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Curso Científico-Humanístico de Línguas e Humanidades

Guião de Estudo
História A
12º Ano de Escolaridade Ano letivo 2022-2023
Módulo 8.1.2. O TEMPO DA GUERRA FRIA – O MUNDO COMUNISTA

O EXPANSIONISMO SOVIÉTICO
ENTRE O FINAL 2ª GUERRA MUNDIAL E OS ANOS 70

No final da Segunda Guerra Mundial, existiam apenas dois países comunistas no mundo: a URSS e a
Mongólia. Mas, entre o final da Segunda Guerra Mundial e os anos 70, o comunismo expandiu-se para áreas
cada vez mais vastas, formando-se um bloco com cerca de 1,5 mil milhões de habitantes liderado pela URSS
(graças ao seu pioneirismo na instauração de um regime comunista, ao forte protagonismo internacional na
II Guerra Mundial e o seu poderio militar).

No pós guerra, Estaline respondeu à intervenção americana junto do Ocidente europeu, com a constituição
de diversas organizações e alianças, que alargaram a influência soviética na Europa e no Mundo:
- influência política, através do KOMINFORM (Secretariado de Informação Comunista, 1947-56), uma
organização para enquadrar os partidos comunistas dos países do bloco comunista e coordenar a
atividade comunista internacional, sob liderança do Partido Comunista da URSS;
- influência económica, através do lançamento do Plano Molotov (ajuda económica aos países da Europa
de Leste) e da formação do COMECON (Conselho de Assistência Económica Mútua), organização que
pretendia promover a cooperação económica e o desenvolvimento integrado dos países comunistas
europeus, de acordo com o modelo económico soviético (em resposta aos objetivos do Plano Marshall e
à criação da OECE);
- influência militar, com a formação, em 1955, do Pacto de Varsóvia, aliança militar liderada pela URSS,
para defesa dos países do bloco comunista contra a ameaça da NATO/OTAN (impunha uma resposta
conjunta em caso de agressão a um dos seus membros); estabelecimento de acordos de cooperação
militar com vários países e obtenção de facilidades navais e aéreas.

EUROPA DE LESTE
A Europa de Leste foi a primeira zona a ser atingida pelo expansionismo soviético. Na maioria dos países do
Leste europeu, a resistência ao nazi-fascismo fora dirigida por movimentos de inspiração comunista. No
imediato pós-guerra, a URSS reclamara o direito de participar na reorganização política, social e económica
destes países, em cuja libertação participara. A sovietização dos países da Europa de Leste, libertados e,
depois, ocupados pelo Exército Vermelho, isto é, a sua reorganização segundo o modelo soviético, foi
conseguida mediante:
• a conquista do poder pelos partidos comunistas nacionais em resultado do apoio e da pressão direta da
URSS e do seu exército (exceto na Jugoslávia): num primeiro momento, pela sua integração em coligações
governamentais, ocupando ministérios-chave, como os da justiça, da defesa e da administração interna;
e, depois, pelo domínio gradual do aparelho de Estado e a instituição de regimes de partido único.

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• a instituição do modelo das democracias populares (em oposição às democracias liberais), caracterizadas
por:
- adoção do modelo político soviético, com o domínio do partido comunista no controlo do
aparelho do Estado, considerado o único e legítimo representante das classes trabalhadoras – os
dirigentes do Partido Comunista ocupavam simultaneamente os mais altos cargos do Estado
(sistema de centralismo democrático);
- regime de partido único, com a implementação de processos eleitorais que assentavam na
apresentação de listas únicas do partido comunista, afastando os liberais e os socialistas
moderados e expurgando os partidos comunistas nacionais dos seus elementos históricos,
substituídos por homens de confiança de Moscovo;
- instituição de meios de enquadramento ideológico e cultural dos cidadãos e de um aparelho
repressivo, excluindo qualquer oposição ao regime;
- adoção do modelo económico de direção central, assente no controlo do Estado sobre os meios
de produção e na planificação da economia;
- estabelecimento de laços de cooperação com a URSS e outros países do bloco comunista –
participação no KOMINFORM, no COMECON ou no Pacto de Varsóvia.
• a imposição de um modelo político rígido, que não admitia desvios, subordinando a soberania dos países
da Europa de Leste aos superiores interesses do socialismo e à coesão do bloco liderado pela URSS e
recorrendo à força para esmagar quaisquer protestos – esta soberania limitada das democracias
populares é evidente na intervenção soviética, com recurso à força, nos países que se rebelam contra o
excessivo domínio de Moscovo e exigem uma maior abertura política:
- REVOLTA HÚNGARA (1956) ou PRIMAVERA DE PRAGA (1968);
- SEGUNDA CRISE DE BERLIM (1958-1961) – CONSTRUÇÃO DO MURO DE BERLIM

ÁSIA
• Expansão do comunismo na Ásia, geralmente através do apoio da URSS aos movimentos revolucionários
nacionais:
- CHINA (1949);
- COREIA DO NORTE (1948) - GUERRA DA COREIA (1950-53);
- INDOCHINA: CAMBOJA (1954), BIRMÂNIA (1962), LAOS (1975) e VIETNAME DO NORTE (1954) + VIETNAME
DO SUL (1976).

AMÉRICA LATINA E ÁFRICA


• Expansão da ideologia comunista na América, a partir de finais Anos 50:
- CUBA: apoio ao governo saído da Revolução Cubana, liderado por Fidel Castro (1959), e crise dos
mísseis de Cuba (1962);
- Apoio (direto e/ou por intermédio de Cuba) aos movimentos revolucionários na BOLÍVIA, COLÔMBIA e
PERU e às guerrilhas da GUATEMALA, EL SALVADOR e NICARÁGUA.
• Apoio (direto e/ou por intermédio de Cuba) a movimentos independentistas e à instalação de regimes
comunistas após a independência, em África (anos 60 e 70).

OPÇÕES E REALIZAÇÕES DA ECONOMIA DE DIREÇÃO CENTRAL


ANTES E DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
A Segunda Guerra Mundial teve efeitos bastantes negativos para a URSS, levando:
- à interrupção na implementação do planos quinquenais, instituídos por Estaline no final dos anos 20,
fundamentais para o crescimento económico do país;
- à degradação da situação económica da URSS, em resultado da destruição causada pela guerra (cidades,
campos e equipamento industrial) e da forte quebra na produção.
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PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Para que à condição de potência política pudesse corresponder uma condição de potência económica era
essencial uma rápida recuperação da URSS (e dos países comunistas), no pós segunda guerra mundial.

A AÇÃO DE ESTALINE (até 1953) – RELANÇAMENTO DA ECONOMIA E BLOQUEIOS ECONÓMICOS


• Manutenção do controlo do Estado sobre os meios de produção e retoma do modelo de economia
planificada, implementando novos planos quinquenais, que fixavam prioridades e metas de produção;
• Recuperação económica do pós guerra sustentada nos IV e V planos quinquenais (1945-50 e 1951-55),
dando prioridade à indústria pesada, à produção energética e às infraestruturas (particularmente os
setores siderúrgico e hidroelétrico), em detrimento da agricultura, da indústria de bens de consumo e dos
serviços;
• Recurso a uma forte campanha ideológica (OU de propaganda) de enaltecimento do modelo económico
socialista OU para incentivar a dedicação dos operários ao trabalho, com vista ao aumento da
produtividade;
• Exaltação da capacidade de produção (OU da competitividade) do modelo económico socialista, no
contexto da disputa com o mundo ocidental capitalista (OU da Guerra Fria);
• Incentivo, no contexto da Guerra Fria, à investigação científica (produção de armamento e conquista do
espaço);
• Aposta do Estado no pleno emprego e na garantia de serviços sociais amplos alargados a toda a
população;
• Baixos níveis de consumo (que não acompanha o crescimento económico do país) devido à degradação
das condições laborais dos trabalhadores (nomeadamente, jornadas de trabalho de 10 horas diárias), ao
fraco poder de compra das populações (subida lenta dos salários), à carência de bens essenciais e de
equipamentos, à insuficiência e má qualidade do parque habitacional;
• Afirmação da URSS como a segunda potência industrial do Mundo, com elevadas taxas de crescimento do
produto social bruto, no novo quadro geoeconómico de cooperação com os países da Europa de Leste;
• Cooperação da URSS com os países do bloco comunista, através do Plano Molotov e da criação do
COMECON (em resposta ao Plano Marshall e à OECE);
• Implantação do modelo económico soviético de direção central nos países sob influência da URSS,
assente no controlo do Estado sobre os meios de produção e na planificação da economia, dando
prioridade à industrialização (indústria pesada), que foi rápida e os transformou profundamente (antes,
eram países essencialmente agrícolas).

Debilidades da economia no período estalinista (Anos 50)
Tendência para uma desaceleração no crescimento económico, a partir dos anos 50, reveladora de
debilidades na política económica: para além do grande dispêndio de recursos com a escalada armamentista
e com o início da era espacial, o centralismo excessivo contribuiu para bloquear o crescimento e a iniciativa:
• Gestão demasiado burocratizada, sem iniciativa, que se limitava a cumprir as quantidades definidas,
sem atender à qualidade dos produtos e à rentabilização adequada dos equipamentos e da mão-de-
obra disponível;
• Falta de autonomia das empresas nos processos de gestão e de produção, nomeadamente na seleção
de produtos, na aquisição de equipamentos, na contratação de trabalhadores; na fixação de preços e
salários; na escolha de fornecedores e clientes, tendo como reflexo a baixa produtividade;
• Falta de investimento e má organização nas unidades agrícolas coletivizadas, ausência de formação
adequada dos quadros de pessoal agrícola e desmotivação dos camponeses, com reflexos negativos
na produtividade (crescente necessidade de importação de cereais).

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A AÇÃO DE NIKITA KRUCHTCHËV (1953-64) – TENTATIVA DE MODERNIZAÇÃO E BLOQUEIOS ECONÓMICOS
A URSS, sob a liderança de Kruchtchëv, que critica a rigidez e o centralismo do período anterior, inicia uma
política de desestalinização, abrindo uma via de renovação política e económica. São lançadas reformas, na
URSS e em todos os países da Europa de Leste, para combater a desaceleração das respetivas economias:
• Manutenção da economia dirigida através de planos septenais, anualmente ajustáveis para melhor
responderem à concorrência dos países capitalistas ocidentais (em 1958, o VI plano quinquenal foi
abandonado e substituído pelo plano septenal de 1959-1965);
• Reforço do investimento nas indústrias de bens de consumo, na habitação e na agricultura (com os
arroteamentos no Cazaquistão e na Sibéria Oriental), desvalorizando a indústria pesada;
• Estímulo aos trabalhadores mais produtivos (atribuição de prémios) e concessão de maior de autonomia
aos gestores das empresas face à Nomenklatura, com vista ao aumento da produtividade.

Medidas incapazes de relançar a economia, ficando os resultados aquém das expectativas (anos 60)

A AÇÃO DE LEONIDAS BREJNEV (1964-82) – ESTAGNAÇÃO ECONÓMICA (Anos 70/80)


• Lançamento dos IX e X Planos, sob liderança de Brejnev, dando prioridade à exploração de recursos
naturais (ouro, gás e petróleo da Sibéria) e à indústria militar, no contexto de agravamento das tensões
Leste-Oeste;
• Custos excessivos associados à exploração dos recursos naturais, ao reforço da burocracia e alastramento
da corrupção, assim como à nova fase de expansionismo político-militar.

Estagnação da economia, com resultados aquém das expectativas, custos sociais pesados (por exemplo,
queda da esperança de vida e crescimento da mortalidade infantil) e reflexos nos países do bloco
comunista.

A estagnação da economia de direção central resultou de falhas do sistema: o centralismo


excessivo reforçara o aparelho burocrático e bloqueara a capacidade de iniciativa. Estes
bloqueios agravaram-se com o tempo e foram, em grande medida, responsáveis pela falência dos
regimes comunistas europeus, no fim dos anos 80.

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