pois o árbitro não é
funcionário do Estado nem está investido por este de jurisdição,
como acontece com o juiz. É uma forma de heterocomposição, pois
não são as próprias partes que resolvem o conflito, como ocorre na
autocomposição, mas um terceiro é chamado para decidir o litígio.
Poderia ser enquadrada como forma de autocomposição se
entendêssemos que as próprias partes escolhem um terceiro para
solucionar o conflito, sem se socorrer do Judiciário.
Envolve a arbitragem jurisdição contenciosa, pois há partes,
lide, contraditório e coisa julgada da decisão arbitral.
Possui base contratual, de ajuste de vontades para o conflito
ser resolvido pela arbitragem. A sentença arbitral é ato decorrente
do compromisso.
Na verdade, a natureza jurídica da arbitragem é mista,
compreendendo contrato e jurisdição, em que as partes contratam
com um terceiro para dizer quem deles tem o direito. A primeira fase
da arbitragem é contratual, tendo por base a cláusula
compromissária, que decorre de acordo de vontades. A segunda
fase é jurisdicional, em que o árbitro irá dizer o direito aplicável à
espécie.

3.3.2.6 Classificação
Quanto à vontade das partes, a arbitragem pode ser classificada em
espontânea e compulsória. A primeira ocorre quando as próprias
partes indicam o árbitro. Se a arbitragem for decorrente de regra
ajustada entre as partes, será contratual. A arbitragem compulsória
decorre da lei ou da decisão judicial, independente da vontade das
partes.
Pode ser oficial e particular. Oficial quando é feita por um
membro do Estado. Particular, quando é realizada por qualquer
pessoa, não tendo vinculação com o Estado.
Arbitragem legal é a decorrente da previsão da lei. Arbitragem
convencional é a proveniente do ajuste celebrado entre as partes.
Arbitragem de direito tem por objetivo a interpretação de uma
norma jurídica. Arbitragem de equidade pode ocorrer nos dissídios
coletivos de natureza econômica, visando à fixação de salários ou
de condições de trabalho. Objetiva fazer a justiça do caso concreto.
Poder-se-ia, ainda, fazer distinção entre arbitragem nacional e
internacional. Na arbitragem nacional, os conflitos são analisados
com base nas normas de um único sistema jurídico, em que não
haja nenhum conflito de jurisdição, seja interno ou internacional. Na
arbitragem internacional, cada elemento será regido por uma lei
diversa, como da capacidade das partes, da competência dos
árbitros, do procedimento arbitral ou da lei material que será
aplicável à solução do litígio. É internacional a arbitragem que
coloca em jogo os interesses do comércio internacional (art. 1.504
do Código de Processo Civil francês). A arbitragem, mesmo a
internacional, não serve para resolver apenas os litígios decorrentes
do comércio, mas também de outros ramos. A arbitragem
internacional pode ser entendida como aquela que serve para
resolver questões exteriores e que terão por objeto produzir efeitos
principalmente no exterior, em razão de que as partes litigantes
pertencem a Estados diversos ou a matéria debatida tenha de se
desenvolver no território de Estados distintos.

3.3.2.7 Espécies
A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade (art. 2º da Lei n.
9.307). Deverá a arbitragem por equidade ser expressamente
convencionada pelas partes. A arbitragem que julgará por equidade
será realizada no sentido de fazer justiça. Poderão as partes
escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na
arbitragem, desde que não haja violação aos bens, costumes e a
ordem pública. Quando o árbitro decide por equidade ele o faz como
se fosse legislador e juiz.
Na arbitragem de ofertas finais, o árbitro deve restringir-se a
optar por uma das propostas apresentadas pelas partes, em caráter
definitivo. Adota-se a expressão utilizada nos Estados Unidos, final
offer selection arbitration ou last final offer position, em que o árbitro
terá de selecionar (to select) uma das propostas das partes,
indicando a que achar mais conveniente, segundo o seu
convencimento. Nesse caso, não poderá o árbitro adotar uma
decisão própria ou dar terceira solução, mas apenas escolher uma
das duas propostas das partes.
O sistema de arbitragem de ofertas finais estimula a
negociação, pois o empregado não vai querer que seja escolhida a
proposta do empregador, nem este a do empregado, visto que o
árbitro não poderá estabelecer proposta intermediária, mas apenas
uma das duas apresentadas.
Condição subjetiva é a capacidade das partes, no sentido da
aptidão delas para direitos e deveres. Condição objetiva é que a
arbitragem deve versar sobre direitos patrimoniais disponíveis.

3.3.2.8 Compromisso
A cláusula compromissória distingue-se do compromisso. A primeira
encerra a possibilidade de um conflito eventual ou futuro ser
resolvido por meio da arbitragem, conflito este que pode ou não
ocorrer. Ela estaria incluída em acordo, convenção ou contrato. Já o
compromisso diz respeito à solução por meio da arbitragem de um
litígio atual, existente, que surge no momento da controvérsia, em
que as partes preferem não se socorrer de mecanismos de
autodefesa.

3.3.2.9 Admissibilidade
A arbitragem não impede o acesso aos tribunais, pois a lei não está
excluindo da apreciação do Judiciário qualquer lesão ou ameaça de
direito (art. 5º, XXXV, da Constituição). As partes é que não
pretendem que a matéria seja apreciada pelo Judiciário. A jurisdição
só é prestada quando há provocação por uma das partes do litígio.
Ademais, a lei poderia estabelecer como uma das condições da
ação a necessidade de negociação e arbitragem, que seria o meio
ou recurso inerente ao exercício do direito de ação e do contraditório
(art. 5º, LV). Ressalte-se que o controle jurisdicional pode ser feito
quanto à execução da sentença arbitral, quanto à forma e estrutura.
A parte pode pedir a nulidade da sentença arbitral em caso de
descumprimento do contido na Lei n. 9.307 (art. 33). A parte mais
fraca pode provar que foi coagida a optar pela arbitragem,
socorrendo-se do Poder Judiciário para tornar nulo o compromisso
arbitral. O árbitro, entretanto, não se constitui em tribunal ou juízo de
exceção, sendo que não se irá atrair a hipótese contida no inciso
XXXVII do art. 5º da Lei Maior.
O STF entendeu que não há inconstitucionalidade da Lei n.
9.307, pois os interessados é que querem ver o conflito solucionado
pelo árbitro. A cláusula compromissória de arbitragem em caso de
homologação de sentença estrangeira não viola o inciso XXXV do
art. 5º da Constituição (Pleno, SE 5.206 AgREsp, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, j. 12-12-2001, DJU 30-4-2004, p. 29).
O direito de ação na Justiça não é uma obrigação da parte, mas
uma faculdade, um direito subjetivo, que pode ou não ser exercido.
Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger
árbitros (§ 1º do art. 114). Recusando as partes a negociação
coletiva ou a arbitragem, é facultado às partes o ajuizamento do
dissídio coletivo (§ 2º do art. 114). A arbitragem é, porém, facultativa,
opcional e alternativa para a solução de conflitos coletivos
trabalhistas. É alternativa, pois a norma constitucional prevê como
condição para o ajuizamento do dissídio coletivo a necessidade de
negociação coletiva ou de arbitragem. A Constituição não faz
referência à arbitragem para solução de dissídios individuais.
Entretanto, não a proíbe nos dissídios individuais.
Só é permitida a arbitragem quanto a direitos patrimoniais
disponíveis (art. 1º da Lei n. 9.307). Direitos patrimoniais
indisponíveis são os relativos a vida, família, sucessões, menores,
tributos etc. Direitos patrimoniais são os relativos ao patrimônio da
pessoa. Direitos patrimoniais disponíveis são os de natureza privada
ou contratual, que podem ser alienados. Direitos que podem ser
transacionados são disponíveis.
Direitos patrimoniais disponíveis são diferentes de direitos
irrenunciáveis. Direitos disponíveis são normas direcionadas às
partes, e não exatamente normas de ordem pública absoluta.
Nos contratos individuais de trabalho cuja remuneração seja
superior a duas vezes o limite máximo estabelecido para os
benefícios do Regime Geral de Previdência Social, poderá ser
pactuada cláusula compromissória de arbitragem, desde que por
iniciativa do empregado ou mediante a sua concordância expressa,
nos termos previstos na Lei n. 9.307/96 (art. 507-A da CLT).

3.3.2.10 Vantagens e desvantagens


As vantagens da arbitragem podem ser indicadas como rapidez e
segredo. Os conflitos normalmente são solucionados com certa
demora pelo Poder Judiciário. Um processo pode levar de um a dois
anos para ser dirimido na primeira instância, dois anos na segunda
e mais dois anos na terceira. A arbitragem normalmente é feita no
máximo em seis meses (art. 23 da Lei n. 9.307). Não implica
nenhum ônus para o Estado. A confidencialidade da arbitragem
importa em dizer que o conflito não terá publicidade, evitando a
divulgação de documentos e fatos que são de interesse apenas das
partes, o que importaria até mesmo em divulgação de situações ao
fisco, que não interessam às partes. Na arbitragem, não incide a
publicidade de seus atos, como no processo civil, sendo que na
arbitragem envolvendo questões comerciais muitas vezes são
discutidas pendências decorrentes de inventos, que não podem cair
no domínio público.
Terá a arbitragem um número menor de formalismos, daí por
que é mais rápida e menos burocrática.
Existe a possibilidade de escolha do julgador, o que não ocorre
no processo judicial.
A arbitragem transfere o custo do Estado no julgamento da
postulação para as partes.
Não se pode dizer, porém, que a arbitragem tem um custo
acessível a qualquer pessoa. Ao contrário, seu custo é
extremamente alto, sendo desaconselhável para solucionar conflitos
de valores de pouca monta, como ocorre com a grande maioria dos
processos trabalhistas.
É possível que o custo da arbitragem venha a cair com a maior
quantidade de causas a ela sujeitas. Assim, os honorários do árbitro
seriam inferiores aos que são praticados atualmente.
Geralmente, as partes escolhem a arbitragem para resolver
suas pendências em razão do menor número de solenidades, da
existência do julgamento por equidade, da possibilidade da escolha
da norma a ser aplicada e, principalmente, em decorrência da
especialização técnica dos julgadores. A questão da norma a ser
aplicável parece, à primeira vista, ser simples; entretanto, em casos
em que se discute ou podem ser discutidas a aplicação de mais de
uma norma, a possibilidade de comum acordo de se escolher a
norma a ser aplicável abrevia consideravelmente a solução do
litígio, pois se poderia querer utilizar de partes de diversas normas
ao mesmo tempo.
Na prática, a arbitragem tem sido utilizada, principalmente: (a)
na solução de conflitos decorrentes do comércio internacional, pois
é mais rápida e não sujeita o conflito à jurisdição de um país ou de
vários países ao mesmo tempo; (b) na política internacional, em que
a arbitragem evita guerras ou as soluciona, impedindo a morte de
pessoas.
É necessário evitar árbitros que não julguem de acordo com a
lei, mas por interesses financeiros, do pagamento de seus
honorários, em que a parte mais forte terá muito mais possibilidade
de pagar do que a parte mais fraca, ficando prejudicada a solução
imparcial e justa do conflito. Nos Estados Unidos, a solução na área
trabalhista é o pagamento dos honorários do árbitro pelos
sindicatos.
Uma das grandes vantagens da escolha da arbitragem seria a
possibilidade de o litígio ser resolvido mais rapidamente e também
de aliviar a sobrecarga de processos existentes no Poder Judiciário.
A experiência revela que, ao se proferir uma sentença, que acolhe
ou rejeita em parte a pretensão do autor, nunca contenta o vencido,
inclusive o autor no segundo caso, o que implica a apresentação
dos mais variados recursos, até mesmo na execução.
Se a arbitragem desafogasse o Poder Judiciário, as decisões
dos juízes seriam mais rápidas e de melhor qualidade.

3.3.2.11 Procedimentos
O árbitro é o juiz de fato e de direito.
Poderão as partes convencionar que a arbitragem se realize
com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e
nas regras internacionais de comércio.
O árbitro poderá ser qualquer pessoa capaz que tenha a
confiança das partes. Não há necessidade de que o árbitro seja
bacharel em Direito, mas, apenas, que tenha bom senso e
conhecimentos suficientes para resolver o conflito. Poderá, portanto,
ser qualquer pessoa: um padre, um advogado, um médico etc. Para
tanto, deverá ser uma pessoa capaz. É claro que as partes só irão
indicar alguém para ser árbitro que for de confiança delas.
Com a aceitação pelo árbitro, fica instituída a arbitragem. No
julgamento, o árbitro deverá respeitar os princípios do contraditório,
da igualdade das partes, da imparcialidade e do livre
convencimento.
A decisão do árbitro ou árbitros será expressa em documento
escrito. A sentença deverá ser apresentada num prazo máximo de
seis meses, se outro não for convencionado.
A sentença arbitral deverá ter relatório, fundamentação da
decisão, dispositivo, data e lugar em que foi proferida.
Não fica sujeita a recurso a sentença proferida ou a
homologação pelo Poder Judiciário (art. 18 da Lei n. 9.307). Estes
eram os principais entraves encontrados para a implementação da
arbitragem, pois de nada adiantava procurar um mecanismo privado
para a solução do litígio, se a parte recorria ou iria discutir a questão
no Judiciário. Da mesma forma, a necessidade de homologação
inviabilizava praticamente a arbitragem.
Poderá a sentença arbitral ser anulada pelo Poder Judiciário, a
requerimento do interessado, no prazo de 90 dias, nas hipóteses de:
(a) nulidade da convenção de arbitragem; (b) ter emanado de árbitro
impedido ou suspeito; (c) não conter os requisitos obrigatórios da
sentença arbitral; (d) exceder os limites da convenção de
arbitragem; (e) por prevaricação, concussão ou corrupção passiva;
(f) ser proferida fora do prazo; (g) desrespeitar os princípios do
contraditório, da igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e
de seu livre convencimento (arts. 32 e 33, caput, e seus §§ 1º e 2º
da Lei n. 9.307/96).
Dispõe o art. 33 da Lei n. 9.307/96 que a sentença arbitral não
pode ser objeto de ação rescisória, mas de ação anulatória. Não se
trata de sentença de mérito proferida pelo Judiciário para caber
ação rescisória.
A antiga redação do inciso III do art. 584 do CPC de 1973
dispunha que a sentença homologatória de laudo arbitral era
considerada título executivo judicial. Havia, portanto, a necessidade
da homologação da sentença arbitral. A redação do inciso VII do art.
515 do CPC dispõe que a sentença arbitral é título executivo judicial,
mostrando a desnecessidade da sua homologação, já a
considerando assim como título executivo judicial, podendo ser
executada de imediato, caso seja descumprida. Tem, portanto, a
sentença arbitral força executória, caso não cumprida
espontaneamente.
A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada
no Brasil em conformidade com os tratados internacionais com
eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de
acordo com os termos da Lei n. 9.307. É considerada sentença
arbitral estrangeira a proferida fora do território nacional.
Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença
arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do
Superior Tribunal de Justiça.

3.3.2.12Dificuldades
Ante a demora da solução dos processos, que em alguns casos
pode ser de pelo menos seis anos, impõe-se que os conflitos sejam
solucionados pela arbitragem, que é muito mais rápida. Entretanto,
em nosso país há o problema cultural de sua admissibilidade, pois
na maioria das vezes a parte, por exemplo, não confia no
magistrado, às vezes nem em seu advogado, e não irá confiar num
terceiro, que nem sequer é juiz.
O brasileiro prefere a solução pelo Poder Judiciário.
A arbitragem acaba sendo onerosa, enquanto o pagamento das
custas judiciais, de modo geral, é de valor baixo, possibilitando o
acesso das pessoas à Justiça. No processo do trabalho, o
empregado, por exemplo, não paga custas para ajuizar a ação.
Não deixa a arbitragem de ser uma forma alternativa de solução
do conflito.
Não poderá, porém, a arbitragem ser arbitrária.

3.3.3 Jurisdição
A jurisdição ou tutela é a forma de solucionar os conflitos por meio
da intervenção do Estado, gerando o processo judicial. O Estado diz
o direito no caso concreto submetido ao Judiciário, impondo às
partes a solução do litígio.
Diferencia-se a jurisdição da arbitragem. Na jurisdição, o juiz diz
o direito no caso concreto a ele submetido, pois está investido dessa
função como órgão do Estado. O juiz não é um particular, mas um
funcionário do Estado. Na arbitragem, o árbitro é geralmente um
particular, não sendo um órgão do Estado. O juiz pode determinar
às partes o cumprimento forçado da sua sentença, mediante a
penhora de bens. O árbitro não tem essa faculdade.
Capítulo 10
JURISDIÇÃO
1 ETIMOLOGIA
A palavra jurisdição vem do latim ius, iuris, com o significado de
direito, e dictio do verbo dicere, que quer dizer dicção. Significa,
portanto, dizer o direito.
2 CONCEITO
Jurisdição é o poder que o juiz tem de dizer o direito nos casos
concretos a ele submetidos, pois está investido desse poder pelo
Estado. Exige imparcialidade do juiz.
3 DISTINÇÃO
A jurisdição não se confunde com a função legislativa do Estado.
Este é feita por meio do Poder Legislativo, de criar as leis. A
jurisdição pressupõe que exista lei tutelando o caso em concreto em
exame pelo Poder Judiciário. Este vai dizer o direito ao caso
concreto que lhe foi submetido à apreciação. Não vai criar o direito.
O juiz pode decidir por equidade nos casos previstos em lei
(parágrafo único do art. 140 do CPC) ou por analogia (art. 4º da Lei
de Introdução), mas mesmo assim não cria exatamente a norma,
mas a extrai do conjunto do ordenamento jurídico.
Distingue-se a atividade jurisdicional do ato administrativo. A
atividade jurisdicional depende de provocação da parte interessada.
A atividade administrativa pode ser feita de ofício. A Administração
não tem exatamente por objetivo a aplicação da lei, mas do bem
comum dos administrados. Na atividade jurisdicional existe lide. Na
atividade administrativa não existe lide. A atividade administrativa é
primária ou originária, não visa substituir a vontade das partes. A
jurisdição é exercida por meio do processo. A decisão do juiz, que
exerce a jurisdição, transita em julgado. Se há contencioso
administrativo, pode haver coisa julgada, mas nem sempre isso
ocorre na atividade administrativa. Há órgãos jurisdicionais que
exercem funções administrativas, como na jurisdição voluntária ou
administração pública de interesses privados. Há órgãos
administrativos que exercem funções jurisdicionais, como no
contencioso administrativo. É o que ocorre nos Tribunais de
Impostos e Taxas, no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais.
4 FUNÇÕES
Uma das funções do Estado é prestar a jurisdição. O Estado
substitui os litigantes e estabelece a solução para o caso concreto.
A jurisdição é uma função do Estado decorrente da sua
soberania.
Não se pode conceber a existência de um juiz sem jurisdição.
Anteriormente, era função do rei dar a jurisdição ou por
intermédio de quem ele determinasse, porque ele tinha a soberania.
Também tinham jurisdição os senhores feudais e a Igreja, em
relação a negócios eclesiásticos e assuntos espirituais.
Atualmente, a jurisdição é dada por meio do Poder Judiciário.
A jurisdição exige que haja lei anterior estabelecendo o Direito.
A jurisdição não cria o Direito, como ocorria em Roma, em que os
magistrados poderiam criar o direito a ser aplicado às partes.
5 ELEMENTOS
A chamada doutrina clássica aponta cinco elementos na jurisdição27.
Notio é a faculdade de conhecer certa causa ou a faculdade de
ser investido da condição de decidir a lide, ordenando os atos
respectivos.
Vocatio é a possibilidade de fazer comparecer em juízo todas
as pessoas que sejam úteis à justiça e ao conhecimento da
verdade.
Coertio ou coertitio é o direito de fazer respeitar e de reprimir as
ofensas feitas ao juiz no exercício de suas funções: jurisdictio sine
coertitio nulla est.
Iudicium é o direito de julgar e de proferir a sentença.
Executio é o direito exercido em nome do poder soberano para
tornar obrigatória e coativa a obediência da decisão.
A doutrina mais moderna apresenta três poderes, chamados de
poderes jurisdicionais: poder de decisão, poder de coerção, poder
de documentação28.
No poder de decisão, o juiz profere a sentença, de acordo com
a vontade da lei, com efeito de coisa julgada. O juiz tem a última
palavra sobre o que é e o que não é o Direito.
No poder de coerção, o juiz determina qualquer ato útil ao
desenvolvimento do processo, como a citação, se o destinatário se
recusa a recebê-la, e também a execução. O juiz pode requisitar
força policial para cumprimento da sua determinação.
O poder de documentação é a necessidade de documentar os
atos processuais perante os órgãos judiciais, como a ata da
audiência, certidões de notificações, de citações etc.
6 CARACTERÍSTICAS
A jurisdição tem características de poder, função e atividade.
A jurisdição tem característica de poder, pois envolve o poder
do Estado de prestá-la, de decidir o caso concreto submetido à sua
apreciação, de impor a solução do conflito.
É função do Estado resolver os conflitos entre as partes, por
meio do processo. As partes não poderiam uma impor à outra a
solução do conflito, mediante um juízo de mão própria ou por meio
da autotutela. O Estado presta a jurisdição no processo. A jurisdição
implica a afirmação da vontade da lei.
Compreende a jurisdição atividade, pois, por meio do complexo
de atos do processo, o Estado resolve o conflito entre as partes, de
acordo com o devido processo legal.
Chiovenda afirma que a jurisdição tem um caráter substitutivo,
pois substitui a vontade das partes. Há a substituição da vontade
das partes pela vontade imperativa do Estado. A atividade privada é
substituída pela atividade pública29. A outra característica é que a
jurisdição tem por fundamento a atuação do direito, de forma a fazer
justiça ou de dar o direito a quem o tem, pacificando a relação
social.
Carnelutti faz referência ao fato de que a jurisdição tem como
característica uma atividade exercida sempre com relação a uma
lide.
Mauro Capeletti faz menção a terzietà30, ao fato de que o juiz
não pode ter interesse pessoal na relação entre as partes, ou seja,
deve ser imparcial para exercer a jurisdição. Na jurisdição, o juiz
atua acima das partes ou super partes.
A jurisdição é una, em todo o território nacional. Há, portanto,
unidade de jurisdição do Poder Judiciário brasileiro. Não se pode
falar em várias jurisdições, mas numa única e indivisível, decorrente
da soberania do Estado brasileiro.
A imperatividade da jurisdição ocorre pelo fato de que a decisão
do juiz é imposta coercitivamente às partes, como forma de pacificar
a lide. O Estado imporá o resultado aos litigantes. Se a decisão não
for cumprida espontaneamente por uma das partes de pagamento
de valor, o juiz determina a penhora de um bem para garantir a
dívida. Os litigantes devem se sujeitar ao que foi decidido. O art. 523
do CPC mostra que o devedor é intimado a pagar o débito em 15
dias, sob pena de acréscimo de 10%.
A imutabilidade é o fato que a sentença proferida pelo juiz
transita em julgado e, portanto, não pode ser mudada. A sentença, a
vontade do Estado, não poderá mais ser discutida. O interesse do
Estado prevalece sobre a vontade das partes. Isso mostra a
tentativa da pacificação social da lide. Objetiva-se evitar a
eternização da lide.
A jurisdição é inafastável. As partes não podem se recusar à
atividade jurisdicional, desde que haja provocação de uma delas. A
inafastabilidade da jurisdição é decorrente do direito de ação. A lei
não pode excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão
ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV, da Constituição), que garante a
todos o acesso ao Poder Judiciário.
A indelegabilidade da jurisdição mostra que a jurisdição do
Estado não pode ser delegada a alguém que não está investido
dessa condição pelo Estado. O juiz tem de exercer pessoalmente a
jurisdição. O ato de um oficial de justiça que profere a sentença é
formalmente inexistente. A jurisdição é prestada pelos órgãos que a
Constituição ou as leis determinam. A jurisdição será exercida nos
limites e de acordo com a previsão da Constituição e das leis.
Não haverá, porém, jurisdição se não for proposta a ação (nulla
iurisdictio sine actione). É a ideia da inércia da jurisdição. O juiz não
poderá proceder de ofício, sem provocação (ne procedat judex ex
officio). O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve
por impulso oficial (art. 2º do CPC). A prestação da jurisdição exige
provocação das partes.
Não haverá jurisdição se não houver provocação, se não
houver autor. Ninguém é juiz se não houver autor (nemo judex sine
actore).
7 PRINCÍPIOS
O princípio da investidura mostra que a jurisdição só pode ser
exercida por quem está legitimamente investido para esse fim, como
ocorre com o juiz. Pode ocorrer com o árbitro, se assim as partes
escolherem para dirimir o litígio entre elas.
A jurisdição tem de ser prestada pelo juiz natural. As partes não
podem ser privadas do juiz natural e imparcial no julgamento do
processo. São proibidos os juízes ou tribunais de exceção (art. 5º,
XXXVII, da Constituição). Os tribunais de exceção não se
confundem com Justiças especializadas, como a Justiça Militar,
Eleitoral, do Trabalho, que são previstas constitucionalmente.
Indica a indelegabilidade da jurisdição que o juiz exerce a
atividade jurisdicional por delegação do Estado, mas não pode
delegá-la a outra pessoa, que não está investida dessa condição
como representante do Estado para dizer o Direito. O juiz não só
tem o poder de decidir, por estar investido dessa condição pelo
Estado, mas também o dever de decidir o caso concreto que lhe foi
submetido à apreciação. A sentença proferida por um juiz
aposentado é inexistente, pois ele não tem mais jurisdição. O juiz
que depreca uma carta precatória para outro juiz não está
delegando suas funções, mas cada um tem competência para
decidir dentro do seu território, e não fora dele.
O princípio da aderência ao território mostra que o juiz exerce a
sua atividade dentro de certo território, que é a sua comarca ou na
forma como a lei estabelecer. O Supremo Tribunal Federal tem
jurisdição nacional. O Tribunal de Justiça do Estado tem jurisdição
sobre o respectivo Estado, e não sobre outro, ainda que contíguo a
ele. O juiz vai exercer a sua jurisdição de acordo com a previsão da
lei e nos limites da circunscrição territorial determinada pela lei de
organização judiciária local. Fora da sua jurisdição o juiz não é juiz,
mas um cidadão comum.
8 PODERES DA JURISDIÇÃO
A jurisdição compreende os poderes de decisão, de coerção e de
documentação.
O juiz tem o poder de decidir o caso concreto que lhe foi
submetido à apreciação, estabelecendo o Direito das partes. No
Direito Romano, havia a notio e o iudicio, de conhecer, prover,
verificar os elementos de prova e decidir.
O poder de coerção diz respeito ao poder de impor a decisão às
partes, por determinação da vontade do Estado, visando à
pacificação da controvérsia entre as partes.
Compreende o poder de documentação a necessidade de que
os atos processuais sejam feitos por escrito.
9 CLASSIFICAÇÃO
A jurisdição quanto ao objeto poder ser civil ou penal. Jurisdição civil
é a função do Estado de dirimir os litígios não penais (civis,
administrativos, trabalhistas etc.), mediante provocação por meio da
ação.
A jurisdição penal é exercida nas lides de natureza penal, em
que há denúncia pelo Ministério Público de um crime e o juiz tem de
dizer se o acusado é inocente ou culpado. Pode haver ação
proposta pelo ofendido contra o réu, que teria praticado um crime.
Quanto ao critério do organismo judiciário, a jurisdição pode ser
comum ou ordinária. A jurisdição comum é exercida pela Justiça
Estadual, ou também chamada Justiça Comum.
Pode ser a jurisdição especial, como a jurisdição trabalhista
(arts. 111 a 116 da Constituição), a jurisdição eleitoral (arts. 118 a
121 da Constituição), a jurisdição militar (arts. 122 a 124 da Lei
Maior) e a jurisdição federal (art. 109 da Constituição).
Quanto à gradação ou posição hierárquica, a jurisdição pode
ser inferior ou superior. Jurisdição inferior é a exercida normalmente
pelo juiz de primeiro grau, do juiz da Vara. Jurisdição superior é
exercida pelos tribunais.
Da decisão da Vara cabe recurso para o Tribunal. Da decisão
dos tribunais cabe recurso para os tribunais superiores. O STF é o
órgão de cúpula do Poder Judiciário, incumbido de dizer o direito em
relação à matéria constitucional.
Quanto à proveniência, a jurisdição pode ser legal e
convencional. Jurisdição legal é a exercida pelos juízes. Jurisdição
convencional é a que as partes estabelecem que a controvérsia será
decidida por pessoa ou órgão diverso do Poder Judiciário, como
ocorre na arbitragem.
Jurisdição convencional é exercida pelos árbitros, mediante
convenção das partes. O árbitro diz o direito das partes. Tem,
portanto, jurisdição, mas por vontade das partes, que assim o
quiseram. A Lei n. 9.307/96 faz referência à sentença arbitral e
atribui caráter jurisdicional a ela (arts. 18, 31 e 33).
Quanto à fonte de direito, a jurisdição pode ser de direito ou de
equidade.
Na jurisdição de direito, o juiz aplica o direito ao caso concreto.
Jurisdição de equidade é quando a lei autoriza o juiz a decidir
por equidade, pois o juiz só pode decidir por equidade nos casos
previstos em lei (parágrafo único do art. 140 do CPC), como nos
dissídios trabalhistas, na falta de normas (art. 8º da CLT) e no
procedimento sumaríssimo trabalhista (§ 1º do art. 852-I da CLT). O
árbitro também pode decidir por equidade, se autorizado pelas
partes (art. 11, II, da Lei n. 9.307/96). Nos juizados de pequenas
causas, o árbitro conduzirá o processo com os mesmos critérios do
juiz, podendo decidir por equidade (art. 25 da Lei n. 9.099/95).
Quanto à forma, a jurisdição pode ser contenciosa ou
voluntária.
Jurisdição contenciosa é a exercida pelo juiz em razão do litígio,
da pretensão resistida pelo réu. O réu poderá ser revel ou confessar
os fatos. Mesmo assim existe necessidade de proferir a sentença,
de dizer o direito da parte, pois, mesmo diante da revelia do réu ou
da confissão deste, a pretensão do autor pode ser rejeitada, uma
vez que ele não tem o direito material postulado. A jurisdição
contenciosa é qualificada pelo fato de existir uma pretensão da parte
posta em juízo que precisa ser solucionada pelo Estado. O Estado
precisa dizer o direito para aquele caso que lhe foi submetido à
apreciação. A jurisdição contenciosa é caracterizada pela existência
de partes. Existe uma controvérsia a ser resolvida pelo Estado. Há,
portanto, um processo. A decisão do juiz faz coisa julgada.
Na jurisdição voluntária, administrativa ou graciosa não existe
lide. Não existem partes, mas interessados, isto é, pessoas que têm
interesses a ser tutelados. São exemplos o suprimento de
consentimento para casamento, a autorização para venda de bens
de menores, a autorização do juiz para o menor poder viajar, a
nomeação ou remoção de tutor. Ela é graciosa, pois em certos
casos é um favor do Estado. Fala-se em jurisdição administrativa,
pois se trata de administração pública de interesses privados. Não
se confunde, porém, com contencioso administrativo, em que
existem partes, lide, pretensão resistida, que precisa ser decidida,
ainda que administrativamente. Se não existe lide, não se pode
dizer que é jurisdição, pois não existe conflito de interesses a ser
dirimido pelo Judiciário.
Na jurisdição voluntária não existe lide, não existem partes, mas
interessados; não há contraditório. Não existe processo, mas mero
procedimento. A jurisdição voluntária não produz coisa julgada. Tem
caráter constitutivo a jurisdição voluntária.
Conclui Chiovenda que “a jurisdição voluntária é uma forma
especial de atividade do Estado, exercida, em parte pelos órgãos
judiciários, em parte pelos órgãos administrativos, e pertencente à
função administrativa, embora distinta da massa dos atos
administrativos, por certos caracteres particulares”31.
A jurisdição voluntária pode dizer respeito à capacidade das
pessoas, como de nomeação de tutor ou curador.
Pode, ainda, a jurisdição voluntária ser de intervenção no
estado das pessoas, como na emancipação, na separação
consensual e na partilha consensual entre as partes.
A jurisdição também pode existir em relação a vistos em
balanços de empresas, na notificação ou interpelação judicial.
Na jurisdição voluntária, o juiz não é obrigado a observar critério
de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que
considerar mais conveniente ou oportuna (parágrafo único do art.
723 do CPC).
10 LIMITES
O primeiro limite é o espacial, pois a jurisdição tem de ser exercida
no local em que a lei determina para o juiz.
Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de
qualquer outra: 1 – conhecer de ações relativas a imóveis situados
no Brasil; 2 – em matéria de sucessão hereditária, fazer a
confirmação de testamento particular, e ao inventário e à partilha de
bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de
nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território
nacional; 3 – em divórcio, separação judicial ou dissolução de união
estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o
titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do
território nacional.
O segundo limite é o subjetivo, que diz respeito às pessoas. A
jurisdição brasileira se impõe aos brasileiros e a todas as pessoas
que estejam no território nacional. Exceções são as imunidades
diplomáticas.
Capítulo 11
PODER JUDICIÁRIO

O princípio da separação dos poderes é previsto no art. 2º da


Constituição: “são Poderes da União, independentes e harmônicos
entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
A Constituição permite que os Poderes tenham outras funções.
A Câmara dos Deputados pode acolher a acusação contra o
Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de
Estado (art. 51, I). O Senado Federal pode processar e julgar o
Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de
responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica em crimes
da mesma natureza conexos com aqueles (art. 52, I). Cabe ao
Senado Federal processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal
Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do
Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da
República e o Advogado-Geral da União nos crimes de
responsabilidade (art. 52, II). O Executivo legisla por meio de
medidas provisórias (art. 62). O Judiciário também tem outras
funções, como elaborar o seu regime interno (art. 96, I, a).
O Poder Judiciário é nacional; embora os Estados tenham
competência para criar a Justiça Estadual, esta pertence ao Poder
Judiciário como um todo.
Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e
financeira (art. 99 da Constituição).
Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro
dos limites estipulados conjuntamente com os demais Poderes na
lei de diretrizes orçamentárias (§ 1º do art. 99 da Constituição).
O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais
interessados, compete:
I – no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal
Federal e dos Tribunais Superiores, com a aprovação dos
respectivos tribunais;
II – no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios,
aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos
respectivos tribunais.
Se os órgãos referidos no parágrafo anterior não encaminharem
as respectivas propostas orçamentárias dentro do prazo
estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo
considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária
anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados
de acordo com os limites estipulados na forma do § 1º do art. 99 da
Constituição.
Se as propostas orçamentárias forem encaminhadas em
desacordo com os limites estipulados na forma do § 1º do art. 99 da
Constituição, o Poder Executivo fará os ajustes necessários para
fins de consolidação da proposta orçamentária anual.
Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá
haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que
excedam os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias,
exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos
suplementares ou especiais.
O Poder Judiciário é composto dos seguintes órgãos: Supremo
Tribunal Federal; Conselho Nacional de Justiça; Superior Tribunal de
Justiça; Tribunal Superior do Trabalho, Tribunais Regionais Federais
e juízes federais; tribunais e juízes do trabalho; tribunais e juízes
eleitorais; tribunais e juízes militares; tribunais e juízes dos Estados
e do Distrito Federal e Territórios (art. 92 da Constituição).
Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre criação, funcionamento e processo do
juizado de pequenas causas (art. 24, X, da Constituição). A União,
no Distrito Federal e Territórios, e os Estados criarão juizados
especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos,
competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de
causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor
potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo,
permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o
julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau (art.
98, I, da Constituição).
A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados
criarão justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos
pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e
competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar,
de ofício ou em razão de impugnação apresentada, o processo de
habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter
jurisdicional, além de outras previstas na legislação (art. 98, II, da
Constituição).
1 ÓRGÃOS NÃO JURISDICIONAIS
São órgãos não jurisdicionais o Conselho Nacional de Justiça, as
ouvidorias dos tribunais e as Escolas de Magistratura.
Tem sede o Conselho Nacional de Justiça em Brasília. É
composto de 15 membros.
A União, inclusive no Distrito Federal e nos Territórios, criará
ouvidorias de justiça, competentes para receber reclamações e
denúncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos do
Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxiliares, representando
diretamente ao Conselho Nacional de Justiça (§ 7º do art. 103-B da
Constituição).
O Estatuto da Magistratura conterá previsão de cursos oficiais
de preparação, aperfeiçoamento e promoção de magistrados,
constituindo etapa obrigatória do processo de vitaliciamento a
participação em curso oficial ou reconhecido por escola nacional de
formação e aperfeiçoamento de magistrados (art. 93, IV, da
Constituição).
2 INDEPENDÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO
A independência do Poder Judiciário é caracterizada pelas garantias
da vitaliciedade, da inamovibilidade e da irredutibilidade de
subsídios. As garantias dos juízes são uma forma de assegurar a
independência do Poder Judiciário e de suas decisões. As garantias
estabelecidas aos juízes são uma forma de assegurar à sociedade a
independência e a imparcialidade das decisões do Poder Judiciário.
Compete privativamente aos tribunais:

a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos


internos, com observância das normas de processo e das
garantias processuais das partes, dispondo sobre a
competência e o funcionamento dos respectivos órgãos
jurisdicionais e administrativos;
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos
juízos que lhes forem vinculados, velando pelo exercício
da atividade correicional respectiva;
c) prover, na forma prevista na Constituição, os cargos de
juiz de carreira da respectiva jurisdição;
d) propor a criação de novas varas judiciárias;
e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e
títulos, obedecido o disposto no parágrafo único do art.
169 da Constituição, os cargos necessários à
administração da Justiça, exceto os de confiança assim
definidos em lei;
f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus
membros e aos juízes e servidores que lhes forem
imediatamente vinculados (art. 96, I, da Constituição).
Ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos
Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo:

a) a alteração do número de membros dos tribunais


inferiores;
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos
seus serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem
vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus
membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores,
onde houver;
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias (art.
96, II, da Constituição).

Os critérios de ingresso na magistratura podem ser:

a) eleição pelo voto popular. É feita nos Estados Unidos. O


juiz tem de fazer campanha e é eleito, numa eleição. Não
tem sentido o juiz fazer campanha, dever favores a
pessoas. O inconveniente é ser eleito alguém
despreparado e que não terá condições efetivas de
desempenhar as suas atribuições;
b) livre escolha pelo Executivo. É o exemplo da escolha dos
Ministros do STF pelo Presidente da República. Tem o
inconveniente de se escolher pessoa não preparada e de
se escolher um amigo do presidente;
c) nomeação pelo Poder Executivo. É o que ocorre nos
Tribunais de Justiça, em que é elaborada listra tríplice da
classe de advogados e do Ministério Público e o
Governador do Estado escolhe um juiz;
d) nomeação pelo Executivo, após aprovação pelo
Legislativo. É o que ocorre em tribunais superiores (STF,
STJ, STM e TST), em que a escolha é feita pelo
Presidente da República, mas há necessidade do ministro
passar por sabatina no Senado Federal;
e) livre nomeação pelo Poder Judiciário. O Poder Judiciário
nomeia livremente os seus integrantes. Pode favorecer a
criação de “panelas”, de se indicar pessoas que formam
grupos e que são amigas, ou “castas judiciárias”;
f) escolha por órgão especializado. A escolha é feita por
pessoas especializadas em assuntos de Direito, como
representantes dos três poderes do Estado e também
pela classe dos advogados;
g) escolha por concurso público. Ingressam na magistratura
as pessoas que passaram em concurso público de provas
e títulos, que podem ser consideradas melhor preparadas.

Independência política é a garantia do juiz para o exercício das


suas funções. São os exemplos da vitaliciedade, da inamovibilidade
e da irredutibilidade de subsídios.
3 VITALICIEDADE
Na vitaliciedade, o juiz não pode perder o cargo senão por sentença.
A vitaliciedade não significa que o juiz vai julgar até morrer, pois
existe a aposentadoria compulsória aos 75 anos ou por invalidez
permanente.
O juiz de primeiro grau obtém a vitaliciedade após dois anos de
exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de
deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais
casos, de sentença judicial transitada em julgado (art. 95, I, da
Constituição).
4 INAMOVIBILIDADE
Na inamovibilidade, o juiz não pode ser removido para outro local
sem o seu consentimento (art. 95, I, da Constituição). Não significa,
portanto, que o juiz vai exercer a magistratura sempre no mesmo
lugar.
O ato de remoção do juiz, por interesse público, precisará de
decisão por voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do
Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa (art. 93,
VIII, da Constituição).
5 IRREDUTIBILIDADE DE SUBSÍDIOS
Anteriormente se falava em irredutibilidade de vencimentos. Agora é
feita referência à irredutibilidade de subsídios (Emenda
Constitucional n. 19/98).
Subsídio era pagamento feito a quem exercia cargo eletivo.
Assim, como o salário é irredutível (art. 7º, VI, da Constituição),
os vencimentos dos funcionários públicos e os subsídios dos juízes
também o são. Não é possível que o juiz fique julgando sempre
recebendo o mesmo valor; este será atualizado periodicamente,
mas não poderá ser reduzido.
Entretanto, sobre os subsídios podem incidir tributos,
principalmente o imposto sobre a renda (art. 153, III, da
Constituição).
6 IMPEDIMENTOS
Os impedimentos são situações que importam que o juiz exercerá
suas funções com imparcialidade e independência.
O juiz não pode: I – exercer, ainda que em disponibilidade,
outro cargo ou função, salvo uma de magistério (art. 95, parágrafo
único, I, da Constituição); II – receber, a qualquer título ou pretexto,
custas ou participação em processo; III – dedicar-se à atividade
político-partidária; IV – receber, a qualquer título ou pretexto,
auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; V – exercer a
advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de
decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou
exoneração.
O Conselho Nacional de Justiça poderá apreciar, de ofício ou
mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos
praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo
desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as
providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo
da competência do Tribunal de Contas da União (art. 92, I-A, da
Constituição).
Capítulo 12
ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA
1 INTRODUÇÃO
Organização é a formação da estrutura de alguma coisa.
A organização judiciária é a estrutura do Poder Judiciário.
Compete à União legislar privativamente sobre direito
processual (art. 22, I, da Constituição).
A União e Estados têm competência concorrente para legislar
sobre “procedimentos em matéria processual” (art. 24, XI, da
Constituição). Os Estados organizarão a sua Justiça (art. 125 da
Constituição).
A magistratura é organizada em carreira (art. 93, I, da
Constituição).
No primeiro grau, de modo geral, os juízes atuam de forma
monocrática, isto é, sozinhos. Não atuam de forma colegiada.
Exceção são as Juntas Eleitorais e a Justiça Militar.
Juízo é o órgão do Poder Judiciário. É um órgão que é parte do
Poder Judiciário. O juízo pode ter mais de um juiz, como ocorre com
o juiz titular e o juiz auxiliar em Varas da Capital do Estado.
Juiz é a pessoa física que julga o processo, por estar investido
dessa condição pelo Estado.
Os tribunais são órgãos colegiados, integrados por vários
juízes.
A Justiça Federal, a Justiça do Trabalho, a Justiça Eleitoral e a
Justiça Militar são órgãos federais, instituídos por lei federal.
Como regra, a competência para julgar determinada matéria é
do primeiro grau, salvo se a Constituição ou a lei dispuser de forma
contrária.
Quando a lei não é expressa, a competência é da Justiça
Estadual, também chamada de Justiça Comum. A Constituição fixa
competência da Justiça Federal (art. 109), da Justiça do Trabalho
(art. 114), da Justiça Eleitoral e da Justiça Militar.
São órgãos do Poder Judiciário: o Supremo Tribunal Federal; o
Conselho Nacional de Justiça; o Superior Tribunal de Justiça; o
Tribunal Superior do Trabalho, os Tribunais Regionais Federais e
juízes federais; os tribunais e juízes do trabalho; os tribunais e juízes
eleitorais; os tribunais e juízes militares; os tribunais e juízes dos
Estados e do Distrito Federal e Territórios (art. 92 da Constituição).
2 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
O Supremo Tribunal Federal foi instituído pelo Decreto n. 848, de
1890.
O Supremo Tribunal Federal é o órgão de cúpula do Poder
Judiciário. É o guardião da Constituição. Tem sede em Brasília e
jurisdição sobre todo o território nacional.
Na Itália, a Corte Constitucional é encarregada de decidir
apenas as questões constitucionais do processo.
No Brasil, a questão constitucional pode ter um controle difuso
feito por qualquer juiz. Pode ser feito o controle concentrado perante
o Supremo Tribunal Federal, por meio da ação direita de
inconstitucionalidade ou pela ação declaratória de
constitucionalidade.
É composto de 11 ministros, escolhidos entre cidadãos com
mais de 35 e menos de 70 anos de idade, de notável saber jurídico
e reputação ilibada (art. 101 da Constituição). Serão nomeados pelo
Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria
absoluta do Senado Federal.
As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo
Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas
ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia
contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do
Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas
esferas federal, estadual e municipal.
No recurso extraordinário, o recorrente deverá demonstrar a
repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso,
nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do
recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois
terços de seus membros.
Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação
declaratória de constitucionalidade:

I– o Presidente da República;

II – a Mesa do Senado Federal;

III – a Mesa da Câmara dos Deputados;

IV – Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara


Legislativa do Distrito Federal;

V– o Governador de Estado ou do Distrito Federal;

VI – o Procurador-Geral da República;

VII – o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do


Brasil;

VIII – partido político com representação no Congresso


Nacional;

IX – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito


nacional.

O Procurador-Geral da República deverá ser previamente


ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos
de competência do Supremo Tribunal Federal.
Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para
tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder
competente para a adoção das providências necessárias e, em se
tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em 30 dias.
Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a
inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo,
citará, previamente, o Advogado-Geral da União, que defenderá o
ato ou texto impugnado.
O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por
provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros,
depois de reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar
súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá
efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário
e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal, bem como fazer a sua revisão ou
cancelamento, na forma estabelecida em lei.
A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a
eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja
controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a
administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e
relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.
Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a
aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser
provocada por aqueles que podem propor a ação direta de
inconstitucionalidade.
Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a
súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá
reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a
procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão
judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou
sem a aplicação da súmula, conforme o caso.
3 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
O Conselho Nacional de Justiça foi criado pela Emenda
Constitucional n. 45/2004. É composto de 15 membros com
mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo:

I– o Presidente do Supremo Tribunal Federal;

II – um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado


pelo respectivo tribunal;

III – um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado


pelo respectivo tribunal;

IV – um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado


pelo Supremo Tribunal Federal;

V– um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal


Federal;

VI – um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo


Superior Tribunal de Justiça;

VII – um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de


Justiça;

VIII – um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado


pelo Tribunal Superior do Trabalho;

IX – um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do


Trabalho;

X– um membro do Ministério Público da União, indicado


pelo Procurador-Geral da República;
XI – um membro do Ministério Público estadual, escolhido
pelo Procurador-Geral da República entre os nomes
indicados pelo órgão competente de cada instituição
estadual;

XII – dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da


Ordem dos Advogados do Brasil;

XIII – dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação


ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e
outro pelo Senado Federal (art. 103-B da
Constituição).

O Conselho será presidido pelo Presidente do Supremo


Tribunal Federal e, nas suas ausências e impedimentos, pelo Vice-
Presidente do Supremo Tribunal Federal.
Os demais membros do Conselho serão nomeados pelo
Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria
absoluta do Senado Federal.
Não efetuadas, no prazo legal, as indicações, caberá a escolha
ao Supremo Tribunal Federal.
Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e
financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres
funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que
lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:

I– zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo


cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo
expedir atos regulamentares, no âmbito de sua
competência, ou recomendar providências;

II – zelar pela observância do art. 37 da Constituição e


apreciar, de ofício ou mediante provocação, a
legalidade dos atos administrativos praticados por
membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo
desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se
adotem as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do
Tribunal de Contas da União;

III – receber e conhecer das reclamações contra membros


ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus
serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de
serviços notariais e de registro que atuem por
delegação do poder público ou oficializados, sem
prejuízo da competência disciplinar e correicional dos
tribunais, podendo avocar processos disciplinares em
curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a
aposentadoria com subsídios ou proventos
proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras
sanções administrativas, assegurada ampla defesa;

IV – representar ao Ministério Público, no caso de crime


contra a administração pública ou de abuso de
autoridade;

V– rever, de ofício ou mediante provocação, os processos


disciplinares de juízes e membros de tribunais
julgados há menos de um ano;

VI – elaborar semestralmente relatório estatístico sobre


processos e sentenças prolatadas, por unidade da
Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;

VII – elaborar relatório anual, propondo as providências que


julgar necessárias, sobre a situação do Poder
Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual
deve integrar mensagem do Presidente do Supremo
Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso
Nacional, por ocasião da abertura da sessão
legislativa.
O Ministro do Superior Tribunal de Justiça exercerá a função de
Ministro-Corregedor e ficará excluído da distribuição de processos
no Tribunal, competindo-lhe, além das atribuições que lhe forem
conferidas pelo Estatuto da Magistratura, as seguintes:

I– receber as reclamações e denúncias, de qualquer


interessado, relativas aos magistrados e aos serviços
judiciários;

II – exercer funções executivas do Conselho, de inspeção


e de correição geral;

III – requisitar e designar magistrados, delegando-lhes


atribuições, e requisitar servidores de juízos ou
tribunais, inclusive nos Estados, Distrito Federal e
Territórios.

Junto ao Conselho oficiarão o Procurador-Geral da República e


o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil.
4 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
O Superior Tribunal de Justiça é composto de 33 ministros.
Os ministros do Superior Tribunal de Justiça serão nomeados
pelo Presidente da República, entre brasileiros com mais de 35 e
menos de 70 anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada,
depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado
Federal, sendo:

I– um terço entre juízes dos Tribunais Regionais Federais


e um terço entre desembargadores dos Tribunais de
Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo
próprio Tribunal;

II – um terço, em partes iguais, entre advogados e


membros do Ministério Público Federal, Estadual, do
Distrito Federal e Territórios, alternadamente,
indicados na forma do art. 94 da Constituição.

Funcionarão junto ao Superior Tribunal de Justiça:

I– a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de


Magistrados, cabendo-lhe, entre outras funções,
regulamentar os cursos oficiais para o ingresso e
promoção na carreira;

II – o Conselho da Justiça Federal, cabendo-lhe exercer,


na forma da lei, a supervisão administrativa e
orçamentária da Justiça Federal de primeiro e
segundo graus, como órgão central do sistema e com
poderes correicionais, cujas decisões terão caráter
vinculante.
5 TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS E DOS
JUÍZES FEDERAIS
A Lei n. 6.010/66 organiza a Justiça Federal de primeira instância.
São órgãos da Justiça Federal:

I– os Tribunais Regionais Federais;

II – os Juízes Federais.

São seis os Tribunais Regionais Federais. São compostos de,


no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva
região e nomeados pelo Presidente da República entre brasileiros
com mais de 30 e menos de 70 anos, sendo:

I– um quinto entre advogados com mais de dez anos de


efetiva atividade profissional e membros do Ministério
Público Federal com mais de dez anos de carreira;

II – os demais, mediante promoção de juízes federais com


mais de cinco anos de exercício, por antiguidade e
merecimento, alternadamente.

A lei disciplinará a remoção ou a permuta de juízes dos


Tribunais Regionais Federais e determinará sua jurisdição e sede.
Os Tribunais Regionais Federais instalarão a justiça itinerante,
com a realização de audiências e demais funções da atividade
jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição,
servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.
Os Tribunais Regionais Federais poderão funcionar
descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de
assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as
fases do processo.
Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do
domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem
parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a
comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada
essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam
também processadas e julgadas pela justiça estadual.
Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será
sempre para o Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do
juiz de primeiro grau.
Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no
âmbito da Justiça Federal (§ 1º do art. 98 da Constituição).
Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o
Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais
de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar,
perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do
inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência
para a Justiça Federal.
Cada Estado, bem como o Distrito Federal, constituirá uma
seção judiciária que terá por sede a respectiva Capital, e varas
localizadas segundo o estabelecido em lei. Nos Territórios Federais,
a jurisdição e as atribuições cometidas aos juízes federais caberão
aos juízes da justiça local, na forma da lei.
6 TRIBUNAIS E JUÍZES DO TRABALHO
A Justiça do Trabalho foi criada em 1932. Passou a pertencer ao
Poder Judiciário a partir da Constituição de 1946.
São órgãos da Justiça do Trabalho:

I– o Tribunal Superior do Trabalho;

II – os Tribunais Regionais do Trabalho. São 24 os


Tribunais Regionais do Trabalho, divididos por regiões
e não necessariamente por Estados. Há dois Tribunais
Regionais do Trabalho no Estado de São Paulo: 2ª
Região (São Paulo, grande São Paulo, baixada
santista), 15ª Região, com sede em Campinas e
jurisdição sobre as demais cidades do Estado de São
Paulo;

III – juízes do trabalho.

O Tribunal Superior do Trabalho é composto de 27 ministros,


escolhidos entre brasileiros com mais de 35 e menos de 70 anos,
nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela
maioria absoluta do Senado Federal, sendo:

I– um quinto entre advogados com mais de dez anos de


efetiva atividade profissional e membros do Ministério
Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo
exercício, observado o disposto no art. 94 da
Constituição;

II – os demais entre juízes dos Tribunais Regionais do


Trabalho, oriundos da magistratura da carreira,
indicados pelo próprio Tribunal Superior. Na prática,
são três ministros oriundos da classe dos advogados e
três oriundos do Ministério Público do Trabalho.

A lei disporá sobre a competência do Tribunal Superior do


Trabalho. É a Lei n. 7.701/88 que estabelece a competência do TST.
Funcionarão junto ao Tribunal Superior do Trabalho:

I– a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de


Magistrados do Trabalho, cabendo-lhe, entre outras
funções, regulamentar os cursos oficiais para o
ingresso e promoção na carreira;

II – o Conselho Superior da Justiça do Trabalho, cabendo-


lhe exercer, na forma da lei, a supervisão
administrativa, orçamentária, financeira e patrimonial
da Justiça do Trabalho de primeiro e segundo graus,
como órgão central do sistema, cujas decisões terão
efeito vinculante.

A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas


comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de
direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do
Trabalho.
A lei disporá sobre a constituição, investidura, jurisdição,
competência, garantias e condições de exercício dos órgãos da
Justiça do Trabalho (art. 113 da Constituição).
Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger
árbitros.
Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à
arbitragem, é facultado a elas, de comum acordo, ajuizar dissídio
coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho
decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de
proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente
(§ 2º do art. 114 da Constituição).
Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de
lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá
ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o
conflito (§ 3º do art. 114 da Constituição).
Os Tribunais Regionais do Trabalho são compostos de, no
mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva
região, e nomeados pelo Presidente da República entre brasileiros
com mais de 30 e menos de 70 anos, sendo:

I– um quinto entre advogados com mais de dez anos de


efetiva atividade profissional e membros do Ministério
Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo
exercício, observado o disposto no art. 94 da
Constituição;

II – os demais, mediante promoção de juízes do trabalho


por antiguidade e merecimento, alternadamente.

Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão a justiça


itinerante, com a realização de audiências e demais funções de
atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição,
servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.
Nos tribunais de até oito juízes, o presidente do Tribunal exerce
a função de presidente e corregedor.
Poderão funcionar os Tribunais Regionais do Trabalho
descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de
assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as
fases do processo.
A Emenda Constitucional n. 24/99 extinguiu os juízes classistas
de todos os graus. Nas Varas do Trabalho, a jurisdição é exercida
por um juiz singular (art. 116 da Constituição).
7 TRIBUNAIS E JUÍZES ELEITORAIS
A Justiça Eleitoral foi criada em 1932.
São órgãos da Justiça Eleitoral:

I– o Tribunal Superior Eleitoral;

II – os Tribunais Regionais Eleitorais;

III – os Juízes Eleitorais;

IV – as Juntas Eleitorais.

O Tribunal Superior Eleitoral será composto, no mínimo, de sete


membros, escolhidos:

I – mediante eleição, pelo voto secreto:


a) três juízes entre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;
b) dois juízes entre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;
II – por nomeação do Presidente da República, dois juízes entre seis
advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo
Supremo Tribunal Federal.

O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-


Presidente entre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o
Corregedor Eleitoral entre os Ministros do Superior Tribunal de
Justiça.
Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na Capital de cada
Estado e no Distrito Federal.
Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão:

I – mediante eleição, pelo voto secreto:


a) de dois juízes entre os desembargadores do Tribunal de Justiça;
b) de dois juízes, entre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de
Justiça;
II – de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do
Estado ou no Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido,
em qualquer caso, pelo Tribunal Regional Federal respectivo;
III – por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes entre
seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados
pelo Tribunal de Justiça.

O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-


Presidente entre os desembargadores.
Lei complementar disporá sobre a organização e competência
dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais.
Os membros dos tribunais, os juízes de direito e os integrantes
das juntas eleitorais, no exercício de suas funções, e no que lhes for
aplicável, gozarão de plenas garantias e serão inamovíveis.
Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado,
servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios
consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na mesma ocasião e
pelo mesmo processo, em número igual para cada categoria.
São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral,
salvo as que contrariarem esta Constituição e as denegatórias de
habeas corpus ou mandado de segurança.
Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente
caberá recurso quando:

I– forem proferidas contra disposição expressa desta


Constituição ou de lei;

II – ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois


ou mais tribunais eleitorais;
III – versarem sobre inelegibilidade ou expedição de
diplomas nas eleições federais ou estaduais;

IV – anularem diplomas ou decretarem a perda de


mandatos eletivos federais ou estaduais;

V– denegarem habeas corpus, mandado de segurança,


habeas data ou mandado de injunção.
8 TRIBUNAIS E JUÍZES MILITARES
São órgãos da Justiça Militar:

I– o Superior Tribunal Militar;

II – os Tribunais e juízes militares instituídos por lei.

O Superior Tribunal Militar será composto de 15 Ministros


vitalícios, nomeados pelo Presidente da República, depois de
aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três entre oficiais-
generais da Marinha, quatro entre oficiais-generais do Exército, três
entre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto
mais elevado da carreira, e cinco entre civis. Os Ministros civis
serão escolhidos pelo Presidente da República entre brasileiros
maiores de 35 anos e menos de 70 anos de idade, sendo:

I– três entre advogados de notório saber jurídico e


conduta ilibada, com mais de dez anos de efetiva
atividade profissional;

II – dois, por escolha paritária, entre juízes auditores e


membros do Ministério Público da Justiça Militar.

A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a


competência da Justiça Militar.
9 TRIBUNAIS E JUÍZES DOS ESTADOS
Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios
estabelecidos na Constituição.
A competência dos tribunais será definida na Constituição do
Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do
Tribunal de Justiça.
Cabe aos Estados a instituição de representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou
municipais em relação à Constituição Estadual, vedada a atribuição
da legitimação para agir a um único órgão.
A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de
Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau,
pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo
grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça
Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil
integrantes.
Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os
militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei, e as
ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal
competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais
e da graduação das praças.
Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar,
singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações
judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de
Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os
demais crimes militares.
O Tribunal de Justiça poderá funcionar descentralizadamente,
constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso
do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo.
O Tribunal de Justiça instalará a justiça itinerante, com a
realização de audiências e demais funções da atividade
jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição,
servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.
Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça proporá a
criação de varas especializadas, com competência exclusiva para
questões agrárias. Sempre que necessário à eficiente prestação
jurisdicional, o juiz far-se-á presente no local do litígio.
Nas Justiças estaduais, geralmente, há entrâncias. Entrância é
uma divisão processual em razão do número de processos em certa
localidade, população, número de eleitores e receita tributária. A
Capital do Estado tem o foro central e pode ter os foros regionais. É
a entrância especial. Cada foro pode ter varas cíveis, criminais, de
família, da infância e juventude, de falência etc. Nas comarcas do
interior, pode haver a divisão em circunscrições judiciais, que
representam a reunião de comarcas contíguas da mesma região,
uma das quais será a sua sede. Geralmente, há uma entrância
inicial, depois entrância intermediária e depois a entrância final ou
especial, que é a Capital do Estado.
Instância é grau de jurisdição. Primeira instância é a Vara.
Segunda instância é o Tribunal do Estado, Regional etc.
Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais e do
Trabalho, dos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e
Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com
mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber
jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva
atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de
representação das respectivas classes (art. 94 da Constituição). É o
que se chama de quinto constitucional. Recebidas as indicações, o
tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que,
nos vinte dias subsequentes, escolherá um de seus integrantes para
nomeação.
As decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em
sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria
absoluta de seus membros.
Nos tribunais com número superior a 25 julgadores, poderá ser
constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de 25
membros, para o exercício das atribuições administrativas e
jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno,
provendo-se metade das vagas por antiguidade e a outra metade
por eleição pelo tribunal pleno.
Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou
dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais
declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público (art. 97 da Constituição). O STF chama isso de reserva de
plenário. Viola “a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a
decisão de órgão fracionário de Tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do
poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte” (Súmula
Vinculante 10 do STF).
A atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias
coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos
dias em que não houver expediente forense normal, juízes em
plantão permanente. Os juízes gozarão de férias individuais. Nos
Tribunais Superiores, haverá férias coletivas de 2 a 31 de janeiro e
de 2 a 31 de julho.
O número de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à
efetiva demanda judicial e à respectiva população.
Os servidores receberão delegação para a prática de atos de
administração e atos de mero expediente sem caráter decisório.
A distribuição de processos será imediata, em todos os graus
de jurisdição.
10 CARREIRA DA MAGISTRATURA
Na magistratura estadual, a carreira é geralmente assim: juiz
substituto, juiz de direito de entrância inicial, juiz de direito de
entrância intermediária, juiz de direito de entrância especial ou final,
juiz substituto de segunda instância (também chamado de pinguim,
porque só entra em fria) e desembargador.
Nos Tribunais Regionais Federais e do Trabalho, há o juiz
substituto, o juiz titular de Vara e desembargador.
O ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz
substituto, mediante concurso público de provas e títulos, com a
participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases,
exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de
atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de
classificação.
Na promoção de entrância para entrância, alternadamente, por
antiguidade e merecimento, devem ser atendidas as seguintes
normas:

a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes


consecutivas ou cinco alternadas em lista de
merecimento;
b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de
exercício na respectiva entrância e integrar o juiz a
primeira quinta parte da lista de antiguidade desta, salvo
se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar
vago;
c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos
critérios objetivos de produtividade e presteza no
exercício da jurisdição e pela frequência e aproveitamento
em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento;
na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá
d)
recusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado de dois
terços de seus membros, conforme procedimento próprio,
e assegurada ampla defesa, repetindo-se a votação até
fixar-se a indicação;
e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver
autos em seu poder além do prazo legal, não podendo
devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou
decisão. Na Justiça do Trabalho e Federal não há
entrâncias.

O critério objetivo de promoção é a antiguidade. Será


promovido o mais antigo, alternadamente. Esse critério tem a
característica de promover o juiz mais antigo, pois, do contrário,
essa pessoa poderia ser preterida pelo critério do merecimento, por
ser o mais antigo, e nunca seria promovida. Na apuração da
antiguidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz mais antigo
pelo voto fundamentado de dois terços de seus membros, conforme
procedimento próprio, repetindo-se a votação até fixar-se a
indicação (art. 93, II, d, da Constituição).
A aferição do merecimento é feita pelo desempenho e pelos
critérios objetivos de produtividade e da presteza no exercício da
jurisdição e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou
reconhecidos de aperfeiçoamento (art. 93, II, c, da Constituição). Os
tribunais devem ter cursos oficiais de preparação e aperfeiçoamento
de magistrados como requisito para ingresso e promoção na
carreira. Uma forma de aferir o aperfeiçoamento dos magistrados é
o fato de terem concluído especialização, mestrado ou doutorado,
com apresentação de dissertação ou tese, que são cursos
reconhecidos oficialmente e trazem aperfeiçoamento profissional.
Nem sempre, porém, os juízes têm condições de aprimorar
seus conhecimentos. Primeiro, porque, muitas vezes, estão
distantes dos grandes centros, em localidades onde não existem
cursos a frequentar. Segundo, em razão do número excessivo de
processos a julgar, como é exemplo o dos magistrados da Justiça
Estadual, com jurisdição sobre varas do interior, que julgam várias
matérias ao mesmo tempo, como penal, civil, tributária,
administrativa e, dependendo do caso, até trabalhista.
É, portanto, difícil de apurar o critério de merecimento.
Afirma Vantuil Abdala que a escolha do promovido por
merecimento deve ser adequada, pois, “quando se escolhe o ruim,
exalta-se a ruindade; quando se promove o capaz, exalta-se a
capacidade”.
Há de se lembrar de que quando se escolhe um dos que menos
mérito tinha, ele passa a ser o paradigma. É natural que os mais
novos assim pensem: se ele foi promovido por merecimento, eu
posso e devo ser como ele. “Se não se homenageia o justo, não se
faz e nem se alcança justiça”32.
Na vigência da Carta Magna anterior, o juiz candidato à
promoção por merecimento para o tribunal não precisava estar na
primeira quinta parte da lista de antiguidade. Isso ocasionava que
juízes muito mais novos passassem à frente de magistrados mais
experientes e antigos, que, igualmente, possuíam merecimento.
Tinha o aspecto positivo de que juízes excepcionais não precisavam
estar na quinta parte da lista para serem promovidos, o que indicava
justiça.
Dispõe a alínea b do inciso II do art. 93 da Constituição de
1988, que a promoção por merecimento do juiz pressupõe dois anos
de exercício na respectiva entrância. Deve ele integrar a primeira
quinta parte da lista de antiguidade, salvo se não houver com tais
requisitos quem aceite o lugar vago.
O STF já entendeu que “inexistentes juízes que atendam as
condições cumulativas previstas na alínea b, do inciso II do artigo 93
da Lei Básica Federal em número suficiente a feitura da lista tríplice,
apura-se a primeira quinta parte dos mais antigos, considerados
todos os magistrados, isto para os lugares remanescentes na lista
de merecimento” (Tribunal Pleno, ADIn 581/DF, j. 12-8-1992, Rel.
Min. Marco Aurélio, RTJ 144, p. 14).
O inciso II do art. 107 da Lei Maior de 1988 não exige que os
juízes federais estejam no primeiro quinto da lista de antiguidade
para serem promovidos para os Tribunais Regionais Federais, mas
apenas que a promoção seja feita por antiguidade e merecimento,
alternadamente. Esse dispositivo dá tratamento diferenciado ao da
previsão geral da alínea b do inciso II do art. 93 da Constituição e
não deveria existir.
O quinto às vezes pode ser oscilante. Ora é um número maior,
ora menor, em razão de temporariamente haver um número menor
de juízes titulares, pois há remoções em andamento e promoções
que serão feitas para recompor o quadro total de juízes, embora
exista o número total de varas.
Há argumentos no sentido de que se deve tomar para o cálculo
o número de cargos de juiz ou de varas, pois utilizar outro critério
cria incerteza, em razão de que o número do quinto ora é maior, ora
é menor.
A Lei Magna, porém, usa a expressão lista de antiguidade, e
não cargos de juiz ou varas existentes. Assim, deve-se tomar o
número total de juízes existentes na data da votação e dividir por
cinco.
O STF entende que se leva em conta o número de juízes na
quinta parte da lista, e não o número de cargos de juízes, que
podem ainda não estar providos (Pleno, ADIn 1.970/TO, Medida
Cautelar, j. 1º-7-1999, Rel. Min. Nelson Jobim, Informativo STF, n.
155).
Um segundo aspecto a considerar é que nem sempre o número
obtido na divisão será múltiplo de cinco, nos casos em que a divisão
não é exata.
Na Matemática, por convenção, quando o número depois da
vírgula é igual ou superior a cinco, o arredondamento é feito para o
número inteiro seguinte. Se o número é inferior a cinco, considera-
se o número anterior.
A dúvida ocorre exatamente quando o número não é inteiro, isto
é, o quinto corresponde a 26,4 e o candidato à promoção é o
número 27 na lista de antiguidade.
O STF já havia entendido que: “II – Um quinto da composição
dos Tribunais Regionais Federais será de advogados oriundos da
advocacia e do Ministério Público Federal. Essa é uma norma
constitucional expressa, que há de prevalecer sobre a norma
implícita que decorre da norma expressa, no sentido de que, se um
quinto é dos advogados e de Membros do Ministério Público
Federal, de hermenêutica – a norma expressa prevalece sobre a
norma implícita – força é convir que, se o número total da
composição não for múltiplo de cinco, arredonda-se a fração –
superior ou inferior a meio – para cima, obtendo-se, então, o número
inteiro seguinte. É que, se assim não for feito, o tribunal não terá na
sua composição, um quinto de juízes oriundos da advocacia e do
Ministério Público Federal, com descumprimento da norma
Constitucional” (Tribunal Pleno, MS 22.323/SP, Rel. Min. Carlos
Veloso, DJU 19-4-1996).
Assim, segundo o entendimento do STF, o critério a ser
utilizado é arredondar em qualquer caso o número para cima. Pouco
importa se a fração é superior ou inferior a meio.
Não se pode entender, portanto, que o juiz ora está dentro do
critério e ora está fora. É como afirmar que em um momento está
“com uma perna dentro e outra fora da lista”, daí por que o critério
do arredondamento, que traz mais certeza e segurança jurídicas.
O acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por
antiguidade e merecimento, alternadamente, apurados na última ou
única entrância.
Haverá previsão de cursos oficiais de preparação,
aperfeiçoamento e promoção de magistrados, constituindo etapa
obrigatória do processo de vitaliciamento a participação em curso
oficial ou reconhecido por escola nacional de formação e
aperfeiçoamento de magistrados.
O subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores
corresponderá a 95% do subsídio mensal fixado para os Ministros
do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais
magistrados serão fixados em lei e escalonados, em nível federal e
estadual, conforme as respectivas categorias da estrutura judiciária
nacional, não podendo a diferença entre uma e outra ser superior a
dez por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a 95% do
subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores, obedecido,
em qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, § 4º da
Constituição.
Os ministros de tribunais superiores serão aposentados
compulsoriamente aos 75 anos (art. 2º da Emenda Constitucional n.
88/2015) e também os demais membros do Poder Judiciário (art. 2º,
II, da Lei Complementar n. 152/2015).
Os juízes serão aposentados:

I – por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em que estiver


investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese em que será
obrigatória a realização de avaliações periódicas para verificação da
continuidade das condições que ensejaram a concessão da
aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo;
II – compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de
contribuição, aos 70 anos de idade, ou aos 75 anos de idade, na forma de
lei complementar;
III – no âmbito da União, aos 62 anos de idade, se mulher, e aos 65 anos
de idade, se homem, e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, na idade mínima estabelecida mediante emenda às
respectivas Constituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de
contribuição e os demais requisitos estabelecidos em lei complementar do
respectivo ente federativo.

Os proventos de aposentadoria e as pensões, por ocasião de


sua concessão, não poderão exceder a remuneração do respectivo
servidor, no cargo efetivo em que se deu a aposentadoria ou que
serviu de referência para a concessão da pensão.
O juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autorização
do tribunal.
O ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do
magistrado, por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto
da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional
de Justiça, assegurada ampla defesa.
11 ÓRGÃOS AUXILIARES DO PODER JUDICIÁRIO
Os órgãos auxiliares do Poder Judiciário são a Secretaria ou
cartório, o Distribuidor e a Contadoria.
O oficial de justiça não é exatamente órgão, mas cargo.
Entretanto, auxilia tanto na primeira instância, como nos tribunais.
A função do oficial de justiça é cumprir os mandados
determinados pelo juiz. Pode fazer avaliações.
Incumbe ao oficial de justiça:

I – fazer pessoalmente citações, prisões, penhoras, arrestos e demais


diligências próprias do seu ofício, sempre que possível na presença de
duas testemunhas, certificando no mandado o ocorrido, com menção ao
lugar, ao dia e à hora;
II – executar as ordens do juiz a que estiver subordinado;
III – entregar o mandado em cartório após seu cumprimento;
IV – auxiliar o juiz na manutenção da ordem;
V – efetuar avaliações, quando for o caso;
VI – certificar, em mandado, proposta de autocomposição apresentada
por qualquer das partes, na ocasião de realização de ato de comunicação
que lhe couber.

Incumbe ao escrivão ou ao chefe de secretaria:

I – redigir, na forma legal, os ofícios, os mandados, as cartas precatórias


e os demais atos que pertençam ao seu ofício;
II – efetivar as ordens judiciais, realizar citações e intimações, bem como
praticar todos os demais atos que lhe forem atribuídos pelas normas de
organização judiciária;
III – comparecer às audiências ou, não podendo fazê-lo, designar servidor
para substituí-lo;
IV – manter sob sua guarda e responsabilidade os autos, não permitindo
que saiam do cartório, exceto:
a) quando tenham de seguir à conclusão do juiz;
b) com vista a procurador, à Defensoria Pública, ao Ministério Público ou
à Fazenda Pública;
c) quando devam ser remetidos ao contabilista ou ao partidor;
d) quando forem remetidos a outro juízo em razão da modificação da
competência;
V – fornecer certidão de qualquer ato ou termo do processo,
independentemente de despacho, observadas as disposições referentes
ao segredo de justiça;
VI – praticar, de ofício, os atos meramente ordinatórios.

O depositário público guarda e conserva bens que estejam sob


a sujeição do juízo, como bens penhorados, arrestados,
sequestrados, apreendidos, dados em fiança no processo criminal
(art. 331 do CPP).

11.1 Distribuidor
Existindo mais de uma Vara na localidade, haverá um distribuidor,
para a distribuição equitativa dos processos entrados. Os
distribuidores podem fornecer certidões ou recibos da distribuição.
Nos tribunais também há distribuidor, visando distribuir o mesmo
número de processos para cada um dos juízes.

11.2 Contadoria
O contador faz os cálculos de juros, correção monetária, custas e
impostos a pagar, no inventário, e outras determinações atribuídas
pelo juiz.
Capítulo 13
MINISTÉRIO PÚBLICO
1 DENOMINAÇÃO
A expressão Ministério Público pode ter sentido amplo ou restrito.
Em sentido amplo, é referente a toda pessoa que exerce função
pública. Em sentido estrito, era a função de ofício ou de um
magistrado específico, incumbido do dever de exercitar um
provimento legislativo no século XVIII.
2 EVOLUÇÃO
Na Constituição de 1934, o Ministério Público apenas era
considerado como órgão de cooperação nas atividades
governamentais.
A Constituição de 1946 incluiu o referido órgão no capítulo do
Poder Judiciário.
A Lei n. 1.341/51 era a Lei Orgânica do Ministério Público da
União. O art. 66 previa a incumbência dos procuradores do trabalho
para “exarar parecer nos processos de dissídios individuais e
coletivos e demais controvérsias, oriundas de relações de trabalho,
regidas por lei especial”.
Na Constituição de 1967, o Ministério Público era incluído como
órgão do Poder Judiciário. Na Itália, as funções do Ministério Público
pertencem ao Poder Judiciário. Ora a pessoa desenvolve função de
juiz (magistratura judicante), ora de órgão do Ministério Público
(magistratura requerente).
O Ministério Público era órgão do Poder Executivo na Emenda
Constitucional n. 1/69 (arts. 94 a 96).
Com a promulgação da Constituição de 1988, o Ministério
Público passou a ser considerado uma “instituição permanente,
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis” (art. 127 da Lei Maior). Não há dúvida de
que o Ministério Público desempenha importante papel de defesa da
Constituição e de fiscal da lei. Interesse social, contido no art. 127
da Constituição, é o interesse de toda a sociedade.
Não é mais o Ministério Público órgão do Executivo, mas um
órgão executivo. Não está mais subordinado às ordens do Poder
Executivo. É um órgão que está fora dos demais poderes. Tem,
portanto, autonomia. É um órgão independente. Atua o Ministério
Público em defesa da sociedade. Na verdade, tem a função de
“contrapoder”.
Exerce o Ministério Público função essencial à justiça, ao lado
da Advocacia-Geral da União e da Defensoria Pública.
3 PRINCÍPIOS
São princípios do Ministério Público:

a) a unidade: a instituição é una e indivisível. Todos os


membros fazem parte de um todo. Nada impede que um
promotor substitua o outro, pois na verdade está-se diante
do Ministério Público;
b) a indivisibilidade: o Ministério Público não pode ser
dividido;
c) a independência funcional: cada promotor ou
procurador age de acordo com a sua consciência, não
tendo subordinação aos juízes ou ao Poder Executivo.
4 DIVISÃO
O Ministério Público pode ser dividido em:

I – Ministério Público da União, compreendendo:


a) o Ministério Público Federal (procurador da República);
b) o Ministério Público do Trabalho (procurador do trabalho);
c) o Ministério Público Militar;
d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;
II – Ministérios Públicos dos Estados (promotores e procuradores de
Justiça).

Têm os membros do Ministério Público as garantias da


vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o
cargo senão mediante sentença judicial transitada em julgado;
inamovibilidade do cargo, salvo por motivo de interesse público, por
intermédio de decisão do órgão colegiado do Ministério Público, por
voto de dois terços de seus membros, porém assegurada ampla
defesa; irredutibilidade dos subsídios (art. 128, § 5º, I, da Norma
Ápice).
O chefe do Ministério Público da União será o Procurador-Geral
da República, nomeado pelo Presidente da República.
A Lei Complementar n. 75, de 20-5-1993, regulou de maneira
geral o Ministério Público da União. O Ministério Público Federal é
tratado nos arts. 37 a 82. Os arts. 83 a 115 estabelecem do
Ministério Público do Trabalho. O Ministério Público Militar é tratado
nos arts. 83 a 115. Os arts. 149 a 181 versam sobre o Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios.
São órgãos do Ministério Público Federal:
I– o Procurador-Geral da República;

II – o Colégio de Procuradores da República;

III – o Conselho Superior do Ministério Público Federal;

IV – as Câmaras de Coordenação e Revisão do Ministério


Público Federal;

V– a Corregedoria do Ministério Público Federal;

VI – os Subprocuradores-Gerais da República;

VII – os Procuradores Regionais da República;

VIII – os Procuradores da República.

As Câmaras de Coordenação e Revisão poderão funcionar


isoladas ou reunidas, integrando Conselho Institucional, conforme
dispuser o seu regimento (parágrafo único do art. 43 da Lei
Complementar n. 75/93).
O Ministério Público do Trabalho é composto pelos seguintes
órgãos (art. 85 da Lei Complementar n. 75/93):

a) Procurador-Geral do Trabalho;
b) Colégio de Procuradores do Trabalho;
c) Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho;
d) Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público
do Trabalho;
e) Corregedoria do Ministério Público do Trabalho;
f) Subprocuradores-Gerais do Trabalho;
g) Procuradores Regionais do Trabalho;
h) Procuradores do Trabalho.
A carreira do Ministério Público do Trabalho será constituída
pelos cargos de Subprocurador-Geral do Trabalho, Procurador
Regional do Trabalho e Procurador do Trabalho. O cargo inicial da
carreira é o de Procurador do Trabalho e o do último nível o de
Subprocurador-Geral do Trabalho. As promoções serão feitas,
alternadamente, por merecimento e antiguidade.
O Procurador-Geral do Trabalho é o chefe do Ministério Público
do Trabalho (art. 87 da Lei Complementar n. 75/93), exercendo seu
ofício perante o Plenário do TST (art. 90), instância em que os
Subprocuradores-Gerais oficiarão (art. 107). Os Procuradores
Regionais do Trabalho atuam nos Tribunais Regionais do Trabalho
(art. 110). Os Procuradores do Trabalho serão designados para
funcionar junto aos Tribunais Regionais do Trabalho e, na forma das
leis processuais, nos litígios trabalhistas que compreendam,
especialmente, interesses de menores e incapazes (art. 112).
5 MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL
A Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993, institui a Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público. Trata de normas gerais para a
organização do Ministério Público dos Estados.
Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional,
administrativa e financeira, cabendo-lhe, especialmente:

I– praticar atos próprios de gestão;

II – praticar atos e decidir sobre a situação funcional e


administrativa do pessoal, ativo e inativo, da carreira e
dos serviços auxiliares, organizados em quadros
próprios;

III – elaborar suas folhas de pagamento e expedir os


competentes demonstrativos;

IV – adquirir bens e contratar serviços, efetuando a


respectiva contabilização;

V– propor ao Poder Legislativo a criação e a extinção de


cargos, bem como a fixação e o reajuste dos
vencimentos de seus membros;

VI – propor ao Poder Legislativo a criação e a extinção dos


cargos de seus serviços auxiliares, bem como a
fixação e o reajuste dos vencimentos de seus
servidores;

VII – prover os cargos iniciais da carreira e dos serviços


auxiliares, bem como nos casos de remoção,
promoção e demais formas de provimento derivado;
VIII – editar atos de aposentadoria, exoneração e outros que
importem em vacância de cargos e carreira e dos
serviços auxiliares, bem como os de disponibilidade de
membros do Ministério Público e de seus servidores;

IX – organizar suas secretarias e os serviços auxiliares das


Procuradorias e Promotorias de Justiça;

X– compor os seus órgãos de administração;

XI – elaborar seus regimentos internos;

XII – exercer outras competências dela decorrentes.

As decisões do Ministério Público fundadas em sua autonomia


funcional, administrativa e financeira, obedecidas as formalidades
legais, têm eficácia plena e executoriedade imediata, ressalvada a
competência constitucional do Poder Judiciário e do Tribunal de
Contas.
O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária
dentro dos limites estabelecidos na Lei de Diretrizes Orçamentárias,
encaminhando-a diretamente ao Governador do Estado, que a
submeterá ao Poder Legislativo.
Os recursos correspondentes às suas dotações orçamentárias
próprias e globais, compreendidos os créditos suplementares e
especiais, ser-lhe-ão entregues até o dia 20 de cada mês, sem
vinculação a qualquer tipo de despesa.
A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e
patrimonial do Ministério Público, quanto à legalidade, legitimidade,
economicidade, aplicação de dotações e recursos próprios e
renúncia de receitas, será exercida pelo Poder Legislativo, mediante
controle externo e pelo sistema de controle interno estabelecido na
Lei Orgânica.
São órgãos da Administração Superior do Ministério Público:
I– a Procuradoria-Geral de Justiça;

II – o Colégio de Procuradores de Justiça;

III – o Conselho Superior do Ministério Público;

IV – a Corregedoria-Geral do Ministério Público.

São também órgãos de Administração do Ministério Público:

I– as Procuradorias de Justiça;

II – as Promotorias de Justiça (art. 5º da Lei n. 8.625/93).

São órgãos de execução do Ministério Público:

I– o Procurador-Geral de Justiça;

II – o Conselho Superior do Ministério Público;

III – os Procuradores de Justiça;

IV – os Promotores de Justiça.

Os promotores de Justiça atuam no primeiro grau, no cível, ou


criminal, no meio ambiente etc.
Os procuradores de Justiça atuam perante o segundo grau,
onde dão pareceres.
São órgãos auxiliares do Ministério Público, além de outros
criados pela Lei Orgânica:

I– os Centros de Apoio Operacional;

II – a Comissão de Concurso;

III – o Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional;


IV – os órgãos de apoio administrativo;

V– os estagiários.

Além das atribuições previstas nas Constituições da República


e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, compete ao
Procurador-Geral de Justiça:

I– representar aos Tribunais locais por


inconstitucionalidade de leis ou atos normativos
estaduais ou municipais, contra a Constituição
Estadual;

II – representar para fins de intervenção do Estado no


Município, com o objetivo de assegurar a observância
de princípios indicados na Constituição Estadual ou
prover a execução de lei, de ordem ou de decisão
judicial;

III – representar o Ministério Público nas sessões plenárias


dos Tribunais;

IV – ajuizar ação penal de competência originária dos


Tribunais, nela oficiando;

V– oficiar nos processos de competência originária dos


Tribunais, nos limites estabelecidos na Lei Orgânica;

VI – determinar o arquivamento de representação, notícia


de crime, peças de informação, conclusão de
comissões parlamentares de inquérito ou inquérito
policial, nas hipóteses de suas atribuições legais;

VII – exercer as atribuições do art. 129, II e III, da


Constituição, quando a autoridade reclamada for o
Governador do Estado, o Presidente da Assembleia
Legislativa ou os Presidentes de Tribunais, bem como
quando contra estes, por ato praticado em razão de
suas funções, deva ser ajuizada a competente ação;

VIII – delegar a membro do Ministério Público suas funções


de órgão de execução.

Cabe ao Conselho Superior do Ministério Público rever o


arquivamento de inquérito civil, na forma da lei (art. 30 da Lei n.
8.625/93).
Cabe aos Procuradores de Justiça exercer as atribuições junto
aos Tribunais, desde que não cometidas ao Procurador-Geral de
Justiça, e inclusive por delegação deste (art. 31 da Lei n. 8.625/93).
Além de outras funções cometidas nas Constituições da
República e Estadual, na Lei Orgânica e demais leis, compete aos
Promotores de Justiça, dentro de suas esferas de atribuições:

I– impetrar habeas corpus e mandado de segurança e


requerer correição parcial, inclusive perante os
Tribunais locais competentes;

II – atender a qualquer do povo, tomando as providências


cabíveis;

III – oficiar perante a Justiça Eleitoral de primeira instância,


com as atribuições do Ministério Público Eleitoral
previstas na Lei Orgânica do Ministério Público da
União que forem pertinentes, além de outras
estabelecidas na legislação eleitoral e partidária.

São funções institucionais do Ministério Público:

I– promover, privativamente, a ação penal pública, na


forma da lei;

II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos


serviços de relevância pública aos direitos
assegurados nesta Constituição, promovendo as
medidas necessárias a sua garantia;

III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a


proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

IV – promover a ação de inconstitucionalidade ou


representação para fins de intervenção da União e dos
Estados, nos casos previstos nesta Constituição;

V– defender judicialmente os direitos e interesses das


populações indígenas;

VI – expedir notificações nos procedimentos


administrativos de sua competência, requisitando
informações e documentos para instruí-los, na forma
da lei complementar respectiva;

VII – exercer o controle externo da atividade policial, na


forma da lei complementar;

VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de


inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos
de suas manifestações processuais;

IX – exercer outras funções que lhe forem conferidas,


desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe
vedada a representação judicial e a consultoria jurídica
de entidades públicas.

A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas


acima não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o
disposto na Constituição e na lei.
Como fiscal da lei (custos legis) o Ministério Público oficia: a)
em casos de incapazes; b) em casos de direito de família; c) no
usucapião; d) em falências e recuperações judiciais; e) em
mandados de segurança; f) em habeas corpus; g) em registros
públicos.
As funções de Ministério Público só podem ser exercidas por
integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da
respectiva lotação.
As funções do Ministério Público só podem ser exercidas por
integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da
respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição.
O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante
concurso público de provas e títulos, assegurada a participação da
Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do
bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e
observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação.
A distribuição de processos no Ministério Público será imediata.
O Ministério Público pode atuar como curador de menores, de
fundações, de registros públicos etc.
Gozará o Ministério Público de prazo em dobro para manifestar-
se nos autos, que terá início a partir de sua intimação pessoal (art.
180 do CPC).
É nulo o processo quando o membro do Ministério Público não
for intimado a acompanhar o feito em que deva intervir (art. 279 do
CPC).
6 IMPEDIMENTOS
Os membros do Ministério Público estão impedidos de: exercer
representação judicial e consultoria de entidades públicas (art. 129,
IX, da Constituição); exercer a advocacia (art. 128, § 5º, I, b, da
Constituição); receber honorários, porcentuais ou custas; participar
de sociedade comercial; exercer outra função pública, salvo uma de
magistério; exercer atividades político-partidárias; receber a
qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas
físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções
previstas em lei.
Estão sujeitos os membros do Ministério Público à quarentena,
ou seja, não podem exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual
se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento (art. 128,
§ 6º, da Constituição).
7 CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO
PÚBLICO
O Conselho Nacional do Ministério Público foi criado pela Emenda
Constitucional n. 45/2004. É composto de 14 membros nomeados
pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela
maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois
anos, admitida uma recondução, sendo:

I– o Procurador-Geral da República, que o preside;

II – quatro membros do Ministério Público da União,


assegurada a representação de cada uma de suas
carreiras;

III – três membros do Ministério Público dos Estados;

IV – dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal


Federal e outro pelo Superior Tribunal de Justiça;

V– dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da


Ordem dos Advogados do Brasil;

VI – dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação


ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e
outro pelo Senado Federal (art. 130-A da
Constituição).

Os membros do Conselho oriundos do Ministério Público serão


indicados pelos respectivos Ministérios Públicos, na forma da lei.
Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o controle
da atuação administrativa e financeira do Ministério Público e do
cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo-
lhe:
I– zelar pela autonomia funcional e administrativa do
Ministério Público, podendo expedir atos
regulamentares, no âmbito de sua competência, ou
recomendar providências;

II – zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício


ou mediante provocação, a legalidade dos atos
administrativos praticados por membros ou órgãos do
Ministério Público da União e dos Estados, podendo
desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se
adotem as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, sem prejuízo da competência dos
Tribunais de Contas;

III – receber e conhecer das reclamações contra membros


ou órgãos do Mi nistério Público da União ou dos
Estados, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem
prejuízo da competência disciplinar e correicional da
instituição, podendo avocar processos disciplinares em
curso, determinar a remoção, a disponibilidade ou a
aposentadoria com subsídios ou proventos
proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras
sanções administrativas, assegurada ampla defesa;

IV – rever, de ofício ou mediante provocação, os processos


disciplinares de membros do Ministério Público da
União ou dos Estados julgados há menos de um ano;

V– elaborar relatório anual, propondo as providências que


julgar necessárias sobre a situação do Ministério
Público no País e as atividades do Conselho, o qual
deve integrar a mensagem prevista no art. 84, XI.

O Conselho escolherá, em votação secreta, um Corregedor


nacional, entre os membros do Ministério Público que o integram,
vedada a recondução, competindo-lhe, além das atribuições que lhe
forem conferidas pela lei, as seguintes:

I– receber reclamações e denúncias, de qualquer


interessado, relativas aos membros do Ministério
Público e dos seus serviços auxiliares;

II – exercer funções executivas do Conselho, de inspeção


e correição geral;

III – requisitar e designar membros do Ministério Público,


delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores de
órgãos do Ministério Público.

O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados


do Brasil oficiará junto ao Conselho.
Leis da União e dos Estados criarão ouvidorias do Ministério
Público competentes para receber reclamações e denúncias de
qualquer interessado contra membros ou órgãos do Ministério
Público, inclusive contra seus serviços auxiliares, representando
diretamente ao Conselho Nacional do Ministério Público.
Capítulo 14
ADVOGADO
1 DENOMINAÇÃO
A denominação de advogado é privativa do bacharel em Direito
inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil.
Jurista não é a pessoa que toma dinheiro a juros, mas o
especialista em Direito, como o professor de direito, o consultor, o
advogado especializado etc.
2 EVOLUÇÃO LEGISLATIVA
A Ordem dos Advogados do Brasil foi criada pelo art. 17 do Decreto
n. 19.408, de 18 de novembro de 1930.
A Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963, dispunha sobre o
Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil.
A Lei n. 5.390, de 23 de fevereiro de 1968, tratava da inscrição,
como solicitador acadêmico, na Ordem dos Advogados do Brasil e
dispensava de estágio profissional e Exame de Ordem.
O Decreto-lei n. 505, de 18 de março de 1969, rezava sobre a
inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, como solicitador
acadêmico.
A Lei n. 5.681, de 20 de julho de 1971, alterava a redação de
dispositivos da Lei n. 4.215/63.
A Lei n. 5.842, de 6 de dezembro de 1972, dispunha sobre o
estágio nos cursos de graduação em Direito e dava outras
providências.
A Lei n. 5.960, de 10 de dezembro de 1973, prescrevia sobre a
inscrição na OAB.
A Lei n. 6.743, de 5 de dezembro de 1979, introduzia parágrafo
no art. 84 da Lei n. 4.215/63, excluindo da incompatibilidade prevista
no caput do artigo os vice-prefeitos municipais.
A Lei n. 6.884, de 9 de dezembro de 1980, alterava dispositivos
da Lei n. 4.215/63, principalmente os relativos à fixação do valor das
anuidades e taxas devidas aos órgãos fiscalizadores do exercício da
profissão. O Decreto n. 88.147, de 8 de março de 1983,
regulamentava a Lei n. 6.884/83.
A primeira Constituição a tratar do advogado é a Constituição
de 1988.
O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo
inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão,
nos limites da lei (art. 133 da Constituição). A inviolabilidade do
advogado é para os seus atos e manifestações no exercício da
profissão, e não fora dela, mas, também, nos limites estabelecidos
na lei. Na verdade, a inviolabilidade é uma proteção para o cliente,
pois este fornece documentos ao advogado e apresenta
informações, que não podem ser reveladas para outras pessoas. O
Supremo Tribunal Federal, analisando processo de habeas corpus,
entendeu que não há necessidade de causídico para se impetrar
esse remédio heroico, em razão de sua natureza urgente, pois o
paciente pode estar preso, regra prevista no art. 654 do CPP. De
maneira incidental foi analisado o art. 791 da CLT, entendendo-se
que este continua vigente (STF, Pleno, vu, HC 67.390-2/PR, Rel.
Min. Moreira Alves, j. 13-12-1989, DJU, I, 6-4-1990, p. 2.626). Nesse
processo, o Ministro Celso de Mello aduziu que o sentido
institucional da indispensabilidade do advogado deve ser
interpretado como o causídico ser imprescindível na composição
das cortes da Justiça e no processo de escolha dos membros dos
tribunais pelo quinto constitucional (art. 94 da Lei Maior). A
indispensabilidade do advogado também existe na necessidade da
sua participação nos concursos públicos para o cargo de juiz
substituto (art. 93, I, da Constituição) e do Ministério Público.
A Lei n. 8.906, de 4 de julho de 1994, dispõe sobre o Estatuto
da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil. Revoga a Lei n.
4.215, de 27 de abril de 1963, a Lei n. 5.390, de 23 de fevereiro de
1968, o Decreto-Lei n. 505, de 18 de março de 1969, a Lei n. 5.681,
de 20 de julho de 1971, a Lei n. 5.842, de 6 de dezembro de 1972, a
Lei n. 5.960, de 10 de dezembro de 1973, a Lei n. 6.743, de 5 de
dezembro de 1979, a Lei n. 6.884, de 9 de dezembro de 1980, a Lei
n. 6.994, de 26 de maio de 1982, mantidos os efeitos da Lei n.
7.346, de 22 de julho de 1985 (art. 87).
3 O ADVOGADO
No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e
exerce função social.
As relações entre o advogado e o cliente são reguladas por
contrato de direito privado, de prestação de serviços.
No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de
decisão favorável ao seu constituinte, ao convencimento do julgador,
e seus atos constituem múnus público.
São atividades privativas de advocacia:

I– a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e


aos juizados especiais (art. 1º, I, da Lei n. 8.906/94).
Na ADIn 1.127-8, o STF suspendeu a palavra qualquer
e entendeu que permanece o ius postulandi das partes
na Justiça do Trabalho e nos juizados de pequenas
causas, esta em razão da lei especial que rege o
assunto (Lei n. 9.099) e do amplo acesso à justiça
(Rel. Min. Paulo Brossard, DJU, I, 27-4-2001, p. 57);

II – as atividades de consultoria, assessoria e direção


jurídicas.

A advocacia pode ser judicial, em que há a postulação em juízo,


tendo característica de contencioso; extrajudicial, que seria
preventiva.
Não há hierarquia nem subordinação entre advogados,
magistrados e membros do Ministério Público, devendo todos tratar-
se com consideração e respeito recíprocos (art. 6º da Lei n.
8.906/94).
As autoridades, os servidores públicos e os serventuários da
justiça devem dispensar ao advogado, no exercício da profissão,
tratamento compatível com a dignidade da advocacia e condições
adequadas a seu desempenho.
O advogado postula, em juízo ou fora dele, fazendo prova do
mandato (art. 5º da Lei n. 8.906/94). O advogado, afirmando
urgência, pode atuar sem procuração, obrigando-se a apresentá-la
no prazo de 15 dias, prorrogável por igual período. A procuração
para o foro em geral habilita o advogado a praticar todos os atos
judiciais, em qualquer juízo ou instância, salvo os que exijam
poderes especiais.
O advogado que renunciar ao mandato continuará, durante os
10 dias seguintes à notificação da renúncia, a representar o
mandante, salvo se for substituído antes do término desse prazo.
A parte será representada em juízo por advogado regularmente
inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (art. 103 do CPC). É
lícito à parte postular em causa própria quando tiver habilitação
legal. No processo do trabalho, as partes têm a faculdade de
postular sem advogado (art. 791 da CLT).
O advogado não será admitido a postular em juízo sem
procuração, salvo para evitar preclusão, decadência ou prescrição,
ou para praticar ato considerado urgente (art. 104 do CPC). O
advogado deverá, independentemente de caução, exibir a
procuração no prazo de 15 dias, prorrogável por igual período por
despacho do juiz. O ato não ratificado será considerado ineficaz
relativamente àquele em cujo nome foi praticado, respondendo o
advogado pelas despesas e por perdas e danos.
A procuração geral para o foro, outorgada por instrumento
público ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a
praticar todos os atos do processo, exceto receber citação,
confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir,
renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar
quitação, firmar compromisso e assinar declaração de
hipossuficiência econômica, que devem constar de cláusula
específica (art. 105 do CPC). A procuração pode ser assinada
digitalmente, na forma da lei. Deverá a procuração conter o nome do
advogado, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do
Brasil e endereço completo. Se o outorgado integrar sociedade de
advogados, a procuração também deverá conter o nome dessa, seu
número de registro na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço
completo. Salvo disposição expressa em sentido contrário constante
do próprio instrumento, a procuração outorgada na fase de
conhecimento é eficaz para todas as fases do processo, inclusive
para o cumprimento de sentença.
Quando postular em causa própria, incumbe ao advogado:

I– declarar, na petição inicial ou na contestação, o


endereço, seu número de inscrição na Ordem dos
Advogados do Brasil e o nome da sociedade de
advogados da qual participa, para o recebimento de
intimações;

II – comunicar ao juízo qualquer mudança de endereço


(art. 106 do CPC).

Se o advogado descumprir o disposto no inciso I, o juiz


ordenará que se supra a omissão, no prazo de cinco dias, antes de
determinar a citação do réu, sob pena de indeferimento da petição.
Se o advogado infringir o previsto no inciso II, serão
consideradas válidas as intimações enviadas por carta registrada ou
meio eletrônico ao endereço constante dos autos.
4 DIREITOS DO ADVOGADO
O advogado tem direito a:

I– examinar, em cartório de fórum e secretaria de


tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer
processo, independentemente da fase de tramitação,
assegurados a obtenção de cópias e o registro de
anotações, salvo na hipótese de segredo de justiça,
nas quais apenas o advogado constituído terá acesso
aos autos;

II – requerer, como procurador, vista dos autos de


qualquer processo, pelo prazo de cinco dias;

III – retirar os autos do cartório ou da secretaria, pelo prazo


legal, sempre que neles lhe couber falar por
determinação do juiz, nos casos previstos em lei (art.
107 do CPC).

Ao receber os autos, o advogado assinará carga em livro ou


documento próprio.
Sendo o prazo comum às partes, os procuradores poderão
retirar os autos somente em conjunto ou mediante prévio ajuste, por
petição nos autos. É lícito ao procurador retirar os autos para
obtenção de cópias, pelo prazo de 2 a 6 horas, independentemente
de ajuste e sem prejuízo da continuidade do prazo.
São direitos do advogado:

I – exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional;


II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de
seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita,
eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da
advocacia;
III – comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo
sem procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos
em estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados
incomunicáveis;
IV – ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante,
por motivo ligado ao exercício da advocacia, para lavratura do auto
respectivo, sob pena de nulidade e, nos demais casos, a comunicação
expressa à seccional da OAB;
V – não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado,
senão em sala de Estado Maior, com instalações e comodidades
condignas, e, na sua falta, em prisão domiciliar;
VI – ingressar livremente:
a) nas salas de sessões dos tribunais, mesmo além dos cancelos que
separam a parte reservada aos magistrados;
b) nas salas e dependências de audiências, secretarias, cartórios, ofícios
de justiça, serviços notariais e de registro, e, no caso de delegacias e
prisões, mesmo fora da hora de expediente e independentemente da
presença de seus titulares;
c) em qualquer edifício ou recinto em que funcione repartição judicial ou
outro serviço público onde o advogado deva praticar ato ou colher prova
ou informação útil ao exercício da atividade profissional, dentro do
expediente ou fora dele, e ser atendido, desde que se ache presente
qualquer servidor ou empregado;
d) em qualquer assembleia ou reunião de que participe ou possa
participar o seu cliente, ou perante a qual este deva comparecer, desde
que munido de poderes especiais;
VII – permanecer sentado ou em pé e retirar-se de quaisquer locais
indicados no inciso anterior, independentemente de licença;
VIII – dirigir-se diretamente aos magistrados nas salas e gabinetes de
trabalho, independentemente de horário previamente marcado ou outra
condição, observando-se a ordem de chegada;
IX – usar da palavra, pela ordem, em qualquer tribunal judicial ou
administrativo, órgão de deliberação coletiva da administração pública ou
comissão parlamentar de inquérito, mediante intervenção pontual e
sumária, para esclarecer equívoco ou dúvida surgida em relação a fatos,
a documentos ou a afirmações que influam na decisão;
X – reclamar, verbalmente ou por escrito, perante qualquer juízo, tribunal
ou autoridade, contra a inobservância de preceito de lei, regulamento ou
regimento;
XI – falar, sentado ou em pé, em juízo, tribunal ou órgão de deliberação
coletiva da Administração Pública ou do Poder Legislativo;
XII – examinar, em qualquer órgão dos Poderes Judiciário e Legislativo,
ou da Administração Pública em geral, autos de processos findos ou em
andamento, mesmo sem procuração, quando não estiverem sujeitos a
sigilo ou segredo de justiça, assegurada a obtenção de cópias, com
possibilidade de tomar apontamentos;
XIII – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir
investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de
investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que
conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em
meio físico ou digital;
XIV – ter vista dos processos judiciais ou administrativos de qualquer
natureza, em cartório ou na repartição competente, ou retirá-los pelos
prazos legais;
XV – retirar autos de processos findos, mesmo sem procuração, pelo
prazo de dez dias;
XVI – ser publicamente desagravado, quando ofendido no exercício da
profissão ou em razão dela;
XVII – usar os símbolos privativos da profissão de advogado;
XVIII – recusar-se a depor como testemunha em processo no qual
funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de
quem seja ou foi advogado, mesmo quando autorizado ou solicitado pelo
constituinte, bem como sobre fato que constitua sigilo profissional;
XIX – retirar-se do recinto onde esteja aguardando pregão para ato
judicial, após 30 minutos do horário designado e ao qual ainda não tenha
comparecido a autoridade que deva presidir a ele, mediante comunicação
protocolizada em juízo;
XX – assistir a seus clientes investigados durante a apuração de
infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou
depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios
e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente,
podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração:
a) apresentar razões e quesitos.

São direitos da advogada (art. 7º-A da Lei n. 8.906/94):

I – gestante: a) entrada em tribunais sem ser submetida a detectores de


metais e aparelhos de raios X; b) reserva de vaga em garagens dos
fóruns dos tribunais; II – lactante, adotante ou que der à luz, acesso a
creche, onde houver, ou a local adequado ao atendimento das
necessidades do bebê; III – gestante, lactante, adotante ou que der à luz,
preferência na ordem das sustentações orais e das audiências a serem
realizadas a cada dia, mediante comprovação de sua condição; IV –
adotante ou que der à luz, suspensão de prazos processuais quando for a
única patrona da causa, desde que haja notificação por escrito ao cliente.

Os direitos da advogada gestante ou lactante aplicam-se


enquanto perdurar, respectivamente, o estado gravídico ou o
período de amamentação. Os direitos assegurados nos incisos II e
III do referido art. 7º-A da Lei n. 8.906/94 à advogada adotante ou
que der à luz serão concedidos pelo prazo de 120 dias. O direito
assegurado no inciso IV à advogada adotante ou que der à luz será
concedido pelo prazo de 30 dias.
Eduardo Couture indica os 10 mandamentos do advogado:

“1. ESTUDA – O Direito se transforma constantemente. Se


não seguires seus passos, serás a cada dia um pouco
menos advogado.

2. PENSA – O Direito se aprende estudando, mas se exerce


pensando.

3. TRABALHA – A advocacia é uma árdua fadiga posta a


serviço da justiça.

4. LUTA – Teu dever é lutar pelo Direito, mas no dia em que


encontrares em conflito o direito e a justiça, luta pela
justiça.

5. SÊ LEAL – Leal para com o teu cliente, a quem não deves


abandonar até que compreendas que é indigno de ti. Leal
para com o adversário, ainda que ele seja desleal
contigo. Leal para com o juiz, que ignora os fatos e deve
confiar no que tu lhe dizes; e que quanto ao direito,
alguma outra vez, deve confiar no que tu lhe invocas.

6. TOLERA – Tolera a verdade alheia na mesma medida em


que queres que seja tolerada a tua.

7. TEM PACIÊNCIA – O tempo se vinga das coisas que se


fazem sem a sua colaboração.

8. TEM FÉ – Tem fé no Direito, como o melhor instrumento


para a convivência humana; na Justiça, como destino
normal do Direito; na Paz, como substituto bondoso da
Justiça; e, sobretudo, tem fé na Liberdade, sem a qual
não há Direito, nem Justiça, nem Paz.

9. OLVIDA – A advocacia é uma luta de paixões. Se em cada


batalha fores carregando tua alma de rancor, sobrevirá o
dia em que a vida será impossível para ti. Concluído o
combate, olvida tão prontamente tua vitória como tua
derrota.

10. AMA A TUA PROFISSÃO – Trata de conceber a


advocacia de tal maneira que no dia em que teu filho te
pedir conselhos sobre seu destino ou futuro, consideres
uma honra para ti propor-lhe que se faça advogado”.
5 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Em Roma, o vencedor de uma demanda judicial prestava honrarias
a seu advogado, daí advindo a palavra honorarius.
Honorário tem o significado de prêmio ou estipêndio dado ou
pago em retribuição a certos serviços profissionais.
O fundamento dos honorários é o fato objetivo de alguém ter
sido derrotado. Assim, aquele que ganhou a demanda não pode ter
diminuição patrimonial em razão de ter ingressado em juízo. Os
honorários de advogado decorrem, portanto, da sucumbência. A
parte vencedora tem direito à reparação integral dos danos
causados pela parte vencida, sem qualquer diminuição patrimonial.
Os honorários seriam devidos em razão das despesas da parte
em contratar o advogado.
O trabalho do advogado não é, de modo geral, gratuito.
A indenização deve ser completa, pelo fato de que a verba
devida não foi paga na época própria. Não se pode premiar o
próprio infrator.
O não recebimento dos honorários causa prejuízo ao autor.
Honorários sucumbenciais decorrem do fato de perder a
postulação no processo, da sucumbência. Quem perde paga os
honorários.
Honorários contratuais são os contratados entre a parte e o
advogado para lhe prestar serviços. São os previstos no contrato.
A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na
OAB o direito aos honorários convencionados, aos fixados por
arbitramento judicial e aos de sucumbência.
O advogado, quando indicado para patrocinar causa de
juridicamente necessitado, no caso de impossibilidade da
Defensoria Pública no local da prestação de serviço, tem direito aos
honorários fixados pelo juiz, segundo tabela organizada pelo
Conselho Seccional da OAB, e pagos pelo Estado.
Na falta de estipulação ou de acordo, os honorários são fixados
por arbitramento judicial, em remuneração compatível com o
trabalho e o valor econômico da questão, não podendo ser inferiores
aos estabelecidos na tabela organizada pelo Conselho Seccional da
OAB.
Salvo estipulação em contrário, um terço dos honorários é
devido no início do serviço, outro terço até a decisão de primeira
instância e o restante no final.
Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de
honorários antes de expedir-se o mandado de levantamento ou
precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos diretamente,
por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se
este provar que já os pagou.
Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou
sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo
para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o
precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor.
6 INCOMPATIBILIDADES E IMPEDIMENTOS
A incompatibilidade determina a proibição total, e o impedimento, a
proibição parcial do exercício da advocacia (art. 27 da Lei n.
8.906/94).
A advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as
seguintes atividades:

I– chefe do Poder Executivo e membros da Mesa do


Poder Legislativo e seus substitutos legais;

II – membros de órgãos do Poder Judiciário, do Ministério


Público, dos tribunais e conselhos de contas, dos
juizados especiais, da justiça de paz, juízes classistas,
bem como de todos os que exerçam função de
julgamento em órgãos de deliberação coletiva da
administração pública direta e indireta;

III – ocupantes de cargos ou funções de direção em


Órgãos da Administração Pública direta ou indireta, em
suas fundações e em suas empresas controladas ou
concessionárias de serviço público;

IV – ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou


indiretamente a qualquer órgão do Poder Judiciário e
os que exercem serviços notariais e de registro;

V– ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou


indiretamente a atividade policial de qualquer
natureza;

VI – militares de qualquer natureza, na ativa;

VII – ocupantes de cargos ou funções que tenham


competência de lançamento, arrecadação ou
fiscalização de tributos e contribuições parafiscais;

VIII – ocupantes de funções de direção e gerência em


instituições financeiras, inclusive privadas.

A incompatibilidade permanece mesmo que o ocupante do


cargo ou função deixe de exercê-lo temporariamente.
Os Procuradores-Gerais, Advogados-Gerais, Defensores-
Gerais e dirigentes de órgãos jurídicos da Administração Pública
direta, indireta e fundacional são exclusivamente legitimados para o
exercício da advocacia vinculada à função que exerçam, durante o
período da investidura.
São impedidos de exercer a advocacia:

I– os servidores da administração direta, indireta e


fundacional, contra a Fazenda Pública que os
remunere ou à qual seja vinculada a entidade
empregadora. Não se incluem nas hipóteses do inciso
I os docentes dos cursos jurídicos;

II – os membros do Poder Legislativo, em seus diferentes


níveis, contra ou a favor das pessoas jurídicas de
direito público, empresas públicas, sociedades de
economia mista, fundações públicas, entidades
paraestatais ou empresas concessionárias ou
permissionárias de serviço público.
7 OAB
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), serviço público, dotada de
personalidade jurídica e forma federativa, tem por finalidade:

I– defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado


democrático de direito, os direitos humanos, a justiça
social, e pugnar pela boa aplicação das leis, pela
rápida administração da justiça e pelo
aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas;

II – promover, com exclusividade, a representação, a


defesa, a seleção e a disciplina dos advogados em
toda a República Federativa do Brasil.

A OAB não mantém com órgãos da Administração Pública


qualquer vínculo funcional ou hierárquico.
São órgãos da OAB:

I– o Conselho Federal;

II – os Conselhos Seccionais;

III – as Subseções;

IV – as Caixas de Assistência dos Advogados.

O Conselho Federal, dotado de personalidade jurídica própria,


com sede na capital da República, é o órgão supremo da OAB.
A OAB, por constituir serviço público, goza de imunidade
tributária total em relação a seus bens, rendas e serviços.
8 DEFENSORIA PÚBLICA
A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e
instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a
orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa,
em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e
coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma
do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição (art. 134 da
Constituição).
A orientação jurídica e a advocacia extrajudicial mostram a
advocacia preventiva exercida também pela Defensoria Pública.
Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e
do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais
para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos,
na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos,
assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e
vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.
Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia
funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta
orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes
orçamentárias e subordinação ao disposto no § 2º do art. 99 da
Constituição.
São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a
indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se também,
no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96 da
Constituição.
A Lei Complementar n. 80, de 12 de janeiro de 1994, organiza a
Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios e
prescreve normas gerais para sua organização nos Estados.
A Defensoria Pública abrange:

I– a Defensoria Pública da União;

II – a Defensoria Pública do Distrito Federal e dos


Territórios;

III – as Defensorias Públicas dos Estados.

São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a


indivisibilidade e a independência funcional.
São objetivos da Defensoria Pública:

I– a primazia da dignidade da pessoa humana e a


redução das desigualdades sociais;

II – a afirmação do Estado Democrático de Direito;

III – a prevalência e efetividade dos direitos humanos; e

IV – a garantia dos princípios constitucionais da ampla


defesa e do contraditório.

São funções institucionais da Defensoria Pública, entre outras:

I– prestar orientação jurídica e exercer a defesa dos


necessitados, em todos os graus;

II – promover, prioritariamente, a solução extrajudicial dos


litígios, visando à composição entre as pessoas em
conflito de interesses, por meio de mediação,
conciliação, arbitragem e demais técnicas de
composição e administração de conflitos;

III – promover a difusão e a conscientização dos direitos


humanos, da cidadania e do ordenamento jurídico;
prestar atendimento interdisciplinar, por meio de
IV –
órgãos ou de servidores de suas Carreiras de apoio
para o exercício de suas atribuições;

V– exercer, mediante o recebimento dos autos com vista,


a ampla defesa e o contraditório em favor de pessoas
naturais e jurídicas, em processos administrativos e
judiciais, perante todos os órgãos e em todas as
instâncias, ordinárias ou extraordinárias, utilizando
todas as medidas capazes de propiciar a adequada e
efetiva defesa de seus interesses;

VI – representar aos sistemas internacionais de proteção


dos direitos humanos, postulando perante seus
órgãos;

VII – promover ação civil pública e todas as espécies de


ações capazes de propiciar a adequada tutela dos
direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos
quando o resultado da demanda puder beneficiar
grupo de pessoas hipossuficientes;

VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses individuais,


difusos, coletivos e individuais homogêneos e dos
direitos do consumidor, na forma do inciso LXXIV do
art. 5º da Constituição;

IX – impetrar habeas corpus, mandado de injunção, habeas


data e mandado de segurança ou qualquer outra ação
em defesa das funções institucionais e prerrogativas
de seus órgãos de execução;

X– promover a mais ampla defesa dos direitos


fundamentais dos necessitados, abrangendo seus
direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos,
culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as
espécies de ações capazes de propiciar sua adequada
e efetiva tutela;

XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos


da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa
portadora de necessidades especiais, da mulher vítima
de violência doméstica e familiar e de outros grupos
sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do
Estado;

XIV – acompanhar inquérito policial, inclusive com a


comunicação imediata da prisão em flagrante pela
autoridade policial, quando o preso não constituir
advogado;

XV – patrocinar ação penal privada e a subsidiária da


pública;

XVI – exercer a curadoria especial nos casos previstos em


lei;

XVII – atuar nos estabelecimentos policiais, penitenciários e


de internação de adolescentes, visando a assegurar
às pessoas, sob quaisquer circunstâncias, o exercício
pleno de seus direitos e garantias fundamentais;

XVIII –atuar na preservação e reparação dos direitos de


pessoas vítimas de tortura, abusos sexuais,
discriminação ou qualquer outra forma de opressão ou
violência, propiciando o acompanhamento e o
atendimento interdisciplinar das vítimas;

XIX – atuar nos Juizados Especiais;

XX – participar, quando tiver assento, dos conselhos


federais, estaduais e municipais afetos às funções
institucionais da Defensoria Pública, respeitadas as
atribuições de seus ramos;

XXI – executar e receber as verbas sucumbenciais


decorrentes de sua atuação, inclusive quando devidas
por quaisquer entes públicos, destinando-as a fundos
geridos pela Defensoria Pública e destinados,
exclusivamente, ao aparelhamento da Defensoria
Pública e à capacitação profissional de seus membros
e servidores;

XXII – convocar audiências públicas para discutir matérias


relacionadas às suas funções institucionais (art. 4º da
Lei Complementar n. 80/94).

As funções institucionais da Defensoria Pública serão exercidas


inclusive contra as Pessoas Jurídicas de Direito Público.
O instrumento de transação, mediação ou conciliação
referendado pelo Defensor Público valerá como título executivo
extrajudicial, inclusive quando celebrado com a pessoa jurídica de
direito público.
A assistência jurídica integral e gratuita custeada ou fornecida
pelo Estado será exercida pela Defensoria Pública.
A capacidade postulatória do Defensor Público decorre
exclusivamente de sua nomeação e posse no cargo público.
Aos membros da Defensoria Pública é garantido sentar-se no
mesmo plano do Ministério Público.
Se o Defensor Público entender inexistir hipótese de atuação
institucional, dará imediata ciência ao Defensor Público-Geral, que
decidirá a controvérsia, indicando, se for o caso, outro Defensor
Público para atuar.
O exercício do cargo de Defensor Público é comprovado
mediante apresentação de carteira funcional expedida pela
respectiva Defensoria Pública, a qual valerá como documento de
identidade e terá fé pública em todo o território nacional.
O exercício do cargo de Defensor Público é indelegável e
privativo de membro da carreira.
Os estabelecimentos reservarão instalações adequadas ao
atendimento jurídico dos presos e internos por parte dos Defensores
Públicos, bem como a esses fornecerão apoio administrativo,
prestarão as informações solicitadas e assegurarão acesso à
documentação dos presos e internos, aos quais é assegurado o
direito de entrevista com os Defensores Públicos.
São direitos dos assistidos da Defensoria Pública, além
daqueles previstos na legislação estadual ou em atos normativos
internos:

I – a informação sobre:
a) localização e horário de funcionamento dos órgãos da Defensoria
Pública;
b) a tramitação dos processos e os procedimentos para a realização de
exames, perícias e outras providências necessárias à defesa de seus
interesses;
II – a qualidade e a eficiência do atendimento;
III – o direito de ter sua pretensão revista no caso de recusa de atuação
pelo Defensor Público;
IV – o patrocínio de seus direitos e interesses pelo defensor natural;
V – a atuação de Defensores Públicos distintos, quando verificada a
existência de interesses antagônicos ou colidentes entre destinatários de
suas funções.

A Defensoria Pública da União compreende:

I – órgãos de administração superior:


a) a Defensoria Público-Geral da União;
b) a Subdefensoria Público-Geral da União;
c) o Conselho Superior da Defensoria Pública da União;
d) a Corregedoria-Geral da Defensoria Pública da União;
II – órgãos de atuação:
a) as Defensorias Públicas da União nos Estados, no Distrito Federal e
nos Territórios;
b) os Núcleos da Defensoria Pública da União;
III – órgãos de execução:
a) os Defensores Públicos Federais nos Estados, no Distrito Federal e
nos Territórios.

A Defensoria Pública da União tem por chefe o Defensor


Público-Geral Federal, nomeado pelo Presidente da República,
entre membros estáveis da Carreira e maiores de 35 anos,
escolhidos em lista tríplice formada pelo voto direto, secreto,
plurinominal e obrigatório de seus membros, após a aprovação de
seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal,
para mandato de dois anos, permitida uma recondução, precedida
de nova aprovação do Senado Federal.
O ingresso na Carreira da Defensoria Pública da União far-se-á
mediante aprovação prévia em concurso público, de âmbito
nacional, de provas e títulos, com a participação da Ordem dos
Advogados do Brasil, no cargo inicial de Defensor Público Federal
de 2ª Categoria.
As promoções obedecerão aos critérios de antiguidade e
merecimento alternadamente. A antiguidade será apurada na
categoria e determinada pelo tempo de efetivo exercício na
categoria. A promoção por merecimento dependerá de lista tríplice
para cada vaga, organizada pelo Conselho Superior, em sessão
secreta, com ocupantes da lista de antiguidade, em seu primeiro
terço. Os membros da Defensoria Pública somente poderão ser
promovidos após dois anos de efetivo exercício na categoria,
dispensado o interstício se não houver quem preencha tal requisito
ou se quem o preencher recusar a promoção. As promoções serão
efetivadas por ato do Defensor Público-Geral Federal.
Os membros da Defensoria Pública da União são inamovíveis,
salvo se punidos com remoção compulsória (art. 34 da Lei
Complementar n. 80).
São garantias dos membros da Defensoria Pública da União:

I– a independência funcional no desempenho de suas


atribuições;

II – a inamovibilidade;

III – a irredutibilidade de vencimentos;

IV – a estabilidade.

São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da


União:

I– receber intimação pessoal em qualquer processo e


grau de jurisdição, contando-se-lhe em dobro todos os
prazos;

II – receber, inclusive quando necessário, mediante


entrega dos autos com vista, intimação pessoal em
qualquer processo e grau de jurisdição ou instância
administrativa, contando-se-lhes em dobro todos os
prazos;

III – não ser preso, senão por ordem judicial escrita, salvo
em flagrante, caso em que a autoridade fará imediata
comunicação ao Defensor Público-Geral;

IV – ser recolhido a prisão especial ou a sala especial de


Estado-Maior, com direito a privacidade e, após
sentença condenatória transitada em julgado, ser
recolhido em dependência separada, no
estabelecimento em que tiver de ser cumprida a pena;

V– usar vestes talares e as insígnias privativas da


Defensoria Pública;

VI – ter vista pessoal dos processos fora dos cartórios e


secretarias, ressalvadas as vedações legais;

VII – comunicar-se, pessoal e reservadamente, com seus


assistidos, ainda quando esses se acharem presos ou
detidos, mesmo incomunicáveis, tendo livre ingresso
em estabelecimentos policiais, prisionais e de
internação coletiva, independentemente de prévio
agendamento;

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de


flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a
obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

IX – manifestar-se em autos administrativos ou judiciais por


meio de cota;

X– requisitar de autoridade pública e de seus agentes


exames, certidões, perícias, vistorias, diligências,
processos, documentos, informações, esclarecimentos
e providências necessárias ao exercício de suas
atribuições;

XI – representar a parte, em feito administrativo ou judicial,


independentemente de mandato, ressalvados os
casos para os quais a lei exija poderes especiais;
XII – deixar de patrocinar ação, quando ela for
manifestamente incabível ou inconveniente aos
interesses da parte sob seu patrocínio, comunicando o
fato ao Defensor Público-Geral, com as razões de seu
proceder;

XIII – ter o mesmo tratamento reservado aos magistrados e


demais titulares dos cargos das funções essenciais à
justiça;

XIV – ser ouvido como testemunha, em qualquer processo


ou procedimento, em dia, hora e local previamente
ajustados com a autoridade competente.

São deveres dos membros da Defensoria Pública da União:

I– residir na localidade onde exercem suas funções;

II – desempenhar, com zelo e presteza, os serviços a seu


cargo;

III – representar ao Defensor Público-Geral sobre as


irregularidades de que tiver ciência, em razão do
cargo;

IV – prestar informações aos órgãos de administração


superior da Defensoria Pública da União, quando
solicitadas;

V– atender ao expediente forense e participar dos atos


judiciais, quando for obrigatória a sua presença;

VI – declarar-se suspeito ou impedido, nos termos da lei;

VII – interpor os recursos cabíveis para qualquer instância


ou Tribunal e promover revisão criminal, sempre que
encontrar fundamentos na lei, jurisprudência ou prova
dos autos, remetendo cópia à Corregedoria-Geral.

Ao membro da Defensoria Pública da União é defeso exercer


suas funções em processo ou procedimento:

I– em que seja parte ou, de qualquer forma, interessado;

II – em que haja atuado como representante da parte,


perito, juiz, membro do Ministério Público, autoridade
policial, Escrivão de Polícia, auxiliar de Justiça ou
prestado depoimento como testemunha;

III – em que for interessado cônjuge ou companheiro,


parente consanguíneo ou afim em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau;

IV – no qual haja postulado como advogado de qualquer


das pessoas mencionadas no inciso anterior;

V– em que qualquer das pessoas mencionadas no inciso


III funcione ou haja funcionado como Magistrado,
membro do Ministério Público, autoridade policial,
Escrivão de Polícia ou Auxiliar de Justiça;

VI – em que houver dado à parte contrária parecer verbal


ou escrito sobre o objeto da demanda;

VII – em outras hipóteses previstas em lei.


9 ADVOCACIA PÚBLICA
A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou por
meio de órgão vinculado, representa a União, judicial e
extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar
que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades
de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo (art.
131 da Constituição).
A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral
da União, de livre nomeação pelo Presidente da República entre
cidadãos maiores de 35 anos, de notável saber jurídico e reputação
ilibada.
O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição far-
se-á mediante concurso público de provas e títulos.
Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a
representação da União cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional, observado o disposto em lei.
Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal,
organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso
público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos
Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a
representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas
unidades federadas.
Aos procuradores é assegurada estabilidade após três anos de
efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os
órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias.
A Lei Complementar n. 73, de 10 de fevereiro de 1993, institui a
Lei Orgânica da Advocacia-Geral da União.
A Advocacia-Geral da União é a instituição que representa a
União judicial e extrajudicialmente. À Advocacia-Geral da União
cabem as atividades de consultoria e assessoramento jurídicos ao
Poder Executivo.
A Advocacia-Geral da União compreende:

I – órgãos de direção superior:


a) o Advogado-Geral da União;
b) a Procuradoria-Geral da União e a da Fazenda Nacional;
c) Consultoria-Geral da União;
d) o Conselho Superior da Advocacia-Geral da União; e
e) a Corregedoria-Geral da Advocacia da União;
II – órgãos de execução:
a) as Procuradorias Regionais da União e as da Fazenda Nacional e as
Procuradorias da União e as da Fazenda Nacional nos Estados e no
Distrito Federal e as Procuradorias Seccionais destas;
b) a Consultoria da União, as Consultorias Jurídicas dos Ministérios, da
Secretaria-Geral e das demais Secretarias da Presidência da República e
do Estado-Maior das Forças Armadas;
III – órgão de assistência direta e imediata ao Advogado-Geral da União:
o Gabinete do Advogado-Geral da União.

Subordinam-se diretamente ao Advogado-Geral da União, além


do seu gabinete, a Procuradoria-Geral da União, a Consultoria-Geral
da União, a Corregedoria-Geral da Advocacia-Geral da União, a
Secretaria de Controle Interno e, técnica e juridicamente, a
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.
São membros da Advocacia-Geral da União: o Advogado-Geral
da União, o Procurador-Geral da União, o Procurador-Geral da
Fazenda Nacional, o Consultor-Geral da União, o Corregedor-Geral
da Advocacia da União, os Secretários-Gerais de Contencioso e de
Consultoria, os Procuradores Regionais, os Consultores da União,
os Corregedores-Auxiliares, os Procuradores-Chefes, os
Consultores Jurídicos, os Procuradores Seccionais, os Advogados
da União, os Procuradores da Fazenda Nacional e os Assistentes
Jurídicos.
A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral
da União, de livre nomeação pelo Presidente da República, entre
cidadãos maiores de 35 anos, de notável saber jurídico e reputação
ilibada.
O Advogado-Geral da União é o mais elevado órgão de
assessoramento jurídico do Poder Executivo, submetido à direta,
pessoal e imediata supervisão do Presidente da República.
O Advogado-Geral da União terá substituto eventual nomeado
pelo Presidente da República.
São atribuições do Advogado-Geral da União:

I– dirigir a Advocacia-Geral da União, superintender e


coordenar suas atividades e orientar-lhe a atuação;

II – despachar com o Presidente da República;

III – representar a União junto ao Supremo Tribunal


Federal;

IV – defender, nas ações diretas de inconstitucionalidade, a


norma legal ou ato normativo, objeto de impugnação;

V– apresentar as informações a serem prestadas pelo


Presidente da República, relativas a medidas
impugnadoras de ato ou omissão presidencial;

VI – desistir, transigir, acordar e firmar compromisso nas


ações de interesse da União, nos termos da legislação
vigente;
VII – assessorar o Presidente da República em assuntos de
natureza jurídica, elaborando pareceres e estudos ou
propondo normas, medidas e diretrizes;

VIII – assistir o Presidente da República no controle interno


da legalidade dos atos da Administração;

IX – sugerir ao Presidente da República medidas de caráter


jurídico reclamadas pelo interesse público;

X– fixar a interpretação da Constituição, das leis, dos


tratados e demais atos normativos, a ser
uniformemente seguida pelos órgãos e entidades da
Administração Federal;

XI – unificar a jurisprudência administrativa, garantir a


correta aplicação das leis, prevenir e dirimir as
controvérsias entre os órgãos jurídicos da
Administração Federal;

XII – editar enunciados de súmula administrativa,


resultantes de jurisprudência iterativa dos Tribunais;

XIII – exercer orientação normativa e supervisão técnica


quanto aos órgãos jurídicos das entidades a que alude
o Capítulo IX do Título II da Lei Complementar n.
73/93;

XIV – baixar o Regimento Interno da Advocacia-Geral da


União;

XV – proferir decisão nas sindicâncias e nos processos


administrativos disciplinares promovidos pela
Corregedoria-Geral e aplicar penalidades, salvo a de
demissão;
XVI – homologar os concursos públicos de ingresso nas
Carreiras da Advocacia-Geral da União;

XVII – promover a lotação e a distribuição dos Membros e


servidores, no âmbito da Advocacia-Geral da União;

XVIII –editar e praticar os atos normativos ou não, inerentes a


suas atribuições;

XIX – propor, ao Presidente da República, as alterações a


Lei Complementar n. 73/93.

O Advogado-Geral da União pode representá-la junto a


qualquer juízo ou Tribunal.
Pode o Advogado-Geral da União avocar quaisquer matérias
jurídicas de interesse desta, inclusive no que concerne a sua
representação extrajudicial.
À Consultoria-Geral da União, direta e imediatamente
subordinada ao Advogado-Geral da União, incumbe, principalmente,
colaborar com este em seu assessoramento jurídico ao Presidente
da República produzindo pareceres, informações e demais trabalhos
jurídicos que lhes sejam atribuídos pelo chefe da instituição.
Compõem a Consultoria-Geral da União o Consultor-Geral da
União e a Consultoria da União.
À Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, órgão
administrativamente subordinado ao titular do Ministério da
Fazenda, compete especialmente:

I– apurar a liquidez e certeza da dívida ativa da União de


natureza tributária, inscrevendo-a para fins de
cobrança, amigável ou judicial;

II – representar privativamente a União, na execução de


sua dívida ativa de caráter tributário;
III – examinar previamente a legalidade dos contratos,
acordos, ajustes e convênios que interessem ao
Ministério da Fazenda, inclusive os referentes à dívida
pública externa, e promover a respectiva rescisão por
via administrativa ou judicial;

IV – representar a União nas causas de natureza fiscal.

As carreiras de Advogado da União, de Procurador da Fazenda


Nacional e de Assistente Jurídico compõem-se dos seguintes cargos
efetivos:

I – carreira de Advogado da União:


a) Advogado da União da 2ª Categoria (inicial);
b) Advogado da União de 1ª Categoria (intermediária);
c) Advogado da União de Categoria Especial (final);
II – carreira de Procurador da Fazenda Nacional:
a) Procurador da Fazenda Nacional de 2ª Categoria (inicial);
b) Procurador da Fazenda Nacional de 1ª Categoria (intermediária);
c) Procurador da Fazenda Nacional de Categoria Especial (final);
III – carreira de Assistente Jurídico:
a) Assistente Jurídico de 2ª Categoria (inicial);
b) Assistente Jurídico de 1ª Categoria (intermediária);
c) Assistente Jurídico de Categoria Especial (final).

O ingresso nas carreiras da Advocacia-Geral da União ocorre


nas categorias iniciais, mediante nomeação, em caráter efetivo, de
candidatos habilitados em concursos públicos, de provas e títulos,
obedecida a ordem de classificação.
Os dois primeiros anos de exercício em cargo inicial das
carreiras da Advocacia-Geral da União correspondem a estágio
confirmatório.
Capítulo 15
COMPETÊNCIA
1 ETIMOLOGIA
Competência vem do latim competentia, de competere (estar no
gozo ou no uso de, ser capaz, pertencer ou ser próprio).
2 CONCEITO
A competência é uma parcela da jurisdição, dada a cada juiz.
Liebman afirma que competência é a quantidade de jurisdição
cujo exercício é atribuído a cada órgão, ou seja, a medida da
jurisdição33. A jurisdição é exercida na medida estabelecida na
Constituição e nos limites da lei.
É a parte da jurisdição atribuída a cada juiz, ou seja, a área
geográfica e o setor do Direito em que vai atuar, podendo emitir
suas decisões. É uma delimitação da jurisdição.
Consiste a competência na delimitação do poder jurisdicional.
É, portanto, o limite da jurisdição, a medida da jurisdição, a
quantidade da jurisdição.
A jurisdição é o todo, o gênero. A competência é a parte, a
espécie. A competência não abrange a jurisdição, mas esta
compreende aquela.
Competência é a determinação jurisdicional atribuída pela
Constituição ou pela lei a um determinado órgão para julgar certa
questão.
As questões relativas à competência devem ter interpretação
restritiva, e não extensiva.
3 CLASSIFICAÇÃO
Competência originária é a atribuída originariamente a determinado
órgão e não a outro. O processo não começa no primeiro grau. O
STF julga, originariamente, nas infrações penais comuns, o
Presidente da República, o Vice-Presidente da República, os
membros do Congresso Nacional, os Ministros de Estado e o
Procurador-Geral da República (art. 102, I, b, da Constituição).
Competência derivada ou decorrente é a que decorre da
previsão da lei. O inciso IX do art. 114 da Constituição estabelece a
competência da Justiça do Trabalho para as demais controvérsias
decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.
A competência pode ser interna ou internacional. A interna diz
respeito aos órgãos competentes no território brasileiro. A segunda
envolve aspectos de direito internacional ou tem incidência em
relação a estrangeiros.
Competência objetiva é a que decorre da previsão da lei,
observando a natureza da causa (a matéria), o seu valor, os limites
das circunscrições judiciárias, o aspecto funcional. Competência
subjetiva diz respeito aos sujeitos, às pessoas, como a competência
pessoal.
Na competência absoluta, a matéria é de ordem pública,
podendo o juiz declará-la de ofício (§ 1º do art. 64 do CPC). É o que
ocorre na competência em razão da matéria e das pessoas.
Na competência relativa, a matéria não é de ordem pública
absoluta, mas é direcionada à parte, ao interesse exclusivo delas,
devendo ser arguida no momento próprio. São exemplos o da
incompetência em razão do lugar (ex ratione loci) ou de foro, da
competência em razão do valor, da competência pela situação do
imóvel.
Competência comum ou ordinária é a estabelecida para a
Justiça Estadual ou Federal, por intermédio da Constituição ou da
lei.
Competência especial é a atribuída à Justiça do Trabalho,
Justiça Eleitoral e Justiça Militar.
A competência pode ser constitucional, prevista na
Constituição, ou na lei.
A competência pode ser dividida em relação à matéria, às
pessoas, ao lugar e funcional.
A competência em razão do lugar pode ser dividida em: a)
geral, determinada pelo domicílio; b) especial, em razão das
pessoas, das coisas ou dos fatos.
4 COMPETÊNCIA INTERNA OU INTERNACIONAL
Nossa legislação regula alguns casos de competência internacional.
O art. 12 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
afirma que “é competente a autoridade judiciária brasileira, quando
for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a
obrigação”.
Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as
ações em que: 1 – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade,
estiver domiciliado no Brasil; 2 – no Brasil tiver de ser cumprida a
obrigação; 3 – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no
Brasil (art. 21 do CPC). Para os fins do item 1, considera-se
domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver
agência, filial ou sucursal.
Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de
qualquer outra: 1 – conhecer de ações relativas a imóveis situados
no Brasil. Não teria sentido que se a pessoa estrangeira fosse
proprietária de imóvel e a competência sobre imóvel existente em
nosso país fosse julgada pelo direito estrangeiro; 2 – em matéria de
sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento
particular, e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil,
ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou
tenha domicílio fora do território nacional; 3 – em divórcio,
separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à
partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de
nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território
nacional (art. 23 do CPC).
A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz
litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira
conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas
as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos
bilaterais em vigor no Brasil (art. 24 do CPC). Isso enfatiza a
jurisdição brasileira sobre a jurisdição de outro país.
A competência interna é a distribuição da competência entre os
juízes brasileiros.
5 COMPETÊNCIA ABSOLUTA
A competência absoluta é decorrente de norma de ordem pública
absoluta, que é dirigida ao juiz.
O CPC de 2015 passou a prever no art. 64 que a
incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão
preliminar de contestação e não mais como exceção.
A incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer tempo
e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício (§ 1º do art. 63
do CPC). O juiz deve declarar de ofício a incompetência absoluta.
Não se trata apenas de faculdade, mas de obrigação. A
incompetência absoluta é improrrogável, analisando-se a contrário
senso o § 3º do art. 63 do CPC.
A incompetência absoluta macula profundamente o processo,
tanto que o inciso II do art. 966 do CPC permite a rescisão do
julgado no caso de decisão proferida por juízo absolutamente
incompetente.
6 COMPETÊNCIA RELATIVA
A competência relativa é decorrente de norma de ordem pública
relativa, que é dirigida à parte, e não ao juiz. Geralmente, é dado o
exemplo de incompetência em razão do lugar, que depende de
arguição pela parte.
Prorrogar-se-á a competência relativa e não a absoluta se o réu
não alegar a incompetência em preliminar de contestação (art. 65 do
CPC).
Entretanto, o § 3º do art. 63 do CPC dispõe que antes da
citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada
ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao
juízo do foro de domicílio do réu.
A competência relativa e não a absoluta poderá ser modificada
pela conexão ou pela continência (art. 54 do CPC).
São conexas duas ou mais ações na qual lhes for comum o
pedido (objeto) ou a causa de pedir (art. 55 do CPC). A conexão é
um nexo ou um vínculo que se estabelece entre duas ações pelo
fato de o pedido ou a causa de pedir serem os mesmos.
Dá-se a continência entre duas ou mais ações quando houver
identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de
uma, por ser mais amplo, abrange o das demais (art. 56 do CPC).
Quando houver continência e a ação continente tiver sido
proposta anteriormente, no processo relativo à ação contida será
proferida sentença sem resolução de mérito. Caso contrário, as
ações serão necessariamente reunidas.
A competência determinada em razão da matéria, da pessoa,
que são as absolutas, ou da função é inderrogável por convenção
das partes (art. 62 do CPC). Isso mostra que a competência relativa
pode ser modificada por convenção das partes.
7 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA
A competência em razão da matéria, material ou ex ratione materiae
diz respeito à matéria que o juiz pode examinar num certo local.
Às vezes a lei atribui a competência ao juiz em razão de
questões políticas ou de questões de ordem prática.

7.1 Competência em razão da matéria do STF


Compete ao STF:

I – processar e julgar, originariamente:


a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal
ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato
normativo federal;
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros
e o Procurador-Geral da República;
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os
Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, da Constituição, os
membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e
os chefes de missão diplomática de caráter permanente;
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas
alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos
do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da
República e do próprio Supremo Tribunal Federal;
(...)
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o
coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam
sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate
de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância;
j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;
l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da
autoridade de suas decisões;
m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária,
facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais;
o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e
quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer
outro tribunal;
p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de
inconstitucionalidade;
q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma
regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso
Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de
uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um
dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;
II – julgar, em recurso ordinário:
a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o
mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais
Superiores, se denegatória a decisão;
b) o crime político;
III – julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única
ou última instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo da Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em relação à
Constituição;
d) julgar válida lei local contestada em relação à lei federal.

A arguição de descumprimento de preceito fundamental,


decorrente da Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal
Federal, na forma da lei.

7.2 Competência em razão da matéria do STJ


Compete ao Superior Tribunal de Justiça (art. 105 da Constituição):

I – processar e julgar, originariamente:


a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito
Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos
Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos
Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais
Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os
membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do
Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;
b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de
Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou
do próprio Tribunal;
c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das
pessoas mencionadas na alínea a, ou quando o coator for tribunal sujeito
à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do
Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça
Eleitoral;
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o
disposto no art. 102, I, o, da Constituição, bem como entre tribunal e
juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos;
e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados;
f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da
autoridade de suas decisões;
g) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e
judiciárias da União, ou entre autoridades judiciárias de um Estado e
administrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da
União;
h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma
regulamentadora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal,
da administração direta ou indireta, excetuados os casos de competência
do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça
Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur
às cartas rogatórias;
II – julgar, em recurso ordinário:
a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória;
b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;
III – julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última
instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em relação à lei federal;
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro
tribunal.
Competência em razão da matéria dos
7.3
Tribunais Regionais Federais
Compete aos Tribunais Regionais Federais:

I – processar e julgar, originariamente:


a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça
Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de
responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;
b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos
juízes federais da região;
c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio
Tribunal ou de juiz federal;
d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal;
e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao
Tribunal;
II – julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais
e pelos juízes estaduais no exercício da competência federal da área de
sua jurisdição (art. 108 da Constituição).

Tribunal Regional Federal não é competente para julgar recurso


de decisão proferida por juiz estadual não investido de jurisdição
federal (S. 55 do STJ).
Os juízes federais têm competência para processar e julgar:

I– as causas em que a União, entidade autárquica ou


empresa pública federal forem interessadas na
condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes,
exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as
sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
as causas entre Estado estrangeiro ou organismo
II – internacional e Município ou pessoa domiciliada ou
residente no País;

III – as causas fundadas em tratado ou contrato da União


com Estado estrangeiro ou organismo internacional;

IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas


em detrimento de bens, serviços ou interesse da União
ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a
competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

V– os crimes previstos em tratado ou convenção


internacional, quando, iniciada a execução no País, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente;

V-A – as causas relativas a direitos humanos a que se


refere o § 5º do art. 109 da Constituição;

VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos


casos determinados por lei, contra o sistema financeiro
e a ordem econômico-financeira. Prevê a Súmula 115
do TFR que compete à Justiça Federal processar e
julgar os crimes contra a organização do trabalho,
quando tenham por objeto a organização geral do
trabalho ou direitos dos trabalhadores considerados
coletivamente. Se a questão é individual, a
competência é da Justiça Estadual. O inciso VI do art.
109 da Constituição dispõe sobre a competência da
Justiça Federal para julgar questões relativas a crimes
contra a organização do trabalho. O STF declarou a
competência da Justiça Federal para julgar crimes de
redução à condição análoga à de escravo, por se
enquadrar como crime contra a organização do
trabalho, se praticadas no contexto de relações de
trabalho (Pleno, RE 398.041, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, j. 30-11-2006);

VII – os habeas corpus, em matéria criminal de sua


competência ou quando o constrangimento provier de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos
a outra jurisdição;

VIII – os mandados de segurança e os habeas data contra


ato de autoridade federal, excetuados os casos de
competência dos tribunais federais;

IX – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves,


ressalvada a competência da Justiça Militar;

X– os crimes de ingresso ou permanência irregular de


estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o
“exequatur”, e de sentença estrangeira, após a
homologação, as causas referentes à nacionalidade,
inclusive a respectiva opção, e à naturalização;

XI – a disputa sobre direitos indígenas (art. 109 da


Constituição).

Compete à Justiça Federal processar e julgar execução fiscal


promovida por Conselho de fiscalização profissional (S. 66 do STJ).
É competente a Justiça Federal para processar e julgar crime
de falso testemunho no processo trabalhista (S. 165 do STJ).
A Justiça Federal será competente para analisar crime de
desacato praticado contra juiz federal e do trabalho.

7.4 Competência em razão da matéria da Justiça


do Trabalho
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I– as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos


os entes de direito público externo e da administração
pública direta e indireta da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios;

II – as ações que envolvam exercício do direito de greve. A


Justiça do Trabalho é competente para processar e
julgar ação possessória ajuizada em decorrência de
exercício do direito de greve pelos trabalhadores da
iniciativa privada (S. Vinculante 23 do STF);

III – as ações sobre representação sindical, entre


sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre
sindicatos e empregadores;

IV – os mandados de segurança, habeas corpus e habeas


data, quando o ato questionado envolver matéria
sujeita à sua jurisdição;

V– os conflitos de competência entre órgãos com


jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art.
102, I, o, da Constituição, que é a competência
estabelecida para o STF dirimir conflitos entre tribunais
superiores;

VI – as ações de indenização por dano moral ou


patrimonial, decorrentes da relação de trabalho. A
Justiça do Trabalho é competente para processar e
julgar as ações de indenização por danos morais e
patrimoniais decorrentes de acidentes do trabalho
propostas por empregado contra empregador,
inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença
de mérito em primeiro grau quando da promulgação da
Emenda Constitucional n. 45/2004 (S. Vinculante 22
do STF). A Súmula 392 do TST afirma que a Justiça do
Trabalho é competente para processar e julgar ações
de indenização por dano moral e material, decorrentes
da relação de trabalho, inclusive as oriundas de
acidente de trabalho e doenças a ele equiparadas,
ainda que propostas pelos dependentes ou
sucessores do trabalhador falecido;

VII – as ações relativas às penalidades administrativas


impostas aos empregadores pelos órgãos de
fiscalização das relações de trabalho;

VIII – a execução, de ofício, das contribuições sociais


previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos
legais, decorrentes das sentenças que proferir. O STF
entende que a competência da Justiça do Trabalho
prevista no art. 114, VII, da Constituição alcança a
execução de ofício das contribuições previdenciárias
relativas ao objeto da condenação constante das
sentenças que proferir e acordos por ela homologados
(S. Vinculante 53). A contribuição para o custeio de
acidente do trabalho também será executada na
Justiça do Trabalho, pois é destinada à Seguridade
Social (art. 7º, XXVIII, art. 195, I, a, da Constituição)
(S. 454 do TST);

IX – outras controvérsias decorrentes da relação de


trabalho, na forma da lei (art. 114 da Constituição).

7.5 Competência em razão da matéria da Justiça


Estadual
O juiz da Vara da Infância e Juventude tem competência para
decidir as questões de registro civil, capacidade, pátrio poder, tutela,
suprimento de idade e consentimento, adoção, alimentos (arts. 146
e 148 da Lei n. 8.069/90).
As questões de família, separação, divórcio, inventários,
partilhas são da competência das Varas de Família e Sucessões.
As questões relativas a falências e recuperação judicial são da
competência da vara de falências, onde houver.
As questões de outras matérias civis ou comerciais são da
competência das Varas Cíveis.
As questões penais são da competência das Varas Criminais.

7.5.1 Acidente do trabalho


Historicamente, a competência para julgar questões a respeito de
acidente do trabalho sempre foi da Justiça Comum.
O art. 22 da Lei n. 3.724, de 15-1-19, estabelecia a
competência da justiça comum para julgar ações decorrentes de
indenização por acidente do trabalho.
Reza o § 2º do art. 643 da CLT sobre a competência da justiça
ordinária para julgar as questões referentes a acidente do trabalho.
Logo, a competência não é da Justiça do Trabalho.
Dispunha o § 1º do art. 123 da Constituição de 1946 que os
dissídios relativos a acidente do trabalho eram da competência da
Justiça ordinária, ou seja, a comum estadual. No mesmo sentido, o
§ 2º do art. 134 da Constituição de 1967.
Previa o § 2º do art. 142 da Lei Maior de 1967, determinado
pela Emenda Constitucional n. 1/69, que os litígios relativos a
acidente do trabalho eram da competência da Justiça Ordinária dos
Estados, do Distrito Federal ou dos Territórios.
A Emenda Constitucional n. 7/1977 estabeleceu que “os litígios
relativos a acidentes do trabalho são da competência da Justiça
ordinária dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, salvo
exceções estabelecidas na Lei Orgânica da Magistratura Nacional”.
O art. 130 da Lei Complementar n. 35, de 15 de março de 1979,
determinou a competência da Justiça Federal para processar e
julgar as “ações decorrentes de acidentes do trabalho, quando o
pedido tiver por objetivo o reconhecimento de doença profissional
não incluída na relação organizada pelo Ministério da Previdência e
Assistência Social”.
A Súmula 235 do STF afirma que “é competente para a ação de
acidente do trabalho a Justiça cível comum, inclusive em segunda
instância, ainda que seja parte autarquia seguradora”.
A Súmula 501 do STF mostra que compete “à Justiça Ordinária
Estadual o processo e o julgamento, em ambas as instâncias, das
causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas contra a
União, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de
economia mista”.
A interpretação sistemática da Constituição de 1988 indica que
a competência para julgar questões relativas a acidente do trabalho
entre o segurado e o INSS é da Justiça Estadual. O inciso I do art.
109 da Lei Maior trata da competência da Justiça Federal para julgar
causas em que figurem como partes a União ou suas autarquias,
como é o caso do INSS. Ressalva da sua competência as matérias
relativas a acidente do trabalho e as pertinentes à Justiça do
Trabalho. A competência para julgar questões de acidente do
trabalho não é da Justiça Federal, mas não dispõe expressamente
de quem é a competência. Entretanto, depreende-se do artigo que a
competência não é da Justiça do Trabalho, pois do contrário não
seria necessário ressalvar as questões de acidente do trabalho, pois
bastaria fazer referência à Justiça do Trabalho e o acidente do
trabalho estaria na competência desse órgão do Poder Judiciário.
Não haveria necessidade de excepcionar a competência relativa a
acidente do trabalho e da Justiça do Trabalho. Logo, por exclusão, a
competência é da Justiça Comum estadual.
A Súmula 15 do STJ afirma que a competência para julgar
questões de acidente do trabalho propostas pelo segurado contra o
INSS é da Justiça Comum.
Não se forma relação de trabalho entre o prestador de serviços
(segurado) e o INSS, mas relação de seguridade social, de direito
público. A Justiça do Trabalho tem competência para dirimir
questões entre o prestador de serviços e o tomador e não entre o
segurado e o INSS. Dessa forma, a matéria não se enquadra no
inciso I do art. 114 da Constituição.
Não há lei determinando que a competência para julgar
questões de acidente do trabalho é da Justiça do Trabalho, nas
quais faça parte o INSS, entre as outras controvérsias decorrentes
da relação de trabalho (art. 114, IX, da Constituição). Ao contrário, o
inciso II do art. 129 da Lei n. 8.213/91 estabelece que a
competência é da Justiça Comum.
A competência da Justiça Estadual para julgar acidente do
trabalho talvez seja decorrente de aspectos penais que podem
ocorrer no acidente, como a morte e lesão corporal do segurado.
A postulação feita na Justiça Comum será sobre auxílio-doença
acidentário, aposentadoria por invalidez acidentária, auxílio-acidente
e pensão por morte acidentária.
Lei poderá autorizar que as causas de competência da Justiça
Federal em que forem parte instituição de previdência social e
segurado possam ser processadas e julgadas na justiça estadual
quando a comarca do domicílio do segurado não for sede de vara
federal (§3º do art. 109 da Constituição). A lei será a ordinária
federal. Até o momento ela não existe.

7.6 Competência da Justiça Militar


À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares
definidos em lei (art. 124 da Constituição).
8 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DAS PESSOAS
A competência em razão das pessoas, pessoal ou ex ratione
personae diz respeito às pessoas envolvidas no litígio.

8.1 Competência pessoal do STF


Compete ao STF processar e julgar, originariamente (art. 102, I, da
Constituição):

e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União,


o Estado, o Distrito Federal ou o Território;
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito
Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da
administração indireta;
n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou
indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos
membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou
indiretamente interessados;
r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho
Nacional do Ministério Público;

8.2 Competência pessoal do STJ


Competem ao STJ:

as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo


internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou
domiciliada no País (art. 105, II, c, da Constituição);
8.3 Competência pessoal dos juízes federais
Compete aos juízes federais:

I– as causas em que a União, entidade autárquica ou


empresa pública federal forem interessadas na
condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes,
exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as
sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

II – as causas entre Estado estrangeiro ou organismo


internacional e Município ou pessoa domiciliada ou
residente no País (art. 109 da Constituição).

8.4 Competência pessoal da Justiça do Trabalho


Historicamente, a competência da Justiça do Trabalho sempre foi
para julgar questões entre empregados e empregadores.
A Justiça do Trabalho tem competência para analisar questões
dos entes de direito público externo (art. 114, I, da Constituição).
Entes de direito público externo são os países, por meio de suas
representações, embaixadas e consulados e organismos
internacionais. As organizações ou organismos internacionais
gozam de imunidade absoluta de jurisdição quando amparados por
norma internacional incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro,
não se lhes aplicando a regra do Direito Consuetudinário relativa à
natureza dos atos praticados. Excepcionalmente, prevalecerá a
jurisdição brasileira na hipótese de renúncia expressa à cláusula de
imunidade jurisdicional (Orientação Jurisprudencial 416 da SBDI-1
do TST).
Tem competência a Justiça do Trabalho para examinar
questões de empregados públicos contra a administração pública
direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios (art. 114, I, da Constituição).
A Associação dos Juízes Federais ajuizou ação direta de
inconstitucionalidade para discutir a matéria. O Ministro Nelson
Jobim suspendeu, ad referendum, toda e qualquer interpretação
dada ao inciso I do art. 114 da Constituição que inclua na
competência da Justiça do Trabalho a análise de questões de
funcionários públicos estatutários ou de caráter jurídico-
administrativo (despacho de 27-1-2005, DJU, I, 4-2-2005, p. 2-3). A
liminar foi ratificada no Pleno do STF (ADIn 3.395-6/DF, j. 5-4-2006,
Rel. Min. Cezar Peluso, DJU 10-11-2006).
O STF entende que na contratação temporária de servidores a
competência não é da Justiça do Trabalho (STF, Pleno, Recl. – AgR
4.489/PA, j. 21-8-2008, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJ 21-11-2008).
As questões entre empregado e empregador rural são da
competência da Justiça do Trabalho (art. 114, I, da Constituição). O
mesmo ocorre na relação entre empregado e empregador
doméstico.
A Justiça do Trabalho tem competência para julgar questões
entre o trabalhador temporário, a empresa de trabalho temporário e
o tomador do serviço ou cliente (art. 19 da Lei n. 6.019/74).
Compete à Justiça do Trabalho julgar as questões entre o
trabalhador avulso, o Sindicato ou Órgão Gestor de Mão de Obra e
o tomador de serviços (art. 643 e § 3º da CLT). Trata-se de relação
de trabalho (art. 114, I, da Constituição).
É da Justiça do Trabalho a competência para apreciar e
resolver os conflitos entre empregado e empresa privada contratada
para prestar serviços à administração pública (Súmula 158 do TFR).
A Justiça do Trabalho é competente para apreciar reclamação
do empregado que tenha por objeto direito fundado no quadro de
carreira (S. 19 do TST).
A Súmula 300 do TST fixou o entendimento daquela Corte que
“compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ações de
empregados contra empregadores, relativas ao cadastramento do
Plano de Integração Social (PIS)”. O antigo TFR já havia editado a
Súmula 82, dizendo que “compete à Justiça do Trabalho processar e
julgar reclamações pertinentes ao cadastramento do Plano de
Integração Social (PIS) ou indenização compensatória pela falta
deste, desde que não envolvam relações de trabalho dos servidores
da União, suas autarquias e empresas públicas”. O STF, sob a égide
da Constituição anterior, também já havia entendido que a
competência para dirimir o litígio entre empregado e empregador
quanto ao PIS era da Justiça do Trabalho (STF 6.146/MG, AC TP
14-3-79, rel. p/ o acórdão Min. Rafael Mayer, LTr 44/41).
A competência para julgar questões ambientais do trabalho
contra o empregador, inclusive por meio de ação civil pública, em
que são discutidas questões trabalhistas, é da Justiça do Trabalho,
por meio das Varas do Trabalho. Compete à Justiça do Trabalho
julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento
de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos
trabalhadores (S. 736 do STF).

8.5 Competência pessoal da Justiça Estadual


Se a localidade tiver Vara da Fazenda Pública, poderá a Justiça
Estadual julgar matérias relativas à Fazenda Pública estadual e
municipal.
Compete à Justiça dos Estados processar e julgar ação de
servidor estadual decorrente de direitos e vantagens estatutários no
exercício de cargo em comissão (S. 218 do STJ).
Compete à Justiça Estadual processar e julgar ação de
cobrança ajuizada por profissional liberal contra o cliente (S. 363 do
STJ).
9 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO VALOR
As questões de até 40 salários mínimos são propostas perante os
juizados especiais civis (art. 3º, I, da Lei n. 9.099/95).
Aberta a sessão, o juiz togado ou leigo esclarecerá as partes
presentes sobre as vantagens da conciliação, mostrando-lhes os
riscos e as consequências do litígio (art. 21 da Lei n. 9.099/95).
A conciliação será conduzida pelo juiz togado ou leigo ou por
conciliador sob sua orientação.
Obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e homologada
pelo juiz togado mediante sentença com eficácia de título executivo.
É cabível a conciliação não presencial conduzida pelo Juizado
mediante o emprego dos recursos tecnológicos disponíveis de
transmissão de sons e imagens em tempo real, devendo o resultado
da tentativa de conciliação ser reduzido a escrito com os anexos
pertinentes.
Se o demandado não comparecer ou recusar-se a participar da
tentativa de conciliação não presencial, o juiz togado proferirá
sentença.
Não obtida a conciliação, as partes poderão optar, de comum
acordo, pelo juízo arbitral.
O juízo arbitral considerar-se-á instaurado, independentemente
de termo de compromisso, com a escolha do árbitro pelas partes.
Se este não estiver presente, o juiz convocá-lo-á e designará, de
imediato, a data para a audiência de instrução.
O árbitro será escolhido entre os juízes leigos.
O árbitro conduzirá o processo com os mesmos critérios do juiz,
podendo decidir por equidade.
Ao término da instrução, ou nos cinco dias subsequentes, o
árbitro apresentará o laudo ao juiz togado para homologação por
sentença irrecorrível.
Os juizados de pequenas causas da Justiça Federal são
competentes para conciliar, processar e julgar as causas de
competência da Justiça Federal até o valor de 60 salários mínimos,
bem como executar suas sentenças (art. 3º da Lei n. 10.259/2001).
10 COMPETÊNCIA TERRITORIAL
A competência territorial (ex ratione territorii), em razão do lugar ou
ex ratione loci indica o lugar em que o juiz tem competência para
atuar.
Em certos casos, a delimitação da competência é estabelecida
pelo território.
O Tribunal de Justiça tem competência no respectivo Estado.
O Tribunal Regional Federal tem competência na área
estabelecida na lei que o criou. Por exemplo: o Tribunal Regional
Federal da 3ª Região tem jurisdição sobre os Estados de São Paulo
e de Mato Grosso do Sul, tendo sede na cidade de São Paulo.
O Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região tem jurisdição
sobre o Pará e o Amapá, tendo sede em Belém.
O juiz vai atuar dentro de certa área geográfica, que é a sua
circunscrição territorial.
O juiz de direito atua na sua comarca.
O juiz do trabalho atua na área de jurisdição determinada pela
lei federal que criou a Vara.
De um modo geral, a competência é fixada pelo domicílio do
réu desde que fundada em direito pessoal ou em direito real sobre
bens móveis (art. 46 do CPC).
Domicílio, segundo o Código Civil, é o lugar onde a pessoa
estabelece a sua residência com ânimo definitivo (art. 70).
Residência tem o sentido de permanecer, onde a pessoa mora,
dorme, faz refeições etc. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas
residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio
seu qualquer delas (art. 71 do CC).
Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha
residência habitual, o lugar onde for encontrada (art. 73 do CC).
São casos de domicílio legal ou necessário:

a) o domicílio do incapaz é o do seu representante ou


assistente;
b) o do servidor público, o lugar em que exercer
permanentemente suas funções;
c) o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da
Aeronáutica, a sede do comando a que estiver
imediatamente subordinado;
d) o do marítimo, onde o navio estiver matriculado;
e) o do preso, o lugar em que cumprir a sentença (parágrafo
único do art. 76 do Código Civil).

O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro,


alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, o seu
domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último
ponto do território brasileiro onde o teve (art. 77 do CC).
Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:

I– da União, o Distrito Federal;

II – dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;

III – do Município, o lugar onde funcione a administração


municipal;

IV – das demais pessoas jurídicas, o lugar onde


funcionarem as respectivas diretorias e
administrações, ou onde elegerem domicílio especial
no seu estatuto ou atos constitutivos (art. 75 do CC).

Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares


diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos
nele praticados.
Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro,
haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às
obrigações contraídas em relação a cada uma das suas agências, o
lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.
As causas em que a União for autora serão aforadas na seção
judiciária onde tiver domicílio a outra parte (§ 1º do art. 109 da
Constituição).
As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na
seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver
ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja
situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal (§ 2º do art. 109 da
Constituição). Se a União for a demandada, a ação poderá ser
proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou
fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito
Federal (parágrafo único do art. 51 do CPC).
É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que
seja autora a União (art. 51 do CPC).
Havendo dois ou mais réus com diferentes domicílios, serão
demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor (§ 4º do
art. 46 do CPC).
Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente
o foro de situação da coisa (art. 47 do CPC).
A competência também pode ser estabelecida em razão dos
fatos. Será fixada a competência pelo domicílio do autor ou do local
do fato, para a ação de reparação de dano sofrido em razão de
delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves (art. 53, V, do
CPC).
O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o
competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o
cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou
anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o
espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro (art.
48 do CPC).
Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é
competente: 1 – o foro da situação dos bens imóveis; 2 – havendo
bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; 3 – não havendo
bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio
(parágrafo único do art. 48 do CPC).
A ação em que o ausente for réu será proposta no foro de seu
último domicílio, também competente para a arrecadação, o
inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias
(art. 49 do CPC).
A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de
domicílio de seu representante ou assistente (art. 50 do CPC).
É competente o foro (art. 53 do CPC):

I – para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e


reconhecimento ou dissolução de união estável:
a) de domicílio do guardião de filho incapaz;
b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio
do casal;
II – de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se
pedem alimentos;
III – do lugar:
a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica;
b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa
jurídica contraiu;
c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou
associação sem personalidade jurídica;
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir
o cumprimento;
e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito previsto
no respectivo estatuto;
f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação
de dano por ato praticado em razão do ofício;
IV – do lugar do ato ou fato para a ação:
a) de reparação de dano;
b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios;
V – de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de
dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive
aeronaves.

O foro de eleição é aquele em que as partes, num contrato,


acordam no sentido de que qualquer pendência será resolvida em
determinado local. É muito comum no Direito Civil (art. 78 do CC),
ao se estabelecer no contrato firmado entre as partes, que eventuais
controvérsias resultantes da aplicação do pacto sejam resolvidas,
por exemplo, no foro de certa cidade. A parte final do art. 63 do CPC
mostra que as partes podem eleger o foro onde será proposta ação
oriunda de direitos e obrigações.
No processo do trabalho, a regra é a ação ser proposta no
último local da prestação de serviços do empregado (art. 651 da
CLT). Os parágrafos do art. 651 da CLT estabelecem exceções à
regra geral.
No processo penal, “a competência será, de regra, determinada
pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa,
pelo lugar em que for praticado o último ato de execução” (forum
delicti commissi) (art. 70 do CPP). Não se conhecendo o local da
infração, a competência será determinada “pelo domicílio ou
residência do réu” (art. 72 do CPP). Nos casos de exclusiva a ação
privada, o querelante poderá preferir a propositura da ação no
domicílio ou residência do réu, mesmo que conhecido o local da
infração (art. 73 do CPP). A competência pela natureza da infração
será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a
competência privativa do Tribunal do Júri (art. 74 do CPP).
11 COMPETÊNCIA FUNCIONAL
A competência funcional é estabelecida em razão das funções
desempenhadas pelo juiz em cada processo. O juiz singular julga
por sentença as questões que lhe são submetidas.
No tribunal, o relator apresenta seu voto, que é analisado pelo
revisor e pelo terceiro juiz. O resultado do julgamento é o acórdão,
que é feito pelo colegiado que compõe a Câmara ou Turma.
12 PERPETUAÇÃO DA JURISDIÇÃO
A competência do juiz perdura até o final da demanda. É o que se
chama de perpetuação da jurisdição (perpetuatio iurisdictionis).
O juiz competente para conhecer e decidir a postulação
continua competente até que se esgote a sua função jurisdicional
com a decisão da causa.
A competência estabelecida pela Emenda Constitucional n.
45/2004 não alcança os processos já sentenciados (S. 367 do STJ).
Assim, a competência é do tribunal que normalmente julga os
recursos das decisões de primeiro grau. Se o juiz de Direito julgou a
matéria antes da Emenda Constitucional n. 45/2004, a competência
para julgar o recurso é do Tribunal de Justiça respectivo.
A competência é determinada no momento do registro ou da
distribuição da petição inicial. São irrelevantes as modificações do
estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando
suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta
(art. 43 do CPC). Mudanças do estado de fato podem ser de
endereço do réu, do valor da coisa etc. Mudança do estado de
direito pode ser a incorporação de um imóvel por outro Município.
Se o órgão do Poder Judiciário for suprimido, a ação continuará
no seu sucessor.
Se a nova lei alterar a competência absoluta e não a relativa, o
processo segue no órgão para o qual foi designado.
Leciona Milton Paulo de Carvalho que “se a alteração produzida
pela lei nova é da matéria em sentido estrito, o processo deve
prosseguir perante o juízo instituído pela lei nova: da mesma
maneira, os autos deverão ser remetidos ao órgão de competência
recursal fixada na lei nova, se estiverem em grau de recurso. Isso
porque tanto a competência material em sentido estrito quanto a
funcional vertical são absolutas, e a incompetência absoluta deve
ser declarada tão logo surja o fato que a motivou”34.
Assevera Antonio Carlos Marcato que “é lícito reafirmar-se que
apenas a competência está sujeita à perpetuação; a incompetência,
quer a absoluta, quer a relativa (seja esta última original, seja
derivada da prorrogação), nunca estará sujeita a esse fenômeno
processual”35.
Juiz prevento é o que tomou contato com o processo em
primeiro lugar em relação a outros. Prae venire tem o sentido de
chegar primeiro.
13 CONFLITOS DE COMPETÊNCIA
Quando dois ou mais juízos se derem por competentes ou
incompetentes, dá-se o conflito de competência, positivo no primeiro
caso e negativo no segundo.
A expressão correta é conflito de competência, e não conflito de
jurisdição, como emprega o Código de Processo Penal, pois se trata
de competência material ou pessoal do juiz.
Há conflito de competência quando: a) dois ou mais juízes se
declaram competentes. É a competência positiva; b) dois ou mais
juízes se consideram incompetentes, atribuindo ao outro a
competência. É a competência negativa; c) entre dois ou mais juízes
surge controvérsia acerca da reunião ou separação de processos
(art. 66 do CPC). O juiz que não acolher a competência declinada
deverá suscitar o conflito, salvo se a atribuir a outro juízo.
Pode o conflito ser suscitado pelo juiz, pelas partes ou pelo
Ministério Público (art. 951 do CPC). A parte que já tiver oposto
exceção de incompetência não poderá suscitar conflito de
competência. Caso fosse admitido à parte suscitar conflito de
competência, quando já apresentada a exceção de incompetência,
estar-se-ia admitindo expedientes protelatórios no processo, quando
até o julgamento da exceção o processo já estava suspenso.
O STJ afirma que a competência para dirimir conflito entre Vara
do Trabalho e juiz de Direito investido de jurisdição trabalhista é do
TRT da área a que estiverem vinculados (S. 180).
A Súmula 236 do STJ mostra o entendimento de que não
compete ao referido tribunal dirimir conflitos de competência entre
juízes trabalhistas vinculados a Tribunais Regionais do Trabalho
diversos. O TST terá competência para analisar conflito de
competência entre varas pertencentes a tribunais regionais do
trabalho diferentes ou entre tribunais regionais do trabalho (art. 114,
V, da Constituição).
O STJ entende que compete ao TRT dirimir conflito de
competência verificado, na respectiva região, entre juiz estadual e
Vara do Trabalho (S. 180). O inciso V do art. 114 da Constituição
determina que a Justiça do Trabalho é competente para julgar os
conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista,
ressalvado o disposto no art. 102, I, o, da Lei Maior, que é a
competência do STF para dirimir conflitos entre tribunais superiores.
O juiz de direito exerce jurisdição trabalhista nas localidades em que
não haja varas do trabalho ou esta não tenha jurisdição sobre o
local. Nesse caso, a competência para resolver o conflito
envolvendo jurisdição trabalhista entre o juiz de direito e o juiz do
trabalho será do TRT da respectiva região. A exceção diz respeito
aos conflitos entre tribunais superiores ou entre estes e qualquer
outro tribunal, em que a competência será do STF. Conflito de
competência entre juiz do trabalho e juiz federal será dirimido pelo
STJ (art. 105, I, d, da Constituição), pois são juízes vinculados a
tribunais diversos. Compete ao Tribunal do Trabalho apreciar
recurso contra sentença proferida por órgão de primeiro grau da
Justiça Trabalhista, ainda que para declarar-lhe a nulidade em
virtude de incompetência (S. 225 do STJ).
14 REGRAS GERAIS
As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites
de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo
arbitral, na forma da lei (art. 42 do CPC).
Determina-se a competência no momento do registro ou da
distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do
estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando
suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta
(art. 43 do CPC).
Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão
remetidos ao juízo federal competente se nele intervier a União,
suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou
conselho de fiscalização de atividade profissional, na qualidade de
parte ou de terceiro interveniente, exceto as ações (art. 45 do CPC):

I– de recuperação judicial, falência, insolvência civil e


acidente de trabalho;

II – sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho.

Os autos não serão remetidos se houver pedido cuja


apreciação seja de competência do juízo perante o qual foi proposta
a ação. O juiz, ao não admitir a cumulação de pedidos em razão da
incompetência para apreciar qualquer deles, não examinará o mérito
daquele em que exista interesse da União, de suas entidades
autárquicas ou de suas empresas públicas.
O juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual sem suscitar
conflito, se o ente federal cuja presença ensejou a remessa for
excluído do processo.
A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre
bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu
(art. 46 do CPC).
Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de
qualquer deles.
Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá
ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do
autor.
Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação
será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também
residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.
Havendo dois ou mais réus com diferentes domicílios, serão
demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.
A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no
de sua residência ou no do lugar onde for encontrado.
Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é
competente o foro de situação da coisa (art. 47 do CPC).
O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de
eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade,
vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de
nunciação de obra nova.
A ação possessória imobiliária será proposta no foro de
situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta.
O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o
competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o
cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou
anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o
espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro (art.
48 do CPC).
Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é
competente:

I– o foro de situação dos bens imóveis;


havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer
II – destes;

III – não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer


dos bens do espólio.

A ação em que o ausente for réu será proposta no foro de seu


último domicílio, também competente para a arrecadação, o
inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias
(art. 49 do CPC).
A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de
domicílio de seu representante ou assistente (art. 50 do CPC).
É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que
seja autora a União (art. 51 do CPC).
Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no
foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que
originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal.
É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que
seja autor Estado ou o Distrito Federal (art. 52 do CPC).
Se o Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação
poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência
do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou
na capital do respectivo ente federado.
É competente o foro (art. 53 do CPC):

I – para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e


reconhecimento ou dissolução de união estável:
a) de domicílio do guardião de filho incapaz;
b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio
do casal;
II – de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se
pedem alimentos;
III – do lugar:
a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica;
b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa
jurídica contraiu;
c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou
associação sem personalidade jurídica;
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir
o cumprimento;
e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito previsto
no respectivo estatuto;
f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação
de dano por ato praticado em razão do ofício;
IV – do lugar do ato ou fato para a ação:
a) de reparação de dano;
b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios;
V – de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de
dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive
aeronaves.
15 COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO
No processo civil, o registro ou a distribuição da petição inicial torna
prevento o juízo (art. 59 do CPC).
Instalada a Vara do Trabalho, “cessa a competência do juiz de
direito em matéria trabalhista, inclusive para a execução das
sentenças por ele proferidas” (S. 10 do STJ).
Capítulo 16
AÇÃO
1 CONCEITOS
Ação, de actio, seria o atuar em juízo.
A ação é o direito de provocar o exercício da tutela jurisdicional
pelo Estado, para solucionar dado conflito existente entre certas
pessoas.
O Estado é que vai prestar a atividade jurisdicional para
resolver o conflito entre as partes.
Dissídio tem o significado etimológico de desinteligência,
dissenção. No processo do trabalho, é utilizado para especificar a
ação individual ou coletiva (arts. 856 a 875 da CLT) posta a exame
perante a Justiça do Trabalho.
Lide é um conflito de interesses qualificado pela pretensão do
autor, que é resistida pelo réu36.
Questão é um ponto controvertido sobre fato ou o direito
discutido.
Controvérsias são as razões de fato ou de direito que o autor
alega para exigir sua pretensão e que o réu nega.
2 TEORIAS DA AÇÃO
2.1 Imanentista ou clássica
Para Celso, a ação era o direito de pedir em juízo o que nos é
devido (ius quod sibi debeatur in iudicio persequendi). A ação seria
um capítulo do direito privado, do Direito Civil.
Nessa fase, não se distinguia o direito de ação do direito
material.
A ação seria o direito reagindo a uma violação.
Savigny entendia que o direito de ação ou o direito de agir em
juízo está ligado diretamente à existência do correspondente direito
material. No Brasil, era a teoria adotada por João Monteiro.
Afirmava-se que não haveria ação sem direito, nem direito sem
ação. A ação segue a natureza do direito.
O art. 75 do Código Civil de 1916 de certa forma adotou essa
teoria, ao rezar que “a todo direito corresponde uma ação, que o
assegura”. O Código Civil de 2002 não repetiu a mesma disposição.
O direito nem sempre tem uma ação que o assegura. Na verdade, a
ação é que vai assegurar o direito, que foi resistido pelo réu. Pode
haver direito sem que haja uma ação para assegurá-lo.
Ao ser proposta a ação, está-se levando a juízo um direito
material do qual o autor seria titular. Essa orientação não é certa,
pois, quando o pedido é rejeitado, fica claro que não existe direito
material a ser amparado em juízo, embora tenha sido exercitado o
direito de ação. O direito de ação foi exercitado, mas o direito
material não existia a ser tutelado pelo Estado. Houve direito de
ação, mas sem direito material.

2.2 Windscheid-Muther
Muther37 distinguia o direito lesado de ação. Da ação nascem dois
direitos de natureza pública: o direito do ofendido à tutela jurídica do
Estado e o direito do Estado a eliminar a lesão, em relação à pessoa
que o praticou. A ação seria um direito contra o Estado para invocar
a sua tutela jurisdicional. É um direito público subjetivo.
Bernard Windscheid escreveu, em 1856, A ação do direito civil
romano do ponto de vista do direito atual. Afirmou que o conceito
romano da actio não coincidia com o conceito de ação (klage) do
direito germânico. Mudou um pouco sua teoria, em razão das
críticas de Muther, dizendo que há um direito de agir, que é exercido
contra o Estado e contra o devedor. As doutrinas dos referidos
autores foram se complementando.

2.3 Direito autônomo


Para outros, a ação é um direito autônomo, pois há ações sem
direitos materiais, bem como existem direitos materiais sem ações.
A ação vem a ser um direito próprio, autônomo, totalmente
desvinculado do direito material.

2.3.1 Ação como direito autônomo e concreto


Adolph Wach38, na Alemanha, apresentou a teoria do direito
concreto à tutela jurídica. A ação é um direito autônomo, que não
tem relação com o direito material violado ou ameaçado. Ação é o
direito daquele a quem é devida a tutela jurídica. A pretensão da
tutela jurídica é um direito público contra o Estado e o demandado
está obrigado a suportar os seus efeitos. A pretensão da tutela
jurídica é o meio que permite fazer valer o direito, mas não é o
direito. Nas ações declaratórias, o pedido é de declaração de
existência ou inexistência da relação jurídica. A ação dirige-se contra
o Estado, que é a pessoa que pode prestar a proteção jurídica, por
meio da atividade judiciária, mas também contra o réu, em relação
ao qual se exige a sujeição. A autonomia do direito foi demonstrada
por ele pela ação declaratória negativa, em que o autor pretende
obter do Estado uma declaração de inexistência da relação jurídica.
A tutela jurisdicional só pode ser satisfeita pela sentença que
julga o pedido favorável do autor. Se o rejeitar, o direito material não
existe.
Büllow afirmou que a tese da ação como direito subjetivo
anterior ao juízo não existe. Somente com a tutela jurisdicional
nasce o direito de obter uma sentença justa.
Outros adeptos da teoria foram Schimidt, Hellwig e Pohle.
Entretanto, a sentença justa pode ser rejeitar integralmente o pedido
do autor e dar razão ao réu.
Kohler afirmava que não é a ação que decorre da pretensão
procedente. Se a pretensão é ou não fundada, será resolvida pela
sentença. A ação é decorrente dos direitos da personalidade. O
direito de ação é um direito individual, como de andar, de comerciar
etc.
Giuseppe Chiovenda profere, em 1903, uma conferência na
Universidade de Bolonha sobre o tema: A ação no sistema dos
direitos. A ação é um direito potestativo, em relação ao qual
ninguém pode se opor. A ação seria um direito autônomo, distinto do
direito material. O direito de ação não seria um direito subjetivo. O
direito de ação do autor produziria o efeito de fazer funcionar a
atividade jurisdicional do Estado. A ação é dirigida contra o réu, que
ficaria num estado de sujeição. O réu não pode evitar a propositura
da ação e fica sujeito a um ônus39. Seria o direito de provar a
atividade jurisdicional contra o adversário. A ação seria um direito,
um direito de poder. Tal direito pertence ao autor, que tem razão,
contra o réu, que não tem. Mostra também a necessidade da
obtenção de uma sentença favorável. A ação é poder jurídico de dar
vida à condição para a atuação da vontade da lei40.
No Brasil, Celso Agrícola Barbi adotava a teoria da ação como
direito potestativo.

2.3.2 Ação como direito autônomo e abstrato


Degenkolb, em 1877, na Alemanha, já tinha criado a teoria da ação
como direito abstrato de agir. A ação é desvinculada da pretensão
dos que a exercitam. Só existiria o direito de ação quando o pedido
fosse acolhido pela sentença. Plósz41 cria a referida teoria na
Hungria também.
O direito de ação independente do direito material postulado.
Existe direito de ação mesmo quando a sentença rejeita o pedido do
autor. A postulação contida na ação pode ser temerária, mas mesmo
assim foi exercido o direito de ação.
O direito de ação depende da tutela do Estado, segundo Alfredo
Rocco. É configurado o direito de ação pelo fato de que a pessoa
faz referência a um interesse primário. Existiria um interesse
principal e um interesse secundário. Este consiste “na eliminação de
certos obstáculos que se opõem à direta realização da utilidade
principal”. Este interesse secundário “existe porque existe a
proibição da defesa privada”. O direito de ação seria exercido contra
o Estado. O ofendido deve solicitar a intervenção do poder
jurisdicional do Estado, que toma para si a exclusividade da tutela. É
um direito público subjetivo do indivíduo contra o Estado. O Estado
intervém para eliminar os óbices que a incerteza ou a inobservância
da norma aplicável ao caso concreto possam opor à realização dos
interesses tutelados.
Emílio Betti afirma que a pretensão é uma situação de direito,
abstratamente idônea, feita pela parte. Ação é o poder de dar início
ao processo. Ação é o poder jurídico de provocar a atuação
jurisdicional da lei com referência a determinada pretensão. A ação
seria proposta contra o adversário, e não com o Estado. O direito de
ação não se liga à existência objetiva da situação de direito
afirmada, mas simplesmente à afirmação da pretensão.
Carnelutti afirma que a ação é um direito abstrato e de natureza
pública, mas é dirigida contra o juiz, e não contra o Estado. Na
verdade, a ação não é proposta contra o juiz ou o Estado, que não
são partes, mas contra o réu. O juiz é um agente do Estado. O
Estado fornece seu aparelhamento público para que seja exercitado
o direito de ação. A ação é um direito subjetivo processual das
partes42. A ação é o direito de obter uma sentença sobre a lide
deduzida no processo. O direito de ação existe mesmo para quem
não possua o direito material ou sua pretensão seja infundada43.
Pekelis entende que há um direito de fazer agir o Estado, e não
direito de agir.

2.4 Liebman
Para Liebman, o direito de ação é um direito subjetivo instrumental.
É mais do que um direito, um poder ao qual não corresponde a
obrigação do Estado. O Estado tem interesse na distribuição da
Justiça. Entende que foi exercida a função jurisdicional quando o
juiz pronuncia a sentença de mérito44, analisando a pretensão
material deduzida em juízo. Entretanto, o juiz pode extinguir o
processo sem resolução de mérito.
3 NATUREZA JURÍDICA DA AÇÃO
Já afirmou Mortara que em todas as teorias há um fundo parcial de
verdade, “cumprindo recolher e condensar o melhor suco de cada
uma”.
O autor pode postular indenização por dano material, mas sua
pretensão é rejeitada. O autor exerceu o direito de ação, contudo
não viu reconhecido o seu direito, mostrando que um não depende
do outro, sendo, portanto, autônomos.
Hoje, o direito de ação não está ligado ao direito material,
sendo totalmente independente em relação a este, do fato de o
autor ter razão quanto ao que postula ou o direito a lhe ser
determinado.
Alguns autores entendem que há um desdobramento da teoria
da ação como direito autônomo, ao se dizer que a ação é movida
contra o Estado. É um direito de se exigir a prestação da tutela
jurisdicional do Estado, mas a ação, segundo entendo, não é
exercida contra o Estado, mas contra quem nega a pretensão
resistida, que é posta em conflito perante o Poder Judiciário.
Segundo essa orientação, a ação seria dirigida contra o
demandado, e não contra o Estado, sendo um direito de natureza
privada.
O direito de ação é decorrente do direito de petição, autônomo
do direito material, sendo um direito público subjetivo da parte
invocar a tutela jurisdicional, que é prestada pelo Estado, e não pelo
particular, como ocorreria na arbitragem ou na mediação. A própria
Constituição assegura o direito de livre acesso ao Judiciário, não
excluindo da apreciação deste a lesão ou ameaça de qualquer
direito (art. 5º, XXXV). É direito subjetivo, pois se trata de faculdade
de agir, de ajuizar a ação, e não de obrigação legal.
Sendo feita a postulação em juízo, o Estado tem o dever de
prestar a jurisdição em relação ao que foi provado.
O titular da ação é o Estado na ação penal. O Estado
geralmente não é o titular da ação, salvo na ação penal ou quando é
proposta pelo ente público.
4 ELEMENTOS DA AÇÃO
Os elementos da ação são: os sujeitos, a causa de pedir e o objeto.
O sujeito da ação é a pessoa que pode ingressar com um
processo perante o Judiciário. O trabalhador autônomo, v. g., é
sujeito do processo, mas não tem direito de ação na Justiça do
Trabalho, que é incompetente para examinar sua pretensão. Réu é
a pessoa que responde à postulação. Tem um processo contra si
proposto perante o Poder Judiciário.
A causa de pedir pressupõe a existência de um direito material
assegurado ao autor, o qual gerou a pretensão resistida. A causa de
pedir vai ser a base para o pedido, que é consequência da
pretensão resistida. O Poder Judiciário é provocado para
reconhecer ou não o direito que a parte pretende ver assegurado.
A causa de pedir compreende os fundamentos de fato e de
direito pelos quais o autor faz o seu pedido. É o fundamento pelo
qual o autor faz sua postulação.
Causa de pedir remota é o direito que fundamenta o pedido do
autor. É também chamada de causa de pedir mediata (teoria da
substanciação).
Causa de pedir próxima ou imediata é o fato que dá origem ao
direito (teoria da individuação). O contrato geralmente é lembrado
como causa de pedir imediata.
Os fatos podem ser essenciais ou principais e secundários,
circunstanciais ou intermediários.
Os fundamentos jurídicos não se confundem com os
fundamentos legais, que são a indicação da norma legal que
ampara a pretensão. Na teoria da individuação basta dizer que é
credor, e não por que é credor.
O objeto da ação é o pedido (petitum) de obtenção de um
pronunciamento judicial, que pode ser favorável ou não ao autor.
Primeiramente, vai ser obtido um pronunciamento do Poder
Judiciário e depois é que este irá atribuir um bem jurídico ao
postulante, quanto a seu pedido.
Pedido imediato é o pedido direto. É o que se pretende que o
Poder Judiciário assegure à parte, como a declaração da relação
jurídica ou a condenação do réu. É o que o autor deseja
diretamente. É o pedido dirigido ao Poder Judiciário para deferir a
tutela pretendida. É a natureza do provimento jurisdicional
pretendido.
Pedido mediato é o pedido indireto. É o que o autor pretende
ver assegurado, o bem material ou imaterial postulado. É o bem da
vida pretendido.
5 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES INDIVIDUAIS
As ações podem ser classificadas quanto ao número de autores em:
(a) individuais, em que há um único autor no polo ativo, e plúrimas,
em que existem vários autores no polo ativo da ação; e (b) coletivas,
como nos dissídios coletivos, que beneficiam um número
indeterminado de pessoas.
Quanto à providência jurisdicional, as ações individuais podem
ser classificadas em de conhecimento, de execução, cautelares e
mandamentais.

a) As ações de conhecimento são as em que se busca a


solução de dado conflito de interesses ou de uma pretensão
resistida. Nessa fase processual, apenas vai ser assegurado
se o direito é devido ou não, sem se compelir a parte
contrária a cumprir o resultado que for proclamado.
As ações de conhecimento podem ser divididas em
declaratórias, constitutivas e condenatórias.
Nas ações declaratórias, o interesse do autor pode limitar-se
à declaração da existência, da inexistência ou do modo de
ser de uma relação jurídica (art. 19, I, do CPC). A sentença
trabalhista normalmente tem um cunho declaratório, ao
reconhecer o vínculo de emprego entre as partes. A sentença
declara o reconhecimento da condição de filho, para depois
mandar pagar pensão alimentícia. Pode ser pedido também
que a sentença declare a validade ou falsidade de certo
documento (art. 19, II, do CPC).
Nas ações constitutivas, o autor irá pretender a criação,
modificação ou extinção de dada relação jurídica. Ex.: a
sentença que reconhece causa para a separação judicial
determina depois a separação, pondo fim ao matrimônio.
Pode-se ingressar com uma ação que terá por finalidade a
desconstituição de penalidades pelo sócio de um clube.
As ações condenatórias são aquelas em que se busca a
obtenção de um título judicial, assegurando o direito material
pretendido. Podem ser de obrigação de fazer, de entregar
uma coisa; de não fazer, de não emitir sons acima de 80
decibéis; de pagar, como da parte que pede o pagamento de
indenização por dano moral.
Muitas vezes, nas ações constitutivas e condenatórias, é
preciso que seja declarada a relação jurídica entre as partes
para se modificar a relação anterior e determinar o
pagamento de um valor.
b) As ações executórias visam à execução daquilo que já foi
determinado na fase de conhecimento ou de cognição,
quando se assegurou o direito material pretendido. Na
execução, pretende-se apenas que o devedor cumpra, com o
auxílio do juízo, a obrigação que lhe foi imposta na fase de
conhecimento, mediante execução forçada, se for o caso.
c) As tutelas cautelares visam à concessão a certa pessoa de
uma providência jurisdicional acautelatória, de cunho
processual, visando ser possível a propositura de futura ação
principal, na qual será discutido o mérito da questão. A parte
pode pedir o arresto de uma boiada antes que ela seja levada
para o frigorífico e transformada meramente em carne.
O art. 828 do CPC faz menção a arresto sobre bens. A tutela
de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada
mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de
protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida
idônea para asseguração do direito (art. 301 do CPC).
d) As ações mandamentais visam a que a autoridade cumpra
uma ordem, fazendo ou deixando de fazer algo.
Quanto ao procedimento, podem existir ações com
procedimento comum ou com procedimentos especiais, que
compreendem ritos diferenciados para certas ações, que,
depois de contestadas, seguem o rito ordinário.
Quanto ao objeto, as ações podem ser mobiliárias ou
imobiliárias. São mobiliárias as que dizem respeito a bens
móveis. São imobiliárias as inerentes a bens imóveis, como
ação de imissão de posse, de reintegração de posse, de
manutenção de posse, interdito proibitório, de despejo etc.
Quanto ao fim, as ações podem ser reipersecutórias, penais
ou mistas. Nas ações reipersecutórias, o pedido é do que é
devido à pessoa ou do que está fora do seu patrimônio.
Ações penais são as que se pede uma penalidade, como a
cláusula penal, a multa contratual. Mistas são as ações em
que há aspectos reipersecutórios e penais ao mesmo tempo.
Na ação de sonegação de bens em inventário, pede-se a
devolução dos bens ao espólio, com a cominação de pena,
importando, ainda, a destituição do inventariante no espólio.
Ações patrimoniais podem ser pessoais ou reais. São
pessoais as que dizem respeito às pessoas. São reais as que
dizem respeito a coisas.
No âmbito trabalhista, ação individual é a proposta pelo
empregado contra o empregador. A postulação é de
pagamento de salários, horas extras etc. Ações coletivas são
as propostas nos dissídios coletivos, como o dissídio de
greve, o dissídio na data-base proposto pelo Sindicato de
empregados contra o Sindicato de empregadores de certa
categoria. Neste último, interessa a criação de novas
condições de trabalho para a categoria.
No processo penal, a ação pública incondicionada é da
competência do Ministério Público. A ação pública
condicionada é promovida pelo Ministério Público, mas
condicionada à manifestação da vontade de uma pessoa,
mediante representação do ofendido. A ação exclusivamente
privada é da competência do ofendido ou da pessoa que o
represente. A ação privada subsidiária da ação pública é
proposta nos crimes de ação penal pública, se o Ministério
Público não oferecer a denúncia no prazo legal. A ação penal
privada personalíssima tem exercício da competência, única
e exclusiva, do ofendido.
6 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES COLETIVAS
Os dissídios coletivos podem ser divididos em econômicos ou de
interesse ou jurídicos ou de direito.
Os dissídios coletivos de natureza econômica têm por objeto a
criação de novas condições de trabalho, ou a modificação das já
existentes. Os dissídios coletivos de natureza jurídica visam apenas
interpretar certa norma, declarando-se seu conteúdo ou sua
aplicação correta. A interpretação poderá ser de um dispositivo
legal, convencional ou de sentença normativa.
Outros autores preferem classificar as ações coletivas segundo
a natureza de suas sentenças. Assim, podem ser divididas em de
natureza constitutiva ou declaratória. Nos dissídios de natureza
constitutiva, o objetivo é criar novas condições de trabalho para a
categoria, daí por que se dizer que a sentença teria natureza
constitutiva. Já nos dissídios coletivos de natureza declaratória, o
objeto é apenas declarar a existência ou a inexistência de uma
relação jurídica, que ocorre nos dissídios de natureza jurídica ou de
interpretação. Ex.: a declaração da legalidade ou ilegalidade da
greve ou, como se diz atualmente, da abusividade ou não
abusividade do movimento paredista.
Nos dissídios coletivos, não existem ações de natureza
condenatória, mas apenas de natureza constitutiva ou declaratória.
A sentença normativa não tem natureza condenatória, apenas cria
ou interpreta certa norma, que vai, posteriormente, ser objeto de
ação de cumprimento na Vara do Trabalho.
Podem, ainda, os dissídios coletivos ser:

a) originários, quando inexistentes ou em vigor normas e


condições especiais de trabalho decretadas em sentença
normativa. Há a criação de condições de trabalho (art. 867 da
CLT);
b) de revisão, quando destinados a rever normas e condições
coletivas de trabalho preexistentes que se hajam tornado
injustas ou ineficazes pela modificação das circunstâncias
que as ditaram, isto é, em razão de fato superveniente (arts.
873 a 875 da CLT);
c) de declaração sobre a paralisação de trabalho decorrente de
greve dos trabalhadores;
d) de extensão, que visa estender as condições de trabalho a
outras pessoas (arts. 868 a 871 da CLT).

A ação de cumprimento é a que visa cumprir o que foi


estabelecido na norma coletiva (art. 872 da CLT).
7 CONDIÇÕES DA AÇÃO
Liebman entendia que eram três as condições da ação:
possibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e legitimidade das
partes45.

a) Possibilidade jurídica do pedido: o pedido do autor tem de


estar amparado por uma norma de direito material que o
assegure. Exemplo que sempre se dava era o do divórcio,
quando este não era previsto em nosso direito. Não havia
possibilidade jurídica do pedido de divórcio, porque nossa
legislação não o amparava, ao contrário do que acontece
agora. O juiz não tem o poder de criar a norma, que é de
competência do Congresso Nacional.
Hoje, o CPC de 2015 não mais considera possibilidade
jurídica do pedido como condição da ação. Deve, portanto,
ser considerado mérito, de analisar se existe ou não o direito
da parte.
No processo penal se costuma dar o exemplo de
impossibilidade jurídica do pedido com ausência de
tipicidade.
b) Interesse de agir: é o interesse da parte de recorrer ao
Judiciário para a obtenção do reconhecimento de um direito
ameaçado ou violado. É a necessidade de obter o provimento
postulado, em razão de que não foi satisfeito pelo réu. Faltará
interesse de agir se a parte puder obter a sua postulação
sem a intervenção do Poder Judiciário. Exemplo: o
empregado não pode pretender a indenização em dobro, em
decorrência de ser estável, se não foi despedido. Falta
interesse de agir.
O interesse de agir compreende o trinômio
utilidade/necessidade/adequação. Utilidade tem o sentido de
obter o resultado útil na utilização do Poder Judiciário. A
adequação é a situação em que o autor pretende ver obtido o
provimento jurisdicional pedido, visando corrigir aquilo que
pretende e não é satisfeito pelo réu. Necessidade é o fato de
que, sem a intervenção do Poder Judiciário, não irá o autor
obter o seu direito, pois a parte contrária se nega a satisfazê-
lo.
O interesse processual é a utilidade e a necessidade de
ajuizar a ação para obter a tutela jurisdicional em razão da
resistência do réu.
c) Legitimidade da parte (ou ad causam): deve haver
identidade da pessoa que faz o pedido (autor) com a pessoa
a que a lei assegura o direito material. O mesmo ocorre no
polo passivo da ação. Esta deve ser proposta contra pessoa
que nega o direito pretendido pelo autor. O empregado não
pode mover ação contra a empresa na qual não trabalhou.
Uma pessoa não pode ajuizar ação como substituto
processual, se não detém essa qualidade, pois será parte
ilegítima para propô-la. O Ministério Público tem legitimidade
para ajuizar a ação civil pública. O cidadão tem legitimidade
para ajuizar, em nome próprio, a ação popular.
Legitimação para a causa (legitimatio ad causam) diz respeito
ao direito de ação para determinada demanda. A ação só
pode ser proposta por quem é o titular do direito. É a
legitimação para agir. Um trabalhador não pode cobrar
verbas trabalhistas de uma empresa se nela nunca trabalhou.
Legitimação para o processo (legitimatio ad processum)
refere-se à relação jurídico-processual, quanto a qualquer
processo. É a capacidade processual genérica de estar em
juízo. É a legitimação formal. É pressuposto processual.
Legitimação pode ser: (a) ordinária ou comum, quando é o
próprio titular do direito quem ajuíza a ação; (b)
extraordinária, quando a lei autoriza que terceiro postule em
nome próprio direito de outra pessoa; (c) exclusiva: só uma
pessoa detém essa legitimidade para atuar em juízo; (d)
concorrente: quando a ação puder ser proposta tanto pelo
titular do direito como pelo terceiro.
De acordo com a teoria da asserção, a análise das condições
da ação deve ser feita por meio da indicação da petição
inicial, independentemente do que foi alegado na contestação
ou do que foi provado no processo. É a aferição statu
assertionis.
Capítulo 17
PROCESSO
1 CONCEITOS
A palavra processo é polissêmica, tendo vários significados.
Processo vem do latim processus, de procedere, de caminhar,
marchar à frente, avançar.
Na Sociologia, processo é a sucessão sistemática de mudanças
numa direção definida.
Num sentido geral, processo é um conjunto de ações destinado
a proporcionar um resultado.
Processo pode significar a ciência processual, o direito
processual, como ramo do conhecimento jurídico.
Processo pode ser um meio dialético de debate, com
afirmações, oposições e sínteses.
O processo é o complexo de atos e termos coordenados por
meio dos quais a ação é exercitada, sendo concretizada a prestação
jurisdicional por intermédio dos órgãos jurisdicionais.
Leciona João Mendes Jr. que o processo é o “meio, não só para
chegar ao fim próximo, que é o julgamento, como ao fim remoto,
que é a segurança constitucional dos direitos e da execução das
leis”.
Carnelutti afirma que o processo é o continente, do qual a lide é
o conteúdo. A pretensão é o reconhecimento do direito material
postulado em juízo.
O processo nasce com a propositura da ação. Na concessão de
liminares ou na tutela antecipada ainda não foi feita a citação, mas
existe processo. O juiz pode indeferir a petição inicial sem
julgamento de mérito. Para isso, já existe o processo, pois do
contrário o processo não poderia ser extinto sem a resolução de
mérito.
Autos são a reunião de peças e documentos do processo, como
a petição inicial, contestação, documentos de defesa, ata de
audiência, sentença, recursos etc. Não se consulta o processo, mas
os autos do processo.
2 ESPÉCIES
As espécies de processo são de conhecimento, de execução e
cautelar.
O processo de conhecimento ou de cognição envolve ações
declaratórias, constitutivas e condenatórias.
O processo de execução tem por fundamento o título, que pode
ser judicial ou extrajudicial. Caso o devedor não pague aquilo que
consta da sentença que transitou em julgado, haverá execução
forçada, com penhora de bens.
O processo sincrético é aquele que vai da etapa de
conhecimento até a etapa da execução, com a obtenção do bem
jurídico pretendido.
O processo cautelar ou tutela cautelar pode ser preventiva ou
preparatória, que é proposta antes da ação principal e incidente,
depois da ação principal ser proposta. Trata-se de uma medida
urgente, que visa assegurar meio processual para o cumprimento da
decisão. Seu objetivo não é conceder o próprio direito material à
parte, que teria característica satisfativa.
Por meio da ação se provoca a instauração da jurisdição. O
processo é instrumento por meio do qual será exercitada a
jurisdição.
3 NATUREZA JURÍDICA DO PROCESSO
3.1 Direito romano
No Direito romano, o processo era um contrato entre as partes
(litiscontestatio), por meio do qual as partes acordavam aceitar a
decisão proferida, quando o contrato ficava perfeito e acabado.
Ulpiano afirmava que “em juízo se contrai obrigações, da mesma
forma que nas estipulações”. Seria um contrato judicial, em que as
partes dão ao juiz os elementos necessários a respeito das suas
razões para acatar a sua decisão, mas em juízo não se faz contrato.
Pothier, no Direito francês, inseria o processo no mesmo plano
da doutrina prevista no contrato social. Rousseau afirmava que
“enquanto os cidadãos se sujeitam às condições que eles mesmos
pactuaram, ou que eles poderiam ter aceito por decisão livre e
racional, não obedecem a ninguém mais que à sua própria vontade”.
O iudicium era um contrato. Pressupunha um acordo de vontades,
ou uma convenção das partes, de aceitarem a decisão do juiz.
O contrato é uma livre manifestação de vontade das partes. No
processo, isso não ocorre, pois o réu está numa situação de
sujeição. O processo não é decorrência de um negócio jurídico.
Na verdade, as partes não se submetem voluntariamente ao
processo, principalmente o réu, que não tem interesse nenhum em
ser citado e participar da relação processual, tendo gastos com o
processo, inclusive na contratação de advogado para poder se
defender.

3.2 Processo como quase-contrato


Arnault de Guényvau, no século XIX, criou a teoria do processo
como quase-contrato. Se o processo não era um contrato e não era
também um delito, só poderia ser um quase-contrato. Na
litiscontestatio, o consentimento não era inteiramente livre. Caso o
réu se recusasse a comparecer perante o pretor, o autor poderia,
utilizando o in ius vocatio, conduzi-lo à força. A litiscontestatio não
era, portanto, um contrato, porque pressupõe um acordo de
vontades.
O processo não pode ser enquadrado nas categorias do Direito
Privado, como se fosse venda e compra, locação, empreitada etc.
Os autores de Direito Constitucional e de Direito Administrativo
apresentaram a tese do processo como serviço público (Gastón
Jèze). Esses autores negavam a existência da relação de direito no
processo e procuravam justificar a relação como de fato.

3.3 Processo como relação jurídica


Büllow apresentou, em 1868, a teoria de que no processo há uma
relação de direitos e obrigações recíprocos, uma relação jurídica46
entre as partes e o juiz. É uma relação jurídica pública. A relação
jurídica processual está em constante movimento e transformação47.
Judicium est actum trium personarum: juiz (judicis), autor (actoris) e
réu (rei). Há, portanto, uma relação jurídica processual, que vai
estabelecer regras de conduta no processo para as partes e o juiz.
Há duas relações: a de direito material, que é discutida no processo;
de direito processual, que é o meio pelo qual se faz a discussão do
direito material postulado em juízo.
Ele sistematizou essa teoria no livro Teoria das exceções e dos
pressupostos processuais (Die Lehre Von den Processeinreden und
die Processvoraussetzungen, Giessen, 1868).
A relação jurídica processual se distingue da relação de direito
material por três pontos: a) seus sujeitos (autor, réu e juiz), que
estabelecem uma relação de direitos, obrigações, sujeições, que
são feitos por meio de atos que se sucedem até a sentença,
formando o processo; b) por seu objeto, que é a prestação
jurisdicional em relação ao bem da vida postulado; c) por seus
pressupostos processuais.
Há críticas a essa teoria. O processo estaria dividido em duas
fases: a) in jure, em que se comprovam os pressupostos
processuais; b) apud judicem, em que se examina o mérito, que
nem mesmo existia no Direito Romano. O juiz tem obrigações no
processo, mas não fica sujeito a sanções processuais pelo
descumprimento de regras. As partes não têm obrigações no
processo, mas estão em estado de sujeição à autoridade do órgão
jurisdicional.

3.4 Processo como situação jurídica


Goldschmidt afirma que onde havia o direito, agora há meras
chances, possibilidades, expectativas e ônus. Possibilidades porque
há necessidade de praticar atos para que o direito possa ser
reconhecido pelo juiz. Existe expectativa no reconhecimento do
direito. A perspectiva é por uma sentença favorável à pretensão da
parte. Há necessidade de assumir ônus, no sentido de praticar atos
para evitar que a sentença seja desfavorável à parte. Ele alega que
o processo seria uma situação jurídica, e não uma relação jurídica48.
O processo tem uma relação dinâmica.
No processo, não existe uma situação, de forma isolada, mas
um complexo de situações. Na verdade, o processo não está em
dúvida. Em dúvida está o direito material da parte.
3.5 Processo como instituição
Jaime Guasp e Eduardo Couture entenderam que o processo tem
natureza jurídica de instituição.
Para Couture, o processo se caracteriza como instituição
jurídica: a) por haver um grupo trabalhando para a prestação da
tutela jurisdicional; b) o Estado-juiz tem característica de
superioridade em relação às partes; c) a obra construída,
caracterizada pelo processo/Justiça, teria característica de
durabilidade.
Não há como diferenciar o processo de uma instituição.
Instituição é algo que perdura no tempo, que tem característica
durável, como a associação, a Igreja, a família, o Estado etc. A
teoria da instituição nasce no Direito Constitucional ou no Direito
Administrativo. O processo não foi feito para durar no tempo. Aliás,
hoje se fala em razoável duração do processo. O processo não
pode durar muito tempo, sob pena de prejudicar a parte mais fraca.

3.6 Conclusão
O processo não é um mero procedimento, como disse Büllow, mero
regulamento de formas e ordem dos atos do juiz e das partes, ou
mera sucessão de atos.
O processo é um instrumento pelo qual o autor postula em juízo
para fazer valer o seu direito49. É o meio pelo qual se exercita a
função jurisdicional do Estado. É o complexo de atos que tem por
objetivo ser proferida a sentença, que, em tese, seria a pacificação
social da relação jurídica entre as partes.
Não há dúvida do fato de que o processo tem característica
pública, pois é desenvolvido perante o Poder Judiciário.
O réu é chamado a juízo, por meio da citação, para integrar a
lide, mesmo que isso seja contra a sua vontade.
A relação jurídica processual é o nexo que liga as partes ao juiz,
mediante poderes, deveres, faculdades, obrigações, sujeições,
ônus.
O processo é uma relação jurídica complexa, que tem direitos,
deveres e ônus a serem observados pelas partes, de acordo com a
previsão da lei processual. É uma relação jurídica processual, em
que são partes autor e réu, dirigidos pelo juiz.
Em tese, as partes deveriam cooperar e se sujeitar às
determinações legais e do juiz com o objetivo de ser proferida a
sentença e resolver o litígio.
A relação jurídica processual é progressiva, pois ela se inicia
com a petição inicial. A parte contrária é citada para apresentar
defesa e documentos. São ouvidos os depoimentos pessoais e
testemunhais e é proferida a sentença. Caso essa não seja
cumprida espontaneamente, há a execução forçada, com a penhora
de bens.
O processo é desenvolvido sob o contraditório.
Visa o processo dar, na medida da possibilidade prática, a
quem tem um direito, tudo aquilo e exatamente aquilo que tem
direito de obter50.
O processo é uma forma de realização do Direito, de dar
efetividade ao Direito por meio da solução estatal.
4 RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL
A relação jurídica processual é triangular. É o actum trium
personarum: judicis, actoris et rei.
Ela se distingue da relação jurídica material, pois esta, muitas
vezes, tem duas partes: contratante e contratado, vendedor e
comprador. Ela é, portanto, autônoma. A relação processual se
desenvolve com três pessoas: juiz, autor e réu.
A relação jurídica processual é uma relação complexa, pois
envolve um complexo de atos processuais. Não existe um único
direito ou uma única obrigação, mas um complexo de direitos,
obrigações, ônus, que são coordenados entre si para a obtenção de
um fim, que é a solução do litígio pela sentença.
É dinâmica a relação processual, pois importa atos sucessivos.
É uma relação em constante movimento ou como diz Büllow: é uma
relação progressiva.
A relação jurídica processual é uma relação de direito público,
pois as normas são de ordem pública. A relação se desenvolve
perante o Poder Judiciário, que é um órgão público.
Não se pode dizer que a relação entre o autor e réu é uma
relação privada, pois estão em juízo e devem observar normas de
ordem pública. Se o Estado está em relação de superioridade sobre
as partes, fazendo uso do seu poder de império, está-se diante de
relação de direito público51. É o que ocorre no processo, em que o
Estado vai impor a solução do conflito às partes, que ficam num
estado de sujeição. Seria de direito privado a relação se fosse um
contrato, mas não é isso que ocorre.
A relação processual se diferencia da relação de direito material
por ter: a) sujeitos próprios: juiz, autor e réu; b) objeto próprio; c)
pressupostos próprios.
O juiz não é exatamente sujeito, mas agente do Estado, no
exercício da prestação jurisdicional por parte do Estado. Ele deve
ser desinteressado em relação à lide. Deve ser imparcial. Chiovenda
afirma que o juiz é a coluna vertebral da relação processual. O juiz
tem o poder de dirigir o processo, em razão de estar investido dessa
condição pelo Estado. O juiz não atua em nome próprio, mas em
nome do Estado, do qual é um agente. As partes têm um estado de
sujeição em relação ao juiz.
O objeto da relação processual é a prestação jurisdicional por
parte do Estado. É a análise da pretensão da parte, podendo a
sentença acolher ou rejeitar o pedido. O objetivo do processo é
eliminar insatisfações.
A relação jurídica processual implica uma série de posições
jurídicas ativas e passivas pelos sujeitos do processo. Tem,
portanto, característica complexa.
É uma relação jurídica progressiva, que começa com a petição
inicial e vai até a sentença, passando pelos recursos e pela
execução forçada. É um processo dinâmico.
A unidade da relação é um objetivo comum, que visa ser
proferida a sentença, como ato do Poder Estatal, resolvendo a lide
entre as partes.
Tem natureza pública a relação jurídica processual, pois é
disciplinada pela previsão da lei de ordem pública e sob o
aparelhamento do sistema estatal de prestação jurisdicional. A
relação, portanto, é de direito público, em que há preponderância de
normas de Direito Público.
A relação jurídica processual é autônoma, pois independe do
direito material postulado ser reconhecido pelo juiz.
Na medida do que for praticamente possível, o processo deve
proporcionar a quem tem um direito tudo aquilo e precisamente
aquilo que ele tem o direito de obter52.
5 SUJEITOS DO PROCESSO
Fazem parte da relação processual o juiz, o autor e o réu.
O juiz não é exatamente um sujeito do processo, mas dirige o
processo.
É uma pessoa investida de autoridade e jurisdição pelo Estado
com o objetivo de dirimir a lide entre autor e réu. Exerce o juiz uma
função estatal, de agente político do Estado.
O juiz tem obrigação de decidir a lide. Tem poderes
ordinatórios, de andamento do processo; poderes instrutórios, de
ouvir as partes e as testemunhas, poderes decisórios e de execução
forçada, determinando a penhora de bens.
Os atores do processo são autor e réu. O autor faz a dedução
do seu pedido perante o juízo (qui res in iudicium deducit). O réu
tem uma pretensão deduzida contra si (is contra quem res in
iudicium deducitur). São as partes também chamadas de
demandante e demandado.
Autor e réu estão em posições contrárias no processo, um de
postulação e o outro de defesa ou de sujeição. Ninguém pode
demandar contra si próprio. É a existência da dualidade de partes.
Parte-se do pressuposto no processo civil que as partes são
iguais e devem ter tratamento igual, de acordo com o princípio da
igualdade processual.
Autor e réu desenvolvem o processo de acordo com o princípio
do contraditório. Feita uma alegação, deve ser ouvida a parte
contrária.
Geralmente no processo penal, o Ministério Público é o autor da
ação. O réu ou acusado é quem está sendo acusado de ter
cometido o crime ou a contravenção. Na hipótese de ação penal de
iniciativa privada, o autor é o ofendido.
5.1 Litisconsórcio
Litisconsórcio é a existência de várias pessoas em cada polo da
relação processual.
O litisconsórcio pode tanto aparecer no início do processo, no
qual vários autores ingressam com ação contra a mesma empresa,
como no seu decorrer, em que aparecem outras pessoas estranhas
à lide inicial. O litisconsórcio pode ser tanto voluntário, em que não
há nenhuma imposição da lei em sua formação, como pode decorrer
da norma legal, impondo a aglutinação das pessoas em certo polo
da ação.
Litisconsórcio ativo é a pluralidade de autores no polo ativo da
ação. É, muitas vezes, o que ocorre na Justiça Federal, em que
questões tributárias e previdenciárias, administrativas, que
envolvem uma mesma pretensão para todas e, portanto, uma
mesma decisão, pois os casos são iguais.
Litisconsórcio passivo é a pluralidade de réus no polo passivo
da ação.
O litisconsórcio pode ser classificado da seguinte forma:

a) quanto ao momento de sua constituição: litisconsórcio


originário ou inicial e litisconsórcio superveniente (ou
posterior);
b) quanto à necessidade ou não de sua constituição:
litisconsórcio necessário (ou indispensável) e
litisconsórcio facultativo (ou dispensável). O litisconsórcio
necessário é indispensável para a validade do processo e
para ser proferida a sentença, sob pena de invalidade;
c) quanto à posição das partes na relação processual:
litisconsórcio ativo, passivo ou misto;
d) quanto à natureza da decisão: litisconsórcio simples e
litisconsórcio unitário. No litisconsórcio unitário, os
litisconsortes devem ter tratamentos homogêneos.

A lei não impõe a formação do litisconsórcio facultativo, que fica


subordinada à vontade das partes (art. 113 do CPC). Na verdade, as
ações até poderiam ter sido ajuizadas individualmente.
Exige-se no litisconsórcio facultativo apenas que:

a) haja uma mesma relação material entre as partes


envolvidas, que possuam mesmos direitos e obrigações a
serem cumpridos, quanto ao conflito de interesses;
b) os direitos ou as obrigações derivam de um mesmo
fundamento de fato ou de direito, como ocorre se vários
empregados forem demitidos por justa causa sob a pecha
de ato de improbidade;
c) deve haver entre as causas conexão, ou pelo objeto ou
pela causa de pedir.

O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao


número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de
sentença ou na execução, quando comprometer a rápida solução do
litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença (§ 1º do
art. 113 do CPC). Há, porém, necessidade de pedido. O pedido de
limitação interrompe o prazo da defesa, caso a determinação seja
feita em audiência, sendo necessário ser designada nova audiência
para esse fim. Pelo CPC, a limitação do litisconsórcio diz respeito
tanto à fase de conhecimento, como ocorria antes, mas também na
liquidação de sentença ou na execução.
O litisconsórcio necessário é formado por força de
determinação legal, em que a sentença proferida depende de que
todas as pessoas legitimadas estejam no processo.
No litisconsórcio unitário, a lide deve ser decidida de modo
uniforme para todas as partes (art. 116 do CPC). Se o
pronunciamento do juízo tiver de ser necessariamente igual para
todas as partes do processo, há litisconsórcio unitário.
O litisconsórcio unitário é autônomo do litisconsórcio
necessário, embora normalmente estejam juntos. O litisconsórcio
facultativo pode ser unitário. A sua formação não é imposta por lei,
dependendo, apenas, da vontade da parte. É unitário, porque a
sentença deverá resolver a lide de maneira uniforme para todos os
que estão agrupados em um dos polos da relação processual.
O exemplo que se costuma dar a respeito de litisconsórcio
unitário é o da anulação de casamento, ajuizada pelo Ministério
Público. Aqui, a lide deve ser solucionada igualmente tanto para o
homem como para a mulher, pois seria impossível solucioná-la
diversamente para uma das partes em detrimento da outra.

5.2 Intervenção de terceiros


Terceiras pessoas, estranhas à lide, podem ingressar no processo,
por provocação de uma das partes, ou, até mesmo,
voluntariamente, para defender interesse próprio. Caracteriza-se,
assim, a intervenção de terceiros.
A intervenção provocada existe na denunciação da lide e no
chamamento ao processo.
A intervenção voluntária, do ponto de vista que ora será
examinado, consiste na assistência e na oposição.
Consubstancia-se a assistência no ato pelo qual terceiro
intervém, voluntariamente, no processo, pelo fato de ter interesse
jurídico em que a sentença venha a ser favorável ao assistido. É a
intervenção adesiva ou ad adjuvandum. Há necessidade de
demonstração de interesse jurídico para a sua atuação no processo,
e não meramente econômico.
A oposição, ou intervenção ad excludendum, ocorre quando o
terceiro pretende, no todo ou em parte, a coisa ou direito sobre que
controvertem autor e réu (art. 682 do CPC). O CPC de 2015 passa a
tratar do tema nos arts. 682 e seguintes e não no capítulo de
intervenção de terceiros.
Reza o art. 125 do CPC que “é admissível a denunciação da
lide, promovida por qualquer das partes”:

I– ao alienante imediato, no processo relativo à coisa


cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de
que possa exercer os direitos que da evicção lhe
resultam;

II – àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato,


a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem
for vencido no processo.

Dá-se o chamamento ao processo – que não é obrigatório


como na denunciação da lide, mas facultativo – nos casos previstos
no art. 130 do CPC, como ato privativo do réu. Os incisos I e II do
mencionado dispositivo legal envolvem questões sobre fiador. O
inciso III menciona o caso de devedores solidários.
6 PRESSUPOSTOS DA EXISTÊNCIA DO
PROCESSO
Os pressupostos da existência do processo são a existência de
jurisdição, de pedido e de partes.

a) Jurisdição: o órgão ao qual é dirigida a ação deve estar


investido do poder de dizer o direito no caso concreto que
lhe é submetido, para que possa solucionar o conflito.
b) Pedido: o processo se inicia com a petição inicial
encaminhada ao órgão judiciário competente. Nela, será
descrita a pretensão resistida pela parte contrária, onde
será feito o pedido, exposto o mérito da questão, que se
pretenda ver solucionada pelo órgão investido de
jurisdição.
c) Partes: as partes são pessoas que têm as pretensões
resistidas, que entraram em conflito e que pretendem vê-
lo solucionado pelo Poder Judiciário.
7 PRESSUPOSTOS DE VALIDADE DO
PROCESSO
Os pressupostos de validade do processo são: competência,
insuspeição, inexistência de coisa julgada e de litispendência,
capacidade processual dos litigantes, regularidade da petição inicial
e da citação.

a) Competência: competência é uma parcela da jurisdição.


É o espaço geográfico e a matéria em que o juiz pode
analisar a questão que lhe é submetida. A Vara da Família
não tem competência para analisar postulação relativa a
reconhecimento de vínculo de emprego, que é da
competência da Justiça do Trabalho.
b) Insuspeição: o magistrado não pode ser amigo íntimo ou
inimigo de nenhuma das partes, muito menos ser parcial.
Deve o magistrado ser totalmente imparcial no julgamento
da lide que lhe é posta a exame.
c) Inexistência de coisa julgada: ao se analisar o
processo, não poderá haver coisa julgada. O juiz não
pode decidir aquilo que já foi anteriormente decidido por
outro juiz. Há identidade das ações quando as partes
forem as mesmas, o pedido e a causa de pedir também
coincidirem.
d) Inexistência de litispendência: o conflito de interesses
não poderá ser submetido duas vezes aos mesmos
órgãos competentes. Se uma ação já está em curso com
as mesmas partes, causa de pedir e pedido, não é
possível que o autor ingresse com uma segunda ação,
repetindo a primeira.
e) Capacidade processual dos litigantes: as partes devem
ser capazes para a propositura da ação e para a prática
dos atos processuais. No processo do trabalho, os
maiores de 18 anos já têm capacidade processual. Os
menores de 18 anos serão assistidos por seus pais ou
pela Procuradoria do Trabalho (arts. 792 e 793 da CLT).
f) Regularidade da petição inicial: a petição inicial deverá
atender os requisitos estipulados em lei. Não atendendo
esses requisitos, a petição será considerada inepta.
g) Regularidade da citação: para o bom andamento do
processo, há necessidade de que a citação tenha se
realizado regularmente, sob pena de nulidade absoluta. A
citação vem a ser justamente a comunicação ao réu de
que tem contra si uma ação proposta.
Citação não é pressuposto processual, pois não vem
antes do processo. Há citação sem processo na jurisdição
voluntária e processo sem citação, em que o réu não é
citado, como na rejeição liminar do pedido (arts. 239 e
332 do CPC). Nos casos de concessão de liminar antes
da citação, há processo. A citação implica o
aperfeiçoamento da relação processual.
h) Pressupostos objetivos: pedido formulado ao juiz,
citação do réu, inexistência de litispendência e coisa
julgada.
i) Pressupostos subjetivos: relativos ao juiz (jurisdição,
competência e imparcialidade), relativos às partes
(capacidade de ser parte, de estar em juízo e
postulatória).
8 PROCEDIMENTO
Procedimento é a forma do andamento do processo. É o modus
operandi do processo.
Pode existir procedimento sem processo, mas não existe
processo sem procedimento.
Há três sistemas que estabelecem as formas do procedimento:

a) liberdade de formas, em que o juiz é livre para fixar as


formas. Isso pode levar à desordem, à incerteza e à
insegurança jurídica. O processo é formal. Ainda que se
fale em excesso de formalismos, devem ser seguidas
formas no processo;
b) soberania do juiz ou sistema de equidade;
c) sistema da legalidade da forma.

Dispõe o art. 188 do CPC que os atos e os termos processuais


independem de forma determinada, salvo quando a lei
expressamente o exigir, considerando-se válidos os que, realizados
de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial.
O modo do procedimento pode ser dividido quanto à linguagem,
à atividade e ao rito.
A língua a ser utilizada no processo é a portuguesa (art. 192 do
CPC). O documento redigido em língua estrangeira somente poderá
ser juntado aos autos quando acompanhado de versão para a
língua portuguesa tramitada por via diplomática ou pela autoridade
central, ou firmada por tradutor juramentado (parágrafo único do art.
192 do CPC).
Quanto à atividade, o processo pode ser impulsionado de ofício,
sem provocação, pelo juiz. Pode ser impulsionado pelas partes.
Quanto ao rito, o procedimento no processo civil pode ser
ordinário e especial. No processo do trabalho, o procedimento pode
ser ordinário (acima de 40 salários mínimos) ou sumaríssimo (até 40
salários mínimos).
No Direito Romano, no período das ações da lei, o
procedimento era oral. No período clássico, a formula era feita por
escrito. Era oral o procedimento em relação aos germanos
invasores.
Normalmente, o procedimento é escrito, como a petição inicial,
a contestação, a sentença. Pode ser oral, como no caso dos
depoimentos pessoais e testemunhais, mas que são transcritos na
ata da audiência. Poderia ser misto, contendo aspectos escritos e
orais.
O processo do trabalho tem a característica de um
procedimento mais simples, com a petição inicial e a defesa
podendo ser orais. As provas geralmente são testemunhais. As
razões finais são orais (art. 850 da CLT). Não há necessidade de se
pagar custas para se ajuizar a ação.
No Juizado Especial de Pequenas Causas, o processo tem
característica maior de oralidade, simplicidade, informalidade,
celeridade, economia processual e gratuidade (art. 2º da Lei n.
9.099/95).
Capítulo 18
ATOS, TERMOS E PRAZOS
PROCESSUAIS
1 ATOS
O processo tem um encadeamento lógico de atos processuais que
vão colimar com um fim: a sentença. O processo se inicia com a
petição inicial. A parte contrária apresenta sua resposta (defesa).
São produzidas provas de ambos os lados. Afinal, há a conclusão
do processo, que é justamente a sentença, que vai acolher ou
rejeitar o pedido do autor.
Os atos processuais, como o próprio nome diz, são os
praticados no curso do processo. Não são atos que decorrem do
contrato. Exemplo: petição inicial, contestação, laudo pericial,
sentença, recurso etc.
No Direito Processual, vige o princípio da publicidade dos atos
processuais. A lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o
exigirem (art. 5º, LX, da Constituição). São públicos os atos
processuais, podendo toda a gente presenciá-los. São realizados
em dias úteis, entre 6 e 20 horas (art. 212 do CPC e art. 770 da
CLT). Quando a petição eletrônica for enviada para atender prazo
processual, serão consideradas tempestivas as transmitidas até às
24 horas do seu último dia (parágrafo único do art. 3º da Lei n.
11.419/2006). É possível a prática de atos processuais inclusive fora
do expediente forense habitual, que se encerra às 18 horas desde
que os atos forem iniciados antes das 20 horas e o adiamento
prejudicar a diligência ou causar grave dano (§ 1º do art. 212 do
CPC). Quando o ato tiver de ser praticado por meio de petição em
autos não eletrônicos, essa deverá ser protocolada no horário de
funcionamento do fórum ou tribunal, conforme o disposto na lei de
organização judiciária local (§ 3º do art. 212 do CPC). É o caso de
apresentação de recursos, de manifestações, impugnações etc.,
que não poderão ser apresentadas fora do horário normal de
expediente, no protocolo, que geralmente termina às 18 horas.
O inciso IX do art. 93 da Constituição estabelece que os
julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, porém a
lei pode limitar a presença, em determinados atos, às próprias
partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos
quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo
não prejudique o interesse público à informação.
Esclarece o art. 189 do CPC que certos atos correm em
segredo de justiça. Entretanto, o inciso II do referido artigo não se
aplica ao processo do trabalho, pois na Justiça do Trabalho não são
resolvidas questões de casamento, separação, divórcio, alimentos e
guarda de menores. O inciso I do art. 189 do CPC será observado
no processo do trabalho, pois correrão em segredo de justiça os
processos em que houver interesse público ou social.
O inciso I do art. 189 do CPC não é claro, porém, quanto aos
casos em que há interesse público ou social.
Em muitos casos, o interesse é mesmo privado, pois, se o
processo for público, pode humilhar determinada pessoa, expor a
parte a procedimento vexatório, causando-lhe embaraço, revelando
situação que lhe seria desfavorável perante a sociedade. Correrão
em segredo de justiça os processos em que constem dados
protegidos pelo direito constitucional à intimidade (art. 189, IV, do
CPC).
Nos casos de arresto, sequestro e busca e apreensão, se a
pessoa tiver conhecimento anterior da medida, não deixará que o
ato seja praticado, ou irá tentar frustrá-lo. Nessas hipóteses, poderia
o juiz determinar, num primeiro momento, que corra o processo em
segredo de justiça, apenas para a realização de tais atos.
Nos domingos e feriados, poderá ser realizada a penhora,
desde que haja autorização expressa do juiz.
Pode ocorrer, entretanto, que certos atos não possam ser
praticados apenas no horário descrito pela lei (das 6 às 20 horas),
ocasião em que o juiz pode autorizar que sejam realizados fora
daquele período. É o que ocorreria com certa empresa que só
começa a funcionar a partir das 23 horas (um clube noturno, boate
etc.). Nesse caso, se o ato não for praticado após as 20 horas,
nunca poderá ser realizado, pois antes das 20 horas aquela casa
estará, com certeza, fechada.
2 TERMO
Termo é a redução a escrito de certos atos processuais praticados
nos autos de um processo (ex.: termo da ata da audiência, termo da
ata onde é realizado o julgamento do processo etc.).
Os atos e termos processuais podem ser escritos a tinta,
datilografados ou a carimbo (art. 771 da CLT), como por intermédio
do computador. Os atos processuais podem também ser feitos por
taquigrafia, estenotipia ou outro método idôneo (art. 210 do CPC).
Devem ser assinados pelas partes os atos e termos
processuais. Em caso de não poderem fazê-lo, serão firmados a
rogo, na presença de duas testemunhas, desde que não haja
procurador legalmente constituído (art. 772 da CLT). Na maioria dos
casos, a pessoa não assina porque não sabe assinar o nome ou
porque é analfabeta, apondo sua impressão digital, ou quando tenha
doença que impeça a articulação normal da mão. Se alguém se
recusar a assinar a ata, poderá a ocorrência ser certificada (art. 209
do CPC), inclusive dispensando-se a parte de assiná-la. O
importante, na verdade, é a assinatura do juiz que preside os
trabalhos e do diretor de secretaria ou seu secretário, que atestaram
a veracidade do contido na ata, caso alguém se recuse a assiná-la.
Se a parte tem procurador e este assina a ata, não há necessidade
da assinatura do recusante.
Os atos e os termos processuais independem de forma
determinada, salvo quando a lei expressamente o exigir,
considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe
preencham a finalidade essencial (art. 188 do CPC).
3 PRAZOS PROCESSUAIS
Prazo processual é o período em que o ato processual deve ser
praticado.
Os prazos processuais podem ser particulares, concernentes a
apenas uma das partes, ou comuns, quando fluem para ambas as
partes.
São prazos legais os estabelecidos em lei. Ex.: prazo de 15
dias para recorrer.
Prazos judiciais são os determinados pelo juiz, que pode
estabelecer que as partes se manifestem sucessivamente em dez
dias sobre o laudo pericial, sendo os cinco primeiros para o autor e
os cinco seguintes para o réu.
Prazos convencionais são os que decorrem da convenção das
partes. As partes podem pretender a suspensão do processo por 15
dias para tentativa de acordo (art. 313, II, do CPC). A suspensão do
processo por convenção das partes não pode ser feita por mais de
seis meses (§ 4º do art. 313 do CPC).
Prazos ordinatórios ou dilatórios podem ser prorrogados pelas
partes.
Prazos peremptórios são prazos fatais e improrrogáveis, que
não podem ser alterados pelas partes, como ocorre com o prazo de
15 dias para recurso. As partes não podem convencionar que o
prazo de recurso, excepcionalmente, será de 20 dias para aquele
processo. O art. 222 do CPC permite, contudo, ao juiz prorrogar
prazos, por até dois meses, nas comarcas onde for difícil o
transporte. Havendo calamidade pública, o limite anteriormente
mencionado para prorrogação de prazos poderá ser excedido (§ 2º
do art. 222 do CPC). Pode, ainda, o juiz prorrogar o prazo
peremptório com a anuência das partes (§ 1º do art. 222 do CPC).
Considera-se justa causa o evento alheio à vontade da parte e que
a impediu de praticar o ato por si ou por mandatário (§ 1º do art. 223
do CPC).
Se o juiz verificar que houve justo motivo para que a parte não
tenha praticado o ato, assinará novo prazo à parte. Este novo prazo
ficará ao prudente critério do juiz (§ 2º do art. 223 do CPC).
Prazos prorrogáveis são os que não estão previstos na lei,
podendo o juiz dilatar tais prazos, a seu livre-arbítrio. Pode ocorrer
de determinado laudo pericial ser muito complexo para ser
examinado no prazo assinado pelo juiz, por possuir muitas folhas.
Nada impede que a parte requeira ao juiz um prazo suplementar ou
a prorrogação do prazo concedido para se manifestar sobre o laudo,
dada sua complexidade.
Os chefes de secretaria e demais funcionários sujeitam-se a
prazos para a prática dos atos que lhes incumbem, a cumprir os
prazos previstos em lei, podendo sofrer penas pelo retardamento.
O juiz terá cinco dias para praticar os despachos de expediente
(art. 226, I, do CPC). As decisões interlocutórias serão proferidas em
10 dias (art. 226, II, do CPC). A sentença no processo civil deve ser
proferida no prazo de 30 dias (art. 226, III, do CPC).
O prazo para o serventuário determinar que os autos sejam
conclusos ao juiz será de um dia (art. 228 do CPC). Os atos
pertinentes aos funcionários serão executados no prazo de cinco
dias (art. 228 do CPC).
Omissa a lei, o juiz assinará os prazos, tendo em conta a
complexidade do ato (§ 1º do art. 218 do CPC). Havendo motivo
justificado, o juiz poderá exceder por igual tempo o prazo
determinado na lei (art. 227 do CPC).
Inexistindo prazo determinado em lei ou se não for fixado pelo
juiz, a prática dos atos processuais deve ser feita em cinco dias (§
3º do art. 218 do CPC).
A prática eletrônica de ato processual pode ocorrer em qualquer
horário até as 24 horas do último dia do prazo (art. 213 do CPC). O
horário vigente no juízo perante o qual o ato deve ser praticado será
considerado para fins de atendimento do prazo.
No recesso forense, não são praticados quaisquer atos
processuais. Poderão, entretanto, ser praticados atos processuais
como: as citações, intimações e penhoras no período de férias
forenses, onde as houver, e nos feriados ou dias úteis fora das 6 às
20 horas (art. 214, I c/c § 2º do art. 212 do CPC). Os atos que
importarem em resposta do réu só começarão a correr no primeiro
dia útil seguinte ao término do recesso.

3.1 Contagem do prazo


A citação deve ser recebida pelo próprio demandado ou por pessoa
com poderes de gerência ou administração (§ 2º do art. 248 do
CPC).
A contagem do prazo é feita com a exclusão do dia do começo
e inclusão do dia do vencimento (art. 224 do CPC). Se a parte tem
prazo para se manifestar em cinco dias, recebendo a comunicação
postal no dia 10, o prazo começa a contar no dia 11, pois não se
conta o dia do recebimento, e termina no dia 15.
Dispõe o art. 219 do CPC que “na contagem de prazo em dias,
estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias
úteis”.
Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do
começo do prazo:

I– a data de juntada aos autos do aviso de recebimento,


quando a citação ou a intimação for pelo correio;
II – a data de juntada aos autos do mandado cumprido,
quando a citação ou a intimação for por oficial de
justiça;

III – a data de ocorrência da citação ou da intimação,


quando ela se der por ato do escrivão ou do chefe de
secretaria;

IV – o dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo juiz,


quando a citação ou a intimação for por edital;

V– o dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou da


intimação ou ao término do prazo para que a consulta
se dê, quando a citação ou a intimação for eletrônica;

VI – a data de juntada do comunicado de que trata o art.


232 do CPC ou, não havendo esse, a data de juntada
da carta aos autos de origem devidamente cumprida,
quando a citação ou a intimação se realizar em
cumprimento de carta;

VII – a data de publicação, quando a intimação se der pelo


Diário da Justiça impresso ou eletrônico;

VIII – o dia da carga, quando a intimação se der por meio da


retirada dos autos, em carga, do cartório ou da
secretaria;

IX – o quinto dia útil seguinte à confirmação, na forma


prevista na mensagem de citação, do recebimento da
citação realizada por meio eletrônico (art. 231 do
CPC).

Quando houver mais de um réu, o dia do começo do prazo para


contestar corresponderá à última das datas a que se referem os
incisos I a VI acima.
Havendo mais de um intimado, o prazo para cada um é contado
individualmente.
Quando o ato tiver de ser praticado diretamente pela parte ou
por quem, de qualquer forma, participe do processo, sem a
intermediação de representante judicial, o dia do começo do prazo
para cumprimento da determinação judicial corresponderá à data
em que se der a comunicação.
Nos atos de comunicação por carta precatória, rogatória ou de
ordem, a realização da citação ou da intimação será imediatamente
informada, por meio eletrônico, pelo juiz deprecado ao juiz
deprecante (art. 232 do CPC).
Consideram-se realizados os atos processuais por meio
eletrônico no dia e hora de seu envio ao sistema do Poder
Judiciário, do que será fornecido protocolo eletrônico (art. 3º da Lei
n. 11.419/2006). Quando a petição eletrônica for enviada para
atender prazo processual, serão consideradas tempestivas as
transmitidas até às 24 horas de seu último dia.
Será prorrogado até o primeiro dia útil se o vencimento cair em
feriado ou for determinado o fechamento do fórum ou o expediente
forense for encerrado antes da hora normal (§ 1º do art. 224 do
CPC).
A contagem do prazo terá início no primeiro dia útil que seguir
ao da publicação (§ 3º do art. 224 do CPC).

3.2 Exceções à regra


O recesso no Poder Judiciário ocorre entre 20 de dezembro e 6 de
janeiro de cada ano. O caput e o inciso I do art. 62 da Lei n. 5.010,
de 30-5-66, estabelecem para a Justiça Federal e para a Justiça do
Trabalho que o recesso ocorre entre 20 de dezembro e 6 de janeiro,
considerando tais dias como feriados.
Foi estabelecida a proibição de férias coletivas nos juízos e
tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em que não
houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente
(art. 93, XII, da Constituição).
Essa determinação não acaba com o recesso na Justiça
Federal e do Trabalho no período de 20 de dezembro a 6 de janeiro.
Este período não representa férias, mas feriados, como se
depreende do art. 62 da Lei n. 5.010/66. Assim, o recesso foi
mantido.
Suspende-se o curso do prazo processual nos dias
compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive (art.
220 do CPC). Durante a suspensão do prazo, não se realizarão
audiências nem sessões de julgamento (§ 1º do art. 220 do CPC).
Esse prazo é destinado às férias do advogado.
Dispõe o art. 221 do CPC que se suspende o curso do prazo
por obstáculo criado em detrimento da parte ou ocorrendo qualquer
das hipóteses do art. 313 (como nas hipóteses de morte ou pela
perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu
representante legal ou de seu procurador e, ainda, quando for
oposta pela arguição de impedimento ou de suspeição, por motivo
de força maior), devendo o prazo ser restituído por tempo igual ao
que faltava para sua complementação (art. 313 do CPC).
Se a parte não entrega os autos em cartório no prazo
determinado, a parte contrária tem direito à devolução integral ou do
restante do tempo faltante, em razão de seu prazo para
manifestação ter ficado suspenso, por causa do obstáculo criado
pela parte que retirou os autos do cartório.
Havendo prazo comum para as partes, os autos não poderão
ser retirados do cartório. É o que ocorre quando for acolhida em
parte a pretensão do autor, quando ambas as partes têm interesse
de recorrer. Nesse caso, as partes não poderão retirar os autos da
Secretaria para a análise do processo.
Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de
escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro
para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal,
independentemente de requerimento (art. 229 do CPC).
A parte “poderá renunciar ao prazo estabelecido
exclusivamente em seu favor, desde que o faça de maneira
expressa” (art. 225 do CPC).
O Ministério Público gozará de prazo em dobro para se
manifestar nos autos, que terá início a partir da sua intimação
pessoal (art. 180 do CPC).
A União, Estados, Municípios, Distrito Federal e suas autarquias
e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para
todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início
a partir da intimação pessoal (art. 183 do CPC).
Entendo que as determinações que estabelecem prazos
distintos para a Fazenda Pública em relação a qualquer outra
pessoa foram revogadas pela Constituição.
O art. 5º da Lei Maior é claro no sentido de que “todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.
Justamente quando se menciona que não deverá haver distinção de
qualquer natureza é que não se pode falar em prazos distintos para
os entes públicos. Lembre-se que o próprio Anteprojeto do Código
de Processo Civil suprimia toda discriminação de prazos distintos
em favor da Fazenda Pública e do Ministério Público, o que não foi,
porém, observado pelo CPC de 1973. Não se argumente que os
entes públicos têm uma carga de serviço maior, devendo ter tempo
maior para conseguir os documentos necessários para instruir suas
manifestações, pois em grandes escritórios de advocacia e grandes
empresas ocorre o mesmo, sendo que estes não têm prazo em
dobro para se manifestar. Não se justifica, portanto, essa distinção.
Da mesma forma pensam Rogério Lauria Tucci e José Rogério
Cruz e Tucci53 quanto a essas discriminações em favor de entes
públicos no processo civil.
O advogado tem direito de examinar quaisquer autos em
cartório, mesmo que sem procuração (art. 107, I, do CPC). Sendo o
prazo comum às partes, os procuradores poderão retirar os autos
somente em conjunto ou mediante prévio ajuste por petição nos
autos (§ 2º do art. 107 do CPC), ressalvada a obtenção de cópias
para a qual cada procurador poderá retirá-los (art. 107, I, do CPC),
independentemente de ajuste.
O advogado pode, ainda, retirar autos de processos findos,
mesmo sem procuração, pelo prazo de dez dias (art. 7º, XVI, da Lei
n. 8.906/94).
O estagiário pode retirar os autos do cartório, desde que seja
regularmente inscrito na OAB, tendo procuração nos autos em
conjunto com advogado e sob responsabilidade deste (§ 2º do art.
3º da Lei n. 8.906/94).
4 COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS
Citação é “o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o
interessado para integrar a relação processual” (art. 238 do CPC). A
citação não é o ato de chamar o réu a juízo para se defender.
Citação é o ato de dar notícia ao réu de que existe contra ele uma
ação, para que, se quiser, apresente sua defesa.
Intimação é “o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e
termos do processo”, para que faça ou deixe de fazer alguma coisa
(art. 269 do CPC).
A notificação, em sentido amplo, é um ato em que se dá
conhecimento a uma pessoa de alguma coisa ou fato. Pode ser
judicial, de procedimento voluntário (arts. 726 a 729 do CPC) ou
extrajudicial, como ocorre com as notificações feitas por cartórios de
registro de documentos.
No processo civil, há necessidade de a parte requerer a citação,
na petição inicial, do ex adverso.
Tanto a citação como outras intimações dos atos processuais
praticados no processo são feitas pelo correio, inclusive com relação
à Fazenda Pública. A comunicação pelo correio é uma forma mais
rápida da comunicação dos atos processuais.
O funcionário público poderá ser citado na repartição em que
trabalhar. Não se fará, porém, a citação, salvo para evitar o
perecimento do direito: I – a quem estiver assistindo a qualquer ato
de culto religioso; II – ao cônjuge, companheiro ou a qualquer
parente do morto, consanguíneo ou afim, em linha reta ou na linha
colateral em segundo grau, no dia do falecimento e nos sete dias
seguintes; III – aos noivos, nos três primeiros dias seguintes ao
casamento; IV – aos doentes, enquanto grave o seu estado (art. 244
do CPC). Como no processo do trabalho a citação é postal, a parte
terá de indicar que recebeu a citação nas hipóteses contidas no art.
244 do CPC e requerer a nulidade do referido procedimento.
As intimações do processo eletrônico serão feitas por meio
eletrônico em portal próprio aos que se cadastrarem, dispensando-
se a publicação no órgão oficial, inclusive o eletrônico (art. 5º da Lei
n. 11.419/2006). Considera-se realizada a intimação no dia em que
o intimando efetivar a consulta eletrônica ao teor da intimação,
certificando-se nos autos a sua realização. Nos casos em que a
consulta se der em dia não útil, a intimação será considerada como
realizada no primeiro dia útil seguinte. A consulta deverá ser feita em
até 10 dias corridos contados da data do envio da intimação, sob
pena de considerar-se a intimação automaticamente realizada na
data do término desse prazo. Nos casos urgentes em que a
intimação possa causar prejuízo a quaisquer das partes ou nos
casos em que for evidenciada qualquer tentativa de burla ao
sistema, o ato processual deverá ser realizado de outra forma que
atinja a sua finalidade, conforme determinado pelo juiz. As
intimações feitas de forma eletrônica, inclusive da Fazenda Pública,
serão consideradas pessoais para todos os efeitos legais. As
intimações por meio eletrônico podem causar insegurança jurídica,
pois a parte pode não receber a intimação ou cair em caixa de
spam. É melhor ter certeza para saber se a intimação foi
efetivamente realizada.

4.1 Formas
A citação será pessoal, podendo, no entanto, ser feita na pessoa do
representante legal ou do procurador do réu, do executado ou do
interessado (art. 242 do CPC). Na ausência do citando, a citação
será feita na pessoa de seu mandatário, administrador, preposto ou
gerente, quando a ação se originar de atos por eles praticados.
O locador que se ausentar do Brasil sem cientificar o locatário
de que deixou, na localidade onde estiver situado o imóvel,
procurador com poderes para receber citação será citado na pessoa
do administrador do imóvel encarregado do recebimento dos
aluguéis, que será considerado habilitado para representar o locador
em juízo.
A citação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios e de suas respectivas autarquias e fundações de direito
público será realizada perante o órgão de Advocacia Pública
responsável por sua representação judicial.
A citação poderá ser feita em qualquer lugar em que estiver o
réu, o executado ou o interessado (art. 243 do CPC).
O militar em serviço ativo será citado na unidade em que estiver
servindo, se não for conhecida sua residência ou nela não for
encontrado.
Não se fará a citação, salvo para evitar o perecimento do
direito:

I– de quem estiver participando de ato de culto religioso;

II – de cônjuge, de companheiro ou de qualquer parente


do morto, consanguíneo ou afim, em linha reta ou na
linha colateral em segundo grau, no dia do falecimento
e nos sete dias seguintes;

III – de noivos, nos três primeiros dias seguintes ao


casamento;

IV – de doente, enquanto grave o seu estado (art. 244 do


CPC).

Não se fará citação quando se verificar que o citando é


mentalmente incapaz ou está impossibilitado de recebê-la (art. 245
do CPC). O oficial de justiça descreverá e certificará
minuciosamente a ocorrência. Para examinar o citando, o juiz
nomeará médico, que apresentará laudo no prazo de cinco dias.
Dispensa-se a nomeação se pessoa da família apresentar
declaração do médico do citando que ateste a incapacidade deste.
Reconhecida a impossibilidade, o juiz nomeará curador ao citando,
observando, quanto à sua escolha, a preferência estabelecida em lei
e restringindo a nomeação à causa. A citação será feita na pessoa
do curador, a quem incumbirá a defesa dos interesses do citando.
A citação será feita preferencialmente por meio eletrônico, no
prazo de até dois dias úteis, contado da decisão que a determinar,
por meio dos endereços eletrônicos indicados pelo citando no banco
de dados do Poder Judiciário, conforme regulamento do Conselho
Nacional de Justiça (art. 246 do CPC).
As empresas públicas e privadas são obrigadas a manter
cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito
de recebimento de citações e intimações, as quais serão efetuadas
preferencialmente por esse meio.
A ausência de confirmação, em até três dias úteis, contados do
recebimento da citação eletrônica, implicará a realização da citação:

I– pelo correio;

II – por oficial de justiça;

III – pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando


comparecer em cartório;

IV – por edital (§1º do art. 246 do CPC).

Na primeira oportunidade de falar nos autos, o réu citado nas


formas previstas nos incisos I, II, III e IV deverá apresentar justa
causa para a ausência de confirmação do recebimento da citação
enviada eletronicamente.
Considera-se ato atentatório à dignidade da justiça, passível de
multa de até 5% do valor da causa, deixar de confirmar no prazo
legal, sem justa causa, o recebimento da citação recebida por meio
eletrônico.
As citações por correio eletrônico serão acompanhadas das
orientações para realização da confirmação de recebimento e de
código identificador que permitirá a sua identificação na página
eletrônica do órgão judicial citante.
As microempresas e as pequenas empresas somente se
sujeitam ao disposto no § 1º do art. 246 do CPC quando não
possuírem endereço eletrônico cadastrado no sistema integrado da
Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de
Empresas e Negócios (Redesim).
Para os fins do § 5º do art. 246 do CPC, deverá haver
compartilhamento de cadastro com o órgão do Poder Judiciário,
incluído o endereço eletrônico constante do sistema integrado da
Redesim, nos termos da legislação aplicável ao sigilo fiscal e ao
tratamento de dados pessoais.
Com exceção das microempresas e das empresas de pequeno
porte, as empresas públicas e privadas são obrigadas a manter
cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito
de recebimento de citações e intimações, as quais serão efetuadas
preferencialmente por esse meio. O disposto aplica-se à União, aos
Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às entidades da
administração indireta.
Na ação de usucapião de imóvel, os confinantes serão citados
pessoalmente, exceto quando tiver por objeto unidade autônoma de
prédio em condomínio, caso em que tal citação é dispensada.
Da citação postal passa-se para a citação por oficial de justiça.
A citação será feita por meio eletrônico ou pelo correio para
qualquer comarca do País, exceto:
I– nas ações de estado, observado o disposto no §3º do
art. 695 do CPC;

II – quando o citando for incapaz;

III – quando o citando for pessoa de direito público;

IV – quando o citando residir em local não atendido pela


entrega domiciliar de correspondência;

V– quando o autor, justificadamente, a requerer de outra


forma (art. 247 do CPC).

A citação será efetivada em até 45 (quarenta e cinco) dias a


partir da propositura da ação (parágrafo único do art. 238 do CPC).
Deferida a citação pelo correio, o escrivão ou o chefe de
secretaria remeterá ao citando cópias da petição inicial e do
despacho do juiz e comunicará o prazo para resposta, o endereço
do juízo e o respectivo cartório (art. 248 do CPC). A carta será
registrada para entrega ao citando, exigindo-lhe o carteiro, ao fazer
a entrega, que assine o recibo. Sendo o citando pessoa jurídica,
será válida a entrega do mandado a pessoa com poderes de
gerência geral ou de administração ou, ainda, a funcionário
responsável pelo recebimento de correspondências.
Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de
acesso, será válida a entrega do mandado a funcionário da portaria
responsável pelo recebimento de correspondência, que, entretanto,
poderá recusar o recebimento, se declarar, por escrito, sob as penas
da lei, que o destinatário da correspondência está ausente.
A citação será feita por meio de oficial de justiça nas hipóteses
previstas neste CPC ou em lei, ou quando frustrada a citação pelo
correio (art. 249 do CPC). Da citação postal passa-se para por
oficial de justiça.
O mandado que o oficial de justiça tiver de cumprir conterá:
I– os nomes do autor e do citando e seus respectivos
domicílios ou residências;

II – a finalidade da citação, com todas as especificações


constantes da petição inicial, bem como a menção do
prazo para contestar, sob pena de revelia, ou para
embargar a execução;

III – a aplicação de sanção para o caso de


descumprimento da ordem, se houver;

IV – se for o caso, a intimação do citando para comparecer,


acompanhado de advogado ou de defensor público, à
audiência de conciliação ou de mediação, com a
menção do dia, da hora e do lugar do
comparecimento;

V– a cópia da petição inicial, do despacho ou da decisão


que deferir tutela provisória;

VI – a assinatura do escrivão ou do chefe de secretaria e a


declaração de que o subscreve por ordem do juiz (art.
250 do CPC).

Incumbe ao oficial de justiça procurar o citando e, onde o


encontrar, citá-lo:

I– lendo-lhe o mandado e entregando-lhe a contrafé;

II – portando por fé se recebeu ou recusou a contrafé;

III – obtendo a nota de ciente ou certificando que o citando


não a apôs no mandado (art. 251 do CPC).

Quando, por duas vezes, o oficial de justiça houver procurado o


citando em seu domicílio ou residência sem o encontrar, deverá,
havendo suspeita de ocultação, intimar qualquer pessoa da família
ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato,
voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar (art. 252 do
CPC).
Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de
acesso, será válida a intimação feita a funcionário da portaria
responsável pelo recebimento de correspondência.
No dia e na hora designados, o oficial de justiça,
independentemente de novo despacho, comparecerá ao domicílio
ou à residência do citando a fim de realizar a diligência (art. 253 do
CPC).
Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará
informar-se das razões da ausência, dando por feita a citação, ainda
que o citando se tenha ocultado em outra comarca, seção ou
subseção judiciárias.
A citação com hora certa será efetivada mesmo que a pessoa
da família ou o vizinho que houver sido intimado esteja ausente, ou
se, embora presente, a pessoa da família ou o vizinho se recusar a
receber o mandado.
Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé
com qualquer pessoa da família ou vizinho, conforme o caso,
declarando-lhe o nome.
O oficial de justiça fará constar do mandado a advertência de
que será nomeado curador especial se houver revelia.
Feita a citação com hora certa, o escrivão ou chefe de
secretaria enviará ao réu, executado ou interessado, no prazo de
dez dias, contado da data da juntada do mandado aos autos, carta,
telegrama ou correspondência eletrônica, dando-lhe de tudo ciência
(art. 254 do CPC).
Nas comarcas contíguas de fácil comunicação e nas que se
situem na mesma região metropolitana, o oficial de justiça poderá
efetuar, em qualquer delas, citações, intimações, notificações,
penhoras e quaisquer outros atos executivos (art. 255 do CPC).
A citação por edital será feita:

I– quando desconhecido ou incerto o citando;

II – quando ignorado, incerto ou inacessível o lugar em


que estiver o citando;

III – nos casos expressos em lei (art. 256 do CPC).

No processo do trabalho, da citação por carta passa-se


diretamente à citação por edital, quando o citando não for
encontrado ou quando criar embaraços para o recebimento da
citação. Não se faz citação por hora certa de que fala o CPC (arts.
252 a 254), pois inexiste omissão na CLT (§ 1º do art. 841 da CLT).
Considera-se inacessível, para efeito de citação por edital, o
país que recusar o cumprimento de carta rogatória.
No caso de ser inacessível o lugar em que estiver o réu, a
notícia de sua citação será divulgada também pelo rádio, se na
comarca houver emissora de radiodifusão.
O réu será considerado em local ignorado ou incerto se
infrutíferas as tentativas de sua localização, inclusive mediante
requisição pelo juízo de informações sobre seu endereço nos
cadastros de órgãos públicos ou de concessionárias de serviços
públicos.
São requisitos da citação por edital:

I– a afirmação do autor ou a certidão do oficial


informando a presença das circunstâncias
autorizadoras;

II – a publicação do edital na rede mundial de


computadores, no sítio do respectivo tribunal e na
plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça,
que deve ser certificada nos autos;
III – a determinação, pelo juiz, do prazo, que variará entre
20 e 60 dias, fluindo da data da publicação única ou,
havendo mais de uma, da primeira;

IV – a advertência de que será nomeado curador especial


em caso de revelia (art. 257 do CPC).

O juiz poderá determinar que a publicação do edital seja feita


também em jornal local de ampla circulação ou por outros meios,
considerando as peculiaridades da comarca, da seção ou da
subseção judiciárias.
A parte que requerer a citação por edital, alegando dolosamente
a ocorrência das circunstâncias autorizadoras para sua realização,
incorrerá em multa de cinco vezes o salário mínimo (art. 258 do
CPC). A multa reverterá em benefício do citando.
Serão publicados editais:

I– na ação de usucapião de imóvel;

II – na ação de recuperação ou substituição de título ao


portador;

III – em qualquer ação em que seja necessária, por


determinação legal, a provocação, para participação
no processo, de interessados incertos ou
desconhecidos (art. 259 do CPC).

No procedimento sumaríssimo do processo do trabalho, não


será admitida a citação por edital (art. 852-B, II, da CLT). Como a lei
não admite a citação por edital, ela só poderá ser feita pelo correio
ou por meio de oficial de justiça. Logo, não se aplica nessa parte o §
1º do art. 841 da CLT, ao prever que, se o reclamado não for
encontrado ou criar embaraços ao recebimento da comunicação
processual, a citação será feita por edital. Objetiva-se certeza no
procedimento.
Havendo pedido expresso de que as intimações e publicações
sejam realizadas exclusivamente em nome de determinado
advogado, a comunicação em nome de outro profissional constituído
nos autos é nula, salvo se constatada a inexistência de prejuízos (S.
427 do TST).
Quando houver necessidade de curador, este será nomeado
pelo juiz, devendo ser pessoa idônea, de preferência advogado.

4.1.1 Citação dependente de ato do juiz


A citação no processo do trabalho independe de ato do juiz, sendo
feita pela secretaria ou pelo cartório. Existem casos, porém, em que
a citação é dependente de ato do juiz. Exemplos são os processos
distribuídos por dependência, na denunciação da lide, nomeação à
autoria, chamamento ao processo etc.

4.1.2 Comunicação processual por carta


A citação por carta (arts. 260 a 268 do CPC) é feita quando a
pessoa que deva ser citada estiver em local fora da jurisdição
territorial da Vara ou do Juízo de Direito.
Podem as cartas ser classificadas de três maneiras: de ordem,
rogatória e precatória.
É expedida a carta de ordem se o juiz for subordinado ao
tribunal de que ela emanar. A carta rogatória será a comunicação
processual dirigida à autoridade judiciária estrangeira. A carta
precatória normalmente é expedida nos demais casos,
principalmente quando a prova deva ser feita fora da jurisdição do
juízo, como no caso de oitiva de testemunhas que residam fora
desta jurisdição (art. 453, II, do CPC), ou até mesmo para a
realização de prova pericial, mas também poderá ser enviada para
citação do réu. A testemunha poderá depor fora de seu domicílio,
porém não está a isto obrigada, tratando-se, portanto, de faculdade.
Quando a prova pericial tiver de realizar-se por carta, poderão ser
feitas a nomeação de perito e indicação de assistentes técnicos no
juízo ao qual se requisitar a perícia (§ 6º do art. 465 do CPC). Se o
executado não tiver bens no foro do processo, não sendo possível a
realização de penhora, far-se-á a execução por carta, penhorando-
se, avaliando-se e alienando-se os bens no foro da situação (§ 2º do
art. 845 do CPC). Nos casos de ato de constrição realizado por
carta, os embargos serão oferecidos no juízo deprecado, salvo se
indicado pelo juízo deprecante o bem constrito ou se já devolvida a
carta (parágrafo único do art. 676 do CPC).
As cartas deverão, preferencialmente, ser expedidas por meio
eletrônico, caso em que a assinatura do juiz deverá ser eletrônica,
na forma da lei (art. 263 do CPC).
Os requisitos essenciais das referidas cartas são:

a) a indicação dos juízes de origem e de cumprimento do


ato;
b) o inteiro teor da petição, do despacho judicial e do
instrumento do mandato conferido ao advogado;
c) a menção do ato processual que lhe constitui o objeto;
d) o encerramento com a assinatura do juiz (art. 260 do
CPC).

O juiz mandará trasladar para a carta quaisquer outras peças,


bem como instruí-la com mapa, desenho ou gráfico, sempre que
esses documentos devam ser examinados, na diligência, pelas
partes, pelos peritos ou pelas testemunhas (§ 1º do art. 260 do
CPC). É comum, quando vão ser ouvidas testemunhas em
localidade diversa da do juízo, a carta ser instruída com a petição
inicial, defesa e até mesmo depoimento pessoal das partes, caso já
tenha sido prestado.
Se o objeto da carta for exame pericial sobre documento, este
será remetido em original, ficando nos autos reprodução fotográfica
(§ 2º do art. 260 do CPC).
Em todas as cartas o juiz deve declarar o prazo em que esta
deva ser cumprida, atendendo a facilidade das comunicações e à
natureza da diligência (art. 261 do CPC). O prazo não se dirige ao
juízo deprecado, mas à própria parte.
Caso o prazo não seja observado, o processo retoma seu
curso. Se não for cumprida a carta no prazo, a solução é suspender
o processo para que a parte faça a prova. A parte poderá provar
justo impedimento para não cumprir o prazo.
O caráter da carta é itinerante, podendo, antes ou depois de lhe
ser ordenado o cumprimento, ser encaminhada ao juízo diverso do
que dela consta, a fim de se praticar o ato (art. 262 do CPC). O
encaminhamento da carta a outro juízo será imediatamente
comunicado ao órgão expedidor, que intimará as partes.
Havendo urgência, a carta de ordem ou precatória será
transmitida por telegrama, radiograma ou telefone. A carta de ordem
e a precatória que forem remetidas por telegrama ou radiograma
conterão os mesmos requisitos já mencionados para qualquer carta,
bem como a declaração, pela agência expedidora, de estar
reconhecida a assinatura do juiz.
O secretário do tribunal, o escrivão ou o chefe de secretaria do
juízo deprecante transmitirá, pelo telefone, a carta de ordem ou a
carta precatória ao juízo, em que houver de cumprir-se o ato, por
intermédio do escrivão do primeiro ofício da primeira vara, se houver
na comarca mais de um ofício ou de uma vara (art. 265 do CPC). O
escrivão ou o chefe de secretaria, no mesmo dia ou no dia útil
imediato, telefonará ou enviará mensagem eletrônica ao secretário
do tribunal, ao escrivão ou ao chefe de secretaria do juízo
deprecante, lendo-lhe os termos da carta e solicitando-lhe que os
confirme. Sendo confirmada, o escrivão ou o chefe de secretaria
submeterá a carta a despacho.
A expedição por carta é feita pela secretaria ou cartório, que a
remete ao juízo deprecado.
O juiz recusará cumprimento à carta precatória, devolvendo-a
com decisão motivada quando:

a) não estiver revestida dos requisitos legais;


b) faltar ao juiz competência em razão da matéria ou da
hierarquia;
c) tiver dúvida acerca de sua autenticidade (art. 267 do
CPC).

No caso de incompetência em razão da matéria ou da


hierarquia, o juiz deprecado, conforme o ato a ser praticado, poderá
remeter a carta ao juiz ou ao tribunal competente (parágrafo único
do art. 267 do CPC).
Normalmente, o juiz deprecante solicita informações do
andamento do processo ou pede maior urgência no cumprimento da
carta, podendo ficar o feito suspenso até seu cumprimento.
A carta rogatória obedecerá, quanto à sua admissibilidade e
modo de seu cumprimento, ao disposto na convenção internacional.
Considera-se inacessível, para efeito de citação por edital, o país
que recusar o cumprimento de carta rogatória (§ 1º do art. 256 do
CPC).
O Decreto legislativo n. 61, de 19-4-1995, aprovou o Protocolo
Adicional à Convenção Interamericana sobre Cartas Rogatórias, de
1979. O Decreto n. 2.022, de 7-10-1996, promulgou-o. A carta
rogatória deve ser acompanhada de cópia da petição; cópia sem
tradução dos documentos que se tiverem juntado à petição; cópia
sem tradução das decisões jurisdicionais que tenham determinado a
expedição da carta rogatória; formulário do qual conste a informação
essencial para a pessoa ou a autoridade a quem devam ser
entregues ou transmitidos os documentos.
A Portaria n. 26, de 14-8-1990, da Secretaria Executiva do
Ministério das Relações Exteriores traz algumas condições para o
rápido cumprimento de cartas rogatórias.
Cumprida a carta, será devolvida ao juízo de origem, no prazo
de dez dias, independentemente de traslado, pagas as custas pela
parte (art. 268 do CPC), se houver.
No processo do trabalho, não se conta o prazo para a
determinação dada pela carta a partir de sua juntada aos autos, mas
a partir da data em que a comunicação foi realizada, conforme o art.
774 da CLT.

4.1.3 Nulidade da citação


A falta de citação é suprida pelo comparecimento espontâneo do réu
a juízo (§ 1º do art. 239 do CPC). Não haverá nulidade, pois
inexistirá prejuízo para o réu, que compareceu espontaneamente a
juízo para se defender.

4.2 Demais notificações


A partir do momento em que as partes têm advogado constituído
nos autos, a intimação é feita para aqueles. Caso a parte não tenha
advogado no processo do trabalho, a notificação é feita à parte, da
mesma forma.
Quando o processo estiver na fase recursal, a intimação não é
feita pelo correio, mas sim pela publicação do nome das partes e de
seus advogados no órgão oficial.
Nos dissídios coletivos, as partes são intimadas pela via postal
(art. 867 da CLT), fazendo-se a publicação no Diário Oficial para a
ciência dos demais interessados.
Capítulo 19
NULIDADES
1 INTRODUÇÃO
O Direito Processual reconhece a necessidade e conveniência de se
adotar a simplificação das formas, mas é necessário admitir a
existência de certas formas para o desenvolvimento válido do
processo.
No Direito Processual Civil, há um número maior de formas a
observar. Pode-se dizer que é mais formalista.
No Direito Processual do Trabalho, as formas ainda são mais
simplificadas, com a concentração da maioria dos atos processuais
em audiência, prestigiando o princípio da oralidade, mas isso não
quer dizer que o processo do trabalho seja informal. Ao contrário, o
processo do trabalho também é formal, só que o número de
formalidades é menor do que no processo civil ou no processo
penal, fazendo com que o processo seja o mais breve, simples e
célere possível, sem formalidades exageradas, complexas e, muitas
vezes, inúteis.
Havendo violação das formas, deve haver a correspondente
sanção, uma penalidade. Inicialmente, eram aplicadas multas
(sanção econômica) pela inobservância das formalidades.
2 CONCEITO
Nulidade é a sanção determinada pela lei, que priva o ato jurídico de
seus efeitos normais, em razão do descumprimento das formas
mencionadas na norma jurídica.
A função da declaração das nulidades é de assegurar os fins
destinados às formas e que podem ser atingidos por intermédio de
outros meios.
3 DISTINÇÃO
Carnelutti já fazia distinção entre os atos previstos no Código Penal
e os determinados no restante da legislação. A prática de um ilícito
penal pode deixar o autor sujeito a uma pena. A prática de outros
atos em desacordo com a previsão legal pode gerar a invalidade do
ato, perdendo o autor o esforço despendido.
Não se pode confundir também as nulidades praticadas no
direito civil ou comercial com as praticadas no direito processual.
Enquanto as primeiras não têm eficácia alguma, os atos processuais
são eficazes, mesmo se passados em julgado, até quando a
decisão venha a ser rescindida. A nulidade processual é praticada
no processo, enquanto a do direito material, muitas vezes, é
praticada no contrato. Normalmente, a nulidade no direito material é
decorrente da não observância do art. 104 do Código Civil, que
requer agente capaz, objeto lícito ou forma prescrita ou não defesa
em lei para a validade do negócio jurídico.
As primeiras leis processuais preocupavam-se em esclarecer
os casos em que ocorriam nulidades. O Código de Processo Civil de
1939 passou apenas a tratar do prejuízo processual, sobre a
importância do atingimento da finalidade do ato praticado e da
repressão ao dolo processual.
O Código de Processo Penal afirma que nenhum ato será
declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a
acusação ou para a defesa (art. 563). Enumera as nulidades no art.
564. Assemelha-se ao sistema do antigo art. 1.030 do Código de
Processo Civil francês: aucun acte de procédure ne será declare
nul, se la nullité n´est pas formellement pronnoncée par la loi, sauf
en cas d’inobservation d’une formalité substantielle ou d’ordre
public. A 2ª parte do art. 114 do Código de Processo Civil francês
afirma que “la nullité ne peut être prononcée qu´à charge pour l
´adversaire qui l´invoque de prouver le grief que lui cause l
´irregularité, même lorsqu´il s´agit d´une formalité substantielle ou d
´ordre public”.
4 SISTEMA DE NULIDADES
O sistema do absolutismo da lei, que vinha da legis actiones,
determinava que qualquer violação à forma prevista em lei anulava
o ato. Esse sistema foi adotado anteriormente na França: la forme
emporte le fond. Um ato que não observasse a determinação da lei
anulava todo o processo.
No sistema da equidade, o juiz resolveria o que acarretaria a
inobservância da forma prevista em lei para efeitos de nulidade.
Utilizava-se justamente da equidade para se saber o que redundaria
em nulidade. Esse poder, porém, era totalmente concentrado nas
mãos do juiz, numa espécie de processo inquisitório, sacrificando as
liberdades das partes.
O jurista inglês Bentham propunha a declaração da nulidade
quando houvesse má-fé. Violando-se a forma prevista em lei,
presume-se a existência de má-fé, prejudicando o princípio da
presunção da boa-fé, onde a boa-fé é que deveria ser provada.
Dois sistemas podem ser lembrados sobre as nulidades: o
francês, que só admite a nulidade se houver prejuízo para a parte
que o denunciar; e o alemão, que dá ao juiz a faculdade de declarar
a nulidade e suas condições.
Nosso direito processual, inclusive do trabalho, adotou o
sistema francês, permitindo que o ato irregular que houvesse
alcançado sua finalidade fosse aproveitado ou, em outros casos,
repetido. Adota-se, também, de certa forma, o sistema alemão, pois
a lei determina que o juiz, ao pronunciar a nulidade, esclareça a
partir de que momento o processo é nulo, inclusive porque o juiz é
quem dirige o processo.
5 VÍCIOS
Os vícios processuais podem ser divididos em sanáveis e
insanáveis. Os sanáveis são a nulidade relativa, a anulabilidade e as
irregularidades. Os insanáveis são a inexistência e a nulidade
absoluta.

5.1 Inexistência
A inexistência pode gerar dois aspectos distintos: o do não ato, o do
ato praticado por um não juiz, como ocorreria na sentença assinada
por um oficial de justiça; outro, jurídico que é a existência do ato no
mundo dos fatos, mas sua inexistência no mundo do Direito54.
O § 2º do art. 104 do CPC dispõe que será considerado ineficaz
o ato não ratificado em 15 dias, se o juiz der à parte prazo para
regularizar a procuração nos autos. Não regularizada a procuração,
a sanção é a ineficácia dos atos praticados a partir de determinado
momento.
O Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu “inexistente a
sentença não assinada pelo juiz”, esclarecendo que “o ato sem
existência, não se convalida” (RT 508/64).
Constatada a ocorrência de vício sanável, inclusive aquele que
possa ser conhecido de ofício, o relator determinará a realização ou
a renovação do ato processual, no próprio tribunal ou em primeiro
grau de jurisdição, intimadas as partes (§ 1º do art. 938 do CPC),
como ocorre com a falta de assinatura do juiz na sentença. O ato
inexistente não produzirá efeitos em época alguma, não tendo
nenhuma validade.

5.2 Nulidade absoluta


Nulidade originária é a proveniente do próprio ato.
Nulidade derivada envolve ato que não é viciado, mas por ter
relação e ser dependente do ato nulo, fica viciado.
A nulidade absoluta é ditada por fins de interesse público, de
ordem pública absoluta. Não tendo as partes poder de disposição
desse interesse, que é determinado por normas de interesse
público, sua infringência acarretará nulidade absoluta.
Quando a existência da nulidade pode ser declarada de ofício
pelo juiz, fundado em norma de interesse público, de ordem pública
absoluta, ainda que as partes estejam de acordo com o ato
praticado, há nulidade absoluta. A nulidade absoluta compromete
todo o processo.
As regras sobre competência funcional, por exemplo, se não
observadas, determinam a nulidade absoluta. A incompetência
absoluta pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e
deve ser declarada de ofício (§ 1º do art. 64 do CPC), pois retrata
norma de interesse público, que, uma vez não observada, demanda
a nulidade absoluta do processo que não poderia ser apreciada por
juízo incompetente. O juiz deve declará-la de ofício. Não se trata,
portanto, de faculdade do juiz, mas de obrigação.
Nas nulidades absolutas não se exige demonstração de
prejuízo, pois ele é evidente; viola norma de ordem pública absoluta.

5.3 Nulidade relativa


Ocorre a nulidade relativa quando o interesse da parte for
desrespeitado e a norma descumprida tiver por base o interesse da
parte, e não o interesse público, sendo o vício sanável. É uma
norma de ordem pública relativa, direcionada para a parte, e não
para o juiz.
Prorroga-se a competência relativa se o réu não alegar a
incompetência em preliminar de contestação (art. 65 do CPC). É o
exemplo da incompetência em razão do lugar, que representa
nulidade relativa, pois deve ser alegada pela parte no momento
próprio, sob pena de se tornar competente o juízo que, em princípio,
era incompetente.
Se a parte não está devidamente representada, assistida ou
autorizada, a nulidade é relativa, pois pode o juiz dar prazo à parte
para sanar o ato, ou sendo repetido ou ratificado o ato já praticado,
cumprindo sua finalidade. Nesse caso, como se verifica, o interesse
é da parte e não há interesse público.

5.4 Anulabilidade
Na anulabilidade, o vício é decorrente de violação de norma
dispositiva. O ato só pode ser anulado mediante provocação do
interessado. O juiz não pode, de ofício, mandar suprir ou repetir o
ato, justamente porque está na esfera de disposição da parte.
Não reagindo a parte, o ato que era inválido passa a ser válido.
Ensina Moniz Aragão que, “enquanto a nulidade relativa resulta
de infração a normas cogentes, subtraídas, portanto, ao alcance do
poder dispositivo das partes, embora para elas voltadas, a
anulabilidade resulta de infração a normas que a lei põe ao alcance
do poder dispositivo das partes, voltadas também a seu interesse. A
primeira pode ser conhecida de ofício pelo juiz ou alegada pelas
partes; a segunda não pode ser apreciada de ofício pelo juiz, pois
somente as partes podem alegá-la. No primeiro caso, o ato fica
sujeito à condição suspensiva de não impugnação – vale dizer –, o
decurso do prazo indicado para as partes pleitearem a sua
decretação ou o juiz fazê-lo espontaneamente sana o vício, no
segundo, à condição resolutiva de a parte impugná-lo”55.
Na anulabilidade, o ato se convalida se não impugnado pela
parte. Exemplo: a parte deve se manifestar sobre a nulidade na
primeira vez em que tiver de falar nos autos. Não o fazendo, o ato
fica convalidado (art. 278 do CPC e art. 795 da CLT). O juízo que
era incompetente em razão do lugar, não tendo a parte se
manifestado no prazo legal, passa a ser competente, pois a
incompetência em razão do lugar não pode ser declarada de ofício
pelo juiz, mas há a necessidade de provocação da parte, pois este
ato está no poder dispositivo da parte, não sendo uma norma de
interesse público. Outro exemplo é o da penhora ser realizada em
bens que só devem ser penhorados à falta de outros. A norma é
dispositiva, visando prevenir interesse do devedor. Logo, somente
ele é que pode arguir a nulidade, em vista de existirem outros bens
que podem ser penhorados.

5.5 Irregularidades
As irregularidades poderiam ser divididas em duas hipóteses: as
que podem ser corrigidas (sanáveis) e as que não podem
(insanáveis), ou não necessitam de correção.
Na primeira espécie está a inexatidão material ou erro de
cálculo realizado na sentença (art. 494, I, do CPC, art. 833 da CLT e
parágrafo único do art. 897-A da CLT). O mesmo se pode dizer da
hipótese em que as folhas dos autos não foram numeradas e
rubricadas. Há a possibilidade de se determinar essa correção.
Prevê o § 1º do art. 938 do CPC que constatada a ocorrência
de vício sanável, inclusive aquele que possa ser conhecido de
ofício, o relator determinará a realização ou a renovação do ato
processual, no próprio tribunal ou em primeiro grau de jurisdição,
intimadas as partes.
Hipótese de ato que não necessitaria de correção seria a
sentença, que apesar de concisa, tem relatório, fundamentação e
dispositivo. Outros atos são insuscetíveis de correção, como ocorre
com os prazos para o juiz proferir despachos ou decisões, e que se
constituem em mera irregularidade, justificada normalmente pelo
excesso de serviço, caso não sejam observados.
6 PRINCÍPIOS DAS NULIDADES
Os princípios das nulidades são originários da teoria do processo.
Representam a teoria das nulidades processuais.

6.1 Legalidade
As nulidades dependerão do que estiver previsto em lei para que
sejam observadas as formas nela previstas. Violadas as formas, a
lei irá determinar a penalidade para a sua não observância. É uma
decorrência de que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa a não ser em virtude de lei (art. 5º, II, da Constituição).
O processo será nulo quando o Ministério Público não for intimado a
acompanhar o feito em que deveria intervir (art. 279 do CPC), sendo
que o juiz deverá anular o processo a partir do momento em que o
órgão deveria ter sido intimado. Mesmo as citações e as intimações
serão consideradas nulas, caso não sejam observadas as
prescrições da lei (art. 280 do CPC).

6.2 Instrumentalidade das formas ou da finalidade


O ato processual deve se ater à observância das formas, porém, se
de outro modo o ato atingir sua finalidade, haverá validade do ato
praticado (exemplos: arts. 188 e 277 do CPC). Exemplo é o réu não
ser citado e comparecer à audiência, na qual apresenta defesa. Se
não há cominação de nulidade pela forma estabelecida em lei, o ato
processual, ainda que de outra forma, atingiu sua finalidade, então
não há porque se decretar a nulidade.

6.3 Economia processual


Recomenda o princípio da economia processual que se obtenha o
máximo resultado na atuação da lei com o mínimo emprego possível
de atividades processuais (Echandia).
A não observância da forma legal anula apenas os atos que não
possam ser aproveitados, desde que não resultem prejuízo à parte
(§ 4º do art. 64 do CPC, arts. 281, segunda parte, 282 e seu § 1º do
CPC).

6.4 Aproveitamento da parte válida do ato


Não se anula todo o processo se houver a possibilidade de se
aproveitar um ato válido praticado no processo. Pode-se chamá-lo
também de princípio da utilidade: utile per inutile non vitiatur.
Anula-se parte do processo, não o todo (arts. 281 do CPC). “O
juiz ou Tribunal que pronunciar a nulidade declarará os atos a que
ela se estende” (art. 797 da CLT). “A nulidade do ato não prejudicará
senão os posteriores que dele dependam ou sejam consequência”
(art. 798 da CLT). Aproveita-se a parte válida do ato, até mesmo por
economia processual.

6.5 Interesse de agir


Não haverá nulidade se a parte prejudicada não a arguir. O § 1º do
art. 282 do CPC determina que o ato não será repetido, nem sua
falta será suprida quando não prejudicar a parte. Dar-se-á o
aproveitamento dos atos praticados, desde que não resulte prejuízo
à defesa de qualquer parte (parágrafo único do art. 283 do CPC).
“Quando a lei prescrever determinada forma, sob pena de nulidade,
a decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu
causa” (art. 276 do CPC).
As nulidades não serão declaradas senão mediante provocação
das partes, as quais deverão argui-las à primeira vez em que
tiverem de falar em audiência ou nos autos (art. 795 da CLT). O
dispositivo mostra nulidade relativa, que depende de provocação da
parte para ser declarada. O artigo tem fundamento no princípio do
interesse de agir e na boa-fé processual.
No caso, a norma processual é dirigida à parte, e não ao juiz.
Não se trata de regra de ordem pública absoluta, em que o juiz
poderia declarar a nulidade de ofício.

6.6 Causalidade
Para haver nulidade, deve existir uma causa e um efeito. Os atos
devem ser interdependentes.
Só os atos posteriores e que não sejam consequência do ato
considerado nulo, desde que dele não dependam, poderão ser
aproveitados (art. 281 do CPC). O juiz, ao declarar a nulidade, deve
observar os atos a que ela se estende (art. 282 do CPC). Na
incompetência absoluta, só os atos decisórios são nulos, os demais
são aproveitados (§ 4º do art. 64 do CPC).

6.7 Lealdade processual


O princípio da lealdade processual decorre do art. 5º do CPC:
“aquele que de qualquer forma participa do processo deve
comportar-se de acordo com a boa-fé”. As partes e seus
procuradores devem proceder com lealdade e boa-fé (art. 5º do
CPC) no processo.
As partes no processo devem proceder com lealdade
processual. As nulidades devem, assim, ser alegadas na primeira
oportunidade em que a parte tiver de falar nos autos, “sob pena de
preclusão” (art. 278 do CPC). Se for provado legítimo impedimento
(parte final do parágrafo único do art. 278 do CPC), ou existir justa
causa, assim considerada como o “evento alheio à vontade da parte
e que a impediu de praticar o ato por si ou por mandatário” (§ 1º do
art. 223 do CPC), não se aplica a preclusão.

6.8 Repressão ao dolo processual


Este princípio é decorrente da lealdade processual a que as partes
estão obrigadas a proceder em juízo (art. 5º do CPC).
O art. 142 do CPC permite ao juiz decretar a nulidade absoluta
do processo, se se convencer de que autor e réu se serviram do
processo para praticar ato simulado ou conseguir fim vedado por lei,
o juiz proferirá decisão que impeça os objetivos das partes,
aplicando, de ofício, as penalidades da litigância de má-fé. A
decretação da nulidade não pode ser feita pela própria parte que lhe
deu causa (arts. 276 do CPC e 796, b, da CLT). É a aplicação da
regra latina nemo suam propriam turpitudinem profitare potest.
A aplicação do art. 142 do CPC poderia ser feita no caso em
que as partes têm por objetivo praticar um ato simulado, como, por
exemplo, de contagem de tempo de serviço para efeito da
aposentadoria que, na verdade, é inexistente; de o advogado ter
procuração tanto do autor quanto do réu para celebrar acordo. O
difícil nessas hipóteses é o juiz perceber o ato simulado ou ilícito
praticado pelas partes, porém, se notar tal fato, deverá aplicar o art.
142 do CPC, extinguindo o processo sem julgamento de mérito.

6.9 Princípio da conversão


É a possibilidade de se converter a parte válida do ato processual
tido por nulo, por menor que seja. Em razão da economia
processual, pode-se aproveitar esses efeitos menores produzidos
pelo ato processual.

6.10 Princípio da transcendência ou do prejuízo


Nosso sistema de nulidades adotou a regra francesa do “pas de
nullité sans grief”, ou seja: não haverá nulidade se não houver
prejuízo processual à parte (art. 281, § 1º, do art. 282, parágrafo
único do art. 283 do CPC e art. 794 da CLT).
A citação é pressuposto para a validade do processo, tornando
prevento o juízo, induzindo a litispendência e fazendo litigiosa a
coisa (art. 240 do CPC). No entanto, se a parte apresenta defesa
espontaneamente, não se pode falar em nulidade da citação (§ 1º
do art. 239 do CPC).
Da mesma forma, não haverá nulidade se o juiz puder decidir o
mérito da questão em favor da parte a quem aproveite a declaração
de nulidade (§ 2º do art. 282 do CPC). Nesse caso, não há prejuízo
à parte, pois obteve o acolhimento de sua pretensão em juízo,
apesar de, por exemplo, não ter sido ouvida uma testemunha dessa
parte, que inquinou o ato de nulo, por cerceamento de defesa.

6.11 Convalidação
Não havendo reação da parte, o ato nulo não arguido no tempo
oportuno vem a se convalidar, permanecendo válido (arts. 795 da
CLT e 278 do CPC).
Exemplo é a Vara que era incompetente em razão do lugar e o
réu não apresenta a sua incompetência. Torna-se competente a
referida Vara.
7 PRECLUSÃO
Preclusão vem do latim praecludo, com o significado de fechar,
tapar, encerrar. Define Ísis de Almeida (1991, v. I:82) a preclusão
como “a perda da faculdade de praticar-se um ato pela transposição
de um ‘momento processual’, que pode estar marcado, também, por
um prazo determinado, e não apenas pelo ordenamento formal ou
lógico dos atos no processo, ou pela incompatibilidade de um ato
com outro”56. Pode haver também preclusão se o ato processual já
foi validamente exercido.
Determina o art. 507 do CPC que “é vedado à parte discutir, no
curso do processo, as questões já decididas, a cujo respeito se
operou a preclusão”. Menciona o art. 278 do CPC que as nulidades
devem ser alegadas na primeira oportunidade em que a parte tem
de falar nos autos, “sob pena de preclusão”. Não se aplica essa
determinação às nulidades que o juiz deva decretar de ofício, “nem
prevalece a preclusão, provando a parte legítimo impedimento”
(parágrafo único do art. 278 do CPC).
O § 2º do art. 879 da CLT também determina expressamente a
preclusão se o juiz abrir vista às partes para manifestação a respeito
da conta de liquidação e não houver impugnação à conta:
“Elaborada a conta e tornada líquida, o juízo deverá abrir às partes
prazo sucessivo de oito dias para impugnação fundamentada com a
indicação dos itens e valores objeto da discordância, sob pena de
preclusão”. Não se manifestando a parte nesse momento, não mais
poderá fazê-lo nos embargos, pois se operou a preclusão. O § 3º do
art. 879 da CLT também faz referência à preclusão para a União. A
preclusão irá ocorrer em relação às partes, e não ao juiz.
A preclusão, normalmente, refere-se a atos processuais, mas
também pode referir-se a prazos processuais, só tendo eficácia no
processo em que ocorre.
Pode ainda nascer a preclusão da coisa julgada, que pode
projetar sua eficácia para fora do processo. A parte não poderá, por
exemplo, apenas contestar a existência da relação de emprego,
pois, se esta for provada, todo o mais será devido, em razão da
existência da preclusão quanto ao momento em que a parte deveria
se manifestar sobre o restante das alegações do autor, que é
justamente na contestação.

7.1 Diferenças
Não se confunde a preclusão com a decadência. A decadência
ocorre quando a parte não se utilizar do direito no tempo oportuno.
Tanto a decadência como a prescrição são regras de direito
material, embora sejam decretadas no processo, enquanto a
preclusão é regra de direito processual, sempre ocorrendo no
âmbito do processo.
A preclusão também não se confunde com as nulidades, que,
na maioria dos casos, são sanáveis (art. 277 do CPC), enquanto a
preclusão, uma vez consumada, não pode mais ser sanada.

7.2 Classificação da preclusão


Couture57 entende que a preclusão se origina de três situações
diferentes:

a) por não se ter observada a ordem, a oportunidade que a


lei determina para a prática do ato;
b) pela incompatibilidade entre o ato realizado e o seguinte;
c) pelo fato de o ato já ter sido realizado validamente uma
vez.
É possível classificar a preclusão em: temporal, lógica e
consumativa, que correspondem às orientações de Couture.

7.2.1 Preclusão temporal


A preclusão temporal não se confunde com as sanções processuais.
A sanção é a consequência da infração à norma jurídica, que
posteriormente será cumprida forçadamente. Já a preclusão
temporal é proveniente de a parte não praticar um ato processual
em determinado prazo estipulado pela lei.
Quando uma testemunha não vai a juízo depor, posteriormente
é conduzida “debaixo de vara” para prestar depoimento, o que
caracteriza a sanção. Em muitos casos, a sanção pelo não
cumprimento da norma jurídica é o pagamento de uma multa
elevada que obriga o devedor a cumprir a obrigação. É o que ocorre
com o não pagamento de impostos no prazo legal. Já a preclusão
decorre de o ato processual não ser praticado no tempo oportuno
em que deveria ter sido feito. Ex.: a parte ingressa com recurso fora
do prazo legal ou não apresenta a contestação em audiência.
Retrata o art. 223 do CPC a preclusão temporal: “decorrido o
prazo, extingue-se o direito de praticar ou de emendar o ato
processual, independentemente da declaração judicial, ficando
assegurado, porém, à parte provar que não o realizou por justa
causa”.
A preclusão temporal ocorre quando o ato processual deveria
ter sido praticado em certo prazo e não o foi, não podendo mais ser
praticado.

7.2.2 Preclusão lógica


Ensina Arruda Alvim que se dá a preclusão lógica “quando um ato
não mais pode ser praticado, pelo fato de se ter praticado outro ato
que, pela lei, é definido como incompatível com o já realizado ou
quando esta circunstância deflua inequivocamente do sistema”58.
Ex.: dada a sentença, a parte pede a liquidação da decisão,
aceitando-a, ainda que tacitamente. É incompatível com esse ato a
vontade de recorrer (art. 1.000 do CPC). Há também preclusão se a
parte contesta a ação e posteriormente pretende apresentar
exceção de suspeição do juiz. O momento correto da apresentação
da exceção seria juntamente com a contestação, salvo se novo
motivo sobrevier para a apresentação da exceção, pois a parte tinha
concordado com o juiz processante.

7.2.3 Preclusão consumativa


Praticado validamente um ato processual previsto na lei e
consumado este ato, não poderá a parte pretender praticá-lo
novamente. Há a consumação do ato processual praticado, que não
pode ser renovado. Ex.: interposto o recurso uma vez, não pode ele
ser apresentado novamente.
É vedado à parte discutir no curso do processo as questões já
decididas a cujo respeito se operou a preclusão (art. 507 do CPC).
Leciona Arruda Alvim que “a preclusão lógica, rigorosamente, é
também consumativa. Vale dizer, a circunstância de a prática de um
ato processual se ter verificado envolve a consumação. Tal
consumação (no contexto da preclusão lógica) quer dizer que o
mesmo ato não pode ser repetido e que, ainda, outro ato ou outros
atos, que pudessem ter sido praticados, no lugar daquele, não mais
poderão ser praticados”59.
8 PEREMPÇÃO
Ísis de Almeida esclarece que “perempção é a extinção do direito de
praticar um ato processual ou de prosseguir com o processo,
quando, dentro de certo tempo ou dentro de certa fase, não se
exercita esse direito de agir, seja por iniciativa própria, seja pela
provocação de ação (ou omissão) da parte contrária, ou ainda por
determinação do juiz ou de disposição legal”60.
A perempção ocorre quando a parte abandona o processo por
mais de 30 dias, sem promover os atos e diligências que lhe
compete (art. 285, III, do CPC), ou quando der causa à extinção do
processo por três vezes por esse motivo. Não poderá o autor
intentar novamente ação contra o réu com o mesmo objeto, salvo
para alegar em defesa o seu direito (§ 3º do art. 486 do CPC).
Capítulo 20
PETIÇÃO INICIAL

A ação é identificada pela natureza do provimento jurisdicional


postulado na petição inicial e não pela denominação adotada pelo
autor.
1 FORMA
A petição inicial pode ser quanto à forma: escrita ou verbal. No
processo civil a petição inicial é escrita. No processo do trabalho, ela
pode ser verbal, em que será reduzida a termo. Terá duas vias
datadas e assinadas pelo escrivão ou secretário, observado, no que
couber, o disposto no § 1º do art. 840 da CLT (§ 2º do art. 840 da
CLT).
2 AUTORIDADE COMPETENTE
No primeiro grau, a petição inicial é dirigida ao juiz de direito, ao juiz
federal e ao juiz do trabalho.
Na segunda instância, a petição inicial das ações de
competência originária do Tribunal de Justiça ou do Tribunal
Regional Federal é dirigida ao excelentíssimo senhor doutor
desembargador presidente do Tribunal.
Na terceira instância, a petição inicial das ações de
competência originária do STJ será dirigida ao excelentíssimo
ministro presidente do Tribunal.
3 REQUISITOS
Qualificação diz respeito à pessoa física. A qualificação do autor
compreende o nome completo, a nacionalidade, a profissão e o
estado civil. Deve ser indicado o endereço completo, de preferência
com CEP, para agilizar eventual intimação. É aconselhável que seja
mencionado um documento de identificação, como cédula de
identidade, CPF ou número da CTPS do trabalhador.
A qualificação do réu deve ser a mais completa possível, com o
nome completo. Deve ser apontado o endereço completo, de
preferência com CEP. Se o réu tiver uma empresa, deve ser
indicado o CNPJ dela.
Em certos casos, não basta apenas a narração dos fatos, mas
a causa de pedir e a fundamentação jurídica do pedido,
especialmente quando a matéria é de direito.
O inciso III do art. 319 do CPC exige que o autor exponha, na
petição inicial, os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido. É a
causa de pedir. O CPC adotou a teoria da substanciação do pedido
do direito alemão (ZPO, § 253, 2), em que há necessidade da
apresentação dos fundamentos de fato e de direito da pretensão
para a identificação do pedido. O § 1º do art. 840 da CLT adota a
teoria da substanciação, pois emprega a expressão breve exposição
dos fatos.
A causa de pedir compreende os fundamentos de fato e de
direito pelos quais o autor faz o seu pedido. É o fundamento pelo
qual o autor faz sua postulação.
Causa de pedir remota é o direito que fundamenta o pedido do
autor. É também chamada de causa de pedir mediata.
Causa de pedir próxima ou imediata é o fato que dá origem ao
direito (teoria da individuação).
Os fatos podem ser: essenciais ou principais; e secundários,
circunstanciais ou intermediários.
Os fundamentos jurídicos não se confundem com os
fundamentos legais, que são a indicação da norma legal que
ampara a pretensão. Na teoria da individuação, basta dizer que é
credor, e não por que é credor.
O pedido é um resumo do que o autor pretende receber.
A petição inicial é uma das peças mais importantes do
processo. É dela que irão decorrer as demais consequências do
processo. Por isso, deve ser redigida cuidadosamente, de modo que
não só a parte contrária a entenda perfeitamente, como também o
juiz que, ao proferir a sentença, deve compreender o que está
sendo postulado pelo autor. Petições iniciais malfeitas geram
contestações ainda piores e sentenças iguais, pois, se o juiz não
entende o que está na inicial e na defesa, terá dificuldades para
prolatar a decisão.
Assim, a petição deve obedecer a um encadeamento lógico, se
possível histórico e cronológico dos fatos e fundamentos, para se
chegar à conclusão na qual vai ser feito o pedido, inclusive com os
cálculos dos valores pretendidos. Há necessidade de clareza,
precisão e concisão na peça vestibular. Não importa que a petição
inicial seja de uma ou duas folhas. O importante é que a peça
vestibular seja bem redigida, tendo causa de pedir e pedido, de
modo que a parte contrária e o juiz possam compreender o que está
sendo postulado pelo autor.
A petição inicial representa um silogismo. A premissa menor é
representada pelos fatos. Os fundamentos de direito são a premissa
maior. A conclusão é o pedido.
Pedido imediato é o pedido direto. É o que se pretende que o
Poder Judiciário assegure à parte, como a declaração da relação
jurídica ou a condenação do réu. É o que o autor deseja
diretamente. É o pedido dirigido ao Poder Judiciário para deferir a
tutela pretendida. Tem natureza processual.
Pedido mediato é o pedido indireto. É o que o autor pretende
ver assegurado, o bem material ou imaterial postulado. É o bem da
vida pretendido. Tem natureza material.
Da exposição dos fatos tem que advir o pedido. Não é possível
que haja causa de pedir e que não exista pedido, ou vice-versa.
Compreendem-se no principal os juros legais, a correção
monetária e os honorários de advogado (§ 1º do art. 322 do CPC).
São pedidos implícitos. Já havia regra semelhante no § 1º do art. 39
da Lei n. 8.177/91, determinando os juros e a correção monetária,
ainda que não explicitados na sentença ou no termo de conciliação.
A correção monetária representa apenas a atualização monetária do
valor do principal.
Dispõe o art. 322 do CPC que o pedido deve ser certo. Reza o
art. 324 do CPC que o pedido deve ser determinado.
O pedido deve ser certo e ao mesmo tempo determinado, não
existindo condição alternativa, mas aditiva. A certeza e a
determinação não se excluem, mas são somadas. O pedido não
pode, portanto, ser incerto e indeterminado.
Pedido certo é o contrário de pedido incerto, genérico. Pedido
certo quer dizer pedido delimitado, expresso, explícito, não se
admitindo, assim, pedido implícito. O termo certo quer dizer valor,
pois, se apresentado pedido certo, é vedado ao juiz proferir
sentença ilíquida, como era a regra do parágrafo único do art. 459
do CPC de 1973. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza
diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade
superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado (art. 492 do
CPC).
No pedido determinado, há indicação do número de cabeças de
gado. A palavra determinado diz respeito à certeza do pedido, à
qualidade e quantidade, ao an debeatur e não aos valores, ao
quantum debeatur.
Pedido determinado e certo é o delimitado em suas qualidades
e quantidades. O pedido pode ser determinado quanto ao gênero,
mas não ser indeterminado em relação à quantidade, porém, deve
poder ser quantificado na liquidação da sentença. Pedido certo é
entregar 100 sacas de café e determinado é entregar 100 sacas de
café do tipo A.
A consequência de que o pedido deve ser certo e determinado
– devendo ser indicado o valor correspondente – é que ele deverá
ser líquido.
O autor, todavia, poderá formular pedido genérico (§ 1º do art.
324 do CPC), principalmente quando não seja possível quantificar
todo o pedido, mas deverá atribuir um valor a esse pedido, ainda
que por estimativa.
É lícito, porém, formular pedido genérico (§ 1º do art. 324 do
CPC): “I – nas ações universais, se o autor não puder individuar os
bens demandados”. Universalidade de fato é a pluralidade de bens
singulares pertencentes a uma pessoa, como uma biblioteca, um
rebanho. Universalidade de direito é o complexo de relações
jurídicas de uma pessoa, como o seu patrimônio; “II – quando não
for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do
fato;” Pode ser o exemplo da indenização por dano material em que
ainda não se sabe todo o valor do dano. “III – quando a
determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato
que deva ser praticado pelo réu.” É o que ocorre quando as horas
extras devem ser apuradas de acordo com os cartões de ponto, que
ficam em poder da empresa. A causa de pedir será o trabalho
extraordinário. O pedido será o pagamento das horas extras que
forem apuradas, conforme as anotações dos cartões de ponto. O
pedido genérico, entretanto, diz respeito ao quantum debeatur, visto
que o an debeatur deverá ser sempre certo e determinado.
“Reflexos nas contratuais”, por exemplo, é pedido inepto, pois não
sabemos quais os reflexos que estão sendo pretendidos.
Será prescindível constar da inicial as prestações vincendas,
como ocorre em questões de alimentos, quando a obrigação
consistir em prestações periódicas. Menciona o art. 323 do CPC que
se “na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em
prestações sucessivas, essas serão consideradas incluídas no
pedido, independentemente de declaração expressa do autor, e
serão incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se o
devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-
las”.
“O pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação,
o devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo” (art. 325
do CPC). Se pela lei ou pelo contrato “a escolha couber ao devedor,
o juiz lhe assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de
outro modo, ainda que o autor não tenha formulado pedido
alternativo” (parágrafo único do art. 325 do CPC). São pedidos
alternativos: o de a empresa comprovar o recolhimento do FGTS,
sob pena de pagar a indenização correspondente, ou de fornecer a
guia do seguro desemprego, sob pena de pagar a quantia
respectiva; o decorrente de cláusula contratual em que o
empregador se compromete a entregar um automóvel ao
empregado ou a pagar o valor equivalente.
Poderá o autor formular pedido sucessivo ou subsidiário, a fim
de que o juiz, não podendo conhecer do pedido anterior, possa
analisar o posterior (art. 326 do CPC). Por exemplo: o autor pede
como postulação principal a reintegração no emprego e como
pedido subsidiário o pagamento da indenização correspondente,
caso o pedido principal não possa ser conhecido. Dada a
incompatibilidade da reintegração no emprego ou sua
impossibilidade, pelo término da estabilidade, o juiz poderá
conceder o pedido de pagamento da indenização. O autor pede a
anulação do casamento. Não sendo possível, pede a separação
judicial.
Poderão ser feitos pedidos sucessivos na petição inicial. Caso
não seja reconhecida a relação de emprego, passa-se ao pedido
seguinte, em que pode haver postulação de pagamento de
indenização, de aviso-prévio da lei específica, como da Lei n.
4.886/65.
É possível fazer a cumulação de pedidos contra o mesmo réu,
ainda que entre eles não haja conexão (art. 327 do CPC). Para a
cumulação, é preciso que os pedidos sejam compatíveis entre si e o
juiz seja competente para deles conhecer (incisos I e II do § 1º do
art. 327 do CPC). Se o juiz é incompetente para conhecer um dos
pedidos, o processo deve ser extinto sem resolução de mérito (art.
42 do mesmo Código). O art. 42 do CPC declara que as causas
serão processadas e decididas pelos órgãos jurisdicionais, nos
limites de sua competência e não fora dela. O STF já decidiu da
mesma forma (RTJ 110/901). Se os pedidos são incompatíveis entre
si, é impossível a cumulação de ações. Há necessidade, também,
que o procedimento seja comum para todos os pedidos. Não é
possível que um pedido seja processado por um procedimento e
outro pedido por procedimento diverso.
4 VALOR DA CAUSA
O valor da causa é fundamental na petição inicial, para que o réu
possa saber quanto o autor pretende receber, proporcionando
defesa ao réu, facilitando, inclusive, a conciliação em audiência.
É o caso de se observar os arts. 291 ss. do CPC, quanto ao
valor a ser dado à causa, no sentido de que a inicial deverá sempre
conter o valor da causa, sendo este imprescindível.
O valor da causa poderá também influir no pagamento das
custas, como em caso de arquivamento ou de rejeição do pedido.
Caso seja dado um valor menor, o Estado terá prejuízo, pois as
custas não serão pagas sobre o correto montante.
Mesmo que o pedido não tenha conteúdo econômico imediato,
será necessário atribuir um valor determinado à causa, ainda que
por estimativa (art. 292 do CPC).
Segundo o art. 292 do CPC, o valor da causa constará sempre
da petição inicial. Mesmo na ação trabalhista, o valor da causa terá
por base: ao pretender cobrar o valor do que é devido, a soma
monetariamente corrigida do principal, dos juros de mora vencidos e
de outras penalidades, se houver, até a data da propositura da ação
(art. 292, I, do CPC); na ação que tiver por objeto a existência, a
validade, o cumprimento, a modificação, a resolução, a resilição ou
a rescisão de ato jurídico, o valor do ato ou o de sua parte
controvertida (art. 292, II, do CPC); na ação indenizatória, inclusive
a fundada em dano moral, o valor pretendido (art. 292, V, do CPC);
havendo cumulação de pedidos (objetiva), a importância
correspondente à soma dos valores de todos os pedidos (art. 292,
VI, do CPC); na hipótese de pedidos alternativos, o de maior valor
(art. 292, VII); se houver também pedido subsidiário, o valor do
pedido principal (art. 292, VIII). Caso o postulante peça prestações
vencidas e vincendas, tomar-se-á em consideração o valor de umas
e outras (§ 1º do art. 292 do CPC). Havendo pedido de prestações
vincendas, o valor da causa será igual a uma prestação anual, se a
obrigação for por tempo indeterminado, ou for superior a um ano; se
por tempo inferior, será igual à soma das prestações (§ 2º do art.
292 do CPC).
O valor da causa deve corresponder àquilo que realmente o
autor pretende receber do réu, incluindo-se correção monetária e
juros, até por força do princípio da lealdade processual e da boa-fé
ao se ajuizar uma ação.
Caso o pedido não tenha condições de ser apurado ou seja
indeterminado, o autor deverá atribuir o valor da causa por
estimativa, não havendo que se falar em valor da causa para efeitos
de alçada ou apenas para efeito de custas, por falta de norma legal
dispondo nesse sentido e por inexistência de valor da causa nesse
sentido.
Nada impede que o juiz, verificando antes da audiência inicial
que não foi dado valor à causa, determine que o demandante venha
a atribuir valor à causa em 15 dias, sob pena de extinção do
processo sem julgamento de mérito.
O juiz pode – e tem obrigação de – retificar de ofício o valor da
causa (§ 3º do art. 292 do CPC) quando verificar que não foram
observados os incisos do art. 292 do CPC, mormente ao se notar
que o autor: deu um valor baixo à causa somente para não pagar
custas, no caso de perder a demanda; pretende impossibilitar à
outra parte o direito de recorrer, pois conhece o posicionamento da
Vara quanto a tema já debatido anteriormente naquele juízo.
Na doutrina, há o entendimento de Arruda Alvim 61, ao afirmar
que “mesmo não havendo impugnação do réu, pode o juiz fixar o
valor da causa de ofício, se aquele fixado pelo autor contraria a lei”.
No mesmo sentido, José Carlos Barbosa Moreira62 e Hélio
Tornaghi63. Leciona Moniz Aragão 64 que, em se tratando de matéria
de ordem pública, pode o juiz intervir de ofício para a fixação do
valor da causa, visando “corrigir os defeitos de estimativa e
determinando a forma do processo”.
O juiz pode retificar de ofício o valor da causa, inclusive na
sentença, pelos mesmos motivos já supraexpostos. O que não pode
o juiz, nesses casos, é fixar um valor arbitrário na decisão, de modo
a causar evidente prejuízo processual ao demandante.
Valores dados à causa superiores em muito ao pedido, ou
contas que importam em um valor dado à causa extremamente
exagerado, podem, sim, tipificar condutas como a de litigante de
má-fé (art. 77, I, do CPC), eis que ausentes a lealdade processual, a
boa-fé e a exposição dos fatos conforme a verdade, norteadores de
qualquer pretensão feita em juízo, e que devem ser policiadas ex
officio pelo magistrado.
O valor da causa pode servir de base para o juiz fixar as custas.
Não estabelecido o valor da causa corretamente, pode haver
prejuízo ao erário público quanto ao valor correto das custas a ser
recolhido.
Na postulação de indenização por dano moral, o autor deve
indicar o valor que pretende receber a título de indenização.
No mandado de segurança e na ação cautelar, o valor da causa
corresponde ao valor pecuniário do direito envolvido.
A impugnação ao valor da causa é feita, na prática, como
preliminar ou até em peça em apartado da contestação. Entretanto,
não será autuada em apartado, mas nos próprios autos. O momento
de impugnação será com a apresentação da defesa.
5 OUTROS REQUISITOS
O autor deve indicar na inicial as provas que pretende produzir (art.
319, VI, do CPC).
No processo civil, o autor pode pedir na petição inicial a
realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação (art.
319, VII, do CPC).
No processo do trabalho, não é preciso pedir provas a produzir,
pois elas devem ser requeridas em audiência (art. 845 da CLT).
6 DOCUMENTOS
A petição inicial deverá ser acompanhada pelos documentos
necessários à propositura da ação (art. 320 do CPC). Assim, se o
autor faz referência à contratação entre as partes, deve juntar o
respectivo contrato.
Documentos novos podem ser juntados após a propositura da
ação.
7 INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL
A petição inicial será indeferida (art. 330 do CPC) quando:

a) for inepta;
b) a parte for manifestamente ilegítima. De regra, o juiz não
tem condições de verificar de imediato se a parte é
ilegítima, só podendo fazê-lo com a apresentação da
defesa;
c) o autor carecer de interesse processual. Por exemplo: se
o autor ajuizar a ação postulando uma prestação não
vencida. Não tem nenhum interesse na propositura da
ação. Logo, deve ser a inicial indeferida por falta de
interesse processual;
d) não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321 do CPC.
O primeiro dispositivo trata da postulação em causa
própria de advogado. O segundo mandamento determina
que se o juiz conceder prazo para emendar a inicial e o
autor não o fizer, será extinto o processo sem resolução
de mérito.

A petição inicial malfeita dificulta a aplicação do contraditório e


da ampla defesa.
Mesmo havendo revelia pela não apresentação de defesa na
audiência inicial, pode o juiz determinar que a peça vestibular seja
emendada, desde que a inicial se apresente com defeitos ou
irregularidades que possam ser corrigidas pelo autor.
O § 5º do art. 337 do CPC permite que o juiz conheça da
inépcia da inicial, inclusive de ofício. Mister se faz dizer que a
petição inicial deve ter fundamentação não diretamente em relação
aos fundamentos jurídicos, mas nos motivos da causa de pedir que
leva ao pedido. O art. 321 do CPC reza que os defeitos e
irregularidades são aqueles capazes de dificultar o exame do mérito,
sendo que, nesse caso, deve-se mandar emendar a inicial. Se,
porém, as irregularidades impedem o exame de mérito, não é o
caso de se mandar emendar a petição inicial, como quando se
verifica de imediato que mesmo que haja emenda não irá surtir o
efeito necessário, ou estando o processo na fase de julgamento isso
não mais seja possível. Nesses casos, deve-se extinguir o processo
sem julgamento de mérito, por inépcia. O fato de a reclamada
conseguir contestar o pedido nada quer dizer, até por questão de
dever de ofício, pois a petição inicial é endereçada ao juiz da causa,
que irá decidi-la. Se o juiz não entende o que está sendo postulado,
mesmo que a reclamada o compreenda, é o caso de se extinguir o
processo sem julgamento de mérito, na hipótese de ser impossível a
emenda da inicial. Caso não se entenda dessa forma, seriam
incompatíveis o art. 321 e o § 5º do art. 337 do CPC, além do que
este último não determina a observância do disposto no art. 321 do
CPC.
Ao dar nova oportunidade para o autor emendar a inicial, o juiz
está permitindo que o autor esclareça corretamente os pedidos, pois
ele mesmo pode ser prejudicado caso o juiz não compreenda aquilo
que está sendo postulado.
Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao
juiz, no prazo de cinco dias, reformar sua decisão (art. 331 do CPC).
Trata-se de um procedimento adotado pelo legislador como medida
de celeridade processual. Se não houver retratação, o juiz mandará
citar o réu para responder ao recurso (§ 1º do art. 331 do CPC).
Sendo a sentença reformada pelo tribunal, o prazo para a
contestação começará a correr da intimação do retorno dos autos,
observado o disposto no art. 334 do CPC. Não interposta a
apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença (§
3º do art. 331 do CPC).
8 INÉPCIA DA INICIAL
A inicial será considerada inepta quando:

a) lhe faltar pedido ou causa de pedir;


b) o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses
legais em que se permite o pedido genérico;
c) da narração dos fatos não decorrer logicamente a
conclusão;
d) contiver pedidos incompatíveis entre si (§ 1º do art. 330
do CPC).

Difere a inépcia da inicial da petição irregular. Na petição inicial


irregular, há possibilidade da concessão de prazo para ser
regularizada, como ocorre com um endereço incorreto, um dado da
causa de pedir incorreto etc. A petição inepta não obriga o juiz a
conceder prazo para sua regularização, podendo ser imediatamente
indeferida.
Ao contrário do que se entendia anteriormente, têm ocorrido
muitos casos de inépcia da inicial, justamente pelo não atendimento
dos requisitos anteriores.
Da narração dos fatos deve decorrer logicamente a conclusão.
Não é possível que se faça verdadeiro romance na inicial, contando
de tudo um pouco, para depois ser feito um pedido que nada tem a
ver com os fatos narrados. A decorrência dos fatos narrados é o
pedido de alguma coisa necessariamente ligada a eles.
Se o pedido é completamente indeterminado e não é possível
sua determinação, será considerada inepta a petição inicial.
Excetua-se a hipótese de pedido genérico.
O autor poderá incorrer no erro de fazer pedido juridicamente
impossível. Pelo CPC de 2015, possibilidade jurídica do pedido não
é mais condição da ação. Exemplo: pedir o pagamento de adicional
de penosidade quando inexiste norma legal ou convencional que
determine a empresa a assim fazer. Nesse caso, o processo deverá
ser extinto com julgamento de mérito, pois é do direito da parte que
se trata, do mérito.
Por último, a inicial deve conter pedidos compatíveis entre si.
Não poderão ser feitos pedidos incompatíveis entre si. O certo seria
fazer pedido sucessivo. Não podendo ser acolhida a reintegração, o
juiz examinará o pedido de diferenças de verbas rescisórias.
Havendo inépcia da inicial, o juiz tem obrigação de extinguir o
processo sem julgamento de mérito. Nenhum prejuízo ocorrerá ao
autor, que poderá perfeitamente propor outra ação, na qual melhor
poderá explicar aquilo que pretende. Não se diga que o prejuízo
consistirá no pagamento das custas. Estas poderão ser
dispensadas, de ofício, pelo juiz ou a requerimento do autor.
9 MODIFICAÇÕES À POSTULAÇÃO INICIAL
A regra geral é a inalterabilidade do pedido. Este, contudo, poderá
ser modificado em certos casos.
Três hipóteses de complementação da inicial podem ser
mencionadas:

1. o autor omitiu pedido que poderia ter feito, desejando ampliar a


postulação da inicial, modificando a causa de pedir;
2. existem erros manifestos na exordial que precisam ser
retificados;
3. é preciso acrescentar um pedido, cancelando-se outro já feito,
porém mantendo a mesma causa de pedir.

As emendas à inicial, quanto a erros manifestos, são


admissíveis. Muitas vezes, o autor errou na data declinada na inicial,
ao colocar, erroneamente, data diversa da qual foi feito o contrato.
Outras vezes, o horário não está corretamente informado na inicial
etc. Nada impede que seja feita a retificação.
Antes de ser feita a citação, é possível o aditamento à inicial a
qualquer momento. Depois de feita a citação e apresentada a
defesa, é inadmissível a modificação do pedido ou da causa de
pedir (art. 329, I, do CPC). Antes da citação, porém, o autor poderá
aditar o pedido.
Apresentada a defesa não é possível aditar a inicial, salvo se o
réu assim o consentir. Da mesma forma, pedidos feitos na réplica ou
em razões finais são inadmissíveis.
Capítulo 21
CONTESTAÇÃO
1 DENOMINAÇÃO
O art. 297 do CPC de 1973 dispunha que o réu poderia oferecer no
prazo de 15 dias contestação, exceção e reconvenção. Enquadrava-
se no Capítulo II, Da resposta do réu, Seção I. As duas primeiras
são realmente respostas do réu, mas a última não se trata de
resposta, e sim de verdadeiro ataque do réu contra o autor, de ação
e não de defesa.
O CPC de 2015, no art. 578, em relação à demarcação, faz
referência à resposta do réu.
Padre Vieira afirma que o direito de resposta é tão natural que
até os penhascos duros respondem, porque têm, para as vozes,
ecos.
A defesa do réu pode ser assim dividida:

a) Defesa indireta do processo, em que serão discutidos


pressupostos para o válido desenvolvimento do processo,
com efeito dilatório (exceções) ou peremptório (preliminares
do art. 337 do CPC);
b) Defesa indireta de mérito, que se poderia chamar de
preliminares do próprio mérito da ação, como se observa na
prescrição e na decadência, em que o processo é resolvido
com julgamento de mérito (art. 487, II, do CPC);
c) Defesa direta de mérito, em que o réu pretende ver a ação
julgada em sua substância, com a rejeição da pretensão do
autor (art. 487, I, do CPC).

A CLT, em vários artigos, usa a palavra defesa e não


contestação (arts. 767, 847, 848 e § 1º do art. 799). A palavra
defesa vem da época administrativa, em que não se falava em
contestação. A defesa é o gênero, que engloba a contestação e as
exceções.
O CPC de 2015 não faz mais referência a exceções, mas a
preliminares. A CLT ainda trata de exceções de suspeição e
incompetência nos arts. 799 a 802.
2 CONTESTAÇÃO
Contestação tem significado etimológico de negação, altercação ou
debate.
No sentido que irei utilizar, é a impugnação da pretensão do
autor, a defesa do réu.
O vocábulo contestação tem origem no Direito Romano, quando
o réu, diante do magistrado e acompanhado de suas testemunhas,
opunha-se à pretensão do autor, o que se denominava litis
contestatio.
Contestação é a defesa do réu que impugna a pretensão do
autor no processo.
A contestação é uma das modalidades de resposta do réu. A
CLT utiliza a palavra defesa (arts. 847 e 848, § 1º, e arts. 799 e
767).
Padre Vieira afirma que o direito de resposta é tão natural, que
até os penhascos duros respondem, porque têm, para as vozes,
ecos.
Distingue-se a contestação da exceção, pois é uma defesa
direta do mérito, enquanto a segunda é uma defesa indireta em
relação ao processo.
Na contestação, o réu deverá alegar toda a matéria com a qual
pretende se defender na ação que lhe foi proposta, salvo a
incompetência, suspeição e impedimento, que são matérias de
exceção no processo do trabalho.
A defesa é um direito da parte e não uma obrigação. O réu não
tem obrigação de se defender, mas lhe deve ser proporcionado o
direito de defesa, que pode ou não ser exercido.
Toda a matéria a ser debatida deve ser apresentada de uma só
vez (princípio da eventualidade), de modo que, não sendo acolhida
uma delas, possa ser examinada a seguinte. De acordo com o
princípio da eventualidade, o réu deverá fazer todas as alegações e
trazer todos os argumentos para contestar a pretensão do autor.
O réu deverá alegar na contestação toda a matéria possível,
expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido
do autor (art. 336 do CPC). Não se admitirá, porém, contestação por
negativa geral, que nenhum efeito produzirá. Caberá, também, ao
réu “manifestar-se precisamente sobre os fatos narrados na petição
inicial”. Presumir-se-ão verdadeiros os fatos não impugnados (art.
341 do CPC).
Em se tratando de matéria de direito e havendo revelia, não há
presunção de veracidade de fatos, sendo que o juiz poderá até
mesmo rejeitar a pretensão do autor se entender de forma contrária.
No processo civil, o réu poderá oferecer contestação, por
petição, no prazo de 15 dias, cujo termo inicial será a data (art. 335
do CPC): I – da audiência de conciliação ou de mediação, ou da
última sessão de conciliação, quando qualquer parte não
comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição; II – do
protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação
ou de mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer a hipótese do
art. 334, § 4º, inciso I do CPC; III – prevista no art. 231 do CPC, de
acordo com o modo como foi feita a citação, nos demais casos. No
caso de litisconsórcio passivo, ocorrendo a hipótese do § 6º do art.
334 do CPC, o termo inicial previsto no inciso II será, para cada um
dos réus, a data de apresentação de seu respectivo pedido de
cancelamento da audiência. Quando ocorrer a hipótese do art. 334,
§ 4º, inciso II do CPC, havendo litisconsórcio passivo e o autor
desistir da ação em relação a réu ainda não citado, o prazo para
resposta correrá da data de intimação da decisão que homologar a
desistência.
A contestação é apresentada no processo do trabalho
oralmente em audiência, no prazo de 20 minutos (art. 847 da CLT).
Não há prorrogação do prazo de 20 minutos, por falta de previsão
legal. Havendo mais de um reclamado, cada um deles terá o direito
ao prazo de 20 minutos para aduzir sua defesa. Entretanto, não há
previsão na lei para prorrogação do prazo de defesa por mais de 20
minutos. Em virtude do princípio da concentração dos atos
processuais na audiência, a contestação é nela realizada,
prestigiando também o princípio da oralidade. Pode ser apresentada
a contestação pelo sistema eletrônico, mas até a audiência (§ único
do art. 847 da CLT). Na audiência são praticados os atos mais
importantes do processo do trabalho.
Nos juizados de pequenas causas a contestação pode até ser
oral, mas é apresentada em audiência.
O revel irá apanhar o processo no estado em que estiver. Não
poderá prequestionar matéria de prova. Só poderá fazer
contraprova, se a instrução do feito prosseguir.

2.1 Preliminares
Preliminar é aquilo que antecede alguma coisa. As preliminares são
matérias prejudiciais de conhecimento de mérito da ação.
Consistem em discutir o que vem antes do objeto da ação. São
objeções arguidas antes do exame do mérito da questão posta em
debate no juízo. Representam matérias de ordem processual, que
impedem o exame do mérito da questão, desde que haja a
possibilidade de conhecimento de ofício pelo juiz.
É de se aplicar subsidiariamente o art. 337 do CPC quanto às
preliminares que podem ser ofertadas em juízo:

a) inexistência ou nulidade de citação (art. 239 do CPC e art.


841 da CLT);
b) incompetência absoluta e relativa;
c) incorreção do valor da causa;
d) inépcia da petição inicial (art. 330, I e § 1º, do CPC);
e) perempção;
f) litispendência (§ 3º do art. 337 do CPC);
g) coisa julgada (§ 4º do art. 337 do CPC e art. 836 da CLT);
h) conexão (art. 55 do CPC);
i) continência (art. 56 do CPC);
j) incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de
autorização (arts. 70 e 76 do CPC);
k) convenção de arbitragem;
l) ausência de legitimidade ou de interesse processual;
m) falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como
preliminar;
n) indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.

2.1.1 Inexistência ou nulidade de citação


Na inexistência de citação, o réu efetivamente não foi citado. É o
que ocorre se é declarada a revelia do réu e posteriormente é
devolvida pelo Correio a intimação.
No processo do trabalho, deve haver um prazo de cinco dias
entre a data do recebimento da citação e a audiência (art. 841 da
CLT), que corresponde, teoricamente, ao prazo para se fazer a
defesa e conseguir os documentos necessários para a contraprova
do alegado na peça vestibular. Para os entes de direito público
(União, Estados, Municípios, suas autarquias e fundações) esse
prazo é de 20 dias, ou seja, quatro vezes os cinco dias normais que
possui a parte (Decreto-lei n. 779/69).
Se o réu comparece espontaneamente à audiência e apresenta
a defesa, não há nulidade de citação (§ 1º do art. 239 do CPC).
2.1.2 Incorreção do valor da causa
A incorreção do valor da causa poderá, no processo civil, ser
alegada como preliminar da contestação (art. 337, III, do CPC). No
processo do trabalho, sempre foi alegada como preliminar de
contestação.

2.1.3 Inépcia da petição inicial


A inicial é inepta quando for ininteligível, quando houver causa de
pedir e não houver pedido, ou vice-versa. A correção da inicial pode
ser feita na audiência, devolvendo-se o prazo para a defesa ao réu.
O § 1º do art. 330 do CPC indica as hipóteses de inépcia da
inicial: (a) faltar pedido ou causa de pedir; (b) o pedido for
indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o
pedido genérico; (c) da narração dos fatos não decorrer logicamente
a conclusão; (d) contiver pedidos incompatíveis entre si.
O juiz poderá decretar a inépcia da inicial, mesmo após o
processo já ter sido instruído, como na hipótese de nada se
entender da petição inicial, pois não é mais possível conceder prazo
para emendá-la sem modificar a litiscontestação. Seria a hipótese
de a ação ter pedido, mas não causa de pedir, ou causa de pedir
sem pedido. Seria o caso também de simplesmente não haver
pedido ou este não ser certo e determinado (arts. 322 e 324 do
CPC), sendo totalmente incerto ou indeterminado. Exemplos: pedir
horas extras e não indicar o horário em que trabalha. Fazer pedido
“na forma acima”, sem dizer claramente o que pretende receber.
Pedir reflexos “nas demais verbas” ou “nas contratuais e
rescisórias”.

2.1.4 Litispendência
Há litispendência quando se repete ação que está em curso (§ 3º do
art. 337 do CPC), tendo as mesmas partes, a mesma causa de pedir
e o mesmo objeto. Pode ocorrer de um mesmo pedido ter sido feito
num primeiro processo e também num segundo, impondo-se a
extinção, quanto a um deles, parcial do processo sem julgamento do
mérito.
O objetivo da arguição de litispendência é impedir que duas
ações idênticas sejam processadas perante Varas diversas,
impondo-se que uma delas seja extinta, geralmente a que foi
proposta em segundo lugar. A arguição da litispendência visa evitar
insegurança jurídica com a possibilidade de duas sentenças
distintas, sendo que, mesmo que houvesse identidade de
julgamento, um deles seria inútil ou desnecessário, implicando
desnecessidade da prestação da atividade jurisdicional e
desprestigiando o princípio da economia processual.
Não se confunde a litispendência com a conexão, pois esta
importa na reunião de ações propostas separadamente, enquanto
na primeira uma das ações será extinta sem julgamento de mérito.
A litispendência se dará evidentemente entre processos
judiciais e não entre processo judicial e administrativo, nada
impedindo que o empregado esteja reivindicando o registro em
carteira no Ministério do Trabalho e postulando horas extras e outras
verbas num processo judicial.
Havendo duas ações em fases processuais diferentes, também
não haverá litispendência. É o que ocorre se um processo estiver na
fase de execução e a nova postulação na fase de conhecimento,
pois, nesse caso, haverá coisa julgada em relação ao primeiro
processo. A litispendência também poderia ser parcial, pois
pertinente apenas a um ou alguns pedidos.
Ficando configurada a litispendência deverá haver extinção do
processo sem resolução de mérito (art. 485, V, do CPC).

2.1.5 Coisa julgada


Dá-se a coisa julgada quando é repetida ação que já foi decidida por
sentença, da qual não caiba mais qualquer recurso (§ 4º do art. 337
do CPC). Nesse caso, o processo deve ser resolvido sem
julgamento do mérito (art. 485, V, do CPC).
O próprio art. 836 da CLT veda que a Justiça do Trabalho
conheça de questões já decididas, salvo em relação à ação
rescisória, o que já mostra que deve ser respeitada a coisa julgada.
O conceito de coisa julgada é previsto no art. 502 do CPC, que
esclarece que coisa julgada material é a autoridade que torna
imutável e indiscutível a decisão de mérito, não mais sujeita a
recurso. Não é só a sentença que transita em julgado, mas também
o acórdão, que são decisões de mérito. O § 3º do art. 6º da Lei de
Introdução reza que a coisa julgada ou caso julgado é a decisão
judicial de que já não caiba recurso. Se o processo é extinto sem
julgamento de mérito e há o trânsito em julgado, não há coisa
julgada material, mas apenas formal, justamente por não caber mais
recurso da decisão, porém a parte poderá ingressar de novo com a
mesma pretensão, justamente porque o mérito não foi julgado, não
fazendo coisa julgada material.

2.1.6 Conexão e continência


Conexão significa união, junção, ligação, interligação. Indica “a
relação íntima existente entre duas coisas, de modo que o
conhecimento de uma depende do da outra” (Enciclopédia Saraiva
de Direito. São Paulo: Saraiva, 1977. v. 17, p. 478).
Na conexão subjetiva há identidade de sujeitos.
Na conexão objetiva existe identidade de pedido ou de causa
de pedir.
São comuns na conexão o pedido ou a causa de pedir (art. 55
do CPC), isto é, um dos dois e não os dois ao mesmo tempo,
segundo a previsão da lei. Se todos os elementos (partes, causa de
pedir e pedido) fossem comuns não haveria conexão, mas
demandas iguais.
Objeto é o pedido do autor. É o que postula que lhe seja
assegurado pelo Poder Judiciário.
Não se exige, porém, que as partes sejam as mesmas para que
haja conexão entre duas ações. Isso é o que se depreende do art.
55 do CPC, que faz referência apenas a mesmo pedido ou mesma
causa de pedir. A simples identidade de partes não caracteriza
conexão, pois seu pressuposto está na coincidência do objeto ou da
causa de pedir.
O objetivo da norma é que questões que tenham o mesmo
objeto (pedido) ou a mesma causa de pedir não sejam julgadas por
juízes diversos, pois poderia haver também decisões distintas, que
deveriam ter a mesma conclusão.
Dá-se continência entre duas ou mais ações sempre que
houver identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o
pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras (art. 56 do
CPC).
Nas hipóteses dos arts. 55 e 56 do CPC não há extinção do
processo sem julgamento de mérito, mas prevenção do juízo que
conheceu de um dos casos em primeiro lugar, para onde devem ser
remetidos os autos.
Não se pode entender o mesmo objeto ou a mesma causa de
pedir a existência do contrato de trabalho, e sim o mesmo pedido ou
a mesma causa petendi. Na conexão, existe uma situação
alternativa, da existência da mesma causa de pedir ou do mesmo
pedido, como, por exemplo, da causa de pedir do trabalho em horas
extras, postulando-se os reflexos. A continência é uma espécie do
gênero conexão, devendo ser arguida como preliminar de defesa.
Ocorre a continência quando em uma ação o autor pretende os
reflexos da equiparação salarial e na outra a própria equiparação
salarial, pois as partes serão as mesmas, a causa de pedir será a
mesma (decorrente da equiparação salarial) e o segundo pedido da
segunda ação abrange o da primeira ou é o principal em relação
àquela. Na verdade, o mais correto seria falar em litispendência em
relação à primeira ação, que deveria ser extinta, pois este pedido
estaria incluído na segunda.
A reunião de ações propostas em separado será feita no juízo
prevento, com a finalidade de serem decididas simultaneamente
(art. 58 do CPC).
O requisito para que os processos possam ser reunidos por
continência e conexão é que estejam num mesmo momento
processual. Se um dos processos já estiver instruído, aguardando
sentença, ou já a tenha, não mais será possível a união.
Caberá conexão ou continência no procedimento sumaríssimo
se forem atendidos os requisitos dos arts. 55 e 56 do CPC.
A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles
já foi julgado (Súmula 235 do STJ).

2.1.7 Ausência de legitimidade ou de interesse processual


O CPC de 2015 não faz mais referência à carência de ação.
Impossibilidade jurídica do pedido era questão de mérito, de se
indicar se existia ou não o direito da parte. Exemplo de
impossibilidade jurídica do pedido é o de se pedir adicional de
penosidade, vez que ainda não existe lei regulando essa matéria.
Ilegitimidade de parte pode ocorrer quando o sindicato se
intitula substituto processual e na verdade não detém essa
condição.
Há falta de interesse processual quando o autor pede a
concessão de férias, mas ainda não se findou o período concessivo
daquelas, que, portanto, podem ser concedidas espontaneamente
pelo empregador. Não existe necessidade de pedir a tutela do Poder
Judiciário para o referido pedido de férias.
2.1.8 Incapacidade de parte, defeito de representação ou falta
de autorização
Normalmente, quando há incapacidade de parte, defeito de
representação da parte ou falta de autorização, o juiz deve conceder
um prazo para a parte regularizar sua situação no processo, sob
pena de extinção do processo sem julgamento de mérito.
A capacidade processual adquire-se com 18 anos.
Defeito de representação ocorre quando não for juntada
procuração ou de contrato social pela parte ou quando for exigida
procuração por instrumento público.
A falta de autorização é a necessidade do consentimento do
marido ou da outorga da mulher para ajuizamento da ação sobre
direito real imobiliário, nos termos do art. 73 do CPC.
O juiz deverá conceder prazo razoável à parte para sanar a
irregularidade, suspendendo o processo. Descumprida a
determinação, caso o processo esteja na instância originária, se a
providência couber ao:

a) autor, o juiz extinguirá o processo sem julgamento de mérito;


b) ao réu, reputar-se-á revel;
c) ao terceiro, considerado revel ou excluído do processo,
dependendo do polo em que estiver (§ 1º do art. 76 do CPC).

Descumprida a determinação na fase recursal perante tribunal


regional ou tribunal superior, o relator:

a) não conhecerá do recurso, se a providência couber ao


recorrente;
b) determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a
providência couber ao recorrido.
Outras hipóteses podem ser alegadas na contestação, como:
convenção de arbitragem; a falta de caução de que fala o inciso XII
do art. 337 do CPC. As partes podem, ainda, alegar o
sobrestamento do feito, no caso da existência de outro processo em
que vai ser verificado certo fato que irá influir no julgamento da
causa (art. 110 c/c art. 313, V, a, do CPC).
O inciso XII do art. 337 do CPC menciona outra prestação que
a lei exige como preliminar. Poder-se-ia enquadrar nessa hipótese a
juntada da certidão do dissídio coletivo de que trata o parágrafo
único do art. 872 da CLT para a propositura da ação de
cumprimento, sendo, portanto, uma formalidade legal prevista na lei.
O mesmo raciocínio seria aplicável em relação à certidão da
convenção ou acordo coletivo.
Todas as matérias que são preliminares da contestação podem
ser conhecidas de ofício pelo juiz, com exceção do compromisso
arbitral e da incompetência relativa (§ 5º do art. 337 do CPC).

2.2 Preliminares de mérito


Após as preliminares, deve o réu manifestar-se sobre o mérito da
ação. Há, porém, uma ordem lógica que deveria ser seguida na
defesa de mérito.
Antes de se discutir propriamente o mérito do feito, podem ser
discutidas prejudiciais do próprio mérito, que vêm após as
preliminares do art. 337 do CPC.
São preliminares de mérito as alegações de prescrição ou de
decadência que, uma vez acolhidas, dispensam o exame da
questão de fundo do processo, prejudicando a análise do mérito.

2.2.1 Prescrição
Consiste a prescrição na perda da pretensão ao direito, em virtude
da inércia de seu titular no decorrer de certo período. A prescrição
nasce no momento em que ocorre a violação do direito (actio nata).
O art. 189 do CC mostra que a prescrição não é mais perda do
direito da ação, mas perda da pretensão ao direito.
Compreende a prescrição um direito subjetivo que corresponde
a dever jurídico de outrem. Havendo lesão, o prazo é prescricional.
Tratando-se de faculdade, o prazo é decadencial. A prescrição
atinge a pretensão e não a exigibilidade.
A prescrição, assim como a decadência, são temas de direito
material e não de direito processual.
O reconhecimento da prescrição gera efeitos processuais, isto
é, a sua operacionalização. Entretanto, trata-se de direito material,
tanto que é previsto em normas que versam sobre o direito material,
como no Código Civil, no Código Penal, no Código Tributário etc., e
não no CPC. A prescrição compreende o decurso de prazo,
enquanto o processo é concernente à atividade do juízo ou das
partes.
Consuma-se a prescrição com o decurso do prazo previsto em
lei, sendo regulada pela lei em vigor no momento dessa
consumação. A sentença apenas declara a prescrição já
consumada. O juiz não cria a prescrição. A sentença apenas
reconhece uma realidade, que já havia se constituído no mundo
fático. O devedor seria, inclusive, livre ou não para arguir a
prescrição ou discutir o mérito, provando que cumpriu a obrigação.
A prescrição é fato extintivo do direito do autor. O CPC, no
inciso II do art. 487, menciona que na ocorrência de prescrição há a
extinção do processo com julgamento do mérito. Prescrição implica
o exame do mérito, não sendo pressuposto processual ou condição
da ação.
A prescrição deve ser arguida apenas pela parte a quem
aproveita (art. 193 do Código Civil) e não por outras pessoas. O
Ministério Público não tem legitimidade para arguir a prescrição em
favor de entidade de direito público, quando atua como fiscal da lei,
pois não é parte (Orientação Jurisprudencial n. 130 da SBDI-1 do
TST).
Não arguida a prescrição pela Fazenda Pública, não poderia o
Ministério Público fazê-lo, pois não é representante da primeira.
A citação válida interrompe a prescrição.
Reza o art. 193 do Código Civil que a prescrição pode ser
alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem
aproveita, o que também mostra a ideia de preservar a segurança
jurídica. Isso significa que a prescrição pode ser arguida em
qualquer grau de jurisdição, inclusive de ofício pelo juiz. Pode ser
arguida pela primeira vez em grau de recurso.
Não se fala mais em qualquer instância, como era previsto no
art. 162 do Código Civil de 1916. Instância em 1916 não tinha
significado de grau de jurisdição, mas de processo.
Não poderá ser alegada na execução, que não é grau de
jurisdição, mas fase processual ou processo.
A prescrição não terá de ser arguida com a defesa, pois é uma
matéria de direito (art. 336 do CPC). Ela pode ser arguida em
qualquer grau de jurisdição (art. 193 do Código Civil) e o juiz poderá
pronunciá-la de ofício. Mostra, ainda, o inciso II do art. 342 do CPC
que depois da contestação só é lícito deduzir novas alegações
quando competir ao juiz conhecer delas de ofício, como ocorre em
relação à prescrição.
Entendo que a regra contida no art. 193 do Código Civil fere o
contraditório e é inconstitucional (art. 5º, LV, da Constituição).
Prescrição é matéria de defesa, na qual o réu deve alegar todos os
motivos de fato e de direito com que impugna a pretensão do autor
(art. 336 do CPC), o que incluiria a prescrição. Logo, a prescrição
não pode ser alegada após ser oferecida a defesa, pois viola o
contraditório e suprime instância.
De acordo com o § 1º do art. 332 do CPC, “o juiz também
poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar,
desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição”.
A prescrição deveria ser arguida pelo devedor, pois poderia
cumprir a obrigação espontaneamente ou provar que pagou a dívida
ao apresentar a contestação.
Acolhida a prescrição, a parte perderia sua pretensão e a
obrigação seria meramente natural, podendo ser cumprida ou não
pelo devedor.
O art. 194 do Código Civil foi revogado pela Lei n. 11.280, de 16
de fevereiro de 2006.
A prescrição também poderá ser pronunciada em qualquer
momento, inclusive nos tribunais. A regra se aplica inclusive aos
processos que estão em curso e quando forem feitos julgamentos
sob a vigência da nova lei, pois a lei processual tem aplicação
imediata a partir de sua vigência, não se observando apenas em
relação a situações já consumadas.
Pela regra do § 1º do art. 332 do CPC, o juiz pode pronunciar a
prescrição de ofício, ou seja, sem provocação. Trata-se de
faculdade e não de obrigação, pois haverá necessidade de mandar
a parte contrária se manifestar (parágrafo único do art. 487 do
CPC), exercendo o contraditório.
Não mais se discute se a prescrição é ou não de direito
patrimonial. Tanto faz agora a natureza dos direitos em litígio.
A prescrição pode não ter sido arguida por esquecimento do
advogado ou por conluio das partes ou de seus advogados. O
devedor, porém, poderia pagar espontaneamente a dívida. A
obrigação prescrita é transformada em obrigação natural. O direito
continua existindo. O devedor poderia não arguir a prescrição para
ver julgado o mérito.
Não poderá a prescrição ser arguida de ofício depois do trânsito
em julgado da sentença, mas apenas antes, pois, do contrário,
violará a coisa julgada. A prescrição a ser considerada na execução
é a intercorrente.
A nova redação do § 1º do art. 332 do CPC prestigia a
segurança jurídica e a celeridade processual, em detrimento do
direito do credor e da justiça do direito postulado. A segurança
jurídica é elemento fundamental no Direito. É um de seus pilares.
Passa a haver interesse do Estado na declaração de ofício da
prescrição.
O juiz, ao aplicar a prescrição de ofício (art. 487, II, do CPC),
vai acabar favorecendo quem descumpriu a ordem jurídica e
cometeu um ato ilícito ao não pagar o que era devido. O Estado não
poderia ter interesse em beneficiar quem descumpriu a obrigação. A
norma acaba incentivando o descumprimento da obrigação do
devedor de adimplir suas obrigações.
A arguição da prescrição de ofício pelo juiz representa norma
de ordem pública, que será aplicada sem provocação. O processo
não pode ficar tramitando longos anos se existe prescrição. Sob
esse aspecto, há economia processual na tramitação do processo,
evitando a prática de atos inúteis ou desnecessários para depois ser
declarada a prescrição. Apenas quanto aos direitos patrimoniais
eles têm característica privada.
É dever do Estado velar pela rápida solução dos litígios entre as
partes. De certa forma, é a aplicação do inciso LXXVIII do art. 5º da
Constituição, no sentido de que, no âmbito judicial, são assegurados
a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação. A razoável duração do processo indica
o tempo de duração do processo (aspecto objetivo). Celeridade
significa que o processo deve organizar-se de forma a chegar
rapidamente ao seu termo. A utilização da celeridade não implica
que o juiz irá decidir de forma atabalhoada.
A arguição da prescrição de ofício está fundamentada nestes
dois princípios que estão na Constituição.
Mesmo em caso de revelia, o juiz irá declarar de ofício a
prescrição.
Há afirmações quanto à inconstitucionalidade do § 1º do art.
332 do CPC.
O devido processo legal está sendo exercido de acordo com a
previsão da lei, ou seja, do § 1º do art. 332 do CPC.
Não vejo violação ao princípio da isonomia, pois a lei não está
tratando duas situações de forma desigual. Está sendo estabelecida
uma única situação no citado dispositivo legal. Se o devedor não
apresenta defesa, deixando de invocar a prescrição, o juiz irá arguir
de ofício a prescrição. Uma coisa é o tratamento para o devedor e a
outra para o credor. São situações distintas. Não estão sendo
tratados dois credores de forma diferenciada ou dois devedores de
maneira discriminada.
Pode haver violação ao contraditório em relação ao autor,
principalmente quando arguida de ofício pelo juiz no segundo e no
terceiro graus, inclusive quando desconhece causas suspensivas ou
interruptivas em relação à prescrição. Violaria o inciso LV do art. 5º
da Constituição, já que o juiz aplica a prescrição de ofício e não teria
obrigação de ouvir a parte contrária.
Caso o processo esteja na fase de conhecimento, o ideal é o
juiz realizar a audiência de conciliação, visando tentar acordo entre
as partes, que representa a solução negociada e consensual do
conflito, sem imposição do Estado.
Se o juiz for aplicar a prescrição de ofício, o ideal é dar vista à
parte contrária para manifestação (parágrafo único do art. 487 do
CPC), evitando erros que possam surgir.
Alguém poderá afirmar a respeito da incompatibilidade entre o
art. 191 do Código Civil, que trata da renúncia expressa ou tácita da
prescrição, com o § 1º do art. 332 do CPC. O juiz não poderia
aplicar de ofício a prescrição, pois o devedor poderia renunciar
expressamente a ela ou em razão de fatos do interessado
incompatíveis com a prescrição, que seria a prescrição tácita.
Entretanto, o CPC é posterior ao Código Civil. A norma posterior
derroga a anterior que for com ela incompatível (§ 1º do art. 2º do
Decreto-lei n. 4.657/42), daí valer a regra da arguição de ofício pelo
juiz.
O melhor não é a celeridade no trâmite do processo, mas se
conseguir a efetiva justiça, de cada um receber o que é seu e nada
mais do que isso.
A interrupção da prescrição ocorrerá apenas uma vez (art. 202
do Código Civil).
A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que
a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper
(parágrafo único do art. 202 do Código Civil).
A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr
contra seu sucessor (art. 196 do Código Civil). O novo Código troca
a palavra herdeiro, que era prevista no art. 165 do Código Civil de
1916, por sucessor. A exceção é se existirem menores, hipótese em
que não correrá a prescrição (art. 198, I, do Código Civil).
A interrupção da prescrição efetuada contra o devedor solidário
abrange os demais (§ 1º do art. 204 do Código Civil).

2.2.2 Decadência
A decadência consiste na perda do próprio direito, em razão de este
não ter sido exercitado no prazo legal. Nascendo a ação e o direito
simultaneamente, a doutrina entende que se trata de questão de
decadência.
A Súmula 100, I, do TST considera o prazo de dois anos para a
propositura da ação rescisória de decadência, contando-se do
trânsito em julgado da última decisão proferida na causa, seja de
mérito ou não.
O prazo de 120 dias para ajuizar o mandado de segurança é
considerado de decadência, pois o art. 23 da Lei n. 12.016/2009 faz
referência a “direito de requerer o mandado de segurança”.
Dispõe o art. 210 do Código Civil que deve o juiz, de ofício,
conhecer da decadência, quando estabelecida em lei. Essa regra já
se depreendia do § 1º do art. 332 do CPC, pois este mencionava
que apenas a prescrição de direitos patrimoniais não poderia ser
declarada de ofício pelo juiz. Logo, a decadência poderia. A
decadência não prevista em lei não pode ser arguida de ofício,
como a prevista no contrato.
A decadência deve ser alegada como preliminar de mérito na
defesa, extinguindo-se o processo com julgamento de mérito, caso
seja acolhida (art. 487, II, do CPC).
Em relação à decadência, não se aplicam as normas que
impedem, suspendem ou interrompem a prescrição, salvo
disposição legal em contrário (art. 207 do Código Civil).

2.3 Defesa de mérito


Após as preliminares, incumbe ao réu manifestar-se sobre o mérito
da questão.
A pretensão do réu é, por meio da defesa, rejeitar todas as
matérias debatidas e as verbas pretendidas na petição inicial.
A defesa poderá abranger apenas matéria de fato (não foi feito
o contrato de aluguel, não houve prestação de serviços) ou de
direito, mas também matéria de fato e de direito ao mesmo tempo.
Na defesa, o réu não poderá fazer a contestação por negativa
geral, mas poderá alegar:

a) a negativa dos fatos narrados na inicial;


b) o reconhecimento dos fatos alegados na inicial e suas
consequências, ou parte do pedido (ex.: o devedor pondera
que não houve realmente o pagamento da obrigação, pois
não tinha numerário em caixa, reconhecendo o pedido do
autor). Nesses casos haverá a extinção do processo com
resolução de mérito (art. 487, III, do CPC);
c) a admissão dos fatos narrados na peça vestibular, mas a
oposição de suas consequências.

O réu deverá impugnar ponto por ponto dos articulados na


inicial, contestando-os todos.
Não sendo impugnados os fatos alegados na inicial, presumem-
se verdadeiros (art. 336 do CPC).
Assevera Calmon de Passos que “se o fato narrado pelo autor
não é impugnado especificamente pelo réu e de modo preciso, este
fato, presumido verdadeiro, deixa de ser controvertido.
Consequentemente, deixa de ser objeto de prova, visto como só os
fatos controvertidos reclamam prova” (v. III:275). “A presunção de
veracidade do fato não impugnado é prova que deve ser acolhida,
salvo prova em contrário. Mas essa prova em contrário está
preclusa ao réu, pela circunstância mesma de não ter impugnado o
fato” (276).
O autor não poderá desistir da ação após a apresentação da
contestação (§ 4º do art. 485 do CPC), salvo se houver a
concordância do réu, pois houve a formação da litis contestatio.
Depois da apresentação da contestação, só é lícito deduzir
novas alegações quando:

a) relativas a direito ou fato superveniente. Fato superveniente é


o que ocorrer depois de apresentada a contestação;
b) competir ao juiz conhecer delas de ofício, como na prescrição
e na decadência;
c) por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em
qualquer tempo ou grau de jurisdição (art. 342 do CPC). É o
que ocorreria em relação à incompetência absoluta (§ 1º do
art. 64 do CPC).
Capítulo 22
PROVA
1 HISTÓRICO
Na Bíblia, duas mulheres afirmam que eram mães de um menino.
Salomão, ao decidir, disse que fosse cortado pelo meio o menino
vivo, dando metade para cada mulher. Em razão da inexistência de
prova, cada mãe levava uma parte do menino, mas havia destruição
do objeto da controvérsia. A verdadeira mãe renunciou a tal direito.
Salomão, com sabedoria, percebeu na atitude o sentimento da
verdadeira mãe, de que o filho ficasse vivo e entregou-lhe o menino.
Nas Ordenações Filipinas, “a prova é o farol que deve guiar o
juiz nas suas decisões” (Livr. III, Tít. 63), mas sobre as questões de
fato.
2 ETIMOLOGIA
Prova vem do latim probare. Em seu sentido comum significa
exame, verificação, reconhecimento por experiência, demonstração.
3 CONCEITO
Chamam-se provas os meios que servem para dar conhecimento de
um fato, e por isso a fornecer a demonstração e a formar a
convicção da verdade do próprio fato. Instrução probatória é a fase
do processo dirigida a formar e colher as provas necessárias para
essa finalidade65.
Provar é convencer alguém sobre alguma coisa. Provar é
convencer o juiz sobre os fatos da causa.
No processo, a prova tem por objeto os fatos da causa. Sua
finalidade é a formação da convicção do juiz a respeito dos fatos da
causa. A prova é uma reconstituição dos fatos perante o juiz, que é
o destinatário da prova. Fato não provado é fato inexistente.
As provas podem ser lícitas (art. 369 do CPC) e ilícitas (art. 5º,
LVI, da Constituição).
Podem ser típicas, que são as previstas em lei, e atípicas, que
não são previstas em lei, como o exame de DNA.
No processo civil, como no processo do trabalho, prevalece o
livre convencimento na apreciação da prova, o princípio da
persuasão racional da prova ou livre convicção motivada do juiz.
Esta orientação está consubstanciada no art. 371 do CPC: “O juiz
apreciará a prova, constante dos autos, independentemente do
sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da
formação de seu convencimento”. O juiz será, portanto, livre para
apreciar a prova, porém deverá indicar na sentença quais foram os
motivos que lhe levaram a chegar a determinada conclusão.
O Código de Processo Penal dispõe que o juiz formará sua
convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação (art. 155).
4 PRINCÍPIOS
A prova é informada pelos seguintes princípios:

a) Legalidade: o contraditório e a ampla defesa serão


assegurados de acordo com as provas que estiverem
previstas na lei (art. 5º, II, da Constituição).
b) Necessidade da prova: não basta fazer alegações em
juízo. É preciso que a parte faça a prova de suas
afirmações. Aquilo que não consta do processo não existe
no mundo jurídico (quod non est in actis, non est in
mundo). Entretanto, ninguém é obrigado a fazer prova
contra si mesmo.
c) Unidade da prova: a prova deve ser apreciada em seu
conjunto, em sua unidade, globalmente, e não
isoladamente.
d) Lealdade da prova: as provas devem ser feitas com
lealdade. O inciso LVI do art. 5º da Constituição determina
que “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas
por meios ilícitos”. A lealdade da prova decorre do inciso I
do art. 77 do CPC, no sentido de que as partes devem
expor os fatos conforme a verdade.
e) Contraditório: apresentada uma prova em juízo, a parte
contrária tem o direito de sobre ela se manifestar,
impugnando-a. Em qualquer processo judicial é
assegurado o contraditório, inclusive pelo inciso LV do art.
5º da Constituição.
f) Igualdade da oportunidade de prova: todos têm os
mesmos direitos de apresentar a prova nos momentos
adequados.
g) Oportunidade da prova: a prova deve ser produzida nos
momentos próprios para esse fim. Em situações de perigo
de que a prova não venha a ser realizada, poderá ser
antecipada.
h) Comunhão da prova: diz respeito a ambas as partes.
i) Imediação: o juiz é quem tem a direção do processo e
principalmente das provas a serem produzidas pelas
partes. É diante do juiz que a prova será produzida.
j) Obrigatoriedade da prova: a prova é de interesse não só
das partes, mas também do Estado, que pretende o
esclarecimento da verdade. Tem o juiz ampla liberdade na
direção do processo (art. 765 da CLT), podendo
determinar que seja feita a prova que julgar necessário
(ex.: quando o juiz determina a juntada de documentos).
k) Aptidão para a prova: significa o princípio que fará a parte
que tem melhores condições de fazer a prova, por ter
melhor acesso a ela ou porque é inacessível à parte
contrária. Deve provar que tem condições de fazê-lo
quem estiver mais apto, independentemente de ser autor
ou réu.
l) Disponibilidade da prova: a prova deve ser apresentada
nos momentos próprios previstos em lei ou para a
instrução do processo.
5 OBJETIVO DA PROVA
A prova tanto tem natureza processual, de ser apresentada no
processo, como é forma de demonstrar os negócios jurídicos
praticados pelas partes. Sua natureza é mista, pois a prova pode ser
feita extrajudicialmente.
O objetivo da prova é convencer o juiz a respeito dos fatos da
causa.
O juiz conhece o direito (iura novit curia), sendo que, narrados
os fatos, o juiz dará o direito (narra mihi factum dabo tibi jus). Assim,
somente os fatos deverão ser provados em juízo, pois o direito é de
conhecimento do magistrado. A prova deverá constar dos autos,
pois, o que deles não constar, o juiz não terá obrigação de saber
(quod non est in actis non est in mundo).
O direito federal é de conhecimento obrigatório do juiz.
Entretanto, a parte que alegar direito municipal, estadual,
estrangeiro ou consuetudinário (costumeiro) deverá fazer prova do
seu teor e vigência, se assim o juiz determinar (art. 373 do CPC). O
mesmo se dá em relação às normas coletivas e regulamento interno
do empregador. Quanto aos tratados e convenções internacionais
ratificados pelo Brasil, têm natureza supralegal, sendo, porém,
recomendável que as partes os juntem ao processo, até mesmo
porque muitas vezes não se sabe se aquele tratado foi ou não
ratificado ou se está em vigor.
É prescindível a prova em se tratando de:

a) fatos notórios, que são do conhecimento de todos. Fato


notório na região é a colheita de safra de algum produto;
b) de fatos afirmados por uma parte e confessados pela
parte contrária. O autor, v. g., alega um fato na inicial, o
réu o contesta, mas o admite em depoimento pessoal;
c) admitidos no processo como incontroversos. O autor
alega que foi assediado, a empresa concorda com o fato,
sendo, portanto, incontroverso;
d) em cujo favor milita presunção legal de existência ou de
veracidade (art. 374 do CPC). A confissão judicial feita
pelo confitente (art. 391 do CPC) é uma presunção legal.

Ao iniciar a instrução processual, o juiz, ouvidas as partes,


deverá fixar os pontos controvertidos, sobre os quais serão feitas as
provas em juízo.
6 ÔNUS DA PROVA
A palavra ônus vem do latim onus, que tem significado de carga,
fardo, peso.
Onus probandi é o encargo de a parte provar em juízo suas
alegações para o convencimento do juiz.
O ônus da prova não é uma obrigação ou dever, mas um
encargo que a parte deve se desincumbir para provar suas
alegações. A parte corre o risco de não ver provadas as suas
alegações e não ser vencedora na sua postulação. Ninguém é
obrigado a fazer prova contra si mesmo.
No Direito Romano, o ônus da prova incumbe a quem diz ou
age (semper onus probandi ei incumbit qui dicit; semper necessitas
probandi incumbit illi qui agit).
Não basta serem feitas meras alegações (allegatio et non
probatio quasi non allegatio).
No Digesto, já se verificava que “a prova é ônus de quem afirma
e não de quem nega a existência de um fato” (XXII, 3, 2).
Como afirma Mascardus, “quem não pode provar é como quem
nada tem; aquilo que não é provado é como se não existisse; não
poder ser provado, ou não ser é a mesma coisa”66. A prova é o
coração do processo (Carnelutti).
Na inversão do ônus da prova, o juiz vai verificar quem detém o
maior ônus da prova e começar a instrução probatória por aí.
Dispõe o art. 6º do Código de Defesa do Consumidor que “são
direitos básicos do consumidor: VI – a facilitação da defesa de seus
direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiência”.
Na distribuição dinâmica do ônus da prova, o juiz irá determinar
a prova a quem tem maior aptidão para provar67.
O ônus da prova subjetivo consiste em verificar quem entre os
sujeitos do processo deve fazer a prova, a quem incumbe provar.
Previa o art. 209 do CPC de 1939 que “o fato alegado por uma
das partes, quando a outra o não contestar, será admitido como
verídico, se o contrário não resultar do conjunto das provas. § 1º Se
o réu, na contestação, negar o fato alegado pelo autor, a este
incumbirá o ônus da prova. § 2º Se o réu, reconhecendo o fato
constitutivo, alegar a sua extinção, ou a ocorrência de outro que lhe
obste aos efeitos, a ele cumprirá provar a alegação”.
O art. 333 do CPC de 1973 e o art. 373 do CPC de 2015
adotam também o ônus da prova subjetivo, de quem deve fazer a
prova em juízo.
Diz respeito o ônus da prova objetivo ao magistrado, que irá
verificar a prova constante dos autos, independentemente de quem
tenha o ônus da prova. Apresentada a prova nos autos, o juiz
deverá levá-la em consideração, independentemente do ônus da
prova de cada parte. Leciona Rosenberg que, “no procedimento
regido pelo princípio dispositivo, não interessa que precisamente a
parte que suporta o ônus da prova a tenha produzido, porque o
magistrado deve ter em conta o conteúdo total dos debates; assim,
a criação das bases para a convicção judicial não é coisa exclusiva
de quem suporta a carga da prova; o que interessa é unicamente o
comprovado e não quem o comprovou”68.
Para o juiz, interessa o que está demonstrado nos autos e não
quem fez a demonstração.
O ônus da prova incumbirá àquele que fizer alegações em
juízo, a respeito da existência ou inexistência de determinado fato.
Distribuição estática do ônus da prova é a regra do art. 373 do
CPC, no sentido de o autor provar fatos constitutivos e o réu, fatos
impeditivos, modificativos e extintivos do direito do autor.
Distribuição dinâmica do ônus da prova diz respeito à maior
aptidão para prova da parte, de acordo com aquele que tem
melhores condições de provar, da cooperação das partes no
processo. Uma pessoa física não tem as mesmas condições
processuais que uma pessoa jurídica, que tem maiores recursos
econômicos e pode ter influência política nas decisões. O
empregado tem dificuldade em convidar a testemunha a comparecer
para prestar depoimento em juízo, pois teme perder o emprego se
faltar no serviço ou para depor em juízo. Não tem acesso aos
documentos do empregador. O empregador teria melhores
condições de produzir a prova, pois leva as suas testemunhas, entre
os empregados da empresa, e tem os documentos relativos ao
contrato de trabalho mantido com o trabalhador.
O produtor ou vendedor tem melhores condições de prova que
o consumidor. Há a inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, do
Código de Defesa do Consumidor) a favor do consumidor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiência.
O ônus da prova incumbe:

a) ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;


b) ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo
ou extintivo do direito do autor (art. 373 do CPC e art. 818
da CLT).

O art. 373 do CPC adota a distribuição do ônus da prova de


acordo com a teoria das normas jurídicas de Leo Rosenberg, que
distribui o ônus da prova conforme a textura da norma jurídica
material a fundamentar as pretensões.
Prova negativa seria a de que o fato não ocorreu. O réu não
pode fazer prova negativa (incumbit probatio qui dicit, non qui
negat), também chamada diabólica ou impossível. O réu não tem de
provar que é inocente. Há presunção nesse sentido. A acusação
deve provar que ele é culpado.
A regra da distribuição do ônus da prova é feita também no
julgamento. O juiz deve verificar a questão por ocasião do
julgamento.
Carnelutti afirma que “quem expõe uma pretensão em juízo
deve provar os fatos que a sustentam; e quem opõe uma exceção
deve, por seu lado, provar os fatos dos quais resulta; em outros
termos – quem aciona deve provar o fato ou fatos constitutivos e
quem excetua o fato ou fatos extintivos, ou a condição ou condições
impeditivas ou modificativas”69.
Chiovenda leciona que “provados pelo autor os fatos
constitutivos, o réu, por seu lado, deve prover a sua prova, o que
pode acontecer de dois modos:

a) ou o réu entende provar fatos que atestam a inexistência


do fato provado pelo autor, de modo direto ou indireto, e
temos a prova contrária ou a contraprova;
b) ou o réu, sem excluir o fato provado pelo autor, afirma e
prova um outro que elide os efeitos jurídicos daquele, e
temos a verdadeira prova do réu, a prova da exceção no
sentido amplo”70.

O ordinário se presume e o extraordinário deve ser provado. É


a orientação de Nicola Framarino del Malatesta. Afirma o autor que
“a experiência nos diz que são muito numerosos os direitos gozados
legitimamente, que os ilegitimamente; mostra-nos, em outros
termos, que, no maior número de casos, os direitos gozados por
uma pessoa o são legitimamente. Por isso é ordinário que se goze
um direito que nos pertence, assim como também é extraordinário
que se goze um direito que não nos pertence.
A experiência nos mostra que é maior o número das obrigações
reconhecidas e cumpridas extrajudicialmente que as reconhecidas e
cumpridas judicialmente; em outros termos, no maior número de
casos as obrigações são reconhecidas e cumpridas sem ser preciso
recorrer à Justiça. Por isso, o reconhecimento das obrigações sem
debate judicial é ordinário e o não reconhecimento, extraordinário.
Deriva daí que o autor que impugna um direito gozado pelo
demandado, pede judicialmente o reconhecimento ou cumprimento
de uma obrigação, não faz mais que afirmar um estado de coisas
contrário ao que está no curso ordinário, um estado extraordinário.
Por isso, cabe-lhe a prova, pois a presunção de ter razão assiste ao
demandado. Este ponto de vista me parece claro e determinado
para entender e admitir a máxima romana: onus probandi incumbit
actori”71, isto é, o ônus da prova incumbe ao autor.
O autor deverá provar a existência dos fatos constitutivos de
seu direito (ex.: prova de culpa do réu em ações de indenização,
prova da propriedade do imóvel).
Se o autor não provar os fatos constitutivos do seu direito, o réu
será absolvido (actore non probante, reus est absolvendus).
Ao réu incumbirá a prova dos fatos extintivos ou que fazem
cessar a relação jurídica (ex.: como de extinção de obrigações,
pagamento, prescrição, novação, transação, compensação),
impeditivos ou obstativos (ex.: a mulher alega falta de outorga uxória
na fiança firmada pelo marido, bem como em hipoteca, doação ou
gravame de ônus real sobre bens imóveis) ou modificativos (ex.: foi
acordado o pagamento parcial do valor; foi convencionado o
pagamento a prazo da dívida).
Se o réu fizesse a alegação de que o autor não era alguma
coisa, teria de provar fato negativo, o que não corresponde à
realidade. Incumbe a prova a quem alega e não a quem nega
(incumbit probatio qui dicit, non qui negat).
Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da
causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de
cumprir o encargo nos termos do caput do art. 373 do CPC ou à
maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o
juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por
decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a
oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído (§ 1º
do art. 373 do CPC). É a adoção da teoria dinâmica do ônus da
prova ou da aptidão para a prova, no sentido de que a prova deve
ser feita por quem tem melhores condições de provar, diante da
hipossuficiência técnica ou financeira de uma das partes, como, por
exemplo, o empregado, o consumidor. Trata-se de uma faculdade
do juiz, e não de obrigação, pois a lei emprega o verbo poder e não
o verbo dever. O juiz deverá decidir, de forma fundamentada, a
respeito de quem é o ônus da prova, para que a parte não se
surpreenda com a sentença, na qual o juiz diz que a parte não fez a
prova. Deverá o magistrado, se adotar essa orientação, antes do
início da prova, dizer quem é que terá de fazer prova.
A decisão sobre o ônus da prova não pode gerar situação em
que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou
excessivamente difícil (§ 2º do art. 373 do CPC).
A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer
por convenção das partes, salvo quando:

I– recair sobre direito indisponível da parte;

II – tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício


do direito (§ 3º do art. 373 do CPC).

É o que ocorre em relação ao consumidor, que tem dificuldade


em produzir prova. A convenção de que trata o § 3º pode ser
celebrada antes ou durante o processo (§ 4º do art. 373 do CPC).
Outras orientações a respeito de ônus da prova podem ser
encontradas na lei.
O art. 429 do CPC determina que o ônus da prova incumbe:

I– se tratar de falsidade de documento ou de


preenchimento abusivo, à parte que a arguir;

II – se tratar de impugnação da autenticidade, à parte que


produziu o documento.
7 VALORAÇÃO DA PROVA
São três os sistemas de apreciação da prova:

a) a lei fixa detalhadamente a forma de apreciação da prova;


b) valoração secundum conscientiam. A valoração ficaria a
cargo da consciência do juiz. O juiz tem ampla liberdade
de valoração ou de avaliação da prova;
c) persuasão racional. O juiz forma o seu convencimento de
forma livre, mas mediante motivação da decisão. Esse é o
sistema do art. 371 do CPC.

O art. 155 do CPP prevê que o juiz formará a sua convicção


pela livre apreciação da prova.
8 MEIOS DE PROVA
As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem
como os moralmente legítimos, ainda que não especificados no
CPC, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou
a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz (art. 369 do
CPC).
O Decreto n. 1.925, de 10-6-1996, promulgou a Convenção
Interamericana sobre prova e informação acerca do direito
estrangeiro.
Os meios de prova para a instrução do processo são as
espécies de provas que serão produzidas em juízo. São as fontes
em que o juiz vai verificar a veracidade dos fatos. São meios de
prova: o depoimento pessoal das partes, as testemunhas, os
documentos, as perícias e a inspeção judicial. O depoimento
pessoal é meio de prova e não prova. Prova é a confissão da parte
por intermédio do depoimento pessoal.
Motivos de prova são as alegações que irão determinar a
convicção do juiz.
Capítulo 23
SENTENÇA
1 DEFINIÇÕES
A palavra sentença vem do verbo latino sentire. O juiz sente o fato e
o direito e faz incidir o direito sobre o fato.
A CLT emprega o termo decisão nos arts. 831, 832, 850 e 895
em vez de sentença. A palavra decisão é o gênero do qual é espécie
a sentença, pois não deixa de ser uma decisão um despacho
proferido pelo juiz, ainda que não possa ser equiparado à sentença,
visto que decide alguma coisa nos autos. Prefiro, portanto, a palavra
sentença para qualificar a conclusão do processo, como o faz o
CPC.
Sentença é o ato processual pelo qual o juiz decide ou não o
mérito da postulação. Não é qualquer ato, mas o ato de natureza
processual. Não se trata também de uma decisão administrativa,
mas no curso de um processo judicial.
O § 1º do art. 203 do CPC dispõe que sentença é
pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts.
485 e 487 do CPC, põe fim à fase cognitiva do procedimento
comum, bem como extingue a execução. Adota o conceito do
conteúdo da sentença. A sentença nem sempre põe fim ao
processo, pois dela cabe recurso. A redação do CPC de 1973
mostrava o efeito da sentença. O processo não termina com a
sentença. A extinção do processo não ocorre por ser proferida a
sentença, pois a parte pode apresentar recurso da decisão. Em
certos casos, há execução forçada.
Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do
processo, resolve questão incidente, sem pôr fim ao processo.
Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza
decisória que não se enquadre no § 1º do art. 203 do CPC (§ 2º do
art. 203 do CPC).
Despachos são os demais pronunciamentos do juiz praticados
no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a
lei não estabelece outra forma (§ 3º do art. 203 do CPC).
Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista
obrigatória, independem, porém, de despacho, devendo ser
praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando
necessário (§ 4º do art. 203 do CPC).
Acórdão é a decisão colegiada proferida pelos tribunais (art.
204 do CPC). Isso ocorre tanto em relação aos Tribunais de Justiça,
Tribunais Regionais do Trabalho, Tribunais Regionais Federais,
como quanto aos Tribunais Superiores, como o TST, o STJ e o STF.
Nos dissídios coletivos, que são de competência dos Tribunais
Regionais do Trabalho ou do TST, as decisões são chamadas de
sentença normativa. Entretanto, a sentença é a denominação
privativa da decisão do órgão de primeiro grau, daí por que talvez o
nome mais correto deveria ser apenas acórdão ou acórdão
normativo.
Difere a sentença da sentença arbitral. A sentença sempre é
emitida pelo juiz, que é um funcionário do Estado. A sentença
arbitral geralmente é feita por um particular, que não tem poder de
coerção sobre as partes.
O juiz não se exime de decidir alegando lacuna ou obscuridade
do ordenamento jurídico (art. 140 do CPC). A decisão diz respeito à
sentença, às decisões interlocutórias e aos despachos. O
ordenamento jurídico compreende a Constituição, as leis, os
decretos, as portarias, as instruções normativas etc. No julgamento
da questão, deverá aplicar a lei. Inexistindo esta, recorrerá à
analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito (art. 4º da
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).
A equidade só será utilizada nos casos previstos em lei
(parágrafo único do art. 140 do CPC). O art. 8º da CLT a prevê,
sendo possível a sua utilização no processo do trabalho, desde que
não exista norma a ser aplicada.
2 NATUREZA JURÍDICA
Montesquieu dizia que o juiz é a boca que pronuncia as palavras da
lei72. O fundamento era no sentido de limitar o poder do rei, como
representante divino na Terra.
Certos autores afirmam que a sentença é um simples ato de
inteligência do juiz73. Não existe declaração de vontade do juiz. Ele
não exprime vontade própria. O juiz faz apenas um puro juízo lógico
sobre a aplicação da norma legal ao caso concreto. Ele declara a
vontade da lei.
Outros autores asseveram que a sentença contém não só um
juízo lógico, mas também um ato de vontade do juiz, pois é órgão do
Estado. Como órgão do Estado, concretiza-se num comando, que é
diferente do juízo de um simples particular74.
Chiovenda leciona que a sentença é um ato de vontade não
inteiramente autônoma do juiz, mas conforme, paralela à vontade do
Estado, expressa na lei.
A natureza jurídica da sentença é a afirmação da vontade da lei,
declarada pelo juiz, como órgão do Estado, aplicada a um caso
concreto a ele submetido. Trata-se de um comando, de um ato
lógico do juiz, envolvendo um ato de vontade e de inteligência do
magistrado, na afirmação da lei, porém como órgão investido de
jurisdição pelo Estado.
Com a sentença, o juiz põe termo à atividade jurisdicional do
Estado, examinando ou não a pretensão da parte. Com a publicação
da sentença, há um ato jurídico processual de dar conhecimento ao
público do teor da sentença.
3 FUNÇÃO DA SENTENÇA
Büllow afirma que a sentença cria o direito objetivo. A lei dá apenas
um esboço para a formação da norma concreta.
Assevera Mortara que a sentença cria o direito subjetivo. Antes
de ser proferida a sentença existe apenas uma simples pretensão.
A sentença não cria nada. Ela apenas declara a vontade da lei.
A sentença tem natureza declaratória do direito.
4 CLASSIFICAÇÃO DAS SENTENÇAS
Na Idade Média, classificavam-se as sentenças em definitivas, que
decidiam a questão principal, e interlocutórias, que julgavam
questões incidentes.
O CPC de 1939 fazia a divisão em sentenças definitivas,
terminativas e interlocutórias. Essa classificação ainda é adotada
pela CLT.

a) Definitivas: são as sentenças que definem ou resolvem o


conflito. Não é definitiva porque transitou em julgado. O
juiz ingressa no mérito da questão, acolhendo ou
rejeitando o pedido do autor. Extingue-se o processo com
resolução de mérito. Os incisos do art. 895 da CLT fazem
referência à sentença definitiva. A sentença não é
considerada definitiva por dela não caber qualquer
recurso, mas, sim, é definitiva porque o autor não poderá
ingressar com a mesma pretensão, como ocorreria
quando o processo é extinto sem julgamento de mérito. O
§ 1º do art. 893 da CLT usa a palavra definitiva. São
exemplos de sentença definitiva as hipóteses contidas no
art. 487 do CPC, em que o processo é extinto com
resolução de mérito, como quando: o juiz acolher ou
rejeitar o pedido do autor (I); o réu reconhecer o pedido
(II); as partes transigirem (III); o juiz pronunciar a
decadência ou a prescrição (IV); o autor renunciar ao
direito sobre que se funda a ação (V).

Na transação, as partes chegaram a um acordo, que foi


homologado pelo juízo, valendo como decisão irrecorrível (parágrafo
único do art. 831 da CLT). Em razão da transação, há a extinção do
processo com julgamento de mérito (art. 487, III, b, do CPC). Só por
rescisória a sentença poderá ser atacada (S. 259 do TST).
Quando a decisão analisa a prescrição ou a decadência, há a
extinção do processo com julgamento de mérito (art. 487, II, do
CPC), embora não se analise certas questões debatidas nos autos,
mas apenas uma daquelas.

b) Terminativas: são as decisões em que se extingue o


processo sem se analisar o mérito da questão. Temos
como exemplo as hipóteses contidas no art. 485 do CPC,
quando: o juiz indeferir a petição inicial, v. g., por inépcia
(I); o processo ficar parado durante mais de um ano por
negligência das partes (II); o autor abandonar a causa por
mais de 30 dias, não promovendo os atos e diligências
que lhe competir (III); não estiverem presentes os
pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e
regular do processo (IV); o juiz acolher a alegação de
perempção, litispendência ou de coisa julgada (V);
verificar ausência de legitimidade ou de interesse
processual (VI); o autor desistir da ação (VIII). No
processo do trabalho, não se aplicam as hipóteses
previstas nos incisos VII, IX e X do art. 485 do CPC,
embora sejam regras de extinção do processo sem
resolução de mérito. Essas sentenças transitam em
julgado, porém não fazem coisa julgada material, pois não
se ingressa no mérito da controvérsia. A decisão também
será terminativa quando o juiz acolhe exceção de
incompetência em razão da matéria ou das pessoas e
envia os autos para o juízo competente. O processo
termina na Justiça do Trabalho. O § 2º do art. 799 da CLT
usa a palavra terminativa.
c) Interlocutórias: são as decisões que resolvem questões
incidentes no processo.

O CPC de 1973 fez a divisão em extinção do processo sem


julgamento de mérito (art. 267) e com julgamento de mérito (art.
269).
O CPC de 2015 faz referência à extinção do processo sem
resolução do mérito (art. 485) e com resolução do mérito (art. 487).
5 EFEITOS DA SENTENÇA
Quanto aos efeitos das sentenças, estas podem ser declaratórias,
constitutivas ou condenatórias. Isso também irá depender da
postulação feita na petição inicial.

a) Declaratórias: são as sentenças que vão declarar a


existência ou inexistência da relação jurídica (art. 19, I, do
CPC); ou a autenticidade ou falsidade de documento (art.
19, II, do CPC). Mesmo havendo violação de direito, é
admissível, a ação meramente declaratória (art. 20 do
CPC). Exemplos: a sentença que reconhece a existência
do vínculo de emprego, a que reconhece a filiação.
b) Constitutivas: são as sentenças que criam, modificam ou
extinguem certa relação jurídica. Exemplos: dissídio
coletivo de natureza econômica, em que são criadas ou
modificadas certas condições de trabalho; a rescisão do
contrato por inadimplemento do réu, a anulação de atos
jurídicos.
No processo penal, o exemplo é da revisão criminal (art.
632 do CPP), a decisão que estabelece a pena de
interdição de direitos (art. 47 do Código Penal).
c) Condenatórias: são sentenças que implicam obrigação
de dar, fazer ou não fazer alguma coisa, dando ensejo à
execução. Exemplos: a sentença que manda o réu pagar
indenização por danos materiais; a sentença que condena
o réu a cumprir pena de prisão em regime fechado.
d) Mandamentais: Pontes de Miranda classifica as
sentenças como mandamentais, como a sentença do
mandado de segurança, que manda cumprir uma
determinação para que o juiz ou autoridade faça ou se
abstenha de fazer algo.
Todas as sentenças têm um cunho declaratório, antes de serem
constitutivas ou condenatórias. Por exemplo: a sentença que
declara a existência da relação de emprego, mandando pagar as
verbas rescisórias, é uma decisão declaratória, num primeiro plano,
e condenatória, num segundo momento. Somente uma sentença
que reconhecesse apenas a existência da relação de emprego é
que seria unicamente declaratória, no caso de não haver pedido na
petição inicial de pagamento de alguma verba.
Certas sentenças constitutivas também têm cunho
condenatório. Por exemplo: a sentença que reconhece a
equiparação salarial, criando uma nova situação de direito. Ao
mandar pagar as diferenças salariais da equiparação, essa
sentença constitutiva é também condenatória.
A sentença declaratória retroage à data dos fatos (ex tunc),
como ocorre no que diz respeito ao reconhecimento da existência
da relação de emprego.
Já a sentença constitutiva vale para o futuro (ex nunc).
Exemplo: o dissídio coletivo de natureza econômica, em que são
fixadas cláusulas novas, ou novas condições de trabalho. Ele tem
validade daquele momento para o futuro, não tendo efeito retroativo.
Adstrição ou congruência é a limitação de observar o pedido, a
causa de pedir e o quantum postulado.
6 IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ
Dispunha o art. 120 do CPC de 1939 que “o juiz transferido,
promovido ou aposentado concluirá o julgamento dos processos
cuja instrução houver iniciado em audiência, salvo se o fundamento
da aposentadoria houver sido a absoluta incapacidade física ou
moral para o exercício do cargo. O juiz substituto, que houver
funcionado na instrução da causa em audiência, será o competente
para julgá-lo, ainda quando o efeito tenha reassumido o exercício.
Parágrafo único. Se iniciada a instrução, o juiz falecer ou ficar, por
moléstia, impossibilitado de julgar a causa, o substituto mandará
repetir as provas produzidas oralmente, quando necessário”. Na
primeira parte do artigo, se o juiz fosse aposentado, perderia a
jurisdição e não poderia instruir ou julgar o processo. Mesmo que o
juiz fosse transferido, promovido ou aposentado deveria completar o
julgamento.
A Súmula 222 do STF interpretava a matéria, esclarecendo que
“o princípio da identidade física do juiz não é aplicável às Juntas de
Conciliação e Julgamento, da Justiça do Trabalho” (DJU 7-5-1964,
p. 218). Os dispositivos utilizados para a edição da súmula foram o
art. 120 do CPC de 1939 e o parágrafo único do art. 8º da CLT. O
fundamento para a não aplicação da identidade física do juiz era o
fato de que a Justiça do Trabalho de primeira instância era um órgão
colegiado, composto pelo juiz presidente e pelos antigos vogais, e
depois, pelos juízes classistas.
A Súmula 136 do TST é proveniente do antigo Prejulgado n. 7,
de 31-8-1964. Foi estabelecida como enunciado pela Resolução
Administrativa n. 102/82 (DJU 11-10-1982), quando ainda existiam
as Juntas de Conciliação e Julgamento. Sua redação era a seguinte:
“não se aplica às Juntas de Conciliação e Julgamento o princípio da
identidade física do juiz”. Não se aplicava a identidade física do juiz
no processo do trabalho, em razão de que a Junta de Conciliação e
Julgamento era um órgão colegiado.
Dispunha a redação original do art. 132 do CPC de 1973 que “o
juiz, titular ou substituto, que iniciar a audiência, concluirá a
instrução, julgando a lide, salvo se for transferido, promovido ou
aposentado; casos em que passará os autos ao seu sucessor. Ao
recebê-lo, o sucessor prosseguirá na audiência, mandando repetir,
se entender necessário, as provas já produzidas”. O juiz substituto
só não teria de julgar o processo se não fosse transferido,
promovido ou aposentado. Caso o juiz não iniciasse a audiência e
esta fosse marcada para outro dia, o juiz não ficaria vinculado ao
processo.
O fundamento da identidade física do juiz é que o magistrado
que presenciou a prova tem melhores condições de interpretá-la do
que outro julgador que não teve contato com ela.
A Lei n. 8.637, de 31 de março de 1993, deu nova redação ao
art. 132 do CPC: “O juiz, titular ou substituto, que concluir a
audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado,
afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em
que passará os autos ao seu sucessor”. A redação é melhor do que
a do dispositivo anterior. A questão relativa à repetição da prova
passou a ser o parágrafo único. Houve a inclusão da hipótese de o
juiz estar convocado no tribunal, que não existia na redação original
do CPC de 1973 e que também é hipótese de o juiz não ficar
vinculado ao processo.
O fato de o juiz estar aposentado implica que não pode julgar o
processo, pois não tem mais jurisdição. Parece supérflua a
referência da hipótese na lei.
A Súmula 217 do TFR dizia que, “no âmbito da Justiça Federal,
aplica-se aos feitos trabalhistas o princípio da identidade física do
Juiz”. O fundamento seria que o juiz federal atuava sozinho e não
sob a forma de colegiado. Na época, na vigência da Constituição de
1967 e da Emenda Constitucional n. 1/69, o juiz federal julgava
questões trabalhistas de empregados da União, suas autarquias,
fundações, empresas públicas que explorassem atividade
econômica e sociedades de economia mista.
A Emenda Constitucional n. 24/99 extinguiu os juízes classistas
e deu ao primeiro grau da Justiça do Trabalho o nome de Vara do
Trabalho.
A Resolução n. 185/2012 cancelou a Súmula 136 do TST, o que
poderia dar a entender que seria aplicável o princípio da identidade
física do juiz no processo do trabalho.
O projeto do novo CPC previa proposta de manutenção do
princípio no art. 112: “O juiz que concluir a audiência de instrução e
julgamento resolverá a lide, salvo se estiver convocado, licenciado,
afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em
que passará os autos ao seu sucessor. Parágrafo único. Em
qualquer hipótese, o juiz que tiver que proferir a sentença poderá
mandar repetir as provas já produzidas, se entender necessário.”
No novo CPC, Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015, entre os
arts. 139 a 143, no Título IV, Do Juiz e dos auxiliares da justiça,
Capítulo I, Dos poderes, dos deveres e das responsabilidades do
juiz, não existe um artigo tratando da mesma forma da identidade
física do juiz. Isso mostra que não existe mais identidade física do
juiz no processo civil e também no processo do trabalho.
Não se pode falar em nulidade se o juiz que presidiu a instrução
não julgar o feito, pois não se sabe qual seria o prejuízo de natureza
processual da parte (art. 281, § 1º do art. 282, parágrafo único do
art. 283 do CPC e art. 794 da CLT).
Nem sempre o juiz que instrui o processo profere a melhor
sentença. Isso é relativo.
O juiz presidente, promovido, aposentado ou afastado também
não ficaria vinculado ao feito, como se verificava do próprio art. 132
do CPC de 1973.
A CLT não exige expressamente a identidade física do juiz de
primeiro grau.
O princípio da identidade física do juiz não se aplica ao
processo do trabalho. O novo CPC de 2015 não trata
expressamente da identidade física do juiz para o processo civil e,
portanto, nem mesmo para o processo do trabalho.
7 DIREITO INTERTEMPORAL
O direito de recorrer nasce com a publicação da sentença e se rege
pela lei em vigor na data da publicação da decisão.
O STF entendeu que “o direito aos honorários advocatícios
sucumbenciais surge no instante da prolação da sentença. Se tal
crédito não era previsto no ordenamento jurídico nesse momento
processual, não cabe sua estipulação com base em lei posterior,
sob pena de ofensa ao princípio da irretroatividade da lei” (1ª T.,
ARE 1.014.675, Rel. Min. Alexandre de Moraes, DJe 12-4-2018).
Capítulo 24
RECURSOS
1 HISTÓRICO
No segundo período do Direito Romano, os meios de impugnação,
como a intercessio, a infitiatio, a revocatio in duplum, a restitutio in
integrum, não eram recursos, mas ações.
No terceiro período, que tinha o nome de cognitio extra
ordinem, havia possibilidade de reexame das decisões. Dessa fase
são a appelatio e a suplicatio.
No direito canônico, havia possibilidade de recurso das
decisões.
Em Portugal, no período de Afonso III, a apelação era usada
para impugnar as sentenças finais e para as decisões
interlocutórias. No período de Afonso IV, a apelação era usada para
a sentença definitiva.
Surgiu o agravo de petição nas Ordenações Manuelinas (1521).
Agravo inicialmente era o prejuízo do dano causado pela decisão.
Os agravos de petição, de instrumento e nos autos do processo
foram trazidos das Ordenações Filipinas para o Brasil.
No CPC de 1939, o agravo de petição era usado para as
decisões terminativas sem julgamento de mérito.
No CPC de 1973, a apelação era usada contra todas as
decisões terminativas com ou sem julgamento de mérito. Não havia
mais previsão de agravo de petição. Foi criada a figura do agravo
retido nos autos do processo.
2 CONCEITO
A palavra recurso tem origem no latim recursus, de recurrere, que
dá a ideia de regressar, retroagir, recuar, refluir. Recurso seria aquilo
que tem o curso ao contrário, regresso ao ponto de partida.
No sentido jurídico, recurso é o meio processual pelo qual a
parte ou outro legitimado pretende a revisão ou reexame de
determinada decisão visando à obtenção de sua reforma ou
modificação. Recurso é um remédio jurídico para a reforma da
decisão.
A finalidade do recurso é a reforma da decisão.
3 NATUREZA JURÍDICA
Há autores que identificam o recurso com a ação75. Leone diz que o
direito de impugnação reconduz à categoria da ação constitutiva76.
Santoro declara que a pessoa que impugna a sentença, pedindo
que ela seja modificada, exercita uma ação77. Vannini informa que o
direito de impugnação é uma verdadeira e própria ação constitutiva.
É uma ação que visa à remoção do provimento desfavorável do
juiz78.
Liebman menciona que o direito ao recurso é um direito
subjetivo processual79. Sergio Costa leciona que o poder de
impugnar a sentença é um direito processual. É absolutamente
independente da ação e nasce no processo80.
A natureza jurídica do recurso é um direito subjetivo processual
que nasce no transcurso do processo quando proferida uma
decisão. É uma faculdade da parte, que pode ou não ser exercida.
O recurso não é uma ação nova ou ação autônoma, mas faz parte
do direito de ação e está contido nele. No recurso, a relação
processual já existe, está em curso.
4 FUNDAMENTOS
Os fundamentos do recurso podem ser divididos em jurídicos e
psicológicos, conforme a orientação de Luiz Carlos A. Robortella81.

a) Jurídicos. Os fundamentos jurídicos para a interposição


dos recursos são:

a) a possibilidade de erro, ignorância ou má-fé do juiz


ao julgar. Todo ser humano, por ser falível, erra. O
juiz não deixa de ser humano, podendo errar, julgar
mal etc. Para esse fim é que existe o remédio que
permite a revisão da decisão do juiz pelo tribunal
superior. A prevaricação do juiz de segundo grau é
mais eficiente do que a do de primeiro grau, pois
muitas vezes é onde o processo termina, além do
que os recursos para os tribunais superiores são
mais difíceis de ser conhecidos, pelo fato de que a
matéria é técnica;
b) a oportunidade do reexame da sentença por juízes
mais experientes ou de reconhecido merecimento.
O recurso tem por objetivo que a decisão seja
melhor resolvida, examinada por mais um órgão
julgador. Nem sempre o juiz de segundo grau tem
mais experiência em julgar do que o magistrado de
primeiro grau. Exemplo é o juiz originário do quinto
constitucional, que, quando ingressa no tribunal,
não tem experiência de julgador. O exame mais
aprofundado do litígio geralmente é feito pelo juiz
de primeiro grau, que foi a pessoa que teve contato
direto com a prova, ao presidir a audiência de
instrução. Controle sobre o juiz de primeiro grau
pode existir no sentido de que este deve fazer uma
sentença bem-feita, para não ser modificada no
segundo grau. Isso é relativo, pois cada juiz tem um
entendimento, além do que há teses com
entendimentos diversos, decorrentes de
interpretação da norma. O juiz, de um modo geral,
tem responsabilidade na sentença que profere,
devendo ter independência em seus
pronunciamentos;
c) a uniformização da interpretação da legislação. O
recurso de revista tem a função de uniformizar a
jurisprudência dos tribunais regionais do trabalho,
por meio das turmas do TST. O recurso de
embargos tem por finalidade uniformizar a
jurisprudência das turmas do TST, o que será feito
pela Seção de Dissídios Individuais. O recurso
especial tem por fim uniformizar a interpretação do
direito federal em relação aos Tribunais Regionais
Federais e aos Tribunais de Justiça.

b) Psicológicos. Os fundamentos psicológicos são:

a) a tendência humana de não se conformar com


apenas uma decisão. É a afirmação de Carnelutti “o
réu é sempre vencido, mas nunca convencido”;
b) a possibilidade da reforma da decisão de um
julgamento injusto.
5 CLASSIFICAÇÃO
De acordo com a extensão da matéria impugnada, o recurso pode
ser total ou parcial. O recurso é total quando objetiva impugnar todo
o conteúdo da decisão. O recurso é parcial quando pretende
impugnar apenas parte da decisão.
Quanto à natureza, os recursos podem ser classificados em
ordinários e extraordinários. Os ordinários ou comuns são, por
exemplo, o recurso ordinário, no processo do trabalho, e a apelação.
Permitem ampla revisão da matéria, inclusive de matéria de fato.
Não têm pressupostos específicos, pois têm devolutibilidade ampla.
Não exigem prequestionamento, em princípio.
Os recursos extraordinários são exceções. Julgam matéria de
direito, e não de prova. Não visam corrigir a injustiça da decisão.
Objetivam verificar se a lei foi aplicada corretamente. Exigem
prequestionamento do dispositivo em discussão. São dirigidos aos
tribunais superiores. Exemplos: recurso especial, recurso de revista
(art. 896 da CLT) e recurso extraordinário.
Quanto à iniciativa recursal, o recurso pode ser voluntário e ex
officio. No recurso voluntário, há vontade da parte em querer
recorrer. No recurso necessário ou obrigatório ou ex officio, é o que
diz respeito ao ente público. Há necessidade de se remeter o
processo ao tribunal para ser confirmada a sentença.
Quanto à autonomia, o recurso pode ser principal ou adesivo.
No recurso principal, cada parte pode apresentar o recurso,
independentemente da outra. No recurso adesivo, há necessidade
de um recurso principal para que a ele possa aderir. A parte que não
recorreu adere ao recurso interposto pelo ex adverso.
6 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
A denominação empregada não deveria ser duplo grau de
jurisdição, porque não existem apenas dois graus de jurisdição, mas
pluralidade de graus de jurisdição, pois o primeiro grau é a Vara, o
segundo grau o Tribunal de Justiça, o Tribunal Regional Federal ou
o TRT, o terceiro grau é o STJ ou o TST, e um quarto grau, ou grau
especial, o STF. Logo, não há apenas duplo grau de jurisdição, mas
pluralidade de graus de jurisdição.
O art. 158 da Constituição de 1824 previa o duplo grau de
jurisdição de forma expressa, ao garantir a reapreciação das causas
pelo Tribunal da Relação.
O duplo grau de jurisdição é decorrência do devido processo
legal e da ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes
(art. 5º, LV, da Lei Maior).
Não se acha expresso o duplo grau de jurisdição, nem implícito
na Constituição, mas é decorrência da legislação ordinária, pois a
ampla defesa e os meios e recursos a ela inerentes também irão
decorrer da previsão da legislação ordinária.
O inciso III do art. 102 da Constituição mostra que não cabe
recurso de decisões de causas em única instância, em que cabe o
recurso extraordinário, mas não qualquer outro.
A palavra recurso, contida no inciso LV do art. 5º da
Constituição, não significa apelo, mas conjunto de medidas ou
meios indispensáveis para o exercício da ampla defesa e do
contraditório. A norma infraconstitucional pode limitar o direito de
recorrer, como ocorre com o § 4º do art. 2º da Lei n. 5.584/70.
O apelo decorre da ideia da pluralidade dos graus de jurisdição,
em que a parte poderá recorrer ao tribunal superior, desde que haja
recurso previsto na lei.
7 PRINCÍPIOS DOS RECURSOS
Vários são os princípios que podem ser apontados em relação aos
recursos.

7.1 Vigência imediata da lei nova


A parte não tem direito adquirido a determinado recurso, mas direito
de recorrer, de acordo com o recurso que estiver previsto em lei. A
lei processual tem aplicação imediata e apanha os processos em
curso. Assim, se a lei nova disser que não mais existe recurso
ordinário e o prazo para apelar é de dois dias, não haverá direito
adquirido a recorrer mediante o recurso ordinário. Com a publicação
da sentença é que nasce o direito de recorrer, pois antes disso só se
pode falar em mera expectativa do direito de recorrer, visto que o
direito de recorrer é inexistente antes de ser prolatada e publicada a
sentença.
Deve ser aplicada a lei vigente na data da publicação da
sentença ou acórdão.
O recurso é regido pela lei vigente na data da publicação da
decisão. É nessa data que surge o direito de recorrer. Entretanto,
devem ser respeitados os atos anteriormente praticados sob a égide
da lei velha.
Ao entrar em vigor o CPC de 1973, suas disposições serão
aplicadas desde logo aos processos pendentes (art. 1.211).
A lei nova aplica-se aos processos pendentes, como indica o
art. 1.046 do CPC: “ao entrar em vigor, suas disposições aplicar-se-
ão desde logo aos processos pendentes”. Adota o CPC a teoria do
isolamento dos atos processuais.
Reza o art. 2º do Código de Processo Penal que “a lei
processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade
dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”.
O art. 915 da CLT explica que “não serão prejudicados os
recursos interpostos com apoio em dispositivos alterados ou cujo
prazo para interposição esteja em curso à data da vigência desta
Consolidação”.
O STJ entendeu que a lei não é a vigente quando da
interposição do recurso, mas a que estava em vigor na data da
publicação da decisão, salvo se a matéria for de ordem
constitucional, que tem incidência de imediato (STJ, 4ª T., RMS
38/SP, j. 11-9-1998, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, DJU, 4-6-1990,
p. 5.061).
Se a nova lei aumenta o prazo do recurso, temos que, se o
prazo da lei velha já se escoou, a lei nova processual não reabre o
referido prazo, pois já houve preclusão temporal. Se o prazo ainda
não tiver transcorrido integralmente quando da vigência da lei nova,
aplica-se o novo prazo, descontando-se os dias já decorridos.
Em relação a recursos interpostos com base na lei velha, serão
julgados com base na lei velha, no que diz respeito às hipóteses de
cabimento do recurso.
O julgamento do recurso deverá ser feito com base na lei
vigente na data da interposição do apelo. O procedimento do
recurso será o previsto na lei nova.
O TST entende que não é aplicável o procedimento
sumaríssimo nos processos iniciados antes da vigência da Lei n.
9.957/2000 (Orientação Jurisprudencial 260 da SBDI-1 do TST).

7.2 Unirrecorribilidade
Só é possível a interposição de um recurso de cada vez. Tendo a
parte ingressado com dois recursos de uma só vez, o juiz poderá
determinar que a parte escolha o recurso que deve subir para
exame do tribunal.
Não há simultaneidade da interposição de recursos, mas
sucessividade.
O art. 498 do CPC de 1973 indicava que só pode ser interposto
um recurso de cada vez: “quando o dispositivo do acórdão contiver
julgamento por maioria de votos e julgamento unânime, e forem
interpostos embargos infringentes, o prazo para recurso
extraordinário ou recurso especial, relativamente ao julgamento
unânime, ficará sobrestado até a intimação da decisão nos
embargos”. No CPC de 2015, não há artigo correspondente.

7.3 Fungibilidade
Fungível é o que pode ser substituído por outra coisa do mesmo
gênero, número e grau.
A fungibilidade decorre da unirrecorribilidade. Na fungibilidade,
ocorre o aproveitamento do recurso erroneamente nominado, como
se fosse o que devia ser interposto. É a utilização de um recurso
mediante erro, quando o referido apelo não é o previsto para aquela
hipótese. Aproveita-se o referido recurso se for tempestivo.
O aproveitamento do recurso erroneamente nominado adviria
do princípio de que se o ato alcançou sua finalidade não há nulidade
(arts. 277 e 288 do CPC) ou do princípio da economia processual.
Para ser aproveitado recurso erroneamente apresentado é
preciso: (a) dúvida sobre qual o recurso cabível. Em relação a
recursos da União em execução da contribuição previdenciária, a
CLT não é clara sobre o nome do recurso a ser usado; (b)
inexistência de erro grosseiro. Se houver erro grosseiro, não se
pode conhecer do recurso. É o que ocorre com a interposição de
embargos de declaração e depois pretende-se que seja conhecido
como apelação; da apresentação de embargos de terceiro, quando
era o caso de embargos de declaração etc.; (c) deve ser
apresentado no prazo para o recurso que seria cabível.

7.4 Variabilidade
Ocorre a variabilidade dos recursos se a parte desistir do recurso
interposto, substituindo-o por outro, observando-se o prazo legal.
Presumir-se-ia que, se a parte ingressasse com um segundo
recurso, haveria a desistência tácita do primeiro apelo.

7.5 Legalidade
Em matéria de recursos será observado o princípio da legalidade
processual. Os recursos são os previstos em lei, e não aqueles que
possam ser inventados pela parte.
8 PECULIARIDADES
8.1 Efeito devolutivo
No processo civil, a apelação terá efeito suspensivo (art. 1.012 do
CPC).
Os recursos trabalhistas têm como regra o efeito devolutivo (art.
899 da CLT). A exceção seria o recurso ordinário em dissídio
coletivo, em que o presidente do TST pode dar efeito suspensivo ao
apelo (art. 14 da Lei n. 10.192/2001).
Em casos excepcionalíssimos, seria possível obter efeito
suspensivo no recurso mediante cautelar. O inciso I da Súmula 414
do TST admite cautelar como o meio próprio para se obter efeito
suspensivo ao recurso.

8.2 Uniformidade de prazos para recurso


No processo civil, os prazos de recurso são de 15 dias, salvo os
embargos de declaração.
No processo do trabalho, o prazo para recurso foi uniformizado
pelo art. 6º da Lei n. 5.584/70. Assim, qualquer recurso será
interposto no prazo de oito dias (recurso ordinário, de revista,
embargos, agravo de petição e de instrumento). O recurso
extraordinário será interposto no prazo de 15 dias (§ 5º do art. 1.003
do CPC).
9 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE
Reflete o juízo de admissibilidade o poder do qual está dotado o juiz
a quo de examinar se o recurso atende os pressupostos objetivos e
subjetivos para poder subir ao tribunal superior.
O juízo de admissibilidade é feito tanto no juízo a quo, como no
juízo ad quem. A posição do primeiro não vincula o segundo, pois se
o juízo de primeiro grau entender que não cabe recurso por
determinado fundamento, nada impede que o tribunal examine essa
questão por motivo, inclusive, de hierarquia.
Exemplo de juízo de admissibilidade é o contido na Súmula 285
do TST: “O fato de o juízo primeiro de admissibilidade do recurso de
revista entendê-lo cabível apenas quanto a parte das matérias
veiculadas não impede a apreciação integral pela turma do Tribunal
Superior do Trabalho, sendo imprópria a interposição de agravo de
instrumento”. O que se quer dizer com a referida orientação
jurisprudencial é que se o juízo de admissibilidade entende que o
recurso de revista não é cabível por violação literal de dispositivo de
lei, mas o é quanto à divergência jurisprudencial, não implica o
trancamento do apelo, que subirá para exame da turma do TST. É
impróprio se interpor agravo de instrumento, pois não se está
denegando seguimento a recurso. O TST irá examinar, em seu juízo
de admissibilidade, se o recurso é cabível quanto à divergência
jurisprudencial e quanto à violação de lei federal, não se vinculando
ao despacho do juízo a quo.
O juiz poderá reconsiderar a admissibilidade do recurso,
mesmo o tendo admitido inicialmente, pois muitas vezes somente
após a apresentação das contrarrazões é que é alertado pela parte
que o recurso não poderia subir por algum motivo. Se a parte provar
legítimo impedimento, o juiz relevará a pena de deserção,
permitindo novo prazo para o preparo (§ 6º do art. 1.007 do CPC).
Entretanto, essa decisão na prática será muito difícil de ocorrer no
processo do trabalho. Admitida a hipótese, caberá ao tribunal
apreciá-la, tanto quanto a fixação do prazo para preparo, como dos
demais requisitos de admissibilidade do recurso. Ressalte-se que a
decisão será irrecorrível para a parte contrária.
A reconsideração do juiz vem a ser uma faculdade deste. Pouco
importa se, por exemplo, a parte contrária apresentou ou não
alguma preliminar nas contrarrazões, informando o não cabimento
do recurso. O juiz, ao analisar o cabimento do recurso, irá verificar
se foram observados os seus pressupostos. O recebimento, porém,
do recurso pelo juiz não comporta recurso (RT 488/73), além do que
o juiz não fica vinculado a tal ato, podendo não conhecer de recurso
se incabível ou fora de prazo (STF, RTJ 86/596).
O reexame de pressupostos do recurso não cria direito
subjetivo à parte se o juiz no despacho admitiu o apelo.
10 EFEITOS DOS RECURSOS
No processo civil, a apelação tem efeito suspensivo (art. 1.012 do
CPC), mas também tem efeito devolutivo, de devolver ao tribunal a
apreciação da matéria impugnada.
No processo do trabalho, a regra é de os recursos terem
apenas efeito devolutivo (art. 899 da CLT).
Em razão do efeito devolutivo, a parte pode requerer a extração
de carta de sentença, para liquidação provisória do julgado, que vai
até a penhora.
11 REGRAS GERAIS
O recorrente poderá, a qualquer tempo, e sem anuência do
recorrido e dos litisconsortes, desistir do recurso interposto (art. 998
do CPC). É um direito autônomo, que não precisa de aceitação da
parte contrária.
Poderá a parte também renunciar ao direito de recorrer.
Distingue-se a desistência da renúncia do direito ao recurso. Na
desistência, o recorrente desiste de um recurso já interposto. Na
renúncia, não foi ainda interposto o recurso, renunciando a parte à
interposição do apelo, ao direito de recorrer.
A parte que aceitar expressa ou tacitamente a sentença ou
decisão não poderá recorrer (art. 1.000 do CPC). Considera-se
aceitação tácita a prática, sem reserva alguma, de um ato
incompatível com a vontade de recorrer (parágrafo único do art.
1.000 do CPC), como em relação à parte que pede a liquidação da
sentença, após ser proferida a sentença.
O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos
aproveita, salvo se forem distintos ou opostos seus interesses (art.
1.005 do CPC). Se os interesses são distintos, são opostos. Não há
necessidade de se falar em interesses distintos ou opostos, mas
apenas num deles. Sobrevindo motivo de força maior ou o
falecimento da parte ou de seu advogado, admite-se a devolução do
prazo para recurso (art. 1.004 do CPC). Restitui-se o prazo pelo
período que faltar em proveito da parte, do herdeiro ou do sucessor,
contra quem começará a correr novamente depois da intimação.
A falta de assinatura do advogado na petição de razões de
recurso impede seu conhecimento. Se a falta da assinatura for
apenas na petição de juntada do recurso, não haverá nenhum
impedimento para seu conhecimento.
As razões do recurso é que devem ser assinadas, e não
apenas a petição de juntada. Não assinada a petição de razões do
recurso, este não será conhecido, pois as razões de recurso é que
devolvem a matéria à apreciação do tribunal, e não a petição de
juntada.
Mostra a Orientação Jurisprudencial 120 da SBDI-1 do TST
que, mesmo estando as razões recursais sem assinatura do
advogado, será válido o ato processual se assinada a petição que
apresenta o recurso.
De acordo com o art. 1.010 do CPC, o recorrente deve indicar
quais as razões para a reforma do julgado ou o ponto controvertido
em sua apelação, não sendo válido reportar-se à inicial ou à
contestação como razões de recurso.
No recurso, não poderá o recorrente protestar por razões
suplementares, se já apresentou o recurso, em razão da
consumação do ato processual, ainda que o prazo processual não
tenha transcorrido por inteiro. A exceção é da decisão de embargos
de declaração que forem opostos pelo recorrente, quando tem
ciência da referida decisão, podendo, se apresentado seu recurso
antes dos embargos de declaração, complementá-lo.
No processo do trabalho não será, portanto, possível interpor-
se o recurso e posteriormente apresentar as razões, como ocorre no
processo penal (arts. 588, caput, e 600 do CPP). Há, por
conseguinte, preclusão consumativa com a apresentação do recurso
e suas razões. Não poderá a parte interpor um segundo recurso,
mesmo que dentro do prazo legal.
Se o recurso já foi apresentado e vem a decisão dos embargos
de declaração, a complementação do apelo não poderá ter por
objeto matéria preclusa, salvo a pertinente aos embargos. Se a
parte não tinha interposto nenhum recurso quando apresentou os
embargos de declaração, terá direito a apresentar a apelação por
inteiro. Caso não tenha recorrido, apresentados os embargos de
declaração da parte contrária, poderá recorrer apenas da questão
dos embargos, pois em relação às demais houve preclusão.
Tem-se admitido a interposição de recurso por fac-símile.
Entretanto, devem os originais ser entregues no juízo no prazo de
cinco dias do término do prazo para recurso (Lei n. 9.800/99).
A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria
impugnada (art. 1.013 do CPC). É a regra tantum devolutum
quantum appelatum. Somente se devolve ao tribunal a matéria
impugnada. É um efeito vertical.
Somente a matéria que foi veiculada no recurso poderá ser
objeto de reexame pelo juízo ad quem, devendo a apelação ser
dirigida ao dispositivo da sentença, pois só faz coisa julgada o
dispositivo da sentença. Os motivos, a verdade dos fatos e a
apreciação da questão prejudicial não farão coisa julgada (art. 504
do CPC). Se a matéria não foi apresentada no recurso, o tribunal
não poderá proceder de ofício.
Não se pode inovar no recurso aquilo que não foi objeto da
petição inicial e da sentença.
A matéria devolvida ao tribunal é feita por capítulo, como se
verifica do §1º do art. 1.013 do CPC.
Assim, a matéria a ser examinada pelo tribunal é toda a matéria
de fato e de direito impugnada. A impugnação não poderá exceder o
dispositivo da sentença, nem poderá o tribunal ir além do exame da
matéria veiculada, sob pena de julgamento ultra petita, o que
acarreta nulidade.
Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal
todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que
não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo
impugnado (§1º do art. 1.013 do CPC). É o efeito translativo.
Questão é um ponto controvertido no processo. Há necessidade que
a questão tenha sido suscitada e discutida ao mesmo tempo, pois o
CPC usa a conjunção aditiva “e”. Se a questão for suscitada, mas
não for discutida, o Tribunal não poderá apreciar a questão. Há
necessidade de que as questões não tenham sido solucionadas
pelo juiz, mas desde que relativas ao capítulo da sentença
impugnado no recurso.
Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o
juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o
conhecimento dos demais (§2º do art. 1.013 do CPC). É o caso de o
juiz analisar apenas um ponto da causa de pedir e não examinar
outro. Este outro é devolvido à apreciação do tribunal. É o exemplo
da defesa que alega força maior e caso fortuito para não ser devida
a reparação. Afastada a força maior no julgamento, o tribunal terá
que examinar o caso fortuito.
Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o
tribunal deve decidir desde logo o mérito quando:

I– reformar sentença fundada no art. 485 do CPC;

II – decretar a nulidade da sentença por não ser ela


congruente com os limites do pedido ou da causa de
pedir;

III – constatar a omissão no exame de um dos pedidos,


hipótese em que poderá julgá-lo;

IV – decretar a nulidade de sentença por falta de


fundamentação (§4º do art. 1.013 do CPC).

É a teoria da causa madura. É uma hipótese de razoável


duração do processo.
Segundo a redação, o tribunal deve decidir. Não se trata de
faculdade, mas pode implicar supressão de instância e dificuldade
recursal da parte.
Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a
prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as
demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de
primeiro grau.
As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser
suscitadas no recurso, se a parte provar que não o fez por motivo de
força maior (art. 1.014 do CPC). Seria o caso de o réu juntar
documento no recurso e mostrar o pagamento de verba postulada
pelo autor, em razão de não tê-lo feito por motivo de força maior,
que foi o incêndio ocorrido na empresa.
O capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a
tutela provisória é impugnável na apelação.
12 PRESSUPOSTOS DOS RECURSOS
Os pressupostos dos recursos podem ser divididos em objetivos e
subjetivos. Objetivos são os pressupostos previstos em lei, dizendo
respeito ao recurso em si mesmo. Subjetivos são os que dizem
respeito aos sujeitos.
Há outra divisão em pressupostos extrínsecos e intrínsecos.
Não se quer dizer que estão dentro ou fora. Barbosa Moreira afirma
que pressupostos intrínsecos são os referentes à própria existência
do poder de recorrer. Pressupostos extrínsecos são os referentes ao
modo de exercer esse poder82. Pressupostos intrínsecos são:
cabimento, legitimação, interesse, inexistência de fato impeditivo ou
extintivo do direito de recorrer. Pressupostos extrínsecos são os
objetivos: tempestividade, regularidade formal e o preparo (custas e
depósito recursal).

12.1 Objetivos
12.1.1 Previsão legal
As partes têm direito à interposição do recurso que estiver previsto
em lei, em decorrência, inclusive, do princípio da legalidade.
No processo civil, os recursos cabíveis são, entre outros,
apelação, recurso especial e agravo de instrumento.
No processo do trabalho, os recursos cabíveis são
determinados no art. 893 da CLT: ordinário, revista, embargos,
agravo de instrumento e de petição. O recurso extraordinário
também é cabível no processo do trabalho, mas é previsto na
Constituição, nas hipóteses elencadas no inciso III do art. 102.

12.1.2 Adequação ou cabimento


O ato a ser impugnado deve ensejar o apelo escolhido pelo
recorrente. Por exemplo: da sentença da Vara do Trabalho cabe o
recurso ordinário. Este também é cabível das decisões dos tribunais
regionais, em dissídio coletivo, mandado de segurança e ação
rescisória, pois são ações de competência originária dos tribunais.
No processo civil, da sentença da Vara cabe apelação.

12.1.3 Tempestividade
Os recursos deverão ser interpostos no prazo previsto na lei. No
processo civil, o prazo de recursos é de 15 dias. No caso dos
recursos trabalhistas o prazo é de oito dias.
No processo civil, os entes públicos têm prazo em dobro para
recorrer (art. 183 do CPC). No processo do trabalho, os prazos para
a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios, suas
autarquias e fundações públicas que não explorem atividade
econômica serão em dobro, ou seja, 16 dias, como determina o
Decreto-lei n. 779/69.
O Ministério Público terá o prazo em dobro para recorrer.

12.1.4 Preparo
O preparo abrange as custas, o depósito recursal e os
emolumentos.
CUSTAS. A palavra custas é originária do verbo latino constare
(constata, as, are).
Custas são as despesas judiciais que a parte paga para
postular em juízo em razão dos serviços prestados pelo Estado.
Tecnicamente, as custas deveriam chamar-se taxa judiciária, porque
o valor é pago ao Estado, e não aos serventuários de justiça pela
prática de atos judiciais.
Despesas judiciais representam o gênero que engloba as
custas e os emolumentos.
O STF entende que as custas têm natureza tributária,
necessitando de lei para serem criadas, aumentadas ou alteradas,
dado o princípio da reserva legal em matéria tributária (art. 150, I, da
Constituição).
Sua natureza jurídica é de taxa. A espécie de taxa é de
serviços, em razão dos serviços específicos e divisíveis
efetivamente prestados pelo Estado (art. 77 do CTN) àquele que se
utilize do Poder Judiciário. É taxa de prestação de serviços
judiciários.
DEPÓSITO RECURSAL. No processo do trabalho, para a
empresa poder recorrer, é preciso que seja garantido o juízo com o
depósito recursal.
O depósito recursal será feito em conta vinculada ao juízo e
corrigido com os mesmos índices da poupança (§ 4º do art. 899 da
CLT).

12.1.5 Representação
No processo civil, as partes devem estar assistidas por advogado.
No processo do trabalho, não há necessidade de a parte estar
assistida por advogado (arts. 791 e 839 da CLT). Podem as partes
exercer o ius postulandi.

12.2 Subjetivos
Liebman afirma que os pressupostos subjetivos são a legitimação e
o interesse83.
Os pressupostos subjetivos são a legitimidade, a capacidade e
o interesse em recorrer. Dizem respeito às pessoas, aos sujeitos.

12.2.1 Legitimidade
A legitimação significa o interesse em recorrer. A pessoa tem um
gravame com a decisão judicial.
Aquele que teve uma sentença que lhe foi desfavorável, no todo
ou em parte, poderá recorrer. Dessa orientação, há a consequência
da lesividade para recorrer. Não é a sucumbência, entretanto, que
legitima o recurso, pois, em caso de revelia o réu nada pede,
podendo recorrer da decisão que lhe for desfavorável. É preferível,
então, se utilizar da expressão, vencido, total ou parcialmente,
porém não se pode falar em prejudicado, visto que ninguém é
prejudicado com a decisão, mas, sim, vencido.
Dispõe o art. 996 do CPC que poderão recorrer o terceiro
interessado, a parte e o Ministério Público, como parte ou como
fiscal da ordem jurídica.

12.2.2 Capacidade
É necessário que as partes tenham capacidade para estar em juízo.
Não havendo capacidade da pessoa num certo momento, ela
também não poderá recorrer. É o que ocorre quando certas pessoas
perdem a sua capacidade, como por enfermidade ou deficiência
mental, em que a pessoa não possa exprimir sua vontade (art. 3º, II,
do Código Civil). Não têm, portanto, capacidade para recorrer, pois
devem ser representados por seus pais, tutores ou curadores (art.
71 do CPC).

12.2.3 Interesse
Deverá o terceiro mostrar que tem interesse para recorrer. É a
necessidade em modificar a decisão, pois foi sucumbente em algum
ponto. Utilidade no procedimento judicial. Não tem interesse em
recorrer quem aceita, ainda que tacitamente, a decisão. Declara o §
1º do art. 996 do CPC que “cumpre ao terceiro demonstrar a
possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à
apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que
possa discutir em juízo como substituto processual”. Esse interesse
não deverá ser meramente econômico, mas jurídico, demonstrando
que a sentença lhe trouxe uma situação jurídica desfavorável, como
ocorreria nos casos de intervenção de terceiros. Nesse ponto, a
Súmula 82 do TST é clara no sentido de que “a intervenção
assistencial, simples ou adesiva, só é admissível se demonstrado o
interesse jurídico e não meramente econômico perante a justiça
onde é postulada”. Mutatis mutandis, o interesse de recorrer
também deverá ser jurídico e não meramente econômico.
O terceiro é aquele que não é parte ou deixou de sê-lo em
momento anterior, mas que tem interesse jurídico e não meramente
econômico na demanda. Exemplo de terceiro seria o assistente, os
litisconsortes etc. Assim, o fundamento do terceiro poder recorrer é
o mesmo que teria aquele que vai intervir como terceiro na lide, ou
seja, um prejuízo jurídico, e não de fato. Deve haver uma
interdependência entre o interesse de terceiro intervir no feito e a
relação jurídica objeto da apreciação judicial.
O perito não pode recorrer da decisão que lhe fixa honorários,
pois não é parte. Exerce o perito um munus publico, e o juiz quando
arbitra honorários está praticando um ato administrativo. O perito
não pode ser considerado terceiro, mas auxiliar do juízo. Não tem
interesse jurídico na solução do feito, mas meramente econômico,
na fixação de seus honorários. Não há interdependência na relação
do perito e o interesse de intervir no feito, ou seja, na relação
jurídica que está sendo discutida em juízo. O perito também não
pode ser enquadrado como terceiro, na acepção empregada pelo
CPC, como nos embargos de terceiro, nos casos de litisconsórcio
etc. Não está, portanto, incluído dentro do pressuposto subjetivo
para recorrer.
O arrematante, segundo alguns, teria interesse em recorrer,
pois foi prejudicado.
O vencedor também pode ter interesse em recorrer, na hipótese
em que o processo do autor foi extinto sem resolução de mérito,
podendo o réu interpor o recurso visando com que o tribunal
determine que o juiz ingresse no mérito da ação, rejeitando o pedido
do autor. Caso contrário, o autor poderia ingressar com outra ação
postulando o mesmo pedido. O réu também tem interesse em
recorrer quando o juiz rejeita a alegação de prescrição, pois nesse
ponto houve sucumbência sua, mesmo que o juiz posteriormente
rejeite integralmente o pedido do autor. Esta última decisão poderia
ser modificada em grau de recurso e o réu poderia ficar prejudicado
em relação à questão da prescrição. Haveria interesse do vencedor
(autor) em recorrer quando a sentença exclua do polo passivo um
dos litisconsortes, que era o mais idôneo economicamente. O
objetivo do autor em recorrer seria que não ficasse no polo passivo
apenas a firma inidônea, mas também aquela que tem condições
econômicas de suportar a execução e com responsabilidade jurídica
sobre a condenação.
13 PROIBIÇÃO DE REFORMATIO IN PEIUS
Ao julgar o recurso da parte, o tribunal está proibido de reformar
para pior a decisão, decidindo em prejuízo do recorrente.
O tribunal também não poderá reformar a sentença para pior
(reformatio in peius), julgando fora do pedido, salvo se a parte
contrária também recorrer.
A Súmula 45 do STJ esclarece que no reexame necessário é
defeso ao Tribunal agravar a condenação imposta à Fazenda
Pública. Não pode haver uma reformatio in peius se não há recurso
da parte contrária.
O STJ editou o Enunciado Administrativo n. 7 no sentido de que
“somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir
de 18 de março de 2016, será possível o arbitramento de honorários
sucumbenciais recursais, na forma do art. 85, § 11, do novo CPC”.
14 UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA
Determina o art. 926 do CPC que os tribunais devem uniformizar a
sua jurisprudência. Trata-se de regra imperativa e não facultativa,
como um dever dos tribunais para a estabilidade das suas decisões.
Os fundamentos a uniformização são: igualdade, segurança
jurídica, economia e respeitabilidade84.
O ideal seria que essa uniformização tivesse efeito vinculante
para que desse segurança jurídica aos jurisdicionados. Leciona
Botelho de Mesquita que “uniformização sem efeito vinculante é o
mesmo que uniformização sem efeito uniformizante: uma
contradictio in re ipsa”85.
Afirma José Ignácio Botelho de Mesquita que “essa
uniformidade contemporânea é uma exigência óbvia da igualdade
de todos perante a lei. Não será igual para todos a lei que, para
alguns, seja interpretada num sentido e, para outros, seja
interpretada em sentido oposto. A unidade do sentido da lei é
pressuposto da igualdade perante a lei. Por esta razão, constitui
imperativo constitucional e dever indeclinável dos tribunais
uniformizar a sua própria jurisprudência”86.
A jurisprudência deve ser estável no sentido de que o tribunal
não modifique ou deixe de aplicar os seus julgados sem que haja
um fundamento plausível. O tribunal não pode deixar de aplicar sua
jurisprudência sem um fundamento sério, sob pena de violar a
segurança jurídica.
Deve ser íntegra a jurisprudência no sentido de verificar o
histórico das decisões proferidas pelo tribunal sobre a mesma
matéria. Devem ser considerados todos os fundamentos que foram
apresentados para a fixação dessa jurisprudência.
Deve ser coerente a jurisprudência, pois assegura a aplicação
com isonomia do entendimento que foi consolidado para casos
semelhantes. A jurisprudência não pode ser incoerente. Não é
possível que para um caso se julgue de uma forma e, para outro
semelhante, de outra forma. Casos que sejam semelhantes não
podem ser julgados de forma diferente.
A jurisprudência deve também ter um grau de confiabilidade,
pois o cidadão deve saber que, se uma tese já foi analisada, o
resultado deve ser o mesmo para o seu caso que compreenda a
mesma tese. Isso evita que essa pessoa fique frustrada quanto ao
seu direito, que é o mesmo de outra pessoa, que já teve decisão
julgada pelo mesmo tribunal.
Faz referência o art. 926 do CPC às palavras jurisprudência,
precedente e súmula. Sendo assim, são institutos diferentes.
Jurisprudência é o conjunto de decisões num mesmo sentido
sobre um certo tema.
A jurisprudência tem característica abstrata, porque ela não
está redigida sob a forma de enunciado.
Falar na indicação de jurisprudência pressupõe a indicação de
mais de um julgado sobre o mesmo tema. Não se pode falar em
jurisprudência em relação a apenas um julgado.
Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no
regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula
correspondentes a sua jurisprudência dominante (§1º do art. 926 do
CPC).
Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às
circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação
(§2º do art. 926 do CPC).
O § 2º do art. 926 do CPC mostra que os precedentes são
diferentes das súmulas. Não estão no mesmo plano.
A palavra precedente significa: “1. Que precede, antecedente;
2. Procedimento que serve de critério ou pretexto a práticas
posteriores semelhantes”87. Seria uma espécie de critério a ser
seguido.
Os precedentes são os vários acórdãos que motivaram a
edição da súmula. Toda vez que o Tribunal fundamentar a sua
decisão com base em um julgamento, a decisão anteriormente
proferida será o precedente.
O precedente pode ter eficácia vinculante (binding precedents)
e eficácia persuasiva (persuasive precedents). Os precedentes
persuasivos servem de precedentes a partir do momento em que
são fundamento para outros julgamentos.
Algumas decisões nem mesmo são o precedente, como no
caso de decisão que apenas aplica a letra da lei.
O precedente do Direito anglo-saxão já é um precedente
vinculante, mas não é o caso dos nossos precedentes.
Um precedente pode ser utilizado para fundamentar a decisão
do processo julgado posteriormente. O precedente só se torna
precedente a partir do momento que esse julgado é usado para
fundamentar um outro julgado.
O precedente serve também para a previsibilidade do Direito.
Alexandre de Freitas Câmara faz referência a precedente
doloso88. Um julgado predestinado a ser precedente.
A Doctrine of Stare Decisis significa cumprir ou aderir aos casos
julgados. A expressão vem do latim stare decisis et non quieta
movere, que significa cumprir os precedentes e não perturbar os
pontos pacíficos.
Enunciado é o conteúdo da súmula. É a redação da súmula.
As súmulas contêm o enunciado das reiteradas decisões sobre
o tema. É o resumo dessas decisões.
Foram criadas as Súmulas em 1963 por emenda ao Regimento
Interno do STF.
Wagner Giglio afirma que as súmulas “coíbem os recursos
protelatórios e, assim, dinamizam o procedimento”89, não se
justificando a irresignação de alguns contra as súmulas.
As súmulas, porém, não são estáticas, nem estratificantes,
porque o Regimento Interno do STF contém o seu processo de
revisão90. Ela vai ser adaptada a cada caso que tiver de se aplicar.
As súmulas do STJ e do TST têm mais característica
persuasiva, pois não são vinculantes.
As súmulas e os precedentes levam à previsibilidade e à
segurança jurídica das decisões. A Constituição assegura no caput
do art. 5º o direito à segurança, que pode ser considerada também
como segurança jurídica, pois são valores jurídicos: a igualdade, a
liberdade, o direito à vida, etc. A segurança jurídica também é um
valor jurídico.
Uma ordem jurídica segura leva à confiabilidade do sistema
jurídico.
É função da Corte Superior clarificar a interpretação da norma,
unificar sua interpretação e dar o desenvolvimento concreto da
aplicabilidade da lei. Deve guiar as outras jurisdições. Teria até uma
função pastoral91 nesse sentido.
O Tribunal Superior é o intérprete da norma. Ele deve dar a
correta interpretação da norma. Dar o significado da norma.
A Corte Superior é um tribunal de interpretação do Direito. Não
é uma corte de controle de decisões judiciais.
A Corte Superior deve existir para interpretar adequadamente o
Direito.
Ao interpretar o Direito, a Corte superior dá unidade a ele.
A Corte superior vai dar a última palavra sobre a interpretação
do Direito.
Pode-se dizer que onde existe a mesma razão, deve haver a
mesma decisão.
Quórum para o estabelecimento das súmulas é matéria de
regimento interno (art. 96, I, a, da Constituição), de auto-
organização do próprio tribunal.
A Lei n. 2.970 (a chamada Lei Castilho Cabral), de 24-11-56, ao
atribuir nova redação ao art. 857, caput, do CPC de 1939, assim
dispôs: “Na sessão de julgamento, feita a exposição dos fatos e
proferido o voto pelo relator, o Presidente, se o recurso não for de
embargos declaratórios, dará sucessivamente, ao recorrente e ao
recorrido, a palavra pelo prazo improrrogável de quinze minutos a
cada um, para a sustentação das respectivas conclusões,
prosseguindo-se de acordo com o regimento interno do Tribunal,
depois de dada novamente a palavra ao relator para que,
expressamente, confirme ou reconsidere o seu voto”. O STF julgou
inconstitucional esse preceito em 30-11-56, por contrariar o inciso II
do art. 97 da Constituição de 1946, que previa a competência dos
tribunais para elaborar seus regimentos internos e organizar os
serviços auxiliares. A Resolução n. 23 do Senado Federal, de 26-10-
1959, suspendeu, nos termos do art. 64 da Constituição de 1946, a
execução da Lei n. 2.970.
A referida situação assemelha-se à atual quanto à necessidade
da matéria ser tratada no regimento interno dos tribunais.
Dispunha o art. 126 do CPC de 1973 que no julgamento da lide
cabe ao juiz aplicar as normas legais. Essa redação não foi repetida
no CPC de 2015.
A lei, porém, é a fonte primária, pois o juiz tem de aplicar as
normas legais. Na falta delas, pode aplicar a jurisprudência (art. 8º
da CLT), mas também os precedentes.
Os regimentos internos têm o papel de completar a norma legal
ou então de tratar de temas aos quais a norma legal remete ao
regimento interno dos tribunais. Um desses temas pode ser a da
formação dos precedentes.
As normas internas dos tribunais podem promover eficiência e
racionalização processual, tendo eficácia regulatória em caráter
suplementar.
Somente as súmulas do STF têm efeito vinculante por força do
art. 103-A da Constituição.
As súmulas do STJ ou do TST não têm efeito vinculante, mas
apenas persuasivo. Para ter efeito vinculante seria preciso que
houvesse lei dispondo nesse sentido. O Regimento Interno não
poderia dizer que o efeito é vinculante, pois a matéria exige reserva
legal.
Capítulo 25
COISA JULGADA
1 HISTÓRICO
No Direito Romano, a coisa julgada era a “expressão de exigência
de certeza e segurança no gozo dos bens da vida”. Era a coisa
deduzida em juízo (res in iudicium deducta). A res iudicata pro
veritate accipitur era o pronunciamento do juiz, que reconhece ou
não um bem da vida. Não soa exatamente como verdade, mas em
lugar da verdade92.
No direito comum medieval, a coisa julgada não era uma
exigência prática de certeza e segurança, mas uma presunção de
verdade da declaração do juiz. A coisa julgada faz do preto branco,
do quadrado redondo (res iudicata facit de albo nigrum, de quadrato
rotundum).
A doutrina via na coisa julgada um dos efeitos da sentença.
Os efeitos da sentença são declaratórios, constitutivos e
condenatórios.
Calamandrei alega que a sentença é um ato jurídico sujeito à
condição suspensiva, pois seus efeitos ficam suspensos até a
verificação de determinado fato, que é a falta de interposição de
recurso.
2 ETIMOLOGIA
Coisa julgada vem do latim res judicata, que tem o sentido de coisa
julgada, de bem julgado.
Liebman entendia que a coisa julgada era um atributo ou
qualidade da sentença e não efeito dela decorrente93.
Passa a existir uma situação jurídica após o trânsito em julgado
da decisão.
O conteúdo do direito material analisado é que faz a coisa
julgada.
O objetivo da coisa julgada é zelar pela segurança das relações
jurídicas para que os efeitos da sentença possam ser projetados
para o futuro.
3 FUNDAMENTOS DA COISA JULGADA
A coisa julgada tem fundamento político, no sentido da certeza do
direito, de as partes não poderem rediscutir questão já julgada, o
que geraria insegurança jurídica da relação. Visa à exigência de
pacificação social, no âmbito da certeza e segurança das relações
jurídicas.
Tem a coisa julgada fundamentos jurídicos.
A doutrina da presunção da verdade assevera que com o
trânsito em julgado há a presunção iuris et de iure da veracidade
dos fatos e do direito concernente ao caso julgado. Essa corrente foi
adotada na França por Pothier e no Código de Napoleão. Se a
sentença contiver erro na apreciação da prova, não se pode dizer
que há veracidade dos fatos.
A teoria da ficção da verdade foi formulada originalmente por
Savigny. A sentença que transitou em julgado é uma ficção da
verdade. Büllow critica a teoria dizendo que ficção e verdade são
conceitos antagônicos e inconciliáveis.
A teoria da força legal substancial da sentença é defendida por
Pagenstecher, no sentido de que toda sentença é constitutiva do
direito que declara. A sentença declara a existência de um direito
subjetivo. O conteúdo da sentença é uma declaração.
A teoria da eficácia da declaração prescreve que a coisa
julgada é fonte de produção de certeza (Helwig). Essa teoria tem por
fundamento a distinção entre sentenças declaratórias, constitutivas
e condenatórias. Seria substituído o termo coisa julgada por eficácia
da declaração (Feststellungswirking).
A doutrina da vontade do Estado parte do pressuposto de que
na sentença há dois elementos. Um lógico e outro de vontade. O
elemento volitivo é a força obrigatória da decisão. O juiz, ao decidir,
age como órgão do Estado, num sentido de vontade autoritária para
a solução do litígio.
A teoria da extinção da obrigação jurisdicional do Estado é
defendida por Ugo Rocco. A jurisdição é atividade estatal que serve
ao interesse público e geral para satisfazer interesses individuais e
coletivos. É uma obrigação do Estado, que é cumprida por meio da
sentença. A ação é um direito contra o Estado. Um direito subjetivo
público. Nessa obrigação há dois elementos: um substancial, que é
o interesse secundário, e um abstrato. O cidadão pretende que o
Estado intervenha na relação processual para declarar e realizar
coativamente os interesses protegidos pelo direito objetivo; um
formal, que é o poder de pretender essa intervenção do Estado. A
sentença passada em julgado extingue a pretensão jurídica da
pessoa de obter aquela pretensão. A coisa julgada tem seu
fundamento nesse aspecto e sua legítima e natural justificação.
A doutrina da sentença como lex specialis afirma que seria uma
lei especial, que é criada para a espécie jurídica por ela resolvida. A
sentença cria a norma jurídica concreta. A coisa julgada é a
faculdade de toda norma jurídica, de valer imutavelmente. A
sentença fica imutável no fim do prazo para recurso. É defendida
por Merkl. Bachmann entende que a sentença substitui, em cada
caso, a norma jurídica geral e abstrata do direito positivo.
Hellwig, Bibder e Stein, na Alemanha, entendem que a coisa
julgada se fundamenta na eficácia da declaração da certeza contida
na sentença.
Carnelutti afirma que a sentença é a autoridade da vontade do
Estado e uma Lex specialis94. A sentença é imperativa, por ser
proveniente do Estado. A eficácia da decisão é exprimida por
intermédio da imperatividade95. A sentença é imperativa, ao
contrário de um parecer de um jurista. A coisa julgada material
antecede a coisa julgada formal96. Só as sentenças que julgam o
mérito da causa é que têm imperatividade, daí se falar em
autoridade da coisa julgada. Coisa julgada substancial é usada para
designar a eficácia da sentença. Coisa julgada formal é utilizada
para a sua imutabilidade.
Liebman, em 1935, leciona que a coisa julgada não é um efeito
da sentença, mas uma qualidade desses efeitos. Os efeitos da
sentença são produzidos independentemente da coisa julgada. Via
a coisa julgada como uma qualidade especial da sentença, como
ato processual (coisa julgada formal) e na imutabilidade dos seus
efeitos (coisa julgada material). Ela pode ser executada
provisoriamente. A sentença é eficaz desde a sua prolação.
Somente com o trânsito em julgado essa eficácia se consolidará e
terá um grau superior de energia. A lei pode suspender a eficácia
total ou parcial da sentença. O legislador fixa um momento a partir
do qual é vedado novo julgamento sobre o caso. A partir desse
momento tornar-se imutável com todos os efeitos que emanam dela.
Toma por base a coisa julgada as partes, a causa de pedir e o
pedido, como se verifica no § 3º do art. 337 do CPC.
4 CLASSIFICAÇÃO
A coisa julgada pode ser dividida sob os aspectos formal, material e
progressivo.

a) Coisa julgada formal: ocorre a coisa julgada formal


quando a sentença não mais pode ser modificada em
razão da preclusão dos prazos para recursos, seja porque
da sentença não caibam mais recursos ou porque estes
não foram interpostos nos prazos apropriados, ou na
existência de renúncia ou desistência do recurso.
Chiovenda faz menção à preclusão máxima, impedindo as
partes de discutir e o juiz de decidir novamente as
questões decididas.
A coisa julgada formal é pressuposto para a coisa julgada
material.
b) Coisa julgada material: o art. 502 do CPC denomina de
coisa julgada material a autoridade que torna imutável e
indiscutível a decisão de mérito, não mais sujeita a
recurso. Coisa julgada não é a autoridade. Um conceito
tem de indicar o gênero próximo e a diferença específica.
O gênero próximo não pode ser autoridade, que também
tem sentido de pessoa que tem poder dentro do Estado.
Coisa julgada material é a decisão judicial de mérito da
qual não caiba mais recurso, tornando-se imutável e
indiscutível. Decisão tanto é a sentença, como o acórdão,
nos tribunais. O art. 502 do CPC é expresso ao fazer
referência à decisão de mérito. Coisa julgada é um efeito
da sentença, que não mais pode ser discutida.
Chiovenda afirma que “a lei possui uma vontade, uma
ordem, um imperativo. Essa vontade, ordem, imperativo,
que em abstrato se contém na lei, é posta pelo juiz em
situação de ser aplicada ao caso decidido. Na sentença,
há a afirmação, de modo concreto, da vontade contida na
lei. Assim, o preceito contido na sentença é a afirmativa
da vontade da lei, declarada pelo juiz, como órgão do
Estado”97.
A decisão tem de ser de mérito para se falar em coisa
julgada material. Não se pode falar em decisão em que o
juiz extingue o processo sem julgamento de mérito, pois
aí se trata de coisa julgada formal, por não mais caber
recurso da decisão. Se o mérito não foi analisado, nada
obsta que o autor proponha de novo a ação, como
menciona o caput do art. 486 do CPC.
A coisa julgada material mostra que o conteúdo material
da sentença não pode mais ser discutido.
c) Coisa julgada progressiva: é a decorrente do trânsito
em julgado em parte em relação a cada capítulo da
sentença, que ocorre em momentos e em tribunais
diversos. Para efeito de prazos para a ação rescisória, o
TST admite que o trânsito em julgado se dá em
momentos e em tribunais distintos (S. 100). O STJ não
admite a coisa julgada progressiva: “O prazo decadencial
da ação rescisória só se inicia quando não for cabível
qualquer recurso do último pronunciamento judicial” (S.
401 do STJ).

Coisa julgada objetiva mostra o que transitou em julgado.


Coisa julgada subjetiva indica em relação às partes em que
houve a coisa julgada.
Limite temporal mostra quando se deu a coisa julgada.
O art. 386 do CPP dispõe que na parte dispositiva da sentença
absolutória deve constar a causa da absolvição, que, portanto, faz
coisa julgada material.
Tem a coisa julgada formal natureza processual, em razão da
impossibilidade de a parte interpor qualquer recurso contra a
sentença ou da preclusão dos prazos para sua interposição. Já a
coisa julgada material ou substancial, que é condicionada à
existência da coisa julgada formal, pressupõe a impossibilidade da
discussão do direito material nela inserido.
Já a coisa julgada material diz respeito ao conteúdo da
sentença, compreendendo o direito discutido. Nenhum juiz poderá
decidir novamente as mesmas questões já decididas, relativas à
mesma lide (art. 505 do CPC), em decorrência da coisa julgada
material, pois a sentença tem força de lei entre as partes, nos limites
da questão principal expressamente decidida (art. 503 do CPC).
A coisa julgada, sob o aspecto positivo implica o respeito ao
julgado. Sob o aspecto negativo, impede a renovação da mesma
demanda com as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o
mesmo pedido.
A coisa julgada diferencia-se da preclusão, pois esta ocorre
antes da sentença que transita em julgado.
São objetivos da coisa julgada a estabilidade e a segurança das
relações jurídicas, evitando que os litígios durem muito tempo,
tornando instáveis as relações entre as partes.
Tratando-se de relação de trato continuado, não há coisa
julgada, de modo que, sobrevindo modificação no estado de fato ou
de direito, a parte poderá pedir revisão do que foi estatuído na
sentença (art. 505, I, do CPC).
Não fazem coisa julgada:

a) os motivos, ainda que importantes, para determinar o


alcance da parte dispositiva da sentença, nem o relatório;
b) a verdade dos fatos estabelecidos como fundamento da
sentença (art. 504 do CPC).

O que faz coisa julgada é a decisão de mérito (art. 502 do CPC)


contida no dispositivo da sentença, pois o art. 504 do CPC mostra o
que não faz coisa julgada. Não fazem também coisa julgada os
despachos e as decisões interlocutórias.
5 LIMITES DA COISA JULGADA
Os limites da coisa julgada são objetivos e subjetivos.

5.1 Objetivos
A decisão, julgando total ou parcialmente o mérito, tem força de lei
nos limites da questão principal expressamente decidida (art. 503 do
CPC). O juiz terá de decidir o mérito nos limites propostos pelas
partes (art. 141 do CPC). Terá como limites objetivos da coisa
julgada a lide e as questões nela decididas, determinadas pelo
pedido, pela causa de pedir e pela contestação.
Segundo Savigny, integram a coisa julgada não todos os
motivos da sentença, mas os fundamentos objetivos ou elementos
objetivos, ou seja, os elementos constitutivos da relação jurídica.
Os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance
da parte dispositiva da sentença, assim como a verdade dos fatos,
estabelecida como fundamento da sentença, não fazem coisa
julgada material (art. 504, I, do CPC).
Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão
deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte
poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido (art.
508 do CPC).
O efeito positivo é que o juiz de outra causa, que tenha a
mesma causa de pedir, o mesmo pedido e as mesmas partes, terá
de observar o que foi decidido em outro processo e transitou em
julgado materialmente. O julgador de outra causa fica vinculado ao
que já foi decidido.
O efeito negativo é que a matéria não pode ser julgada
novamente em outro juízo. O art. 505 do CPC é claro no sentido de
que nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas
relativas à mesma lide.

5.2 Subjetivos
A doutrina da identidade objetiva da relação jurídica afirma que a
coisa julgada se estende ao terceiro desde que sejam idênticas as
duas relações jurídicas. É a tese defendida por Cogliolo,
Mendelssohn-Bartholdy e Sperl.
A doutrina da representação é defendida por Savigny. Alguns
terceiros estariam sujeitos à coisa julgada, pois foram representados
pela parte na causa. Valeria para os sucessores das partes, a título
universal ou a título singular (herdeiros, compradores), desde que a
sucessão fosse posterior à sentença. A sentença que decide sobre a
legitimidade de um filho valeria não só para o pai, mas para todos os
membros da família e também para os irmãos do filho. Essa teoria é
adotada por Teixeira de Freitas, João Monteiro e Paula Batista.
A doutrina da identidade da posição jurídica à sujeição do
terceiro à coisa julgada está na mesma posição jurídica em que se
figurou no processo anterior. A coisa julgada observa-se para quem
for pleitear uma relação idêntica à que transitou em julgado.
A doutrina da subordinação da posição jurídica é justificada por
Betti pela condição de subordinação em que está o terceiro em
relação a um dos litigantes. Dessa subordinação é que resulta a
submissão do terceiro à coisa julgada.
A coisa julgada se impõe a outras pessoas em razão dos efeitos
reflexos da coisa julgada. Entre autor e réu os efeitos são diretos.
Quanto a outras pessoas, os efeitos são reflexos. Essa teoria tem
por fundamento os efeitos reflexos dos fatos jurídicos de Ihering.
Essa teoria é defendida por Chiovenda.
Liebman defende a teoria da eficácia natural da sentença. A
coisa julgada é uma qualidade dos efeitos da sentença. Para o
terceiro não haveria a autoridade da coisa julgada. A coisa julgada
vale para as partes. Os terceiros devem demonstrar um prejuízo
jurídico, e não um prejuízo prático ou econômico.
Os limites subjetivos da coisa julgada dizem respeito às
pessoas as quais beneficia ou não a sentença. A sentença faz coisa
julgada entre as partes do processo (res iudicata facit ius inter
partes), não prejudicando terceiros (res inter alios iudicata tertio non
nocet) (art. 506 do CPC).
O terceiro juridicamente prejudicado é pessoa que tem um
prejuízo com a eficácia da sentença. O fiador é terceiro prejudicado
na sentença que julgou a relação jurídica entre o credor e o
afiançado.
Na ação popular, a coisa julgada tem efeito erga omnes (art. 18
da Lei n. 4.717/65), de fazer valer perante todos.
O mesmo ocorre na ação civil pública, por força do art. 102 do
Código de Defesa do Consumidor. Nas ações coletivas, a sentença
fará coisa julgada: (a) erga omnes, exceto se o pedido for rejeitado
por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado
poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento, valendo-se de
nova prova, no caso de interesses ou direitos difusos; (b) ultra
partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo
rejeição por insuficiência de provas, situação em que qualquer
legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento,
valendo-se de nova prova, na hipótese de interesses ou direitos
coletivos; (c) erga omnes, apenas no caso de acolhimento do
pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, nos
casos de interesses ou direitos individuais homogêneos (art. 103 da
Lei n. 8.078/90).
6 COISA JULGADA E DECLARATÓRIA
INCIDENTE
A regra é de que não faz coisa julgada a apreciação de questão
prejudicial, decidida incidentalmente no processo. A resolução da
questão prejudicial dá-se apenas como preparação lógica da
sentença. Seria uma espécie de motivo da sentença.
Faz, todavia, coisa julgada a resolução da questão prejudicial
decidida expressa e incidentemente no processo, se: 1 – dessa
resolução depender o julgamento do mérito; 2 – a seu respeito tiver
havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de
revelia; 3 – o juízo tiver competência em razão da matéria e da
pessoa para resolvê-la como questão principal (§ 1º do art. 503 do
CPC). Não faz coisa julgada a questão prejudicial se no processo
houver restrições probatórias ou limitações à cognição que impeçam
o aprofundamento da análise da questão prejudicial (§ 2º do art. 503
do CPC).
Não é imprescindível que a litigiosidade se relacione
intimamente com a necessidade de declaração, por sentença
definitiva, a ser coberta pela coisa julgada, que possa interessar ao
desfecho do feito, somente quando a parte o requerer, pois assim é
que se fará a coisa julgada.
7 COISA JULGADA CRIMINAL E CÍVEL
Reza o art. 935 do Código Civil, que “a responsabilidade civil é
independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a
existência do fato, ou quem seja o seu autor, quando estas questões
se acharem decididas no juízo criminal”.
O art. 315 do CPC admite que, “se o conhecimento do mérito
depender necessariamente da verificação da existência de fato
delituoso, o juiz pode determinar a suspensão do processo até que
se pronuncie a justiça criminal”. Como foi visto, o juiz poderá
determinar a suspensão do feito, mas isso não será obrigatório,
constituindo faculdade do juiz. Entretanto, se a ação penal não for
exercida no prazo de três meses contados da intimação do ato de
suspensão, cessará o efeito desse, incumbindo ao juiz cível
examinar incidentemente a questão prévia (§ 1º do art. 315 do
CPC).
O art. 65 do Código de Processo Penal determina que fará
coisa julgada no cível, o que se aplicaria ao processo civil e do
trabalho, “a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado
em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito
cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito”.
Afirma o art. 66 do CPP que “não obstante a sentença
absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta
quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência
material do fato”. As hipóteses de absolvição no processo penal
estão contidas nos incisos I a VI, do art. 386 do CPP: (a) estar
provada a inexistência do fato; (b) não haver prova da existência do
fato; (c) não constituir o fato infração penal; (d) estar provado que o
réu não concorreu para a infração penal; (e) não existir prova de ter
o réu concorrido para a infração penal; (f) existirem circunstâncias
que excluam o crime ou isentem o réu de pena, ou mesmo se
houver fundada dúvida sobre a sua existência; (g) inexistir prova
suficiente para a condenação.
As causas de exclusão da antijuridicidade são previstas no art.
23 do Código Penal. As causas de exclusão de culpabilidade são
erro de proibição (art. 21, caput, do CP), a coação moral irresistível
(art. 22 do Código Penal), a obediência hierárquica (art. 22, segunda
parte, do Código Penal), a inimputabilidade por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado (arts. 26 e 27 do
Código Penal) e a inimputabilidade por embriaguez completa,
proveniente de caso fortuito ou força maior (§ 1º, do art. 28, do
Código Penal).
Capítulo 26
EXECUÇÃO
1 HISTÓRICO
Na Lei das XII Tábuas (ano 450 a.C.) afirmava-se que “aquele que
confessa dívida perante o magistrado ou é condenado terá 30 dias
para pagar. Esgotados os 30 dias e não tendo pago, que seja
agarrado e levado à presença do magistrado. Se não paga e
ninguém se apresenta como fiador, que o devedor seja levado pelo
seu credor e amarrado pelo pescoço e pés com correntes com peso
até o máximo de 15 libras; ou menos, se assim o quiser o credor. O
devedor preso viverá à sua custa, se quiser; se não quiser, o credor
que o mantém preso dar-lhe-á por dia uma libra de pão ou mais, a
seu critério. Se não há conciliação, que o devedor fique preso por 60
dias, durante os quais será conduzido em três dias da feira ao
comitium, onde se proclamará em altas vozes o valor da dívida. Se
são muitos os credores, é permitido, depois do terceiro dia de feira,
dividir o corpo do devedor em tantos pedaços quantos sejam os
credores, não importando cortar mais ou menos; se os credores
preferirem, poderão vender o devedor a um estrangeiro, além do
Tibre” (Tábua III, ns. 4-9). Era feita per manum injectionem.
A pignoris capio era a apreensão de bens como pena. O credor
poderia, se quisesse, destruir a coisa. Era aplicável a certos créditos
especiais, como o dos publicanos, por impostos ou débitos de
militares.
No período formulário, a partir da Lex Aebutia de cerca de 114
a.C., surgem as formas de execução patrimonial. A missio in bona
era a apreensão universal de todos os bens do devedor. Era
seguida da venditio bonorum. O comprador, bonorum emptor, era
considerado sucessor do devedor. A bonorum cessio era para
efetuar o pagamento, ficando o devedor livre das demais
consequências da execução. A execução não poderia ser feita sobre
o mínimo de patrimônio necessário à subsistência do devedor.
No período da cognitio extraordinaria, a execução passou a ser
feita apenas sobre bens do devedor suficientes para pagar os
credores. Não era universal. Passou a ser usada a figura da pignus
in causa judicati captum, que era a apreensão de bens para serem
vendidos até o limite do crédito. A venda, porém, era feita pelo
credor.
No Direito Romano primitivo, a finalidade da execução era
coagir a vontade do devedor para constrangê-lo a solver sua
dívida98.
Na actio judicati, o crédito do credor na execução poderia ser
discutido pelo devedor quantas vezes quisesse. A execução por
juros posteriores à sentença ou para a execução da sentença
ilíquida.
Daí em diante começa a existir o título executivo, por meio da
sentença, que criava a situação da executio parata, execução
aparelhada, por determinação do juiz.
No Direito germânico, o devedor somente poderia apresentar
sua defesa depois de feita a penhora. Não havia necessidade da
constituição do título executivo. Bastava a afirmação do credor da
existência do crédito.
Até a Antiguidade, a execução era feita sobre o corpo do
devedor. Era pessoal. O devedor poderia ficar como escravo do
credor. A partir do ano 1000, a execução privada acabou sendo
desprezada.
A partir do século XI, a execução deixa de ser ação distinta,
passando a ser mero complemento da fase contenciosa, podendo
ser promovida de ofício pelo juiz.
Nas Ordenações, a execução era feita por determinação do
Estado, incidindo sobre o patrimônio do devedor. Tinha preferência
quem primeiro penhorava (potior iure prior temporis). A execução
decorria do processo de conhecimento, sendo feita por officium
iudicis.
O Regulamento 737 tratava da assinação de dez dias e da
executio parata de sentença. Era feita por certos títulos comerciais
(art. 308, §§ 1º e 3º).
No CPC de 1939, havia a ação executiva para títulos executivos
extrajudiciais e a ação executória da sentença, assim como
concurso de credores no processo de execução. A ação de
execução era iniciada pela citação para pagar em 24 horas, sob
pena de penhora. Depois o procedimento era feito como processo
de conhecimento, sendo proferida a sentença sobre o título
extrajudicial. Deixou de existir a preferência do primeiro credor que
penhorava.
Atualmente, atinge a execução apenas os bens do devedor.
Passa a ser patrimonial.
Visa a execução assegurar aquilo que foi estatuído na
sentença. A execução, então, compreenderá os atos coativos para o
cumprimento da decisão. No processo do trabalho, a execução é,
geralmente, fase, e não processo, pois limita-se a cumprir o contido
na sentença.
Afirma Wilson de Souza Campos Batalha que a “sentença sem
a execução redundaria em consagração puramente teórica de um
direito e a vontade da lei não atuaria na realidade da vida –
sententia sine executione veluti campana sine pistillo est, quasi
fulgur ex pelvi, aut tonitrus sine pluvia ...”, ou seja, a sentença sem
execução é como um sino sem badalo99.
O CPC de 1973 tratava no Livro II, do Processo de Execução,
no Título I, Da execução em geral, nos arts. 566 e seguintes.
A Lei n. 11.232/2005 acrescentou o Capítulo X do CPC de 1973
com o nome de Cumprimento da sentença, nos arts. 475-I a 475-R.
A execução não seria um processo, mas uma fase. Daí passou-se a
falar em processo sincrético. Cumprimento parece ter um sentido de
fazer por determinação superior, ou seja, ser forçado a observar o
que consta da decisão que transitou em julgado. O devedor será
citado apenas no início da relação processual. No mais, será
intimado na pessoa do seu advogado. Há a unificação entre o
processo de conhecimento e o de execução.
No CPC de 2015, a matéria é versada no Livro II, do Processo
de Execução, Título I, da Execução em geral, nos arts. 771 e
seguintes.
A CLT tem poucos artigos sobre o tema, mais especificamente
20, que são os arts. 876 a 892. O art. 887 da CLT ficou prejudicado
pela determinação da Lei n. 5.442, de 24-5-1968, pois o oficial de
justiça penhora e avalia bens. Alguns dispositivos são
completamente inúteis, como o art. 890, que determina que “a
execução para pagamento de prestações sucessivas far-se-á com
observância das normas constantes desta Seção, sem prejuízo das
demais estabelecidas neste Capítulo”. Se esse artigo não estivesse
na CLT, não faria qualquer diferença, porque determinar que a
execução será feita na forma da Seção ou do Capítulo e não
determinar nada é a mesma coisa, pois será observada a Seção ou
o Capítulo. Dispõe o art. 889 da CLT que na omissão da CLT sobre
a execução trabalhista aplica-se, em primeiro lugar, a lei de
execução fiscal (Lei n. 6.830/80) e, omissa esta, observa-se o CPC.
O Estado é o pior pagador de suas dívidas. Quase 90% dos
recursos no STF são da União e do INSS. Os pagamentos por
precatórios demoram muito. Para arrecadar, o Estado é voraz, mas
não tem o mesmo procedimento quando é o caso de pagar o que
deve, seja em relação à devolução de tributos indevidos, seja em
relação a indenizações decorrentes da sua responsabilidade. Os
bens públicos são inalienáveis, além do que há vários privilégios
processuais para a Fazenda Pública. A previsão dos precatórios na
Constituição (art. 100) instituiu o calote constitucionalizado por parte
do poder público.
2 CONCEITO
Execução vem do latim executio, executionis.
A execução é o conjunto de atividades atribuídas aos órgãos
judiciários para a realização prática de uma vontade concreta da lei
previamente consagrada num título100.
3 PRINCÍPIOS
A execução é autônoma do processo de conhecimento.
Para que haja execução, é preciso título. O título pode ser
judicial, como a sentença, a sentença arbitral e extrajudicial, como
os títulos de crédito. A execução para a cobrança de crédito, será
fundada sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível (art.
783 do CPC).
A execução menos onerosa para o devedor está fundada no art.
805 do CPC, que dispõe que, quando por vários meios o exequente
puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo
menos gravoso para o executado.
4 CARACTERÍSTICAS
A execução é real. Incide sobre a coisa, e não sobre a pessoa do
devedor.
A execução deve ser útil ao credor.
A execução deve ser a menos onerosa para o devedor (art. 805
do CPC). Não deve levar o devedor à ruína. Há necessidade que
existam vários modos de executar para se aplicar a execução
menos onerosa ao devedor. Não havendo vários meios, aplica-se a
execução mais eficiente no interesse do credor.
Se a execução não puder ser feita por vários meios, vai se
adotar o meio possível, ainda que seja mais prejudicial ao devedor,
pois será feita no interesse do exequente (art. 797 do CPC).
5 PRESSUPOSTOS
Toda execução deve ser fundada em título (nulla executio sine
titulo), que pode ser judicial ou extrajudicial.
Será competente para a execução da sentença o juiz da Vara,
titular ou substituto.
O objeto da execução é o cumprimento da determinação
contida na sentença. Objeto imediato é o pedido do exequente “para
a realização das atividades necessárias à efetivação da regra
sancionadora formulada no título executório” (Liebman). Objeto
mediato diz respeito aos bens do patrimônio do devedor. Os bens do
devedor é que respondem pelo cumprimento da sentença.
6 TÍTULO EXECUTIVO
A sentença é considerada título executivo judicial (art. 552 do CPC).
São títulos executivos judiciais:

I– as decisões proferidas no processo civil que


reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar
quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;

II – a decisão homologatória de autocomposição judicial;

III – a decisão homologatória de autocomposição


extrajudicial de qualquer natureza;

IV – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em


relação ao inventariante, aos herdeiros e aos
sucessores a título singular ou universal;

V– o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas,


emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados
por decisão judicial;

VI – a sentença penal condenatória transitada em julgado;

VII – a sentença arbitral;

VIII – a sentença estrangeira homologada pelo Superior


Tribunal de Justiça;

IX – a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão


do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal
de Justiça (art. 515 do CPC);

São títulos executivos extrajudiciais:


I– a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a
debênture e o cheque;

II – a escritura pública ou outro documento público


assinado pelo devedor;

III – o documento particular assinado pelo devedor e por


duas testemunhas;

IV – o instrumento de transação referendado pelo


Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela
Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores
ou por conciliador ou mediador credenciado por
tribunal;

V– o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou


outro direito real de garantia e aquele garantido por
caução;

VI – o contrato de seguro de vida em caso de morte;

VII – o crédito decorrente de foro e laudêmio;

VIII – o crédito, documentalmente comprovado, decorrente


de aluguel de imóvel, bem como de encargos
acessórios, tais como taxas e despesas de
condomínio;

IX – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, correspondente aos créditos inscritos na
forma da lei;

X– o crédito referente às contribuições ordinárias ou


extraordinárias de condomínio edilício, previstas na
respectiva convenção ou aprovadas em assembleia
geral, desde que documentalmente comprovadas;
a certidão expedida por serventia notarial ou de
XI – registro relativa a valores de emolumentos e demais
despesas devidas pelos atos por ela praticados,
fixados nas tabelas estabelecidas em lei;

XII – todos os demais títulos aos quais, por disposição


expressa, a lei atribuir força executiva (art. 784 do
CPC).

No processo do trabalho, só são executadas na Justiça do


Trabalho as decisões passadas em julgado, os acordos, quando não
cumpridos os termos de ajuste de conduta firmados perante o
Ministério Público do Trabalho, os termos de conciliação celebrados
perante as Comissões de Conciliação Prévia (art. 876 da CLT) e as
custas (§ 2º do art. 790 da CLT). Não são executados, portanto,
títulos executivos extrajudiciais (cheque, nota promissória), nem
documento escrito sem eficácia de título executivo.
Execução provisória é a que ocorre enquanto não houver o
trânsito em julgado da decisão, pois ainda cabe recurso.
Execução definitiva é a decorrente do trânsito em julgado da
decisão.
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