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João Miranda
Tiago Antunes
José Duarte Coimbra
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excepção não pode, no entanto, ser interpretada como permitindo a
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Lisboa
resultar prejuízo para o interesse pela obra.
Os infractores são passíveis de procedimento judicial, nos termos da lei. 2015
NOTA PRÉVIA À 3.ª EDIÇÃO
6 7
3. As relações jurídicas multilaterais de Direito do Ambiente VI. CONFLITOS ECOLÓGICOS: O CONTENCIOSO DO AMBIENTE
3.1. A multilateralidade das relações administrativas de ambiente 1. O processo verde
3.2. Os sujeitos das relações administrativas ambientais 1.1. Problemas de jurisdição. A jurisdição administrativa como
“tendencialmente verde”
III. AMBIENTE DE PROCEDIMENTO. PROCEDIMENTO DE AMBIENTE 1.2. A questão da adequação dos meios processuais. Défice
1. Procedimento e participação ambientais processual de tutela do ambiente?
2. A participação no procedimento legislativo de ambiente 1.3. Os meios processuais do Contencioso Administrativo e a
3. A participação no procedimento administrativo para defesa do defesa do ambiente
ambiente 1.4. Em especial, a questão da legitimidade: ação para a defesa de
3.1. Os direitos de participação nos procedimentos administrativos direitos subjetivos, ação pública e ação popular
ambientais de massa e nos de reduzido número de afetados
3.2. Em especial, o direito de audiência VII. DIREITO SANCIONATÓRIO DO AMBIENTE
4. O procedimento administrativo de avaliação de impacte ambiental 1. Admissibilidade e necessidade do Direito Sancionatório do Ambiente
2. Alternatividade ou complementaridade da tutela penal e da tutela
IV. VERDE AGIR: FORMAS DE ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA EM MATÉRIA AMBIENTAL contraordenacional do ambiente?
3. O Direito Penal do Ambiente
1. A licença ambiental e os procedimentos complexos de licenciamento
da atividade económica 4. O Direito Contraordenacional do Ambiente
2. A contratualização pública em matéria de ambiente
2.1. A contratação pública verde (green public procurement)
2.2. O caso dos contratos de promoção e de adaptação ambiental
3. Os instrumentos de mercado em matéria ambiental
3.1. A ecoetiqueta ou rótulo ecológico
3.2. A ecogestão e as ecoauditorias
3.3. O comércio europeu de licenças de emissão
4. Planificação ambiental
4.1. A avaliação ambiental estratégica
4.2. Planos ambientais
4.3. Planos ambientais e planos de ordenamento do território e do
urbanismo
10 11
[1]
I. AMBIENTE E DIREITO.
VERDES SÃO TAMBÉM OS DIREITOS DO HOMEM
(A) Exercícios
2. Procure caraterizar as tendências internacionais de proteção • Convenção sobre Acesso à Informação, Participação do
do ambiente que resultaram da Declaração de Joanesburgo e da Público no Processo de Tomada de Decisão e Acesso à
Conferência Rio +20. Pode dizer-se que a tutela internacional do Justiça em Matéria de Ambiente [Convenção de Aarhus]
ambiente é, hoje, um objetivo de compromisso? (1998)1
3. António Ar-Limpo explora uma quinta ecológica em Belmonte. (B) Fontes Normativas
Nas redondezas, Constantino Indústria-Pesada instalou uma
siderurgia, cuja poluição levou terá conduzido à destruição de • CRP: alínea d) do artigo 9.º, alínea a) do n.º 3 do artigo
algumas espécies de flora e fauna da quinta ecológica de António, 52.º e artigo 66.º
inquinou a qualidade da água naquela zona e causou ainda, • CDFUE: artigo 37.º
segundo o próprio, o desenvolvimento de condição asmática nos
• Lei n.º 19/2014, de 14 de abril [Lei de Bases da Política
filhos de António. Analise a relevância jus-constitucional desta
de Ambiente]: artigos 5.º a 8.º
situação, tomando em consideração que:
(a) António invoca que o seu direito fundamental ao ambiente
(C) Bibliografia
foi violado por Constantino; este contra-argumenta que
António não pode arrogar-se qualquer direito subjetivo.
Sobre as dimensões constitucionais da tutela ambiental
(b) António queixa-se, concretamente, da destruição de um
em Portugal e as possibilidades de autonomização de um
pomar e da morte de 2 avestruzes e 5 cabras-anãs.
«direito fundamental ao ambiente», cfr. TIAGO ANTUNES,
(c) António queixa-se ainda da deterioração geral da saúde
«Um Direito, mas também um Dever» in Estudos em Memória
24 dos seus filhos. 25
do Prof. Doutor António Marques dos Santos, II, Coimbra: Lisboa: AAFDL, 2014, pp. 35-60; RUI MEDEIROS, «O ambiente na
Coimbra Editora, pp. 645-662 (= in Pelos Caminhos Jurídicos Constituição» in RDES, 1993, pp. 377-400; JORGE MIRANDA, «A
do Ambiente. Verdes Textos, I, Lisboa: AAFDL, 2014, pp. 15- Constituição e o Direito do Ambiente» in Direito do Ambiente
34); LUÍS CARLOS BATISTA, «O Direito Subjetivo ao Ambiente: (coord. FREITAS DO AMARAL/MARTA TAVARES DE ALMEIDA),
um artifício legislativo e jurisdicional», in RDAOT, n.os 16/17 Lisboa: INA, 1994, pp. 353-373; RUI MEDEIROS, «O Ambiente
(2010), PP. 145-170; GOMES CANOTILHO (coord.), Introdução ao na Constituição» in RDES, n.os 1/2/3/4 (1993), pp. 377-400;
Direito do Ambiente, Lisboa: Universidade Aberta, 1998, pp. PAULO CASTRO RANGEL, Concertação, Programação e Direito
67-76; IDEM, «O Direito ao Ambiente como Direito Subjetivo» do Ambiente, Coimbra: Coimbra Editora, 1994, pp. 7-46; VASCO
in Estudos sobre Direitos Fundamentais, Coimbra: Coimbra PEREIRA DA SILVA, Verde Cor de Direito – Lições de Direito do
Editora, 2004, pp. 177-189; IDEM, «Direito Constitucional Ambiente, Coimbra: Almedina, 2002, pp. 84-102; IDEM, «Direito
Ambiental Português: tentativa de compreensão de 30 anos salpicado de azul e verde», in Estudos em Homenagem ao
das gerações ambientais no direito constitucional português» Prof. Doutor Armando Marques Guedes, Lisboa: FDUL, 2004,
in Temas de Integração, n.º 21 (1.º semestre 2006), pp. 23-33; pp. 839-876; IDEM, A Cultura a que tenho Direito – Direitos
GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituição da República Fundamentais e Cultura, Coimbra: Almedina, 2007, pp. 113-
Portuguesa Anotada, I, 4.ª ed., Coimbra: Coimbra Editora, 2007, 133; Sobre o artigo 37.º da CDFUE, cfr. ALEXANDRA ARAGÃO,
pp. 841-853; JOSÉ EDUARDO FIGUEIREDO DIAS, Tutela Ambiental «Anotação ao artigo 37.º», in Carta dos Direitos Fundamentais
e Contencioso Administrativo (Da Legitimidade Processual da União Europeia Comentada, Coimbra: Almedina, 2014, pp.
e das Suas Consequências), Stvdia Iridica, 29, Coimbra: 447-458.
Coimbra Editora, 1997, pp. 77-93; IDEM, Direito Constitucional
e Administrativo do Ambiente, 2.ª ed., Coimbra: Almedina,
2007, pp. 16-18, 35-42; IDEM, A Reinvenção da Autorização
Administrativa no Direito do Ambiente, Coimbra: Coimbra
Editora, 2014, pp. 309-323; ELIZABETH FERNANDEZ, Direito ao
Ambiente e Propriedade Privada (Aproximação ao Estudo da
Estrutura de das Consequências das Leis-Reserva portadoras
de vínculos ambientais), Stvdia Ivridica, 57, Coimbra: Coimbra
Editora, 2001, pp. 17-57; MARIA DA GLÓRIA GARCIA/GONÇALO
MATIAS, «Anotação ao artigo 66.º» in (MIRANDA/MEDEIROS,
Constituição Portuguesa Anotada, I, 2.ª ed., Coimbra: Coimbra
Editora, 2010, pp. 1340-1355; CARLA AMADO GOMES, Risco e
Modificação do Acto Autorizativo Concretizador de Deveres de
Protecção do Ambiente, Coimbra: Coimbra Editora, 2007, pp.
98-217; IDEM, «Constituição e Ambiente: errância e simbolismo»
in O Direito, ano 138.º 2006, IC, pp. 817-834 (= in Textos
Dispersos de Direito do Ambiente, II, Lisboa: AAFDL, 2008,
26
pp. 21-45); IDEM, Introdução ao Direito do Ambiente, 2.ª ed., 27
aspeto devidamente levado em conta durante o procedimento de
[5] avaliação de impacte ambiental. Quid iuris?
48 49
2. A SONAE pretende aderir voluntariamente ao Sistema de RDAOT, n.º 1 (1995), pp. 43-46; MÁRIO TAVARES DA SILVA, «O
Ecogestão e Auditoria Ambiental. Rótulo Ecológico Comunitário (REC) e o Eco-Management
(a) O que deve a SONAE fazer para preparar o seu pedido de and Audit Scheme (EMAS). Ensaio sobre a sua qualificação
registo EMAS? Qual o conteúdo deste pedido e a quem jus-administrativa» in RJUA, n.º 31-34, Janeiro/Dezembro
deve ser dirigido? 2009-2010, pp. 303-373 (= in Direito Público sem Fronteiras
(b) Com que frequência deve o registo EMAS ser renovado? (coord. VASCO PEREIRA DA SILVA/INGO SARLET), e-book, Lisboa:
E como? Quais as obrigações da SONAE nos anos ICJP, 2011, pp. 915-985); VASCO PEREIRA DA SILVA, Verde Cor de
intercalares? Direito – Lições de Direito do Ambiente, Coimbra: Almedina,
(c) Quem são e o que fazem os verificadores ambientais? 2002, pp. 173-178. Sobre a ecogestão e as ecoauditorias,
Como e por quem são acreditados os verificadores cfr. ANTÓNIO PEDRO ATAZ, «Ecogestão e auditoria ambiental
ambientais? no Direito Comunitário do Ambiente: algumas anotações ao
regulamento (CEE) n.º 1836/93, de 9 de Junho», in RDAOT, n.º 3
(B) Fontes Normativas (1998), pp. 9-38; JOSÉ EDUARDO FIGUEIREDO DIAS, A Reinvenção
da Autorização Administrativa no Direito do Ambiente, Coimbra:
• Regulamento (CE) n.º 66/2010 do Parlamento Europeu Coimbra Editora, 2014, pp. 897-921; CARLA AMADO GOMES/JOSÉ
e do Conselho, de 25 de novembro de 2009 [Sistema de EDUARDO FIGUEIREDO DIAS, «Notas reflexivas sobre sistemas de
Rótulo Ecológico da UE] gestão ambiental», in Revista do CEDOUA, n.º 31, 2013_I, pp. 9-
• Regulamento (CE) n.º 1221/2009 do Parlamento Europeu 37 (= Textos Dispersos de Direito do Ambiente, vol. IV, Lisboa:
e do Conselho, de 25 de novembro de 2009 [Participação AAFDL, 2014, pp. 201-238; CARLA AMADO GOMES, Introdução
voluntária de organizações num sistema comunitário de ao Direito do Ambiente, 2.ª ed., Lisboa: AAFDL, 2014, pp. 230-
ecogestão e auditoria (EMAS)] 231; VASCO PEREIRA DA SILVA, Verde Cor de Direito – Lições de
Direito do Ambiente, Coimbra: Almedina, 2002, pp. 220-231;
• Decreto-Lei n.º 95/2012, de 20 de abril [Ecogestão e MICHAEL WENK, The European Union’s Eco-Management and
auditoria (EMAS)] Audit Scheme (EMAS), Springer, 2005, passim.
• Lei n.º 19/2014, de 14 de abril [Lei de Bases da Política
de Ambiente]: artigo 20.º
(C) Bibliografia
72 73
[1]
I. Comente, de forma crítica, duas das seguintes afirmações:
Podendo introduzir na resolução da sua hipótese outros 3) «Segundo o princípio do "poluidor-pagador", o operador
elementos, de facto ou de direito, que entender relevantes, e que cause danos ambientais ou crie a ameaça iminente desses
dando maior atenção às questões de direito substantivo do que danos deve, em princípio, custear as medidas de prevenção ou
às de direito processual, suponha: reparação necessárias. Se a autoridade competente actuar, por
si própria ou por intermédio de terceiros, em lugar do operador,
(i) Que é advogado e que lhe cabe patrocinar a posição deve assegurar que o custo em causa seja cobrado ao operador.
de Manuel Empata. Quais os meios processuais e quais Também se justifica que os operadores custeiem a avaliação
os argumentos jurídicos que poderia invocar em defesa dos danos ambientais ou, consoante o caso, da avaliação da
da sua posição? sua ameaça iminente» (Diretiva 2004/ 35/ CE do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 21 de bril de 2004).
(ii) Que lhe cabe patrocinar a causa do Presidente
da Câmara. Quais os argumentos que invocaria para 4) «Mesmo que possamos dar de barato que a Humanidade
sustentar a respetiva posição no(s) processo(s) referido(s) está confrontada, actualmente, com gravíssimas ameaças ao
na resposta anterior? ambiente, que ela mesma engendrou, devemos sempre procurar
86 saber se há outras formas de enfrentar tais problemas, que não 87
seja através de soluções penais, quiçá até muito pouco efectivas. [8]
Impõe-se aqui a formulação da seguinte pergunta: vale a pena o
direito penal do ambiente?» (PAULO SOUSA MENDES). I. Comente, de forma crítica, uma (e só uma) das seguintes
afirmações:
I. Imagine que João Flores, morador em Barrancas e vizinho
mais próximo da instalação, pretende reagir judicialmente contra 1) «O princípio da precaução destina-se a superar o cepticismo
as autoridades administrativas que licenciaram a instalação decorrente da falta de provas científicas, invertendo o ónus da
pecuária intensiva denominada «Porco Preto Ibérico», destinada prova de um dano ambiental possível» (GOMES CANOTILHO).
à criação simultânea de milhares de suínos, apesar de não ter
havido licença ambiental e de o procedimento de avaliação 2) «(...) Só a consagração de um direito fundamental ao ambiente
de impacto ambiental não ter sido objeto de decisão por parte (...) pode garantir a adequada defesa contra agressões ilegais,
das autoridades administrativas. Enquanto que, por seu lado, provenientes quer de entidades públicas quer de entidades
Pepe Silva, gerente da «Porco Preto Ibérico», alega não ter privadas» (VASCO PEREIRA DA SILVA).
havido qualquer ilegalidade, uma vez que se teria verificado o
deferimento tácito da avaliação de impacto ambiental e que a 3) (...) «Em matéria de ambiente, a melhoria do acesso à
licença ambiental era desnecessária, não só pela importância informação e a participação dos cidadãos no procedimento
económica da empresa para o desenvolvimento da região, como decisório aumenta a qualidade e a eficácia das decisões,
também pelo seu interesse ecológico, já que ela iria permitir o contribui para o conhecimento público das questões ambientais,
ressurgimento do porco preto alentejano – “que é tão bom como o dá oportunidade aos cidadãos de expressar as suas preocupações
espanhol, se não mesmo melhor!”, segundo as suas palavras –, tal e permite às autoridades públicas considerar tais preocupações»
como, de resto, tinha sido expressamente referido no despacho (Preâmbulo da Convenção de Aarhus).
ministerial autorizador.
4) «Merece forte crítica a solução acolhida (...) de prever o
Podendo introduzir na resolução da sua hipótese outros elementos, deferimento tácito da decisão de impacto ambiental (...), [que]
de facto ou de direito, que entender relevantes, suponha: representa um paradoxo relativamente à vinculatividade da DIA
e uma porta aberta à subversão do regime legal» (JOSÉ EDUARDO
(i) Que é advogado e que lhe cabe patrocinar a posição FIGUEIREDO DIAS).
de João Flores. Quais os meios processuais e quais os
argumentos jurídicos que poderia invocar em defesa da 5) «A eco-etiqueta faz parte dos denominados “instrumentos de
sua posição? mercado” para a protecção ambiental, distintos da intervenção
administrativa (ambiental) directa, e é de incluir entre os
(ii) Que é advogado de Pepe Silva. Quais os argumentos “instrumentos de política ambiental baseados no produto” (...),
que invocaria para sustentar a respetiva posição no(s) que são técnicas que se centram na utilização de bens de consumo
processo(s) referido(s) na resposta anterior? como forma de preservação do meio-ambiente, potenciando o
uso e a produção dos chamados “produtos verdes” através dos
88 mecanismos de mercado» (SAINZ RUBIALES). 89
6) «A estruturação no direito comunitário de um regime de
responsabilidade ambiental que funcionalmente vai muito para
além das tutelas restitutivas / compensatórias tradicionais e da
realização coactiva das obrigações de “facere”, para prosseguir
fins prevalecentemente sancionatórios, mas revestindo
Simultaneamente um carácter objectivo, constitui um dos grandes
desafios da nova relação jurídica ambiental» (RUI MACHETE).
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[1]