Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Parte 1
1.1 Um Novo Equilíbrio Global
As Grandes Potências Europeias: Inglaterra; França; Império Alemão; Itália; Império Russo; Império Austro-Húngaro; Império Otomano.
Causas do Conflito:
- Supremacia Industrial: Rivalidade no acesso a matérias-primas na Europa e nos domínios coloniais;
- Choque de interesses económicos entre as grandes potências pelo domínio do comércio mundial;
- Rivalidades entre os Franceses e os Alemães: em Marrocos (1905, 1911), instabilidade nos Balcãs (Guerra de 1911-1912), cobiça pelos
territórios Africanos…
- Conflitos Regionais evidenciam as rivalidades e preparam o clima de guerra generalizada com a corrida aos armamentos/ clima de paz armada;
- Luta pela supremacia política na Europa e no Mundo através da formação de alianças militares: A Tripla Aliança (1882) em que faziam parte o
Império Austro- Húngaro + o Império Alemão + o Império Otomano + a Itália (até 1915) [Regime Absolutistas ou Autoritários] e a Tríplice
Entente em que fazia parte a França + a Inglaterra + a Itália (a partir de 1915) + o Império Russo (até 1917) + EUA (1917) + Portugal
[Regimes Demo-Liberais];
- Atentado de Saravejo a 28 de Junho de 1914- Devido às tenções dos regimes nacionalistas há o assassinato do herdeiro do trono Austro-
Húngaro que leva à intensificação das rivalidades das alianças e consequentemente à I Guerra Mundial (1914-1918).
Consequências do conflito:
- Destruição material, territorial e humana;
- Derrota dos Impérios Centrais e reordenação do mapa político europeu;
- Formação de novos países com base nas nacionalidades, fundados em constituições democráticas liberais e em sistemas parlamentares;
- Redefinição de fronteiras;
- Organização política dos Estados assente em princípios democráticos;
- Revoluções de 1917 na Rússia que instauraram o comunismo;
- Europa perde a sua importância económica e produtiva;
- Os EUA surgem como nova potência hegemónica e passam a ser os credores da Europa.
A Conferência da Paz de 1919 teve como objectivos regulamentar a paz e reorganizar a geopolítica.
As condições prévias das negociações foram preparadas por Wilson nos “Catorze Pontos”. O documento defendia:
- A diplomacia justa e transparente;
- A liberdade de navegação e a igualdade no acesso ao comércio internacional;
- A promoção do desarmamento;
- A regulação das reivindicações coloniais;
- A constituição de uma liga das Nações: a SDN (Sociedade das Nações).
1
Estas imposições infligiram um rude golpe no orgulho alemão e o Tratado de Versalhes foi encarado como um Diktat, uma imposição. A eficácia
do Tratado ficou comprometida, devido à recusa dos EUA em ratificá-lo. Este não integrou a SDN visto que queria manter a “paz” com todos os
países e manter a venda de produtos à Europa.
A SDN revelou diversas fragilidades, entre elas a exclusão dos países vencidos da organização e o constante desentendimento por parte dos países
vencedores. A constante instabilidade política e a incapacidade de dar resolução aos problemas sociais, leva à fragilidade dos regimes demo-liberais,
que acabam por instaurar regimes fascistas para controlar a agitação social.
A 1º Guerra Mundial deixou a Europa fragilizada quer a nível social, quer a nível político e económico. A reconversão da economia de guerra
suscitou diversos desafios:
- A necessidade de reconstrução de infra-estruturas;
- A adaptação e modernização das indústrias à economia de paz e ao aumento de consumo;
- A urgência do relançamento da actividade agrícola;
- O crescente endividamento dos Estados com empréstimos estrangeiros para relançar a sua economia;
- A inflação;
- O flagelo do desemprego;
- A forte especulação com os capitais emprestados;
- A implantação de medidas proteccionistas e o problema cambial.
Assim a sociedade de consumo instalou-se e o acesso ao crédito foi facilitado. Viveu-se o período dos loucos anos 20 e o modelo americano de
consumo e de vida conquistou a Europa.
2
1.2 A implantação do Marxismo-Leninismo na Rússia- A Construção do Modelo Soviético
A Rússia nas vésperas da Revolução:
- Regime Imperialista (Czar detinha em si todos os poderes);
- Em crise (frágil industrialização e comércio pouco dinâmico);
- Agricultura precária, tradicional e sem tecnologia modernizada;
- Pobres sustentam os ricos (minoria de privilegiados domina a grande propriedade, camponeses constituem a maior parte da população e o
operariado pouco representativo trabalha precariamente);
- 22 De Janeiro de 1905: Revolução pacifista falhada que resultado num massacre sangrento (Domingo Sangrento);
- Guerra agrava a economia;
- O colima de revolução eclode com as manifestações das mulheres; greve de operários e a formação de conselhos ou sovietes;
- O objectivo era alterar o regime político, melhorar as condições económicas e sociais e retirar a Rússia da Guerra.
Protagonistas:
- Manifestações das mulheres;
- Greves de Operários;
- Sovietes de Petrogrado;
Efeitos Imediatos:
- Queda do Czarismo;
- Entrega do poder a um Governo Provisório, de cariz burguês;
Problemas levantados:
- Dualidade de poderes: Contestação dos Sovietes ao Governo Provisório;
- Reivindicações dos Sovietes: abandono do conflito militar, distribuição das Terras, aumento dos salários.
3
Protagonistas:
- Sovietes;
- Bolcheviques.
Efeitos Imediatos:
- Queda do Governo Provisório;
- Democracia dos Sovietes: poder político nas mãos do Conselho dos Comissários do Povo (exclusivamente bolchevique); entrega de Terras a
sovietes camponeses; controlo operário.
- Abandono do conflito mundial- paz separada com a Alemanha em Março de 1918.
Problemas levantados:
- Resistência de proprietários e empresários às expropriações;
- Desorganização da economia;
- Oposição do Ocidente- boicote externo;
- Guerra Civil (1918-1920) - “Brancos” (Os que se opunham à revolução) contras os “Vermelhos” (Os que apoiava a revolução).
Fases da Revolução:
- Comunismo de Guerra (1918-1920); - Lenine
- NEP (Nova Política Económica- 1921-1927); - Lenine
- Socialismo num só país (1928-1953) - Estaline
Medidas:
- Interrupção da colectivização agrária;
- Liberdade do comércio interno;
- Desnacionalização das empresas;
- Investimento estrangeiro.
4
Consequências:
- Recuperação económica;
- Criação de Classes Sociais (Koulaks: Pequenos proprietários rurais; Nepmen: Pequenos industriais e comerciantes);
Para Lenine esta etapa constituiu “um passo atrás e dois à frente” pois recuou na revolução mas recuperou a produção e economia e estabeleceu
condições para mais tarde implementar o socialismo.
Em 1918, com o final da guerra, a democracia liberal dominou na Europa central e ocidental: os novos países eram constitucionais, adoptando a
divisão de poderes e o sufrágio universal. O Demoliberalismo revelou-se frágil e foi posto em causa.
A revolução bolchevique de 1917 teve repercussões na Europa: o marxismo-leninismo procurou estender a acção revolucionária a todos os países,
através da acção do Komintern ou III Internacional (1919), com vista a acabar com os regimes burgueses e capitalistas. A onda revolucionária era
encarada, pelos governos demoliberais, como uma ameaça à ordem estabelecida.
Os receios provocados pelas vagas revolucionárias favoreceram a ascensão de movimentos autoritários de direita, na década de 20. Estes
movimentos eram defensores do nacionalismo e da ordem, contra o marxismo. Em Itália, formou-se o Partido Nacional Fascista. Benito Mussolini
organizou a “Marcha sobre Roma” e tomou o poder. Os movimentos autoritários de direita alastraram por toda a Europa, desde a Hungria a
Portugal. Na Alemanha, Adolf Hitler empreendeu um golpe em Munique, que tinha como objectivo iniciar uma revolução.
1.4 Mutações nos Comportamentos e na Cultura/ Mudanças no quotidiano e mentalidade da mulher no século XX:
- Emancipação na sociedade devido à nova vida urbana e industrialização (papel mais activo na sociedade, trabalha fora de casa, não obedece aos
papéis tradicionais como procriar);
- Separação da religião do Estado (valorização da vida terrena, perda da importância do casamento, diferenças na família que passa a ser um núcleo
familiar ou seja, os pais e o(s) filho(s) em vez da extensa família; a igreja separa-se da educação);
- Apôs- Guerra muda a mentalidade de como as pessoas vêem a vida; a proximidade da morte faz com que a população procure desfrutar de todas
as regalias que têm direito;
- Sociedade de consumo e consequente surgimento de novos equipamentos e tecnologia que aumenta o reforço da vida urbana;
5
A mulher dos anos 20 assume novas funções e um novo papel social. A flapper tornou-se o símbolo da mulher urbana, dos anos 20. Conquistou
independência económica e usufruiu de maior liberdade na vida doméstica. O feminismo ganhava grande impacto.
A ausência de regras; o relativismo dos valores e o abandono da moral tradicional conduziram à anomia social.
Anomia Social: Designa o sentimento de vazio, de perda de raízes, em virtude das mudanças sociais, provocadas pelo fim das normas dos valores
tradicionais de regulação da vida e da sociedade.
6
Apesar da diversidade das manifestações e perspectivas, as correntes modernistas apresentam características comuns:
- Rompem com o passado e com as tradições académicas;
- Contestam a sociedade burguesa;
- Valorizam a subjectividade e a emotividade (assente nos instintos);
- Recusam o realismo e buscam o que está para além da realidade aparente;
- Recebem contributos das novas conceções científicas do início do século;
- Revelam inovação e experimentação a nível da estrutura formal e da desconstrução do objecto artístico;
- Valorizam a espontaneidade e a liberdade de criação;
- Enaltecem a interioridade do artista;
- Contrapõem o sentido mais primitivo do indivíduo à sofisticação e ao progresso tecnológico;
- Revelam a influência da arte não ocidental (oriental e africana).
As obras de vanguarda foram produzidas por uma elite cultural e apreendidas por uma minoria, pois exigiam um maior entendimento e uma nova
atitude estética.
5 De Outubro de 1910
Laicismo Parlamentarismo Legislação Social
- Liberdade e igualdade de cultos; - Trabalho (regulamentação da greve
- Abolição do juramento religioso; e do horário de trabalho, descanso
- Proibição das congregações semanal)
religiosas e ordens monásticas; - Habitação, saúde, assistência
- Supremacia do Congresso da
- Registo civil obrigatório para os (bairros operários, hospitais,
República sobre o Governo e o
nascimentos, casamentos e óbitos: sanatórios, creches...)
presidente da república.
- Ensino liberto de influências - Família (casamento civil, divórcio,
religiosas. direitos da mulher e dos filhos)
- Instrução (ensino primário laico e
obrigatório, crescimento do ensino
secundário e superior).
Dificuldades da 1ª República:
Dificuldades económicas: Portugal, após a implementação da república, mantinha-se ainda aquém do nível de desenvolvimento do resto dos países
da Europa. A agricultura tinha fraco desenvolvimento técnico e a indústria era pouco competitiva e com ausência de infra-estruturas. O esforço de
participação na guerra trouxe dificuldades acrescidas, pois obrigou à subida de impostos, ao recurso a empréstimos e ao aumento significativo da
dívida pública. Como forma de solucionar o desequilíbrio orçamental, os governos procederam à emissão da moeda, provocando a desvalorização
do escudo, o aumento da inflação e a diminuição do poder de compra. A fome e a miséria sentiam-se com a persistente dificuldade de
abastecimentos, a carência de bens e o consequente racionamento de produtos, tornando a vida dos portugueses penosa, afectando até mesmo as
classes médias.
7
Instabilidade política e social: O clima de instabilidade política na 1ª República era sentido em diversas formas: em primeiro lugar, devido à falta
de unanimidade de decisões, presente na existência do elevado número de partidos, com diferentes ideias e perspectivas, que se acentuou com a
participação de Portugal na 1º Guerra Mundial. O poder legislativo tinha predomínio sobre o executivo e a constante rotatividade dos partidos e o
seu elevado número num curto espaço de tempo dava descredibilidade à República. As ideias impostas eram demasiado modernas para a
mentalidade da época, como por exemplo a laicização do Estado numa sociedade fortemente cristã. A protecção dos operários gerou grande
descontentamento nas classes privilegiadas e as reformas sociais não implementadas geraram descontentamento na população com manifestações e
greves. A crise de valores dava lugar à corrupção e aumentava as dificuldades económicas de todas as classes, num clima de propagação da crise e
do desemprego.
O Modernismo Português:
Em Portugal, assistiu-se a uma forte resistência à inovação e a uma permanência do naturalismo devido à:
- Agitação política de finais do século XIX e inícios do século XX;
- Monotonia do rotativismo político correspondia uma não menos monótona e decadente produção intelectual;
- Os interesses políticos burgueses sobrepunham-se aos interesses culturais, condicionando a liberdade de expressão;
- Ensino anquilosado, submetido à tradição e ao respeito pela experiência e pela longevidade de alguns professores;
- Baixo nível de alfabetização da população portuguesa;
- Mentalidade conservadora: influência religiosa; persistências dos valores aristocráticos.
Primeiro Modernismo (1915- Revista Orpheu) Segundo Modernismo (1927- Revista Presença)
- Publicação de dois números (Março e Junho de 1915), - Inseriu-se intelectualmente na linha de pensamento do
que marcam a introdução do modernismo em Portugal: movimento Orpheu. Continuou a luta pela crítica livre
novas formas e novos temas; poemas de intervenção na contra o academismo literário e, inspirados na
contestação da velha ordem literária; denúncia psicanálise freudiana, os seus intelectuais bateram-se
inconformista da crise de consciência intelectual. pelo primado do individual sobre o colectivo, do
psicológico sobre o social, da intuição sobre a razão.
-Assumiu-se como uma rutura com os valores do
naturalismo e com academismo. Opôs-se ao gosto - O modernismo português ganhou maior
burguês que perdurava desde os oitocentos. Foi o individualidade face à Europa, acrescentado-lhe
primeiro momento de modernidade em Portugal. características próprias. Ao nível temático, adquiriu
Profundamente urbano, reflectiu as tendências das maior emotividade e expressividade. Encontrou
vanguardas europeias. Foi influenciado pela arte inspiração na arte popular portuguesa. Valorizou a
primitiva e tribal. Encontrou forte inspiração no ingenuidade na arte enquanto valor essencial da criação
cubismo e no futurismo. Apresentou novos valores artística. Afastou-se da urbanidade e procurou
plásticos como uma maior simplicidade do desenho, a distnaciar-se da vida intelectual lisboeta.
desconstrução do espaço e o suo de cores fortes e
contrastantes. Assumiu-se como um movimento - Arquitectura: Aproximou-se da modernidade
provocatório que visava abalar a sociedade e as suas europeiua que associou a uma identidade nacional.
8
convenções. Inaugurou, na literatura, novos métodos de
escrita, onde o cumprimento da pontuação, a
apresentação gráfica, o encadeamento do discurso e a
inteligibilidade do texto foram colocados de lado.
2.
2.1 A grande Depressão e o seu impacto social
A crise dos anos 30
Nos anos 20, vivia-se um período de propriedade nos EUA devido a vários factores:
- Livre produção (Capitalismo Liberal);
- Progresso tecnológico (novos métodos de produção: Taylorismo, Fordismo, homogeneização e estandardização da produção, produção em série
e massa);
- Facilitação do crédito (aumento do poder de compra);
- Especulação bolsista (aumento do valor artificial das ações);
- Consumismo desenfreado (ligado à facilidade de produção e de compra).
9
2.2 As Opções Totalitárias: O Fascismo Italiano e o Nazismo Alemão
Durante a década, vários foram os factores da emergência de regimes autoritários:
- A agitação social e o desemprego;
- A instabilidade política e a ameaça da revolução bolchevique;
- O avanço do radicalismo e o “medo vermelho”;
- A descrença das classes médias e do operariado nas democracias liberais, sobretudo nos países onde a experiência democrática era recente e a crise
económica e financeira era profunda;
Os regimes totalitários foram em grande parte resultado dos efeitos da Primeira Guerra Mundial, agravados pelas consequências da crise de 1929.
Totalitarismo: Designa o sistema político em que o Estado se sobrepõe ao indivíduo e onde o partido único, liderado por um chefe, promove uma
ideologia oficial que deve ser seguida, não admitindo qualquer forma de contestação, e estendendo o controlo total a todos os domínios da
sociedade e da economia. A polícia política e outros meios repressivos e de terror são responsáveis pela garantia da ordem e pelo funcionamento
do regime totalitário.
O Nacionalismo Exacerbado (ou ultranacionalismo): Apelavam à grandeza e à gloria da nação e aspiravam à hegemonia do seu povo. Esta
característica surge associada ao imperialismo e ao militarismo. No caso da Itália, procurava alcançar as grandezas do antigo Império Romano. No
caso da Alemanha, traduziu-se na defesa da ideia da criação de um império alemão, dominando outros povos da Europa considerados inferiores,
criando o “Espaço Vital”.
Elites e enquadramento das massas: Os movimentos fascistas aceitavam a desigualdade social, acreditando “que uns nasciam para liderar e outros
para serem liderados”. As elites, constituídas por membros do partido único, considerados os melhores da sua raça, eram escolhidos para liderarem
o governo da nação e para orientarem as massas. Desde a mais tenra idade, o indivíduo encontrava nas organizações paramilitares fascistas de
juventude, de frequência obrigatória, um lugar e um papel a desemprenhar em prol do Estado. A inculcação dos valores fascistas era feita também
10
pelos professores e pelos manuais que promoviam a submissão e a obediência, e anulavam a crítica e a vontade individual. O novo indivíduo
guiava-se pela devoção e culto ao chefe, pela defesa do Estado e pelos valores da guerra e do desporto.
A propaganda: A difusão dos princípios fascistas foi garantida por uma máquina de propaganda, que modelava a opinião pública através de
informação controlada, manifestada de diversas formas como desfiles comemorativo com discursos oratórios. Mussolini e Hitler utilizaram
também a arte como veículo de divulgação dos valores dos movimentos fascistas totalitários. A censura foi um meio que serviu para reforçar os
valores do regime e impedir qualquer forma de dissidência.
O culto da força e da violência: Os movimentos fascistas perpetuaram-se no poder graças à organização de um sistema fortemente violento e
repressivo que denunciava, perseguia, prendia e torturava todos aqueles que se opunham e contestavam as directrizes do líder e do partido. As
organizações paramilitares e a polícia secreta (possuidoras de informações vitais) espalharam o terror entre todos aqueles que eram considerados
perigosos ou adversários do regime, enviados para campos de concentração.
Um novo Homem: Procuraram criar um novo Homem, formado nos valores do fascismo: o heroísmo guerreiro, a obediência, a disciplina, ou seja,
o combatente que luta energicamente pela defesa do chefe, do Estado, do povo e da raça. O militarismo tronou-se numa vertente do fascismo, com
vista a preparar o povo e a nação para a guerra.
A negação dos direitos humanos e o racismo: A ideologia nazi assumiu como princípio ideológico o racismo: defesa da superioridade da raça
ariana; adopção de práticas repressivas e de legislação que visavam o aperfeiçoamento físico e mental da raça ariana; perseguição, marginalização e
extermínio dos fracos, degenerados, ciganos, eslavos, socialistas, comunistas e liberais. Propagou-se o anti-semitismo.
A autarcia como modelo económico: Na sua prática económica adoptaram formas de organização que tinham em vista a recuperação económica e
a promoção da autarcia (auto-suficiência) da nação, reduzir a dependência face ao estrangeiro, proteger a economia nacional das crises capitalistas e
exercer um controlo ou dirigismo sobre a economia.
Corporativismo Italiano:
- Enquadramento da população trabalhadora em sindicatos fascistas e corporações mistas;
- Proibição da greve e do lock-out;
- Superintendência da contratação colectiva;
- Substituição da Câmara dos Deputados pela Câmara dos Fasci e Corporações;
- “Batalha da Produção” (Do Trigo, da Lira e da Bonificação);
- Abolição da livre iniciativa e da livre-concorrência;
- Iniciativa económica a cargo do Estado;
- Fixação dos preços e dos salários;
11
Na Alemanha:
- Relançaram-se as indústrias;
- Recorreu-se à concentração industrial;
- Criou-se um programa de rearmamento;
- Promoveram-se obras públicas;
- Incentivou-se a produção agrícola com o principal objetivo de alcançar a autarcia.
Em ambos os países:
- Estimulou-se o consumo de produtos nacionais, de modo a aumentar a produção;
- As tarifas alfandegárias foram aumentadas para diminuir as importações.
2.2.2 Estalinismo:
Depois da morte de Lenine em 1924 e uma luta pelo poder com Trotsky, Josef Estaline assumiu a liderança da URSS em 1928. Manteve a
estrutura de partido único e o controlo da economia por parte do Estado mas abandou a NEP, achando que o retroceder à iniciativa privada
punha em risco a edificação da sociedade sem classes, ao permitir o reaparecimento de pequenos proprietários (kulaks e Nepmen).
Como o objectivo de acabar com o atraso económico e industrial da URSS face aos países desenvolvidos, Estaline adoptou diversas medidas:
1) Planificação da economia:
- Através de um organismo estatal oficial, o Gosplan, foram definidos planos quinquenais, cada qual com objectivos e prazos para a actividade
económica, bem como os sectores a privilegiar e os meios a utilizar. Deu-se prioridade essencialmente à indústria pesada e à indústria química. Esta
política económica teve resultados notórios e a URSS alcançou o lugar de terceira potência industrializada do mundo, muito devido à custa do
bem-estar dos operários. Estes eram apelados a se superarem para produzirem mais, muitas vezes incentivados com prémios de produtividade e
condecorações aos operários que produziam acima do nível médio.
3) Burocratização do Estado:
- Estaline tornou-se a figura central da URSS. Secretário-geral do partido comunista, ocupou o topo da hierarquia num país em que o Estado e o
partido se confundiam e que as ordens eram seguidas de forma inquestionável. A Constituição de 1936 reforçou o poder do partido comunista e
fez de Estaline o detentor da autoridade suprema, com a ajuda de uma nova classe de funcionários (os apparatchik), criteriosamente seleccionados
e doutrinados pelas orientações de uma máquina burocrática e administrativa (nomenklatava). Em torno do líder desenvolveu-se um grande culto
de personalidade, vendo este como uma figura paternalista que levou a URSS ao seu grande esplendor. Para além deste culto, os princípios e
valores do regime eram transmitidos com a mobilização das massas em recrutamentos para o partido, para os sindicatos autorizados e para as
organizações de juventude como os Pioneiros e a Komsomol.
12
4) Repressão:
- A política estalinista assumiu um carácter fortemente repressivo. A polícia política (KGB) prendia os suspeitos de actividades consideradas
contra-revolucionárias, bem como aqueles que não as denunciavam, sendo executados ou deportados para campos de trabalhos forçados (os
Gulag). Entre 1937 e 1938 viveram-se anos de terror devia às inúmeras purgas que atingiram os “inimigos do povo” (bolcheviques), acusados de
conspiração e condenados em julgamentos-espectáculo.
1) Financeiras e monetárias:
- Encerramento temporário das instituições financeiras;
- Aprovação da lei Emergency Banking Act, que estabeleceu a diferença entre bancos de depósito e de investimento, para regular o sistema
financeiro;
- Desvinculação do dólar do padrão-ouro e a sua desvalorização para aumentar as exportações, diminuir as dívidas dos agricultores e aumentar a
subida dos preços agrícolas e industriais.
2) Agrícolas:
- Aprovação da lei Agriculture Adjustement Act (AAA) destinada a limitar a produção agrícola, para aumentar os preços;
- Concessão de indeminizações aos agricultores, para a destruição de stocks e para a redução da superfície cultivada;
- Concessão de empréstimos aos agricultores, a longo prazo e a taxas favoráveis.
3) Industriais:
- Aprovação da lei National Industrial Recovery Act (NIRA) que propôs aos industriais do mesmo ramo de actividade, a assinatura de um código
de “concorrência leal”, beneficiando de ajudas estatais.
- Estabelecimento de preços mínimos e de quotas de produção, destinadas a diminuir os preços dos produtos industriais.
4) Socioecónomicas:
- Fixação do horário semanal entre as 35 e as 40 horas, em função dos ramos de actividades;
- Estabelecimento de um salário mínimo;
- Autorização da liberdade sindical, cabendo aos delegados dos operários a negociação, com o patronato, de contractos colectivos;
- Combate ao desemprego através da criação de um organismo estatal (Public Workd Administration), encarregue de fomentar o emprego;
- Desenvolvimento de um programa de obras públicas (barragens, estradas, vias férreas), ao nível dos vários Estados federais;
- Programa de contratação de jovens desempregados para trabalhos de conservação (plantação de árvores, manutenção dos parques nacionais e
construção de canais de irrigação).
13
A segunda fase do New deal foi marcada pelo estabelecimento do seguro de velhice e de sobrevivência. A aprovação da lei Social Security Act
criou um sistema federal de apoio à velhice, o subsídio de desemprego e a assistência médica a desfavorecidos. Surgia um estado de carácter social-
o Estado-Providência. A criação do organismo Working Progress Administration permitiu o aumento do número de empregos. Institui-se a
National Youth Administration, com vista a empregar os licenciados sem trabalho. A aprovação da lei Wagner reforçou os direitos e as liberdades
sindicais dos trabalhadores, impedindo o despedimento dos operários sindicalizados.
O New Deal mudou a vida de milhares de Americanos e trouxe inúmeras consequências positivas:
- Diminuição do desemprego;
- Aumento do poder de compra;
- Aumento da produção;
- Modernização do país e melhoria das condições de vida através do programa de obras públicas e de assistência social.
França:
- Durante os anos 30, debateu-se na França uma crise profunda sentida no elevado desemprego e na descrença na democracia parlamentar. Vendo
que poderia acontecer um golpe de Estado para instaurar um regime de tipo fascista por parte das forças de direita, a 6 de Fevereiro de 1934
assistiu-se à formação de uma coligação entre as organizações antifascistas e os partidos de esquerda, denominada Frente Popular.
Sob o lema “Pão, Paz e Liberdade”, a coligação da Frente Popular tinha como objectivos resolver a crise económica, pôr fim ao desemprego e
fazer frente ao fascismo.
Depois da vitória nas eleições, da subida ao poder de Léon Blum e da vaga grevista com ocupações das fábricas, implementou-se os acordos de
Matignon, que resultaram da negociação entre o patronato e a Confederação Geral do Trabalho (CGT), mediados pelo governo. Possibilitaram
pacificar o clima social, através da aprovação das seguintes medidas:
- Aumento médio dos salários;
- Assinatura de contractos colectivos de trabalho;
- Eleição de delegados dos trabalhadores nas empresas;
- Reconhecimento aos operários do livre exercício do direito sindical, em troca do fim das greves e das ocupações;
- Concessão de 15 dias de férias pagas aos trabalhadores e limitação do horário semanal para 40 horas;
- Política cultural: redução dos bilhetes de comboio e das entradas em museus, bem como a construção de albergues de juventude, promovendo
uma cultura popular;
- Reforma dos mineiros;
- Nacionalização das indústrias de aeronáutica, de armamento e dos caminhos-de-ferro;
- Aumento dos poderes do Estado sobre o Banco de França;
- Programa de obras públicas e aumento da escolaridade obrigatória até aos 14 anos.
Espanha:
Durante a Segunda República, em 1936, criou-se uma frente eleitoral, também designada Frente Popular, que reuniu os principais partidos de
esquerda. O governo da Frente Popular, após ter ganho as eleições (Manuel Azaña), aprovou diversas medidas das quais se destacam:
- A amnistia dos presos políticos e de delito comum;
- A diminuição dos impostos;
- O restabelecimento do estatuto calão e a aprovação das autonomias da Galiza e do País Basco;
- A melhoria das condições de vida dos trabalhadores, devido ao aumento dos salários.
14
Face a estas medidas populares e de cariz centralizador, a direita conservadora (Frente Nacional- Nacionalistas) reagiu. Iniciou um
pronunciamento militar, destinado a derrubar o governo da Frente Popular (republicanos). Começava a guerra civil espanhola que terminou com a
vitória dos nacionalistas e com a instauração de um regime autoritário liderado por Francisco Franco.
O Funcionalismo e o Urbanismo:
Os Estados repensaram os edifícios e as cidades, para serem eficientes e funcionais devido ao aumento da urbanização. Assistiu-se ao aparecimento
de uma nova teoria, o Funcionalismo, segundo a qual os edifícios e os objectos devem ser construídos e subordinados à sua função. A arquitectura
funcionalista apresentou diversas características:
- Ausência de ornamentos;
- Predomínio de linhas rectas;
- Janelas de grandes dimensões;
- Uso de pilares para sustentar as construções;
- Enquadramento dos edifícios no espaço urbano.
O funcionalismo orgânico procurou a ligação Homem/Natureza, criando construções mais humanizadas.
Instabilidade política e social: O clima de instabilidade política na 1ª República era sentido em diversas formas: em primeiro lugar, devido à falta
de unanimidade de decisões, presente na existência do elevado número de partidos, com diferentes ideias e perspectivas, que se acentuou com a
15
participação de Portugal na 1º Guerra Mundial. O poder legislativo tinha predomínio sobre o executivo e a constante rotatividade dos partidos e o
seu elevado número num curto espaço de tempo dava descritibilidade à República. As ideias impostas eram demasiado modernas para a
mentalidade da época, como por exemplo a laicização do Estado numa sociedade fortemente cristã. A protecção dos operários gerou grande
descontentamento nas classes privilegiadas e as reformas sociais não implementadas geraram descontentamento na população com manifestações e
greves. A crise de valores dava lugar à corrupção e aumentava as dificuldades económicas de todas as classes, num clima de propagação da crise e
do desemprego.
Princípios ideológicos:
- Autoritarismo: O Estado Novo rejeitou a democracia parlamentar (antidemocrático e antiparlamentar), o liberalismo (antiliberal) e o
pluripartidarismo (anti partidário), e assumiu-se como um regime autoritário e de um Estado forte, traduzido no slogan “Tudo pela Nação, nada
contra a Nação” (recusava a soberania popular; impedia a realização de eleições livres; os direitos individuais não eram respeitados). A existência
de inúmeros partidos com ideias diferentes e interesses particulares, levou à criação de um partido único, a União Nacional (Congregava as forças
da Direita: antimarxistas, conservadoras e defensoras dos valores tradicionais). A Constituição de 1933 enquadrou os novos princípios ideológicos
e consagrou a criação de um Estado unitário e corporativo, com 4 órgãos de soberania: o Presidente da República, a Assembleia Nacional, o
Governo e os Tribunais. O poder executivo, controlado por Salazar, assumiu um lugar preponderante, cabendo ao chefe de Governo a iniciativa
legislativa mas submetendo sempre o poder legislativo ao executivo. O poder centrou-se em Salazar, presidente do Concelho, considerado chefe da
Nação, o símbolo do poder e da unidade, cuja imagem era objecto de culto e centro da propaganda do regime.
- Nacionalismo: O nacionalismo constitui-se como outros dos princípios ideológicos do Estado Novo, com base no culto do passado histórico da
nação, a fim de fazer ressurgir a crença no sentimento nacional. A unidade nacional e a valorização do povo português foram elementos da
narrativa do Estado Novo: mitificou-se a ideia do passado glorioso da pátria e dos portugueses como um povo de heróis; valorizaram-se as
tradições populares e os elementos tipicamente portugueses; exaltou-se a singularidade da nação, realçando as virtudes ímpares. O Estado Novo
assentou nos valores da tradição e do conservadorismo. Sob a égide “Deus, Pátria e Família” erguiam-se os valores nacionais, inquestionáveis. A
religião católica era um pilar fundamental do Estado Novo, visto que a devoção religiosa e o fervor católico eram valores já fortemente enraizados
na sociedade portuguesa. O ensino religioso voltara a ser reintroduzido. A família, elemento estruturante da sociedade, assentava na autoridade do
pai, na obediência dos filhos e na honra e submissão da mulher. Era o garante do equilíbrio social, um dos principais esteios da sociedade. Os
valores materiais subordinavam-se aos morais, vivendo-se de forma pacata, obediente, cultivando-se a modéstia e a simplicidade. Apelava-se o
ruralismo.
- Repressão: O Estado Novo que recusava o liberalismo e a democracia dispunha de diversos meios de repressão de modo a controlar a
informação, a contestação e a desobediência política:
- Censura,
- Polícia Política (PVDE- PIDE- DGS);
- Uso de tortura nos interrogatórios;
- Proibição dos sindicatos livres e da corporativização;
- Criação de prisões (Caxias e Peniche);
- Campos de concentração (Tarrafal e S. Nicolau, em Cabo Verde; Machava, em Moçambique).
- Doutrinador: Como forma de veicular os princípios ideológicos do Estado Novo e de promover a adesão ao regime, criaram-se diversas
instituições e utilizaram-se vários meios que permitiram o enquadramento das massas: o partido único, o Secretariado da Propaganda Nacional, o
ensino, a Ação Escolar de Vanguarda e a Mocidade Portuguesa, a Legião Portuguesa, o juramento dos funcionários públicos, a Fundação Nacional
para a Alegria no Trabalho, a Mocidade Portuguesa Feminina e o movimento da obra das Mães para a Educação Nacional.
16
- A recuperação económica: O controlo das finanças e o equilíbrio orçamental foram uma prioridade para o Estado Novo. A Constituição de
1933 permitiu um Estado intervencionista, que regulava a economia, permitindo a iniciativa particular no âmbito do corporativismo. Criou uma
política económica virada para a autarcia. Assistiu-se a superavit nas contas públicas graças principalmente ao aumento dos impostos, aos baixos
salários e às menores importações (com altas taxas alfandegárias).
- A defesa da ruralidade: O Estado Novo fez da defesa da ruralidade uma das suas imagens de propaganda. A valorização da agricultura e o
fomento agrícola visavam garantir a autarcia e diminuir a dependência face ao estrangeiro, contribuindo também para o aumento das exportações.
Salazar lançou diversas campanhas agrícolas com vista a desenvolver inúmeras culturas como a da vinha, a produção do azeite, da cortiça, da batata
e da fruta, mas destacou-se, com inspirações em Mussolini, a campanha do trigo, que abasteceu o mercado interno e temporariamente o externo.
Estas campanhas permitiram aumentar do emprego rural e o desenvolvimento dos sectores industriais ligados à produção agrícola. A política da
ruralidade foi também marcada por um plano de florestação, um aproveitamento dos recursos hidráulicos e com o processo de colonização
interna.
- Obras públicas: O Estado Novo, pela mão de Duarte Pacheco, ministro de Oliveira Salazar, empreendeu um vasto programa de obras públicas,
com vista a modernizar o país, a impulsionar o desenvolvimento económico e a reduzir o desemprego. No domínio das infra-estruturas, procedeu-
se à construção de estradas, auto-estradas, à expansão da rede ferroviária e aérea, construíram-se barragens e centrais hidroeléctricas. Os meios de
comunicação como as redes de telefone e telégrafo expandiram-se. Assistiu-se à construção de vários equipamentos públicos como hospitais,
escolas, tribunais, prisões e estádios. Promoveu-se o restauro de vários monumentos nacionais.
- Condicionamento industrial: A política do Estado Novo, no domínio industrial, ficou marcada pela adopção do condicionamento industrial, que
tinha os seguintes objectivos:
- A intervenção do Estado na economia,
- A imposição de regras para evitar a superprodução;
- A defesa do nacionalismo económico;
- A regulação da actividade produtiva e da concorrência;
- A atenuação do desemprego.
O Estado era o mediador entre os interesses privados e os interesses colectivos, a quem competia organizar e gerir os diferentes sectores de
actividade, autorizado a instalação de novas fábricas, a montagem e a substituição de maquinaria. Esta característica da política económica impediu
a concorrência, contribuiu para o aumento da burocratização, protegeu empresas, favoreceu a concentração industrial em determinados sectores de
actividade e limitou a modernização.
- Corporativismo: O corporativismo garantiu a colaboração entre as classes e a conciliação dos interesses do patronato e dos assalariados, para
assegurar o bem comum e a unidade nacional. A sua adopção levou à criação da Câmara Corporativa que representava os “interesses sociais” mas
era inferior à Assembleia Nacional e ao governo. O Estado dispunha de diversos organismos corporativos: as corporações (organização unitária das
forças de produção que integrava os sectores económicos e as corporações culturais, as Federações e Uniões (compreendiam as associações de
sindicatos, as uniões de grémios e as uniões de casas do povo), os Grémios (reuniam o patronato e as empresas privadas em geral), os Sindicatos
Nacionais (reuniam os trabalhadores do comércio e da indústria), as Casas do Povo (reuniam os agricultores e os proprietários agrícolas de cada
freguesia) e as Casas dos Pescadores (reuniam os pescadores e os seus patrões em cada freguesia). O corporativismo considerava ainda a greve um
“delito político” e uma “rebelião”, condenando o despedimento colectivo por parte dos patrões (lockout). Aboliu os sindicatos livres e decretou a
inscrição obrigatória nos sindicatos nacionais.
- Política Colonial: O Ato Colonial consagrou a noção de Império Colonial Português, valorizou a mística da vocação imperial de Portugal e a
ideia de um país que abrangia um vasto território pluricontinental. A acção de Portugal nas colónias era encarada como uma missão civilizadora
com vista a educar e a cristianizar os povos autóctones. Em termos económicos, estabelecia-se a complementaridade entre a economia da
17
metrópole e a das colónias. As colónias afirmavam-se como mercados de escoamento dos produtos industriais metropolitanos, enquanto a
metrópole recebia as matérias-primas coloniais, a preços reduzidos. As colónias estavam submetidas aos interesses da metrópole, devendo a sua
política de desenvolvimento ter em conta os interesses metropolitano, numa clara posição de dependência. A mística imperial e a vocação
civilizadora foram propagandeadas através de um conjunto variado de actividades como congressos, colóquios, conferências coloniais e exposições.
- Projecto Cultural do Regime: O SPN concebeu um projecto totalizante ao nível da cultura. Exaltou as realizações do regime, procurou ligar a
imagem do chefe, do país e do Estado à tradição, à História heróica portuguesa, à exaltação da pátria e dos valores tradicionais (conservadores e
ruralistas). O Estado Novo, através do SPN, desenvolveu a “Política do Espírito”, para elevar o nível cultural dos portugueses, valorizar o espírito
nacional e a cultura popular. Padronizou-se a cultura e restringiu-se a livre produção cultural, por ser contrária aos princípios do regime. Foram
promovidas exposições, festivais de folclore, concursos e criaram-se prémios literários e artísticos. O regime participou em inúmeras exposições
internacionais para ganhar visibilidade e publicou obras propagandísticas.
18
A Conferência de Postam (17 de Julho a 2 de Agosto de 1945), traduziu-se na concretização das decisões da conferência de Ialta:
Separação da Alemanha da Áustria;
Criação de um tribunal, em Nuremberga, para julgamento dos crimes de guerra cometidos pelos nazis;
Divisão da Alemanha em quatro zonas de ocupação (americana, inglesa, soviética e francesa);
Desnazificação, democratização, descartelização e desmilitarização da Alemanha;
Definição das fronteiras da Polónia;
Definição do montante de indeminizações de guerra;
Elaboração da Declaração de Potsdam, que definiu os termos da rendição do Japão.
As Conferências de Ialta e de Potsdam revelaram alguma tensão devido à clara intenção de Estaline em estender a sua influência sobre o Leste
Europeu, com base na legitimidade de ter libertado esses países do domínio nazi, onde os partidos comunistas já ganhavam ascendência e criavam
governos. Marcava-se o início da divisão ideológica da Europa, no que Winston Churchill chamou de cortina de ferro, uma divisão imaginária
entre os países de influência capitalista e os de influência comunista.
A ONU:
Criada em Abril de 1945, tinha como objectivos alcançar a paz, garantir a segurança e promover a cooperação entre as nações, apaziguando as
tensões internacionais, promovendo o bem-estar dos povos e dos mais favorecidos, com desenvolvimento dos cuidados de saúde, do ensino e da
assistência aos refugiados. Estas preocupações humanitárias foram reforçadas em 1948 com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tem
como seu maior órgão o Conselho de Segurança, responsável pelas sanções aplicadas aos países que violem a Carta das Nações e a manutenção da
paz. Foi a sucessora e resposta à fracassada Ligas das Nações.
19
1.2 O tempo da Guerra Fria- A consolidação do Mundo Bipolar
Capitalismo (EUA) Comunismo (URSS)
- Monopartidarismo;
- Multipartidarismo;
- Democracia Popular;
- Democracia (Liberal, cristã e
- Processo das democracias populares
Interna social);
(1947-1950: Período de influência e
- Macartismo (1950-1953: oponha-
de organização política dos países
se fortemente ao Comunismo)
satélites da URSS).
- Doutrina Truman (1947): EUA é
- Doutrina Idanov (1947):
o bastião das democracias
Kominform/Hegemonia Soviética;
Política ocidentais;
- Pacto de Varsóvia (defesa militar);
- NATO (defesa militar);
- Plano Molotov (Ajuda económica
- Plano Marshall e Plano Dodge
aos países orientais satélite sob
Externa (Ajudas económicas à Europa e ao
influência da URSS para
Japão respectivamente para
reconstrução do pós-guerra);
reconstrução do pós-guerra);
- COMECON (Organismo que
- OECE (Organismo que integrou e
integrou e aplicou o plano Molotov);
aplicou os planos económicos);
- KGB (Espionagem).
- CIA (Espionagem).
- Economia estatizada/planificada;
- Economia de mercado; - Industrialização- prioridade à
- Reforço do sector público indústria pesada;
(Estado-Providência) e do - Atrofia do sector terciário;
intervencionismo do Estado (através - Evolução:
Economia de Impostos);
Até à década de 60:
- Crescimento do sector terciário;
Crescimento intenso;
- Evolução até 1973: crescimento
intenso (O período dos “Trinta Década de 70 e 80:
Gloriosos”. Deterioração irreversível do
sistema económico.
- Ideal igualatório: sociedade sem
- Sociedade de classes;
classes;
- Intervenção social do Estado:
Sociedade - Preponderância social do alto
Estado-Providência;
funcionalismo;
- Consumismo.
- Baixo índice de consumo.
Períodos da Guerra-Fria:
A Guerra fria demarcou-se em essencialmente 3 momentos. O primeiro consistiu num equilíbrio pelo terror, onde as duas superpotências voltaram
a rearmar-se militarmente e intervieram na ajuda de vários conflitos a nível mundial (como nos casos do Vietname e da Coreia) na tentativa de
expandir as suas influências. Seguiu-se um período de coexistência pacífica, onde ambos os sectores de influência reflectiram que, caso se
confrontassem militarmente, não haveria nenhum vencedor visto que ambos se destruiriam com as armas atómicas. É nesta fase que surgem
ambientes de grande tensão, com a Crise de mísseis em Cuba, que levou a cedências mútuas nos dois lados. A última fase traduziu-se num
apaziguamento e aproximação da URSS aos EUA com as políticas de Gorbatchev, (como a conferência de Helsínquia e os acordos SALT 1 e 2),
e a perda da influência do Comunismo da URSS soviética. Várias foram as tentativas nos anos 70 e 80 de acender a chama que se apagava da
URSS como o envio de conselheiros militares para a América Central e a invasão do Afeganistão. A Guerra-Fria terminou em 1991, já em 1990
com a unificação das alemanhas (RFA e RDA) mas formalmente com o fim do Pacto de Varsóvia e o desmembramento da URSS.
A Questão Alemã:
- A questão da Alemanha foi o principal símbolo da guerra-fria, dividindo-se em dois episódios: o Bloqueio de Berlim e a divisão de Berlim. O
Primeiro episódio surgiu após a divisão da Alemanha em 4 partes e da unificação dos regimes democráticos na tentativa da reanimação da
economia alemã, com a criação de uma Assembleia Constituinte e de uma nova moeda, o marco alemão. A URSS viu estas decisões como uma
tentativa de dominação e para retaliar bloqueou os acessos à zona de Berlim Ocidental com o corte das ligações rodoviárias e ferroviárias,
mostrando assim o seu poderio sobre a cidade. Para a resolução do problema, os americanos e ingleses estabeleceram uma ponte área para fornecer
os materiais necessários para a cidade. O segundo episódio surgiu após a criação da RFA e da RDA onde em Berlim, que também ficara dividida,
se construiu um muro que dividia as duas facções e que impedia a passagem da população de Berlim Oriental para a parte Ocidental.
20
O Mundo Capitalista: os “Trinta-Gloriosos”
O mundo capitalista conheceu um período de prosperidade a partir de 1947-1948 até ao início dos anos 70. Os quase 30 anos de crescimento
económico ficaram conhecidos como os “Trinta Gloriosos”. Durante este período, os EUA reforçaram o seu poder económico e contribuíram
para a recuperação e propriedade dos países da Europa Ocidental.
A nível social vários factores foram próprios à propriedade dos “Trinta Gloriosos”:
- O aumento demográfico, conhecido como baby-boom, contribuiu para o rejuvenescimento populacional dos países e possibilitou o crescimento
do mercado interno, devido ao aumento do número de consumidores;
- A disponibilidade de mão-de-obra, não só através do crescimento populacional e da emigração mas também do papel mais activo da mulher;
- O aumento do consumo, devido à subida dos salários, constituiu um estímulo à produção;
- O aumento da escolaridade contribuiu para a existência de uma mão-de-obra mais qualificada e produtiva.
A política económica e financeira adoptada pelos Estados ocidentais no segundo pós-guerra contribuiu, igualmente, para o grande crescimento
económico dos países do mundo capitalista. Neste período:
- Acentuou-se a intervenção do Estado na economia;
- A disponibilidade financeira conseguida através de ajudas como o Plano Marshall permitiu mais investimento para uma modernização agrícola e
industrial, aumentando a mão-de-obra disponível para o sector terciário;
- A liberalização do comércio com o GATT dinamizou e aumentou as trocas comerciais;
- As matérias-primas baratas aumentaram o lucro da produção mas ao mesmo acentuaram a diferença de desenvolvimento entre os países ricos e os
pobres.
A sociedade de consumo
O desenvolvimento tecnológico e melhoramento do estilo de vida com o aumento dos salários traduziu-se num aumento do consumo. Surgiram
novos equipamentos domésticos, mais diversificados e de substituição rápida, alimentados pela grande publicidade e exigências da moda. As
famílias passaram a gastar o seu dinheiro cada vez mais em objectos não essenciais em vez de o poupar e as novas gerações trouxeram novos
hábitos de consumo. O fácil acesso ao crédito permitia o aumento do rendimento disponível o que se traduzia num aumento do poder de compra.
O Estado-Providência
No período dos trinta-gloriosos surgiram na Europa dois novos modelos políticos: a social-democracia e a democracia cristã.
A social-democracia designa a ideologia política, decorrente do revisionismo de Bernstein no final do século XIX, que recusa a ditadura do
proletariado e a luta de classes. Defende o socialismo reformista, com vista a garantir o crescimento económico e a melhorar as condições de vida
da população e a redução das desigualdades, através de uma mais justa distribuição da riqueza, conseguida mediante a taxação dos rendimentos
mais elevados (impostos). Promovia uma política fortemente intervencionista, com investimentos públicos do Estado destinados a relançar o
consumo e a produção. A social-democracia defende a tomada de poder pela via democrática e a transformação social através de reformas
legislativas. Procurou conciliar o socialismo e o capitalismo.
A democracia cristã designa a ideologia política que combina a doutrina social da Igreja com o desenvolvimento económico e a justiça social.
Rejeita o individualismo que decorre do liberalismo político e económico e defende a dignidade humana, que deve ser promovida pelo Estado.
Opõe-se à excessiva intervenção do Estado na economia e na sociedade.
21
Ambos as políticas contribuíram para a afirmação de um novo estado, o Estado-Providência. É caracterizado pelo intervencionismo do Estado e
pela ampliação das responsabilidades. Tem como objectivo promover sistemas públicos de educação, de saúde e de segurança social, para criar uma
sociedade melhor e mais juta. Cabe ao Estado assegurar, desde o nascimento até à morte:
- O bem-estar económico e social dos cidadãos;
- Promover uma mais justa redistribuição da riqueza;
- Garantir um mínimo rendimento e a igualdade de oportunidades no acesso à segurança social e aos cuidados fundamentais;
- Taxar progressivamente os rendimentos e proceder à sua redistribuição sob a forma de apoios sociais aos mais desfavorecidos (subsídios de
desemprego, de invalidez, de velhice, de doença, de abonos de família).
A partir dos anos 70, com a governação de Leonid Brejnev, assistiu-se a uma era de estagnação devido principalmente:
- Ao aumento excessivo das despesas militares (Guerra do Afeganistão);
- Aos empréstimos aos países-satélites;
- A uma máquina burocrática pesada;
- Ao sistema ineficiente e corrupto;
- À agricultura que não produzia o suficiente para a auto-suficiência;
- À indústria, que apesar dos preços estáveis subsidiados pelo Estado, o seu crescimento fora insuficiente;
- À excessiva intervenção do Estado e a falta de concorrência que limitaram o progresso económico, a inovação e a produtividade.
22
1.3 A afirmação de novas potências
A partir dos anos 60 e 70 começaram a emergir nos países e organizações que pretendiam afastar-se da influência dos dois blocos de
superpotências, abrindo caminho para o enfraquecimento do bipolarismo.
Japão
O Japão passou a ser um modelo de exemplo para os outros países asiáticos do pacífico e assistiu-se a uma reversão na economia conhecido como
o “milagre japonês”. Este melhoramento económico deveu-se principalmente:
- À indústria bem organizada e virada para a exportação com grandes investimentos;
- Ao uso de tecnologias avançadas;
- Ao aumento da escolaridade (aposta na educação);
- À cultura e espírito de disciplina e submissão (salários baixos e horários de trabalhos logos, com menos consumo interno);
- À canalização das poupanças avultadas dos trabalhadores pelos bancos para investimento;
- À abundância de mão-de-obra;
- À estabilidade política e consequente democratização do país;
- Ao programa de ajuda financeira (Plano Dodge).
China
A China adoptou o modelo comunista soviético nos anos 50. Procedeu à redistribuição da terra, criou uma rede de cooperativas, planificou a
economia, adoptou o partido único, o culto de personalidade e à repressão com campos de trabalhos. Em 1958 foi lançado o II Plano Económico,
denominado “Grande Salto em Frente” que era caracterizado pelas comunas populares, uma espécie de cidades autónomas que eram controladas
por brigadas e batalhões de produção. Pretendia-se assegurar as condições básicas de sobrevivência e mobilizar toda a população para os campos e
as fábricas.
Devido ao grande fracasso do plano económico, Mao Tsé-Tung culpabilizou a URSS pela aproximação aos EUA e responsabilizou a
nomenklatura pelo fracasso do “Grande Salto em Frente”. É nesta vertente que adopta o Maoísmo: política económica que correspondeu a uma
aplicação do marxismo-leninismo às condições específicas da China. Entre os princípios defendidos destacavam-se o voluntarismo e a mobilização
das massas, o igualitarismo e a colectivização dos meios de produção, a luta contra a sociedade tradicional, a corrupção, a ambição pessoal e os
contra-revolucionários. Defendia ainda a propagação dos ideais do “Livro Vermelho”, com bastante propaganda e controlo pelos guardas
vermelhos, num sentimento anti imperialista capitalista.
CEE
Devido à dificuldade da resolução, de forma consolidada das dificuldades económicas e financeiras da Europa, através de um processo contínuo
assistiu-se à criação da Comunidade Económica Europeia. A partir da experiência conseguida da OECE, da primeira organização europeia, o
BENELUX e da organização responsável pela cooperação do carvão e do aço, pretendia-se a constituição de uma organização económica de
mercado comum, um espaço de autonomia, de cooperação e entreajuda, diminuindo as desigualdades nos diferentes países. A 25 de Março de
1957, dá-se a assinatura do Tratado de Roma que instituía a CEE, através de uma união alfandegária, assente nas “quatro liberdades”: a livre
circulação de pessoas, dos serviços, das mercadorias e dos capitais. A CEE expandiu também o Conselho Europeu para fins políticos e a
EURATOM e PAC, com vista, respectivamente, para o desenvolvimento da indústria nuclear e da modernização, auto-suficiência, produtividade e
aumento dos rendimentos agrícolas.
23
A ONU interveio também com anticolonialista, reforçando o direito de autodeterminação dos povos colonizados e das suas liberdades básicas na
Resolução 1514 de 1960.
Querendo se afirmar internacionalmente, os países agora denominados de Terceiro Mundo (países que se queriam ver neutrais face ao domínio
dos EUA e da URSS) realizaram a conferência de Bandung na Indonésia em 1955. Os principais atores, o Egipto (com Nasser), a Índia (com
Nehru) e a Indonésia (com Sukarno) que pressionaram a constituição de um movimento alternativo levantaram a ideia do anticolonialismo e do
anti-neocolonialismo (pretendiam a perda da influência dos países que intervinham nas antigas colónias, que faziam com que estas se tornassem
dependentes economicamente desses países. Eram já devastadas pela guerra e do baixo nível de preparação), promovendo os direitos humanos nos
países novos. Já a Conferência de Belgrado em 1961, instituiu oficialmente a instituição política do Movimento dos Não Alinhados.
A propriedade económica abrandou no início dos anos 70. Factores internos às economias capitalistas ocidentais explicam o fim dos “Trinta
Gloriosos”:
- O Elevado nível de endividamento;
- A inflação crescente;
- A instabilidade monetária;
- A menor produtividade e a rentabilidade dos capitais;
- O crescimento do desemprego;
- O fim da convertibilidade do dólar em ouro;
- O fim do sistema monetário e financeiro de Bretton Woods.
24
2.
2.1 Imobilismo Politico e Crescimento económico do pós-guerra a 1974
Portugal após a 2ª guerra mundial
As transformações do regime:
A queda dos regimes totalitários, fascista e nazi, alimentou a esperança de transformação do Estado Novo e em Salazar uma necessidade de
mudança para a sobrevivência do regime. Foi nesta conjuntura que adoptou inúmeras medidas com vista a uma maior liberdade política:
- Anunciou a revisão da Constituição de 1933;
- Dissolveu a Assembleia Nacional;
- Anunciou a realização de eleições legislativas livres.
Esta imagem de abertura do regime traduziu-se no aumento do número de deputados e na criação de uma nova lei eleitoral, com círculos eleitorais
em cada distrito e nas colónias.
Todas estas as eleições serviram para mostrar a baixa taxa de analfabetismo dos portugueses, que, desconhecendo outras formas de modelos
políticos, não votavam nos partidos democráticos que, conjugada com as falcatruas e atropelos nos actos eleitorais, davam vitória ao partido do
regime.
O Estado Novo matinha o seu imobilismo político, alheio às mudanças que tinham ocorrido na Europa e à queda das ditaduras. O carácter
repressivo manteve-se e o processo eleitoral era propício a fraudes, não havendo garantia de acesso à campanha eleitoral e à liberdade de reunião e
de opinião.
A manutenção do regime beneficiou de uma conjuntura favorável. As potências ocidentais, no contexto da Guerra-Fria, e com vista a impedir o
avanço da influência soviética, consentiram na manutenção do Estado Novo e das suas práticas antidemocráticas. Salazar iniciou uma política de
aproximação à Inglaterra e aos EUA, acentuando o seu anticomunismo. A adesão de Portugal à NATO, em 1949, comprovou a aceitação do
regime por parte das potências do Bloco Ocidental.
25
4º Momento: eleições de 1958
O quarto momento de tentativa de instauração de uma democracia deu-se com o general e candidato independente Humberto Delgado conhecido
como o “general sem-medo”. Pela primeira vez o regime sentira-se ameaçado com cerca de 25% dos votos serem para Delgado. Entre as medidas
pretendidas, o general enunciou:
- Empreender uma reforma política;
- Condenou o totalitarismo;
- Defendeu a reforma da política ultramarina;
- Defendeu a instauração das liberdades fundamentais, a organização de partidos políticos e declarou, solenemente a frase, “obviamente, demito-
o”, referindo ao que faria com Oliveira de Salazar.
Conscientes da fraude eleitoral, as oposições empreenderam acções de luta e multiplicaram-se as acções de protesto contra o regime do Estado
Novo que permitiram reforçar o descontentamento da população e o enfraquecimento político do regime:
- O caso do “bispo do Porto”, em 1958;
- O “golpe da Sé” em 1959;
- A tomada do paquete de Luxo Santa Maria liderado por Henrique Galvão em 1961;
- A abrilada liderada por Botelho Moniz em 1961;
- O desvio do avião da TAP por Hermínio da Palma Inácio em 1961;
- O assalto ao quartel de Beja em 1962;
- A crise académica em 1962;
- O assaltou ao Banco de Portugal em 1967.
Emigração
As principais causas da emigração portuguesa foram:
- As más condições de vida no país, associadas a um sector agrícola estagnado, com rendimentos diminutos, e a um sector industrial pouco
desenvolvido, que não absorvia a mão-de-obra disponível;
- Os fortes atractivos e as boas perspectivas de melhoria de vida que os países industrializados, com falta de mão-de-obra, ofereciam a uma
população rural pobre;
- As características do Estado Novo, que, como regime repressivo, não evidenciava condições de abertura política;
- A eclosão da guerra colonial em África (1961) levou a que muitos portugueses procurassem fugir ao recrutamento.
26
Desde a criação da Junta de Emigração que o governo do regime procurava controlar a emigração. Procurava também a emigração para as colónias
como forma de parar a desvinculação ao regime e ao contacto com outras formas políticas da Europa. O aumento do controlo das fronteiras levou
a um enorme impulso da emigração clandestina que, com a culminação da guerra colonial, atingiu percentagens elevadíssimas. Muitos eram os
portugueses que tentavam fugir ao serviço militar obrigatório.
Todavia, a saída de muitos jovens provocou o envelhecimento da população, o que teve custos sociais e humanos e acentuou o despovoamento de
muitas regiões do país.
Os Planos de Fomento
No domínio económico, após a segunda guerra mundial, o Estado Novo procurou seguir as seguintes orientações:
- Diminuir as importações;
- Dinamizar o mercado interno, mediante a afirmação de novas indústrias e a reestruturação de outras já existentes;
- Relançar a economia e definir a política económica a médio e longo prazo;
- Planificar a economia, através de uma linha orientadora, os Planos de Fomento, consequência da entrada de Portugal na OECE.
IV Plano de
III Plano de
I Plano de Fomento II Plano de Fomento Plano Intercalar de Fomento
Fomento (1968-
(1953-1958) (1959-1964) Fomento (1965-1967) (Aprovado em
1973)
1973)
- Abertura e - Reconhece-se
internacionalização da que o agravamento
economia levou a que, do défice da
- Estratégia de na transição do balança comercial
investimento com salazarismo para o se deve ao - Esteve em vigor
base na iniciativa marcelismo, se criasse o proteccionismo durante um
privada; Plano intercalar do pautal, ao breve período do
- Coincide com o Fomento: condicionalismo Estado Novo e:
arranque da política * Abertura ao exterior e industrial e ao * Pretendia
de fomento o reforço da economia atraso da realizar uma
- Investimentos
económico nas privada; agricultura; maior
essencialmente
colónias e com a * Inversão da política de - Confirma a modernização e
públicos orientados
integração do nosso autarcia das primeiras internacionalização abertura ao
para a construção de
país na economia décadas do Estado da economia exterior;
infra-estruturas
internacional: 1960- Novo; portuguesa- * Promover o
(electricidade,
adesão à BIRD e do * Fim definitivo do fomenta da desenvolvimento
transportes e
FMI; 1962- GATT; ciclo conservador e exportação de da iniciativa
comunicações).
- Sectores ruralista de Salazar e a produtos nacionais privada, apoiada
privilegiados: afirmação de novas e abertura do país pelo Estado;
indústria pesada opções para a economia aos investimentos * Promover o
(siderurgia, nacional; estrangeiros; incentivo ao
metalomecânica; * Começa a despertar a -O investimento
petroquímica; adubos; necessidade de desenvolvimento estrangeiro.
celulose). liberalização do da indústria
comércio externo e de as privada como
empresas enfrentarem a sector dominante
concorrência externa. da economia
27
nacional-
formação dos
grandes grupos
económicos;
- O crescimento
do sector terciário
e consequente
incremento
urbano.
Todavia, os planos não foram suficientes para garantir a eliminação da pobreza e corrigir as desigualdades sociais e regionais, apresentando grandes
assimetrias a nível nacional e um nível de desenvolvimento aquém da Europa e da OECE.
Surto Urbano
- Desenvolvimento e concentração da população no litoral e nas cidades;
- Êxodo rural;
- Mudanças das mentalidades e nos hábitos da população, menos conservadores e tradicionalistas e com uma população com maior nível de
alfabetização e informação;
- Precaridade e baixo nível de vida nas periferias da cidade devido à elevada concentração populacional e ao crescimento dos preços das habitações
no centro das cidades, provocando inúmeras dificuldades sociais e económicas desde à prostituição à falta de saneamento básico.
A Questão Colonial
Após a segunda-guerra mundial e ao período de descolonizações, desenvolveu-se uma forte pressão internacional face à autonomia das colónias
portuguesas. É neste sentido que a opinião dividiu-se em dois modelos: o modelo integracionista, o qual visava que o Estado português era
unitário, invisível e pluricontinental rejeitando a independência das colónias em nome da unidade do Estado Novo. O modelo federalista visava,
em virtude da pressão internacional, a progressiva descolonização das províncias ultramarinas mas sem deixar de ter em conta os interesses
nacionais.
A Luta Armada
A guerra colonial de 1961 a 1974 resultou dos seguintes factores:
- A pressão internacional no sentido de descolonizar, a que Portugal resistiu;
- Os processos de descolonização já ocorridos, que estimularam a formação de movimentos independentistas nas colónias;
- O imobilismo do Estado Novo face à questão colonial;
- A falta de diálogo entre o regime e os movimentos de libertação;
- O apoio das forças internacionais aos movimentos independentistas.
28
O Isolamento Internacional
A permanência da dependia das colónias em Portugal e a Guerra Colonial provocaram uma forte opressão por parte da comunidade internacional
face a Portugal. A NATO e ONU condenaram fortemente o possuimento destes territórios politicamente e a última organização aprovou a
Resolução 2107 que apelava a Portugal que reconhece-se o direito à autodeterminação dos povos sob domínio português e apelava a que os
Estados Membros de ambas as organizações a cessar relações diplomáticas e a cortar ajudas quer militares (caso Kennedy) quer económico
(proibição de navios estrangeiros nos portos portugueses).
A “Primavera Marcelista”
Após a sua eleição para cargo de presidente de Conselho na qual substituiu Oliveira Salazar, Marcello Caetano adoptou uma série de reformas
caracterizadas por uma maior liberdade a todos os níveis, tornando mais moderada a censura, dinamizando o sector político com maior abertura a
candidatos e deputados se diferentes partidos, reforçando a educação e a abertura de Portugal ao exterior.
Todavia, a contestação por maiores liberdades continuou. Surgiu uma nova crise académica que se alastrou a várias universidades e o ambiente de
contestação culminou com greves e manifestações dos diferentes sectores de actividade desde a metalurgia aos bancários e empregados de
comércio.
Deste modo, o regime marcelista acentuou o conservadorismo e desvinculou-se do inicial período de abertura às liberdades:
- Procedeu ao encerramento das associações de estudantes;
- Prendeu e incorporou estudantes no exército colonial;
- Destituiu direcções sindicais consideradas subversivas;
- Reprimiu manifestações com as forças policiais;
- Retomou as prisões dos oposicionistas, impedindo o regresso ao país de Mário Soares;
- Culminou, por fim, no abandono dos deputados da Ala liberal da Assembleia Nacional e com a reeleição de Américo Thomaz por sufrágio
indirecto.
2.2.
— Relacionar o impasse colonial com a queda do regime:
A permanência de Portugal nas colónias e as consequentes guerras pela independência face à pressão e contestação internacional provocaram em
Portugal um clima de impasse e estagnação. Devido a serem os mais afectados pela Guerra, aliada a outros factores como os baixos salários e baixo
poder de compra, os militares reuniram-se e criaram o Movimento do Capitães se viria a transformar no Movimento das Forças Armadas. O MFA
encarregou Otelo Saraiva de liderar e planear a estratégia do golpe do 25 de Abril, a que se deu o nome de “Operação Fim-Regime”.
Depois da rendição e queda do regime, o MFA entregou o poder a uma Junta de Salvação Nacional que ficou encarregue de respeitar o programa
das forças armadas.
29
Programa do MFA (3 D’s)
Desenvolver:
- Intervenção nas empresas;
- Nacionalizações;
- Impulso dos processos colectivistas e autogestionários;
- Legislação laboral favorável ao trabalhador (liberdade sindical).
Democratizar:
- Extinção das instituições políticas repressivas e paramilitares: a censura, a Acção Nacional Popular, a DGS, a Legião Portuguesa e a Mocidade
Portuguesa;
- Libertação e amnistia aos presos políticos;
- Formação de associações políticas e de partidos;
Descolonizar:
- Reconhecimento do direito à autodeterminação;
- Reconhecimento dos movimentos nacionalistas;
- Acordo De Argel (Guiné-Bissau);
- Acordo de Lusaca (Moçambique);
- Acorde de Alvor (Angola);
- Retirada de Timor;
- Dificuldade de transição do poder: guerras civis e repartimentos forçados.
— Descrever a forças políticas em confronto no período constitucional: / — Avaliar o clima de instabilidade e a tensão político-social dos dois
anos que se seguiram ao golpe de Estado:
A unidade revelada no dia 1 de Maio de 1974 fragmentou-se:
- A falta de consenso em torno da questão do ultramar foi geradora de tensões no interior do MFA e nas várias forças políticas;
- Parte do MFA e dos partidos políticos de esquerda revolucionária defendia a instauração de uma democracia popular de tipo colectivista;
- Os partidos de esquerda defendiam a descolonização;
- Uma facção mais conservadora, liderada por Spínola, defendia uma democracia liberal do tipo ocidental e um projecto federalista para o
ultramar;
30
- Esta instabilidade conduziu à queda do I Governo Provisório. Formou-se o II Governo liderado por Vasco Gonçalves, com membros do MFA e
apoio de socialistas e comunistas;
- Foi organizada uma manifestação de apoio a Spínola, a “maioria silenciosa”, que foi proibida pelo MFA. Spínola demitiu-se;
- O General Costa Gomes foi nomeado presidente da República e formou-se o III Governo Provisório que se aproximou, ideologicamente do
PCP;
- A 11 de Março de 1975, Spínola liderou um golpe militar que fracassou.
As tensões político-ideológicas e a agitação social, quer de esquerda, quer de direita, não abrandaram. Constituíram-se comissões de moradores e
de trabalhadores, houve movimentações da classe operária para assumir o controlo operário da produção, afirmou-se o projecto de
institucionalização do poder popular como forma de organização político-social. Em Agosto de 1975, o IV Governo Provisório caiu e foi
nomeado o V Governo Provisório, liderado por Vasco Gonçalves. O período entre o final do IV Governo Provisório e a vigência do V Governo
Provisório (Julho a Setembro) conhecido como “Verão Quente”, ficou marcado por acções violentas, de radicalização política e social.
Face à radicalização, nove membros do Conselho de Revolução redigiram o Documento dos Noves que fragilizou o governo de Vasco Gonçalves,
que acabou por ser substituído, pondo fim ao período denominado “gonçalvismo”. Pinheiro de Azevedo foi indigitado para liderar o VI Governo
Provisório. O Conselho da Revolução foi remodelado com a inclusão de elementos mais moderados. O receio de retrocesso no processo
revolucionário acentuou o clima de tensão. A 25 de Novembro de 1975, o país ficou à beira da guerra civil. O presidente Costa Gomes declarou o
estado de sítio e autorizou a reacção do sector moderado, liderado por Ramalho Eanes, que, num contragolpe, pôs fim ao período do PREC.
O ambiente revolucionário e a pressão das forças de esquerda conduziu à implementação de um programa de intervenção do Estado na economia,
cujo objectivo era eliminar os grandes grupos monopolistas e capitalistas. Procedeu-se à nacionalização de sectores-chave da economia:
- Foram nacionalizados os bancos emissores, com vista a reforçar o papel do Banco de Portugal no sector financeiro;
- Encerraram-se as Bolsas de Valores de Lisboa e do Porto;
- O Estado reservou o direito de intervir na administração de certas empresas, através da nomeação dos seus gestores, administradores ou
delegados;
- Nacionalizaram-se a banca e os seguros, com o objectivo de por fim aos monopólios e destruir os grandes grupos económicos;
- Os sectores da electricidade, petróleo, siderurgia, metalurgia, química, celulose, tabaco, bebidas, transportes e comunicações passaram para o
controlo do Estado.
Reforma agrária: Designa a expropriação e a nacionalização das propriedades agrícolas, passando o direito de propriedade individual para
propriedade colectiva. Decorreu entre Janeiro de 1975 e Janeiro de 1976.
31
A partir de Julho de 1975, foi decretada, pela lei da Reforma Agrária, a expropriação de latifúndios com vista a instituir unidades colectivas de
produção (UCP) e cooperativas de produção agrícola. As explorações foram entregues aos trabalhadores rurais, que as geriam através de comissões
eleitas pelos trabalhadores, ou colocadas sob administração directa do Estado.
O Estado implementou medidas no domínio dos direitos do trabalho visando proteger os trabalhadores e oferecer melhores condições de vida aos
mais desfavorecidos:
- Estabelecimento do salário mínimo;
- Proibição do despedimento sem justa causa;
- Aumento e alargamento das reformas e das pensões sociais;
- Tabelamento do preço dos produtos para controlar a inflação;
- Eliminação do condicionamento industrial.
Entre 1981 e 1982, foram discutidas as alterações ao texto constitucional. A votação final do decreto de revisão ocorreu em Agosto de 1982 e
implementou as seguintes alterações:
- Aperfeiçoamento e reforço dos direitos fundamentais;
- Atenuação da componente ideológico-programática com a supressão ou moderação das referências à via socialista;
- Manutenção dos princípios socializantes ao nível da economia, ainda que mais restritos ou atenuados;
- Reforço da matriz democrática do regime, com a manutenção do preâmbulo de 1976, como marco histórico e simbólico do processo que
conduziu à democracia;
- Extinção do Conselho da Revolução e fim das funções políticas das Forças Armadas, que passam a estar submetidas aos órgãos de soberania e ao
poder político;
- Equilíbrio entre os órgãos de soberania, mediante a limitação dos poderes de intervenção do Presidente da República e o reforço dos poderes da
Assembleia da República;
- Criação do Tribuna Constitucional.
32
- Promulga ou veta os diplomas legislativos;
- Convoca referendos sob iniciativa do Governo ou da Assembleia da República;
- Nomeia titulares de cargos públicos;
- Assistido pelo Conselho de Estado;
- Exerce um poder de moderação;
- Mandato presidencial com duração de cinco anos, não podendo ser reeleito, consecutivamente, mais do que uma vez.
Assembleia da República:
- Eleita por sufrágio universal directo;
- Composta por deputados eleitos por círculos eleitorais, cujas candidaturas estão reservadas aos partidos políticos;
- A legislatura tem uma duração de quatro anos;
- Aprova alterações à Constituição, os estatutos das Regiões Autónomas, o plano e o orçamento do Estado;
- Vota monções de censura ou de confiança do Governo, podendo provocar a demissão do executivo.
Governo:
- Formado a partir do resultado das eleições;
- Presidido pelo líder do partido mais votado;
- Define as orientações e a execução da política externa e interna;
- É responsável perante a Assembleia da República e o presidente da Assembleia da República;
- É liderado pelo primeiro-ministro e composto por ministros, secretários e subsecretários de Estado;
- Tem competência legislativa, para além do poder executivo.
Tribunais:
- Independentes face ao poder político;
- Asseguram a imparcialidade do sistema judicial;
- Concretizam o princípio da separação dos poderes.
O processo de descolonização, devido às tensões criadas e às dificuldades de transição do poder que implicou, provocou nos territórios recém-
descolonizados um clima de guerra civil que se prolongou por largos anos. A situação obrigou a que os portugueses que estavam nos territórios
ultramarinos regressassem a Portugal. Foi criada uma ponte aérea para transportar gratuitamente os portugueses que queriam retornar ao país. O
Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais (IARN) criou condições de acolhimento, de alojamento e de transporte para os portugueses das ex-
colónias, com vista a uma reintegração na sociedade e na vida activa. O impacto demográfico provocado pelo regresso dos portugueses constituiu
um desafio de integração multicultural e multirracial.
33
2.3.
— Evidenciar o impacto da revolução portuguesa na relação do país com a Europa e o Mundo
A Revolução de Abril teve impacto na comunidade internacional e influenciou a transição democrática na Grécia e em Espanha, bem como nos
territórios africanos onde existiam regimes colonialistas de minoria branca (Rodésia e África do Sul).
3.
3.1 A importância dos Polos Culturais Anglo-Americanos
Expressionismo abstracto: Designa a forma de expressão artística desenvolvida por vários artistas, sobretudo em Nova Iorque, que privilegia a
abstracção e a emoção na pintura, seja através de uma “pintura gestual” ou através da exploração da mancha de cor. Reflecte a emoção e a
interioridade do artista.
O expressionismo abstracto também foi designado de New York School. Resultou da influência da arte europeia nos jovens artistas americanos,
nomeadamente do Cubismo e do Surrealismo. Tenta libertar a pintura da intencionalidade consciente par atingir os impulsos mais profundos do
inconsciente. Entre os artistas mais conhecidos destacam-se Jackson Pullock (action paiting- drip painting), W. kooning e Ad. Reinhardt.
Pop Art: Designa o movimento artístico que surgiu em meados da década de 50 e que tem nos EUA o seu polo principal. Inspira-se no homem
moderno e na cultura de massas, transpondo para a obra de arte os objectos e a as figuras associadas à sociedade de consumo, num tom satírico e
por vezes agressivo.
A Pop Art retira elementos e objectos da sociedade de consumo e da cultura de massas e surpreende o observador pela sua representação como
objecto de arte. Quadrinhos, cantores, actores, carros, pin-ups eram retratados à exaustão. É uma forma de crítica e ao mesmo tempo de celebração
da sociedade capitalistas e moderna. Entre os artistas desta vertente destacamos Andy Warhol, Richard Hamilton e Roy Lichenstien.
Arte Conceptual: Designa a teoria e a expressão artística que se desenvolveu a partir de meados da década de 60. Questionou os princípios
tradicionais da arte e valorizou a ideia e o conceito na criação artística. Desvalorizou a importância do objecto.
A Arte Conceptual defende a primazia das ideias veiculadas pela obra de arte, deixando os meios usados para a criar em lugar secundário. Opõe-se
à Pop Art pela austeridade e ao Expressionismo Abstracto pela racionalização. Entre os artistas desta vertente destaca-se Pierro Manzoni e Robert
Barry.
Existencialismo: Designa o movimento filosófico que centra a sua análise na existência humana. Defende que o indivíduo age, por si, e pode
transformar a sua existência, através das suas acções.
Cinema:
- Expansão dos filmes a cores, projectados em ecrã panorâmico;
- Novas temáticas socioculturais;
- Novos centros de produção cinematográfica com alternativa ao cinema de Hollywood.
34
Televisão:
- Meio de entretenimento;
- Fonte de informação;
- Formação/manipulação da opinião pública.
Música ligeira:
- Apogeu do rock and rol e da pop music;
- Meio de divertimento;
- Expressão da rebeldia e da contestação juvenil.
1.
1.1 O Colapso do Bloco Soviético e a Reorganização do Mapa Político da Europa de Leste
Em Março de 1985, Mikhail Gorbatchev assumiu o poder e, confrontado com os principais problemas da URSS, implementou reformas políticas
e económicas conhecidas como Perestroika, destinadas a reestruturar e a liberalizar a economia da URSS:
- A reestruturação ou Perestroika traduziu-se em diversas iniciativas de modernização; das empresas estatais e legalização do sector privado;
- Estas iniciativas de reestruturação foram acompanhadas por uma política de transparência, a Glasnost, com medidas de democratização e
liberalização política.
A nível externo, Gorbatchev aproximou-se à Europa e aos Estados Unidos: Implementou uma nova diplomacia na comunidade internacional;
empenhou-se no desarmamento e na defesa dos direitos humanos.
Nos países satélites da URSS (democracias populares), a Perestroika e a política de Glasnost desencadearam a contestação ao domínio soviético.
No caso da RDA, a 9 de Novembro de 1989, a queda do Mu7ro de Berlim, e da cortina de ferro, deram início ao processo de reunificação alemã,
proclamada a 3 de Outubro de 1990, pondo fim a um dos principais focos de conflito da Guerra Fria.
A nível interno, a política de liberalização, levada a cabo por Mikhail Gorbatchev, fez despertar na União a contestação: O nacionalismo
propagou-se, primeiramente, às repúblicas bálticas e, depois, a outros Estados da URSS.
Mikhail Gorbatchev, isolado, não conseguiu impedir o desmoronamento da URSS (que já não existia efectivamente), e demitiu-se do cargo de
presidente da URSS. Um novo mapa político na Europa de Leste surgiu. O bipolarismo e a Guerra Fria terminaram, oficialmente, com a
dissolução do Pacto de Varsóvia, com a extinção do COMECON e com a desagregação da URSS. A queda do Muro de Berlim tornou-se no
acontecimento mais simbólico deste período histórico.
35
No entanto, as consequências não foram iguais em todos os Estados: Com a reunificação da Alemanha, a ex-RDA recebeu apoios financeiros da
Alemanha Ocidental (RFA);
- No caso da Polónia, da Hungria e da República Checa, o crescimento do turismo e o aumento do investimento privado, em consequência da
estabilidade política, minoraram os efeitos da transição para a economia de mercado.
Prosperidade económica:
O crescimento económico dos Estados Unidos foi bastante significativo nas últimas décadas devido:
- À diminuição da taxa de desemprego.
- Ao desenvolvimento empresarial e à criação
de postos de trabalho.
- À diminuição da inflação e das taxas de juro.
- Às políticas de incentivos ao investimento.
36
- Ao lugar central na indústria tecnológica, ao nível das novas tecnologias, da inovação e da criatividade.
- Ao peso e desenvolvimento da indústria militar.
A necessidade de reforçar a coesão europeia e de responder ao eurocepticismo levou a definir o sufrágio universal como forma de eleger os
deputados do Parlamento Europeu. As instituições europeias tornaram-se mais democráticas.
O relançamento da construção europeia foi decisivo nos anos 80, com o reconhecimento da necessidade de alargar a Comunidade e na aprovação,
em Dezembro de 1965, do Acto Único Europeu:
- Consagrou juridicamente o Conselho da Europa como o organismo responsável da política;
- Reforçou os poderes do Parlamento;
- Abolição das fronteiras internas à circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais;
- Estabeleceu medidas para coordenar a política económica e monetária tendo em vista a moeda única;
- Aprovou a reforma dos fundos estruturais e de coesão em vários domínios como a PAC (Agricultura), a CEE (Pesca), a FEDER, os programas
de educação como o ERASMUS, Sócrates e Leonardo Da Vinci e ainda acordos bilaterais.
A consolidação da união económica e política foi impulsionada com a assinatura, em 1992, do Tratado de Maastricht ou Tratado da União
Europeia, que alterou a designação da Comunidade Europeia (CE) para União Europeia (UE) cujo funcionamento institucional passou a assentar
em três organismos fundamentais: Comissão Europeia, Parlamento Europeu e o Conselho da UE. O Tratado da União estabeleceu os princípios
fundamentais que nortearam a acção da União Europeia:
- Alargou as competências do Parlamento Europeu;
- Criou a União Económica e Monetária e estabeleceu o prazo da sua entrada em vigor;
- Definiu a cidadania Europeia;
- Estabeleceu os três pilares da política europeia:
37
1º pilar: de carácter comunitário, dá relevo à dominante económica e social:
- Alargamento da intervenção da União Europeia em novos domínios como a saúde, cultura;
- Preocupação com a protecção social dos trabalhadores;
- Reforço da coesão económica e social;
- Instituição da União Económica e Monetária em substituição do Sistema Monetário Europeu;
3º pilar*: considera a cooperação nos domínios da justiça e dos assuntos internos face ao crescente desafio criminalidade e do terrorismo
_____________________
* Cooperação intergovernamental
O Tratado de Amesterdão:
. Adopção do Pacto de Estabilidade e Crescimento:
- Os Estados comprometem-se a reduzir o défice para 2% do PIB, dívida pública inferior a 59% e taxa de inflação < 1,5
- Instituição do Banco Central Europeu
- Criação de moeda única:
- 1999 – Entra em vigor nos mercados monetários, cambiais e financeiros.
- 2002 – Circulação de moedas e notas.
- O Banco Central Europeu passa a definir a política económica e monetária da UE.
O Tratado de Lisboa:
- Contribuiu para o aprofundamento político.
- Criou a função de Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança.
- A política externa da UE procura assumir uma maior concertação.
- Pretende alcançar um crescimento económico equilibrado.
- Reforçar a solidariedade entre os Estados-membros.
38
As instituições da UE dividem-se em:
- Parlamento Europeu:
- Decide as leis e o orçamento da UE em conjunto com o Conselho de Ministros;
- Faz a supervisão democrática de todo o trabalho da UE.
- Conselho de Ministros:
- Um ministro por cada país da UE
- Presidência semestral rotativa
- Decide a legislação e o orçamento da UE em conjunto com o Parlamento
- Gere a Política Externa e de Segurança Comum
- Comissão Europeia:
- Propõe nova legislação
- Órgão executivo
- Guardiã dos Tratados
- Representa a UE a nível internacional
A cooperação da ASEAN estimulou o comércio inter-regional e contribuiu para a afirmação de um novo grupo de países dos países
industrializados na Ásia-Pacífico – os tigres asiáticos que, juntamente com os Dragões Asiáticos, fizeram da região da Ásia-Pacífico, um polo
económico mundial. A criação da Organização da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC) defendeu os interesses económicos dos países do
“Arco do Pacífico”, criou uma comunidade económica e implementou uma zona de comércio livre.
39
A questão de Timor:
- Em 1975, Timor foi invadido pela Indonésia, quando decorria os processos de descolonização dos territórios africanos, no contexto das
mudanças desencadeadas pela Revolução do 25 de Abril em Portugal;
- A administração portuguesa abandonou o território, sem concretizar o processo de descolonização. Seguiu-se uma guerra civil entre várias fações
políticas timorenses;
- Em 1976, a Indonésia anexou o território e declarou Timor como a 27ª província da Indonésia;
- Apenas a Austrália reconheceu a anexação. A ONU condenou a integração de Timor e Portugal continuou como potência administrante do
território;
- A resistência à ocupação Indonésia foi liderada pelas FALINTIL, comandadas por Xanana Gusmão, em associação com a FRETILIN;
- A resistência timorense lutou contra a ocupação da Indonésia, também no quadro da diplomacia internacional, através de José Ramos Horta, e
contou com o apoio da Igreja, através do bispo de Díli, D. Carlos Ximenes Belo;
- Em 1991, depois do massacre no cemitério da Santa Cruz, o problema de Timor ganhou visibilidade internacional. A Indonésia acabou por
concordar, em 1999, com a realização de um referendo sobre o futuro do Território. As milícias pró-indonésias fizeram pressão para impedir a
realização do referendo;
- A população timorense votou favoravelmente à independência do território;
- O resultado do referendo desencadeou uma onda de violência por parte das milícias pró indonésias. A catástrofe humanitária assolou o território;
- O governo de Portugal e da Austrália pressionaram a Indonésia para permitir a presença de uma força internacional (INTERFET), sob a égide
das Nações Unidas, para garantir a paz em Timor-Leste;
- Em agosto de 2001, o povo Timorense elegeu a primeira Assembleia Constituinte; em 22 de março de 2002, Xanana Gusmão foi eleito
presidente;
- A 20 de maio de 2002 nasceu a república Popular de Timor-Leste, integrada, em 27 de Setembro de 2002, na ONU.
A China de Deng Xiaoping, desenvolveu estratégias e programas que incentivaram a produção e os mecanismo da economia de mercado – em
1980, aderiu ao FMI e ao Banco Mundial, em 1986 aderiu ao GATT e em 2001 à OMC. Implementou-se um regime de “um país, dois sistemas”
– a abertura, ainda que parcial, ao capitalismo não significou a democratização política. Hong Kong, colónia britânica desde o século XIX, foi
integrada na China em 1997. Tornou-se região administrativa especial e permaneceu como importante centro estratégico para o desenvolvimento
económico da China e do sudeste asiático. Macau, que desde 1976, era território chinês sob administração portuguesa, passou para a
administração da China em 20 de dezembro de 1999 – tornou-se região administrativa especial e foi garantindo o funcionamento do sistema
capitalista e a manutenção do carácter democrático das instituições. Com a integração destes dois territórios, a China aproximou-se do Ocidente e
do mundo capitalista.
40
2.
2.1 Mutações sociopolíticas e novo modelo económico
A mundialização contribuiu para questionar o papel do Estado-Nação. A globalização alterou o papel do estatuto dos Estados-Nação, pondo em
causa a sua exclusividade na regulamentação, inclusive dentro das suas fronteiras:
- Muitas das funções (políticas, económicas, financeiras, fiscais e até militares), que lhe eram tradicionalmente atribuídas, foram parcialmente
transferidas para outras organizações.
Face aos novos desafios, o Estado parece enfraquecido na resposta às ameaças terroristas, aos crimes económicos e ambientais. A cooperação com
outros organismos decisores supranacionais tornou-se fundamental. O Estado-Nação continuará a desempenhar um papel fundamental, mantendo
as suas funções tradicionais, devendo reorientar a sua acção para novos domínios, como o ambiente, as energias renováveis, o apoio à formação e
ao desenvolvimento científico, a defesa do seu património.
As questões transnacionais
O processo de globalização fez surgiu um conjunto de problemas que cruzam fronteiras e ultrapassam os seus limites do Estado-Nação – as
questões transnacionais:
- Os fluxos migratórios; os conflitos que obrigam à deslocação de milhares de refugiados;
- O aumento do terrorismo; os crimes económicos;
- Os problemas e desastres ambientais que assolam o planeta.
Os problemas transnacionais tornam a cooperação com as organizações supranacionais um imperativo.
Migrações
A mundialização da economia contribui para o aumento dos fluxos migratórios:
- A emigração mundializou-se devido aos desequilíbrios socioeconómicos, à instabilidade política e às guerras civis ou entre estados; ao progresso
dos meios de comunicação; às mudanças climáticas; aos problemas políticos; aos conflitos étnicos.
As migrações podem causar problemas nos países de destino – o racismo, a xenofobia e a discriminação. É necessário recorrer ao diálogo e
desenvolver políticas de acolhimento e de integração dos emigrantes. As políticas de integração visam promover iniciativas para a
interculturalidade: as diferenças culturais, ligadas a diversos tipos de pertença devem ser tratadas com respeito, e segundo os valores da tolerância e
da igualdade. A interculturalidade constitui-se como um elemento indispensável para a paz e a harmonia entre as diferentes culturas.
41
Segurança
Com o fim da guerra fria, o armamento nuclear proliferou pelo mundo, o que contribuiu para elevar a ameaça nuclear no mundo:
- A existência de armas químicas e biológicas eleva as tensões internacionais e cria um clima de instabilidade;
- A proliferação de redes internacionais de crime organizado, ligadas ao tráfico de drogas, de armas, de pessoas ou de órgãos humanos.
A escalada do terrorismo tem vindo a aumentar desde o final do século XX. O terrorismo tornou-se uma das maiores preocupações para a
segurança internacional.
Ambiente
Os elevados índices de poluição, resultantes do desenvolvimento industrial e da pressão demográfica, são causadores de um vasto conjunto de
problemas ambientais. O ambientalismo tem vindo a ser promovido por organizações internacionais e por partidos políticos (como os Verdes),
que alertam para os perigos da destruição do meio ambiente. Entre os vários problemas ambientais que afectam a qualidade de vida e põem em
risco o planeta, podem destacar-se:
- O efeito de estufa; a poluição dos rios, dos mares e dos oceanos, a poluição dos solos, a erosão e o esgotamento dos dolos, a destruição das
florestas, os problemas resultantes da desactivação de centrais nucleares, a dificuldade de destruir ou de reciclar o lixo radioactivo.
Perante estes problemas tomara-se medidas para promover um desenvolvimento sustentável e garantir a preservação do planeta. Apesar das
cimeiras e dos protocolos internacionais, nem sempre é possível conciliar o desenvolvimento económico e a preservação do meio ambiente.
Na Grã-Bretanha, Thatcher adoptou medidas de liberalização da economia e da sociedade: privatização de empresas; diminuição do poder e
influência dos sindicatos; baixa de impostos; diminuição das despesas públicas na saúde, na educação e na segurança social; abrandamento da
emissão da moeda; desregulamentação da actividade financeira. Nos Estados Unidos, Ronald Reagan promoveu a baixa de impostos; a
desregulamentação do mercado; baixou as despesas públicas, com exempção das despesas no armamento. As políticas neoliberais de Thatcher e
Reagan tiveram impacto em todo o mundo capitalista, e privilegiaram medidas como: redução do papel do Estado na economia e na protecção
social; diminuição dos investimentos e da despesa pública; redução das emissões de moeda; desregulamentação e flexibilização do mercado laboral;
política de privatizações de empresas estatais; redução dos impostos; liberalização do mercado, com abolição de barreiras alfandegárias, e assinatura
de acordos de comércio; aprovação de legislação para facilitar a abertura da economia às empresas multinacionais.
A globalização é, em parte, resultado do desenvolvimento do capitalismo e do neoliberalismo. As políticas neoliberais promoveram a diminuição
das barreiras alfandegárias, a facilidade de circulação de bens e de capitais, a abertura das economias nacionais. A globalização afirmou-se,
sobretudo, no domínio económico, criando o que foi designado, desde os anos 90, como “aldeia global”.
42
Liberalização de Capitais
A globalização impôs-se no mercado livre de capitais devido à desregulamentação financeira promovida pelo neoliberalismo. A criação de zonas
francas e dos chamados “paraísos fiscais” originou novos fluxos de capitais. O “dinheiro electrónico” e o sistema financeiro informatizado
permitem que grandes somas de dinheiro sejam movimentadas diariamente, através da nova “economia electrónica global”. Os mercados
financeiros estão cada vez mais interdependentes e as crises tornam-se cada vez mais globais.
Os críticos da globalização apresentam como argumentos contrários: contribui para enfraquecer os produtores e as indústrias locais; gerou
desemprego e salários baixos, diminuiu a diversidade produtiva; provou a desigualdade entre países ricos e pobres; a deslocalização das
multinacionais aumenta a vulnerabilidade ao desemprego; a redução da soberania nacional, a degradação do meio ambiente; promove a
uniformização e americanização dos hábitos e dos gostos. O movimento alterglobalização pretende encontrar alternativas.
Há uma crescente alienação dos cidadãos face à vida política. A opinião pública olha com desconfiança e desinteresse para a classe política, em
especial os mais jovens. O sindicalismo conheceu um forte declínio devido às transformações laborais decorrentes do neoliberalismo e da
globalização: a terciarização da sociedade; a precariedade do trabalho e os contractos temporários; a diminuição dos contractos colectivos de
trabalho; a revisão da legislação laboral e as regras de concertação social; o facto de os trabalhadores não verem eficácia nos sindicatos para defesa
dos seus interesses, leva à diminuição da sindicalização.
43
2.2 Dimensões da Ciência e da Cultura no contexto da globalização
Globalização (de 1980 em diante): Transformações culturais:
- Aceleração dos progressos tecnológicos e científicos;
- Avanço da electrónica;
- Expansão da informação e da robótica;
- Revolução da informação e da comunicação;
- Avanço da biotecnologia.
Comportamentos/Sociabilidade:
- Materialismo;
- Busco do divino;
- Individualismo moral;
- Perda da autoridade das igrejas;
- Novas formas de associativismo (ONG);
- Hegemonia da cultura americana.
44