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Resumo Global da Matéria de História A para o exame de 2017 (12º)

Parte 1
1.1 Um Novo Equilíbrio Global
As Grandes Potências Europeias: Inglaterra; França; Império Alemão; Itália; Império Russo; Império Austro-Húngaro; Império Otomano.

Causas do Conflito:
- Supremacia Industrial: Rivalidade no acesso a matérias-primas na Europa e nos domínios coloniais;
- Choque de interesses económicos entre as grandes potências pelo domínio do comércio mundial;
- Rivalidades entre os Franceses e os Alemães: em Marrocos (1905, 1911), instabilidade nos Balcãs (Guerra de 1911-1912), cobiça pelos
territórios Africanos…
- Conflitos Regionais evidenciam as rivalidades e preparam o clima de guerra generalizada com a corrida aos armamentos/ clima de paz armada;
- Luta pela supremacia política na Europa e no Mundo através da formação de alianças militares: A Tripla Aliança (1882) em que faziam parte o
Império Austro- Húngaro + o Império Alemão + o Império Otomano + a Itália (até 1915) [Regime Absolutistas ou Autoritários] e a Tríplice
Entente em que fazia parte a França + a Inglaterra + a Itália (a partir de 1915) + o Império Russo (até 1917) + EUA (1917) + Portugal
[Regimes Demo-Liberais];
- Atentado de Saravejo a 28 de Junho de 1914- Devido às tenções dos regimes nacionalistas há o assassinato do herdeiro do trono Austro-
Húngaro que leva à intensificação das rivalidades das alianças e consequentemente à I Guerra Mundial (1914-1918).

Consequências do conflito:
- Destruição material, territorial e humana;
- Derrota dos Impérios Centrais e reordenação do mapa político europeu;
- Formação de novos países com base nas nacionalidades, fundados em constituições democráticas liberais e em sistemas parlamentares;
- Redefinição de fronteiras;
- Organização política dos Estados assente em princípios democráticos;
- Revoluções de 1917 na Rússia que instauraram o comunismo;
- Europa perde a sua importância económica e produtiva;
- Os EUA surgem como nova potência hegemónica e passam a ser os credores da Europa.

A Conferência da Paz de 1919 teve como objectivos regulamentar a paz e reorganizar a geopolítica.

As condições prévias das negociações foram preparadas por Wilson nos “Catorze Pontos”. O documento defendia:
- A diplomacia justa e transparente;
- A liberdade de navegação e a igualdade no acesso ao comércio internacional;
- A promoção do desarmamento;
- A regulação das reivindicações coloniais;
- A constituição de uma liga das Nações: a SDN (Sociedade das Nações).

O Tratado de Versalhes foi penalizador para a Alemanha:


- Pelas perdas territoriais;
- Por responsabilizar a Alemanha pela guerra;
- Por obrigar ao pagamento de reparações;
- Por impor a perda de parte da marinha mercante;
- Por reduzir a sua força militar.

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Estas imposições infligiram um rude golpe no orgulho alemão e o Tratado de Versalhes foi encarado como um Diktat, uma imposição. A eficácia
do Tratado ficou comprometida, devido à recusa dos EUA em ratificá-lo. Este não integrou a SDN visto que queria manter a “paz” com todos os
países e manter a venda de produtos à Europa.

A Sociedade Das Nações teve diversos objectivos:


- Assegurar a paz no mundo e garantir a propriedade;
- Manter as relações internacionais abertas e francas;
- Promover a redução dos armamentos;
- Fazer respeitar o direito internacional e os tratados estabelecidos;
- Garantir o respeito pelas minorias nacionais;
- Arbitrar os conflitos entre os Estados;
- Promover a entreajuda internacional;
- Impor sanções aos países.

A SDN revelou diversas fragilidades, entre elas a exclusão dos países vencidos da organização e o constante desentendimento por parte dos países
vencedores. A constante instabilidade política e a incapacidade de dar resolução aos problemas sociais, leva à fragilidade dos regimes demo-liberais,
que acabam por instaurar regimes fascistas para controlar a agitação social.

A 1º Guerra Mundial deixou a Europa fragilizada quer a nível social, quer a nível político e económico. A reconversão da economia de guerra
suscitou diversos desafios:
- A necessidade de reconstrução de infra-estruturas;
- A adaptação e modernização das indústrias à economia de paz e ao aumento de consumo;
- A urgência do relançamento da actividade agrícola;
- O crescente endividamento dos Estados com empréstimos estrangeiros para relançar a sua economia;
- A inflação;
- O flagelo do desemprego;
- A forte especulação com os capitais emprestados;
- A implantação de medidas proteccionistas e o problema cambial.

A Hegemonia dos EUA deve-se principalmente a:


- Terem fornecido aos países beligerantes material bélico, mantimentos e capitais durante a guerra;
- As exportações americanas aumentaram significativamente;
- Emprestaram capitais à Europa, de devedores, os EUA passaram a credores da Europa;
- A aposta na racionalização do trabalho, a consolidação do Taylorismo e da Estandardização;
- A subida dos salários;
- O crescimento do sector terciário;
- A concentração industrial e financeira;
- A produção em massa.

Assim a sociedade de consumo instalou-se e o acesso ao crédito foi facilitado. Viveu-se o período dos loucos anos 20 e o modelo americano de
consumo e de vida conquistou a Europa.

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1.2 A implantação do Marxismo-Leninismo na Rússia- A Construção do Modelo Soviético
A Rússia nas vésperas da Revolução:
- Regime Imperialista (Czar detinha em si todos os poderes);
- Em crise (frágil industrialização e comércio pouco dinâmico);
- Agricultura precária, tradicional e sem tecnologia modernizada;
- Pobres sustentam os ricos (minoria de privilegiados domina a grande propriedade, camponeses constituem a maior parte da população e o
operariado pouco representativo trabalha precariamente);
- 22 De Janeiro de 1905: Revolução pacifista falhada que resultado num massacre sangrento (Domingo Sangrento);
- Guerra agrava a economia;
- O colima de revolução eclode com as manifestações das mulheres; greve de operários e a formação de conselhos ou sovietes;
- O objectivo era alterar o regime político, melhorar as condições económicas e sociais e retirar a Rússia da Guerra.

Revolução de Fevereiro de 1917:


Motivos:
- Atraso económico;
- Miséria Camponesa;
- Insatisfação da burguesia e da nobreza rural;
- Autocracia czarista;
- Desejo de reformas económicas e políticas;
- Oposição dos partidos constitucional- democrata, socialista- revolucionário e social- democrata;
- Agravamento das condições económicas pela participação na 1º Guerra Mundial;
- Fracasso militar- desmoralização;

Protagonistas:
- Manifestações das mulheres;
- Greves de Operários;
- Sovietes de Petrogrado;

Efeitos Imediatos:
- Queda do Czarismo;
- Entrega do poder a um Governo Provisório, de cariz burguês;

Problemas levantados:
- Dualidade de poderes: Contestação dos Sovietes ao Governo Provisório;
- Reivindicações dos Sovietes: abandono do conflito militar, distribuição das Terras, aumento dos salários.

Revolução de Outubro de 1917:


Motivos:
- As reformas económicas e sociais não foram efetuadas;
- Mantem-se a crise generalizada do povo;
- A Rússia mantem-se na Guerra.

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Protagonistas:
- Sovietes;
- Bolcheviques.

Efeitos Imediatos:
- Queda do Governo Provisório;
- Democracia dos Sovietes: poder político nas mãos do Conselho dos Comissários do Povo (exclusivamente bolchevique); entrega de Terras a
sovietes camponeses; controlo operário.
- Abandono do conflito mundial- paz separada com a Alemanha em Março de 1918.

Problemas levantados:
- Resistência de proprietários e empresários às expropriações;
- Desorganização da economia;
- Oposição do Ocidente- boicote externo;
- Guerra Civil (1918-1920) - “Brancos” (Os que se opunham à revolução) contras os “Vermelhos” (Os que apoiava a revolução).

Fases da Revolução:
- Comunismo de Guerra (1918-1920); - Lenine
- NEP (Nova Política Económica- 1921-1927); - Lenine
- Socialismo num só país (1928-1953) - Estaline

Características do Comunismo de Guerra:


- Nacionalização de toda a economia (terras, fábricas, comércio interno e externo, transportes e bancos);
- Trabalho obrigatório;
- Dissolução da Assembleia Constituinte;
- Proibição dos partidos políticos, à excepção do comunista (Bolchevique);
- Terror (polícia política- Tcheka criada em Dezembro de 1917, censura, campos de concentração);
- Centralismo democrático (estrutura do Estado assente nos Sovietes, mas controlada pelo partido Comunista);
- Criação da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).

Características da Nova Política Económica (NEP- 1921-1927):


Motivos:
- Ruína da economia (reduzidas produções agrícolas e industriais);
- Resistência às nacionalizações e à ditadura do proletariado;
- Revoltas.

Medidas:
- Interrupção da colectivização agrária;
- Liberdade do comércio interno;
- Desnacionalização das empresas;
- Investimento estrangeiro.

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Consequências:
- Recuperação económica;
- Criação de Classes Sociais (Koulaks: Pequenos proprietários rurais; Nepmen: Pequenos industriais e comerciantes);

Para Lenine esta etapa constituiu “um passo atrás e dois à frente” pois recuou na revolução mas recuperou a produção e economia e estabeleceu
condições para mais tarde implementar o socialismo.

Ditadura Estalinista- Socialismo num só país (1928-1953):


Linhas de Força:
- Colectivização agrária (Kolkhozes: terras exploradas colectivamente pelos camponeses; Sovkhozes: terras exploradas por camponeses mas de
propriedade do Estado)
- Planificação Industrial (Planos quinquenais);
- Totalitarismo repressivo do Estado (hegemonia do Partido Comunista; enquadramento da população em organizações afectivas ao regime; culto
da personalidade de Estaline; repressão brutal).

Em 1918, com o final da guerra, a democracia liberal dominou na Europa central e ocidental: os novos países eram constitucionais, adoptando a
divisão de poderes e o sufrágio universal. O Demoliberalismo revelou-se frágil e foi posto em causa.

A revolução bolchevique de 1917 teve repercussões na Europa: o marxismo-leninismo procurou estender a acção revolucionária a todos os países,
através da acção do Komintern ou III Internacional (1919), com vista a acabar com os regimes burgueses e capitalistas. A onda revolucionária era
encarada, pelos governos demoliberais, como uma ameaça à ordem estabelecida.

1.3 A Regressão do Demoliberalismo


A Europa vivia uma conjectura económica e social problemática, à qual se juntou uma crise política. Na República alemã de Weimar, a agitação
revolucionária traduziu-se na proclamação de uma república socialista, pelos líderes espartaquistas. Na Hungria, proclamou-se uma república, do
tipo comunista. Na França, Inglaterra, Itália, Espanha a agitação social, apoiada nos sectores sindicais, foi contrariada por forças conservadoras e
nacionalistas. No caso da Itália, o ambiente era de contestação e de agitação- greves, manifestações, ocupação de terras e de fábricas. Grupos
políticos e milícias armadas de direita procuram assumir o controlo da situação. Benito Mussolini formou o Grupo Italiano do Combate. Em
França, assistiu-se a uma radicalização do movimento operário, que culminou na tentativa de realização de uma greve geral. Os tempos difíceis
traduziram-se, nos EUA, em atitudes conservadoras e xenófobas.

Os receios provocados pelas vagas revolucionárias favoreceram a ascensão de movimentos autoritários de direita, na década de 20. Estes
movimentos eram defensores do nacionalismo e da ordem, contra o marxismo. Em Itália, formou-se o Partido Nacional Fascista. Benito Mussolini
organizou a “Marcha sobre Roma” e tomou o poder. Os movimentos autoritários de direita alastraram por toda a Europa, desde a Hungria a
Portugal. Na Alemanha, Adolf Hitler empreendeu um golpe em Munique, que tinha como objectivo iniciar uma revolução.

1.4 Mutações nos Comportamentos e na Cultura/ Mudanças no quotidiano e mentalidade da mulher no século XX:
- Emancipação na sociedade devido à nova vida urbana e industrialização (papel mais activo na sociedade, trabalha fora de casa, não obedece aos
papéis tradicionais como procriar);
- Separação da religião do Estado (valorização da vida terrena, perda da importância do casamento, diferenças na família que passa a ser um núcleo
familiar ou seja, os pais e o(s) filho(s) em vez da extensa família; a igreja separa-se da educação);
- Apôs- Guerra muda a mentalidade de como as pessoas vêem a vida; a proximidade da morte faz com que a população procure desfrutar de todas
as regalias que têm direito;
- Sociedade de consumo e consequente surgimento de novos equipamentos e tecnologia que aumenta o reforço da vida urbana;

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A mulher dos anos 20 assume novas funções e um novo papel social. A flapper tornou-se o símbolo da mulher urbana, dos anos 20. Conquistou
independência económica e usufruiu de maior liberdade na vida doméstica. O feminismo ganhava grande impacto.

As transformações que decorreram da Primeira Guerra Mundial originaram:


- Uma nova vivência social; mudança nos comportamentos e valores, sobretudo no mundo urbano ocidental;
- Viveram-se os “loucos anos 20” em que era imperativo chocar a sociedade e romper com o passado;
- Surgiram novos hábitos sociais, novos espaços de lazer e de evasão;
- Os valores da burguesia da segunda metade do século XIX entraram definitivamente em crise;
- Surgiu uma nova vivência e atitude individual;
- Acentuou-se o conflito de gerações e de culturas.

A ausência de regras; o relativismo dos valores e o abandono da moral tradicional conduziram à anomia social.
Anomia Social: Designa o sentimento de vazio, de perda de raízes, em virtude das mudanças sociais, provocadas pelo fim das normas dos valores
tradicionais de regulação da vida e da sociedade.

Os novos meios de comunicação generalizaram o consumo, o ócio e as distracções:


Até ao Século XX Século XX
- Valoriza a produção; - Valoriza a abundância;
- Valoriza o carácter; - Privilegia a imagem;
- Valoriza a poupança; - Valoriza o consumo;
- Privilegia o trabalho; - Valoriza o ócio;
- Defende o papel tradicional da mulher; - Defende a emancipação da mulher;
- Privilegia a tradição; - Olha para o futuro;
- Valoriza os laços familiares; - Valoriza a individualidade;
- Privilegia a cultura de elite. - Valoriza a cultura de massas.

No início do século XX, a concepção do Homem e do universo mudou radicalmente.

Freud enunciou novas ideias acerca da natureza e da essência humana:


- Deu ao Homem uma nova dimensão- o inconsciente, a repressão, a noção de sexualidade infantil, a líbido e a divisão repartida da mente (id, ego
e superego);
- Criou a psicanálise: os factos “esquecidos” condicionavam a vida das pessoas.

Albert Einstein mudou a concepção do espaço e do tempo:


- Enunciou a Teoria da Relatividade e defendeu que o espaço e o tempo não eram absolutos;
- Deixava de ser possível conhecer o universo através do senso comum. Os modelos clássicos e positivistas baseados em princípios e certezas
absolutas foram postos de lado.

O positivismo deu lugar ao relativismo.


Relativismo: Designa a concepção de que o conhecimento é relativo, pois o tempo, o espaço, o indivíduo e a cultura condicionam o conhecimento
e a apreensão da realidade. As várias correntes de pensamento, ligadas ao relativismo, têm como ponto comum a contestação da existência de uma
verdade absoluta, na ciência, nos valores, ou na cultura.

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 Apesar da diversidade das manifestações e perspectivas, as correntes modernistas apresentam características comuns:
- Rompem com o passado e com as tradições académicas;
- Contestam a sociedade burguesa;
- Valorizam a subjectividade e a emotividade (assente nos instintos);
- Recusam o realismo e buscam o que está para além da realidade aparente;
- Recebem contributos das novas conceções científicas do início do século;
- Revelam inovação e experimentação a nível da estrutura formal e da desconstrução do objecto artístico;
- Valorizam a espontaneidade e a liberdade de criação;
- Enaltecem a interioridade do artista;
- Contrapõem o sentido mais primitivo do indivíduo à sofisticação e ao progresso tecnológico;
- Revelam a influência da arte não ocidental (oriental e africana).
 As obras de vanguarda foram produzidas por uma elite cultural e apreendidas por uma minoria, pois exigiam um maior entendimento e uma nova
atitude estética.

1.5 Portugal no primeiro pós-guerra


1ª República:
 Implementação do regime republicano devido a:
Crise Económica e Financeira: Crise Política e Social
- Descrédito da monarquia constitucional (ultimato
- Fracasso da política livre - cambista da regeneração britânico, propaganda republicana, ditadura de João
(défice comercial, dívida pública, dependência do capital Franco, 31 de Janeiro, regicídio, rotativismo,
estrangeiro, fraca competitividade industrial). tricentenário de Camões)
- Insatisfação das classes médias e do proletariado.

5 De Outubro de 1910
Laicismo Parlamentarismo Legislação Social
- Liberdade e igualdade de cultos; - Trabalho (regulamentação da greve
- Abolição do juramento religioso; e do horário de trabalho, descanso
- Proibição das congregações semanal)
religiosas e ordens monásticas; - Habitação, saúde, assistência
- Supremacia do Congresso da
- Registo civil obrigatório para os (bairros operários, hospitais,
República sobre o Governo e o
nascimentos, casamentos e óbitos: sanatórios, creches...)
presidente da república.
- Ensino liberto de influências - Família (casamento civil, divórcio,
religiosas. direitos da mulher e dos filhos)
- Instrução (ensino primário laico e
obrigatório, crescimento do ensino
secundário e superior).

 Dificuldades da 1ª República:
Dificuldades económicas: Portugal, após a implementação da república, mantinha-se ainda aquém do nível de desenvolvimento do resto dos países
da Europa. A agricultura tinha fraco desenvolvimento técnico e a indústria era pouco competitiva e com ausência de infra-estruturas. O esforço de
participação na guerra trouxe dificuldades acrescidas, pois obrigou à subida de impostos, ao recurso a empréstimos e ao aumento significativo da
dívida pública. Como forma de solucionar o desequilíbrio orçamental, os governos procederam à emissão da moeda, provocando a desvalorização
do escudo, o aumento da inflação e a diminuição do poder de compra. A fome e a miséria sentiam-se com a persistente dificuldade de
abastecimentos, a carência de bens e o consequente racionamento de produtos, tornando a vida dos portugueses penosa, afectando até mesmo as
classes médias.

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Instabilidade política e social: O clima de instabilidade política na 1ª República era sentido em diversas formas: em primeiro lugar, devido à falta
de unanimidade de decisões, presente na existência do elevado número de partidos, com diferentes ideias e perspectivas, que se acentuou com a
participação de Portugal na 1º Guerra Mundial. O poder legislativo tinha predomínio sobre o executivo e a constante rotatividade dos partidos e o
seu elevado número num curto espaço de tempo dava descredibilidade à República. As ideias impostas eram demasiado modernas para a
mentalidade da época, como por exemplo a laicização do Estado numa sociedade fortemente cristã. A protecção dos operários gerou grande
descontentamento nas classes privilegiadas e as reformas sociais não implementadas geraram descontentamento na população com manifestações e
greves. A crise de valores dava lugar à corrupção e aumentava as dificuldades económicas de todas as classes, num clima de propagação da crise e
do desemprego.

 Ditadura de Sidónio Pais:


Criavam-se assim condições para golpes de Estado. Foi neste contexto que em Dezembro de 1917, Sidónio Pais instaurou uma ditadura
conservadora conhecida como “República Nova”. Sidónio dissolveu o Congresso, proibiu os partidos da Primeira República e destituiu o
Presidente da República. Alterou a Constituição, mudou a lei eleitoral, concentrou os poderes em si e foi apoiado pelos grandes proprietários e a
alta burguesia, por sectores católicos e pelos republicanos unionistas. Criou um regime centrado na exaltação da mística do Chefe. Apesar do
Sidonismo, estas ações não conseguiram por fim ao antagonismo entre monárquicos e republicanos e Sidónio Pais foi assassinado. Após a morte
de Sidónio, o país viveu um ambiente de quase guerra civil. O regime republicano não conseguia melhorar a credibilidade: as classes médias
urbanas e o operariado ansiavam pelo restabelecimento da ordem e da tranquilidade; os grandes proprietários, a banca e os industriais receavam a
agitação anarco-sindicalista e o perigo bolchevista; a Igreja tornou-se aliada das facções conservadoras. Todos desejavam um governo forno que
garantisse estabilidade, mostrando o exército uma situação favorável a soluções autoritárias. É desta forma que em 28 de Maio de 1926, liderada
pelo general Gomes da Costa, se instaura uma ditadura militar. O governo foi demitido, o parlamento dissolvido e Mendes Cabeçadas foi
encarregue de formar o governo.

O Modernismo Português:
 Em Portugal, assistiu-se a uma forte resistência à inovação e a uma permanência do naturalismo devido à:
- Agitação política de finais do século XIX e inícios do século XX;
- Monotonia do rotativismo político correspondia uma não menos monótona e decadente produção intelectual;
- Os interesses políticos burgueses sobrepunham-se aos interesses culturais, condicionando a liberdade de expressão;
- Ensino anquilosado, submetido à tradição e ao respeito pela experiência e pela longevidade de alguns professores;
- Baixo nível de alfabetização da população portuguesa;
- Mentalidade conservadora: influência religiosa; persistências dos valores aristocráticos.

Primeiro Modernismo (1915- Revista Orpheu) Segundo Modernismo (1927- Revista Presença)
- Publicação de dois números (Março e Junho de 1915), - Inseriu-se intelectualmente na linha de pensamento do
que marcam a introdução do modernismo em Portugal: movimento Orpheu. Continuou a luta pela crítica livre
novas formas e novos temas; poemas de intervenção na contra o academismo literário e, inspirados na
contestação da velha ordem literária; denúncia psicanálise freudiana, os seus intelectuais bateram-se
inconformista da crise de consciência intelectual. pelo primado do individual sobre o colectivo, do
psicológico sobre o social, da intuição sobre a razão.
-Assumiu-se como uma rutura com os valores do
naturalismo e com academismo. Opôs-se ao gosto - O modernismo português ganhou maior
burguês que perdurava desde os oitocentos. Foi o individualidade face à Europa, acrescentado-lhe
primeiro momento de modernidade em Portugal. características próprias. Ao nível temático, adquiriu
Profundamente urbano, reflectiu as tendências das maior emotividade e expressividade. Encontrou
vanguardas europeias. Foi influenciado pela arte inspiração na arte popular portuguesa. Valorizou a
primitiva e tribal. Encontrou forte inspiração no ingenuidade na arte enquanto valor essencial da criação
cubismo e no futurismo. Apresentou novos valores artística. Afastou-se da urbanidade e procurou
plásticos como uma maior simplicidade do desenho, a distnaciar-se da vida intelectual lisboeta.
desconstrução do espaço e o suo de cores fortes e
contrastantes. Assumiu-se como um movimento - Arquitectura: Aproximou-se da modernidade
provocatório que visava abalar a sociedade e as suas europeiua que associou a uma identidade nacional.

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convenções. Inaugurou, na literatura, novos métodos de
escrita, onde o cumprimento da pontuação, a
apresentação gráfica, o encadeamento do discurso e a
inteligibilidade do texto foram colocados de lado.

- Arquitectura: Os edifícios apresentaram maior


racionalidade e simplicidade de traço.

- Escultura: Apreendeu os valores expressionistas e pôs


fim à representação clássica.
- Colaboradores: Miguel Torga, Adolfo Casais
- Colaboradores: Mário de Sá-Carneiro, Almada
Monteiro, Aquilino Ribeiro e Ferreira de Castro
Negreiros e Fernando Pessoa, Santa-Rita Pintor, José
Vitorino Nemésio, Pedro Homem de Mello, Vieira da
Pacheco, Amadeu Sousa Cardoso
Silva, Abel Manta

2.
2.1 A grande Depressão e o seu impacto social
A crise dos anos 30
 Nos anos 20, vivia-se um período de propriedade nos EUA devido a vários factores:
- Livre produção (Capitalismo Liberal);
- Progresso tecnológico (novos métodos de produção: Taylorismo, Fordismo, homogeneização e estandardização da produção, produção em série
e massa);
- Facilitação do crédito (aumento do poder de compra);
- Especulação bolsista (aumento do valor artificial das ações);
- Consumismo desenfreado (ligado à facilidade de produção e de compra).

 A partir de 1927, começaram a surgir os primeiros sinais da fragilidade da economia americana:


- O excesso de produção levou à venda abaixo dos preços de custo, na tentativa de escoar os produtos, levando à deflação dos preços, à diminuição
dos rendimentos e à descida da produção;
- A modernização dos processos produtivos e a racionalização do trabalho agravou o desemprego;
- A acumulação de stocks agrícolas e matérias-primas industriais cresceu, devido à estagnação do consumo, interno e externo, provocando uma
crise de superprodução;
- O consumo e o poder de compra eram mantidos de forma artificial e ilusória, uma vez que assentavam no recurso a créditos;
- Crash da bolsa de Nova Iorque a 24 de Outubro de 1929: Milhares de ações são postas à venda e não encontraram comprador, fazendo descer
acentuadamente o seu valor. Milhares de pessoas perdem as suas poupanças e deixam de conseguir pagar os empréstimos aos bancos, que ficam
com milhares de prejuízos e entram em falência;
- As empresas, com dificuldades para pagar os salários aos operários tentam pedir empréstimos aos bancos mas estes por sua vez também se
encontravam em crise. Há uma falência das empresas por falta de capital e investimento;
- Generaliza-se o descontentamento social, a miséria, a fome e a marginalização devido ao desemprego ;

Crise Económica devido à Superprodução/ Mundialização da crise:


- Nos países fornecedores de matérias-primas;
- Nos países dependentes dos créditos americanos;
- Declínio do comércio mundial;
- Persistência da deflação.

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2.2 As Opções Totalitárias: O Fascismo Italiano e o Nazismo Alemão
 Durante a década, vários foram os factores da emergência de regimes autoritários:
- A agitação social e o desemprego;
- A instabilidade política e a ameaça da revolução bolchevique;
- O avanço do radicalismo e o “medo vermelho”;
- A descrença das classes médias e do operariado nas democracias liberais, sobretudo nos países onde a experiência democrática era recente e a crise
económica e financeira era profunda;
Os regimes totalitários foram em grande parte resultado dos efeitos da Primeira Guerra Mundial, agravados pelas consequências da crise de 1929.

 Totalitarismo: Designa o sistema político em que o Estado se sobrepõe ao indivíduo e onde o partido único, liderado por um chefe, promove uma
ideologia oficial que deve ser seguida, não admitindo qualquer forma de contestação, e estendendo o controlo total a todos os domínios da
sociedade e da economia. A polícia política e outros meios repressivos e de terror são responsáveis pela garantia da ordem e pelo funcionamento
do regime totalitário.

 Os regimes totalitaristas rejeitavam diversos conceitos:


- O individualismo- os direitos do indivíduo tinham de estar submetidos ao interesse do Estado;
- O princípio liberal da igualdade dos homens no nascimento- determinadas raças nascem para comandar e outras para obedecer;
- O princípio liberal da liberdade- resulta na divisão e enfraquecimento do Estado;
- O princípio liberal da fraternidade pois os totalitarismos contêm em si a guerra;
- A democracia- considerada um regime de fraqueza. A escolha dos governantes pelo povo é inútil demagogia;
- O pluripartidarismo, que apenas gera divisões e discussões inúteis;
- O sistema parlamentar, manifestação de fraqueza do Poder, por não passar de um jogo estéril, de verbalismo alheio aos interesses da Nação;
- O socialismo e o comunismo, porque assentam na luta de classes e consideravam os responsáveis pela destruição dos valores tradicionais e uma
ameaça à ordem nacionalista;
- O liberalismo económico, por privilegiar os interesses individuais contra os interesses do Estado.

 Por outro lado tinham diversas formas de afirmação:


O Autoritarismo do Estado: Os fascismos defendiam a instauração de um Estado forte e centralizado, cuja autoridade prevalecia sobre os direitos
e as liberdades individuais. O Estado Forte devia ser liderado pelo chefe, homem providencial, que concentrava em si todo o poder, reunindo o
poder legislativo e executivo. Alvo de um culto, o chefe era considerado o intérprete da vontade nacional, aquele que deve ser seguido de forma
cega e obediente, apoiado numa administração submissa. Ainda que existissem assembleias nacionais, estas não eram representativas da soberania
popular e a sua função estava limitada à vontade do partido único e do seu líder. Para os fascismos, o indivíduo submetia-se aos interesses do
Estado e da nação.

O Nacionalismo Exacerbado (ou ultranacionalismo): Apelavam à grandeza e à gloria da nação e aspiravam à hegemonia do seu povo. Esta
característica surge associada ao imperialismo e ao militarismo. No caso da Itália, procurava alcançar as grandezas do antigo Império Romano. No
caso da Alemanha, traduziu-se na defesa da ideia da criação de um império alemão, dominando outros povos da Europa considerados inferiores,
criando o “Espaço Vital”.

Elites e enquadramento das massas: Os movimentos fascistas aceitavam a desigualdade social, acreditando “que uns nasciam para liderar e outros
para serem liderados”. As elites, constituídas por membros do partido único, considerados os melhores da sua raça, eram escolhidos para liderarem
o governo da nação e para orientarem as massas. Desde a mais tenra idade, o indivíduo encontrava nas organizações paramilitares fascistas de
juventude, de frequência obrigatória, um lugar e um papel a desemprenhar em prol do Estado. A inculcação dos valores fascistas era feita também
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pelos professores e pelos manuais que promoviam a submissão e a obediência, e anulavam a crítica e a vontade individual. O novo indivíduo
guiava-se pela devoção e culto ao chefe, pela defesa do Estado e pelos valores da guerra e do desporto.

A propaganda: A difusão dos princípios fascistas foi garantida por uma máquina de propaganda, que modelava a opinião pública através de
informação controlada, manifestada de diversas formas como desfiles comemorativo com discursos oratórios. Mussolini e Hitler utilizaram
também a arte como veículo de divulgação dos valores dos movimentos fascistas totalitários. A censura foi um meio que serviu para reforçar os
valores do regime e impedir qualquer forma de dissidência.

O culto da força e da violência: Os movimentos fascistas perpetuaram-se no poder graças à organização de um sistema fortemente violento e
repressivo que denunciava, perseguia, prendia e torturava todos aqueles que se opunham e contestavam as directrizes do líder e do partido. As
organizações paramilitares e a polícia secreta (possuidoras de informações vitais) espalharam o terror entre todos aqueles que eram considerados
perigosos ou adversários do regime, enviados para campos de concentração.

Um novo Homem: Procuraram criar um novo Homem, formado nos valores do fascismo: o heroísmo guerreiro, a obediência, a disciplina, ou seja,
o combatente que luta energicamente pela defesa do chefe, do Estado, do povo e da raça. O militarismo tronou-se numa vertente do fascismo, com
vista a preparar o povo e a nação para a guerra.

A negação dos direitos humanos e o racismo: A ideologia nazi assumiu como princípio ideológico o racismo: defesa da superioridade da raça
ariana; adopção de práticas repressivas e de legislação que visavam o aperfeiçoamento físico e mental da raça ariana; perseguição, marginalização e
extermínio dos fracos, degenerados, ciganos, eslavos, socialistas, comunistas e liberais. Propagou-se o anti-semitismo.

A autarcia como modelo económico: Na sua prática económica adoptaram formas de organização que tinham em vista a recuperação económica e
a promoção da autarcia (auto-suficiência) da nação, reduzir a dependência face ao estrangeiro, proteger a economia nacional das crises capitalistas e
exercer um controlo ou dirigismo sobre a economia.

Corporativismo Italiano:
- Enquadramento da população trabalhadora em sindicatos fascistas e corporações mistas;
- Proibição da greve e do lock-out;
- Superintendência da contratação colectiva;
- Substituição da Câmara dos Deputados pela Câmara dos Fasci e Corporações;
- “Batalha da Produção” (Do Trigo, da Lira e da Bonificação);
- Abolição da livre iniciativa e da livre-concorrência;
- Iniciativa económica a cargo do Estado;
- Fixação dos preços e dos salários;

- Controlo dos trabalhadores;


- Aumento de produção;
- Fortalecimento do Estado fascista.

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Na Alemanha:
- Relançaram-se as indústrias;
- Recorreu-se à concentração industrial;
- Criou-se um programa de rearmamento;
- Promoveram-se obras públicas;
- Incentivou-se a produção agrícola com o principal objetivo de alcançar a autarcia.

Em ambos os países:
- Estimulou-se o consumo de produtos nacionais, de modo a aumentar a produção;
- As tarifas alfandegárias foram aumentadas para diminuir as importações.

2.2.2 Estalinismo:
Depois da morte de Lenine em 1924 e uma luta pelo poder com Trotsky, Josef Estaline assumiu a liderança da URSS em 1928. Manteve a
estrutura de partido único e o controlo da economia por parte do Estado mas abandou a NEP, achando que o retroceder à iniciativa privada
punha em risco a edificação da sociedade sem classes, ao permitir o reaparecimento de pequenos proprietários (kulaks e Nepmen).
Como o objectivo de acabar com o atraso económico e industrial da URSS face aos países desenvolvidos, Estaline adoptou diversas medidas:

1) Planificação da economia:
- Através de um organismo estatal oficial, o Gosplan, foram definidos planos quinquenais, cada qual com objectivos e prazos para a actividade
económica, bem como os sectores a privilegiar e os meios a utilizar. Deu-se prioridade essencialmente à indústria pesada e à indústria química. Esta
política económica teve resultados notórios e a URSS alcançou o lugar de terceira potência industrializada do mundo, muito devido à custa do
bem-estar dos operários. Estes eram apelados a se superarem para produzirem mais, muitas vezes incentivados com prémios de produtividade e
condecorações aos operários que produziam acima do nível médio.

2) Colectivização dos campos:


- Em simultâneo com o programa de industrialização, assistiu-se a uma colectivização dos campos, através de uma deskulakização forçada. Os
Kulaks foram obrigados a entregar as suas terras e gado, sendo integrados nos kolkhoz (quintas colectivas onde os camponeses entregavam parte
da produção ao Estado e recebiam a sua parte em função do trabalho realizado) e nos sovkhoz (herdades do Estado, geridas como uma fábrica,
onde os camponeses eram assalariados). Muitos foram os que não se submeteram à colectivização e neste sentido foram alvo de forte repressão,
sendo alguns deportados para a Sibéria e outros mesmos executados. A deskulakização era uma etapa transitória, necessária para alcançar a total
socialização das terras e para libertar a mão-de-obra para o processo de industrialização em curso. Pretendia aumentar a produção agrícola, de
modo a alimentar as cidades industriais.

3) Burocratização do Estado:
- Estaline tornou-se a figura central da URSS. Secretário-geral do partido comunista, ocupou o topo da hierarquia num país em que o Estado e o
partido se confundiam e que as ordens eram seguidas de forma inquestionável. A Constituição de 1936 reforçou o poder do partido comunista e
fez de Estaline o detentor da autoridade suprema, com a ajuda de uma nova classe de funcionários (os apparatchik), criteriosamente seleccionados
e doutrinados pelas orientações de uma máquina burocrática e administrativa (nomenklatava). Em torno do líder desenvolveu-se um grande culto
de personalidade, vendo este como uma figura paternalista que levou a URSS ao seu grande esplendor. Para além deste culto, os princípios e
valores do regime eram transmitidos com a mobilização das massas em recrutamentos para o partido, para os sindicatos autorizados e para as
organizações de juventude como os Pioneiros e a Komsomol.

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4) Repressão:
- A política estalinista assumiu um carácter fortemente repressivo. A polícia política (KGB) prendia os suspeitos de actividades consideradas
contra-revolucionárias, bem como aqueles que não as denunciavam, sendo executados ou deportados para campos de trabalhos forçados (os
Gulag). Entre 1937 e 1938 viveram-se anos de terror devia às inúmeras purgas que atingiram os “inimigos do povo” (bolcheviques), acusados de
conspiração e condenados em julgamentos-espectáculo.

2.3 Resistência das democracias liberais:


 Devido à crise de 1929 e à sua longa depressão nos anos 30, muitos foram os países que, confrontados com o elevado desemprego, a quebra do
consumo, da produção e o empobrecimento das famílias, resistiram à tentação da implementação de regimes totalitários. É face a esta situação que
nesta altura surge um novo modelo económico (o Intervencionismo), baseado na nova teoria económica de John Mayard Keynes (o
keynesianismo), segundo a qual o Estado devia intervir na economia de modo a corrigir os problemas causados pelo liberalismo económico e pelas
crises do capitalismo, promovendo o aumento da produção. O impulso da economia era feito através de uma política de investimento público a
par de uma desvalorização monetária, que passava por um aumento do défice público, mal necessário e passageiro para estimular a economia e
relançá-la.
Os EUA:
 Tomando posse em 1933, o presidente americano Franklin Delano Roosevelt anunciou uma nova política económica denominada por New Deal.
Na sua primeira fase (1933-1935), procurou-se relançara a economia, combater o desemprego, aumentar o poder de compra e consequentemente
a produção. No período conhecido como “Os Cem Dias”, Roosevelt tomou diversas medidas em vários campos:

1) Financeiras e monetárias:
- Encerramento temporário das instituições financeiras;
- Aprovação da lei Emergency Banking Act, que estabeleceu a diferença entre bancos de depósito e de investimento, para regular o sistema
financeiro;
- Desvinculação do dólar do padrão-ouro e a sua desvalorização para aumentar as exportações, diminuir as dívidas dos agricultores e aumentar a
subida dos preços agrícolas e industriais.

2) Agrícolas:
- Aprovação da lei Agriculture Adjustement Act (AAA) destinada a limitar a produção agrícola, para aumentar os preços;
- Concessão de indeminizações aos agricultores, para a destruição de stocks e para a redução da superfície cultivada;
- Concessão de empréstimos aos agricultores, a longo prazo e a taxas favoráveis.

3) Industriais:
- Aprovação da lei National Industrial Recovery Act (NIRA) que propôs aos industriais do mesmo ramo de actividade, a assinatura de um código
de “concorrência leal”, beneficiando de ajudas estatais.
- Estabelecimento de preços mínimos e de quotas de produção, destinadas a diminuir os preços dos produtos industriais.

4) Socioecónomicas:
- Fixação do horário semanal entre as 35 e as 40 horas, em função dos ramos de actividades;
- Estabelecimento de um salário mínimo;
- Autorização da liberdade sindical, cabendo aos delegados dos operários a negociação, com o patronato, de contractos colectivos;
- Combate ao desemprego através da criação de um organismo estatal (Public Workd Administration), encarregue de fomentar o emprego;
- Desenvolvimento de um programa de obras públicas (barragens, estradas, vias férreas), ao nível dos vários Estados federais;
- Programa de contratação de jovens desempregados para trabalhos de conservação (plantação de árvores, manutenção dos parques nacionais e
construção de canais de irrigação).

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 A segunda fase do New deal foi marcada pelo estabelecimento do seguro de velhice e de sobrevivência. A aprovação da lei Social Security Act
criou um sistema federal de apoio à velhice, o subsídio de desemprego e a assistência médica a desfavorecidos. Surgia um estado de carácter social-
o Estado-Providência. A criação do organismo Working Progress Administration permitiu o aumento do número de empregos. Institui-se a
National Youth Administration, com vista a empregar os licenciados sem trabalho. A aprovação da lei Wagner reforçou os direitos e as liberdades
sindicais dos trabalhadores, impedindo o despedimento dos operários sindicalizados.

 O New Deal mudou a vida de milhares de Americanos e trouxe inúmeras consequências positivas:
- Diminuição do desemprego;
- Aumento do poder de compra;
- Aumento da produção;
- Modernização do país e melhoria das condições de vida através do programa de obras públicas e de assistência social.

França:
 - Durante os anos 30, debateu-se na França uma crise profunda sentida no elevado desemprego e na descrença na democracia parlamentar. Vendo
que poderia acontecer um golpe de Estado para instaurar um regime de tipo fascista por parte das forças de direita, a 6 de Fevereiro de 1934
assistiu-se à formação de uma coligação entre as organizações antifascistas e os partidos de esquerda, denominada Frente Popular.

 Sob o lema “Pão, Paz e Liberdade”, a coligação da Frente Popular tinha como objectivos resolver a crise económica, pôr fim ao desemprego e
fazer frente ao fascismo.

 Depois da vitória nas eleições, da subida ao poder de Léon Blum e da vaga grevista com ocupações das fábricas, implementou-se os acordos de
Matignon, que resultaram da negociação entre o patronato e a Confederação Geral do Trabalho (CGT), mediados pelo governo. Possibilitaram
pacificar o clima social, através da aprovação das seguintes medidas:
- Aumento médio dos salários;
- Assinatura de contractos colectivos de trabalho;
- Eleição de delegados dos trabalhadores nas empresas;
- Reconhecimento aos operários do livre exercício do direito sindical, em troca do fim das greves e das ocupações;
- Concessão de 15 dias de férias pagas aos trabalhadores e limitação do horário semanal para 40 horas;
- Política cultural: redução dos bilhetes de comboio e das entradas em museus, bem como a construção de albergues de juventude, promovendo
uma cultura popular;
- Reforma dos mineiros;
- Nacionalização das indústrias de aeronáutica, de armamento e dos caminhos-de-ferro;
- Aumento dos poderes do Estado sobre o Banco de França;
- Programa de obras públicas e aumento da escolaridade obrigatória até aos 14 anos.

Espanha:
 Durante a Segunda República, em 1936, criou-se uma frente eleitoral, também designada Frente Popular, que reuniu os principais partidos de
esquerda. O governo da Frente Popular, após ter ganho as eleições (Manuel Azaña), aprovou diversas medidas das quais se destacam:
- A amnistia dos presos políticos e de delito comum;
- A diminuição dos impostos;
- O restabelecimento do estatuto calão e a aprovação das autonomias da Galiza e do País Basco;
- A melhoria das condições de vida dos trabalhadores, devido ao aumento dos salários.

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 Face a estas medidas populares e de cariz centralizador, a direita conservadora (Frente Nacional- Nacionalistas) reagiu. Iniciou um
pronunciamento militar, destinado a derrubar o governo da Frente Popular (republicanos). Começava a guerra civil espanhola que terminou com a
vitória dos nacionalistas e com a instauração de um regime autoritário liderado por Francisco Franco.

2.4 A dimensão social e política da Cultura


A cultura de massas e os meios de comunicação:
 Durante a década de 30 os meios de comunicação tornaram-se mais acessíveis; o entretenimento tornou-se indispensável; o desejo de evasão
marcou a vida moderna. Afirmou-se a cultura de massas: popular, de linguagem fácil, uniformizadora dos padrões culturais (estandardização de
comportamentos), beneficiada pelo desenvolvimento dos meios de comunicação. Os entretenimentos colectivos como os desportos (ciclismo,
futebol e corridas de automóveis) popularizaram-se. O alargamento da alfabetização permitiu o aumento do número de leitores de publicações
escritas. A rádio, a literatura e o cinema tornaram-se meios de divulgação de informação e influenciação dos comportamentos.

As preocupações sociais na literatura e na arte:


 A literatura mostrou preocupações com o contexto social e político; continuou a ser complexa mas voltou-se para o exterior e para os problemas
do mundo. A arte americana voltou-se para o naturalismo e para a descrição social da realidade.

O Funcionalismo e o Urbanismo:
 Os Estados repensaram os edifícios e as cidades, para serem eficientes e funcionais devido ao aumento da urbanização. Assistiu-se ao aparecimento
de uma nova teoria, o Funcionalismo, segundo a qual os edifícios e os objectos devem ser construídos e subordinados à sua função. A arquitectura
funcionalista apresentou diversas características:
- Ausência de ornamentos;
- Predomínio de linhas rectas;
- Janelas de grandes dimensões;
- Uso de pilares para sustentar as construções;
- Enquadramento dos edifícios no espaço urbano.
O funcionalismo orgânico procurou a ligação Homem/Natureza, criando construções mais humanizadas.

A Cultura e o desporto ao serviço dos Estados:


 Na Rússia Estalinista, foi adoptado o realismo soviético que exaltava as realizações do povo e da revolução. Na Alemanha nazi, a arte foi colocada
ao serviço do regime para defender os valores nacionais e as virtudes da raça ariana. O desporto esteve ao serviço dos regimes totalitários e foi uma
forma de mostra a sua superioridade, a propaganda e a valorização da juventude e da raça.

2.5 Portugal: O Estado Novo


Dificuldades da 1º República:
- Dificuldades económicas: Portugal, após a implementação da república, mantinha-se ainda aquém do nível de desenvolvimento do resto dos
países da Europa. A agricultura tinha fraco desenvolvimento técnico e a indústria era pouco competitiva e com ausência de infra-estruturas. O
esforço de participação na guerra trouxe dificuldades acrescidas, pois obrigou à subida de impostos, ao recurso a empréstimos e ao aumento
significativo da dívida pública. Como forma de solucionar o desequilíbrio orçamental, os governos procederam à emissão da moeda, provocando a
desvalorização do escudo, o aumento da inflação e a diminuição do poder de compra. A fome e a miséria sentiam-se com a persistente dificuldade
de abastecimentos, a carência de bens e o consequente racionamento de produtos, tornando a vida dos portugueses penosa, afectando até mesmo as
classes médias.

Instabilidade política e social: O clima de instabilidade política na 1ª República era sentido em diversas formas: em primeiro lugar, devido à falta
de unanimidade de decisões, presente na existência do elevado número de partidos, com diferentes ideias e perspectivas, que se acentuou com a
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participação de Portugal na 1º Guerra Mundial. O poder legislativo tinha predomínio sobre o executivo e a constante rotatividade dos partidos e o
seu elevado número num curto espaço de tempo dava descritibilidade à República. As ideias impostas eram demasiado modernas para a
mentalidade da época, como por exemplo a laicização do Estado numa sociedade fortemente cristã. A protecção dos operários gerou grande
descontentamento nas classes privilegiadas e as reformas sociais não implementadas geraram descontentamento na população com manifestações e
greves. A crise de valores dava lugar à corrupção e aumentava as dificuldades económicas de todas as classes, num clima de propagação da crise e
do desemprego.

Princípios ideológicos:
- Autoritarismo: O Estado Novo rejeitou a democracia parlamentar (antidemocrático e antiparlamentar), o liberalismo (antiliberal) e o
pluripartidarismo (anti partidário), e assumiu-se como um regime autoritário e de um Estado forte, traduzido no slogan “Tudo pela Nação, nada
contra a Nação” (recusava a soberania popular; impedia a realização de eleições livres; os direitos individuais não eram respeitados). A existência
de inúmeros partidos com ideias diferentes e interesses particulares, levou à criação de um partido único, a União Nacional (Congregava as forças
da Direita: antimarxistas, conservadoras e defensoras dos valores tradicionais). A Constituição de 1933 enquadrou os novos princípios ideológicos
e consagrou a criação de um Estado unitário e corporativo, com 4 órgãos de soberania: o Presidente da República, a Assembleia Nacional, o
Governo e os Tribunais. O poder executivo, controlado por Salazar, assumiu um lugar preponderante, cabendo ao chefe de Governo a iniciativa
legislativa mas submetendo sempre o poder legislativo ao executivo. O poder centrou-se em Salazar, presidente do Concelho, considerado chefe da
Nação, o símbolo do poder e da unidade, cuja imagem era objecto de culto e centro da propaganda do regime.

- Nacionalismo: O nacionalismo constitui-se como outros dos princípios ideológicos do Estado Novo, com base no culto do passado histórico da
nação, a fim de fazer ressurgir a crença no sentimento nacional. A unidade nacional e a valorização do povo português foram elementos da
narrativa do Estado Novo: mitificou-se a ideia do passado glorioso da pátria e dos portugueses como um povo de heróis; valorizaram-se as
tradições populares e os elementos tipicamente portugueses; exaltou-se a singularidade da nação, realçando as virtudes ímpares. O Estado Novo
assentou nos valores da tradição e do conservadorismo. Sob a égide “Deus, Pátria e Família” erguiam-se os valores nacionais, inquestionáveis. A
religião católica era um pilar fundamental do Estado Novo, visto que a devoção religiosa e o fervor católico eram valores já fortemente enraizados
na sociedade portuguesa. O ensino religioso voltara a ser reintroduzido. A família, elemento estruturante da sociedade, assentava na autoridade do
pai, na obediência dos filhos e na honra e submissão da mulher. Era o garante do equilíbrio social, um dos principais esteios da sociedade. Os
valores materiais subordinavam-se aos morais, vivendo-se de forma pacata, obediente, cultivando-se a modéstia e a simplicidade. Apelava-se o
ruralismo.

- Repressão: O Estado Novo que recusava o liberalismo e a democracia dispunha de diversos meios de repressão de modo a controlar a
informação, a contestação e a desobediência política:
- Censura,
- Polícia Política (PVDE- PIDE- DGS);
- Uso de tortura nos interrogatórios;
- Proibição dos sindicatos livres e da corporativização;
- Criação de prisões (Caxias e Peniche);
- Campos de concentração (Tarrafal e S. Nicolau, em Cabo Verde; Machava, em Moçambique).

- Doutrinador: Como forma de veicular os princípios ideológicos do Estado Novo e de promover a adesão ao regime, criaram-se diversas
instituições e utilizaram-se vários meios que permitiram o enquadramento das massas: o partido único, o Secretariado da Propaganda Nacional, o
ensino, a Ação Escolar de Vanguarda e a Mocidade Portuguesa, a Legião Portuguesa, o juramento dos funcionários públicos, a Fundação Nacional
para a Alegria no Trabalho, a Mocidade Portuguesa Feminina e o movimento da obra das Mães para a Educação Nacional.

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- A recuperação económica: O controlo das finanças e o equilíbrio orçamental foram uma prioridade para o Estado Novo. A Constituição de
1933 permitiu um Estado intervencionista, que regulava a economia, permitindo a iniciativa particular no âmbito do corporativismo. Criou uma
política económica virada para a autarcia. Assistiu-se a superavit nas contas públicas graças principalmente ao aumento dos impostos, aos baixos
salários e às menores importações (com altas taxas alfandegárias).

- A defesa da ruralidade: O Estado Novo fez da defesa da ruralidade uma das suas imagens de propaganda. A valorização da agricultura e o
fomento agrícola visavam garantir a autarcia e diminuir a dependência face ao estrangeiro, contribuindo também para o aumento das exportações.
Salazar lançou diversas campanhas agrícolas com vista a desenvolver inúmeras culturas como a da vinha, a produção do azeite, da cortiça, da batata
e da fruta, mas destacou-se, com inspirações em Mussolini, a campanha do trigo, que abasteceu o mercado interno e temporariamente o externo.
Estas campanhas permitiram aumentar do emprego rural e o desenvolvimento dos sectores industriais ligados à produção agrícola. A política da
ruralidade foi também marcada por um plano de florestação, um aproveitamento dos recursos hidráulicos e com o processo de colonização
interna.

- Obras públicas: O Estado Novo, pela mão de Duarte Pacheco, ministro de Oliveira Salazar, empreendeu um vasto programa de obras públicas,
com vista a modernizar o país, a impulsionar o desenvolvimento económico e a reduzir o desemprego. No domínio das infra-estruturas, procedeu-
se à construção de estradas, auto-estradas, à expansão da rede ferroviária e aérea, construíram-se barragens e centrais hidroeléctricas. Os meios de
comunicação como as redes de telefone e telégrafo expandiram-se. Assistiu-se à construção de vários equipamentos públicos como hospitais,
escolas, tribunais, prisões e estádios. Promoveu-se o restauro de vários monumentos nacionais.

- Condicionamento industrial: A política do Estado Novo, no domínio industrial, ficou marcada pela adopção do condicionamento industrial, que
tinha os seguintes objectivos:
- A intervenção do Estado na economia,
- A imposição de regras para evitar a superprodução;
- A defesa do nacionalismo económico;
- A regulação da actividade produtiva e da concorrência;
- A atenuação do desemprego.
O Estado era o mediador entre os interesses privados e os interesses colectivos, a quem competia organizar e gerir os diferentes sectores de
actividade, autorizado a instalação de novas fábricas, a montagem e a substituição de maquinaria. Esta característica da política económica impediu
a concorrência, contribuiu para o aumento da burocratização, protegeu empresas, favoreceu a concentração industrial em determinados sectores de
actividade e limitou a modernização.

- Corporativismo: O corporativismo garantiu a colaboração entre as classes e a conciliação dos interesses do patronato e dos assalariados, para
assegurar o bem comum e a unidade nacional. A sua adopção levou à criação da Câmara Corporativa que representava os “interesses sociais” mas
era inferior à Assembleia Nacional e ao governo. O Estado dispunha de diversos organismos corporativos: as corporações (organização unitária das
forças de produção que integrava os sectores económicos e as corporações culturais, as Federações e Uniões (compreendiam as associações de
sindicatos, as uniões de grémios e as uniões de casas do povo), os Grémios (reuniam o patronato e as empresas privadas em geral), os Sindicatos
Nacionais (reuniam os trabalhadores do comércio e da indústria), as Casas do Povo (reuniam os agricultores e os proprietários agrícolas de cada
freguesia) e as Casas dos Pescadores (reuniam os pescadores e os seus patrões em cada freguesia). O corporativismo considerava ainda a greve um
“delito político” e uma “rebelião”, condenando o despedimento colectivo por parte dos patrões (lockout). Aboliu os sindicatos livres e decretou a
inscrição obrigatória nos sindicatos nacionais.

- Política Colonial: O Ato Colonial consagrou a noção de Império Colonial Português, valorizou a mística da vocação imperial de Portugal e a
ideia de um país que abrangia um vasto território pluricontinental. A acção de Portugal nas colónias era encarada como uma missão civilizadora
com vista a educar e a cristianizar os povos autóctones. Em termos económicos, estabelecia-se a complementaridade entre a economia da

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metrópole e a das colónias. As colónias afirmavam-se como mercados de escoamento dos produtos industriais metropolitanos, enquanto a
metrópole recebia as matérias-primas coloniais, a preços reduzidos. As colónias estavam submetidas aos interesses da metrópole, devendo a sua
política de desenvolvimento ter em conta os interesses metropolitano, numa clara posição de dependência. A mística imperial e a vocação
civilizadora foram propagandeadas através de um conjunto variado de actividades como congressos, colóquios, conferências coloniais e exposições.

- Projecto Cultural do Regime: O SPN concebeu um projecto totalizante ao nível da cultura. Exaltou as realizações do regime, procurou ligar a
imagem do chefe, do país e do Estado à tradição, à História heróica portuguesa, à exaltação da pátria e dos valores tradicionais (conservadores e
ruralistas). O Estado Novo, através do SPN, desenvolveu a “Política do Espírito”, para elevar o nível cultural dos portugueses, valorizar o espírito
nacional e a cultura popular. Padronizou-se a cultura e restringiu-se a livre produção cultural, por ser contrária aos princípios do regime. Foram
promovidas exposições, festivais de folclore, concursos e criaram-se prémios literários e artísticos. O regime participou em inúmeras exposições
internacionais para ganhar visibilidade e publicou obras propagandísticas.

1.1 A reconstrução do Pós-guerra


O importante a reter sobre a 2ª Guerra Mundial:
 A 2ª guerra mundial colocou frente a frente dois modelos políticos: de um lado as democracias, do grupo dos Aliados e do outro os regimes
totalitários (fascismo e nazismo), das potências do Eixo Berlim-Roma-Tóquio. Esta guerra trouxe uma enorme destruição da Europa a todos os
níveis, quer económico pela desregulação da economia com a destruição de campos agrícolas, fábricas e habitações que baixaram a produção e
trouxeram a fome e a miséria, quer social pelo elevado número de mortes e baixa da mão-de-obra. Inúmeros foram os países que foram ocupados e
submetidos aos regimes das potências do Eixo, traduzindo numa imperialismo e expansionismo destes regimes autoritários. A Sociedade das
Nações fracassa ao não conseguir dar resposta às invasões por parte da Itália e da Alemanha, aliando a este factor à excessiva preocupação ocidental
com a expansão do Comunismo, que “cegou” as potências e permitiu à Alemanha rearmar-se. Do lado ocidental couve à Inglaterra, aos EUA e à
França o papel de recuperar as terras ocupadas pela Alemanha e do lado de leste couve à URSS o papel de desnaszificar os países ocupados.
Os problemas que surgiram depois da 2ª Guerra Mundial
 Antes mesmo da 2ª Guerra Mundial acabar, os países Aliados já colocavam a questão que regime deveriam adoptar os países desnazificados, visto
que, apesar de combaterem juntos, os países oscilavam entre o modelo do Capitalismo e o do Comunismo. Era necessário redesenhar as fronteiras
e estabelecer novos governos nos países libertados, reorganizando o mapa político. Por outro lado, devido ao fracasso da Sociedade das Nações,
ponderava-se a criação de uma organização capaz de fortemente evitar uma nova guerra e estabelecer a paz. Por fim era necessário reconstruir as
infra-estruturas e relançar a economia internacional.

As soluções para os problemas gerados pela 2ª Guerra Mundial


A paz começou a ser preparada ainda no desenrolar da guerra. As conferências de Ialta e de Potsdam foram as mais importantes na definição da
nova ordem internacional no pós-guerra

A Conferência de Ialta (4 a 11 de Fevereiro de 1945), deliberou:


 A decisão da realização da conferência para a criação da ONU;
 O acordo quanto ao desmembramento da Alemanha, com a sua divisão em quatro zonas de ocupação;
 O estabelecimento do montante das reparações de guerra a pagar pela Alemanha;
 A definição das fronteiras da Polónia e a organização de um governo provisório com uma base política alargada e democrática;
 O acordo para que os povos da Europa libertada pudessem escolher, em eleições livres e pluralistas, os seus governantes;
 A realização do julgamento dos crimes de guerra.

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A Conferência de Postam (17 de Julho a 2 de Agosto de 1945), traduziu-se na concretização das decisões da conferência de Ialta:
 Separação da Alemanha da Áustria;
 Criação de um tribunal, em Nuremberga, para julgamento dos crimes de guerra cometidos pelos nazis;
 Divisão da Alemanha em quatro zonas de ocupação (americana, inglesa, soviética e francesa);
 Desnazificação, democratização, descartelização e desmilitarização da Alemanha;
 Definição das fronteiras da Polónia;
 Definição do montante de indeminizações de guerra;
 Elaboração da Declaração de Potsdam, que definiu os termos da rendição do Japão.

 As Conferências de Ialta e de Potsdam revelaram alguma tensão devido à clara intenção de Estaline em estender a sua influência sobre o Leste
Europeu, com base na legitimidade de ter libertado esses países do domínio nazi, onde os partidos comunistas já ganhavam ascendência e criavam
governos. Marcava-se o início da divisão ideológica da Europa, no que Winston Churchill chamou de cortina de ferro, uma divisão imaginária
entre os países de influência capitalista e os de influência comunista.

A ONU:
 Criada em Abril de 1945, tinha como objectivos alcançar a paz, garantir a segurança e promover a cooperação entre as nações, apaziguando as
tensões internacionais, promovendo o bem-estar dos povos e dos mais favorecidos, com desenvolvimento dos cuidados de saúde, do ensino e da
assistência aos refugiados. Estas preocupações humanitárias foram reforçadas em 1948 com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tem
como seu maior órgão o Conselho de Segurança, responsável pelas sanções aplicadas aos países que violem a Carta das Nações e a manutenção da
paz. Foi a sucessora e resposta à fracassada Ligas das Nações.

A Conferência de Bretton Woods:


 Reunidos em Julho de 1944, sob a coordenação do economista John Maynard Keynes, esta conferência tinha como objectivos repensar a ordem
económica internacional e recuperar a estabilidade económica, garantindo o desenvolvimento e estabilização da moeda. Pretendia-se regular as
taxas de câmbio, evitar a inflação e resolver os problemas do défice da balança de pagamentos, aumentando a cooperação entre os países num
comércio livre e uniformizado. Para tal, foram criadas os seguintes organismos:
- O FMI (Fundo Monetário Internacional), para auxiliar os países com dificuldades no equilíbrio da balança de pagamentos;
- O BIRD (Banco Internacional para a Reconstrução e do Desenvolvimento), para financiar a reconstrução do pós-guerra e, posteriormente,
projectos de desenvolvimento económico;
- O GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), promotor do comércio livre, através da redução de tarifas alfandegárias e da introdução de
regras entre os estados-membros.

A Primeira vaga de Descolonizações do século XX


 A segunda vaga de descolonização deu-se no médio Oriente e na Ásia, preconizada pelos seguintes motivos:
- Sentimento de liberdade e democracia é sentido também nas colónias pois estas lutaram ao lado das suas potências contra a expansão de regimes
totalitários que oprimiam as suas populações;
- Os nacionalismos (que já eram presentes no pós 1ª guerra mundial) ajudavam no sentimento de revolta e autodeterminação;
- Os blocos influenciadores (EUA e URSS), pretendiam alargar a sua área de influência e intrometiam-se no processo de descolonização;
- Os princípios de liberdade dos EUA (que foram antigas colónias) e a visão de um Homem novo com poder do povo na URSS (com também a
luta pela emancipação da libertação dos explorados pelo capitalismo) mostraram um sentimento de liberdade nas colónias.

19
1.2 O tempo da Guerra Fria- A consolidação do Mundo Bipolar
Capitalismo (EUA) Comunismo (URSS)
- Monopartidarismo;
- Multipartidarismo;
- Democracia Popular;
- Democracia (Liberal, cristã e
- Processo das democracias populares
Interna social);
(1947-1950: Período de influência e
- Macartismo (1950-1953: oponha-
de organização política dos países
se fortemente ao Comunismo)
satélites da URSS).
- Doutrina Truman (1947): EUA é
- Doutrina Idanov (1947):
o bastião das democracias
Kominform/Hegemonia Soviética;
Política ocidentais;
- Pacto de Varsóvia (defesa militar);
- NATO (defesa militar);
- Plano Molotov (Ajuda económica
- Plano Marshall e Plano Dodge
aos países orientais satélite sob
Externa (Ajudas económicas à Europa e ao
influência da URSS para
Japão respectivamente para
reconstrução do pós-guerra);
reconstrução do pós-guerra);
- COMECON (Organismo que
- OECE (Organismo que integrou e
integrou e aplicou o plano Molotov);
aplicou os planos económicos);
- KGB (Espionagem).
- CIA (Espionagem).
- Economia estatizada/planificada;
- Economia de mercado; - Industrialização- prioridade à
- Reforço do sector público indústria pesada;
(Estado-Providência) e do - Atrofia do sector terciário;
intervencionismo do Estado (através - Evolução:
Economia de Impostos);
 Até à década de 60:
- Crescimento do sector terciário;
Crescimento intenso;
- Evolução até 1973: crescimento
intenso (O período dos “Trinta  Década de 70 e 80:
Gloriosos”. Deterioração irreversível do
sistema económico.
- Ideal igualatório: sociedade sem
- Sociedade de classes;
classes;
- Intervenção social do Estado:
Sociedade - Preponderância social do alto
Estado-Providência;
funcionalismo;
- Consumismo.
- Baixo índice de consumo.

Períodos da Guerra-Fria:
 A Guerra fria demarcou-se em essencialmente 3 momentos. O primeiro consistiu num equilíbrio pelo terror, onde as duas superpotências voltaram
a rearmar-se militarmente e intervieram na ajuda de vários conflitos a nível mundial (como nos casos do Vietname e da Coreia) na tentativa de
expandir as suas influências. Seguiu-se um período de coexistência pacífica, onde ambos os sectores de influência reflectiram que, caso se
confrontassem militarmente, não haveria nenhum vencedor visto que ambos se destruiriam com as armas atómicas. É nesta fase que surgem
ambientes de grande tensão, com a Crise de mísseis em Cuba, que levou a cedências mútuas nos dois lados. A última fase traduziu-se num
apaziguamento e aproximação da URSS aos EUA com as políticas de Gorbatchev, (como a conferência de Helsínquia e os acordos SALT 1 e 2),
e a perda da influência do Comunismo da URSS soviética. Várias foram as tentativas nos anos 70 e 80 de acender a chama que se apagava da
URSS como o envio de conselheiros militares para a América Central e a invasão do Afeganistão. A Guerra-Fria terminou em 1991, já em 1990
com a unificação das alemanhas (RFA e RDA) mas formalmente com o fim do Pacto de Varsóvia e o desmembramento da URSS.

 A Questão Alemã:
- A questão da Alemanha foi o principal símbolo da guerra-fria, dividindo-se em dois episódios: o Bloqueio de Berlim e a divisão de Berlim. O
Primeiro episódio surgiu após a divisão da Alemanha em 4 partes e da unificação dos regimes democráticos na tentativa da reanimação da
economia alemã, com a criação de uma Assembleia Constituinte e de uma nova moeda, o marco alemão. A URSS viu estas decisões como uma
tentativa de dominação e para retaliar bloqueou os acessos à zona de Berlim Ocidental com o corte das ligações rodoviárias e ferroviárias,
mostrando assim o seu poderio sobre a cidade. Para a resolução do problema, os americanos e ingleses estabeleceram uma ponte área para fornecer
os materiais necessários para a cidade. O segundo episódio surgiu após a criação da RFA e da RDA onde em Berlim, que também ficara dividida,
se construiu um muro que dividia as duas facções e que impedia a passagem da população de Berlim Oriental para a parte Ocidental.

20
O Mundo Capitalista: os “Trinta-Gloriosos”
 O mundo capitalista conheceu um período de prosperidade a partir de 1947-1948 até ao início dos anos 70. Os quase 30 anos de crescimento
económico ficaram conhecidos como os “Trinta Gloriosos”. Durante este período, os EUA reforçaram o seu poder económico e contribuíram
para a recuperação e propriedade dos países da Europa Ocidental.

 Vários foram os factores que contribuíram para a propriedade do segundo pós-guerra:


- As decisões de Bretton Woods, que intensificou o comércio mundial, com vista a manter a ordem económica e estabilização financeira;
- A criação do FMI e do Banco Mundial para a cooperação entre os diferentes países europeus;
- A ajuda económica e financeira dos EUA, sobretudo através do Plano Marshall que aumentou os investimentos e os salários;
- A redução das tarifas alfandegárias e a cooperação comercial internacional, implementada pelo GATT.

 A nível social vários factores foram próprios à propriedade dos “Trinta Gloriosos”:
- O aumento demográfico, conhecido como baby-boom, contribuiu para o rejuvenescimento populacional dos países e possibilitou o crescimento
do mercado interno, devido ao aumento do número de consumidores;
- A disponibilidade de mão-de-obra, não só através do crescimento populacional e da emigração mas também do papel mais activo da mulher;
- O aumento do consumo, devido à subida dos salários, constituiu um estímulo à produção;
- O aumento da escolaridade contribuiu para a existência de uma mão-de-obra mais qualificada e produtiva.

 A política económica e financeira adoptada pelos Estados ocidentais no segundo pós-guerra contribuiu, igualmente, para o grande crescimento
económico dos países do mundo capitalista. Neste período:
- Acentuou-se a intervenção do Estado na economia;
- A disponibilidade financeira conseguida através de ajudas como o Plano Marshall permitiu mais investimento para uma modernização agrícola e
industrial, aumentando a mão-de-obra disponível para o sector terciário;
- A liberalização do comércio com o GATT dinamizou e aumentou as trocas comerciais;
- As matérias-primas baratas aumentaram o lucro da produção mas ao mesmo acentuaram a diferença de desenvolvimento entre os países ricos e os
pobres.

A sociedade de consumo
 O desenvolvimento tecnológico e melhoramento do estilo de vida com o aumento dos salários traduziu-se num aumento do consumo. Surgiram
novos equipamentos domésticos, mais diversificados e de substituição rápida, alimentados pela grande publicidade e exigências da moda. As
famílias passaram a gastar o seu dinheiro cada vez mais em objectos não essenciais em vez de o poupar e as novas gerações trouxeram novos
hábitos de consumo. O fácil acesso ao crédito permitia o aumento do rendimento disponível o que se traduzia num aumento do poder de compra.

O Estado-Providência
 No período dos trinta-gloriosos surgiram na Europa dois novos modelos políticos: a social-democracia e a democracia cristã.
 A social-democracia designa a ideologia política, decorrente do revisionismo de Bernstein no final do século XIX, que recusa a ditadura do
proletariado e a luta de classes. Defende o socialismo reformista, com vista a garantir o crescimento económico e a melhorar as condições de vida
da população e a redução das desigualdades, através de uma mais justa distribuição da riqueza, conseguida mediante a taxação dos rendimentos
mais elevados (impostos). Promovia uma política fortemente intervencionista, com investimentos públicos do Estado destinados a relançar o
consumo e a produção. A social-democracia defende a tomada de poder pela via democrática e a transformação social através de reformas
legislativas. Procurou conciliar o socialismo e o capitalismo.
 A democracia cristã designa a ideologia política que combina a doutrina social da Igreja com o desenvolvimento económico e a justiça social.
Rejeita o individualismo que decorre do liberalismo político e económico e defende a dignidade humana, que deve ser promovida pelo Estado.
Opõe-se à excessiva intervenção do Estado na economia e na sociedade.
21
 Ambos as políticas contribuíram para a afirmação de um novo estado, o Estado-Providência. É caracterizado pelo intervencionismo do Estado e
pela ampliação das responsabilidades. Tem como objectivo promover sistemas públicos de educação, de saúde e de segurança social, para criar uma
sociedade melhor e mais juta. Cabe ao Estado assegurar, desde o nascimento até à morte:
- O bem-estar económico e social dos cidadãos;
- Promover uma mais justa redistribuição da riqueza;
- Garantir um mínimo rendimento e a igualdade de oportunidades no acesso à segurança social e aos cuidados fundamentais;
- Taxar progressivamente os rendimentos e proceder à sua redistribuição sob a forma de apoios sociais aos mais desfavorecidos (subsídios de
desemprego, de invalidez, de velhice, de doença, de abonos de família).

1.2.2 O Mundo Comunista: O Expansionismo Soviético


 A partir da instalação no poder de Estaline, múltiplos foram os países no mundo em que a URSS soviética exerceu a sua influência. Na Europa, os
países libertados pela URSS dos nazis adoptaram modelos comunistas e procederam à nacionalização da economia e à implantação de modelos
quinquenais. Mantinham uma forte ligação com Moscovo, servindo de complementaridade económica, fornecendo matérias-primas à URSS. Na
Ásia, o expansionismo soviético teve maior papel na China com Mao Tsé-Tung e na Coreia do Norte. Já na América, deu-se o episódio tenso dos
mísseis de Cuba, onde, após a tentativa falhada de contra-revolução na Baía dos Porcos, a URSS instala mísseis capaz de atingir o sul-americano. A
partir de Cuba, seguiram-se as influências em países da África como Angola e Moçambique.

O papel de Nikita Krushchev


 Nikita Krushchev, novo líder da URSS após a morte de Estaline, condenou o modelo seguido pelo antigo líder e procedeu a uma desestalinização:
- Procurou liberalizar o regime, tanto em termos políticos como económicos,
- Na agrícola, pôs fim às requisições obrigatórias, procurou aumentar a área cultivada, conferiu maior autonomia às quintas (kholkhoz) e eliminou
as estações de máquinas e tractores, autorizando a compra de máquinas.
- Na indústria, prolongou os planos quinquenais, deu maior atenção à indústria química e aos bens de consumo, criou conselhos económicos
regionais (sovnarkhoz) que substituíam a planificação centralizada, aumentou os salários e construiu habitações.
Todas estas medidas permitiram o melhoramento da vida da população, distanciando-se do estalinismo e aproximando-se um pouco do carácter
consumista capitalista.

 A partir dos anos 70, com a governação de Leonid Brejnev, assistiu-se a uma era de estagnação devido principalmente:
- Ao aumento excessivo das despesas militares (Guerra do Afeganistão);
- Aos empréstimos aos países-satélites;
- A uma máquina burocrática pesada;
- Ao sistema ineficiente e corrupto;
- À agricultura que não produzia o suficiente para a auto-suficiência;
- À indústria, que apesar dos preços estáveis subsidiados pelo Estado, o seu crescimento fora insuficiente;
- À excessiva intervenção do Estado e a falta de concorrência que limitaram o progresso económico, a inovação e a produtividade.

Corrida ao armamento e à conquista do espaço


 O mundo bipolar estava consolidado: a corrida aos armamentos e a corrida espacial, por parte das duas superpotências, foi uma estratégia militar
que visiva conter a ameaça inimiga, demonstrar o poder de cada um dos blocos e dissuadir o ataque de qualquer uma das potências. A corrida ao
armamento manifestou-se nas armas convencionais e nucleares enquanto a corrida ao espaço procurou demonstrar o poder científico, tecnológico e
alcance militar, que tinham grande impacto na opinião pública mundial.

22
1.3 A afirmação de novas potências
 A partir dos anos 60 e 70 começaram a emergir nos países e organizações que pretendiam afastar-se da influência dos dois blocos de
superpotências, abrindo caminho para o enfraquecimento do bipolarismo.

Japão
 O Japão passou a ser um modelo de exemplo para os outros países asiáticos do pacífico e assistiu-se a uma reversão na economia conhecido como
o “milagre japonês”. Este melhoramento económico deveu-se principalmente:
- À indústria bem organizada e virada para a exportação com grandes investimentos;
- Ao uso de tecnologias avançadas;
- Ao aumento da escolaridade (aposta na educação);
- À cultura e espírito de disciplina e submissão (salários baixos e horários de trabalhos logos, com menos consumo interno);
- À canalização das poupanças avultadas dos trabalhadores pelos bancos para investimento;
- À abundância de mão-de-obra;
- À estabilidade política e consequente democratização do país;
- Ao programa de ajuda financeira (Plano Dodge).

China
 A China adoptou o modelo comunista soviético nos anos 50. Procedeu à redistribuição da terra, criou uma rede de cooperativas, planificou a
economia, adoptou o partido único, o culto de personalidade e à repressão com campos de trabalhos. Em 1958 foi lançado o II Plano Económico,
denominado “Grande Salto em Frente” que era caracterizado pelas comunas populares, uma espécie de cidades autónomas que eram controladas
por brigadas e batalhões de produção. Pretendia-se assegurar as condições básicas de sobrevivência e mobilizar toda a população para os campos e
as fábricas.
 Devido ao grande fracasso do plano económico, Mao Tsé-Tung culpabilizou a URSS pela aproximação aos EUA e responsabilizou a
nomenklatura pelo fracasso do “Grande Salto em Frente”. É nesta vertente que adopta o Maoísmo: política económica que correspondeu a uma
aplicação do marxismo-leninismo às condições específicas da China. Entre os princípios defendidos destacavam-se o voluntarismo e a mobilização
das massas, o igualitarismo e a colectivização dos meios de produção, a luta contra a sociedade tradicional, a corrupção, a ambição pessoal e os
contra-revolucionários. Defendia ainda a propagação dos ideais do “Livro Vermelho”, com bastante propaganda e controlo pelos guardas
vermelhos, num sentimento anti imperialista capitalista.

CEE
 Devido à dificuldade da resolução, de forma consolidada das dificuldades económicas e financeiras da Europa, através de um processo contínuo
assistiu-se à criação da Comunidade Económica Europeia. A partir da experiência conseguida da OECE, da primeira organização europeia, o
BENELUX e da organização responsável pela cooperação do carvão e do aço, pretendia-se a constituição de uma organização económica de
mercado comum, um espaço de autonomia, de cooperação e entreajuda, diminuindo as desigualdades nos diferentes países. A 25 de Março de
1957, dá-se a assinatura do Tratado de Roma que instituía a CEE, através de uma união alfandegária, assente nas “quatro liberdades”: a livre
circulação de pessoas, dos serviços, das mercadorias e dos capitais. A CEE expandiu também o Conselho Europeu para fins políticos e a
EURATOM e PAC, com vista, respectivamente, para o desenvolvimento da indústria nuclear e da modernização, auto-suficiência, produtividade e
aumento dos rendimentos agrícolas.

Política dos Não-alinhados e a segunda vaga de descolonizações no século XX


 A terceira vaga de descolonizações procedeu-se na África Negra, onde as várias potências como os EUA e a URSS apoiaram movimentos
nacionalistas na luta pela independência de qualquer facção. Num primeiro plano, os países adoptaram maioritariamente regimes
marxistas/comunistas pois ambicionavam um rápido crescimento económico como havia acontecido na URSS na revolução de Outubro de 1917.

23
A ONU interveio também com anticolonialista, reforçando o direito de autodeterminação dos povos colonizados e das suas liberdades básicas na
Resolução 1514 de 1960.
 Querendo se afirmar internacionalmente, os países agora denominados de Terceiro Mundo (países que se queriam ver neutrais face ao domínio
dos EUA e da URSS) realizaram a conferência de Bandung na Indonésia em 1955. Os principais atores, o Egipto (com Nasser), a Índia (com
Nehru) e a Indonésia (com Sukarno) que pressionaram a constituição de um movimento alternativo levantaram a ideia do anticolonialismo e do
anti-neocolonialismo (pretendiam a perda da influência dos países que intervinham nas antigas colónias, que faziam com que estas se tornassem
dependentes economicamente desses países. Eram já devastadas pela guerra e do baixo nível de preparação), promovendo os direitos humanos nos
países novos. Já a Conferência de Belgrado em 1961, instituiu oficialmente a instituição política do Movimento dos Não Alinhados.

1.4 O termo da prosperidade económica: origens e efeitos

 A propriedade económica abrandou no início dos anos 70. Factores internos às economias capitalistas ocidentais explicam o fim dos “Trinta
Gloriosos”:
- O Elevado nível de endividamento;
- A inflação crescente;
- A instabilidade monetária;
- A menor produtividade e a rentabilidade dos capitais;
- O crescimento do desemprego;
- O fim da convertibilidade do dólar em ouro;
- O fim do sistema monetário e financeiro de Bretton Woods.

 Os factores externos que contribuíram para acentuar as dificuldades económicas foram:


- O primeiro choque petrolífero de 1973, provocado pelo aumento do preço do barril de petróleo, fruto da revolta contra o apoio a Israel na
guerra de Ion Kippur;
- O segundo choque petrolífero de 1979, em consequência da queda do Xá do Irão e da guerra Irão-Iraque.

 A economia internacional, dependente do petróleo, ressentiu-se profundamente:


- O preço do petróleo tornou-se um meio de pressão política;
- O preço das matérias-primas alimentares aumentou;
- Os serviços agravaram os preços devido ao aumento dos custos de produção e dos transportes.

 Efeitos da crise- os países capitalistas transformaram as suas estruturas económicas:


- Diversificaram as fontes de abastecimento;
- Os sectores industriais e as actividades que dependiam do petróleo como energia foram afectados;
- O desemprego cresceu e tornou-se estrutural;
- O aumento da despesa e do endividamento do Estado pôs em causa o modelo económica intervencionista, tal que se começou a defender o
regresso ao capitalismo liberal.

24
2.
2.1 Imobilismo Politico e Crescimento económico do pós-guerra a 1974
Portugal após a 2ª guerra mundial
As transformações do regime:
 A queda dos regimes totalitários, fascista e nazi, alimentou a esperança de transformação do Estado Novo e em Salazar uma necessidade de
mudança para a sobrevivência do regime. Foi nesta conjuntura que adoptou inúmeras medidas com vista a uma maior liberdade política:
- Anunciou a revisão da Constituição de 1933;
- Dissolveu a Assembleia Nacional;
- Anunciou a realização de eleições legislativas livres.
Esta imagem de abertura do regime traduziu-se no aumento do número de deputados e na criação de uma nova lei eleitoral, com círculos eleitorais
em cada distrito e nas colónias.

Os momentos de tentativa de instauração de um novo modelo político (da oposição):


1º Momento: eleições de Novembro de 1945
 Num contexto de oposição democrática ao Estado Novo, as várias forças da oposição reuniram-se e apoiaram o MUD (Movimento de Unidade
Democrática) que, apesar de criado em Outubro de 1945, tentou reunir forças para concorrer às eleições. Solicitou o adiamento do ato eleitoral
por seis meses, para possibilitar a criação de condições que permitissem instituir e legalizar partidos políticos, reformular os cadernos eleitorais e
assegurar uma efectiva liberdade de expressão e reunião.
 As reivindicações do MUD não foram atendidas e a organização desistiu da candidatura, dando vitória ao partido do regime, a União Nacional. O
governo solicitou as litas de apoiantes da oposição democrática e da MUD e usou-as como meio de perseguição.

2º Momento: eleições de 1949


 O segundo momento de tentativa de instauração da democracia deu-se nas eleições de 1949 que opuseram Norton de Matos ao marechal Óscar
Carmona. Vendo que não obteve garantias de um ato eleitoral livre, Norton de Matos retirou a sua candidatura e a vitória foi novamente para a
União Nacional.

3º Momento: eleições de 1951


 O terceiro momento de tentativa de instauração da democracia deu-se após a morte de Óscar Carmona, nas eleições antecipadas de 1951. Opôs o
candidato Quintão Meireles apoiado pelos republicanos moderados e o general Craveiro Lopes que novamente levou a vitória para a União
Nacional.

 Todas estas as eleições serviram para mostrar a baixa taxa de analfabetismo dos portugueses, que, desconhecendo outras formas de modelos
políticos, não votavam nos partidos democráticos que, conjugada com as falcatruas e atropelos nos actos eleitorais, davam vitória ao partido do
regime.

 O Estado Novo matinha o seu imobilismo político, alheio às mudanças que tinham ocorrido na Europa e à queda das ditaduras. O carácter
repressivo manteve-se e o processo eleitoral era propício a fraudes, não havendo garantia de acesso à campanha eleitoral e à liberdade de reunião e
de opinião.

 A manutenção do regime beneficiou de uma conjuntura favorável. As potências ocidentais, no contexto da Guerra-Fria, e com vista a impedir o
avanço da influência soviética, consentiram na manutenção do Estado Novo e das suas práticas antidemocráticas. Salazar iniciou uma política de
aproximação à Inglaterra e aos EUA, acentuando o seu anticomunismo. A adesão de Portugal à NATO, em 1949, comprovou a aceitação do
regime por parte das potências do Bloco Ocidental.

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4º Momento: eleições de 1958
 O quarto momento de tentativa de instauração de uma democracia deu-se com o general e candidato independente Humberto Delgado conhecido
como o “general sem-medo”. Pela primeira vez o regime sentira-se ameaçado com cerca de 25% dos votos serem para Delgado. Entre as medidas
pretendidas, o general enunciou:
- Empreender uma reforma política;
- Condenou o totalitarismo;
- Defendeu a reforma da política ultramarina;
- Defendeu a instauração das liberdades fundamentais, a organização de partidos políticos e declarou, solenemente a frase, “obviamente, demito-
o”, referindo ao que faria com Oliveira de Salazar.
 Conscientes da fraude eleitoral, as oposições empreenderam acções de luta e multiplicaram-se as acções de protesto contra o regime do Estado
Novo que permitiram reforçar o descontentamento da população e o enfraquecimento político do regime:
- O caso do “bispo do Porto”, em 1958;
- O “golpe da Sé” em 1959;
- A tomada do paquete de Luxo Santa Maria liderado por Henrique Galvão em 1961;
- A abrilada liderada por Botelho Moniz em 1961;
- O desvio do avião da TAP por Hermínio da Palma Inácio em 1961;
- O assalto ao quartel de Beja em 1962;
- A crise académica em 1962;
- O assaltou ao Banco de Portugal em 1967.

A estagnação do mundo rural


 Apesar da grande concentração da população activa no mundo rural, a sua estagnação deveu-se principalmente:
- À estrutura da propriedade que apresentava fortes assimetrias (os latifúndios no Sul, e pequenas e médias propriedades no Centro e Norte do
país);
- À oposição dos latifúndios aos projectos de reforma da estrutura da propriedade, para, através do emparcelamento, criar propriedades de média
dimensão;
- Ao baixo investimento privado na agricultura e à sua fraca rentabilidade;
- À reduzida mecanização e à fraca produtividade de grande parte das explorações (80% da propriedades agrícolas produziam menos de 15% do
produto agrícola);
- À falta de adequação das culturas à qualidade dos solos;
- O baixo preço dos produtos agrícolas;
- À prática de baixos salários, à fraca escolaridade e à baixa qualificação da mão-de-obra;
- Ao envelhecimento da população rural e ao êxodo em direcção das cidades em busca de trabalho.
 A agricultura deixou de ser uma prioridade política e tinha cada vez mais dificuldade em dar resposta aos novos hábitos de alimentação (consumo
de carne, leite, ovos e fruta) de uma população cada vez mais urbana, recorrendo assim à importação.

Emigração
 As principais causas da emigração portuguesa foram:
- As más condições de vida no país, associadas a um sector agrícola estagnado, com rendimentos diminutos, e a um sector industrial pouco
desenvolvido, que não absorvia a mão-de-obra disponível;
- Os fortes atractivos e as boas perspectivas de melhoria de vida que os países industrializados, com falta de mão-de-obra, ofereciam a uma
população rural pobre;
- As características do Estado Novo, que, como regime repressivo, não evidenciava condições de abertura política;
- A eclosão da guerra colonial em África (1961) levou a que muitos portugueses procurassem fugir ao recrutamento.
26
 Desde a criação da Junta de Emigração que o governo do regime procurava controlar a emigração. Procurava também a emigração para as colónias
como forma de parar a desvinculação ao regime e ao contacto com outras formas políticas da Europa. O aumento do controlo das fronteiras levou
a um enorme impulso da emigração clandestina que, com a culminação da guerra colonial, atingiu percentagens elevadíssimas. Muitos eram os
portugueses que tentavam fugir ao serviço militar obrigatório.

 A emigração teve efeitos duradouros e estruturais na economia e sociedade portuguesa:


- Revelou-se favorável para a economia portuguesa na medida em que as remessas dos emigrantes contribuíram para o crescimento do PIB, para o
equilíbrio da balança de pagamentos e para dinamizar o mercado interno;
- Ajustou o mercado de trabalho e aliviou a pressão social na medida em que a saída dos portugueses em busca de melhores condições de vida, fez
com que o desemprego não atingisse valores mais elevados;
- A vivência dos emigrantes contribuiu para a mudança de mentalidades e de hábitos;

 Todavia, a saída de muitos jovens provocou o envelhecimento da população, o que teve custos sociais e humanos e acentuou o despovoamento de
muitas regiões do país.

Os Planos de Fomento
 No domínio económico, após a segunda guerra mundial, o Estado Novo procurou seguir as seguintes orientações:
- Diminuir as importações;
- Dinamizar o mercado interno, mediante a afirmação de novas indústrias e a reestruturação de outras já existentes;
- Relançar a economia e definir a política económica a médio e longo prazo;
- Planificar a economia, através de uma linha orientadora, os Planos de Fomento, consequência da entrada de Portugal na OECE.

IV Plano de
III Plano de
I Plano de Fomento II Plano de Fomento Plano Intercalar de Fomento
Fomento (1968-
(1953-1958) (1959-1964) Fomento (1965-1967) (Aprovado em
1973)
1973)
- Abertura e - Reconhece-se
internacionalização da que o agravamento
economia levou a que, do défice da
- Estratégia de na transição do balança comercial
investimento com salazarismo para o se deve ao - Esteve em vigor
base na iniciativa marcelismo, se criasse o proteccionismo durante um
privada; Plano intercalar do pautal, ao breve período do
- Coincide com o Fomento: condicionalismo Estado Novo e:
arranque da política * Abertura ao exterior e industrial e ao * Pretendia
de fomento o reforço da economia atraso da realizar uma
- Investimentos
económico nas privada; agricultura; maior
essencialmente
colónias e com a * Inversão da política de - Confirma a modernização e
públicos orientados
integração do nosso autarcia das primeiras internacionalização abertura ao
para a construção de
país na economia décadas do Estado da economia exterior;
infra-estruturas
internacional: 1960- Novo; portuguesa- * Promover o
(electricidade,
adesão à BIRD e do * Fim definitivo do fomenta da desenvolvimento
transportes e
FMI; 1962- GATT; ciclo conservador e exportação de da iniciativa
comunicações).
- Sectores ruralista de Salazar e a produtos nacionais privada, apoiada
privilegiados: afirmação de novas e abertura do país pelo Estado;
indústria pesada opções para a economia aos investimentos * Promover o
(siderurgia, nacional; estrangeiros; incentivo ao
metalomecânica; * Começa a despertar a -O investimento
petroquímica; adubos; necessidade de desenvolvimento estrangeiro.
celulose). liberalização do da indústria
comércio externo e de as privada como
empresas enfrentarem a sector dominante
concorrência externa. da economia
27
nacional-
formação dos
grandes grupos
económicos;
- O crescimento
do sector terciário
e consequente
incremento
urbano.

 Os Planos de Fomento permitiram:


- O crescimento do PIB;
- Uma modernização relativa da indústria nacional e consequente crescimento dos sectores secundário e terciário;
- A substituição das importações e aumento das exportações;
- Uma maior abertura da economia portuguesa ao estrangeiro.

Todavia, os planos não foram suficientes para garantir a eliminação da pobreza e corrigir as desigualdades sociais e regionais, apresentando grandes
assimetrias a nível nacional e um nível de desenvolvimento aquém da Europa e da OECE.
Surto Urbano
- Desenvolvimento e concentração da população no litoral e nas cidades;
- Êxodo rural;
- Mudanças das mentalidades e nos hábitos da população, menos conservadores e tradicionalistas e com uma população com maior nível de
alfabetização e informação;
- Precaridade e baixo nível de vida nas periferias da cidade devido à elevada concentração populacional e ao crescimento dos preços das habitações
no centro das cidades, provocando inúmeras dificuldades sociais e económicas desde à prostituição à falta de saneamento básico.

A Questão Colonial
 Após a segunda-guerra mundial e ao período de descolonizações, desenvolveu-se uma forte pressão internacional face à autonomia das colónias
portuguesas. É neste sentido que a opinião dividiu-se em dois modelos: o modelo integracionista, o qual visava que o Estado português era
unitário, invisível e pluricontinental rejeitando a independência das colónias em nome da unidade do Estado Novo. O modelo federalista visava,
em virtude da pressão internacional, a progressiva descolonização das províncias ultramarinas mas sem deixar de ter em conta os interesses
nacionais.

A Luta Armada
 A guerra colonial de 1961 a 1974 resultou dos seguintes factores:
- A pressão internacional no sentido de descolonizar, a que Portugal resistiu;
- Os processos de descolonização já ocorridos, que estimularam a formação de movimentos independentistas nas colónias;
- O imobilismo do Estado Novo face à questão colonial;
- A falta de diálogo entre o regime e os movimentos de libertação;
- O apoio das forças internacionais aos movimentos independentistas.

O Impacto da Guerra Colonial


 A continuidade na Guerra, já no período Marcelista, juntamente com a forte repressão quer interna quer externa com inúmeros protestos, ataques e
greves ao regime e o mal-estar do exército bem como a despesa económica com material bélico, levou à progressão da ruptura do regime e a
aproximação do seu fim.

28
O Isolamento Internacional
 A permanência da dependia das colónias em Portugal e a Guerra Colonial provocaram uma forte opressão por parte da comunidade internacional
face a Portugal. A NATO e ONU condenaram fortemente o possuimento destes territórios politicamente e a última organização aprovou a
Resolução 2107 que apelava a Portugal que reconhece-se o direito à autodeterminação dos povos sob domínio português e apelava a que os
Estados Membros de ambas as organizações a cessar relações diplomáticas e a cortar ajudas quer militares (caso Kennedy) quer económico
(proibição de navios estrangeiros nos portos portugueses).

A “Primavera Marcelista”
 Após a sua eleição para cargo de presidente de Conselho na qual substituiu Oliveira Salazar, Marcello Caetano adoptou uma série de reformas
caracterizadas por uma maior liberdade a todos os níveis, tornando mais moderada a censura, dinamizando o sector político com maior abertura a
candidatos e deputados se diferentes partidos, reforçando a educação e a abertura de Portugal ao exterior.
 Todavia, a contestação por maiores liberdades continuou. Surgiu uma nova crise académica que se alastrou a várias universidades e o ambiente de
contestação culminou com greves e manifestações dos diferentes sectores de actividade desde a metalurgia aos bancários e empregados de
comércio.
 Deste modo, o regime marcelista acentuou o conservadorismo e desvinculou-se do inicial período de abertura às liberdades:
- Procedeu ao encerramento das associações de estudantes;
- Prendeu e incorporou estudantes no exército colonial;
- Destituiu direcções sindicais consideradas subversivas;
- Reprimiu manifestações com as forças policiais;
- Retomou as prisões dos oposicionistas, impedindo o regresso ao país de Mário Soares;
- Culminou, por fim, no abandono dos deputados da Ala liberal da Assembleia Nacional e com a reeleição de Américo Thomaz por sufrágio
indirecto.

2.2.
— Relacionar o impasse colonial com a queda do regime:
A permanência de Portugal nas colónias e as consequentes guerras pela independência face à pressão e contestação internacional provocaram em
Portugal um clima de impasse e estagnação. Devido a serem os mais afectados pela Guerra, aliada a outros factores como os baixos salários e baixo
poder de compra, os militares reuniram-se e criaram o Movimento do Capitães se viria a transformar no Movimento das Forças Armadas. O MFA
encarregou Otelo Saraiva de liderar e planear a estratégia do golpe do 25 de Abril, a que se deu o nome de “Operação Fim-Regime”.

— Descrever, de forma sucinta, as operações militares de 25 de Abril de 1974:


As operações militares visavam o controlo dos principais pontos estratégicos: a rádio, a televisão, o quartel-general, o aeroporto e os ministérios no
Terreiro do Paço. A canção “E Depois do Adeus” de Paulo de Carvalho às 22h55 e a leitura da primeira quadra da canção “Grândola, Vila
Morena” de Zeca Afonso à 00:20, marcaram o início do operação “Fim-Regime”. Às 04.00 os militares saíram dos quartéis e às 07:30 o
comunicado do MFA anunciara a “libertação do país, do regime que há longo tempo o domina”. O jovem capitão Salgueiro Maia, liderando a
coluna da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, dissuadiu a resistência e seguiu em direcção ao quartel de Marcelo Caetano onde este se rendeu.
O dia terminara com uma manifestação de populares em Lisboa com quatro mortos.

Depois da rendição e queda do regime, o MFA entregou o poder a uma Junta de Salvação Nacional que ficou encarregue de respeitar o programa
das forças armadas.

29
Programa do MFA (3 D’s)
Desenvolver:
- Intervenção nas empresas;
- Nacionalizações;
- Impulso dos processos colectivistas e autogestionários;
- Legislação laboral favorável ao trabalhador (liberdade sindical).

Democratizar:
- Extinção das instituições políticas repressivas e paramilitares: a censura, a Acção Nacional Popular, a DGS, a Legião Portuguesa e a Mocidade
Portuguesa;
- Libertação e amnistia aos presos políticos;
- Formação de associações políticas e de partidos;

- 1974-1976: período pré-constitucional;


- Governos provisórios;
- Instabilidade política - divisões na sociedade;
- 28 De Setembro de 1974: maioria silenciosa;
- 11 De Março de 1975: gole militar fracassado;
- 25 De Abril de 1975: eleições constituintes;
- Verão “Quente” de 1975;
- 25 De Novembro de 1975: golpe militar fracassado;
- 1976: Constituição da República Portuguesa;
- 25 De Abril de 1976: Eleições legislativas;
- 1982: Primeira revisão constitucional.

Descolonizar:
- Reconhecimento do direito à autodeterminação;
- Reconhecimento dos movimentos nacionalistas;
- Acordo De Argel (Guiné-Bissau);
- Acordo de Lusaca (Moçambique);
- Acorde de Alvor (Angola);
- Retirada de Timor;
- Dificuldade de transição do poder: guerras civis e repartimentos forçados.

— Descrever a forças políticas em confronto no período constitucional: / — Avaliar o clima de instabilidade e a tensão político-social dos dois
anos que se seguiram ao golpe de Estado:
A unidade revelada no dia 1 de Maio de 1974 fragmentou-se:
- A falta de consenso em torno da questão do ultramar foi geradora de tensões no interior do MFA e nas várias forças políticas;
- Parte do MFA e dos partidos políticos de esquerda revolucionária defendia a instauração de uma democracia popular de tipo colectivista;
- Os partidos de esquerda defendiam a descolonização;
- Uma facção mais conservadora, liderada por Spínola, defendia uma democracia liberal do tipo ocidental e um projecto federalista para o
ultramar;

30
- Esta instabilidade conduziu à queda do I Governo Provisório. Formou-se o II Governo liderado por Vasco Gonçalves, com membros do MFA e
apoio de socialistas e comunistas;
- Foi organizada uma manifestação de apoio a Spínola, a “maioria silenciosa”, que foi proibida pelo MFA. Spínola demitiu-se;
- O General Costa Gomes foi nomeado presidente da República e formou-se o III Governo Provisório que se aproximou, ideologicamente do
PCP;
- A 11 de Março de 1975, Spínola liderou um golpe militar que fracassou.

A viragem à esquerda e a radicalização revolucionária da vida politica portuguesa iniciou-se:


- O MFA extinguiu a Junta de Salvação Nacional e o Conselho de Estado, e criou o Conselho de Revolução;
- O IV Governo Provisório, liderado por Vasco Gonçalves, apoiado à esquerda, visava conduzir o país rumo ao socialismo, por intermédio do
Processo Revolucionário em Curso (PREC);
- Durante o PREC, os partidos políticos assinaram o primeiro pacto MFA/Partidos;
- As eleições para a Assembleia Constituinte realizaram-se a 25 de Abril de 1975 e deram vitória à via mais moderada.

As tensões político-ideológicas e a agitação social, quer de esquerda, quer de direita, não abrandaram. Constituíram-se comissões de moradores e
de trabalhadores, houve movimentações da classe operária para assumir o controlo operário da produção, afirmou-se o projecto de
institucionalização do poder popular como forma de organização político-social. Em Agosto de 1975, o IV Governo Provisório caiu e foi
nomeado o V Governo Provisório, liderado por Vasco Gonçalves. O período entre o final do IV Governo Provisório e a vigência do V Governo
Provisório (Julho a Setembro) conhecido como “Verão Quente”, ficou marcado por acções violentas, de radicalização política e social.

Face à radicalização, nove membros do Conselho de Revolução redigiram o Documento dos Noves que fragilizou o governo de Vasco Gonçalves,
que acabou por ser substituído, pondo fim ao período denominado “gonçalvismo”. Pinheiro de Azevedo foi indigitado para liderar o VI Governo
Provisório. O Conselho da Revolução foi remodelado com a inclusão de elementos mais moderados. O receio de retrocesso no processo
revolucionário acentuou o clima de tensão. A 25 de Novembro de 1975, o país ficou à beira da guerra civil. O presidente Costa Gomes declarou o
estado de sítio e autorizou a reacção do sector moderado, liderado por Ramalho Eanes, que, num contragolpe, pôs fim ao período do PREC.

— Equacionar o alcance das medidas económicas tomadas em 1975:


Nacionalização: Designa a transferência do domínio de um bem de produção privado para o domínio público. Decorre de alterações políticas e
sociais e possibilita que o Estado se aproprie de sectores-chave da economia.

O ambiente revolucionário e a pressão das forças de esquerda conduziu à implementação de um programa de intervenção do Estado na economia,
cujo objectivo era eliminar os grandes grupos monopolistas e capitalistas. Procedeu-se à nacionalização de sectores-chave da economia:
- Foram nacionalizados os bancos emissores, com vista a reforçar o papel do Banco de Portugal no sector financeiro;
- Encerraram-se as Bolsas de Valores de Lisboa e do Porto;
- O Estado reservou o direito de intervir na administração de certas empresas, através da nomeação dos seus gestores, administradores ou
delegados;
- Nacionalizaram-se a banca e os seguros, com o objectivo de por fim aos monopólios e destruir os grandes grupos económicos;
- Os sectores da electricidade, petróleo, siderurgia, metalurgia, química, celulose, tabaco, bebidas, transportes e comunicações passaram para o
controlo do Estado.

Reforma agrária: Designa a expropriação e a nacionalização das propriedades agrícolas, passando o direito de propriedade individual para
propriedade colectiva. Decorreu entre Janeiro de 1975 e Janeiro de 1976.

31
A partir de Julho de 1975, foi decretada, pela lei da Reforma Agrária, a expropriação de latifúndios com vista a instituir unidades colectivas de
produção (UCP) e cooperativas de produção agrícola. As explorações foram entregues aos trabalhadores rurais, que as geriam através de comissões
eleitas pelos trabalhadores, ou colocadas sob administração directa do Estado.

O Estado implementou medidas no domínio dos direitos do trabalho visando proteger os trabalhadores e oferecer melhores condições de vida aos
mais desfavorecidos:
- Estabelecimento do salário mínimo;
- Proibição do despedimento sem justa causa;
- Aumento e alargamento das reformas e das pensões sociais;
- Tabelamento do preço dos produtos para controlar a inflação;
- Eliminação do condicionamento industrial.

— Comentar a opção constitucional de 1976 e a sua primeira revisão:


À Assembleia Constituinte, eleita a 25 de Abril de 1975, coube a elaboração e a aprovação da Constituição. Aprovada a 2 de Abril de 1976, a
Constituição entrou em vigor a partir de 25 de Abril do mesmo ano. Definiu os princípios de um Estado democrático:
- Instituiu a democracia representativa, o pluripartidarismo, a soberania popular e a separação dos poderes;
- Consagrou a liberdade política, os direitos, as liberdades e garantias dos cidadãos e dos trabalhadores;
- Adoptou um sistema de governo semipresidencialista;
- Consignou como órgãos de soberania o Presidente da República, o Conselho da Revolução, a Assembleia da república, o Governo e os
Tribunais;
- Instituiu a democraticidade e autonomia do poder local (descentralizado), bem como a autonomia e o governo próprio das regiões autónomas
dos Açores e da Madeira;
- Estabeleceu o objectivo de caminhar para uma sociedade socialista, patente sobretudo no domínio económico com as expropriações e as
nacionalizações.

Entre 1981 e 1982, foram discutidas as alterações ao texto constitucional. A votação final do decreto de revisão ocorreu em Agosto de 1982 e
implementou as seguintes alterações:
- Aperfeiçoamento e reforço dos direitos fundamentais;
- Atenuação da componente ideológico-programática com a supressão ou moderação das referências à via socialista;
- Manutenção dos princípios socializantes ao nível da economia, ainda que mais restritos ou atenuados;
- Reforço da matriz democrática do regime, com a manutenção do preâmbulo de 1976, como marco histórico e simbólico do processo que
conduziu à democracia;
- Extinção do Conselho da Revolução e fim das funções políticas das Forças Armadas, que passam a estar submetidas aos órgãos de soberania e ao
poder político;
- Equilíbrio entre os órgãos de soberania, mediante a limitação dos poderes de intervenção do Presidente da República e o reforço dos poderes da
Assembleia da República;
- Criação do Tribuna Constitucional.

— Descrever o funcionamento das instituições democráticas:


Presidente da República:
- Eleito por sufrágio universal directo;
- Escolhe e nomeia o primeiro-ministro, tendo em conta os resultados eleitorais (o líder do partido mais votado);
- Convoca extraordinariamente a Assembleia da República;
- Dissolve a Assembleia da República;

32
- Promulga ou veta os diplomas legislativos;
- Convoca referendos sob iniciativa do Governo ou da Assembleia da República;
- Nomeia titulares de cargos públicos;
- Assistido pelo Conselho de Estado;
- Exerce um poder de moderação;
- Mandato presidencial com duração de cinco anos, não podendo ser reeleito, consecutivamente, mais do que uma vez.

Assembleia da República:
- Eleita por sufrágio universal directo;
- Composta por deputados eleitos por círculos eleitorais, cujas candidaturas estão reservadas aos partidos políticos;
- A legislatura tem uma duração de quatro anos;
- Aprova alterações à Constituição, os estatutos das Regiões Autónomas, o plano e o orçamento do Estado;
- Vota monções de censura ou de confiança do Governo, podendo provocar a demissão do executivo.

Governo:
- Formado a partir do resultado das eleições;
- Presidido pelo líder do partido mais votado;
- Define as orientações e a execução da política externa e interna;
- É responsável perante a Assembleia da República e o presidente da Assembleia da República;
- É liderado pelo primeiro-ministro e composto por ministros, secretários e subsecretários de Estado;
- Tem competência legislativa, para além do poder executivo.

Tribunais:
- Independentes face ao poder político;
- Asseguram a imparcialidade do sistema judicial;
- Concretizam o princípio da separação dos poderes.

Tribunal Constitucional: Analisa a constitucionalidade das leis, quando requerida.

— Explicitar os moldes em que se processou a descolonização portuguesa


A Revolução de Abril abriu caminho ao processo de descolonização. Treze anos de guerra colonial, sucessivas pressões internacionais e um esforço
de guerra, que se viu agravado por uma conjuntura internacional adversa, em consequência do choque petrolífero e da intervenção estrangeira em
apoio dos movimentos independentistas, condicionaram o processo de descolonização. Em Julho de 1974, o II Governo Provisório promulgou a
lei nº 7/74 que reconhecia o “direito à autodeterminação” e previa a transferência de soberania para os territórios ultramarinos.

O processo de descolonização, devido às tensões criadas e às dificuldades de transição do poder que implicou, provocou nos territórios recém-
descolonizados um clima de guerra civil que se prolongou por largos anos. A situação obrigou a que os portugueses que estavam nos territórios
ultramarinos regressassem a Portugal. Foi criada uma ponte aérea para transportar gratuitamente os portugueses que queriam retornar ao país. O
Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais (IARN) criou condições de acolhimento, de alojamento e de transporte para os portugueses das ex-
colónias, com vista a uma reintegração na sociedade e na vida activa. O impacto demográfico provocado pelo regresso dos portugueses constituiu
um desafio de integração multicultural e multirracial.

33
2.3.
— Evidenciar o impacto da revolução portuguesa na relação do país com a Europa e o Mundo
A Revolução de Abril teve impacto na comunidade internacional e influenciou a transição democrática na Grécia e em Espanha, bem como nos
territórios africanos onde existiam regimes colonialistas de minoria branca (Rodésia e África do Sul).

3.
3.1 A importância dos Polos Culturais Anglo-Americanos
Expressionismo abstracto: Designa a forma de expressão artística desenvolvida por vários artistas, sobretudo em Nova Iorque, que privilegia a
abstracção e a emoção na pintura, seja através de uma “pintura gestual” ou através da exploração da mancha de cor. Reflecte a emoção e a
interioridade do artista.

O expressionismo abstracto também foi designado de New York School. Resultou da influência da arte europeia nos jovens artistas americanos,
nomeadamente do Cubismo e do Surrealismo. Tenta libertar a pintura da intencionalidade consciente par atingir os impulsos mais profundos do
inconsciente. Entre os artistas mais conhecidos destacam-se Jackson Pullock (action paiting- drip painting), W. kooning e Ad. Reinhardt.

Pop Art: Designa o movimento artístico que surgiu em meados da década de 50 e que tem nos EUA o seu polo principal. Inspira-se no homem
moderno e na cultura de massas, transpondo para a obra de arte os objectos e a as figuras associadas à sociedade de consumo, num tom satírico e
por vezes agressivo.

A Pop Art retira elementos e objectos da sociedade de consumo e da cultura de massas e surpreende o observador pela sua representação como
objecto de arte. Quadrinhos, cantores, actores, carros, pin-ups eram retratados à exaustão. É uma forma de crítica e ao mesmo tempo de celebração
da sociedade capitalistas e moderna. Entre os artistas desta vertente destacamos Andy Warhol, Richard Hamilton e Roy Lichenstien.

Arte Conceptual: Designa a teoria e a expressão artística que se desenvolveu a partir de meados da década de 60. Questionou os princípios
tradicionais da arte e valorizou a ideia e o conceito na criação artística. Desvalorizou a importância do objecto.

A Arte Conceptual defende a primazia das ideias veiculadas pela obra de arte, deixando os meios usados para a criar em lugar secundário. Opõe-se
à Pop Art pela austeridade e ao Expressionismo Abstracto pela racionalização. Entre os artistas desta vertente destaca-se Pierro Manzoni e Robert
Barry.

Existencialismo: Designa o movimento filosófico que centra a sua análise na existência humana. Defende que o indivíduo age, por si, e pode
transformar a sua existência, através das suas acções.

Progresso científico e inovação tecnológica:


- Produção de energia nuclear;
- Máquinas electrónicas (ex: computadores, robôs);
- Avanços médicos e alimentares (ex: vacinação, transplante de órgãos, novas espécies de plantas).

Cinema:
- Expansão dos filmes a cores, projectados em ecrã panorâmico;
- Novas temáticas socioculturais;
- Novos centros de produção cinematográfica com alternativa ao cinema de Hollywood.

34
Televisão:
- Meio de entretenimento;
- Fonte de informação;
- Formação/manipulação da opinião pública.

Música ligeira:
- Apogeu do rock and rol e da pop music;
- Meio de divertimento;
- Expressão da rebeldia e da contestação juvenil.

- Hegemonia dos hábitos norte-americanos: lazer e consumo;


- Terciarização da sociedade: recuo do sector primário, estagnação do secundário, crescimento do terciário;
- Constatação dos valores materialistas da sociedade de consumo e à ordem política da Guerra Fria: esforço ecuménico da Igreja Católica;
preocupações ecológicas; movimento pacifista; feminismo.

1.
1.1 O Colapso do Bloco Soviético e a Reorganização do Mapa Político da Europa de Leste
 Em Março de 1985, Mikhail Gorbatchev assumiu o poder e, confrontado com os principais problemas da URSS, implementou reformas políticas
e económicas conhecidas como Perestroika, destinadas a reestruturar e a liberalizar a economia da URSS:
- A reestruturação ou Perestroika traduziu-se em diversas iniciativas de modernização; das empresas estatais e legalização do sector privado;
- Estas iniciativas de reestruturação foram acompanhadas por uma política de transparência, a Glasnost, com medidas de democratização e
liberalização política.

A nível externo, Gorbatchev aproximou-se à Europa e aos Estados Unidos: Implementou uma nova diplomacia na comunidade internacional;
empenhou-se no desarmamento e na defesa dos direitos humanos.

Nos países satélites da URSS (democracias populares), a Perestroika e a política de Glasnost desencadearam a contestação ao domínio soviético.
No caso da RDA, a 9 de Novembro de 1989, a queda do Mu7ro de Berlim, e da cortina de ferro, deram início ao processo de reunificação alemã,
proclamada a 3 de Outubro de 1990, pondo fim a um dos principais focos de conflito da Guerra Fria.

A nível interno, a política de liberalização, levada a cabo por Mikhail Gorbatchev, fez despertar na União a contestação: O nacionalismo
propagou-se, primeiramente, às repúblicas bálticas e, depois, a outros Estados da URSS.

Mikhail Gorbatchev, isolado, não conseguiu impedir o desmoronamento da URSS (que já não existia efectivamente), e demitiu-se do cargo de
presidente da URSS. Um novo mapa político na Europa de Leste surgiu. O bipolarismo e a Guerra Fria terminaram, oficialmente, com a
dissolução do Pacto de Varsóvia, com a extinção do COMECON e com a desagregação da URSS. A queda do Muro de Berlim tornou-se no
acontecimento mais simbólico deste período histórico.

Os problemas da transição para a economia de mercado


 As reformas económicas implementadas, no âmbito da Perestroika, visavam a transição para a economia de mercado e provocaram problemas,
tanto nas repúblicas da ex-URSS, como nas antigas democracias populares do COMECON:
- O apoio do Estado às empresas cessou, provocando falências e desemprego;
- A liberalização dos preços causou forte inflação e a miséria instalou-se;
- A corrupção e as máfias acentuaram as dificuldades e as desigualdades sociais;

35
No entanto, as consequências não foram iguais em todos os Estados: Com a reunificação da Alemanha, a ex-RDA recebeu apoios financeiros da
Alemanha Ocidental (RFA);
- No caso da Polónia, da Hungria e da República Checa, o crescimento do turismo e o aumento do investimento privado, em consequência da
estabilidade política, minoraram os efeitos da transição para a economia de mercado.

1.2 A Hegemonia dos EUA depois da Guerra-Fria


Os Estados Unidos, após o fim da Guerra Fria, assumem-se como uma potência hegemónica, ocupando no mundo um importante lugar. A sua
hegemonia é revelada:
 Supremacia militar:
- Os EUA desempenham um importante papel na política e defesa internacionais.
- Após a Guerra Fria, os EUA assumem-se como a única superpotência militar.
- Possuem um numeroso e sofisticado exército.
- Ocupam a linha da frente na resolução de conflitos internacionais, assumindo-se como os “polícias do mundo”.
- A sua acção procura “propagar a democracia” e “assegurar uma ordem mundial mais estável e segura”.
- A hegemonia militar apoia-se também em alianças militares e no seu alargamento a novos países, contribuindo para reforçar o seu papel militar.
- Fortalecimento da acção dos EUA devido aos reforços do papel da NATO e ao seu alargamento aos países do Leste europeu.
- Reforço da influência dos EUA no Conselho de Segurança da ONU.
- Aplicação de sanções económicas aos países que violam os princípios da democracia, da liberdade, dos direitos humanos, da paz e da segurança.

 Prosperidade económica:
O crescimento económico dos Estados Unidos foi bastante significativo nas últimas décadas devido:
- À diminuição da taxa de desemprego.
- Ao desenvolvimento empresarial e à criação
de postos de trabalho.
- À diminuição da inflação e das taxas de juro.
- Às políticas de incentivos ao investimento.

O sector primário desenvolveu-se graças a:


- Aos progressos da mecanização.
- Às novas técnicas de irrigação.
- Ao desenvolvimento da biotecnologia.
- À selecção de sementes.
- Às crescentes inovações tecnológicas.
- À política de exportação dos produtos agrícolas.
- Ao desenvolvimento de multinacionais no domínio da indústria alimentar
(ex: McDonald´s).

O sector secundário fortaleceu-se devido:


- Ao relançamento das indústrias.
- À deslocação das indústrias têxteis para o sul dos EUA, onde a mão-de-obra é mais barata.
- Ao papel muito importante da indústria automóvel na economia.
- À posição liderante na indústria química.
- Ao lugar importante na refinação de petróleo.

36
- Ao lugar central na indústria tecnológica, ao nível das novas tecnologias, da inovação e da criatividade.
- Ao peso e desenvolvimento da indústria militar.

Um sector terciário muito forte devido:


- Ao desenvolvimento do comércio e da indústria.
- À capacidade para gerar empregos (comércio, transportes, ensino, banca, seguros, etc.).
- À afirmação como exportadores de serviços.
- À integração em organizações regionais de comércio, onde têm uma posição preponderante: APEC (Cooperação Económica Ásia-Pacífico) /
NAFTA (Acordo de Comércio Livre da América do Norte).´

 Dinamismo Científico e Tecnológico:


- Grande investimento no desenvolvimento científico e tecnológico.
- O investimento fez-se pela via estatal e privada, muitas vezes em colaboração com as universidades.
- Criaram polos de desenvolvimento científico e tecnológico, como Silicon Valley, Seattle, Portland, Denver Phoenix e Dallas.
- Beneficiam da “nova economia” ou economia informacional, que contribui para a supremacia dos Estados Unidos no mundo.
- Captam “cérebros”.

 Pela disponibilidade de recursos humanos e materiais.

1.2.2 Consolidação da Comunidade Europeia


 A consolidação económica na Comunidade Europeia foi um processo que se iniciou a partir de 1979 com a criação do Sistema Monetário
Europeu e com o ECU (European Currency Unit), destinando-se a estabilizar o sistema monetário na Europa e a promover as trocas comerciais
no espaço europeu.

A necessidade de reforçar a coesão europeia e de responder ao eurocepticismo levou a definir o sufrágio universal como forma de eleger os
deputados do Parlamento Europeu. As instituições europeias tornaram-se mais democráticas.

O relançamento da construção europeia foi decisivo nos anos 80, com o reconhecimento da necessidade de alargar a Comunidade e na aprovação,
em Dezembro de 1965, do Acto Único Europeu:
- Consagrou juridicamente o Conselho da Europa como o organismo responsável da política;
- Reforçou os poderes do Parlamento;
- Abolição das fronteiras internas à circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais;
- Estabeleceu medidas para coordenar a política económica e monetária tendo em vista a moeda única;
- Aprovou a reforma dos fundos estruturais e de coesão em vários domínios como a PAC (Agricultura), a CEE (Pesca), a FEDER, os programas
de educação como o ERASMUS, Sócrates e Leonardo Da Vinci e ainda acordos bilaterais.

A consolidação da união económica e política foi impulsionada com a assinatura, em 1992, do Tratado de Maastricht ou Tratado da União
Europeia, que alterou a designação da Comunidade Europeia (CE) para União Europeia (UE) cujo funcionamento institucional passou a assentar
em três organismos fundamentais: Comissão Europeia, Parlamento Europeu e o Conselho da UE. O Tratado da União estabeleceu os princípios
fundamentais que nortearam a acção da União Europeia:
- Alargou as competências do Parlamento Europeu;
- Criou a União Económica e Monetária e estabeleceu o prazo da sua entrada em vigor;
- Definiu a cidadania Europeia;
- Estabeleceu os três pilares da política europeia:

37
1º pilar: de carácter comunitário, dá relevo à dominante económica e social:
- Alargamento da intervenção da União Europeia em novos domínios como a saúde, cultura;
- Preocupação com a protecção social dos trabalhadores;
- Reforço da coesão económica e social;
- Instituição da União Económica e Monetária em substituição do Sistema Monetário Europeu;

2º pilar*: integra a política externa e de segurança comum (PESC)

3º pilar*: considera a cooperação nos domínios da justiça e dos assuntos internos face ao crescente desafio criminalidade e do terrorismo
_____________________
* Cooperação intergovernamental

O Tratado de Amesterdão:
. Adopção do Pacto de Estabilidade e Crescimento:
- Os Estados comprometem-se a reduzir o défice para 2% do PIB, dívida pública inferior a 59% e taxa de inflação < 1,5
- Instituição do Banco Central Europeu
- Criação de moeda única:
- 1999 – Entra em vigor nos mercados monetários, cambiais e financeiros.
- 2002 – Circulação de moedas e notas.
- O Banco Central Europeu passa a definir a política económica e monetária da UE.

O Tratado de Lisboa:
- Contribuiu para o aprofundamento político.
- Criou a função de Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança.
- A política externa da UE procura assumir uma maior concertação.
- Pretende alcançar um crescimento económico equilibrado.
- Reforçar a solidariedade entre os Estados-membros.

Os novos desafios par a consolidação europeia traduzem-se em:


- Necessidade de maior democratização das instituições.
- Maior convergência em matéria de política externa comum.
- Desinteresse da opinião pública.
- Reduzida participação nas eleições europeias.
- Necessidade de definir uma política de defesa comum aos países da UE.
- Problemas ambientais que afectam os diferentes Estados-membros.
- Cooperação em matéria de investigação espacial.
- Para um grande número de cidadãos, a União Europeia continua a ser uma realidade distante.
- Muitos consideram que não têm representatividade nas instituições europeias.
- Muitos cidadãos sentem-se pouco europeus.
- Os problemas dos Estados-membros são diversos e nem sempre são solucionados.

38
As instituições da UE dividem-se em:
- Parlamento Europeu:
- Decide as leis e o orçamento da UE em conjunto com o Conselho de Ministros;
- Faz a supervisão democrática de todo o trabalho da UE.

- Conselho Europeu (Cimeira):


- Realiza-se pelo menos 4 vezes por ano
- Define as orientações gerais das políticas da UE

- Conselho de Ministros:
- Um ministro por cada país da UE
- Presidência semestral rotativa
- Decide a legislação e o orçamento da UE em conjunto com o Parlamento
- Gere a Política Externa e de Segurança Comum

- Banco Central Europeu:


- Assegura a estabilidade dos preços
- Controla as reservas monetárias e decide as taxas de juro
- Supervisiona a segurança dos bancos
- É independente dos governos

- Comissão Europeia:
- Propõe nova legislação
- Órgão executivo
- Guardiã dos Tratados
- Representa a UE a nível internacional

1.2.3 A afirmação do espaço económico da Ásia-Pacífico


A região da Ásia-Pacífico conheceu um notável desenvolvimento económico: o “milagre japonês e o desenvolvimento de novos países
industrializados. Afirmaram-se os Dragões Asiáticos – Coreia do Sul, Hong Kong, Taiwan e Singapura -, durante os anos 60 e 70, seguindo o
modelo japonês de desenvolvimento; desenvolveram-se os Tigres Asiáticos – Tailândia, Malásia, Indonésia e Filipinas, seguidos da China, a partir
dos anos 80. Vários factores contribuíram para o desenvolvimento económico destes países:
- O Estado apoiou políticas para captar capitais e investimento estrangeiro e teve um papel preponderante na definição de políticas económicas;
- A aposta no desenvolvimento dos sectores secundário e terciário e nas exportações;
- O incremento da construção naval, do sector automóvel e das novas tecnologias;
- A mão-de-obra abundante e barata;
- A aposta na educação e na investigação.

A cooperação da ASEAN estimulou o comércio inter-regional e contribuiu para a afirmação de um novo grupo de países dos países
industrializados na Ásia-Pacífico – os tigres asiáticos que, juntamente com os Dragões Asiáticos, fizeram da região da Ásia-Pacífico, um polo
económico mundial. A criação da Organização da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC) defendeu os interesses económicos dos países do
“Arco do Pacífico”, criou uma comunidade económica e implementou uma zona de comércio livre.

39
A questão de Timor:
- Em 1975, Timor foi invadido pela Indonésia, quando decorria os processos de descolonização dos territórios africanos, no contexto das
mudanças desencadeadas pela Revolução do 25 de Abril em Portugal;
- A administração portuguesa abandonou o território, sem concretizar o processo de descolonização. Seguiu-se uma guerra civil entre várias fações
políticas timorenses;
- Em 1976, a Indonésia anexou o território e declarou Timor como a 27ª província da Indonésia;
- Apenas a Austrália reconheceu a anexação. A ONU condenou a integração de Timor e Portugal continuou como potência administrante do
território;
- A resistência à ocupação Indonésia foi liderada pelas FALINTIL, comandadas por Xanana Gusmão, em associação com a FRETILIN;
- A resistência timorense lutou contra a ocupação da Indonésia, também no quadro da diplomacia internacional, através de José Ramos Horta, e
contou com o apoio da Igreja, através do bispo de Díli, D. Carlos Ximenes Belo;
- Em 1991, depois do massacre no cemitério da Santa Cruz, o problema de Timor ganhou visibilidade internacional. A Indonésia acabou por
concordar, em 1999, com a realização de um referendo sobre o futuro do Território. As milícias pró-indonésias fizeram pressão para impedir a
realização do referendo;
- A população timorense votou favoravelmente à independência do território;
- O resultado do referendo desencadeou uma onda de violência por parte das milícias pró indonésias. A catástrofe humanitária assolou o território;
- O governo de Portugal e da Austrália pressionaram a Indonésia para permitir a presença de uma força internacional (INTERFET), sob a égide
das Nações Unidas, para garantir a paz em Timor-Leste;
- Em agosto de 2001, o povo Timorense elegeu a primeira Assembleia Constituinte; em 22 de março de 2002, Xanana Gusmão foi eleito
presidente;
- A 20 de maio de 2002 nasceu a república Popular de Timor-Leste, integrada, em 27 de Setembro de 2002, na ONU.

1.2.4 Modernização e abertura da China à economia de mercado


À data da morte de Mao Tsé-Tung, em 1976, a economia chinesa seguia o modelo comunista de panificação, de autarcia e de colectivização. Com
a chegada de Deng Xiaoping ao poder, a China seguiu um caminho de modernização. A política de Deng Xiaoping implementou um programa
para a “economia socialista de mercado”, com a divisão do país em duas zonas económicas distintas:
- O interior, rural e mais atrasado, dedicado à satisfação das necessidades internas (mantendo as bases da economia socialista);
- O litoral mais desenvolvido, onde se implementou o sistema comercial e financeiro internacional (economia de mercado), com acesso ao capital,
à tecnologia e ao know-how estrangeiro;
- Atraiu capital estrangeiro através do sistema de “porta-aberta”;
- Foram criadas zonas económicas especiais (ZEE);
- Promoveu-se a associação entre empresas estrangeiras e companhias chinesas, fixaram-se multinacionais;
- Beneficiou de uma mão de obra abundante e barata e da disponibilidade de recursos naturais.

A China de Deng Xiaoping, desenvolveu estratégias e programas que incentivaram a produção e os mecanismo da economia de mercado – em
1980, aderiu ao FMI e ao Banco Mundial, em 1986 aderiu ao GATT e em 2001 à OMC. Implementou-se um regime de “um país, dois sistemas”
– a abertura, ainda que parcial, ao capitalismo não significou a democratização política. Hong Kong, colónia britânica desde o século XIX, foi
integrada na China em 1997. Tornou-se região administrativa especial e permaneceu como importante centro estratégico para o desenvolvimento
económico da China e do sudeste asiático. Macau, que desde 1976, era território chinês sob administração portuguesa, passou para a
administração da China em 20 de dezembro de 1999 – tornou-se região administrativa especial e foi garantindo o funcionamento do sistema
capitalista e a manutenção do carácter democrático das instituições. Com a integração destes dois territórios, a China aproximou-se do Ocidente e
do mundo capitalista.

40
2.
2.1 Mutações sociopolíticas e novo modelo económico
A mundialização contribuiu para questionar o papel do Estado-Nação. A globalização alterou o papel do estatuto dos Estados-Nação, pondo em
causa a sua exclusividade na regulamentação, inclusive dentro das suas fronteiras:
- Muitas das funções (políticas, económicas, financeiras, fiscais e até militares), que lhe eram tradicionalmente atribuídas, foram parcialmente
transferidas para outras organizações.

Vários factores contribuíram para o debate em torno do papel do Estado-Nação:


- As fronteiras já não garantem a imunidade do Estado à ingerência externa;
- Os Estados têm de abrir as suas fronteiras para fazerem parte do mercado global;
- A função de regulação económica e legislativa do Estado é confrontada com a existência de grandes empresas;
- A intervenção de cada Estado-Nação, no cenário internacional, é confrontada com uma multiplicação de organizações;
- Os movimentos populacionais e as migrações abalaram o modelo do Estado-Nação.

Face aos novos desafios, o Estado parece enfraquecido na resposta às ameaças terroristas, aos crimes económicos e ambientais. A cooperação com
outros organismos decisores supranacionais tornou-se fundamental. O Estado-Nação continuará a desempenhar um papel fundamental, mantendo
as suas funções tradicionais, devendo reorientar a sua acção para novos domínios, como o ambiente, as energias renováveis, o apoio à formação e
ao desenvolvimento científico, a defesa do seu património.

A explosão das realidades étnicas


No mundo mais globalizado, a consciência étnica exacerbou-se. Em alguns pontos do Globo assistiu-se ao reacender de conflitos étnicos com base
em questões políticas, territoriais, raciais, religiosas e culturais. Os conflitos étnicos evidenciam os problemas que a criação do Estado-Nação
provoca, por não ter em conta as razões étnicas, religiosas ou culturais Os conflitos étnicos, geralmente separatistas, levam à luta pela
independência, desencadeiam um clima de violência e de destruição, causando a deslocação de refugiados que procuram fugir às perseguições e
conflitos.

As questões transnacionais
O processo de globalização fez surgiu um conjunto de problemas que cruzam fronteiras e ultrapassam os seus limites do Estado-Nação – as
questões transnacionais:
- Os fluxos migratórios; os conflitos que obrigam à deslocação de milhares de refugiados;
- O aumento do terrorismo; os crimes económicos;
- Os problemas e desastres ambientais que assolam o planeta.
Os problemas transnacionais tornam a cooperação com as organizações supranacionais um imperativo.

Migrações
A mundialização da economia contribui para o aumento dos fluxos migratórios:
- A emigração mundializou-se devido aos desequilíbrios socioeconómicos, à instabilidade política e às guerras civis ou entre estados; ao progresso
dos meios de comunicação; às mudanças climáticas; aos problemas políticos; aos conflitos étnicos.
As migrações podem causar problemas nos países de destino – o racismo, a xenofobia e a discriminação. É necessário recorrer ao diálogo e
desenvolver políticas de acolhimento e de integração dos emigrantes. As políticas de integração visam promover iniciativas para a
interculturalidade: as diferenças culturais, ligadas a diversos tipos de pertença devem ser tratadas com respeito, e segundo os valores da tolerância e
da igualdade. A interculturalidade constitui-se como um elemento indispensável para a paz e a harmonia entre as diferentes culturas.

41
Segurança
Com o fim da guerra fria, o armamento nuclear proliferou pelo mundo, o que contribuiu para elevar a ameaça nuclear no mundo:
- A existência de armas químicas e biológicas eleva as tensões internacionais e cria um clima de instabilidade;
- A proliferação de redes internacionais de crime organizado, ligadas ao tráfico de drogas, de armas, de pessoas ou de órgãos humanos.
A escalada do terrorismo tem vindo a aumentar desde o final do século XX. O terrorismo tornou-se uma das maiores preocupações para a
segurança internacional.

Ambiente
Os elevados índices de poluição, resultantes do desenvolvimento industrial e da pressão demográfica, são causadores de um vasto conjunto de
problemas ambientais. O ambientalismo tem vindo a ser promovido por organizações internacionais e por partidos políticos (como os Verdes),
que alertam para os perigos da destruição do meio ambiente. Entre os vários problemas ambientais que afectam a qualidade de vida e põem em
risco o planeta, podem destacar-se:
- O efeito de estufa; a poluição dos rios, dos mares e dos oceanos, a poluição dos solos, a erosão e o esgotamento dos dolos, a destruição das
florestas, os problemas resultantes da desactivação de centrais nucleares, a dificuldade de destruir ou de reciclar o lixo radioactivo.
Perante estes problemas tomara-se medidas para promover um desenvolvimento sustentável e garantir a preservação do planeta. Apesar das
cimeiras e dos protocolos internacionais, nem sempre é possível conciliar o desenvolvimento económico e a preservação do meio ambiente.

2.1.4 Afirmação do Neoliberalismo e Globalização da Economia


Na década de 70, o ciclo de prosperidade dos “Trinta Gloriosos” findou. A desordem monetária, o aumento da inflação e do desemprego; o
agravamento do défice, o crescimento da despesa pública e a estagflação revelaram a ineficácia das medidas keynesianas. Foi neste contexto de crise
que, nos anos 80, Margaret Thatcher, na Grã-Bretanha, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos, adoptaram o neoliberalismo. O modelo neoliberal
foi também aplicado na política económica de outros países do mundo capitalista e de organizações internacionais, tais como o FMI e a OMC.

Na Grã-Bretanha, Thatcher adoptou medidas de liberalização da economia e da sociedade: privatização de empresas; diminuição do poder e
influência dos sindicatos; baixa de impostos; diminuição das despesas públicas na saúde, na educação e na segurança social; abrandamento da
emissão da moeda; desregulamentação da actividade financeira. Nos Estados Unidos, Ronald Reagan promoveu a baixa de impostos; a
desregulamentação do mercado; baixou as despesas públicas, com exempção das despesas no armamento. As políticas neoliberais de Thatcher e
Reagan tiveram impacto em todo o mundo capitalista, e privilegiaram medidas como: redução do papel do Estado na economia e na protecção
social; diminuição dos investimentos e da despesa pública; redução das emissões de moeda; desregulamentação e flexibilização do mercado laboral;
política de privatizações de empresas estatais; redução dos impostos; liberalização do mercado, com abolição de barreiras alfandegárias, e assinatura
de acordos de comércio; aprovação de legislação para facilitar a abertura da economia às empresas multinacionais.

A globalização é, em parte, resultado do desenvolvimento do capitalismo e do neoliberalismo. As políticas neoliberais promoveram a diminuição
das barreiras alfandegárias, a facilidade de circulação de bens e de capitais, a abertura das economias nacionais. A globalização afirmou-se,
sobretudo, no domínio económico, criando o que foi designado, desde os anos 90, como “aldeia global”.

Instrumentos da Globalização da Economia


Liberalização das Trocas
A progressiva liberalização do comércio com a suspensão de barreiras alfandegárias possibilitou o crescimento do comércio mundial. Foram
criadas várias associações de comércio em espaços livres de barreiras alfandegárias. O comércio internacional beneficiou da integração da china, da
abertura dos países do Leste da Europa e da dessegregação da URSS. A liberalização das trocas ganhou um novo impulso com a criação da OMC
(Organização Mundial do Comércio).

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Liberalização de Capitais
A globalização impôs-se no mercado livre de capitais devido à desregulamentação financeira promovida pelo neoliberalismo. A criação de zonas
francas e dos chamados “paraísos fiscais” originou novos fluxos de capitais. O “dinheiro electrónico” e o sistema financeiro informatizado
permitem que grandes somas de dinheiro sejam movimentadas diariamente, através da nova “economia electrónica global”. Os mercados
financeiros estão cada vez mais interdependentes e as crises tornam-se cada vez mais globais.

A expansão das multinacionais


O desenvolvimento das novas tecnologias, dos transportes e das comunicações permitiu às grandes empresas (multinacionais ou transnacionais)
deslocarem-se e internacionalizaram-se. As multinacionais operam a uma escala global, dominando mercados, impondo modelos de vida e
uniformizando hábitos de consumo ocidentais.

A globalização: vantagens e desvantagens


O processo de globalização, que se consolidou a partir do final da década de 90, é complexo. Os seus defensores apresentam como argumentos
favoráveis: o benefício dos consumidores; a generalização do uso das novas tecnologias e sistemas de informação; a promoção do desenvolvimento
económico em zonas mais periféricas; a melhoria da vida nos países em desenvolvimento; a quebra do isolamento; o acesso a matérias-primas mais
baratas; as empresas transnacionais são uma fonte de investimento e de criação de emprego; o consumo impulsionou a economia dos Países
produtores de matérias-primas, de bens e de serviços; a mobilização da opinião pública para causas humanitárias tornou-se mais global.

Os críticos da globalização apresentam como argumentos contrários: contribui para enfraquecer os produtores e as indústrias locais; gerou
desemprego e salários baixos, diminuiu a diversidade produtiva; provou a desigualdade entre países ricos e pobres; a deslocalização das
multinacionais aumenta a vulnerabilidade ao desemprego; a redução da soberania nacional, a degradação do meio ambiente; promove a
uniformização e americanização dos hábitos e dos gostos. O movimento alterglobalização pretende encontrar alternativas.

Rarefacção da Classe operária


O desenvolvimento das tecnologias de informação e de comunicação, a terciarização da sociedade e a globalização conduziram a alterações no
mundo de trabalho: a crescente industrialização; a diminuição do número de operários; o aumento do desemprego industrial; o fim da ideia de
“emprego para a vida”; a generalização dos trabalhos precários e temporários. O operário é uma figura social cada vez mais rara.

Declínio da militância política e do sindicalismo


A sociedade contemporânea tem sido marcada por um afastamento cada vez maior dos cidadãos face à política. São múltiplas as causas deste
fenómeno: a atenuação de diferenças ideológicas entre partidos políticos; a lógica eleitoralista; a ausência de definição de ideologias sólidas; o apelo
ao voto útil; a descredibilização dos partidos e das eleições; a incapacidade dos sistemas político-partidários nacionais de resolver as desigualdades
sociais; peso crescente das instituições supranacionais; o incumprimento de promessas eleitorais; os escândalos e a corrupção.

Há uma crescente alienação dos cidadãos face à vida política. A opinião pública olha com desconfiança e desinteresse para a classe política, em
especial os mais jovens. O sindicalismo conheceu um forte declínio devido às transformações laborais decorrentes do neoliberalismo e da
globalização: a terciarização da sociedade; a precariedade do trabalho e os contractos temporários; a diminuição dos contractos colectivos de
trabalho; a revisão da legislação laboral e as regras de concertação social; o facto de os trabalhadores não verem eficácia nos sindicatos para defesa
dos seus interesses, leva à diminuição da sindicalização.

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2.2 Dimensões da Ciência e da Cultura no contexto da globalização
Globalização (de 1980 em diante): Transformações culturais:
- Aceleração dos progressos tecnológicos e científicos;
- Avanço da electrónica;
- Expansão da informação e da robótica;
- Revolução da informação e da comunicação;
- Avanço da biotecnologia.

Artes pós modernista:


- Declínio das vanguardas;
- Integração das diferentes correntes; 3ª Revolução Industrial?
- Experimentação artística;
- Eclectismo

Comportamentos/Sociabilidade:
- Materialismo;
- Busco do divino;
- Individualismo moral;
- Perda da autoridade das igrejas;
- Novas formas de associativismo (ONG);
- Hegemonia da cultura americana.

3. Portugal no quadro internacional


3.1 A integração europeia e as suas consequências
Motivos e consequências da adesão de Portugal à Comunidade Europeia:
- Consolidação do regime democrático;
- Afirmação do modelo económico europeu em alternativa à falência do modelo de Estado Novo assente n colonialismo e na EFTA;
- Aumento da concorrência (deslocalização de empresas, assimetrias regionais);
- Restrição da liberdade de acção dos governos regionais;
- Dificuldade do controlo dos fluxos migratórios e da criminalidade;
- Maior visibilidade política dos Estados Nacionais;
- Usufruto da Cidade Europeia;
- Aumento dos investimentos.

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