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Curso Científico-Humanístico de Línguas e Humanidades

Guião de Estudo
História A
12º Ano de Escolaridade Ano letivo 2022-2023
Módulo 7.2.5. PORTUGAL: O ESTADO NOVO

DA DITADURA MILITAR AO ESTADO NOVO


O golpe de Estado de 28 de maio de 1926, promovido pelos militares, com o apoio de amplos setores da
sociedade (monárquicos, católicos, republicanos, tradicionalistas, nacionalistas ligados ao Integralismo
Lusitano), pôs fim à I República, instalando uma ditadura militar até 1933.
No entanto, esta ditadura militar fracassou nos seus propósitos de “regenerar a pátria” e de alcançar a
estabilidade:
- a instabilidade governativa manteve-se, já que os desentendimentos entre os militares originaram
constantes mudanças na chefia do Executivo;
- a impreparação técnica dos novos governantes, nomeadamente no que se refere à questão financeira,
resultou no agravamento do défice orçamental.

Em abril de 1928, António de Oliveira Salazar foi convidado para assumir a Pasta das Finanças, tendo
imposto como condição prévia à aceitação do cargo o poder de controlar os orçamentos dos ministérios e de
vetar qualquer aumento de despesa. Aplicou uma política de austeridade, reduzindo as despesas públicas e
aumentando os impostos, o que lhe permitiu sanear as finanças públicas (execução orçamental com saldo
positivo). Na sequência deste êxito financeiro, considerado um milagre, Salazar alcançou um enorme
prestígio, sendo visto como o “salvador da pátria” e, em 1932, foi nomeado Presidente do Conselho de
Ministros.

OS ALICERCES DO NOVO REGIME


Sem esconder o propósito de instaurar uma nova ordem política, Salazar empenhou-se na publicação de
legislação e na criação de instituições, sobre as quais deveria assentar o novo regime. Entre 1930 e 1933,
Salazar lançou as bases do Estado Novo:
- Ato Colonial (1930)
- Bases Orgânicas da União Nacional (1930)
- Constituição da República Portuguesa (1933)
- Estatuto do Trabalho Nacional (1933)
- Secretariado de Propaganda Nacional (1933)

O novo regime foi decalcado do modelo fascista italiano (apesar de condenar o seu caráter agressivo e das
suas manifestações pagãs, contrárias aos princípios da moral cristã e às tradições nacionais). Assim, o Estado
Novo foi um sistema de governo que, sob a tutela de Salazar e à sua imagem, apresentou um caráter
autoritário, nacionalista e conservador e condicionou as liberdades individuais, sendo marcado pelo slogan
“Tudo pela Nação, nada contra a Nação”.
Salazar convenceu grande parte do país da justeza da sua política, obtendo o apoio das forças conservadoras
que, antes, haviam hostilizado e desacreditado a Primeira República: militares, hierarquia católica e devotos,
alta burguesia (latifundiários, industriais, grandes comerciantes e banqueiros), média e pequena burguesia,
monárquicos, integralistas e simpatizantes do ideário fascista.

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OS PRINCÍPIOS IDEOLÓGICOS DO ESTADO NOVO

1. NACIONALISMO (ou EXALTAÇÃO NACIONALISTA)


O Estado Novo defendeu um nacionalismo exacerbado, assente na afirmação da supremacia e da unidade da
Nação OU na afirmação da Nação como um todo orgânico, cujos interesses se sobrepõem aos interesses
individuais: “Tudo pela Nação, nada contra a Nação”

Afirmação do orgulho coletivo refletido na exaltação da pátria e dos valores e tradições nacionais, na
exaltação dos Portugueses, um povo trabalhador, patriótico, respeitador e temente a Deus, e na exaltação
das realizações do passado e da ideia de império.

2. ANTILIBERALISMO, ANTIPARLAMENTARISMO E ANTIPARTIDARISMO


Repúdio da democracia liberal e parlamentar, afirmando a prevalência do interesse coletivo (OU do superior
interesse da Nação) sobre os interesses individuais:
 recusa de princípios liberais, como a liberdade e outros direitos individuais e a soberania popular;
 recusa do modelo governativo assente no parlamentarismo e no pluripartidarismo, sendo os partidos
entendidos como elemento desagregador da unidade nacional e fator de enfraquecimento do Estado.

Defesa do exercício do poder político por um partido único: a União Nacional congrega as forças de direita
antimarxistas, conservadoras e defensoras dos valores tradicionais.

3. AUTORITARISMO
O Estado Novo, os seus princípios e estrutura organizativa ficaram consagrados na nova Constituição,
promulgada em abril de 1933 (depois de elaborada e apresentada ao país pelo Governo e sujeita à
aprovação através de plebiscito popular, realizado em março de 1933).
O Estado Novo defende um Estado forte e autoritário, capaz
de submeter os interesses individuais ao interesse coletivo
(OU de garantir a ordem e defender o bem comum), através
de:
• predomínio do Poder Executivo (Presidente da República
e do Conselho de Ministros, com amplas prerrogativas)
sobre o Poder Legislativo (Assembleia Nacional) -
“presidencialismo bicéfalo” (manual, pp. 156-157)
• culto do chefe, “salvador da pátria” e guia da Nação, a
cuja vontade tudo se submete e a quem são atribuídas
amplas competências - Chefe do Governo ou Presidente
do Conselho de Ministros:
- Salazar encarnou a figura do chefe providencial,
intérprete do interesse da Nação e símbolo do poder
e da unidade nacionais;
- Salazar era apresentado como um chefe carismático,
discreto, sóbrio e moralmente irrepreensível, sem a
sobranceria que rodeava os chefes dos regimes
totalitários europeus e avesso às multidões.

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4. CONSERVADORISMO (OU TRADICIONALISMO)
“Não discutimos Deus e a virtude, não discutimos a Pátria e a sua história, não discutimos a autoridade e o
seu prestígio, não discutimos a Família e a sua moral, não discutimos a glória do trabalho e o seu dever.”
O Estado Novo assentou em valores fundamentais que, por serem indissociáveis do modo de vida português,
jamais deveriam ser postos em causa e que refletem o seu caráter conservador e tradicionalista:
• exaltou as tradições nacionais, promovendo a defesa de tudo o que fosse genuinamente português
(rejeitando as influências externas e os fenómenos de anomia social, próprios do meio urbano) –
valorização dos elementos da cultura popular ou rural;
• promoveu os valores morais do catolicismo, protegendo a religião católica, definida como religião da
Nação portuguesa, e apoiando-se na hierarquia eclesiástica;
• defendeu a ruralidade como o símbolo da ordem social e imagem de todas as virtudes, associada aos
valores tradicionais em que deveria assentar a sociedade portuguesa (por oposição à sociedade industrial
e urbana, fonte de todos os vícios e de desordem) – valorização do campo e das atividades agrícolas;
• enalteceu a família, base da nação e guardiã dos valores morais conservadores – apologia da família
católica, rural, trabalhadora, modesta e com espírito de sacrifício, que recusava o vício e o
desregramento de costumes associados ao mundo urbano, com diferentes papéis atribuídos ao homem e
à mulher – a mulher-modelo do Estado Novo ficou reduzida a um papel passivo do ponto de vista
económico, social, político e cultural, sendo encarada como uma esposa carinhosa e submissa, uma mãe
sacrificada e virtuosa.

5. CORPORATIVISMO
O Estado Novo propôs o associativismo subordinado ao Estado (OU corporativismo) como modelo de
organização económica, social e política, para, em nome da unidade nacional (bem comum):
- ultrapassar os conflitos de classes e os interesses individuais, por intermédio da ação do Estado;
- controlar a economia e as relações laborais;
- impor a supremacia do Estado e promover o seu fortalecimento.

O Estado Novo concebia a Nação, não como um grupo de indivíduos, mas como uma entidade orgânica
composta pela relação harmoniosa das suas partes:
− as famílias;
− o poder autárquico (freguesias e municípios);
− as corporações, organismos que agrupavam os indivíduos de acordo com a função social
desempenhada.

A corporativização da vida nacional implicou a regulação da liberdade de associação pelo Estado (OU recusa
da livre associação não enquadrada pelo Estado).
• Assim, na Constituição de 1933, estava prevista a criação de vários organismos corporativos:
- corporações de natureza moral (instituições de assistência e caridade - hospitais, asilos, creches
e misericórdias);
- corporações culturais (universidades e agremiações científicas, literárias, artísticas e
desportivas);
- corporações económicas (que integravam os setores económicos da pesca, da agricultura, da
indústria e do comércio, da banca, dos seguros, do turismo e dos transportes).

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ESTRUTURA CORPORATIVA DO ESTADO NOVO

• Na prática, e tendo por base o Estatuto do Trabalho Nacional


(1933), só funcionaram os organismos corporativos de
natureza económica, com a extinção dos sindicatos livres e o
enquadramento coercivo do mundo do trabalho
(trabalhadores e patrões) em vários organismos corporativos,
subordinados ao poder central e organizados
hierarquicamente:
- Casas dos Pescadores, Casas do Povo, Sindicatos Nacionais e
Grémios;
- Federações e Uniões;
- Corporações.

Juntamente com as famílias, as corporações concorriam para a
eleição dos municípios. Delegados das corporações e dos
municípios formavam a Câmara Corporativa, um órgão consultivo
que representava os todos os “interesses sociais”, dando
pareceres sobre propostas e projetos de lei a submeter à
Assembleia Nacional.

6. COLONIALISMO (manual, p. 171)


O Ato Colonial (1930) foi a base legal da política colonial do Estado Novo:
• proclamou a vocação colonial de Portugal e a sua missão histórica civilizadora (OU evangelizadora) sobre
os territórios coloniais;
• recorreu ao passado histórico nacional para fundamentar e legitimar a manutenção do Império Colonial
Português;
• afirmou a mística colonial, incutindo no povo português a ideia de que o Império era a razão da existência
histórica de Portugal;
• transformou o Império português num dos grandes pilares do regime, colocando-o ao serviço da
propaganda nacionalista do regime (congressos, conferências e exposições como a I Exposição Colonial
Portuguesa (Porto, 1934) e a Exposição do Mundo Português (Lisboa, 1940)) e apresentando os territórios
coloniais como prova da grandeza de Portugal.
A política colonial do Estado Novo levou à afirmação da soberania portuguesa sobre os territórios e povos
coloniais, considerados parte integrante do espaço geopolítico nacional e, por isso,
- ao reforço da tutela da metrópole sobre as colónias, com o abandono das experiências de
descentralização administrativa ocorridas durante a Primeira República (com a redução da pequena
margem de autonomia então atribuída às estruturas administrativas e de governo sediados nos
territórios coloniais);
- à consagração do regime económico de exclusivo colonial, com a subordinação das colónias aos
interesses económicos da metrópole (ver à frente);
- ao agravamento da situação de dominação, exploração e segregação a que estavam sujeitas as
populações nativas, tidas como inferiores.

7. DIRIGISMO ECONÓMICO
O Autoritarismo e a Depressão dos Anos 30 conduziram ao abandono da política económica liberal e à
adoção de um modelo económico fortemente dirigista, visando garantir a autarcia (OU a autossuficiência),
através do intervencionismo do Estado (OU do nacionalismo económico OU do protecionismo) e da
corporativização das forças produtivas (ver à frente).

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O ESTADO NOVO, UM ESTADO DOUTRINADOR E REPRESSIVO
ENQUADRAMENTO DAS MASSAS (manual, pp. 158-160)
A longevidade do Estado Novo foi possível graças à criação de organismos estatais e à utilização de vários
meios para difundir os princípios ideológicos do Estado Novo e controlar a sociedade, promovendo a adesão
ao regime:
• afirmação do partido único, a União Nacional (1930), e consequente proibição de outros partidos
políticos, de acordo com o princípio da unanimidade, evitando divisionismo prejudiciais à Nação;
• criação do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN, 1933), dirigido por António Ferro, para
divulgar o ideário do regime e vincular os diferentes ramos de produção cultural aos princípios
doutrinários do Estado Novo;
• obrigatoriedade do juramento de fidelidade ao Estado Novo pelos funcionários públicos (1936),
declarando estar integrados na ordem social estabelecida e repudiar o comunismo;
• doutrinação da juventude para inculcação do ideário do regime, através da inserção na Mocidade
Portuguesa (1936) ou na Mocidade Portuguesa Feminina (1937) e do controlo do ensino (expulsão
de professores oposicionistas e adoção de livros “únicos” oficiais que veiculavam os princípios do
regime);
• criação de uma organização paramilitar, a Legião Portuguesa (1936), para cooperar na proteção do
regime, defendendo os valores nacionalistas e procurando conter as doutrinas subversivas,
nomeadamente o comunismo;
• enquadramento social das mulheres numa organização feminina, a Obra das Mães para a
Educação Nacional (OMEN, 1936), destinada à formação das futuras esposas e mães de acordo com
os valores do Estado Novo (OU com o princípio de valorização da família);
• enquadramento dos trabalhadores em corporações (Estatuto do Trabalho Nacional, 1933) para
controlar as relações laborais e promover a harmonia social, com a extinção dos sindicatos livres e a
proibição do direito à greve;
• criação da Fundação para a Alegria no Trabalho (FNAT, 1935) para controlar os tempos livres dos
trabalhadores e promover a harmonia social, dinamizando atividades recreativas e educativas
norteadas pelos valores do regime.

APARELHO REPRESSIVO DO ESTADO (manual, pp. 160-161/162-163)


Tal como outros regimes ditatoriais, o Estado Novo legitimou o uso da violência como forma de manter a
ordem social e o respeito pelas hierarquias e de garantir a durabilidade do regime, suprimindo as liberdades
individuais. Para além de proibir os partidos políticos, de dissolver os sindicatos livres, de criar a Legião
Portuguesa e de manipular os atos eleitorais (ausência de eleições verdadeiramente livres), o Estado Novo
utilizou vários meios de repressão para controlar a informação, evitar a contestação e a oposição política,
criando um ambiente de desconfiança e de medo na sociedade portuguesa:
• instituição da censura prévia (Comissão de Censura - Exame Prévio) à comunicação social e às
atividades artísticas e culturais (imprensa, teatro, cinema, rádio…) para veicular o ideário do regime
e impedir a difusão de ideias contrárias, limitando a liberdade de expressão.
• criação da polícia política (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (1930-45) - Polícia Internacional
de Defesa do Estado (1945-69) - Direção Geral de Segurança (1969-1974)) para investigar e reprimir
os cidadãos suspeitos de oposição ao regime:

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- integrava agentes e uma rede de informadores pagos e recebia avultadas verbas, dispondo de
sistemas de escuta e ficheiros com informações pessoais;
- tinha um amplo poder, que escapava ao controlo público, atuando de forma arbitrária e violenta:
recurso à delação; prisões sem culpa formada ou sem ordem judicial (até 6 meses); durante os
períodos de interrogatório, sujeitava os presos a isolamento (sem direito a visitas nem a advogado)
e à tortura física e psicológica (estátua, privação do sono, fome, para além dos espancamentos)
para lhes extorquir informações ou obter confissões.
As suas maiores vítimas foram os simpatizantes e militantes do Partido Comunista, anarquistas e
grevistas (prisão/deportação).
• Julgamento de “crimes” políticos em tribunais plenários e criação de um universo prisional para os
opositores políticos, nomeadamente:
- as prisões de Caxias (1936-74), Peniche (1934-74) e Aljube (1933-66);
- a colónia penal do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde (1936-44).

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A ECONOMIA DURANTE O ESTADO NOVO
A Constituição de 1933 consagrou a intervenção do Estado na economia, estabelecendo que lhe competia
regular as “relações da economia nacional”, a nível interno e externo, de forma a
• garantir a iniciativa particular, no âmbito do corporativismo;
• estabelecer regras para evitar a concorrência desleal e para “realizar o máximo de produção e de
riqueza socialmente útil”;
• promover a autarcia económica (autossuficiência), seguindo a via do nacionalismo económico
(redução da dependência externa).
A economia ficou, assim, submetida aos imperativos políticos, definidos pelo Estado, sujeitando os
interesses dos indivíduos e dos grupos sociais ao interesse da Nação.

A ESTABILIDADE FINANCEIRA
A política económica do Estado Novo deu prioridade à estabilidade financeira e ao equilíbrio das finanças
públicas.
• Salazar buscou o rigor orçamental através da limitação de despesas e do aumento das receitas, mesmo à
custa de sacrifícios da população. Com esse objetivo:
− melhorou a administração dos dinheiros públicos, controlando os gastos dos diversos ministérios;
− criou novos impostos:
 Imposto Complementar sobre o Rendimento;
 Imposto Profissional sobre os rendimentos das profissões liberais;
 Imposto de Salvação Pública sobre os rendimentos dos funcionários públicos;
 Taxa de Salvação Nacional sobre o consumo de açúcar, gasolina e óleos minerais leves;
− aumentou as taxas alfandegárias sobre as importações.
• A neutralidade de Portugal na 2.ª Guerra Mundial foi favorável à manutenção do equilíbrio financeiro:
sem despesas de guerra e aproveitando as necessidades dos países beligerantes, Portugal conseguiu
captar receitas com a dinamização das exportações (volfrâmio, conservas, têxteis) e viu as suas reservas
de ouro crescerem.

EQUILÍBRIO ORÇAMENTAL → estabilidade monetária, com o escudo a ganhar prestígio no quadro financeiro
europeu

Visto como um “milagre financeiro”, trouxe uma imagem de competência e de credibilidade ao regime e a
Salazar.

A DEFESA DA RURALIDADE
O Estado Novo hostilizava a cidade industrial e, ao invés, privilegiava o mundo rural como expressão dos
valores tradicionais e das virtudes portuguesas. Este apreço pela ruralidade fez com que este regime
consagrasse a agricultura como a principal fonte de prosperidade económica, tendo dedicado uma especial
atenção ao seu desenvolvimento, de forma a relançar a economia, a assegurar a autarcia alimentar, a
contribuir para o equilíbrio financeiro e, ainda, a satisfazer os interesses dos grandes agrários.

Foram adotadas várias medidas no sentido de valorizar a “lavoura nacional”:


• política da florestação para converter terrenos áridos em terras aráveis;
• melhoria da irrigação dos solos, aproveitando os recursos hidráulicos (barragens, represas e canais);

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• promoção da colonização interna, pela Junta de Colonização Interna (1936), para fixar a população em
áreas do interior e converter terrenos baldios em terras produtivas;
• lançamento de campanhas de produção, à semelhança do que Mussolini fizera em Itália, com vista ao
desenvolvimento da produção de vinho, de azeite, da cortiça, da batata, da fruta e, sobretudo, do trigo,
evitando as importações.
Através da Campanha do Trigo (1929-1937), o Estado:
− promoveu o alargamento da área de cultura do trigo (sobretudo no Alentejo);
− atribuiu subsídios e prémios para o cultivo do trigo;
− assegurou a aquisição de toda a produção, a preço tabelado, protegendo os produtores;
− estabeleceu a proteção alfandegária à produção nacional;
− promoveu a demonstrações técnicas (uso de máquinas e adubos), a criação de parques de
material agrícola e a seleção técnica de sementes.
Estas medidas, sobretudo a Campanha do Trigo, permitiram o crescimento da produção do trigo, atingindo-
se a autossuficiência, o desenvolvimento de setores agroindustriais (moagem, adubos e alfaias e maquinaria
agrícola) e a redução do desemprego.

O PROGRAMA DE OBRAS PÚBLICAS


Indissociavelmente ligado ao Ministro das Obras Públicas, o Engenheiro Duarte Pacheco, a política de obras
públicas, lançada pelo Estado Novo, recebera já um impulso, a partir de 1930, com a Lei de Reconstituição
Económica. Abrangendo quase todas as áreas, o vasto programa de obras públicas pretendia dotar o país de
infraestruturas diversas, impulsionar o desenvolvimento económico, combater o desemprego, transmitir
uma imagem de modernização, interna e externamente, e servir como meio de propaganda do regime.

- TRANSPORTES E VIAS DE COMUNICAÇÃO (manual, pp. 166-167)


• Melhoramentos na rede ferroviária (material circulante, eletrificação das linhas e melhoria dos serviços);
• Construção e melhoramento de estradas e abertura da primeira autoestrada (Lisboa-Vila Franca de Xira);
• Criação do metropolitano;
• Construção de pontes;
• Obras de alargamento e de beneficiação dos portos e docas;
• Abertura de aeroportos (Portela e Porto).
- ENERGIA E MEIOS DE COMUNICAÇÃO (manual, p. 167)
• Construção de barragens e de centrais hidroelétricas;
• Expansão da eletrificação;
• Expansão das redes de telégrafo e de telefone.
- EQUIPAMENTOS PÚBLICOS DIVERSOS
• Construção de hospitais, escolas e edifícios universitários, tribunais e prisões, estádios, quartéis,
pousadas e bairros operários.
- RESTAURO DE MONUMENTOS NACIONAIS (manual, p. 166)

O CONDICIONAMENTO INDUSTRIAL (manual, pp. 168-169)


A indústria não constituiu uma prioridade para o Estado Novo. Notou-se, mesmo, um bloqueio no
desenvolvimento do setor secundário (tal como do setor terciário), que poder-se-á explicar por:
• persistência de muitos dos constrangimentos tradicionais ao desenvolvimento do país, sobretudo
associados à falta de infraestruturas;

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• desenvolvimento de uma política de condicionamento industrial levada a cabo pelo Estado Novo, entre
1931 e 1937, uma política dirigista e anticrise, que subordinou a liberdade dos agentes económicos e a
capacidade de iniciativa privada aos interesses do Estado, limitando o desenvolvimento do setor.

A política de condicionamento industrial tinha como objetivos:
− promover a intervenção do Estado na economia, enquadrando a atuação dos empresários;
− evitar a concorrência estrangeira e garantir o controlo da indústria por nacionais;
− regular a atividade produtiva e a concorrência;
− evitar a superprodução e a quebra de preços;
− atenuar o desemprego e evitar a agitação social.
Apesar de ter surgido como uma política conjuntural anticrise e, por isso, transitória, o condicionamento
industrial acabou por adquirir um caráter definitivo, moldando a estrutura industrial do país, já que
qualquer ação de âmbito industrial dependia da prévia autorização do Estado - para instalar, reabrir,
efetuar ampliações, mudar de local, ser vendida a estrangeiros ou comprar máquinas.
Assim, o condicionamento industrial limitou o desenvolvimento do setor secundário, ao contribuir para:
 aumentar a burocracia, dificultando a modernização dos processos tecnológicos;
 limitar a livre concorrência, favorecendo a concentração industrial e os monopólios protegidos
pelo Estado, em setores como os adubos e o cimento (exemplo: CUF).

A CORPORATIVIZAÇÃO DAS FORÇAS PRODUTIVAS


O Estatuto do Trabalho Nacional (1933), inspirado na Carta do Trabalho italiana, estipulou o enquadramento
coercivo dos patrões e trabalhadores das várias profissões da indústria, comércio e serviços em grémios e
sindicatos nacionais, agrupados em federações, uniões e corporações, tendo o Estado como árbitro.
Para além de representarem patrões e trabalhadores e de defenderem os seus interesses perante o Estado e
outros organismos, estes organismos corporativos negociavam contratos coletivos de trabalho, estabeleciam
cotas de produção e fixavam preços e salários.
Os organismos corporativos foram, também, meios usados pelo Estado para controlar a economia, a
sociedade e as relações laborais: através deles, o Estado pretendia promover a riqueza da Nação e a
harmonia nacional (conciliando os interesses dos indivíduos e dos grupos sociais), assim como submeter os
trabalhadores aos interesses do Estado, proibindo as formas de luta tradicionais e reprimindo qualquer
manifestação reivindicativa (desde 1934).

A POLÍTICA COLONIAL
A promulgação do Ato Colonial (1930) reforçou a subordinação das colónias aos interesses da metrópole,
transformando-as num elemento fundamental da política de nacionalismo económico do Estado Novo.
Assim, a integração económica entre a metrópole e as colónias baseou-se em princípios de desigualdade
económico-social, promovendo-se a exploração de produtos primários, constituindo as colónias
reservatórios abastecedores de matérias-primas baratas à metrópole e bloqueando-se o desenvolvimento
industrial das colónias, até à Segunda Guerra Mundial1, impedindo a concorrência à metrópole e servindo de
mercado de escoamento para a produção metropolitana excedentária.

1 Crescimento do peso económico das colónias, durante a Segunda Guerra Mundial, devido ao aumento das reexportações de
produtos coloniais. No mesmo período, teve início a sua industrialização, quer por pressão dos industriais portugueses, quer em
resultado das dificuldades em abastecer os territórios coloniais de produtos manufaturados.

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O PROJETO CULTURAL DO REGIME
O Estado Novo cedo compreendeu que a produção cultural teria de estar subordinada aos imperativos
políticos do regime, com o objetivo de:
- disciplinar os excessos criativos dos intelectuais e artistas que ameaçassem a coesão nacional;
- colocar a produção cultural ao serviço do engrandecimento da Nação e da exaltação do Estado Novo.
Para subordinar a cultura ao Estado, o Estado Novo:
- instituiu a censura sobre toda a atividade cultural para controlar a liberdade criativa;
- criou o Secretariado de Propaganda Nacional (1933) para inculcar nos Portugueses os valores políticos e
morais do Estado Novo e a afirmar Portugal internacionalmente, através do desenvolvimento das artes e
das letras.

No seu propósito de controlar a produção cultural e artística, de forma a “elevar a mente dos Portugueses”,
o Estado Novo concebeu um projeto cultural totalizante, fazendo da cultura e dos seus agentes (escritores,
artistas, etc.) instrumentos privilegiados de propaganda do regime, interna e externamente. Chamou-lhe
“política do espírito” e foi implementada pelo Secretariado de Propaganda Nacional, dirigido por António
Ferro.
Teria de ser uma produção cultural sem grandes pretensões intelectuais, que servisse para inculcar o ideário
do Estado Novo e criar um “estilo português”, valorizando o espírito nacional e a cultura popular e
procurando conciliar o conservadorismo com a estética modernista (ou seja, a tradição e a vanguarda).
Assim, o Estado Novo promoveu os diferentes ramos da produção cultural, ainda que de forma padronizada,
controlando a difusão da informação e a opinião e não permitindo a liberdade criativa (manual, p. 173):
- instituiu prémios literários e artísticos;
- publicou obras propagandísticas;
- promoveu as tradições histórico-culturais e as manifestações culturais de caráter popular (folclore
regional, marchas populares, concursos diversos, cinema ambulante, teatro do povo…);
- organizou salões de pintura, congressos científicos e exposições comemorativas – nomeadamente a
exposição “O Mundo Português” (de 23 junho a 2 dezembro de 1940), com uma forte dimensão
propagandística, enaltecendo a grandeza do Império Português e defendendo os valores nacionais.

No âmbito da “política do espírito”, o Estado, ao apoiar múltiplas manifestações de caráter cultural,


cuidadosamente vigiadas pela censura, assumiu-se como mecenas (e entidade empregadora), contando com
a colaboração de escritores e artistas, patrocinados pelo regime, na difusão do ideário salazarista
(subordinação ideológica da cultura ao regime).

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