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Lei de Introdução às Normas do Direito

Brasileiro

APRESENTAÇÃO

Seja bem-vindo!

As leis introdutórias direcionam a interpretação e a aplicação das demais normas, sendo conheci
das como "norma das normas". A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro é uma lei a
utônoma, não integrante do Código Civil, que dispõe sobre a vigência e obrigatoriedade das nor
mas integrantes do ordenamento jurídico, como devem ser compreendidas e integradas, consider
ando o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, além de estabelecer diretrizes
para o Direito Internacional no que se refere ao direito de personalidade, bens, heranças e obriga
ções.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer a importância da Lei de Introdução às Nor
mas do Direito Brasileiro, quais são os artigos que a compõem e de que forma os tribunais super
iores a compreendem.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Explicar a importância do estudo acerca da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasile


iro.
• Analisar os artigos da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
• Identificar casos dos tribunais superiores que envolvem a Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro.

DESAFIO

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro exerce importante função para a interpretaç
ão, para a aplicação e para a adequação das normas que compõem o ordenamento jurídico, indep
endente da espécie em que se enquadram.

Imagine que você é analista previdenciário do Instituto Nacional de Seguridade Social e atende J
oão, que o procura porque está preocupado com perder sua aposentadoria.

De acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, que orientações você dará
para João? Ele pode perder o benefício previdenciário?

INFOGRÁFICO

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro prevê diferentes formas para o juiz solucio
nar conflitos, conhecidas como fontes do Direito.

Neste Infográfico, você vai conhecer cada uma delas e seus conceitos.
CONTEÚDO DO LIVRO

A lei é obrigatória para toda a sociedade e tem condições específicas de vigência e aplicação. U
ma vez inserida no ordenamento jurídico, deve observar os requisitos de vigência, interpretação
e integração, considerando elementos essenciais para a segurança jurídica.

No capítulo Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB, da obra Direito Civil I:
teoria geral, você vai conhecer a LINDB, sua importância para o estudo do Direito e como os tri
bunais superiores a compreendem.

Boa leitura!
DIREITO CIVIL I:
TEORIA GERAL

Cinthia Louzada
Ferreira Giacomelli
Revisão técnica:

Gustavo da Silva Santanna


Bacharel em Direito
Especialista em Direito Ambiental Nacional
e Internacional e em Direito Público
Mestre em Direito
Professor em cursos de graduação
e pós-graduação em Direito

S725d Sousa, Cássio Vinícius Steiner de.


Direito civil I: teoria geral [recurso eletrônico ] / Cássio
Vinícius Steiner de Sousa, Cinthia Louzada Ferreira
Giacomelli; [revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna]. –
Porto Alegre: SAGAH, 2018.

ISBN 978-85-9502-444-1

1. Direito civil. I. Giacomelli, Cinthia Louzada Ferreira.


II.Título.
CDU 347.1

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin - CRB -10/2147


Lei de Introdução às Normas
do Direito Brasileiro
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Explicar a importância do estudo da Lei de Introdução às Normas do


Direito Brasileiro.
 Analisar os artigos da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
 Identificar casos dos tribunais superiores envolvendo a Lei de Intro-
dução às Normas do Direito Brasileiro.

Introdução
As leis introdutórias direcionam a interpretação e a aplicação das demais
normas. A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) é
uma lei autônoma, não integrante do Código Civil, que dispõe sobre
a vigência e obrigatoriedade das normas integrantes do ordenamento
jurídico, como devem ser compreendidas e integradas, considerando o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, além de estabelecer
diretrizes para o Direito Internacional no que se refere aos direitos que
envolvem personalidade, bens, heranças e obrigações.
Neste capítulo, você vai conhecer a importância da Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro, quais são os artigos que a compõem e
de que forma os tribunais superiores a compreendem.

A importância da Lei de Introdução às Normas


do Direito Brasileiro para o estudo do Direito
Em geral, as leis introdutórias direcionam a interpretação e a aplicação das
demais normas. É importante destacar que a LINDB é uma lei autônoma, não
integrante do Código Civil. A LINDB surgiu com o Código Civil de 1916,
como Lei de Introdução ao Código Civil (LICC), tendo sido revogada pelo
2 Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

Decreto-Lei nº. 4.657, de 4 de setembro de 1942 e, posteriormente, pela Lei


nº. 12.376, de 30 de dezembro de 2010, teve seu nome alterado.
De acordo com Silvio Venosa (2012, p 105), “[...] cuida-se, na verdade, de
introdução a todo o sistema legislativo brasileiro […], pode-se afirmar que a
lei de introdução é uma lei que regula as outras leis, Direito sobre Direito”.
Para Maria Helena Diniz (2014, p. 73):

[...] não está incluída no Código Civil, cuja matéria se circunscreve às relações
de ordem privada, por tal razão, em boa hora veio a lume a Lei nº. 12.376/2010.
Além disso a fixação de normas desse teor, em uma lei especial, tem a vantagem
de permitir ulteriores modificações, independentemente das transformações
que se operarem nos institutos civis.

Nesse contexto, é importante destacar que as normas jurídicas podem ter


conteúdos variáveis, seguindo as necessidades de determinados contextos his-
tóricos. É corrente o entendimento de que a norma jurídica é, em essência, uma
norma de conduta, cuja finalidade principal é regular o comportamento dos
indivíduos, indicando parâmetros de como cada um deve conduzir-se. A norma
jurídica, assim, dirige o comportamento humano e é imperativa (impõe dever).
A diferença essencial entre a norma que prescreve um modelo de conduta e
a lei física ou da natureza (lei do “ser”, ou seja, do que é) é a imperatividade.
Dessa forma, o que diferencia a norma jurídica das outras espécies de normas
éticas (como as normas morais) é o fato de serem imperativas. Esse elemento
é apontado como a essência específica na norma jurídica, a qual autoriza que
lesões em decorrência da sua violação sejam reparadas. Assim explica Maria
Helena Diniz (2014, p. 384):

A norma jurídica é imperativa porque prescreve as condutas devidas e os com-


portamentos proibidos e, por outro lado, é autorizante, uma vez que permite
ao lesado pela sua violação exigir o seu cumprimento, a reparação do dano
causado ou ainda a reposição das coisas ao estado anterior.

Há, ainda, uma importante conceituação das normas jurídicas, de acordo


com a qual elas podem ser normas de conduta, cuja finalidade é disciplinar os
comportamentos e as atividades dos indivíduos, ou normas de organização (ou
instrumentais, ou de estrutura), cujo objetivo consiste em estabelecer a estrutura
e o funcionamento de órgãos, bem como disciplinar processos e procedimentos
de aplicação de outras normas jurídicas; é de caráter informativo e diretivo.
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 3

Assim, a norma jurídica pode ser expressa por meio de disposição que
determina uma conduta ou uma forma de organização que sejam obrigatórias.
Desse modo, a norma jurídica prevê um dever–ser relativo a uma conduta ou
a uma forma de organização. Ainda cabe ressaltar que o conteúdo da norma
jurídica pode ser enunciado sob a forma escrita, oral ou com outro mecanismo
de comunicação: o semáforo vermelho, por exemplo, é uma norma que impõe
a parada de carros no tráfego de automóveis.

A norma jurídica de conduta, em regra, prevê um fato típico de forma genérica. Verifi-
cando-se um caso concreto que corresponda ao fato previsto na norma, o responsável
pelo fato deve arcar com as consequências determinadas pela norma jurídica. Já nas
normas jurídicas instrumentais, no entanto, não se verifica um fato típico, mas apenas
um dever a ser observado ou cumprido.

Para Sgarbi (2012, p. 58):

[...] é comum afirmar-se que as normas jurídicas são estruturas sintáticas de


composição condicional. Portanto, as normas são dotadas de um antecedente
e um consequente. O antecedente ou termo condicionante, que também é
conhecido como prótase, é o enunciado que estabelece o condicional “se”;
o consequente ou termo condicionado, que também é chamado de apódose,
estabelece a implicação, no que a sua configuração habitual consiste no “então”.
Assim a fórmula “se A, então B”, representa o fato e a consequência atribuída
(imputada) ao fato. Dessa forma, tem-se a qualificação de um suposto, este
correspondente ao “fato” (o sacar de uma arma de fogo para atirar em alguém),
e a consequência “imputada” ao fato: a sanção (a pena cominada para o delito).

Assim, independentemente da espécie de norma jurídica, a base normativa


desenvolve-se diante da perspectiva que prevê uma realidade e uma consequ-
ência, abrangendo qualificações normativas de conduta, como permissões e
proibições, ou normativas institucionais, como patrimônio e estado de coisas
(proprietário, condômino, locador). Contudo, Miguel Reale (2012, p. 79) atenta
para o fato de que:
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[...] na realidade, as regras que dispõem sobre a organização dos poderes do


Estado, as que estruturam órgãos e distribuem competências e atribuições,
bem como as que disciplinam a identificação, modificação e aplicação de
outras normas não se apresentam como juízos hipotéticos.

Dessa forma, a LINDB exerce importante função para a interpretação,


aplicação e adequação das normas que compõem o ordenamento jurídico,
independentemente da espécie em que se enquadram. Assim, essa lei ultra-
passa o âmbito do Direito Civil, vinculando o Direito Privado como um todo
e alcançando o Direito Público, atingindo indiretamente as relações jurídicas.
A LINDB, portanto, apresenta normas que regulam toda a ordem jurídica.

Lei de Introdução às Normas


do Direito Brasileiro
Para compreender a abrangência da LINDB, podemos considerá-la sob três
principais aspectos, os quais passamos a comentar a seguir.

Da lei e da sua obrigatoriedade


Os arts. 1º e 2º da LINDB tratam da vigência da lei, que é a possibilidade, em
tese, de ela produzir efeitos na vida em sociedade. Em geral, após a publicação
da lei, para que a população conheça o seu conteúdo e se prepare para os seus
efeitos, é instituído o chamado período de vacância, indicado expressamente
no texto legal. O período de vacância, ou vacatio legis, é o período de tempo
entre a publicação da lei (quando ela se torna válida no ordenamento jurídico)
e o início da efetiva produção dos seus efeitos. Ressaltamos que a LINDB
estabelece no art. 1º que, salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar
em todo o Brasil 45 dias depois de oficialmente publicada (BRASIL, 1942).

Se a lei não especificar o seu período de vacância, tal período será de 45 dias. Da mesma
forma, o art. 2º prevê: “não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até
que outra a modifique ou revogue” (BRASIL, 1942, documento on-line), de maneira
que discorre sobre a cessação da vigência das leis.
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 5

A revogação citada na LINDB pode ser parcial ou total, por atingir parte
ou a totalidade dos dispositivos legais. A revogação total é chamada de
ab-rogação, enquanto a revogação parcial é chamada de derrogação. A
ab-rogação, portanto, exclui por completo a eficácia da lei anterior, sendo que
a derrogação atinge apenas uma parte, permanecendo plenamente vigentes
as disposições não derrogadas. Para Caio Mário Pereira (2014, p. 105):

[...] ab-rogada uma lei, desaparece e é inteiramente substituída pela lei re-
vogadora, ou simplesmente se anula, perdendo o vigor de norma jurídica a
partir do momento em que entra em vigor a que a ab-rogou. Derrogada, a
lei não fenece, não sai de circulação jurídica, mas é amputada nas partes ou
dispositivos atingidos, apenas estes perdem a obrigatoriedade.

A ab-rogação e a derrogação podem ser expressas ou tácitas. Expressa, ou


direta, é a forma de atuação que consiste na declaração da lei nova revogando
a lei anterior, declarando-a extinta total ou parcialmente. É pouco comum,
mas oferece maior segurança jurídica para os seus efeitos, como afirma Maria
Helena Diniz (2014, p. 114): “[...] é evidente que, na formação das leis, deveria
haver cuidado em indicar nitidamente, ao menos tanto quanto possível, quais as
leis que se ab-rogam. Seria o melhor meio de evitar antinomias e obscuridades”.

Da aplicação, interpretação e integração das normas


O art. 4º da LINDB apresenta um importante aspecto para a aplicação norma-
tiva, que se refere às fontes do Direito. De acordo com esse artigo, “quando a
lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e
os princípios gerais de direito” (BRASIL, 1942, documento on-line).
Percebe-se, portanto, que as fontes são entendidas de maneira hierárquica,
sendo que o sistema jurídico deve ser integrado na medida em que uma fonte
do Direito não forneça elementos para a solução de determinada demanda.
Então caberá ao juiz socorrer-se primeiramente da lei e depois das outras
fontes, que são: analogia, costumes e princípios gerais do Direito. A lei é o
preceito jurídico documentado, emanado pelo legislador, que se impõe em
caráter geral e obrigatório na sociedade. É a principal fonte do Direito porque
prevê a maioria das situações de conflito verificadas em um grupo social,
com a intenção de solucioná-las. Já as outras fontes do Direito são utilizadas
de maneira subsidiária, de acordo com o caso concreto.
6 Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

Aqui, cumpre destacar a possibilidade de conflito entre duas normas


vigentes, chamado de antinomia. Para Flávio Tartuce (2015, p. 37), “[...]
antinomia é a presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas de
autoridade competente, sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação
em determinado caso concreto”. Para solucionar uma antinomia, a doutrina
majoritária considera três critérios:

 critério cronológico — norma posterior prevalece sobre norma anterior;


 critério da especialidade — norma especial prevalece sobre norma
geral;
 critério hierárquico — norma superior prevalece sobre norma inferior.

Ato jurídico perfeito, direito adquirido e coisa julgada


A norma jurídica é criada para valer no futuro. Porém, eventualmente, uma
norma pode atingir fatos passados, situação a qual devem ser considerados
três elementos. Prevê o art. 6º: “a lei em vigor terá efeito imediato e geral,
respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”
(BRASIL, 1942, documento on-line).
Por direito adquirido entende-se o direito já incorporado ao patrimônio
de uma pessoa natural, jurídica ou ente despersonalizado. No que se refere
ao ato jurídico perfeito, tem-se aquele já consumado de acordo com a lei
vigente ao tempo em que se efetuou. Por sua vez, coisa julgada é a decisão
judicial proferida da qual não cabe mais recurso. Assim, podemos afirmar
que o direito adquirido é o mais abrangente, pois tanto no ato jurídico perfeito
quanto na coisa julgada há direitos já consolidados, sendo a coisa julgada um
ato jurídico perfeito.
Os arts. 7º ao 17 tratam de Direito Internacional Privado, dispondo sobre
direitos de personalidade, bens, obrigações e Direito sucessório nas rela-
ções entre países estrangeiros e o Brasil. Para Flávio Tartuce (2015, p. 48),
“[...] pela grande importância que exerce sobre esse ramo jurídico, a Lei de
Introdução é até denominada como Estatuto do Direito Internacional, tanto
público como privado”, de maneira que também serve de diretriz para a
solução de conflitos extraterritoriais.
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 7

A Lei de Introdução às Normas do Direito


Brasileiro e os tribunais superiores
Tendo em vista o caráter diretivo da LINDB, não raras vezes os tribunais
superiores julgam demandas que envolvem os temas ali disciplinados, fazendo
com que surjam entendimentos que passam a ser observados nas mais diversas
áreas jurídicas, assim como são consolidadas interpretações legais.
No que se refere à vigência do Código Civil, por exemplo, o Superior
Tribunal de Justiça já julgou procedente a alegação de não prescrição (ou seja,
julgou que ainda há prazo para discussão da demanda) de tema relacionado
ao art. 2.028, que prevê: “serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos
por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido
mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada” (BRASIL, 2002,
documento on-line):

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENI-


ZAÇÃO. DANOS MORAIS E MATERIAIS. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊN-
CIA. PRAZO. CÓDIGO CIVIL. VIGÊNCIA. TERMO INICIAL. 1. À luz do
novo Código Civil, os prazos prescricionais foram reduzidos, estabelecendo o
art. 206, § 3º, V, que prescreve em três anos a pretensão de reparação civil. Já
o art. 2.028 assenta que “serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos
por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido
mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada”. Infere-se, portanto,
que tão-somente os prazos em curso que ainda não tenham atingido a metade
do prazo da lei anterior (menos de 10 anos) estão submetidos ao regime do
Código vigente, ou seja, 3 (três) anos. Entretanto, consoante nossa melhor
doutrina, atenta aos princípios da segurança jurídica, do direito adquirido e da
irretroatividade legal, esses três anos devem ser contados a partir da vigência
do novo Código, ou seja, 11 de janeiro de 2003, e não da data da ocorrência do
fato danoso. 2. Conclui-se, assim, que, no caso em questão, a pretensão do ora
recorrente não se encontra prescrita, pois o ajuizamento da ação ocorreu em
24.06.2003, antes, portanto, do decurso do prazo prescricional de três anos
previsto na vigente legislação civil. 3. Recurso conhecido e provido, para
reconhecer a inocorrência da prescrição e determinar o retorno dos autos ao
juízo de origem (BRASIL, 2006, documento on-line).

Da mesma forma, no que se refere à interpretação das normas, destaca-se


o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no que se refere ao
cheque, tendo por diretriz o art. 4º da LINDB, que prevê o costume como
fonte de interpretação e aplicação das normas. Nesse sentido, temos que,
8 Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

embora o cheque seja um título de crédito para pagamento à vista, conforme


disposto no art. 32 da Lei nº. 7.357, de 2 de setembro de 1985 (Lei do Cheque),
pode haver dano moral caso o cheque tenha sido emitido como pré-datado,
pois é do costume brasileiro a emissão de cheques pré-datados, e isso deve
ser respeitado. Assim indica a Súmula nº. 370 do STJ, que caracteriza dano
moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.
Quanto à coisa julgada, é de se destacar que, embora respeitada pelos
tribunais superiores também em virtude de se caracterizar como um comando
constitucional, conforme o art. 5º, inciso XXXVI: “a lei não prejudicará o
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada” (BRASIL, 1988,
documento on-line), é de se considerar a possibilidade da sua relativização.
O STJ e o Supremo Tribunal Federal (STF) já se manifestaram no sentido de
reconhecer a possibilidade de novo julgamento em caso de reconhecimento de
paternidade tendo em vista que, à época, não existia exame de DNA: trata-se
de uma relativização da cosia julgada em prol de um valor jurídico maior, que
é o indivíduo conhecer sua ascendência.
De acordo com o STJ:

[...] a coisa julgada existe como criação necessária à segurança prática das
relações jurídicas e as dificuldades que se opõem à sua ruptura se explicam
pela mesmíssima razão. Não se pode olvidar, todavia, que numa sociedade de
homens livres, a Justiça tem de estar acima da segurança, porque sem Justiça
não há liberdade (BRASIL, 2001, documento on-line).

Nesse sentido, o STF também admite a relativização da coisa julgada:

Paternidade. DNA. Nova ação. A paternidade do investigado não foi expres-


samente afastada na primeva ação de investigação julgada improcedente por
insuficiência de provas, anotado que a análise do DNA àquele tempo não
se fazia disponível ou seque havia notoriedade a seu respeito. Assim, nesse
contexto, é plenamente admissível novo ajuizamento da ação investigatória
(BRASIL, 2008, documento on-line).

Assim, a relativização da coisa julgada se refere a casos específicos, que


se relacionam com a dignidade da pessoa e cuja aplicação esteja relacionada
com o ideal de justiça. Do contrário, a coisa julgada é um valor inafastável.
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 9

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada em 5 de


outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituição.htm>. Acesso em: 21 maio 2018.
BRASIL. Decreto-Lei nº. 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às normas
do Direito Brasileiro. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 9 set.
1942. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657com-
pilado.htm>. Acesso em: 21 maio 2018.
BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 21 maio 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº. 226436/PR. Rel. Ministro Sálvio
de Figueiredo Teixeira, 4ª Turma. Julgado em: 28 jun. 2001. Disponível em: <http://
www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?id=414113>. Acesso em: 21 maio 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº. 698195 DF 2004/0152073-0,
Rel. Ministro Jorge Scartezzini, 4ª Turma. Julgado em: 4 maio 2006. Disponível em: <ht-
tps://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200401520730&dt_
publicacao=11/09/2006>. Acesso em: 21 maio 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº. 826.698-MS, Rel. Ministra
Nancy Andrighi, 3ª Turma. Julgado em: 6 maio 2008. Disponível em: <http://www.stj.
jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?id=837534>. Acesso em: 21 maio 2018.
DINIZ, M. H. Compêndio de introdução à ciência do Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. v. I.
REALE, M. Lições preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
SGARBI, A. Introdução à teoria do Direito. São Paulo: Marcial Pons, 2013.
TARTUCE, F. Direito Civil: lei de introdução e parte geral. 11. ed. São Paulo: Método,
2015. v. 1.
VENOSA, S. S. Direito Civil: parte geral. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
VENOSA, S. S. Introdução ao estudo do Direito: primeiras linhas. São Paulo: Atlas, 2004.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
DICA DO PROFESSOR

O Direito Internacional é um ramo jurídico autônomo, que conta com instrumentos normativos e
specíficos. Contudo, a Lei de Introdução apresenta importantes conceitos e regras para situações
nas quais o Direito Estrangeiro se relaciona com o Direito Brasileiro.

Confira, nesta Dica do Professor, os principais aspectos dessas normas.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar.

EXERCÍCIOS

1) Qual é a importância de estudar a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileir


o?

Conhecer os fundamentos do Direito Público, pois a LINDB apresenta diretrizes básicas p


A)
ara a aplicação das normas desse ramo do Direito.

Situar-se no tempo e no espaço, pois cada Código é introduzido por uma LINDB, de acord
B)
o com a matéria que regula.

É essencial para a aplicação das normas jurídicas que se referem às relações especificamen
C)
te obrigacionais, nos termos do Código Civil.

A LINDB apresenta normas que regulam toda a ordem jurídica. Para a correta compreensã
D)
o do ordenamento jurídico, o estudo dessa lei é fundamental.

Compreender o âmbito de aplicação das normas de conduta, sendo que as normas de organ
E)
ização são reguladas por lei de introdução específica.
2) Sobre a revogação, considere o texto abaixo:

Em termos jurídicos, a revogação legal poderá ser total ou parcial. À revogação total
da lei, dá-se o nome de ___________, enquanto à revogação parcial do texto legal dá-s
e o nome de ____________. Ambas as espécies podem ser de maneira expressa ou táci
ta.

As palavras que preenchem corretamente o texto acima são, respectivamente:

ab-rogação; derrogação.
A)
derrogação; ab-rogação.
B)
supressão; derrogação.
C)
extinção; ab-rogação.
D)
ab-rogação; supressão.
E)

3) De acordo com a LINDB, sobre o período de tempo entre a publicação da lei, ou seja,
quando ela se torna válida no ordenamento jurídico, e o início da efetiva produção de
seus efeitos, é correto afirmar que:

a vigência da lei ocorre 45 dias após a publicação, mesmo que a própria lei indique outro p
A)
razo.

a lei começa a vigorar, em todo o País, trinta dias depois de oficialmente publicada.
B)
o período entre publicação e vigência da lei é chamado de vacatio legis e é de trinta dias, s
C)
alvo disposição em contrário da própria lei.

o prazo para que a lei entre em vigor é de 45 dias após a publicação, salvo especificação di
D)
ferenciada, na própria lei.

o prazo para que a lei comece a viger é de trinta dias após a publicação, salvo se a lei dispu
E)
ser prazo diferenciado, limitado a 45 dias.

4) Nos termos do artigo 6.o da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, pode-
se entender que a situação consumada de acordo com a lei vigente ao tempo em que s
e efetuou, assim como a conquista de elemento que se incorpora ao patrimônio da pes
soa, são chamados, respectivamente, de:

direito adquirido e ato jurídico perfeito.


A)
ato jurídico perfeito e direito adquirido.
B)
coisa julgada e direito adquirido.
C)
coisa julgada e ato jurídico perfeito.
D)
ato jurídico perfeito e coisa julgada.
E)

5) Quanto à chamada relativização da coisa julgada, é correto afirmar que:

deve ser aplicada como exceção, em casos específicos, que envolvam a dignidade da pesso
A)
a humana, por exemplo.

os tribunais superiores brasileiros não admitem a relativização, tendo em vista que a coisa j
B)
ulgada é um valor expresso na LINDB.

a relativização da coisa julgada deve ser aplicada como regra, sendo exceção a consideraçã
C)
o de sentença judicial da qual não é cabível recurso.

trata-se de um inovação do Superior Tribunal de Justiça, que precisa ser validada pelo Sup
D)
remo Tribunal Federal.

foi admitida no ordenamento jurídico brasileiro até a entrada em vigor do novo Código Civ
E)
il.

NA PRÁTICA

Em 2016, o Superior Tribunal de Justiça julgou o REsp 1.217.166, processo judicial no qual um
a senhora pleiteava a alteração do seu nome no registro civil, tendo em vista que era conhecida p
or outro nome no meio social: no documento, chamava-se Raimunda, sendo que era conhecida p
or Danielle.
Neste Na Prática, saiba mais sobre a decisão do STJ.

SAIBA +

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professo
r:

Antinomia jurídica

Assista a este vídeo sobre antinomia jurídica: o que é, como se aplica e qual é sua importância p
ara o ordenamento jurídico.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar.

Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

Leia este artigo sobre a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e as principais regula
mentações trazidas por ela.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar.

Coisa julgada não se sobrepõe a direito de filho extraconjugal de figurar na sucessão

Nesta reportagem, você lerá sobre decisão do STJ que relativiza a coisa julgada em prol do direi
to sucessório de filho não reconhecido.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar.

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